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COfflfi SE H Í B I E M I B JíflTflL

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O SEU SANEAMENTO


PELO

Doutor Januario Cicco


I n s p e c t o r d é S a lide d o P o r «o d e N a t a l e C h e f e d a s c l i n i c a s do Hospital
d e C a r i d a d e «Jovino B a r r e l l u « .

A t e l i k k T v r . m . Victokix.»
A. C A M A R A & C .
Ran 21 de Março e IV João Marin
NATAt 1920-BRAZIÍ
a â ^ ^ j y í - o .

y j f f c s »
CONSIDERAÇÕES GERAES

A cada um dos Inspectores de Saúde dos Por-


tos do Brazil cabe informar com minudência ao
Director Geral de Saúde Publica os trabalhos da
repartição a seu cargo e pedir mais amplas medi-
das de defesa sanitaria dos portos e até do paíz,
sempre a braços com as dificuldades decorrentes
da burocracia.
Todos elles organizam boletins de entradas e
sabidas de navios, com menta m a lethalidade local,
censuram o Governo do Estado pela má organiza-
ção da hjgiene regional, demonstram as despesas
que fizeram nos limites da verba votada ao expe- "
diente, e deste modo justificam a utilidade da de-
fesa dos portos, pomposamente chamada Hygiene
Internacir.nal.
O Regulamento Geral de Saúde Publica san-
. ccionado pelo Decreto.n"? 10.821, de 18 de março
de 1914, no seu artigo 56, cíeou na séde de cada
Inspectoria um serviço de defesa sanitaria com hos-
pitaes, isolamentos e gabinetes annexos.
A s necessidades ptèmentes do paiz adiaram a
effectivaçíío do plano que maiores^aranrias offerece
í vida collectiv«^; mas nem pór isso se esgotam as
economias do Thesouro com despesas supérfluas.
Quando em 1918 a grippe devastou milhares
de vidas e se cogitou de apparelhar o paiz de meios
de defesa para enfrentar outras epidemias que nos
ameaçavam^á mim também foi dirigido um tele-
gramma circular.no qual me pediam dissesse de
que recursos necessitava para garantir este porto
contra qualquer eventualidade, evitando se in-
stallassem nesta cidade moléstias que em outros
paizes já ceifavam, como a grippe. pedindo eu
apenas a execução daquelle artigo 56. que só por
si bastaria para suster as investidas de qualquer
morbus e tranquillizaria uma população que se ves-
tia de luto^/E no laconismo da minha resposta quiz
affirmar que nenhuma disposição regulamentar,
nem outra qualquer medida prophylactica seria ca-
paz de nos premunir com tanta segurança eomo a
creação dos serviços de defesa, constantes daquelle
dispósitívo de lei. E no entanto, ainda e sempre,
depende dà vontade augusta dos Deuses do Olym -
po o crédito necessário para a verdadeira defesa in
ternacional e seguríssima garantia das nossas rela-
ções econoinico sociaes.
puando outros paizes escoimam da sua C i v U t -
z a ç A o peqoíenás ou grandes falhas prejudiciaes ao
seu povo, corrigindo defeitos e ensinando verdades,
conduzindo o organismo social á pluralidade de no
vas grandezas, semeando na geração de hoje o
gérmen da longevidade, nós continuamos presos a
um indifferehtkmo morbido e só nos movemos pe-
las efstileiadas da inveja. ^
•m.IsJos Estados Unidos da America do Norte a
lei auféa qué de>thronou o reinado do álcool glori-
ficou outra vCz ò povo mai* f orte do mundo.
N a França, na Inglaterra, na Itália, a legisla-
ção sa-nitana attinge os limites da perfeição, quan-
do ejgtída e promette resolver a prophylaxia vene-
rea. l i ate o Perú decreta medidas visando eximir
de outras gerações o germen da avariose, do mal
que maiores d^grãças/ perpetúa, parecendo já im-
manente na vrâa de cadá ser. no stroma de cada
cetluia. como se fosse o seu princípio subtil e i m -
ponderável, que o movimenta e impressiona, taes
as suas manifestações proteiformes.
, - E p ó s . O qtté temos fcifn ? Renderaó-nos á
^ m e ç o n d i ç a ç d e natureza m a r b i d a T ^ r ^ " ^
de nòsse c r M n H n * imni.^
E g t o ç o e g c i e n t e minimõ dé forca a n g j w j l j j T ^ -
-^a^gg-^aalgueonEgccgo, porque o frotêus dormp
ILq.JjjMIIia__gue_Jiumedece o 3 nossos f s r í ^ « n o
_meio em que vive a nossa vidb^ 1

Mas não p á SaúdiHPnhliea que se dev* res-


ponsabilizar peia r r i ^ m q o e nos humilha p. d * ^ .
da, mas aos ^ d i s L a ^ d c j ^

Agora ihesmo e mais uma vez a classe medica


reclama providencias promptas e que ponham ter-
mo a tanto descaso pela saúde collectiva, e o Dire-
ctor Geral de S a ú d e Publica, Dr. Carlos C h a g a s
homem de reconhecido valor, se bate pelo sa-
neamento do Brasil, interessando o profundamente
a prophyk^ia da syphilis.
/ Mas daqui até lá prevejo a lucta, a indecisão
^os momentos de incerteza pela Conquista da verda-
de, a campanha dos minotauros da imprensa, a po-
• liticalha enxovalhando, empestando com a sua pe-
çonha a suprema vontade de se fazer o Bem, e não
sej s e em longa caminhada a humanidade terá a fe-
I icidade de bemdizer o nome dos que morrerem na
lucta pela regeneração dz raça, ou dos que cahi-
rem de pe na grandeza do seu gesto.
r eliz on infelizmente a modéstia, a nossa po-

hre.za e ainda a condiçíto de pequeno Estado do


Norte nos fazem esquecidos do resto do J paiz, e por
isso ninguém vê o interesse que temos pela vida
coilectiva e os meios que praticamos-para a re-
construcçâo do ncvo typo human/W'
'/Nas escolas, nos desportos,'nos campos, os
nossos educadores aperfeiçoam a geração de ama-
nhã, preparando as suas resistências para a lucta
do mais forte e contra as moléstias, //AO mesmo
tempo que o Governo do Estado mantém, sem ou-
tro auxilio, diversas casas de assistência publica,
iinde os assistidos ou hospitalisados recebem o
mais seguro tratamento das diversas moléstias, sys-
temarizando-se o tratamento da avariose pelo no-
varsenobenzol e estabelecendo assim, indirecta-
mente, a prophylaxie da syphilis./
Muito antes de Sfto Paulo e Paraná iniciarem
a prophylaxia anti-venerea, o Rio Grande do Norte
já a praticava, centralizando no Hospital de Cari-
dade o tratamento da lues, promettendo o illustra-
do Governador do Estado, Dr. Antonio de Souza,
estabelecer a officializaçào da prophylaxia da ava-
riose, regulamentando a nos moldes da legislação
ingleza.
O contraste desses très Estados, os doié pri-
meiros riquíssimos e o outro em constante peleja
com a natureza, aquelles exuberando civilização e
ouro e o outro pedindo os fhvores que a lei distri-
bue ás victi ma s de calamidade, mas todos se es-
treitando no mesmo ideal para a felicidade da raça,
é o mais bello exemplo a seguir ne.st-i lição de pa-
triotismo. quando o mundo inteiro se interessa pela
4JMa££ujda^e.,da^iria^_a.legria humanas.
/O que todos não fizeram ainda, e. que tem a
máxima importancia prophylactica, é a prohibiçfio
-absoluta de se annunciar pela imprensa e pelos re-
clara os de praça a série mteVmínavel de drogas
contra a syphihs. q u e 0 indastóalismo a S a

mercantilismo e mchffçrente a sorte dos svoblliti-


T ° .qUeíCnda
doente consuma uma
dúzia de vidros das /uas infamias engarrafadas
K d o . e í C m D S O l , d a / 3 f ° r t U n a ' * * ^ b í c f o n T Ava
nagos ! b m guarda contra os vossos coveiros, esses
c T ^ T T / ™ - vidro dos élürires

t o p o g r a p h i a d e n a t a l e s u a g e o g r a -

PHÍA MEDICA

R « J ? * ? 1 é 3 C l d a d e m a i s s a u d a v e l do Norte do
t/nuí a , n a - g e m O C e a n o e c e r c a d a por mon-

veÍLcâo Z , 7 d u " a S ' C O b e r t 3 S d e exaberante


vegetação, è batida pelo vento éste-sueste constante
e moderado, trazendo á cidade as riquezas de nm ar
mannho, leve, puro e tonificador. De clima tempe-
rado, a sua temperatura nâo excede de 3a<? á som-
ou p L l r e a ^ a "»mpreheiide a Cidade Baixa
U r b

um ba^rm 1 ade ^ A' prímeíra ^osta'


sobrP ^ W operários e pescadores, construído '
naíldo S e I n ^ u l a d ° K o c a s . e da Ribeira se-
l a r á P ° I D m a fal?ade t e r r a d* 400 metros de
S ' í s e P r e v ê - ü m t e f r e n o arenoso.

fl
C d
r ^ ° d e ^ p r e s s õ e s , onde facilmente s^
CQJIecta m aguas pluviaes.
e P o r t o de mar '
Western e Great
, A Cidade Alta se estende á Cidade Nova. im-

b a l r o , P do
bairros J a n Tyrot,
T , e ' , TPetrópolis
P ° r f™ V e z se
e Alecrim. nos
//Us dois primeiros são pouco habitados, mas <
ern compensação os seus habitantes sfto.na maioria,
pessoas qae se esforçam péla segurança sanitaria
dessas duas zonas, onde raramente vae o medico.
Entre Petropolis e Tyro) não ha desconti-
nuidade do solo, que é bastante permeável, infil-
trando se rapidamente as aguas de precipitação,
de modp que depois das chuvas não ha á menor
coIJecção d a g t í a . /
/ O bairro do'Alecrim se desdobra em Boa Vis-
ta, Baixa da Belleza e Kefoles.
Em plenas ruas do Alecrim, cercado pelas ha-
bitações. está o Cemitério de Natal, de edade se-
crular eimproprio, peta saturação, de exercer a sua
funcção bíblica de reverter em pó o envoluçro da
alma do peccador.
A uns 200 metros da Cidade dos Mortos ficam
as fontes de abastecimento dagua á população de
toda Natal.
__ Entre o cemitério e estas fontes seinstallou a
Bôa Vista, bairro, ou rua exclusivamente de opera-
rios e onde não ha agua canalizada e a matéria ex-
cretada è lançada á flor do sólo numa orgia de
atteotad.^s4"vida coílectiva. pelo"ãFê~pela agua. "
Atõra estes bairros ha pequenos gruposdê"ca-
sas por além, habitações esparsas, com o mesmo
systema de vida sanitaría.
Abaixo do Alecrim, á margem esquerda da
Great Western, fica o Refoles, suburbio de Natal e
onde se installou a Escola de Aprendizes Marinhei-
ros. Exceptuando raros casos de beri beri. não sei
de moléstia outra que perturbe a vida regular da
quelle núcleo de instrucçíío. O seu abastecimento
d agua é feito p o r m e i o d e p o ç o s tubulares./

s, . • . . • „ • .. ' . . .

Ç ^ â e Baixa Ribeira, á margens á õ t i Ç


.Pfífeísgfc .ç m à ^ s ^ r m e n d s plaina, a o t á w J a ^ '
rém,.. na sua parte leste e janto á encosta que sóbe
a Petrepolis, uma larga superficie de nivet muito
inferior ao- plano da cidade, formando uma bacia
de grande capacidade e extensão e onde,se colle-
ctera as aguas pluviaes- dando logar á formação
da lagoa do Jacob. '
Comquanto de grandes dimensões, é insufi-
ciente para coniportar- o volume liquido que desce
da Cidade Alta/transbordando einundando as suas
immediações, de maneira a se tornar absolutamen-
te intiansítavel e paralysando o movimento na
parte baixa de Natal, pelo inverno.
A' falta de um escoamento prompto, pela in-
existência de galerias para aguas pluviaes e infe-
rioridade de nível, esses immensos focos de ano -
Phelinas e stegomias calofius perduram no verão du-
rante longos mezes, perturbando a vida calma da
cidade, tornando-a inhabitave!.
E m proporções menores, verifica-se a mesma
cousa nas Rocas, onde as aguas pluviaes se colle-
ctam nas depressões formadas pela descontinuida-^;
d.e das dunas, a principio se infiltrando raipidamen- '
te, para depois da saturação estagnarem per mui-
to tempo, dando se o mesmo inconveniente de se
transformarem as collecções liquidas em viveiros
de mosquitos, com as suas tristes coh^equëh^ci'as y
saúde da pequena cidade operaria!
Pela topographia das Rocas, situada sobre as
dunas, vê se logo quanto é sem dificuldades o seu
saneamento, bastando-lhe o aterro e nivelamento
com as próprias areias das colhnas. O que mais
custa ë levar áquella gente a agua precisa ás suas
necessidades.
Uma divisão toda convencional deu á zona
Sul de Natal o nome de Cidade Alta, que embora
em plano'superior, a 35 metros acima do nivel da
mar, está ligada á-Riheira e delia náo se desccnti-
10

nua, por uma subida de 350 metros de extensão,


com rampa de 10 %, e toda edificada de prédios
regulares.
Afora esse trecho de accesso fácil, ha ruas
transversaes que galgam mais depressa a cidade,
embora com uma rampa mais forte.
A Cidade Alta em quasi toda a sua extensão é
plana, desdobrando-se nos bairros de Tyrol e Pe-
tropolis, que formam a Cidade Nova propriamente
dita, e o Alecrim.
IIOs dois primeiros, situados a Sudeste de Na-
tal nada apresentam de notável sob o ponto de vis-
ta noscilogico ; são ao contrario os pontos mais
saudaveis de Natal, com as suas largas avenidas,
sem travessas, de sólo arenoso e todas as ruas nor-
maes ás correntes dos ventos dominantes. Pouco
habitadcs, esses dois bairros promettem a edifica-
ção da cidade mais bonita do Norte do Brasil.'
/Em continuação á Cidade Alta e em direcção
Sudoeste fica o bairro do Alecrim, separando-os
uma fórte declividade onde ficam, á esquerda, uma
lagôa com o nome Baldo e á direita os terrenos da
Empreza Tracção, Eorça e Luz Eléctricas. Aquella
lagôa é mantida por algumas nascentes próximas,
onde à população pobre lava roupa, ahimaes. toma
banhos e dizem até que se abastece para as necessi-
dades domesticas.
Do outro lado, nos famosos alagadiços da em-
preza de bonds ficam as fontes de abastecimento
dagua da Capital, em cujos terrenos passam as
aguas do Baldo, que por sua vez vão ter ao rio Po-
tengy. Esta zona intermediaria entre a Cidade Alta
e o Alecrim tomou o nome de Baldo ou Bica e é
cercada de habitações de operários e lavadeiras, h
í / U m pouco aquém da Bica está o matadouro,
ejji plena cidade e sem as condições de hygiene in-
dispensáveis a estabelecimentos desta natureza./^
11—

/A area de propriedade da Empresa Tracção,


Força e Luz mede uma grande superfície ; é pan-
tanosa e coberta de viçoso capinzal, e nas suas im-
mediações ficam os fornos de incineração,do liso
da cidade, que, diga-se de passagem, não funccio-
nam, fazendo-se a com|ü<tto ao ar livre.
A' montante do rio Potengy. e áquem do ma-
tadouro,. ha outro bairro de operários, de pequeno
commerciu, chamado Passo da Patria, cujas condi->
ções de vida se oppõem a qualqqer prosperidade. -
D e habitações liumid.i.s, baixas, sob cujos tectos
vivem promiscua mente e em excesso õs setís mo-
i ^ õ r ê s T õ n P a s ^ ^ T F ã t r i a é tambinTulna" zona "de
plantações de capim e criação de porcos./ -
; 0 bairro do Alecrim se subdivide, como disse,
em Baixa da Belieza e Bôa Vista. São zonas ope-
rarias, e a vida sanitaria de ambas será estudada
conjuntamente com a do Alecrim.
Exceptuando pequenas depressões, muitas das
quaes cavadas pelas aguas pluviaes. topographica-
mente o bairro do Alecrim não offerece senão im-
portância relativa. Mais áo sul da cidade e noS seus
limites com o Tyrol, ha diversas lagôas perigosas á
vida collectiva e com as mesmas utilidades da do
Baldo.
Nos confins do Alecrim ftca a Baixa da Bel-
ieza, que é o seu prolongamento., construída pelos
mais humildes pobres da cidade.-'
O s terrenos de toda essa parte de Natal*são
arenosos e grandemente permeáveis âo ar e á agua.
Finda a excursão por toda Natal, vêem quan-
tos se interessam pela vida material dos seus h a -
bitantes o descaso a que se leva a terra que nos
ampara, o berço que nos viu nascer, o repositorio
da nossa força, o sólo que nos restitúe os elemen-
tos da nossa vida e nos dá a agua, o alimento, o
oüro que nos torna orgulhosos demais para n5o
12
13
vermos o qne fica sob os nossos pés, como que es- vos fócos de mosquitos, e quando cessa o rènova-
magando a grandeza dos infinitamente pequenos sttento das aguas pluviaes.
que nos matam de mil modos, e sem que nos aper-
Pela classificação acima, de accordo com as
cebamos da finalidade, de nós tão perto.
estações do annb, vê-se logo que o paludismo e a
Sob o ponto de vista medico, ha mais perigõ febre amarella são erjídemo-epidemicos ; e o typho
na crosta do que nas camadas profundas do sólo, e icteroide, na süa phase aguda, consegue eliminar
o seu revestimento é mais uma medida sanitaria de algumas vidas para, no verão, se reduzir a casos
alto alcance social do que só um embellezamento suspeitos e indiagnosticaveis,.pela singularidade de
nas cidades. que se revestem.
/Natal, comò todas as cidades e de accordo
A relação que existe entre as moléstias e a re-
com as estações, tem as suas moléstias bem defini-
gião onde se desenvolvem tem ainda como facto-
das ; e dahi, se pç>der classificar ou dividil as em
res etiologicos.as condições individual e collectiva,
moléstias do começo e fim do inverno, as do co-
notartdo-se que nos bairros operários de Natal são
meço e fim do verão e as communs a todas as
aggravantes á etio pathogenia, como predisponen-
estações.
t e s , ^ falta de hygiene corporal, as habitações in-
As primeiras são a grippe nostra, as infecções salubres. oexcesso de habitantes enTcã3ãlIõÍTncÍ-
intestinaes, as affecções do apparelho broncho-pul- lio e a viciaçXó~do art" decorrente" dàquella promis-
monar, o paludismo, a febre amarella e o beri beri ; cuidade./ ~
as do segundo grupo : a dysenteria baciltar, o sa-
rampo, a varíola, o typho e as para-typhos. A'ul- Recordando-se as nossas condições climaticas,
tima classe, isto é, ás moléstias com m,uns a todas numa cidade batida ordinariamente por um vento
as esfações, se grupam a verminose, notadamente este-sueste constante, sem humidade, e tendo maxi-
a ancylostomose, e todas as outras entidades mór- mas de 32"?, raríssimas vezes e nos prolongados ve-
bidas geraes, além das que se enquadram na pa- rões, se tem a idéa de habitar a região mais saudavel
thologia exótica/ do mundo ; e, não fossem aquellas condições de má
salubridade immanentes nos arredores da cidade,que
Mas, para gáudio dos que se cercam de garan- por falta de recursos ou de iniciativa nunca se pro-
tias sanitarias, póde-se dizer que as moléstias epi- curou remover, Natal seria uma terra privilegiada,
demo contagiosas, em sua maioria, se relacionam restando apparelhar a Hygiene para consolidar a
com as zonas onde a natureza dos terrenos é con- nossa alegria, luctando apenas contra as moléstias
tingente etiologico forçado.' que stygmatizam as gerações de males que se não
/As Rocas, o Passo da Patria, o Alecrim, o Bal- remedeiam, e das moléstias que a sciencia ainda
do, suasimmediações e confins do Tyrol, pelas não quiz curar.
suas condições telluricas, e cnde os charcos são
/ O optimismo do hygienista pretendendo chegar
factores do desenvolvimento de anophelinas e ste-
á longevidade, desbravando e extinguindo a flora
gornias, justificam de modo indiscutível a existên-
das algas que nos matam e a fauna dos parasitòs
cia das moléstias enquadradas no primeiro e se-
que nos envenenam, pôde ser utopia também, por-
gundo grupos, quando começa a formação de no-
que a natureza nos faz morrer pela própria alimen^
15

14 quando esses organismos se desenvolvem sob a vi-


gnancia de maes mrpjhgentes e cultas, qnasi V ^ .
tação que nos dá vida ; mas è de crer que a civili- pre supportam as enterites outonaes e não morrem
zação consiga/emprestar á humanidade a força ne- pela falta de h y g i e n e " limentar, equivalêna^TãEF-
cessária para se bater com a morte./E só a H y - mar que a educação é tambem^ierapcutica, cada
. giene pcderá elevar o coefficiente das nossas resis- v e z j n a i s se comprovando a necessidade de instruí?
Tencias nessa lucta temivel e que deve .terminar o povo, como problema de salvação universal.^ "
com a nossa victoria, prolongando a nossa existên- f M a s a utopia do hygiemsta não acabou. Em
cia, tanto quanto possível. 1919 Natal registou 1093 óbitos, sendo 573 crean-
Até 11 a humanidade se terá diluído numa ças, de o a 5 annos, e por causas múltiplas, excluin-
sucçessüo de séculos indorinidos na peleja de viver, do-se dos primeiros algarismos 54 nati-mortos. É
e a historia de hoje, no consenso de amanhã, re- que a fauna intestinal guarda o maior inimigo do
brasileiro, o mais perigoso adversario da creança
presentará o nosso grande auxilio á longevidade
que, pelos seus hábitos de tudo levar á bocca. se
v dos oorvindouroá.
arrastando pelo sólo desprotegido e séptico, hos-
'//h despeito das vantagens do nosso clima e peda o dochmius. incluindo-se, portanto, na elo-
comquanto pareça paradoxal, Natal é uma cidade quencia daquelies algarismos as desgraças da an-
onde muito se morre. cvlostomose./
A sua população de 22 mil habitantes deveria
Desse modo, dando Natal um obituário acima
dar uirf coefficiente mínimo de lethalidade. e no
das suas condições naturaes de defesa, relativamen-
èmtanto a cifra do obituário de Natal espanta, cau-
te á magnificência, do seu clima, nem por i<so os x
sando serias apprehensões, principalmente si se pro
cura balancear a natalidade. / -seus créditos de salubridade se f abatem porque, re-
Mas logo o paradoxo se desfaz, quando s e \ pito^á lethalidade quasi se reduz ás moléstias do
consultam os mappas demographo sanitarios, con* - apparelho digestivo, tanto pela verminose, como
pelos defeitos da alimentação da primeira edade.//
tristando ao mesmo tempo ver a lethalidade infan-
O interesse nacional, sob o ponto de vista sa-
til constituir mais da metade do obituário da cí-r
nitário, está voltado para a prophvlaxia da vermi-
dade./ nose, objectivamente para a ancyfostomose.
J/Nem mesmo assim, todavia, se desvirtuam as A missão Rockfeller estabelece a cifra humi-
qualidades preciosas do nosso clima, porque a cei- lhante de 80 % de hypohemicos no territorio na-
N fadora de vidas infantis não é nenhuma moléstia cional ; Belisário Penna fortalece os argumentos
epidêmica, mas. em sua maioria, a falta absoluta daquella commissâo. e Monteiro Lobato estuda as
de cuidados na alimentação da primeira edade.que. causas da nossa decadência, attribuindo a inferiori-
só por si, é bastante para entreter, a ^ s t r o ^ e n t e - dade do homem do campo ao complexo mórbido
rites fataes, quando lhes não succeHem as infecções, que lhe empresta o zoo-parasitismo.
tão c o r o n T ã n T T s ^ ^ uso"^s~coosoradg- Desde muito tempo conhecida a sua causa, de
res. pela alimentação de má qUaligadê^e contactos therapeutica determinada, falta á ancylostomose a
impuros. Accresce que as tharrhèag estivaes c o m -
promettem também a vida dos pequeninos rto-
E tandens es. ccmo os de todo roundoT é claro
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— 17
segurança de uma cura absoluta, a salvo de recidi- pelo tratamento, ficam-lhe as consequências, que
vas. e o que mais é, que remova as desordens im- lhe não sSo inferiores. De modo que o Governo,
postas pela moléstia á physiologia do seu ho?pede. entregando se á prophylaxia da verminose. presta
o que parece ainda irrealizado, porque a segunda relevantes serviços á dèfesa dos seus concidadãos,-
natureza feita pela anarchia das funcções continua mas não pôde estar /convencido dà efficacia das
indifferente á minguada ' therapeutica de que dis- medidas em pratica, porque do modo por que se'
põem os nossas conhecimentos para a derrocada iazem_as_casas do nosso operário, com o piso des-.
da anemia tropical. protegido e por onde se arrasta a fi|haradíTãmã-
Appella-se para o patriotismo dos governos, rel lenta e nóa. mesclando o"cFão com a i propriás'
concitam se as sociedades brasileiras de medicina a dejecções, misturando â sujidade do lõcãTa~co3ê'a
uma lucta efficiente em prol des forças productivas, d e j á o que lhe cãe das mãos, não ha remedio con-
estipendiam-se trabalhos onerosos para b resgate tra as reinfecções. tonicos que reorganizem~~gêca-
desta divida sagrada, amparando as classes prole- dencias, nem fossas que eduquem um povo de anál-
tárias contra os males evitáveis, mas a bandeira phabetos^ ~~ ~ —
desfraldada aos gritos de guerra á anc3 f losttímosé, Si o-Governo quizer amparar eficientemente
com aquelle contingente de algarismos formidáveis, o seu povo, servindo as populações de rèdes de es
tem o vigor das primeiras forças em lucta, a força gôto e não regateando despesas para a instrucção
das primeiras razões, o effeito das actualidades, official no Brasil, em futuro mais proximo a misé-
porque esse vermicidio no qual a sabedoria dos que ria terá desapparecido, na razão directa da prospe-
se batem frente a frente Com o monstro, na clinica, ridade do paiz.
no hospital, nas minas, nos campos, em toda par- A prophylaxia pelo tratamento da verminose é
te, se esbarra muitas vezes com a indiffcrença dos incontestavelmente um grande trabalho de hygiene
medicamentos, com a falta de educação do povo, rural, mas è falho de garantias, principalmente nas
com a descontinuidade do tratamento e com as re- cidades sem esgoto, porque a pratica de se abrirem
infecções. tantas fossas quantas sejam necessarias aos sérvi-
È bem complexa a questão e ainda n t o me viços de encerramento da matéria excretada, ter-
convenci de que a fossa baste á prophylaxia da mo- minará por se constituii um sólo de excremento em
léstia que tem no sólo a mais farta mésstt de repro- cada habitação, ao mesmo tempo que a prophyla-
ductores. de modo que as reinfecções se farào, xia esbarra nas difficuldades de se dar ao trabalha-
mesmo que cada habitação pobre tenha a sua cloaca dor dos campos a segurança contra as reinfecções.
onde se guardem os ovos do parasito. . Mas, seja como for, o que é justo, grandioso e
Pretender-se equilibrar funcções miopragicas de inadiavel necessidade é vencer, empregando to-
desde os primeiros dias, n ã o é a mesma cousa que dos os recursos para debellar a moléstia humilhante.
se concertar uma machina bruta ; mas também nâo Outra questão que se movimenta no norte da
é ingerindo drogas que se removem obstáculos Republica diz respeito á febre amarella ; e para
desta ordem numa população doente, porque se fallar só de nós, daqui de Natal, aventuro um juizo.
conseguindo eliminar o parasito com a prophylaxia cujas considerações não receio me contestem. O
i
-—19
— I S
abastecimento d a g u a detestável, com um systema
estado sanitário de Natal tem sido immutavel na de fossas sem trata mento biologico, tenejo em cada
successão.das suas pequenas endemias ou mesmo domicilio e nas cercanias da cidade pequenos e
grandes fócos de larvas, não é para extranhar que
epidemias. Até bem p<->uco tempo, as moléstias
nd proximo verão, depois do inverno que nos visita
eruptivas tinham nos deixado socegados, c as pas-
agora, a febre amarella resurja. e uma vez por ou-
tes que visitam outros Estados têm encontrado
tra nos roube vidas preciosas./
aqui condições pouco favoraveis ao seu agasalho,
graças á excellencia do nosso clima, já o disse ; Quando se succedem longos verões, como este
ultimo, esquecemo-nos da existência da febre ama-
'mas o saneamento de Natal, quanto á pruphylaxia
rella em Natal, e ás primeiras novas do inverno,
da febre amarella. é trabalho incompleto, porque
algumas vezes, surge precisa e claramente o mal,
nas cidades visinhas da capital, como Macahyba e tendo então levado uma vida larvada e a se nos
Ceará-mirim, c tvpho icteroide sabe fazer as suas mostrar differente, nas suas manifestações bizar-
victimas. do mesmo modo que em Lages e nas ci- ras. ,
dades á margem da Great Western.
È provável que esteja acontecendo a mesma
N o i n t e r i o r d o E s t a d o . o o c o m e ç o e fim d o i n v e r n o . n p p a r ç c e n m a coisa agora, apesar de se ter feito um policiamento
e p i d e m i a d e f e b r e c o m v o m i t e s DCgros. c a o s a o d o p a a i c o n a s p o p u l a ç õ e s de fócos, apenas em domicílios. É provável, digo
p e l o n u m e r o d e vidiis sacrificadas. . t.
T e n h o a c u d i d o a diversos c h a m a d o s por essas c c c a s i o e í . c p a r a ci
eu, porque todos os nossos verões são mesmo
l a r a l g u n s c a « « , l e m b r o a m a v i a g e m d e u r f t e n c i a <ioc fii i L a « « , a l g u n s assim : ha um desapparecimento quasi completo,
a n n o s p a s s a d o s . p a r a s o c c o r r e r u m h c s p a u l i o l . c h a n f f e u r da C o m p a n h i a como agora, dos transmissores da molesfia, e, si
V i a ç ã o e C o n - t r u c ç n c s , e n c o u t r a n d o o e m a p o m a t r a n c a , t o d o M«}"
pelos vómitos oegros, fn'l=c.;udo momentos apó; h m i n h a . chegada algum caso existe, passà despercebido ao r^cioci -
D i a * d e p o i s , n o v a m e n t e m e tr-rnsportei 4 m e s m a v i l l » . ™ üoccorro a iíio clinico, pela simplicidade com que se apre-
u m a c r e a n ç « d e 8 a o n o s . filha d e m i n e i r o s , r e c e m - v i n d o s d o «eu e - s t a d o .
e n c o n t r a ndt>-a m o r t a , t o d a a m a r e l l a . t e n d o a p r e s e n t a d o e g u a e á b y m p t o -
senta.
mas. E r a C e a r á m i r i m , era ; q . S . u m Jistincto c o t l e g » nosso p e t d v n tres
s o b r i n h o s , e m o i t o d i a s . c o m a s m e s m a s m a n i i e s t a ç o e s Hos c a s o s c i a d o s .
E Natal tem collecções liquidas pelas suas cer-
E m j o i y , t r e s h e s p a n h o e . < . t r a b a l h a d o r * , tms p e d r e i r a s d e M a c a - canias, que nâojforam de nenhum modp beneficia-
h y b a . tor-iin a c o t n m e t t i d o s d e l e b r e s u s p e i t a c o m a s m a n i f e s t a ç õ e s (le to-
dos os outros casas . . . • *
das, como, por exemplo, as que apresento naspho-
Agora mesmo o Governo do Estado. atUndend.i a j wl>ciiaçfl*s tographias que illustram estas considerações, e
d o s m u n i c í p i o s d e C u r r a e s N o v o s e L * i : e » . n i m r l - . u o m profcK-iOftal d.i onde tivemos occasiáo de verificar no dia 14 de
l o s p e c t o r i a d e H v g i t n e v e r d e pnrtn a i e b r e d e c a r a c t e r e p i d e m i c o rei-
n a n t e n a q u e l l a s l o c a l i d a d e s , c o m u m a s y m p t o i i i B t p i o g i a t.-.da s e m e l h a n t e a Março deste anno nuvens de mosquitos esvoaçando
q u i n t o s c a s o * t e m h a v i d o d e f e b r e n m a r e l U e t o m a r ..s p r o v i d e n c i a s n e - em torno de nós^fie modo que, a julgar pelas con-
c e s f a r i a s . c o n t r r m e se lá na A KtfnMea d e 20 d e A b r i l , e m s e ? n u m e r . b g
F r b r e h t m c g k > b i n u r i c a > E-spirochetose ictero h e t n " r r h a S i c a ? t e b r e
dições actua es de Natal, com todos os fòcos aqui
amarella ? observados, sem outro auxilio, não se pode consi-"
derar extincta a febre amarella, do mesmo modo
Assim, sem o rigor de uma policia de focos que é temerario.affirmar estarmos a salvo das suas
bem organizada c constante, os dinheiros públicos desgraças, porque, comquanto tenham diminuído
serão perdidos, porque em breves dias a cidade os fòcos na area urbana, ha-os em quantidade nos
pagará o seu pesado tributo á moléstia que é o es- arredores da cidade, nos bairros proximos, nas
pantalho da civilização./E até aqui quasi nada se
tem feito, porque sem esgoto, servidos por um
— 20-1

mesmíssimas condições de sempre, e o interior do


Estado não foi, ao menos, contemplado com o po-
liciamento de f o c o s ^

E s t a v a m e s c r i p t a s essas c o n s i d e r a ç õ e s q u n n d o , do diti 4 da A b r i l .
£ui couvidad.o a v e r orti d o e n t e á r u a do C o m m e r c i o a . . . . . . a <tca
•nado. h a v i a d o i s diax.
D e 14 a n n o s d e e d a d e , Í>1 B - . nacioDtfl, tinha f o b r e de 389,4,
. l i m i p u t s s ç f l o d e 46 por/ m i c u t o ; vómitos biliosos, adyn.imía,- c e p h . i l & i
intensa. photophobi^, constipação, conjunctivíis snb-ictericas, língua.,,
s u b u r r o s a . fígado s e n s í v e l á p r e s s ã o , ' u r i n a s f o r t o m e u t e a l b u m i n o s a s .
embora ligeiramente diminuídas.
N o d i a 6 o p u l s o s u b i u a 56, c o m a m e s m a t e m p e r a t u r a do dia
a n t e r i o r , o estado p e r a l m e l h o r o u . c e d e n d o a c r p h í l é » , o s f e z e s ne-
grBS e a p e l l e f r i a . Nr> dia 7 a t e m p e r a t u r a b a i x o u a 37".4. o pulso des-
c e u a 54, c o n t i n u a n d o m e l h o r o estudo g e r a l , a língua s a b n r r o s a , a urina
a i n d a a l b u m i n o s a e o figadu indolor ã pressflo. N o d i a 8 a t e m p e r a t u -
r a d e s c e u a 36^,4. a p u l s a ç õ o s u b i u a 56, a l i n g u » m e n o s s i l j s . a urina
p o u c o a l b u m i n o s a . m e l h o r a n d o o estado g e r a l , f e z e s a m n r e l l d - e s v e r -
d e a d a s , tudo p a r - c e o d o se t n c a m i u h a r p a r a a c o n v a l e s c e u v B >
E s c u s o m e d e e s t a b e l e c e r d i a g n o s t i c o ; fica no e m m a r a n h a d o
s y m p t o m a t o l o g i a uma d u v i d a s o b r e a n a t u r e z a deste caso c l i n i c o .
D t s f a ç o - u q u e m se j u l g a r em c o n d i ç õ e s d e n f l o ver a q u i um c a s o
suspeito.

O reservatório du abastecimento dagua de


Natal é um enorme tanque / circular, recebendo agua
de nascentes próximas e alli conduzidas por bom-
bas ; sem outro benefician.ento, essa agua é levada
ao consumo da população. Os terrenos dessas fon-
tes são pantanosos, cobertos de capim e farta ve-
getação, como se verifica nas photographias ns, 7
e 8, e onde ficam as officinas da Empresa Tracção,
Força e Luz.
/ O Baldo, o Oitizeiro, o Passo da Patria são fó-
cos permanentes de anr phelinas eestegomias calo-
pus, e até hoje continuam affrontando os recursos
dos saneadores.
Os operários que residem e trabalham nas
officinas de energia electrica são acommettidos de
paludismo e febre amarella, pelo inverno ; e, como
medico dessa mesma Empresa, tenho soccorrido a.
todos esses doentes, não esquecendo de propôr o
21
saneamento do local, sem comtado conseguir algu-
ma cousa./
Assim, nessas condições, continuam nos arre-
dores de,Natal os maiores fócos de mosquitos ;
ninguém lhes deu o remedio salvador, nem tão pou-
. 9o á diffusão das moléstias do apparelho gastro-
intestinal e nem á verminose, continuando a cidade
indifferente ás sobras de uma falsa limpesa que se
faz nas pnncipaes ruas e praças, murmurando-se
imprecações aos dinheiros gastos sem o acerto de
melhores applicações.
N ã o é desproposito lembrar aqui, para termi-
nar estas considerações, que os meus trese annos
de clinica nesta cidade me ensinaram as necessida-
des da população, vendo como filho desta terra os
vexames que a atribulam, sentindo com ella a dor
que a opprime e procurando amparal-a nas suas
agonias ; e através da demographia sanitaria, por
mnn iniciada na Inspectoria de Saúde do Porto e
como Chefe das Clinicas do Hospital de Caridade
posso auscultar melhor as necessidades sanitarias
de Natal, desejando-lhe melhor sorte.

Quando o Estado Maior de um exercito pre-


para um combate, antes de dispor as suas forças,
de movimentar as suas unidades guerreiras, orga-
niza o seu programma de guerra, estuda os moti-
vos de êxito, traça na carta geographica o ataque
ao inimigo, e, emquanto lhe resta outra melhor
bypotíiese de Victoria, Yião expõe os seus soldados
ao infortúnio dç uma derrota.
Assim, o engenheiro não faz uma estrada, não
edifica um palacio, n5o constróe uma ponte, sem
um reconhecimento, sem nm projecto.
E do mesmo mode, penso eu, o hygienista, an-
— 22-1

tes de se empenhar na solução de um problema sa-


nitario, deveria investigar as c^ndiçofes nosographi-
cas da região invadida pelo inimigo, ver de perto
as diBiculdades a remover, e, depois de bem estuda-
das as vantagens da offensiva, promover então os
servidos absolucamente.preeisos e inadiaveis.
y/Sem, todavia, me considerar hvgiénUta, muito
embora não seja'isso titulo de ninguém, mas c o -
nhecendo Natal em todas as suas direcções e con-
dições, e principalmente porque se trata agora de
sanear o norte do paiz, entendi levar ao Governo o
meu pequeno auxilio, lembrando medidas que me
parecem ter alguma importancia sanitaria econcor-
rendo assim para a felicidade da minha terra, sem
comtudo estar convencido de serem as minhas in-
dicações as melhores e as que se devem seguir.
Mas, si em matéria de prophyiaxia a râinoçào da
causa resolve a equação, outra cousa não faço indi-
cando aqui os meios e mr>dos de solução do pro-
blema do Saneamento de Natal.^5"
^Iniciando os trabalhos de defesa sanitaria pela
parte nordeste da cidade, onde se construiu o bairro
das Rocas, cidade exclusivamente operaria e edifi-
cada sobre as dunas, debruçando-se ao Norte so-
bre o mangal que margina o Potengy e cujas casas
não têm as condições de hygiene necessarias á vida
de 2390 habitantes, num terrena accidentado pela
descontinuidade de um sólo húmido, collectando.
aqui e além, porções volumosas daguas pluviaes,
como se vê na photographia 4. a primeira provi-
dencia a tomar seria a terraplenagem, dirigindo o
escoamento das aguas para a planicie e reconduzin-
do-as pela drenagem ao rio que lhe fica á jusante^
vAs suas casas, peqnenas, em numero de 597,
têm o piso desprotegido ; todas de taipa, acaçapa-
das, sob cujos tectos moram, em média, 4 pessoas
por habitação, têm o systetna de fossas que a g g r a -
23

va a situação preçaria de fíúas condições sanitarias


a brindo-se cavas desprotegidas no sólo arenoso',
onde se guardara os dejectos orgânicos, e as quaes
se succedem, á medida que terminam a sua tarefa.
E assim se constituis um sub sólo nocivo á vida de
todos, ainda porque aqtléUa população se abastece
d a g u à d e filtração das dunas, cujo lençól, bastante
superficial, não fica indiferente á contaminação do
sub-sólo.
/bar' a çada qual das Habitações um typo de
fossa bíologica e systematizar a impermeabilização
dos pisos seria remover muitos defeitos de salubri-
dade da yilla operaria, evitando ainda se inquinasse
a agua do seu abastecimento e se multiplicassem os
casos de enterobiose. A policia de fócos completa-
ria o saneamento da zona, vigiando os depósitos
d a g u a na presumpção de encontrar sempre as lar-
vas de mosquitos./
È com tristeza que recordo a epidemia de fe-
bre amarella na Esplanada, isto é, na faixa de terra
que separa as Rocas da Ribeira, e quando alli se
construíam os edifícios da Companhia de Viação e
, Construcções, cujos operários, na sua maioria ita-
lianos e hespanhoes, pagaram com a vida o sacri-
fício d3 expatriaçâo forçada pela necessidade de
viver. E foi tal a nossa angustia que, reunida a
classe medica de Natal, representou-se ao Gover-
nador do Estado naquelle tempo, em 1908, solici-
tando as providencias immediatas, que até hoje
não foram tomadas. D e então para cá, os casos
têm sido em numero pequeníssimo, porque não
trabalham alli estrangeiros, ou por se manifestar a
moléstia em nacionaes, com os seus múltiplos dis-
farces.
Adoptadas as medidas de hygiene rural para o
saneamento das Rocas, visando as moléstias que a
prophylaxia official resolveu combater, é de crer
24
qne a vida naqudla zona de Natal se torne menos
transitória e mais compatível com os nossos crédi-
tos de gente que se diz civilizada.
A mesma facilidade de saneamento não tem a
parte baixa de Natal, a Ribeira, comolhe chamam.
/ Z o n a destinada ao grande commercio da Ca-
pital, a Ribeira é portò de mar. possuindo o me-
lhor ancoradouro do Norte do Brazil pela sua po-
sição, capacidade e quietude ; séde de duas Estra-
das de Ferro, uma terminal, se communicando ao
sul com os Estados visinhos. a Great Western, e a
outra de penetração, a da Companhia de Viação e
Construcções, ligando a Capital ao centro.
Com uma população de 4.385 habitantes, occu-
pando 1244 casas, incluindo-se nestes algarismos^
125 estabelecimentos commerciaes, a Ribeira me- ,
rece do hys;ieni.sta considerações mais amplas, jus-
tamente pelo contacto directo com o interior, por-
tos da Republica é exterior, se constituindo a porta
de entrada de Natal á civilização e à morte.
Encarando-se, porém, a questão samtaria ex-
clusivamente sobre as condições mesographicas
e nosologicas nesta parte da cidade, o hygienista
não se sente á vontade, considerando que a Ribei-
ra foi edificada de Norte para Sul, ein opposiçãò ás
correntes dos ventos dominantes e cujas ruas, sufi-
cientemente estreitas e irregulares, reclamam provi-
dencias reperadoras.
Mas a questão sanitaria de caracter geral nes-
ta parte da cidade, é remover effectiva mente os
obstáculos temporários á sua salubridade natural.
O sólo da Ribeira é constituído por uma ca-
mada de areia, debaixo da qual ha terra argillosa,
sobreposta a uma base de grez. Assim permeável,
mais ou menos ã dois metros de profundidade, en-
contra se o lençól dagua subterrâneo, com Ss os-
cillações da maré.
Isto posto, È bem de ver que a infiltração de
aguas pluviaes é relativa, dependendo tanto da po-
rosidade do sólo quapto da saturação das suas ca-
rnudas.
/Durante o inverno, as aguas pluviaes do pla-
n a l t o , por deciividade/natural, descem em volumo-
sa cascata por t< das as ruas transversaes á artéria
principal de commnnicação coin a Cidade Alta, que
é a Avenida Junqueira Ayres, e por onde vem maior
volume dagua. se cantonando pela face posterior do
theatro ao baixio que margina a encosta de Petró-
polis, pelo lado lèste da Ribeira, indo se espraiar
na Esplanada e constituindo na sua passagem a
lagoa do Jacob, conforme se vê na photographia 5,jl
Por seu turno, as aguas do inverno, de passa-
gem para a Esplanada, encontram no seu percur-
so grandes superfícies de níveis variados, notada-
mente na face posterior da Egreja do Bom-Jesus, á
rua Santo Amaro, e onde se collectam, formando
um enorme pantano, guardando toda a sujidade
abastada pelas aguas.
iNa sua descida, as aguas pluviaes trazem da
Cidade-Alta, de permeio com o lixo das ruas, uma
grande quantidade de areia, obstruindo sempre a
galeria de escoamento de um lago artificial que or-
namenta o jardim da Praça Augusto Severo/jdan-
d a l o g a r a que as mesmas aguas attinjam a altura
idos passeios da praça e ruas adjacentes, tornando-
as intra nsitaveis.j^
Aggravando o estada sanita rio da Ribeira, ha
em todas as habitações o-systema de fossas ines-
tanques, a'bertas, servindo em sua maioria para o
despejo da matéria excretada, e á medida que ter-
minam a sua tarefa lhes succedem tantas quantas
pétrrtittir aãrea do terreno, chegando-se a construir
fossas nás ruas è avenidas, como acontece na C M
dade Alta.
26
no Potengy drenaram as suas aguas servidas e en-
Afóra estes attentados á vida collectiva, ha caminharam suas insta 11 ações sanitarias para o
em profusão cacimbas sem as garantias de télas « « s o porto de mar. o que vem a ser um atten-
protectoras, servindo para o commercío dagua a tado a Saúde do Porto, pelo qu d não posso ser res-
grande parte da população, que recusa beber a ponsável, sabida a sua ântecedencia á minha crès-
agua do abastecimento de Natal, por lhe parecer t=iq na Inspectoria respectiva/
nociva. A tantos males evitáveis só a rêde de esgoto
yÇ> que é facto é que os casos de dysenteria não da cidade daria remedio efficacissimo.
são desconhecidòs, sem caracter epidemico, è ver- Mas á Hygiene cabe providenciar, indicando
dade, e graças á nossa bôa fortuna, porque, co- as medidas que lhe pareçam de utilidade geral, sa-
nhecidos os modos de transmissão da endameba neando, tanto quanto possível, envidando os seus
hystolitica, com semelhante serviço de abasteci- maiores esforços para o bem estar de todos.
mento d a g u a e absoluto descaso da hygiene pela #\s aguas pl u via es que descem da cidade, em
alimentação da população, è de crer que se trate seu maior volume, antes dc se distribuírem para òs
da dysenteria bacillar, pois de outro modo, sem o diversos baixios da Ribeira, se encontram e se cru-
menor serviço de defer.a nesse sentido, não se li- zam acima du Square Augusto Severo, vis á-vis á
mitariam os casos de dysenteria ao pequeno nu- travessa que abre caminho aos terrenos da Great
mero de que tenho noticia^ Western ; e a captação dessas aguas nesse ponto,
Seja como for, porque também não contesto por uma galeria suficientemente larga, conduzindo
a endamebiose em Natal, cumpre â Saúde Publica as aguas pluviaes, quasi em tangente, ao rio Po-
elucidar criteriosamente a pathogenia desses casos tengy, diminuiria de tal modo a inundação na par-
de dysenteria suspeita e evitar a sua diffusão. te baixa da cidade que os benefícios trazidos á po-
íÀinda com as causas de nossa relativa insalu- pulação cobririam a despesa, relativamente peque-
bridade ha na Ribeira lngares que reclamam as na, que se fizesse na construcçâo desse dreno, ten-
vistas do hygienista, por se constituirem obstácu- do se o cuidado dc fixar as areias que descem com
l o s á saúde collectiva. E neste caso está ainda uma as aguas pluviaes/
baixada ao lado direito da Escola Domestica e co- Por sua vez, as aguas propriamente da Ribei-
berta por um capinzal, merecendo também especial ra que se dirigem para a esplanada, alagando aqui
attenção a Fabrica de Fiação e Tecidos, onde cer- e alli vastas superfícies, seguindo a trajectória a
ca de 500 operários trabalham dia e noite sem as que já me refen, seriam drenadas na direcção de
condições precisas de hygiene. $ sua carreira e, pela conveniência de abranger to-
/Como um remate interessante á vida sanita- talidade do volume liquido que desce da encosta,
ria da Ribeira, não è sem constrangimento que se iriam por fim despejar-se no rio Potengy. pela es-
vê ao lado de muitas habitações, immundas vacca- planada e se encontrando com as aguas das Rocas.
rias ou estábulos, cocheiras, etc., sem o""mènor Um pequeno serviço de terraplenagem nos ter-
cuidado, tresandando a podridão, em cujas ester- renos que se inundam á rua Santo Amaro e o ater-
queiras proliferam as moscas. ro da lagoa do Jacób, por empréstimo ás dunas que
A' falta de esgoto, as habitações próximas ao
29
28
ha propriamente na sua area collecções liquidas
lhe ficam á montante, bastariam para depois das m a ^ f s u a vida sanita ria é egual a da Ribeira - as
chuvas não se ter agua á flor do sólo. suas casas não teem condições de habitabilidade
^ t l m a lei municipal regulamentaria, então, seve- possuem o piso permeável e c seu systema de fos-
ramente a construcçào das habitações, e daria po-, sas é ccmo o de toda N a t a l ^
deres á Inspectoria de Hygiene para oppôr embar- ÍSi á Cidade Baixa sje accusa de pouca salubri-
gos á edificação, quando as condições sanitarias do dade. pelo inverno, a Cidade Alta nâo tem defesa,
prédio não obe4ecessem aos preceitos da hygiene ;
tôdas as fossas seriam estanques e providas do seu j a r i o c o m uma falta a"bstufe'
apparelho sanitario, as habitações teriam o piso ciho&uguardando aguas servidas nos q u i n t a s ] }
impermeabilizado e cubagern suficiente nas suas
çao, cultivam-se plantas e arvores de certo porte
dependências.^
-^tx^ndí>,.deste_mod_o, a humidade nos_prédios]
Com o serviço de policia de focos, as cacim-
bas não constituiriam perigo, quanto á procreação /Uma observação clinica muito curiosa, e cuja
explicação não me comprometto a dar, diz respei-
de larvas, embora continuassem a entreter a sus-
to as epidemias de moléstias eruptivas ou de outra
peita de dysenteria amebiana, comquanto a ine-
fficacia da emetina esteja de accordo com a sus- qualquer natureza começarem sempre pela Cidade
Alts,
peita de dysenteria bacillar, impondo-se a sua
obstrucção como medida de saneamento, ou modi- A ' primeira vista parece observação imperfei-
ficação no seu serviço de abastecimento ta. tendo a Ribeira todos os motivos para a propa-
Os outros entraves á sL-úde colJecúva seriam gação de epidemias : bairros operários, porto de
mar, estradas de ferro, armazéns commerciaes e
eliminados sem esforço e sem a odiosidade que tra-
depositos em condições perigosíssimas, razões de
zem os trabalhos de prophylaxia. v
sobra para as epidemias começarem na Ribeira e
no entanto não tem sido assim, nem uma vez.//
<fFaço justiça afirmando também que a Cidade
/ A Cidade Alta é a continuação do bairro que Alta tem para seu descredito o Passo da Patria e
acabamos de estudar. A sua area é pouco maior tmmediacões. ondg v,V q m o s í n d j ^ W - " ^ ^ -
que a da Ribeira, possuindo 1619 casas, dentre as igsgem_em_BOCilgas. cujas h a b i t a r á n ^ fos-,
quaes 65 são commerciaes, e contando uma popu- sas impondo-se a destruição do bairro como única
lação de 6813 habitantes.''' medida prophylatiça, e ainda um pouco além b T o
As suas condições geologicas são as mesmas ' ^dmiravel Matadouro de Natal, que é o mais sor-
de toda a cidade, se encontrando o lençól d'agua á mais
profundidade de 30 metros, mais ou menos, Q que insante attestado do abandono a que a autoridade
quer dizer que as suas camadas de areia, argilla e s a l t a r i a entrega a vida dos habitantes desta terra
grez são apenas mais espessas do que as ante- permittmdo dentro da cidade o Matadouro que a-
riores. presento na photographia 9. tendo ao lado a es-
Pela sua posição e condições telluricas, não
30 —

terqueira e o lixo de toda urbs, e onde se regala de


podridão o hygienisla daquella zona^—o urubu./
/ É Matadouro porque nelle se sacrificam os
animaes para o consumo da população ; e só.
De passagem, não deve ficar esquecido o mo-
do por que se faz o transporte da carne verde do
Matadouro ao Mercado, que elevada em costas de
animaes, exposta ás poeiras, ás moscas e ao nosso
olhar de condemnados á tolerancia criminosa da
nossa Edilidade, permittindo tão feio espectáculo,
attentatorio também á nossa s a i i d s j
A Emprega Tracção. Força e Luz, par con-
tracto com o Governo do Estado, se comprometteu
a incinerar o lixo da cidade, em forno construído
para tal fim e do modelo que melhor se prestasse
á sua funcção.
> por um acerto de medidas hygienícas, o
•'> forno está ao lado do lixo, o Matadouro'junto delle,
e a cidade recostada ás duas preciosidades de Na-
tal./
Não quero attribuir a singularidade das epide-
mias começarem pela Cidade Alta á excellencia
das sua? condições hygienícas, mesmo porque...
talvez tudo isto não tenha nenhuma importancia.
Afora as innumeras medidas de hygiene colle-
ctiva, que a Municipalidade e a Inspectoria de H y -
giene teem o dever de impor, regulamentando a
construcção das habitações, afastando, emfim, da
communidade tudo quanto possa influir desgraça-
damente na vida das sociedades, è ainda de ina-
diavel necessidade retirar para logar proprio o Ma-
tadouro e também o forno de incineração, ou an-
tes, o doposito do lixo ; e não é menos urgente a
construcção da rède de esgoto de Natal, única so-
lução a tanta desídia, o mais prompto remédio a
tantos males e ainda com a vantagem de se remo-
ver também a nossa vergonha.
— 31-1
E porque falei na fiscalização dos generos da
nossa alimentação, não me escuso de pedir ás au-'
toridades sanitarias uma visita ao nosso Mercado
Publico que. attenta contra os nossos costumes de'
gente asseiada e exige medidas urgentes da nossa
lidi'idade, limitando q numere de mercadores e
acabando coma feira que se faz na pr^ça adjacente.
Entre a Cidade Alta e o Alecrim ha terrenos
alagados, onde se construíram as officinas da Em-
presa Força e Luz, conforme se vê nas photogra-
phias 7 e 8.
Nesses terrenos ficam as fontes, pequenos
olheiros ou nascentes, que abastecem a população.
A' margem desses mananciaes passa um re-
gato, entretido pela decantação de uma lagoa, o ce-
leberrimo Baldo de que me occuparei mais tarde,
que, por sua vez, é mantido por pequenas nascentes
de proffriedades visinhas»
Acima das-fontes de abastecimento d'agua, fica
o cemiterio. cançado, cujo sólo é húmido e tresan
da sempre á matéria de que está cheio.
Como já tive occasião de dizer, a captação
d'agua dessas fontes é feita por bombas e levada a
um grande reservatório circular, coberto de telha
inetallica e protegido por uma-téla de grandes ma-
lhas. As suas paredes foram revestidas a cimento e
o tempo abriu-lhes lojas onde moram sisudos sa-
pos, respeitáveis cobras, é se divertem as lagarti-
xas. O pó e as folhas seccas alli conduzidas pelo
vento entreteem uma'certa decomposição, mantida
ainda pelo corpo de algum daquelles animaes que
tem a desventura de se sepultar no liquido pre-
cioso.
Pois essa agua assim, sem outro beneficiamen-
to, é levantada por bombas, conduzida ao serviço
de abastecimento e usada pela população, que,
graças a Deus, ainda está vivíssima !
32 — 33

phelinas, e d'ahi a'indicação de se beneficiar aquella


E estranham nossos clientes quando lhes
zona paludosa.
diagnosticamos uma das desgraças da polyhelmin
//Os terrenos da Empresa Força e Luz consti-
thiase, urna infecção typhica ou paratyphica.
tuem perigo imminente á vida da cidade ; são ala-
O Baldo é uma pequena lagôá, protegida por
gadiços onde o paludismo estabeleceu o seu arraial,
paredes de alvenaria grossa, medindo 134 metros
com todas as formas «Sa plastnadiose de Laveran^
por 43, e foi construído, si me não engano, em 1877
lio s operários da Usina Eléctrica, como lhé
pelo Presidente da Província, a titulo de auxilio aos
chamam, são impaludados e portadores de vermi-
flagellados pela óecca de então.
nose. A qiiasi todos tenho prestado os meus servi-
A s suas margens são sombreadas em duas fa- ços profissionaes, sem entretanto, melhorar lhes as
ces por exuberante vegetação, e as aguas são man- condições, porque voltando ao trabalho, depois de
tidas como já o diõse, pelas vertentes de proprieda- curados, se-reinfeccionam, ate que a terçã maligna
des annexas. termina a vida dos pobres trabalhadores/
^Nessa lagoa dão de beber aò gado leiteiro, ba-
Não é sem o meu protesto ,que a Empresa
nha-se gente do povo, lava-se roupa e se refrescam
mantém aquelle viveiro de morte ; propuz o seu sa-
os animaes de serviço^
neamento e a prophylaxia preventiva, desde que
As suas aguas correm pelos terrenos da
assumi a responsabilidade de cuidar daquella bôa
Empresa Força e Luz, marginando as ofticinas e
gente, mas até hoje continua no mesmo estado o
fontes de abastecimento, e se vão despejar no
pantanoso capinzal, e, endemo epidemico, o palu-
Oitizeíro, que termina no mangal do rio Poten-
dismo alli vae ceifando vidas preciosas á família e
gy- á Patria.
Um pequeno trabalho de hydrographia sani- Custava tão pouco, numa area relativamente
taria, estabelecendo uma galeria subterranea ccm pequena, fazer o deseccamento do estreito valle,
a capacidade necessaria para conduzir essa agua canalizando as aguas empoçadas, por uma serie de
aos terrenos do Oitizeiro e evitando a sua infiltração valletas ao Oitizeiro. que se não pode perdoar ta
pelos mananciaes visinhos, teria ainda o interesse manha indifferença pela vida dos que teem a in-
sanitário de se aterrar o Baldo, correndo as aguas felicidade de residir e trabalhar naquellas cercanias.
peio dreno subterrâneo, acabando deste modo a
^ t í m a familia de allemães, cujo chefe è o te-
fonte de tantas moléstias do apparelhò gastro intes-
chmco das officinas de energia electrica, residente
tinal, e a extineção de um enorme viveirq de ano-
naquelies terrenos, perdeu um filho de 14 annos,
phelinas e sífgomia calof us, sem que soffressecQ as
recentemente vindo da sua patria, e uma creanci-
alimárias, porque no Oitizeiro ficaria o bebedouro,
nha de poucos mezes, victiinados pela febre ama-
a contento tambein dos pobres para os serviços de
rtlla^
lavagem de roupa, numa agua menos suja e de
maior velocidade. No fim do inverno, o paludismo torna-se epi-
A mistura dagua doce á salgada do mangal demico. A malaria e o typho icteroide, de braços
que margina toda aquella parte da cidade presta- dados, passéiam pelas habitações dos moradores
se admiravelmente á procreaçáo de larvas de ano- daquella zona, estendendo as suas visitas ás ruas
34

da Boa Vista e Salgadeira ; e, era franca ^camara-


dagem, se despedem dos seus hospedes, levando-os
ao cemiterio.
Os meus conselhos á Directoria da Empresa
para o saneamento dos seus terrenos e seguríssima
garantia de tantas vidas, não surtiram nenhum
effeito ; mas também a Hygiene apenas sabe onde
ficam o Baldo, o Oitizeiro, o Matadouro, o Depo-
sito de Lixo, o Passo da Patria e outros lngares.
Si essas razões não bastam para explicar por
que as epidemias em Natal começam pela Cidade
Alta, não sei também porque já não morremos to-
dos.
Talvez porque a excellencia do nosso clima
nos ampare, os ventos constantes que nos visitam
dia e nòite se incumbam de levar metade do nosso
infortúnio ; o sói causticante que nos aquece e o
nosso sòlo permeabilissimo, completando-se num
trabalho reductor, de fornalha, argumentem em
favor da nossa relativa salubridade.

/Acima do Baldo e dos terrenos da Usina se


estende o bairro mais populoso de Natal, que
é o Alecrim, com 7132 habitantes, occupando
1.462 casas.
C o m u m numero inferior de domicílios e su-
perior em habitantes, comparativamente á Cidade
Alta, imagina-se logo a promiscuidade que por alli
vae. e quanto de falta de hygiene existe naquellas1
habitações. A maioria das suas casas não tem fos-
sas, servindo de deposito aos dejectos pequenas
cavas que os moradores abrem no sólo, q u a s i á
beira dos telhados.
Cercado pelas habitações está o Cemitério de
Natal, tão velho quanto a cidade e naturalmente
35
cançadoe impróprio ao trabalho a que se destina
porque entendem os hygienistas que uma sepultura
desempenha as suas funcções até a quarta inhuma-
ção e a nossa necropole tem, talvez, em cada dois
metros, trezentos enterramentos.
y/Soa naturalmente/infenso aos cemiterios ; mas,
á falta de um crematdrio, onde tudo se purifica è
mais depressa se volta ao Nada, não se deve per-
mittir que os mortos nos façam mal, ainda que
sempre e cada vez mais sejamos governados por
elles, como dizem os Augustocontenses./
Conviria á Municipalidade cerrar as portas da
nossa querida necropole ás inhumações, confiando-
a ao zelo e á religiosidade dos que alli teem o cora-
ção preso ás suas sepulturas e construir outro ce-
rni teno, em terreno mais proprio, longe quanto
possível da nossa uris, attendendo aos meios de
fácil communicaçSo./
A frequencia das necropoles dentro das ci-
dades se explica pelo desenvolvimento da po-
pulação, cujas necessidades levam as constru-
cções além dos terrenos occupados peios mortos ;
em compensação, ha vários cemiterios, distribuin-
do-se de modo regular os enterramentos e evi-
tando assim os inconvenientes de que o nosso está
cheio.
/ O bairro do Alecrim é de todos o maior, e a-
fóra algumas chacaras de pessoas abastadas, a
mór parte das habitações pertence ao operariado.
São rústicas, baixas, de taipa, as casas do Alecrim
e teem os mesmos inconvenientes das suas seme-
lhantes nas Rocas.
As suas indesejáveis condições sanitarias pro-,
longam de ordinário por muito tempo os surtos*
epidêmicos de moléstias eruptivas.
E não fossem algumas collecções liquidas que
se encontram nas suas immediações, como as do
36

Barro Vermelho e as de cinco lagoas visinhas. o


trabalho de saneamento seria egual ao da Cidade
Alta.
Mas além da terraplenagem dàs lagoas, a pro-
phylaxia rnral tem muito a fazer, impondo um svs-
tema de fossas ac alcance dos haveres de cada
proprietário pobre, ao mesmo tempo se entregan-
do ao combate á verminose, que no Alecrim ha em
maiores proporções, notadamente a ancylostomose.
Comqnanto me pareça de resultados incertos a
prophylaxià da ancylostomose sò pelo tratamento,
dada a falta de garantias ás reinfecções, ás hostes
dos que luctam, sem tréguas, contra a moléstia ha-
milhante, se encorporam novos elementos de valor
e, principalmente no Sul do Paiz, os médicos numa
abnegação digna de todo acatamento trabalham
pela saúde collectiva e prosperidade do Brasil.//
O s meus louvores a essa infatigavel geração
de cliatcos, cujo sacerdacio de mitigar o soffrimen-
to humano com as partículas da sua sabedoria e o
sacrifício de ministrar o Bem a quantos precisam
dos seus officios, equivale a todas as grandezas da
Terra.
Mas não se ufanem com os ,primeiros louros,
e nem a todo proposito vejam o phantasma do do-
chimius vehiculando a toxina fatal na physiologia
humana.
Do exagero se chega a obcecação : em tudo o
verme.
O exame coprologico de quasi toda gente evi-
dencia a presença do monstro ; mas a sua coinci-
dência com uma nevriteperiphertca, do ophtalmíco,
ou com uma ckoroidite macular atrophica, confor-
me communicaçào a uma agremiaçüo scientifica do
Rio de Janeiro, não pode ser levada á conta. só
por isso, das desgraças da ancylostomose, porque
a negatividade da reacção de Wassermann na-
quelles casos não parece exprimir a verdade das
conclusões levadas ao conhecimento da douta cor-
poração.
Embora com alguma' differença, a relação do
exame coprologiço com /aquellas perturbações vi-
suaes em dois umcos doentes, me faz lembrar uma a-
nedoctado Dr. Bourget sobre o modernismo clinico.
. Y . Í " f d l c ° . d , z elle, que acompanha a moda
n.io inicia o tratamento de um doente rico sem
previamente mandar submetter a urina a um exame
completo, pelo chi mico mais autorisado. E quanto
mais volumosa a analyse, mais cheia de cifras, de
ncmes arrevezados e sublinhados de vermelhe
maior valor lhe dará o clinico ; e lembra o resulta-
do de um desses exames, que arrancou de certo
esculápio esta exclamação : i Quelle intoxication /
C elai le moment de venir, je n'ai/amais vu une
pareille auto- intoxication» Ao que responde o doen-
te r e S 1 g n a d o : a On ma toujours dit que fêtais très
arthritique».

j b t i lado do Alecrim está o Tyrol. o bairro mais


saudavel da cidade. Alguém já lhe chamou a
àutssa Potyguar, pela vaga semelhança das suas
colimas com as montanhas helveticas.
Não ha realmente na cidade paisagem mais
, on,ta - a r g a p a g e m que veste as de

accenh^H-i ™P-^-^fliüa^táa
har^oiyaj—que——reco.tdaçõesLa_
quantos sabem admtrar a n a t u r a
Os seus ares são os melhores de Natal - os
ventos que agitam aquellas franças veem do oceano
bravio, em longas caminhadas atravez das densas
ramarias, dando áquella zona um banho de ar pu-
ríssimo. p
j 39
38
daquellas aguas e limpar as suas margens, teria
/Aberto em largas e extensas avenidas, o T y - Z Z n Z ^ V a ° U S O a < ^ destinam não se
rol se continua, descendo, em procura de Petrópo- furtariam os seus proprietários.
lis, cuja linfaa divisória ainda mio foi limitada, ten-
do uma população global de 3231 habitantes com
647 casas. Estes dois bairros constituem pro- d e P . r e h W d e r das considerações que
priamente a Cidade Nova./ aço sobre os meios de? saneamento de Natal o in
^Nos seos limites"com o Alecrim, o T y r o l soffre teresse que me desperta a vida da collectividade e
as consequências das proximidades das lagôas do o desejo de ser util á terra que é a minha patria
Enforcado, Manoel Felippe. etc., que tanto mal fa- Nao se comprehenda. porém, que todas as
zem aos moradores dos dois bairros. medidas a p o n u d a ^ a ^ u t sejam de caracter defini-
Quando o nivel das aguas dessas lagôas exce- tivo. Mu,tas ha que dispensarão futuras despesas
de os limites de uma das paredes da bacia hydro- í C a n a m L a s m e d í d a s fl«« aconselho
graphica, ellas decantam para as propriedades vi referentes á hydrographia sanitária do Baldo, terre-
sinhas, onde se acham as vertentes que alimentam nos da Empreza. Rocas, etc., e remoção do forno
o Baldo e seguem as aguas caminho do Oirizeiro/ ao lixo, matadouro e cemiterio para logares conveni-
A'clinica hospitalar afflde um crescido numero entemente escolhidos pelas autoridades sanitarias.
de doentes pobres, residentes nas immedir.ções da - : . . a s medidas de maior alcance sanitario e
quelles charcos, portadores de paludismo agudo removíve.s só pela rede de esgotos da capital pe-
uns, outros velhos impaludados. conduzindo dis- dem a intervenção dos governos, reclamam o nosso
forme hepato-spleno megalia. empenho, appellam para o nosso patriotismo.
O systema de abastecimento d a g u a do Tyrol • exigem mesmo o nosso sacrifício, desafiam os
è feito por poços tubulares, e não fossem os seus nossos créditos de gente civilizada, cuja cultura se
reservatórios sem os cuidados indispensáveis, esta méde também pelas condições de vida de que nos
parte da Cidade Nova teria para lhe desmerecer as cercamos,
í
qualidades naturaes de salubridade o typo de fós-
sas usado em toda Natal, embora as suas habita- « M t , ^ t ™ | G W i S t i r u S i b r e ' ^ Natal, bem como o
ções sejam esparsas, muito afastadas umas das ou- oeTbuL
A r n -, ,
reoarH^r
P r t . Ç , U 1
l i b i d o , nOS archivos de
m a s e m m i o s do D r . João S o a r e s d e
tras. A r - o p , a quem deve-se o melhor recenseamento da Capital.

As mesmas considerações cabem a Petropolis.


mais habitado do que o Tyrol, ainda que sem os
dericões nSn^a Cidade d e Natal, c o n f o r m e estabeleci nestas,consí-
inconvenientes das lagôas e cujas consequências ! A qDK lhe- d e n a M - n i c i p a l i r t a d e ; e e m b o r a li-

.se poderiam evitar, sem grandes despesas, promo- coôlnW^ ^ a C O n v B . n í o n c i a d a q u e l l a d i v i s ã o t e v e por b a s e a

S f f / 0 5 f o c o s e m c a d a b a i r r o e a sua d i s t r i b u i ç ã o etn « n a s
vendo-se um movimento de terraplenagem, obstru- uístinctas para o s s e r v i ç o s d e p r o p l i y l a x i a .
indo as com a3 próprias areias da elevação do ter- í
reno. i Uma população qualquer maior de dois mil
Esta solução me parece a mais racional e habitantes não pôde viver sem as garantias de uma
acceitavel, porque outra que se limitasse a cuidar
—-40—-

rede de esgotos, e a nossa lastimosa tulerancia me-


rece bem a punição de assombrados pela carência
de hygiene era Natal.
J o que ainda nos salva c o nosso clima incem-
paravelinente bom e a bõa ,vontade do Governo do
Estado dotando a Capital de uma assistência publi-
ca soffrivelmente installadn, amparando assim os
humildes nos desdobramentos das süás misérias.
E para o nosso orgulho, pôde se dizer que o Rio
Grande dò Norte é o unic.o Estado da Federação
que mantém exclusivamente âs suas expensas todas
as casas de assistência, discriminadamente o H o s -
pital de Caridade, o Asylo de Mendicidade e Or-
phanato. o Asylo de Alienados e os Isolamentos
de Tuberculosos e Variolosos.^
" Não é opportuno realçar aqui os defeitos-da-
quelles estabelecimentos. mesrço perque todas as
faltas se perdoariam, considerando se a escassez
dos recursos orçamentários do Estado fi o gesto de
extrema bondade e philanthropia de quem os creou
é desenvolveu. 7
Mas não fica sem o meu protesto o abandono
a que'se entregam os pobres tuberculosos da minha
terra, atirados a uma casa sem condições de habita-
lidade, húmida, baixa, cujo piso repugna, situada á
margem direita da Gréat Western e immediações
do mangue, sendo mais a Ante-Camara da Morte
do que o amparo que os poderes do Estado dese-
jam dar á infelicidade daquefles desgraçados.
O contraste em tudo : o clima de altitude, a
seccura do ar e da habitação, a alimentação a z o -
tada e conveniente a cada caso, a hygiene indivi -
dual e dos aposentos falham absolutamente na-
quelle departamento da assistência de Natal.
A escolha do terreno, a situação do estabele-
cimento em logar húmido, ao nivel do mar, tão lon-
ge da cidade que até a assistência medica irão pôde
— 4-1

ser dinna ; sem as curas de ar e repouso, a falta de


dietetica c de direcção interna nos serviços do Iso-
lamento, reclamam providencias e caridade tam-
bém.
O s pliymatosos dei Natal, os medianamente
abastados, procuram enf geral o interior do Esta-
do. o sertão, onde naturalmente a cura de ar puro
e o clima das altitudes lhes reforçam as energias
. Podidas : e muitos se sentirão curados quando, em
começo, tentam a salvação longe das cidades.
A tradicção entrenós abriu caminho á serra

do Martins, cuja viagem é penosa e longa, á villa


de Angicos, de condições pouco favoráveis pela
propagação da moléstia aos seus habitantes, e ou-
tras cidades e climas do interior, á escolha dos pro-
prios doentes.
Um sanatorio convenientemente construído
na Serra do Doutor, da cordilheira da Borborema.
a 153 ktlometros de Natal, com uma altitude de
576 metros acima do mar. cujo clima è absoluta-
mente secco e frio, faria a felicidade de quantos
necessitassem das suas qualidades preciosas.
A facilidade de transporte pela Estrada de
Automóveis do Seridó offerece maiores vantagens
sobre os outros sertões, de accesso difficil, e ainda
porque ha na Serra do Doutor magnifica agua de
nascentes, leite em abundancia, as fruetas e verdu-
ras que se cultivarem.
Para terminar as considerações sobre o sa-
neamento de Natal, convém não esquecer que a
nossa cidade tem actualmente um sem numero de
leprosos, e sua maioria importada dc Pará, única
recompensa que esses infelizes trazem daquellas
plagas, quando acossados pelas seccas procuram a
sua subsistência na famosa Amazônia.
Desgraçadamente a prophylaxia defensiva da
lepra é e g u a l aos recursos therapeuticos de q u e
43
—42
poucos matando o svstema cerebral; __ann.,iir,n.
dispõe a sciencia para o seu tratamento, e até hoje d o a vontade, desdobrando o Eur>~- ánesthesiãn-
os Governos se penitenciam com as cenouras g e - do a alma, para mais tarde tudo se circunscre-
raes pela irresoluçào do problema, 1 cuja incogni- ver á integridade visceral é'Organicâ^Jde rim la^À
ta parece a todos -~a legislação sanitaria respe- imprimindo numa descendência anômala os stvr>-
ctiva. mas indeleveis dos errfrs commettidos: fejdê^^ra
parte creando alterações sómaticas precursoras
fim._ ••,".•?;;;... • : kírrr •> • :• ;•••
De modo que aquella longevidade -Sonhada e
Aos que me acompanharam na leitura destas, de que falei, em sendo a profissão ^e fé dos hy-
considerações não pareça melhor a situação de gienistas, é também a sublime utopia- dé cada vi -
cada um ; e si estas linhas tiverem a boa ou má vente que se não sente morrer, ainda quê nâo hou-
sorte de transpor os ljmites do meu Estado, cada vesse moléstias e fossem ostras as Condições sani-
leitor não faça idèa peior das condições sanita rias tárias de que nos cercássemos. upn s
de Natal. O homem das cavernas fugindô' dõ sòl para
z^Antes de as criticar, tome, se lhe permittirem morrer nas treyas, como escondendo a fraqueza de
as pecup.ias, um meio de transporte qualquer e vi- ter vivido o tempo de uma machina á mercê do a-
site as ruas afastadas, os arredores da cidade do caso, revive aiojjahoje na perpetuidade da especie,
seu berço e terá vergonha e nojo também das im- na eternidade do reino. *" -
mundicias que as entulham. O instincto de conservação é ainda o mesmo,
Mas não tenha odio aos paredros, aos que em o egoísmo tem a mesma fôrma ; e, no emtanto,
plataforma de Governo promettém até a resurrei- quando nos acercamos do Nirvana, do Nada, es-
ção. condemo-nos de nós mesmos, no recesso da nossa
consciência e, em contricção, ncs despedimos da
vida humilhados da fugacidade dos nossos dias.
Muito antes mesmo da era em que os servido-
Mau grado as lucubrações do hygienista, ad- res de David aqueciam a velhice e o frio do Rei
vertindo a humanidade dos males que se não Senhor cora a mocidade e belleza da mais formosa
curam, o homem tem se esforçado de todo modo virgem das terras de Israel, até os nossos dias de
para baixar a media da sua vida, numa orgia de civilização, não mudaram as illusões da humanida-
mil peccados, sem remissão e sem remedio. de, esperando do mysterioso e sobrenatural o espi-
Ainda quando incompleta a funcção d é c a d a rito materializado em pilula dourada, cuja in- •
orgão, na precocidade de hábitos equivalente a gestão faça resurgir do limo a vida que se acabára,
crimes na physiologia animal, o homem se entrega ou renovar a engrenagem da machina humana que
desde logo aos encantos do repasto, ás seducções a orgia, os festins e a concupiscência travaram em
do álcool e aos attractivos do prazer e desse co- meio do caminho.
meço ao fim vae se curvando ao peso cía~~sua pró- Muita razão tinha Séneca dizendo que : '\o
pria ruína, instillando venenos na sua vida, aos
COLEÇÃO
JOÃO NICODEMOS DE LIMA
homem não morre, mata-se" ; e, com quanto a vida.
1. ÉCRAN NATALENSE
a velhice e a morte sejam modalidades de adapta-
Anchieta Fernandes (esgotado)
ção da matéria no meio que a cerca, a natureza 2. POETAS DO RIO GRANDE DO NORTE
nos recusando a eternidade, nos dá o direito de pro- Ezequiel Wanderley (esgotado)
longarmos os nossos dias na relatividade das nos- 3. JORNALZINHO DO SEBO VERMELHO
sas funcções. por meio das quaes podèmos estabe- Coleção (esgotado)
lecer intimas reldções com o exterior. 4. A "CACIMBA DO PADRE" EM FERNANDO DE NORONHA.
Nellas. no conhecimento exacto das suas ne- Luís da C. Cascudo (esgotado)
cessidades, no equilíbrio fundamental que rege a s 5. NATAL DAQUI A CINQÜENTA ANOS
Manoel Dantas (esgotado)
sociedades cellulares é que está o segredo da vida, 6. A HISTÓRIA DE ESTREMOZ
o problema do Elixir que maiores garantias offere- Ir. A. Maria Dionice da Silva (esgotado)
ce no Reinado da Terra. 7. A IMPRENSA PERIÓDICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Por emquanto... «o homem è apenas o proprio Luís Fernandes
artista da sua morte». 8. GUIA DOS SEBOS DE NATAL & TEXTOS AFINS
Abimael Silva
9. EVOCAÇÃO DE NATAL
Djalma Maranhão (esgotado)
10. CASCUDO, MESTRE DO FOLCLORE BRASILEIRO
Djalma Maranhão
11. CAICÓ
Pe. Eymard L'E. Monteiro
12. JORNALZINHO DO SEBO VERMELHO
Coleção II
•FIM- 13. CIDADE DO NATAL
Luís da Câmara Cascudo
14. ACORDES DA ALVORADA
Salete Fernandes Tavares
15. ALMANAK DE MACAU / 19Õ9
Adalberto Amorim
16. CACHORRO MAGRO
Carlos de Souza
17. COSTUMES LOCAIS
Eloy de Souza
18. OS AMERICANOS EM NATAL
Lenine Pinto
19. MEMORIAL DO MEU VELHO ASSU
Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro
20. CARTAS DE DRUMMOND A ZILA MAMEDE
Org. Graça Aquino

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