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PRÁTICA SIMULADA DO TRABALHO - CCJ0262

Caso Concreto 2 - XXVII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

Nelson Aviz procura você, como advogado(a), afirmando que foi empregado da sociedade
empresária Alfa Ltda. na sede desta, localizada em Sete Lagoas/MG, de 17/12/2017 a
28/04/2018, tendo exercido, na prática, a função de técnico de informática.

Nelson informa que foi despedido por justa causa, apesar de não ter feito nada de errado,
não recebendo qualquer indenização, mas apenas o saldo salarial do último mês; que a
empresa não integrava, para fim algum, o salário-família que Nelson recebia; que trabalhava
de segunda-feira a sábado, das 20h às 5h, com intervalo de 20 minutos para refeição; que o
local de trabalho era de difícil acesso e não servido por transporte público regular, pelo que
a empresa fornecia o transporte para ir ao trabalho e voltar dele, de forma que Nelson
demorava uma hora no trajeto de ida e outra uma hora no de volta; que realizou exame
médico na admissão; que Nelson tem uma irmã que trabalha na mesma sociedade
empresária, exercendo a função de programadora de jogos digitais.

O trabalhador exibe cópias dos contracheques, nos quais há, na parte de crédito, salário de
R$ 1.200,00 e uma cota de salário-família; já na parte de descontos, há INSS, vale
transporte e FGTS. Nelson ainda exibiu sua CTPS, na qual consta admissão em 17/12/2017
e saída em 28/04/2018, na função de auxiliar de serviços gerais; na parte de anotações
gerais, há anotação de que o empregado foi dispensado por justa causa em razão de
conduta inadequada. Em pesquisa pela Internet, você localiza a convenção coletiva da
categoria de Nelson, com os pisos normativos para todas as funções desempenhadas na
sociedade empresária Alfa, dentre elas os seguintes: auxiliar de serviços gerais: R$
1.200,00; técnico em informática: R$ 1.800,00; programador: R$ 3.500,00; e engenheiro de
computação: R$ 6.000,00.

Elabore a peça prático-profissional que melhor defenda os interesses de Nelson, sem usar
dados ou informações que não estejam no enunciado.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DO TRABALHO
DE SETE LAGOAS/MG.

NELSON AVIZ​, qualificação e endereço completos vem por sua advogada que esta
subscreve, com endereço profissional completo, onde recebe intimações e notificações, com
fulcro no art. 840 da CLT, vem propor:

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

Pelo rito ordinário, em face da sociedade empresária ​ALFA LTDA​, qualificação e


endereço completos, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
DOS FATOS

O reclamante informa que foi despedido por justa causa, apesar de não ter feito nada
de errado, não recebendo qualquer indenização, mas apenas o saldo salarial do último mês;
que a empresa não integrava, para fim algum, o salário-família que o reclamante recebia;
que trabalhava de segunda-feira a sábado, das 20h às 5h, com intervalo de 20 minutos para
refeição; que o local de trabalho era de difícil acesso e não servido por transporte público
regular, pelo que a empresa fornecia o transporte para ir ao trabalho e voltar dele, de forma
que o reclamante, demorava uma hora no trajeto de ida e outra uma hora no de volta; que
realizou exame médico na admissão; que o reclamante tem uma irmã que trabalha na
mesma sociedade empresária, exercendo a função de programadora de jogos digitais.

DO DIREITO

DA JUSTA CAUSA

O reclamante foi demitido por justa causa apesar de não ter feito nada de errado.
Consta ainda em sua CTPS, o registro de que o reclamante foi dispensado por justa causa
em razão de CONDUTA INADEQUADA.

Nos termos do art. ​842 da ​CLT​, constituem justa causa para rescisão do contrato de
trabalho pelo empregador o rol de alíneas do art. ​482 da ​CLT​, especificando as condutas
pelo qual o empregador poderá demitir por justa causa, entretanto o TST já se manifestou
que a justa causa precisa de conduta reitera, salvo as exceções que não são o caso, no
presente caso concreto.

Neste aspecto, vale ressaltar a posição do doutrinador e Juiz do Trabalho do TRT da 5ª


Região, José Cairo Júnior (Ed. JusPodivm, 4ª edição, 2011, p. 55) em seu Curso de Direito
Processual do Trabalho o seguinte:

Os privilégios processuais atribuídos ao empregado não


decorrem da aplicação ​do in dubio pro misero no processo
laboral. O juiz do trabalho deve conduzir o processo e proferir a
sua decisão com base na sua persuasão racional, tratando as
partes com igualdade (princípio da igualdade). Na dúvida
quanto à prova produzida, deve ser verificado, em cada caso
concreto, a qual parte cabe o ​onus probandi.​ Assim, não há
que se falar em prova dividida. Os meios de prova formam ou
não o convencimento do magistrado. Se o convencimento é
incompleto, não se aplica o princípio do ​in dubio pro operário,​
mas sim as regras da distribuição do ônus da prova.

Nesse sentido é a decisão a seguir transcrita:


"PROVA DIVIDIDA. HORAS EXTRAS. ÔNUS DA PROVA. A
regra da distribuição do ônus da prova, nos termos do artigo
333 do CPC, é a de que cabe ao autor a prova do fato
constitutivo de seu direito, e ao réu, o da existência do fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
Ademais, a teor do art. 818 da CLT, a prova das alegações
incumbe à parte que as fizer. Em tal contexto, o princípio in
dubio pro misero não pode ser aplicado no presente caso, pois,
ao alegar a invalidade dos registros de ponto, porque não era
permitido o registro da real jornada laborada, o reclamante
efetivamente atraiu para si o ônus de provar tal alegação, do
qual não se desincumbiu, já que a prova testemunhal por ele
apresentada foi contraditória com a que foi produzida pelo
reclamado. Recurso de revista conhecido e não provido"

Ademais a reclamada, não respeitou o disposto na Súmula 212 do TST, o ônus de


provar o término do contrato de trabalho e o despedimento é do empregador, que no caso
em tela se manteve inerte.

VERBAS RESILITÓRIAS

O reclamante foi dispensado por justa causa e recebeu apenas o saldo salarial do
último mês, entretanto após o afastamento da justa causa do reclamante, são devidas
verbas rescisórias contratuais de:

a) Aviso prévio indenizado a luz do art. ​487 da ​CLT​, de 30 dias com a integração desse
período no seu tempo de serviço e reflexos nas verbas contratuais e resilitórias.;
b) Férias proporcionais de 5/12 (cinco doze avos) acrescido do terço constitucional,
conforme súmula 328 do TST, art. ​7º​ ​XVII​ da ​CF​ e súmula 171 do TST, a razão de R$ ...
c) Décimo terceiro proporcional de 4/12 (quatro doze avos) conforme art. 3º da Lei nº
4.090/1961, a razão de R$...;
d) Multa do FGTS de 40 %, conforme estabelece o art. ​18 da Lei nº ​8.036​/90, a razão de R$
...; e
e) Liberação das guias do saque do FGTS.

HORAS EXTRAS

O reclamante tinha jornada de trabalho das 20 (vinte) horas às 5 (cinco) horas, de segunda
a sábado. Assim, depreende-se de que sua jornada eram de 48 (quarenta e oito) horas
semanais.

O reclamante requer, as horas extras devidas com adicional de 50% (cinquenta por cento)
superior da hora normal, haja vistas o labor superior de 44 horas semanais em 4 (quatro)
horas, sendo devidas essa hora extra, conforme dispõe o art. ​59​, ​§ 1º da ​CLT​, art. ​58​, ​CLT e
art. ​7º​, ​XIII​, ​CRFB/88​.
INTERVALO INTRAJORNADA

O reclamante laborou de segunda-feira a sábado das 20h às 5h, com intervalo de 20


minutos para a refeição, nos termos do art. ​71 da ​CLT​, o trabalho cuja duração exceda 6
horas, é obrigatória a concessão de um intervalo mínimo de uma hora.

Entretanto, o reclamante tinha um intervalo de apenas 20 minutos, sendo assim


suprimidos 40 minutos de descanso. Logo, conforme estabelece o art. ​71​, ​§ 4º da ​CLT​,
implica o pagamento de natureza indenizatória do período suprimido (40 minutos), com
acréscimo de 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.

Como visto pelo entendimento jurisprudencial do TST

OJ 307, SDI-1/TST: INTERVALO INTRAJORNADA (PARA


REPOUSO E ALIMENTAÇÃO). NÃO CONCESSÃO OU
CONCESSÃO PARCIAL. LEI No. 8.923/1994​. Após a edição da Lei
n. 8.923/94, a não concessão total ou parcial do intervalo intrajornada
mínimo, para repouso e alimentação, implica o pagamento total do
período correspondente, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o
valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT).

SÚMULA 27, TRT/3ª REGIÃO: INTERVALO INTRAJORNADA


PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO - CONCESSÃO PARCIAL -
PAGAMENTO DO PERÍODO INTEGRAL​. A concessão parcial do
intervalo intrajornada mínimo gera para o empregado o direito ao
pagamento, como extraordinário, da integralidade do período
destinado ao repouso e alimentação, nos termos do parágrafo 4º do
artigo 71 da CLT e da Orientação Jurisprudencial nº 307 da
SBDI-I/TST.
Não obstante, tal posição nem sempre reinou absoluta, pois, em
alguns momentos, prestigiando o ​princípio da igualdade substancial,​
que proclama o tratamento desigual para os desiguais, este
Colegiado flexibilizou a interpretação, como se tem nos seguintes
precedentes: 00611-2009-049 (pub. 15.09.10), 01285-2008-036 (pub.
08.07.09), 00977-2008-143 (07.04.09) e, por fim, 00820-2008-036
(pub. 07.04.09).
O núcleo do entendimento discrepante vem expresso nos
fundamentos da primeira decisão acima citada, ​in verbis:​
'Deve-se pontuar, a propósito, que a variação de cinco minutos pré
e pós-intervalo, em prejuízo do autor, tendo em vista seu caráter
irrisório, não atrai as disposições da Súmula n. 27 deste Regional e
OJ n. 307 da SDI-1 do C. TST.
De fato, não é justo que o trabalhador que usufrui 50 minutos de
intervalo seja tratado da mesma maneira que o trabalhador que
dispõe de uma pausa de apenas 10 ou 15 minutos' (Processo:
00611-2009-049-03-00-4-RO - Data de Publicação: 15.09.2010 DEJT
Página: 86 - Redator: José Miguel de Campos).
Realmente, causa espécie que trabalhadores que usufruam de 30
a 40 minutos de intervalo sejam agraciados com uma hora extra
integral, da mesma forma que aqueles trabalhadores que tenham
usufruído não mais do que 10 ou 15 minutos de pausa para
descanso e alimentação. Não se pode tratar de forma idêntica
situações tão díspares.
Até por isso, quero crer, o próprio Tribunal Superior do Trabalho,
por sua 1ª Seção de Dissídios Individualizados, ao editar a OJ n. 355,
cuidou de esclarecer qual seria a melhor interpretação sobre a
matéria, ​in verbis​: ​O-SDI1-355. INTERVALO INTERJORNADAS.
INOBSERVÂNCIA. HORAS EXTRAS. PERÍODO PAGO COMO
SOBREJORNADA. ART. 66 DA CLT. APLICAÇÃO ANALÓGICA
DO § 4º DO ART. 71 DA CLT (DJ 14.03.2008). O desrespeito ao
intervalo mínimo interjornadas previsto no art. 66 da CLT acarreta,
por analogia, os mesmos efeitos previstos no § 4º do art. 71 da CLT
e na Súmula nº 110 do TST, devendo-se pagar a integralidade das
horas que foram subtraídas do intervalo, acrescidas do respectivo
adicional.

ADICIONAL NOTURNO

Nos termos do art. ​73 da ​CLT​, o trabalho noturno terá remuneração superior à do
diurno de pelo menos 20% sobre a hora diurna. De acordo com o ​§ 2º​, do art. ​73 da ​CLT​,
compreende-se como noturno, o trabalho executado entre as 22 horas de um dia e as 5
horas do dia seguinte, assim, o reclamante faz jus ao adicional noturno, pois o seu labor
compreendia a jornada das 20h às 5h.

Diante o exposto, requer o provimento do adicional noturno a luz do art. ​7º​, ​IX​, da ​CF
e art. ​73 e § 2º da ​CLT​, com o adicional de 20% sobre as horas diurnas das 7 horas em que
o reclamante laborava conforme explicado anteriormente.

CORREÇÃO NA CTPS DA VERDADEIRA FUNÇÃO EXERCIDA

O reclamante exercia função de técnico de informática com salário de R$ 1.200,00,


entretanto em sua CTPS consta a função de auxiliar de serviços gerais, sendo que na
convenção coletiva da categoria do reclamante, o piso normativo para a função
desempenhada de fato o valor de R$ 1.800,00.

Fazendo jus às diferenças salariais diante o piso salarial apresentado, condenando o


reclamado ao pagamento das diferenças de todo o período em que o reclamante exerceu a
função de técnico de informática e a retificação da CTPS a fim de que conste o real valor e a
função, conforme estabelece o art. ​29​, § 3º da ​CLT​.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL PELA ANOTAÇÃO DA PENALIDADE NA CTPS

O reclamante exibiu sua CTPS na qual consta na parte destinada a anotações


gerais, de que o reclamante foi dispensado por justa causa em razão de conduta
inadequada já que nos termos do art. ​29​, ​§ 4º da ​CLT​, é vedado ao empregador efetuar
anotações desabonadoras à conduta do empregado em sua CTPS.

Ademais, acreditando que seja afastado a justa causa pelas razões de fato e de
direito alhures, requer que seja retificada a CTPS do reclamante a fim de que seja retirado a
anotação de “conduta inadequada”. O Dano Moral, fica configurado pela anotação de
penalidade na CTPS do autor, conforme dispõe o art. ​223-C​ da ​CLT​.

DEVOLUÇÃO DO FGTS

O reclamante apresentou cópias dos contracheques em que consta descontos do


FGTS, e nos termos do art. 15 da Lei nº 9.036/90, é de obrigação do empregador o
pagamento correspondente a 8% para o FGTS.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer:

a) que seja afastado a justa causa da demissão;


b) pagamento do aviso prévio indenizado a luz do art. ​487 da ​CLT​, de 30 dias com a
integração desse período no seu tempo de serviço e reflexos nas vervas contratuais e
resilitórias, R$ ...;
c) pagamento das férias proporcionais de 5/12 (cinco doze avos) acrescido do terço
constitucional, conforme súmula 328 do TST, art. ​7º ​XVII da ​CF e súmula 171 do TST, a
razão de R$ ...;
d) pagamento do décimo terceiro proporcional de 4/12 (quatro doze avos) conforme art. 3º
da Lei nº 4.090/1961, a razão de R$...;
e) multa do FGTS de 40 %, conforme estabelece o art. ​18 da Lei nº ​8.036​/90, a razão de R$
...;
f) liberação das guias do saque do FGTS;
g) as horas extras devidas com adicional de 50% superior da hora normal, haja vistas o
labor superior de 44 horas semanais de 4 horas, sendo essas horas extras, conforme dispõe
o art. ​59​, ​§ 1º​ da ​CLT​, art. ​58​, ​CLT​ e art. ​7º​, ​XIII​, ​CRFB/88​, R$ ...;
h) o pagamento de natureza indenizatória do período suprimido (40 minutos) com acréscimo
de 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho, R$...;
i) o provimento do adicional noturno a luz do art. ​7º​, ​IX da ​CF e art. ​73 e § 2º da ​CLT​, com o
adicional de 20 % sobre as horas diurnas das 7 horas em que o reclamante laborava
conforme explicado anteriormente, R$...;
j) as diferenças salariais diante o piso salarial apresentado, condenando o reclamado ao
pagamento das diferenças de todo o período em que o reclamante exercia a função de
técnico de informática e a retificação da CTPS a fim de que conste o real valor e a função,
conforme estabelece o art. ​29​ da ​CLT​, R$...;
k) a condenação do reclamado ao pagamento de Dano Moral pela anotação de penalidade
na CTPS do autor, conforme dispõe o art. ​223-C​ da ​CLT​, R$...; e
l) devolução do desconto do FGTS, R$....

DAS PROVAS

A produção de todos os meios de provas em direito admitidos, em especial a prova


documental superveniente e depoimento pessoal

DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ ..., correspondente a somatória dos pedidos.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local e Data

Advogado (a)
OAB nº ...

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