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SUA PETIÇÃO
DIREITO
TRABALHISTA
Seção 3
DIREITO TRABALHISTA
Sua causa!
Na Seção 1, Teresa Silva ajuizou sua reclamação trabalhista em face de Expert Tecnologia da
Informação Ltda., que apresentou sua defesa na Seção 2.
Ao fim da audiência restou consignado em ata que as partes seriam intimadas na prolação da
sentença. A sua disponibilização ocorreu no dia 24/10/2022 e o seu teor é o seguinte:
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO
2ª VARA DO TRABALHO DE CURITIBA/PR
RITO ORDINÁRIO
PROCESSO N. 0002244-30.2022.5.09.0002
RECLAMANTE: TERESA SILVA
RECLAMADA: EXPERT TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA.
SENTENÇA
1- RELATÓRIO
A reclamante ajuizou a presente reclamação trabalhista alegando que foi contratada em 04/10/2021
para prestar serviços em regime de teletrabalho. Ela afirma que seu trabalho se iniciava às 08h00min
e findava às 19h00min, de segunda à sexta-feira, sempre com 1h00min de intervalo intrajornada,
razão pela qual faz jus às horas extras além da 8ª diária e 44ª semanal, com os consectários legais.
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A reclamante aduz que teve que arcar com os custos de mobiliário, energia e internet, requerendo,
portanto, tais ressarcimentos. Ela foi dispensada em 29/08/2022 mediante aviso prévio indenizado.
Regularmente citada, a reclamada apresentou contestação, asseverando que a obreira não tem
direito ao recebimento de horas extras por ter laborado em regime de teletrabalho. Aduz que a
redação original do art. 62, inciso III, da CLT, previa que os teletrabalhadores não fazem jus às horas
extraordinárias. No que diz respeito aos gastos, afirma que restou, pactuado por escrito, que eles
seriam suportados pela reclamante, nos termos do art. 75-D da CLT.
Como declararam que não desejavam produzir outras provas, encerrou-se a instrução.
2- FUNDAMENTAÇÃO
A reclamante alega que iniciava suas atividades às 08h00min, pois tinha reunião diária com sua
equipe nesse horário, e findava às 19h00min. Conseguia usufruir de 1h00min de pausa para refeição
e descanso. Requer, portanto, as horas extras que extrapolaram a jornada diária de 8h (oito horas)
e a semanal de 44h (quarenta e quatro horas), com o adicional legal de 50% e os devidos reflexos
em aviso prévio, férias + 1/3, décimo terceiro salário, depósitos do FGTS e multa de 40% sobre o
saldo do FGTS.
Com a devida vênia, há óbice legal para que a pretensão da laborista seja alcançada.
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O art. 62, inciso III, da CLT, com a redação dada pela Lei nº 13.467/17, excluía o teletrabalhador das
regras do seu Capítulo II, sem qualquer ressalva.
Tendo em vista que a contratação da reclamante se deu em 04/10/2021 e a redação do invocado art.
62, inciso III, somente foi alterada pela MP nº 1.108, de 25 de março de 2022, posteriormente
convertida na Lei nº 14.442/22, dúvida não resta de que a exclusão genérica do direito às horas
extras se aplica à trabalhadora.
Alega a obreira que arcou com R$ 3.000,00 (três mil reais) para adquirir mesa e cadeira para o
teletrabalho. Afirma, ainda, que teve que fazer upgrade na velocidade de sua internet de banda larga,
o que gerou custo adicional de R$ 50,00 (cinquenta reais) por mês. Por fim, aduz que houve
incremento do gasto de R$ 15,00 (quinze) reais por mês com energia elétrica em virtude do uso do
notebook em casa
Em que pese vigorar no Direito do Trabalho o princípio da alteridade, segundo o qual a empregadora
é quem deve assumir os riscos e custos do seu negócio, o art. 75-D da CLT consagra exceção à
regra. Ele dispõe que as partes podem ajustar por escrito quem irá assumir tais gastos.
No caso sob exame, a reclamada trouxe aos autos o “Aditivo ao Contrato de Trabalho – Teletrabalho”,
em que consta o seguinte:
“A trabalhadora arcará com todas as despesas referentes ao mobiliário necessário para prestação
dos serviços em regime de teletrabalho e aos gastos com internet e energia elétrica”.
Diante do exposto, julgo improcedente o pedido de ressarcimento dos gastos com mobiliário, internet
e energia elétrica.
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2.3 – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
No caso em tela, a reclamante foi integralmente sucumbente, razão pela qual fixo os honorários
advocatícios em proveito do(a) advogado(a) da reclamada em 15% do valor atualizado da causa,
nos termos do caput, do art. 791-A, da CLT.
3 - DISPOSITIVO
Curitiba, 21/10/2022.
Juiz do Trabalho.
Agora é com você! Novamente você realizará o papel de advogado da reclamante. Lembre-se que
essa inversão de papéis é apenas para fins didáticos, com o intuito de que você domine amplamente
a praxe trabalhista.
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Fundamentando!
Vamos verificar as questões que envolvem o Direito Processual do Trabalho e que são necessárias
para a elaboração da peça processual.
1) PEÇA PROCESSUAL
O primeiro passo a ser dado é a identificação da peça processual a ser apresentada em face da
sentença que julgou improcedentes os pedidos formulados na petição inicial. A leitura do art. 895 da
CLT é fundamental.
O processo é dialético, isto é, numa explicação informal pode-se dizer que se assemelha a um
diálogo. O último a “falar” no processo foi o juiz, que proferiu a decisão judicial que é inteiramente
desfavorável aos interesses de sua cliente. Dessa forma, a peça processual a ser elaborada deve
ter como norte combater os fundamentos dessa última “fala”.
Trata-se do pleno exercício do contraditório e do duplo grau de jurisdição previstos no art. 5º, inciso
LV, da CRFB/88.
Como o sistema processual é organizado de maneira hierárquica, somente a instância superior pode
reformar uma decisão proferida por uma Vara do Trabalho. Nesse caso, como o juízo a quo é a 2ª
Vara do Trabalho de Curitiba/PR, o órgão hierarquicamente superior é o Tribunal Regional do
Trabalho da 9ª Região. Ele poderá reanalisar todo os fundamentos fáticos e jurídicos suscitados,
mantendo ou modificando a decisão de primeiro grau.
A peça a ser elaborada, como qualquer outra, é iniciada com o endereçamento, que, no caso, é o
juízo que proferiu a decisão judicial.
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PONTO DE ATENÇÃO
O juízo a quo fará o primeiro juízo de admissibilidade, ou seja, irá verificar se foram preenchidos os
pressupostos recursais, tais como tempestividade, regularidade de representação processual e
regularização do preparo, se for o caso.
Admitido o recurso, será intimada a parte adversa para apresentar contrarrazões, conforme prevê o
art. 900, da CLT.
Muitos dizem que o Direito Processual do Trabalho é informal. Essa até pode ser uma característica
desse ramo do Direito quando comparado, por exemplo, com o Direito Processual Civil. Todavia,
concluir pela sua informalidade, não corresponde à realidade.
O Processo do Trabalho é composto por um conjunto de atos processuais que vão se sucedendo de
forma coordenada. Não há, portanto, uma aleatoriedade na prática dos atos processuais. No caso,
as regras estão muito bem estabelecidas na CLT, podendo ser utilizado o CPC de forma subsidiária
e supletiva. Elas são menos rígidas ou mais dinâmicas em algumas situações, haja vista que o que
está em jogo numa reclamação trabalhista é um pretenso crédito, de natureza alimentar, que
supostamente foi negado à trabalhadora durante o pacto laboral.
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Os recursos na esfera trabalhista também são revestidos de certas formalidades, as quais
necessitam ser cumpridas, sob pena de o apelo não ser analisado pelo Poder Judiciário em virtude
de um defeito processual. Elas são denominadas “pressupostos” ou “requisitos”.
O primeiro deles é a unirrecorribilidade, segundo a qual existe um recurso específico para cada
decisão.
O aspecto temporal é intrínseco aos atos processuais e, consequentemente, aos recursos. O ato
processual tem que ser praticado no prazo fixado pela legislação trabalhista, sob pena de preclusão.
Esse requisito é conhecido como “tempestividade” do recurso.
PONTO DE ATENÇÃO
O preparo é outro requisito formal que envolve recurso. Ele abrange tanto o pagamento das custas,
quanto o recolhimento do depósito recursal. Este último tem natureza de garantia, razão pela qual
somente deve ser realizado pela parte devedora, quando há condenação em pecúnia. Ele não é
necessário na hipótese de a sentença ser apenas declaratória, sem condenação pecuniária ou ser
totalmente improcedente. Isso se justifica, pois não há razão para dar garantia a respeito de
obrigação que não é de pagar. Não deixe de analisar o conteúdo do art. 899, da CLT, que é
fundamental para a compreensão de todos os detalhes do tema.
Já as custas estão disciplinadas no art. 789, inciso I, da CLT. Elas devem ser recolhidas na base de
2% do valor arbitrado à condenação ou atribuído à causa e devem ser comprovadas no processo no
prazo previsto para o recurso.
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trabalhadora, pois não há previsão legal de pagamento de custas pro rata no Direito Processual do
Trabalho. Conclui-se, portanto, que a reclamante somente terá que efetuar tal recolhimento quando
estiver diante da improcedência total da sua reclamação trabalhista e não lhe tiver sido deferida a
justiça (art. 819, §2º, da CLT).
Você, aluno, deve analisar se o recurso a ser interposto para tentar reverter a decisão que foi
desfavorável a seu cliente carece de pagamento de custas e/ou de recolhimento do depósito recursal.
A praxe forense sugere que na sua peça processual você mencione e justifique a necessidade ou
não do preparo.
A parte, portanto, terá o prazo de 5 (cinco) dias para sanar o vício de representação também na fase
recursal.
A legitimidade recursal diz respeito a quem pode interpor recurso. Para tanto, é fundamental o exame
da legislação pátria, que prevê quem detém essa legitimidade: a parte vencida, o terceiro prejudicado
e o Ministério Público do Trabalho, como parte ou como fiscal da lei (aplicação subsidiária do art. 996
do CPC de 2015).
Além disso, a parte tem que ter interesse em recorrer, isto é, tem que ser sucumbente no objeto da
demanda para que possa recorrer daquilo que lhe foi desfavorável.
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Essas são as principais questões de ordem processual que devem ser observadas no processo de
elaboração da peça recursal.
A Lei nº 11.419/06 rege as questões atinentes ao DEJT, trazendo peculiaridade na contagem dos
prazos:
Observe que a data em que o despacho ou decisão ficam disponíveis no Diário Eletrônico da Justiça
do Trabalho (DEJT) não é a de sua publicação, mas de sua disponibilização. A publicação ocorre no
dia útil subsequente à disponibilização do ato processual no DEJT. Já o início do prazo se dá no dia
útil seguinte à publicação.
Não se esqueça de que os prazos no Direito Processual do Trabalho são contados em dias úteis,
conforme art. 775 da CLT, com redação dada pela Lei nº 13.467/17.
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B) DIREITO MATERIAL DO TRABALHO
No que tange ao Direito Material do Trabalho, você deverá lançar mão dos fundamentos jurídicos
necessários para tentar reverter a decisão de improcedência total, já que os aspectos fáticos são
incontroversos.
Eles são, basicamente, os mesmos que foram usados no processo de elaboração da petição inicial.
Vamos relembrá-los?
2 – JORNADA DE TRABALHO
A sentença aplicou a redação original do art. 62, inciso III, da CLT, para afastar o direito de Teresa no
recebimento de horas extras.
Este, portanto, deve ser o fundamento a ser combatido na peça a ser elaborada.
A melhor saída é a analogia com o trabalhador externo, ou seja, conforme jurisprudência consolidada,
ele somente não tem direito ao controle de jornada quando a empregadora comprova a total
impossibilidade do controle de sua jornada. Há, portanto, relativização do disposto no art. 62, inciso
I, da CLT, cuja leitura desassociada da interpretação dada pelos Tribunais do Trabalho conduziria ao
equívoco de que o trabalhador externo jamais faria jus às horas extraordinárias.
Nesta linha de raciocínio sugere-se, novamente, a análise de acórdão do Egrégio Tribunal Regional
do Trabalho da 2ª Região, cujo acesso pode ser feito no endereço eletrônico a seguir consignado:
• https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trt-2/1384357733/inteiro-teor-1384357745
• https://bibliotecadigital.trt1.jus.br/jspui/handle/1001/2791708?mode=full
No caso em tela, não há dúvida de que a trabalhadora foi contratada por jornada. A Medida Provisória
nº 1.108/22, ao excluir do controle de jornada somente daqueles que foram contratados por tarefa
ou produção, o que não foi o caso de Teresa, reforça a tese de que a melhor interpretação da redação
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original do art. 62, inciso III, é a que afasta o direito às horas extras somente na impossibilidade de
controle.
Como este é o único momento processual em que se pode manifestar o inconformismo com a
decisão de primeiro grau e, portanto, a singular oportunidade em lançar mão de tudo o possível para
a defesa dos interesses de sua cliente, não se esqueça do princípio da eventualidade.
De forma subsidiária, é importante requerer a reforma parcial da sentença, a fim de que sejam
deferidas as horas extras, ao menos, a partir de 25 de março de 2022, data em que entrou em vigor
a Medida Provisória nº 1.108, que prevê o pagamento de horas extras para teletrabalhadores
contratados por jornada, como foi o caso de Teresa.
O fundamento constante na decisão proferida pela 2ª Vara do Trabalho de Curitiba/PR para indeferir
os ressarcimentos com mobiliário, energia e internet foi a previsão no art. 75-D da CLT.
Dessa forma, analise novamente o disposto no art. 75-D da CLT:
O texto legal prevê que as “disposições” relativas aos gastos serão previstas em contrato escrito.
Diante da previsão do art. 2º da CLT, consagrando o princípio da alteridade, será que a interpretação
dada pela sentença é a melhor? O art. 75-D prevê a possibilidade de atribuir o ônus pela aquisição
de ferramentas de trabalho para a trabalhadora?
Aliada a esta reflexão, refaça a leitura de julgado do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 3ª
Região, que pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico:
• https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trt-3/1342129809/inteiro-teor-1342129826
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Quadro 1 | Quadro sinótico da legislação e jurisprudência consolidada aplicável
(Referidos e não referidos nas explicações anteriores)
Depósito
Recursal
Regularidade - - Art. 76 Súmula nº -
de 383
representação
processual
Prazos - Art. 775 - - Lei nº 11.419/06
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Vamos peticionar!
Analise qual(is) ponto(s) da decisão judicial de primeiro grau é(são) desfavorável(is) aos interesses
de Teresa Silva.
A peça processual deve ser endereçada ao juízo que prolatou a decisão e deve conter a(s)
insurgência(s) de maneira fundamentada, contra o(s) aspecto(s) que foi(ram) desfavorável(is) ao
interesse da sua cliente.
Embora não seja um pressuposto recursal, é importante a elaboração de tópico acerca da sua
tempestividade.
Mãos à obra!
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