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A SIT~A~\O FLl\~CEIRA DO llR.\SIL


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DA I~mCA(\() DO~ \1E1O~ UE 1)1 ('( llWER

AO DEFICIT DO THESOURO

DR . J . M.. F. PEREIUA DE BARROS

RIO PE JA~EIRO

TY POGRAPlllA UNIVERSAL n E LA EMMERT


01 B, Rua do~ Inval.Jd.)s, 11I l.l

1867
AO ILL•• B EX.' SR. CONSELHEIRO D'ESTADO

FRANCISCO DE SALLES TORRES HOMEM

Como testemunho de sincera estima e reconhecimento do


A SITUAÇÃO FINANCEIRA DO BRASUJ

"
A solemnidade da apresentação, perante o parla-
mento, do relatorio do ministerio da fazenda, que uma
lei do Estado, para revesti-la de toda a importallt:il
que ella inspira e merece, determinou que tivesse
lugar dentro de cinco dias depois do discurso da corõa,
toma este allno as proporções de um verdadeiro acon-
tecimento.
E, com effeito, quando ainda se vê perdurar nos
campos do Paraguay uma guerra assolàdora. que ha
dous annos nos rouba milhares de vidas preciosas,
umas disimadas em combates porfiados contra um
inimigo selvagem e traitlor, outras viclimas da incle-
meneia d~ um clima inhospito e de epidemias crl1cis
e succcssivas;- quando nossos capitaes, ainda tão
escassos, se fundem em centenas de milh3rés de contos
Dl Confederação Argentina. no Estado Oriental e no
Parag-uay, sem que ao menos se possa prever o termo
de Uo grandes sacrificios, ne!1l as compensações que
teremos; - quando se sentem ainda os terriveis effeitos
da crise de 10 de Setembro de t 8(H, que paralysou
o commercio. abalou profundamente a lavoura e des-
truio a confiança publica; - quando nos bate á porta,
soffrega de uma solução, a magna questão da eman-
cipação do trabalho servil; - o espirito não póde deixar
de volver-se para o estudo dos assumptos economicos
-

-6-

e financeiros, de procurar os meios de reparar os


prejuízos roflridos, de fomentar a prosperidade poL:ica
e encetar a restauração das finanças;- e nenhuma
oecasião é de certo tão propicia para esse exame como
aqueUa em que o orgão offieiai mais competente vem
expõr-nos o estado dos negocios publicos, a silu3.Ç..10
do tbesouro nacional.
Nunca lambem a missão do ministro da fazenda no
Brasil foi mais difficil e melindrosa; nunca talwz pre·
cisou tanto de orna camara inspirada no mais acrisolado
patriotismo para secundar os seus esforços e as suas
vistas.
Cumpre, pois, agora que os tempos correm difficeis,
e o desanimo e a descrença se propagão. que cada
um, na medida de suas forças, reclame a soliCItude
dos poderes do Estado para o estudo pratico e reflectido
da situa~-ão financeira do paiz.
É do choque das idéas que nascem a luz e a ver-
dade.
É do meio das crises que surgem não poucas veZeS
as grandes medidas que rehabililão os paizes: é nestes
momentos supremos que as nações, fazendo um nobrt'
esforço, se glorificão pelo cÍ\'ismo.
Durante a guerra, diz wn escriptor, quando elIa n;io
suggere expedientes desastrosos, aguilhoa-se o bom
seDSO dos povos e o genio dos in<üviduos, lançando-os
nas vias dos descobrimentos. Foi ao estrondo da guerra
da America que um professor de moral, esmerando-se
em demonstrar as leis, segundo as quaes os Estados
decahem ou prosperão,-Adam Smith·-, escreveu a
obra immortal da l'iqueza das nações. O credito pu-
blico se desenvolveu na Grã-Bretanha quando foi preciso,
para luLar com a revolução franceza. sublevar a Eu·
-i-

ropa á força de subsidios e cobrir de navios todos os


mares.
A situação do Brasil, que já era complicada antes
da guerra, tornou-se gravíssima durante ella, e con-
servar-se-ha difficil por muito tempo ainda: Dão ha
hoje quem o desconheça; mas, não obstante, elIa of-
Cerece ensejos para importantes commettimeDtos.
Considerada pelo lado politico, bem poucas, sem
duvida, no periodo de trinta anDOS, fOrAO tão graves;
debaixo do ponto de vista financeiro, nenhuma época
lhe pôde igualar.
O 7 de Abril de 1831, o 30 de Julho de t832, são,
sem duvida, datas mernoraveis de nossa historia po-
litica; mas havião ahi apenas os primeiros arreba-
tamentos de uma nação joven, desvairada pela paixão
politica, porém ainda enthusiasta, animada de fé viva,
e tomando inspirações de 11m puro patriotismo.
Os aonos de 18i9 e 1839 representão tambem gran-
des apuros do tbesouro e crises para a oação brasi-
leira.
Complicações mais ou menos graves e duradouras
houverão em outros anoos, que toldárão o borizonte
politico, .puzerão em sobresallo a ordem publica, em-
baraçárão as relações exteriores, ou fizerão pressão sobre
os cofres do Estado.
Mas nesses tempos de provação e inexperiencia havia
ainda um paiz cheio de vida, mais confiança nos seas
recursos, mais esperança e fé DO seu futuro, um com-
mercio solido, e os etreitos politicos ou financeiros que
se apresentavão tiohão proporções modestas e limita-
dissimas, comparados com os dos ultimos aconteci-
mentos de nossos dias.
Hoje •. o paiz, depois de ter sido viclima de epidemias
-~-

assoladoras, que disimárão aos milhares os escravos,


os homens livres nacionaes e grande numero de es-
trangeiros, e quando ainda sentia a violencia da crisl\
de tO de Setembro de t864., foi sorprendido, no seio
de uma paz profunda e descuidosa, por uma guerra
colossal, cujos males e prejuizos são immensos, e que,
tendo esgotado os seus recursos e sacrillcado mais ue
quarenta mil braços vigorosos e uleis, retarda o seu
progresso industrial, depois de ter arruinado as suas
finanças, derramamlo ao mesmo tempo, por toJos os
angulos do Imperio, a dôr, o luto e a desollyãó.
E, como se isto ainda não fosse u.1stantc, \ê-se no
interior do paiz, em todas as classes fia sociCtlaui', a
descrença e o scepticismo IaHando por toda a parte,
gastando-se as forças vivas da nação.
Nas relações exteriores não contamos com a l,'aldade
e o reconhecimento da Confederação Argentina é do
Estado Oriental, que entretanto enchemos de beneficios,
concorrendo com os nossos capit..1.es para acudir as
suas Ilnanças arruinadas, e com o heroismo de nm,sos
soldados e marinheiros para garantir as suas fronteiras
e a sua integridade.
Nas outras partes da Amcrica do Sul os nossos ne-
gocios não têm um melhor aspecto: não contamos com
as sympathias do Chile; temos questões pendentes, e
alguma,; dellas graves, com a Bolivia, com o Peru, a
Venezuela, com a Inglaterra na Guyana, com a franca
no Oyapock; e todas essas questões precisão de uma
prompta e acertada solução, por isso mesmo que d'aqui
a tres mezes temos de abrir o Amazonas a todas as
bandeiras.
Ainda mais: as convenções consulares conlinuão a
produzir os seus terriveis e1Teitos; o desprestigio e a
-9-

humilhação das autoridades lerritoriaes é constante,


sempre que têm de achar-se em contacto com as pes-
soas, ou prm'idenciar sobre os bens dos estrangeiros,
para resguardar os interesses da fazenda nacional ou
de terceiros envolvidos nos seus espolios, ou para pre-
,enir e punir os seus crimes.
Mas. por maiores que sejão as difficuldades e os
perigos de uma semelhante situação, ellas não são de
natureza tal que se deva desesperar do futuro e que
a acção perseverante dos poderes do Estado, sendo bem
dirigida, não possa até certo ponto supperar.
rrge. pois, que se trate com todo o esforço, de
restaurar as nossas finanças: ellas podem ser conside-
ravelmente melhoradas logo que a guerra termine e o
governo se arme do proposito necessario; pois de
certo não são ellas mais criticas do que as da França
de Luiz XlV, nem das da Austria e Italia de nossos
dias.
É preciso igualmente assentar as grandes medidas do
futuro, que promovão o augmento da população, o
desenvol,imento da industria e do commercio, e a
regularisação sobre uma nova base de distribuição do
systema de nossas imposições geraes e provinciaes,
afim de conseguirmos dentro de poucos annos levan-
tar o paiz da prostraç.:"io em que se acba, e legarmos
aos vindouros orna patria menos infeliz, mais respei-
tada e mais prospera.
Antes, porém, de, por nossa parte. suggerirmos as
medidas que, em nosso conceito, podem concorrer
para esse lisongeiro resultado. julgamos dever fazer
algumas breves considerações preliminares.
--
I

É um facto reconhf'cido que, com excepção da In-


gaterra' cuja prosperidade não pára, e cuja adminis-
tração é digna da inveja e da admiração do mundo,
quasi todas as nações presentemente apresenlão gran-
des deficits nos seus orçamentos.
Para prova-lo, ouçamos a este respeito o testemu-
nho competente e irrefragavel de um estadista inglez,
cujo vulto e reputação crescem de anno em anno, e
que sua nação começa a respeitar ao lado de Robert
Peel e de seus grandes financeiros.
Eis aqui o que a palavra autorisada do Sr. frladstone,
em um discurso ha pouco tempo proferido na camara
dos communs, expõz sobre a situação financeira dos
principaes Estados da Europa:
• Tenho aqui, disse elle, a relação das dividas na-
cionaes de nove paizes europeus, calculadas pelos da-
dos mais fidedignos que pude obter. Vejo que, com
excepç.ão da da Hollanda, não ha uma só destas divi·
das que não fosse virtualme!lte contrahida neste ultimo
meio seculo, e a maior parte dellas o forão nos ulti-
mos vinte annos, isto é, em tempo de paz, pois se
alguma despeza bellica accresceu neste prazo, foi in-
significante.
« A Hollanda obra prudentemente reduzil!do a sua
divida, ao passo que as finanças da Prussia são um
modlCllo de boa administração, pois estP, Estado ape-
nas deve ;i; ~3.000.000, e aquelle ;i; 85.000.000.
« A divida da Russia calcula-se em ;i; ~79.000.000,
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e a da Áustria em x 316.000.000. A divida da Franç.a


não eslá capilalisada, sendo por isso difficil calcuh-Ia
exaclamemte. Compõe-se de renlz por 23 annos, e
orça approximadamente por ;f 400.000. É a maior
destas dividas; mas, graças aos immensos recursos
do paiz e á maravilhosa energia do POYO, inspira lal-
"ez menos cuidados do que a de outros governos
europeus.
" A divida da Italia anda por .f: i52.000.000 e cresce
portentosamente. A divida da Hespanha imporIa
em ;f 145.000.000, a de Portugal calcula-se em
.E 33.000.000, e a da Turquia, que me parece ser
uma instituição moderna, creada principalmente de-
pois da guerra da Criméa, orça por f 51.000.000.
« A grande massa destas dh'idas, flue se elevão
juntas a i,500 milhões, tem sido accumulada em tempo
de paz, e não imposta aos respectivos paizes n'uma
luta de vida e de morle.
• :'ião cançarei acamara eom detalhes sobre a pro·
porção cm que tem crescido estas dividas, mas, ponJ·)
de parle a Hollanda, que tem diminuído a sua dirida,
a Prussia, que não a augmenta habitualmente, c aiwla
a He~panha, que conserva a sua pouco mais ou me·
nos em equilibrio, temos seis d'entre estes nove pai-
zes que em tempo de paz conseguirão elevar a sua
di{ida na razão de 61 milhões esterliuos por anou.
E "ai isto crescendo; pois, como todos os màos lia-
bilos, tem o Lle conlrdhir di\'idas uma tendencia para
alargar-se.
Cumpre, pois, que a Eur0pa conheç.a este au~melltü,
e o encare á sua ,'erdadeira luz. Cunsomem-se em
tempo de pa'l, os recursos d::: guerra, exactamente
como se n'um anno de boa colheita o paiz a COOSll-
---- ._-~~-~-

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misse toda. e ainda mais metade de outra, de modo


que, se se conservar a paz na Europa por todo o
resto do sooolo, as dividas destes nove Estados, se-
guindo o augmento na mesma proporção, chegaráõ a
perto de f '.000.000.000.
« São na verdade circumstancias estupendas. Não
são unicamente compromissos de dinheiro, isso ainda
é o menos. Não é sómente o grande mal rle se des-
viarem 70 milhões de applicações uteis para o que
ainda é peior do que despezas improductivas, são os
enormes embaraços politicos e sociaes que se vão
accumulando com esta imprevidencia. »
E. no entretanto. quando o iIlustre estadista proferia
estas eloqoentes considerações repassadas de bom
senso, ainda não tinha presente a situação da Europa
destes ultimQs mezes, armada até os dentes, prompta
a arremessar-se em uma luta tremenda, que ha de
ainda mais arruinar as finanças de quasi todas as
nações desse continente, sem que talvez a possa em-
baraçar ou evitar, os canticos festivos da exposição
universal, em que se ostenlão as maravilhas da indus-
tria moderna clamando pela paz e confraternidade dos
povos.
Emquanto, pois, outras nações amestradas nas pra-
ticas governamentaes se estorcem no meio de situa-
ções financeiras gravissimas e desesperadas, sem em-
bargo de seus grandes recorsos-, Dão deve ser, até
certo ponto. estranho e surprehendedor que o Brasil
pague lambem. por sua vez. o seu tributo ao desen-
volvimento industrial que adquirio, aos abusos do
credito, e á guerra que ha dous annos sustenta con-
tra o Paraguay, depois de terminada a que teve com
o Estado Oriental.
-a-
o que cumpre agora é concentrar toda a attenção
para este ponto; o que é absolutamente indispensavel
é estudar e applicar os meios de melhorar uma tal
situação: é neste intuito que vamos fazer algumas
observações, tomando por base o relatorio do minis-
terio da fazenda, que acaba de ser apresentado, e o
parecer da f" com missão de orçlmento Ja camara
dos deputados de t. t. de Julbo do anno passado.
Confeccionando, porém, este trabalho. de~emos
declarar que não levamos em vista fim algum poli-
tico. Como ter-se-ha occasião de ver, ficará. elIe dr-
cumscripto ás questões financeiras. discutidas á. luz
dos principios economicos e dos factos que lhes l.'ão
peculiares. Não queremos crear embaraços á alta admi-
nistração financeira do Estado; propomo-nos tão só-
mente a concorrer com o nosso fraco contilJgeole
pau o exame de um assumpto que merece todos os
cuidados e desvelos dos poderes do Estado.

jI
II

IMPOSTOS INDIREC'fOS.

Quando se trata de occorrer a um deficit por meio


de um sopplemento de receita, a primeira questão
que cumpre suscitar é, a de inquirir a natureza dos
mpost os que devem ser preferidos.
E não basta isso; é preciso saber a importancia da
quota que se exige <la nação, e se ella tem meios e
eslá em circumslancias de a prestar.
( A estatistica, dizia um escriptor, se tem occupado
de determinar a somma de impostos que paga cada
individuo nos diversos paizes da Europa. Elia nos
ensina que as contribuições de que se fórma a renda
publica representão neste momento (1852), 4.5 francos
por cabeça, na Inglaterra j ~3 frs. e 75 ceni. , na
Toscana; U frs. 75 cent., na Hollanda; 39 frs. em
França j 26 frs. 25 cent., na Belgica; 22 ers. 85 cent.,
na Hespanba j ~2 ers. :;o cent., na Dinamarca; f 9 frs.
70 cent., na Sardenha j 15 frs. 45 cent., na Baviera;
13 frs. 35 cent., na Prussia; 10 frs. 50 cent., na
Áustria; e 6 frs. 40 cent. na Russia. Dever-se·ha
d'abi concluir que os povos que têm menos impostos
são os melhor governados e os mais felizes; que o
governo inglez, por exemplo, deve ser collocado na
parte inferior da escala, e que o governo russo me-
rece 0- primeiro lugar'
«O onus do imposto é relativo. A mesma contri-
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buição que parecerá branda em um povo rico, pllde


esmagar um povo comparativamente indigente. Os Bel-
gas não têm mais imposições que os Hespanhóes. Quem
ousaria entretanto collocar a riqueza actual da Uespanhl
em parallelo com a da Belgiea 1 O povo russo, em 11m
paiz onde a população está espalhada. e onde a in-
dustria é ainda nascente, supportaria difficilmente um
imposto mais elendo que as taxas modicas a que é
sujeito; ao passo que o povo inglez, que paga con-
tribui\ões sete vezes mais fortes, graças aos recursos
de sua agricultura de sua industria, de seu com·
I

mereio e de seu credito, em presença de uma ne'


cessidade critica poderia duplicar o budget. li
Não se diga, pois, que o Brasil, por ter ponc"1~
taxas em relação a algumas naç,ões, acha· se em cir·
cumstancias de supportar uma grande derrama de imo
postos.
Se a nação é rica. se a sua industria prospéra. o
imposto. qual outro Protheo, póde variar, e adaptar-
se ás mil transformações da riqueza publica: se não
é esse, porém. o seu estado, convem recorrer ao
imposto com muita parcimonia e criterio , afim de oio
estancar as fontes de producção.
Quando ha poucos annos tratou-se de estabelecer
em França o imposto sobre a renda, um ministro
iIlustre de Napoleão lU, o Sr. Magne, apresentou as
seguintes sensatas ponderacões:
« O systema de nossas imposições, dizia elle, não é
sem duvida perfeito. mas \em vantagens mui consi-
deraveis.
« As principaes são tres :
li. A primeira é serem os impostos actuaes já conhe-
-lí-

cidos, já antigos, resultado de longos annos de ex-


periencia e successivos melhoramentos, indicados pelo
tempo, pelo progresso das idéas e pelas reclamações
dos contribuintes, (I publico ji{ se acostumou com
elles e os paga sem irritação e sem murmurar.
« A segunda Yanta~wm do nosso systcma de impostos
é d,· ser mulliplo t; compõr-se dl~ dilTuren,e,; ramos,
que não são sujeitos ás mesmas fluctllaçües, Quando
nos tempos ordinarios ba diminuição em um desses
ramos, obtem-se nos outros urna compensaçlo.
« EmUm, a terceira vantagem de nossas imposiÇÕes,

vantagem moral inapreciavel, é que não põe o lhe-


souro em relação immediata e em conflicto com os
contribuiutes, Sr se trata de contribuições indirectas,
o direito do lbesouro confunde-se com o proprio lneço
da mercadoria; se se trata de contribuições directas,
o thesouro toma a materia contribuinte e determina
(I imposto. segundo os signaes matel'iaes facilmente
apreciaveis.
« Procede-se sem irritar o contribuinte. )l
Estas considerações têm grande applicação ao Brasil.
Precisando nós de fazer face ao deticit do thesouro,
devemos procurar os recursos nas fontes que pareção
ser as mais productivas, ou que pelo menos o têm
sido até agora; preferindo a eleyação das quotas das
contribuições existentes á creaçfw de novos impostos,
e não obsenando systema algum exclusivo, mas acei-
tando tanto o imposto directo, como o indirecto, se-
gundo as circumstancias eeonomicas do paiz e as
precisões do thesouro publico.
Nos Estados-Unidos, como se sabe, os direito~ de
importação e a venda das terras publicas constituião
as duas grandes fontes de sua receita; para fazer face
S, f. 2
- !~-

ás necessidades da guerra tiverão de a~selltal'


o seu
systema financeiro em uma nova base; e então, cumo
não linlüo as laxas directas, que erão oprostas a
índole e aO$ habitos yankees, recorrêl'ão a ellas, bem
como á elevação das tariras para occorrer ao uclkit
do lhesouro,
~a Inglaterra, a feição de sua administração t1nanceira
durante mais de vinte annos, lem sido as reducç\Oj's n05
direitos dos generos estrangeiros importados no paiz;
e quanJo um exercicio se encerrava com ~;tltlo cOllsi-
deravel. o seu governo. em lugar de fazer diminuir
o elevado algarismo de sua divida., como tcm p.ati-
cada outras nações, continuava no systema tias I'C-
ducções dos impostos de importacão, com o ti:!: d.;
favoreceI' as classes mais necessitadas de seI! rúvo, (' lll.'
facilitar o desenvolvimento de suas fabrieas; (k :,o;'te
que só ultimamente os 8rs, (;Iadstone e DiS\'aeli á I

vista de saldus enormes c do augmento prodigi"so ti;).


riqueza e da prosperidade nacional, se resol\i:'rão a
applica-los á amortizaC;lo da divida.
)Ias, para esse procedimento. teve a Inglaterra
motivos especiaes.
Como bem observa um escripto.r, as suas taxas se
conformavão. com o principio aristocratico. do. governo;
ellas pesavão principalmente so.bre os objecto.s de \:on-
sumo., e recahião por conseguinte sobre (} povo.,
No.tou-s~ quo a propriedade territo.rial que contribuía
em uma fi" parle para o. pagameGto das taxas durante
o.S trinta annQS do reinado. de George II, por um i"
durante o.S 33 aonos do. remado. de Geo.rge III, e para.
uma 9a parte SÓIBOOLe de 1793 a 1816, não. liaba mais
participado., desde o. fim da guerra at6 o restabeleci-
mento. do mcome ~ em 184~, seaão na proporção
-w-
de uma \"igesima quarta parte para os encargos annuaes
do Estado.
O systema das taxas adoptado na Grã-Bretanha não
favorecia unicamente a aristocracia territorial. ElIe con-
cedia. as mesmas isenções á riqueza moveI, e teudia
assim a augmentar a desigualdade extravagante das
fortunas, que produzia uma grande desproporção entre
a cabeça e os membros do corpo social.
E os effeitos se tornárão tão salientes, que a pro-
pria aristocracia experimentou uma viva impressão,
e, intelligente como é, comprehendeu os perigos de
uma tal sitnação.
Robert "{leel então emprehenden restituir ás classes
lat,oriosas, por meio de uma reducção nas quotas, e
por uma alteração na base (los impostos. a parte que
lbes toca'"a no augmenlo da riqueza nacional.
Em menos de .\ annos os direitos de alfandegas.
qne grava\ão a importação das materieis primas, forão
supprimidos; moderou-se ou abolio-se as taxas que
pesá\ão no interior sobre diversos objectos de consumo;
os direitos sobre o assucar e o café for:"io largamente
reduzidos; a importação do gado e geralmente os
generos alimenticios, foi franqueada. AbandonolJ-se
depois de uma luta memoravel, e sob a pressão da
fome, até o pensamento de taX:i1" em proveito da
I

propriedade, a introducção dos rerea.es: a aristocracia


se vin obrigada a renunciar ao tributo annual, que
dur:'1fIte trinta aODOS clle tirava do trabalho e do pão
do povo.
lias a situação do Brasil não foi nunca, nem é. se-
melhan'e a essa: muito pelo contrario; nós não tí-
nbamos, nem lemos. classes priviligiadas.
Dasde a promulgação do nosso Pacto fundamental
'i .,: ;!;r,'.;uem li·: JU l::-"ato) fie ,~ontribuir par:i ,5 d~$ptza5
do bta.)rl, t':!! pr, ':'''[,::!o de seu;;; ha\eres;
t que t ... d'15
(;:, I,ri\'il,',.;io,;, furão aldi,jo5.
A ~,,::~lil1Ji(:ã(. d,· llfJ~Sa proprieda.it? lt:rntorial.
di',;z ... r m~slIlo dó tr:1!Jal:lo senil. não se acha por
fira , nem I) 5é::i ialyez nuaca con:,lituida de modo"
apre~l!n:Jr as desigualdaues t'~ oS inci<D"enientes que 5.;
n()I~t\'a na I[lghlí:rra; nem a industria I1kllUfúctur,'ira
ou a lIossa populaç~o. por emquanlo tão escassa.
pt'Hje pftl(juz!r o prolelarismo, e a mhería das da"-Ses
illferiores da s.. ciedacle.
Demai:,. IIÓS nunca livt:~llo5 direitos de importaçJ.f'I
yexalnrit)s, nem !.!ralldemenle protectores.
No t· periodo ,Ie 1I05::;a ol'ganisaçãJ politica íicámvs
desde 10;;0 manietados. A Carta Régia de '28 de Janetro
de 1808 fixou os rlireitos em ~H ryf e essa mesma
1.

taxa. apezar de modica, te\'e. dentro dt' tlous alllJÚ~.


uma excepção para a Inglaterra. pelo Tratado dê 19
de Fevereiro de 'IStO.
Veio depois a Independencia, e com ella novO:' tr;,·
tados de commercio. que wnservá.rão os direitos ,lt'
U; %; e como er:io em gr,lOrle numero essc~ tratados
e abrangião quasi todas as nações que comnosco com·
mereiavão. a regra já. era dos direitos de t:i 0; :
restava apenas que a legislação a consagrasse para es·
tabelecer a uniformidade e acabar com o odioso da
concessão; assim o fez a Lei de ~'. de Setembro de
{SiS.
E os direitos se consel'Várão de {ri % até a expi-
ração dos tratados, durante 16 annos. sem que pu-
dessemos proteger a nossa industria, e nem acudir de
uma maneira efficaz ao melhoramento de nossas fi·
nanças, e isso justamente quando se tratava de orga·
- 21-

nisar O paiz, de sulTocar as lutas intestinas e de pro-


mover o engrandecimento da joven nação. Só em t8U,
pudemos ter alguma liberdade de acção, e dobrar os
direitos de importação. Treze annos depois. em 1857,
uma nova tarifa foi promulgada; e, embora imper-
feita, não Coi rigorosa, e anles consagrou muitas
isençf)es.
Er,! sem duvida uma necessidade para administração
da fazenda " "\1a substituição: e, com etreito, a de
~ H60, que ~e acha em vigor. vpio ~atisfazer o mais
que se desejava Mas essa tarifa lambem não pude
de modo .dgulIl ser acoimada (le lIa\'er estabelecido
direitos protectores, ou \'exatorios.
E entretanto. quando os no~sos direitos erão ape-
nas t1f) t 5/., ús da tarifa inglez:\ erã" elevadis-
sinj(J~ e aI lamente protectores; só de ~ 8'~t em diante,
pt)r uma necessidade imperiosa, e pela prl~ssii:o da opi-
nião, começou essa 'nação :\ re:luzir gradllalmentfl al-
gUlflas de suas ta.'<.as, e a supprimir outras.
,\,dmitlin(lo, porém, que esse systema d:\ Inglaterra
seja digno de imitar-se e a(llIelle qUt~ melhorronsulta os
interesses d~js classes neces'iifa'las tIo l'.1i7:-, será pos-
sivel, no presente estado de cousas, allopta-Io no
Brasil '!
Será conveniente em uma época de ~randes apuros
financ,eiros promover a redl1f.ÇéLo tios imposlM indi·
rectos, que aliás constiluem a fonte mais ahundante
da receita do Estado ~
A negativa a mais peremptoria nos s.dta dos bicos
da penna.
(I.; impostos imlirectos, como é sabido, produzem
mel1l1" descontentamentos, o seu efTeito mOI'iil I~ me-
lhor do quI' o do!\ impostos directos; estes tem um
- 2"~-

al;.(arismo deteralina';o e om prazo falai de p;o.gament,) :


ao passl) qUI! os imp:)~tl)s indireet03 ou d,~ consu-no,
se sã,) moderados, como acontece aos da fiOi'Sd t.lrifa,
não se s':)ntmn; dles entrão '1l3.'\"ementc no preço do
obje<:to que se procura e ~e compra.
A cle'i..lção das tanj trará sem dllvida um l%::m-
cin:enlo desses artigos, mas estando o povo lIal.ituado
a v~r grandes oscillações no~ preços sem que klhão
por causa immetlial:l a alt.~r. . çi') das ta:'iLl:', fa,:il-
mente se conformél. e paga o objecto segllndo a ne-
cessidade que delle tem, e isso nu dia c hon 'ltJ~
lhe convem e na proporção do uso que preten,ie la-
zer: o que não aWlltece com o imposto direct') ~:n
que só se consultl o interesse d,) Lhesouro.
Estes prmcipios, que são conilecidos, cre~..:~m de
exacthlão e importancia quando se os applica á ;du:lli-
dado financeira dt' no:;so paiz.
~ús não lemos industrias de~emol\'idas, pU55uimüs
poucos capitaes, o commercio acaboú de passar por
um grande abolo: nesta!' c.irccmstancias, não comelll
ue modo algl1m onerar as fontes de prúduc.:.ã::.;: lO
contrario, ueve-se anima-Ias e fav(lrece-Ias, se rôr pu~·
sivel. O paiz sotrre uma guerra que tem pesado sobre
os nadonaes excl u5ivarnenLe j tem supportado grandes
perdas de vida, de capitaes, e nãu é justo que stj
ajulite a affiicção ao affiicto: é \)reciso pois procurar
o imposto cujo etreito mor JI seja melhor, aqllelle
que encontre menos reluctancia dos contribuintes, e
que va abranger todas as classes d.l socil'dadú, e
tanto os nacionaes. como os estrangeiros. Ora nenhu:u
de Ctrto é mais proprio para esse fim do que o iUl-
posto indirecto.
Em situlções difficeis e penosas, como a que alra-
- '!:j -

vessamos, MO se de\'e promover a applicação de certas


duutrinls, que. embora uleis, não são proprias para
loJas as occasiões : as tarifas. em taes siluações, devem
ser essenciahnenle fiscaes; ellas devem unicamente
consultar a necessidade do augmento fia renda publica,
dentro de um limite razoavel.
É por isso que não podemos COllGUrJar l:OIll o pa-
recer da ,I· com .nissão de orl;amento da camara dos
deputados do anno passado. quando pl'OpÕ3 no art. fo
§ ;) que sejão reduzidas a5 taxas acluacs sobre as
materias primas. generos alimenticios, objectos ne-
cessa rios ao fabrico. consll'ucção e armamentlJ dos na-
"ios. tecidos de lã, linho c algodão ordillil.rios, Jouça
onlinaria, instrumeillos e ferramentas para artistas e
operarios, calçado t:Offimum e roupa feita, excepto
de luxo,
Quanto, porém, aos §§ f, 2, a e ~ do megmo ar-
tigo. se fórem IIcm applicados na noya tarifa que se
or ,;an isar, serão de certo digno~ de figurar em um
no\"o regimen alfandegai; porquanto reduziráõ (I vo-
lume de nossa tarifa, simplificaráõ os despachos, e
farão lima proveitosa imitação do peso dos volumes
como base para o pagamento dos direitos, que tem
sido generalisado em grande numero de tarifas mo-
dernas.
Divergimos da doutrina do § 5 do citado artigo;
to, porque. atlenlas as circumslancia, do thesouro.
não convem de modo algum cercear as diversas verbas
de receita em vigor; i<>, porque a experiencia dos'
ullimQs annos tem demonstrado que, ao menos a res-
peito (}e certos artigos, as reducções de direitos entre
nós não favorecem aos consumidores, segundo se tem
tidu em figta, e cerno prcscre\'e a sciencia economica,
-24-

mas t:to ~ómente ao:, negociantes que fazem ü LOfl}-


mereio desses generos assim favorecidos, os qoU's
vem a !(anhar aquillo que o lhesouro perde: :P. por'luf:,
a múr parte desses ohjectos, a que se refere a com-
mis,.ão, tem jil tido reducções dos direitos que em
outras épocas pagavão.
~'a5 como convem lixar hem as ideas Df'ste ponto.
entrarelllos em uma analyse mais circumslanciatla
dessp ~ ;j.
hfafprias primas. -Tudo (jnanto tender a dec:envol"ér
a in(lustria rnanufaclureira no paiz, é di :!no sem (111-
vÍfla da 50licitudn dos poderes do Estado; n?io sa-
bemos, porflm, se a época qne atl'aves:;;amos é amai:,
pr(\pida para fazer convergir as medidas da adminis-
tração p3ra essa ordem de interesses intlustriaes: ra-
rece-nos que não.
(I espirito publico não está para ahi encaminhado,
nem será facil desvia-lo rle xofre das tendencias qllt'
Jeva; (os capitaes não abulld50, e os que e'\i~lelll.
medrosos e tímidoil como andão, se não emlJarrão cm
em prezas de um exilo duvidoso, ou de lardio rl'slIl-
lado.
Hlije quer-se ludo barato-, e por pouco que se não
maneja recrlltar na Inglaterra ou nos EstalJM-ellirlos
quem venha compõr o parlamento e os altos cargos
da gO\'ernação do Estado, por menos preço do que
clles nos custão actualmente.
A tarifa actual apresenla sem duvida algumas poucas
desigualdades a respeito das mate rias primas, como
tem .ia sido notado; mas lambem é certo que nem
sempre é possivel estabelecer uma perfeita uniformi-
dade em taes assumplos: além disso, parece-nos que
as mediJas deste genero, como as que propõe a com-
illis~ão neste paragrapho, quando não fazem parle de
um systema definitivamente assentado e perseverante-
mente mantido, não produzem senão prejuizos ás rendas
publicas; pouco apro\"eil'io aos rrütegitlos e ao paiz,
e só favorecem a um pequeno gl'l1po de estrangeiros
importadores.
Releva ainda notai' qu·) nós jú, temos grandes com-
pCinhia5 que gozão de muitas isenções de direitos para
os diversos artigos de seu conSLlIllO; as de estrada
de feiTO, as de l'otlagem, as de na . . e~ação, as de es-
goto: e essa.s concessões no periodo largo de tempo
para o llual forão feitas illlporlão em sommas con-
siderareis que t1eixão de entrar para os cofres pu-
blicos.
Além desses objectos <[ue em clausulas expressas
dos contractos dellas tem iseuções de direitos, outro.,
artigos existem que alimentão em geral as industrias
naciollaes ou estrangeiras estabelecidas no paiz, os
quaes tem grande elln:,umo, e s;'io fornecidas pd:l La-
rifa = a~sim, o carvão ,le pedra é livre. embora se
esteja autoriSlndo a sua exploração em algumas pro-
,'meias do lmperio; o ferro em b.ura, em chapa e
em lingoados paga apena.; tO 0/•• sem embargo <lo
auxilio e impulso que devíamos dar á importantissima
fabrica. que temos em Ypanema, na província de S. Paulo.
A tarifa em vigor, que se não quiz declarar protectora
e que o não é, até porque o seu autor havia estigma-
lisado com grande energia e parcialidade a de tB44-,
não deixou entretanto de altender ás materias primas
do trabalho; e, se não franqueou a suaintroducção
em absoluto, favoreceu-as todavia com uma certa mo-
dicidade de direitos,
- ~()-

Se entretanto alguma cousa se quer hoje fazer :l.


bem da industria llialluf.lctureira, nós, que SOIIlOS um
pouco da escola antiga, que a\~onselha a prolec.;;!r) ao
nacional de preferencia ao pstrangeiro, não duvidamos
concordar com a commissão, emhora a medida n05
pareça parcial, e pouco ellicaz 111vez, por nilo fazer
parle de um sy~tema.
Se se pretende com a redu('ç=to de rlireitos chs ma-
terias primas fa .oreeer a intlustria naciunal, 'lU al'\';5
animar as que se achão estabelecidas no raiz. em!1()f':!
em grande parte pertencentes a estr.1ngl!iros. iul:!amos
acertado lembrar um projecto, qile nes~a o,'(lem d~
idéas foi apresentado na cam ara dos clepnlados !I,) anno
de i850. .: dle concebido nestes termos:
« A assembléa geral legislati\'a d.)crela:

« Art.I.· O governo é autoris:Jdo para dar p\'ute,:~ão


á industrid mannfaelureira por meio da larifa, e 0:011-
sislirá em diminuir-se os direitos sobre os ohjectos de
origem estrangeira que ,er\'irem de maleria prima para
as fabricas nacion~es, e em cle,-a-Ios sobre os [11'0-
duetos estrangeiro:, similares aos que ellas fabricarem:
c para fazer' na dita tarifa as modificações e alterJ.ç.-·~:;
que a experiencia fór mostrando que ~ão par:! c<;se filn
convenientes c neeessarias.
II. Ficará sem vigor a disposição do § lOdo Alvara de

28 de Abril de t809, logo que seja modificada nt'sle


sentido a tarifa existente.
« Art. 2.· As maler:as primas pagaráõ um direito qll~
não será menor de 2 °1., e nem e:llcederá a 15 .,,,
conforme a neeessidade que dellas tiverem 3S fabricas,
e a maior ou menor facilidade de serem pl'oduzidaE no
paiz.
-Zl-

« Art. 3.0.\. protecção dada por esta fórma á industria


durará por um tempo limitado, e cessará logo que se
reconheça que tem ella chegado a um ponto de per-
feição que a possa. dispensar, por não poder ser preju-
dicada pela concurrencia estrangeira.
« Arl. 4. Não serão concedidás com reducção de di-
0

reitos, na fórma do art. ~o, as materias primas que


tiverem similares ou puderem ser produzidas com fa-
cilidade no paiz.
« Art. ;).0 O governo é alltorisado pelo ministerio da
fazenda. e sendo ouvido o conselho de c-tado, que fica
sendo competente para consultar a rRspeito dc tudo
qnanto fór relativo ás fabricas nacionaes, para:
« f.· Designar os ramos de industria que devão ser
protegidos,
« 2. Julgar da utilidade da protecção pedida, e con-
0

cedê-Ia ou nega-Ia, quando nlo reconhecer essa uti-


lidade.
« 3. 0 Designar o que são materias primas pal'a as
fabricas,
« Art. 6,· Ernquanto não fórem feitas as modificações
na tarifa e revogado o § ia do Alvará de 't8 de Abril
de :1.809, marcará o mesmo govorno as quantidades
de materias primas que devão ser concedidas livres de
direitos para cada fabrica,
« Art. 7,· Não tem direito a ser protegida induslria
alguma que de novo se pretenda estabelecer no paiz,
sem que o introductor, antes de estabelecê-Ia, requeira
ao governo os favores que a legislação conceder ás
fauricas nacionaes, declarando a natureza da industria
que quizer estabelecer, as bases em que se fun,da para
-2f,-

esperar que a mesma prospere, e o favor de que


carece, afim de que, depois de proceder. se aos precisos
exames e indagações ácerca da qualiuadc da industria.
e da probabilidade de poder aclimatar-se no raIZ c
prosperar. 5l~ couceda a protecção dcyida.
« Ar!. 8. As Cabricas nacionaes, para poderelll gozar
0

dos favores e protec(ão que as leis concedereUl, ~u­


mente deveráõ emprt'gar braços liues. marcando o
governo um prazo rawavel, tindo o qual nio hajiill
mais escravos empregados no seu sClviç,o, sob llt-'flJ de
ser cass3da a prulecção.
« Arl. 9.° O governo dará os rcgulamentr's /lece~~a­
rios para a execllt,~l() desta lei, nos quaes designará
o 1I10do por lJue deyc proceder o conselho tlt~ estado
para o desempenho das attribuições que por eUa lhe
lic:.io pertencelldo. Joaquim Francisco Vianna, Marquês de Baependy
« ArL. W. Ficão derogadas as disposições em COIl-
traria.
( Paço da. camara dos deputados.-J. F. Vial/na. l)
Se prevalecer o principio de reducçjo de direitos
para as matorias primas, convirá que o governo, comI)
já se praticou em certa época, faça organisar, p~ln
ministerio da fazenda, ou pelo da agricllltura. um
quadro das fabricas exislentes no Irnperio, a natureza
de sua industria, seus capitaes. a importancia do seu
consumo de materias primas nacionaes ou imporl~das
do estrangeiro, suas neeessirlades e circumslanl'ias.
Só a~sim se poderá conhecer no futuro o alea!lce ,ja
concessão que se vai fazer.
GCllcros alimentirio.\.-É este UIll a~Sllmptu para e\-
citar as l!lais vi\as sylllpathia~.
Facilitar ao PO\'O uma alimentação ablll:danle e La-
- 29-

rata, é (le certo um dos primeiros dr,veres dos gover-


nos. um dos fins mais nobres e humanitarios da economia
soda!.
De muito bom grado, pois, associaríamos os nossos
votos aos que fa7. a commissão, para que venhão elles
a gozar de uma reducção de direilos.
Mas. por mais estranho que pareça dizê-lo, enten-
demos, á vista da<; circumslancias especialissimas em
que no~ achamos, que, hem longe de reduzirmos, con-
viria que elevassemos 05 direitos sobre uma parte dos
artigos que hoje importamos, com excepção apenas do
trigo.
Para se resolver esta questão com acerto é preciso
ver qual é a base da :llimenlação do povo no Brasil;
e, quando digo povo, é evidente que excluo as cla~sl's
ricas da sociedade, a quem de cerlo se não trata rie
favorec~r.
A base da alimentação de nosso povo é prodl:zida
DO proprio paiz, e convem que continue a sê-lo. Elia
consiste no xarque, nos eereaes, nos legumes, no pão.
O xarque nos é fornecido pelo Rio Grande, e a sua
producçio abastece todos os mercados do sul e i1I~a
parte do norte do Imperio, completando-se uma parte
do supprimento com o xarque do Rio da Prata.
O feij;:to, o milho, a farinha de mandioca, o arroz,
são igualmente de producção nacional, tanto como os
legumes.
O gado em pé não nos vem do estrangeiro, a não
ser " que dI) Estado Oriental e da Confederação Ar-
gentina passa pela fronteira da provincia do Rio Grande
do Sul; mas, pela tarifa em vigO!', já elle goza de
isenção.
-:;'1-

(jllaeS sãn , pois, os ~en(:'ros alim:nlicic's que preci~ão


de reducI;ão de direitos')
:\lguns dos principaes já t2m sido fa"orecidos.
O trigo pagava, pela tarifa de i 8;:,7 , 400 rs. (!e .li-
reitos a arroba.: passou a pagar, pell) Decretu n. t~í~
de 15 de Setembro de t ~58, t 50 rs., e pêla tarifa de
1860 os mesmos !tiO rs.-10 %'

O lJacalllilo pagara pela tarifa i;'J):)OO,-Hj "o: pelo


cilad,) ~)ecrelo (Ie 185S passou a pagJ.1' 500 rs., -J" ;
pela tarifa ue 1860 paga. 600 rs. a arroba, - too.
Pllder-~p-hia ainda talvez reduzir us dift~itos destes
dous ;irliglJs: mas não vemos que para isso haja uma
nei:essillade urgenh': as taxas [!lu são alta". :\ãó f'';-
!amos ~oh a prc:,são da fome, nel!l devemo:; receiar a
care~tia Ibi' 1' . ' initas, ;lorqul" tendo cé~sadü a i-'uerra
dos E~lalllJs-tllidos, l! multiJ.llican(b-s" as nOSS<t:: rt)-
laçõe~ commerciaes com c::;sa nação, o abastecint'utn
di' no:,sos mercados se pode fazer e:n maior e~cJ.la
e lDais facilidade, Da mesma sorte a respeito do ba~
calh;\ü, que além disso é facilmente substituído pelo
peixe fresco ou salgado, que conslitue um ramo de
industria ue algumas ue nossas pro\ incias.
Alguns outros artigos ha qlli; lambem l1J.o sãp pro-
dUl.iuo~ no p,iz, que tem já um consumo impol'tanle
e não gozão de grande,; franquezas pela tarifa cm vigor:
mas esses não se devem reputar indispensa\-eb, são
suhstituidos por productos similares do paiz; e, quando
o não fussem, não são de primeira necessidade e são
consumidos pelas classes mais favorecidas tia sociedade.
e purtanto não merecem uma mitigacão de direitos em
uma época em que tanto convem manter f) nivel da
receita acI,nal.
Assim, a banha paga 30 0/••
As carnes em geral pagão 10 "lo.
A manteiga 10 % ,
Será urgente reduzir estes direitos? Cremos que
não.
E é sem duvida preferível consen'ar os dil'eitos da
tarifa sobre esses generos, a obrigar a forles imposições
as pensões do monte-pio e meio soldo, as apolices da
divida publica, e os pequenos ordenados dos empregados
~uballemos.
É preferivel, por certo, que os homens abastados
comprem um pouco mais caro, ou antes pelo preço a
que ja se habiluárão, a banha que importamos dos
E~tados-(nidos, a manteiga da Hollanda, as sardinhas
de ~antes, as pêras de Monle\"idéo e as carnes ensa-
cadas tle Porlugal, a obrigar a viu\"a, o '-elho sel'vidor
do Estado, ou I) empregado sulJallf;rno. pel:i mingoa
de recursos, a !Iiminui!' a parca e llIndesta refei~ão de
xarqlle e de feijão, flue lhe (b o ullico alimento do
cada dia-
É preferi \'el t:onservar as verbas ele receita já exis-
tentes para pOllparmos o triste esppclaclIlo de irnpõrmos,
corno se eslivessemos em dese~pero ,le causa, sobre
o~ dous ou tres museus que temos em IOUO o Imperio,
sobre os hospicios, sobl'e as licenças para fumar nos
tbeatros e TIOS jardins publicos.
É preciso que habilitemos o paiz a prodllzir os ob-
jectos mais necess~rios para o seu consumo, pois que
huje, com grande descredito para a nossa actividade e
o nosso patriotismo, importamos tudo do estrangeiro,
inclusive as aves, os O\'OS, a banha para os usos culi-
narios, as vassouras. e até as pedras para as nossas
calçadas. que forão já. objecto de motejo de lord Pal-
merstoD na camara dos COmmlll15.
E convem não proseguir nesse' systema.
O meio de sabir delle c\)m vantagem e gloria :lOS~!.
não {. seguramente o de alimentar esse mio habiln l')!ll
o favor das tarifas: é sim elevando os direitos sOJhn'
esses artigos similares de nossa producç.io, e :Jng-
mentando as for03.S produclivas do paiz, prornorelldo
em grande ('scala a colonisaçãn e a emigra(io , facili-
tando as communicações para o littoral e para os ~r:t'ldfl~
mercados do infrrior, e introduzindo no pai? jll~lrll­
menleis aperfeiçoados de trabalho ,- as machina,:-,
para o serviço da lavoura. que dewm ~OZ11' de fran-
quezas absolntas.
Objectos nec.essarios ao fabríco. cUllstrwção e ar·
mamento dos 1lOvios. - Em um longo relatorio sobre
as nossas leis de navegação, principalmente em rd'l~
cão á cabotagem, que vem annexo ao relJlol'io do
ministerio da tazenda de 8 de Maio de J81i3, se pl'OpÚZ
lambem, como o faz agora a commissão, a reduc\.io
dos direilos da tarifa sobre estes objectus. visto ~,I'cm
elles adualmente de :10 "/0'
Mas hoje lima tal reducç:J.o não é opportuna.
Se. porém, a despeito dl nece~sidade qUt~ temos
de não cerceaI' as diversas verhas dI" receita do Estado,
se persistir em favOI'ecer esses artigos, - parece-nos
que a emenda substituli\'a ao projecto sobre a navegac.ão
de cabotagem apresentada na sessão da camara tlos
deputados IIe 16 de Junho de J865, contém, rennidas.
as medidas tjue melhor podem resoher a questão.
Diz eIla o seguinte:
« Art. :to Ficão reduzidos a 10 % os uirellos do;
importação do pinho, carvalho e teca em páos, lóro:::.
pranchôes, couçoeiras, taboado, mastros e antenas,
-!'J3 -

bem como os do cobre em chapa para forro de em-


barcações.
« § Unico. São isentos dos mesmos direitos de im-
portação as amarras, amarrelas. ancoras, ancoretes,
fateixas, cordoalha, lonas, meias-lonas, cadernaes e
outros artigos de armamento dos navios que o governo
designar. »
A Fran~,a, pela sua Lei de t9 de Maio e Decreto de
t 2 de Julho de t866 , acaba de adoptar uma medida
semelhante; mas não o fez sem cerca-Ia de todas as
eautelas, ainda as mais minuciosas, para evitar o
prejuízo do thesouro, e que suas vistas sejão frus-
tradas.
Eis aqui essas di~posições:
« Só mente poderão gozar do beneficio, pelo que res-
peita ãs materias brutas, os constructores de navios e os
.fabricantes de objectos destinados á conslrucção, ar-
mamento, apparelho ou custeio das embarcações.
« Para esse fim deveráõ estesjustifiear a sua qualidade
nas alfandegas importadoras.
« A declaração feita nas alfandegas para o despacho
livre deverá conter, a respeito de cada especie de pro-
duelos, as indicações exigidas pelos regulamentos das
alfandegas para o pagamento dos direitos.
« E os importadores deveráõ obrigar-se, mediante
cauçã.o, a jus.linear no prazo não excedente tle um anno.
o etTectivo destino ás embarcações das materias primas
imporladas livres de direitos, ou dos productos fa-
bricados com essas materias. ou emfim das máchinas
e apparelhos. das peças destacadas de machinas e ap-
parelhos. das peças destacadas de macbinas e outros
objectos completamente acabados, admittidos sob .;au-
ção temporaria de direitos.
S. F. 3
- 31-

« Findo o prazo de um arlDO, não se havelldo exhiuido


a referida justificação, a alfandega liquidará ex-officio
os direitos e procederá á sua cobrança.
« Toda a declaração rela!;vaâs macbillas e apparelhus,
a peças destacadas e a outros olJjectos com!Jlelament>l
fabricados. deverá I:onter a descripção dos dilo" ob-
jectos afim de garantir a identidade, e isto sem prejuizo
da marca (estaml'ille) , que poderá ser applicada ás rua·
chinas de vélpor ou outras, ás peças de machillas , ás
caldeiras, ás vélas e quaesquer outros objectos em que
a alfandega entender conveniente.
(/. A incorporação nas embarcações das materias pri mas,
ou a collocação a bordo dos objectos destinados à con-
strucção. apparelho ou armamento, será precedida de
\lma declaração contendo:
« t.· A natureza e o peso das materias primas. as-
sim como os productos fabricados a empregar ou em-
barcar;
« 2. A data, o numero e a reparticão da entrega de
0

cada guia;
u. 3." O navio a cuja construcção, reparação ou uso
as malerias primas, ou as ditas materias fabricadas
tiverem sido destinadas.
« A alfandega, para verificar as declarações da cm-
preza., quer das materias primas. quer dos produclO~
fabricados, procederá como julgar conveniente.
(( Não poderão ser deslinados aos navios, em compen-
sação:
(( t. o O ferro em barra de forma irregular, senão pro-
duetos fabricados com ferro de forma igualmenle irre-
'guiar;
« 2.· Chapas de feITO e cobre de um millimelro de
espessura.
-:35 -
\1 Em caso algum se poderão admiUir na liquidação da

conta tia imporlação objeclos trabalhados com materias


de grão de fabricação menos adiantado que o dos :'fO-
duetos caucionados á entrada.
« Os productos fabricados com materias primas im-
portados livres de direitos, deveráõ representar essas
mesmas materias peso por peso. e sem quehra al-
guma.
{( Toda e qualquer infracção a estas disposições dá
lugar ao pagamento dos direitos a que estiverem ou
fôrem sujeilos os referidos generos. e á imposição da
pena de multa igual ao triplo dos mesmos direitos. li
Em nossa opinião, porém, uma tal medida, no es.-
tado actual da industria, da navegação e da construcção
naTal, e á vista das urgencias do Estado, não seria
talvez opportuna, nem efficaz.
Os nossos estaleiros não medrão; não temos nave-
gação de longo curso, e a de cabotagem está deca-
dente.
Ora, as simples reducções de direitos a que se refere
a com missão • não operarião o milagre de levantar re-
pentinamente essas industrias da proslração em que se
acbão.
E, uma vez que não podem dar esse resultado im-
mediato, ficará apenas subsistindo a diminuição desde
já da renda publica como consequencia da medida: a
menos que os poderes do Estado, por um cortejo de
providencias apropriadas, de que esta faça parte, não
estt!jão resolvidos a inaugurar uma nova êra de protec-
ção á navegação nacional e á industria da construcção
naval.
Nenhuma das medidas tomadas nesles ultimos aDDOS
faz entretanto animar esperanças nesse sentido; antes
-:lü -

pelo contrario tudo eom'crge para acabar com qualquer


idéa de protecção e para fazer prt~dorninar o demento
estrangeiro, a pretexto de inocular-se no paiz uma
actividade e uma pericia que não temos, e com o fim
de obter-se mais barato o serviço dos transportes ma-
ritimos e fluviaes.
Louça ordinaria.- A louça ordinaria paga presen-
temente 30 "/0.
Não é um direito forte ou exagerado: elle. além
disso, justifica-se com a consideração de que comem
não prejudicar as industrias nacionaes: não ê, pois,
acertado, alterar a tarifa nesta parte.
Instrumentos e ferramentas para artistas. - Em-
quanto o governo imperial não assentar em uma poli-
tica que se proponha a animar e a. proteger a indus-
tria e os artistas nacionaes, não convirá. cm uma qua-
dra tão difficil como a actual, reduzir esLa verba da
receita publica.
A tarifa, posto não seja protectora, não é vexatoria,
e muitos destes objectos podem ser feitos no paiz: se
houver trabalho permanente, e salario favoravcl, as
taxas sobre os instrumentos não afugentaráõ os ope·
rarios das otlicinas.
Os direit03 que págão uma grande parle delles. cons-
tão da seguinte tabeUa :
~ ,~
I
'.:)
c: ~ ~
:iumtrOI M E RC AD O RI AS ~ ~ li Q1Uzlid/lde dor ;;
: iS trevolteriOI ~
- - ,---- - - I':;
,-----
I.
H'lO,H1ll,'tlrnaS c safras
1 Pequenas; para ourh Lq, relojoeiro o seme-:
l,haUI1'5 . . . . . . . . • . . . . Ilb.
"
~. :!Ol. :1(1./0 I::III barrlc. o ou
,
cal'l:lS1
I 0'.
ti
Para ft'rroiro,lanoelro o funlleir,1 I' • ·,IIl'IIII. 030, "
H~l BiH'I!',res, I'ara sapatelr." ou co,rreeiro . . . . . . . . ., ," !!OI " "
i~tlBrunldorcs para S De (lcdernt'lra . . . . . . . . . . . llll atlO j "
uourador ) De agatlla . . . . . . ... _ .» ()(l()1" I
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Estas e outras ferramentas págão pois 30 ·/0. Com-


quanto estes direitos sejão elevados parece-me acer-
t

tado não reduzi-los. A reducção que se lives~e de


fazer agora devia ser de modo a baratear considera-
velmente esses objectos afim de favorecer-se os ar-
t

tistas de um modo proveitoso, fazendo baix.ar os di-


reitos a to ou {5 °i.: mas, a. não ser isso pO:'5ivel,
como creio que nio é conveniente. qualquer pequena
reducç:io irá favorecer unicamente aos negociantes que
fazem o commercio desses artigos.
Calçado. - Os direitos actuaes sobre o calçado são
de 40 °/0: mas embora seja este um dos direilo5 mais
elevados da tarifa cm vigor, assentão elles sobre um
principio altamente ponderoso, qual é o de favorecer
a industria nacional.
Além disto. apezar desta taxa. nunca o Rio de
Janeiro possuí o tão grande numero de casas que vendem
calçado fabricado no estrangeiro: e muitas das fabrieJs
nacionaes pouco calçado fazem, (' ímportão milito
do estrangeiro.
O calçado importado, é, por motivos que não tra-
tarei de investigar, mais duradouro; e esta. circum-
stancia compensa a carestia de seu preço.
Penso, assim, ser de manifesta utililladl' ConsenJf
os direitos estabelecidos.
Roupa feita. - As mesmas considerações que acahl
de apresentar a respeilo do calçado tem graude appli-
cação ã roupa feita.
Nada, pois, justifica uma reducção de direitos nestes
dous artigos; tanto mais, quando nrge augmentar a
receita do Estado.
-;~-

Ancoragem.- Como o~ direitos de navegação pren-


dem-se ao nosso systema de alfandegas. visto que fa-
zem parte do despachomaritimo, julgamos dever aqui
fazer alguns breves reparos.
Segundo pondera o relataria do ministerio da fa-
zenda. a legaclío de França solicita a adopção entre
nós, a bem dos navios mercantes de sua naçlo , de
medidas allalogas ás das leis francezas de t 9 de Maio,
t 2 de Julho do anno passado, sobre:1 marinha mer-
cante, e Decreto de tS de .Junho do mesmo anno, ex-
pedido para execução fia cilada lei.
r.oIllquanto não tenhamos o menor conhecimento das
informações e trabalhos sobre esle 33sumpto, que
S. Ex" o Sr. ministro declara acompanhaTem o seu re-
latorio no annexo F, que ainda não foi distribuido;
todavia vamos enunciar a nossa opinião.
E porque no conselho de Estado Coi lembrada a idéa
da elc\"aç:io da ancoragem como lima medida provei-
tosa p:\r,l oecurrer ao deficit. jlllgamos conveniente dar
a cstP. assumptu algum desenvol vimento.
Primeiro que tudo, para se poder bem medir o al-
cance da cOllcessão que pretende a legação franceza,
é preci~o que se consulte a legislação dos dous paizes,
e se conheça a importancia reciproca de sua nave-
f{ação.
Os direitos de navegação em França são: o de fran-
cisatio/l, o de tonelagem, e o de expedição; mas in-
clue-se Lamh,~m nessa classe o de quitação (acquil). e
de (ongé; assIm como os de passaporte, de p"rmis,
e de r.ertifIcado, se bem que estes, como lIotão todos
os escriptores. se refirão mais á carga do navio do que
au proprio navio, e que o direito de passaporte não
seja. de facto senão um direito de policia.
- ~J-

1 ratando-se, porém, no relatorio unicamente do di-


reitu de aocoragem, só com elle nos occuparemos, para
não alongarmos em demasia. ei>te nosso lrat.alho.
A legislação fraoceza sobre o imposto d~ aucúrager.l
ou tOllclagem é, não só complicada, ma~ casuistica.
1'":io ha nella uniformidade e igualdade como na do
Brasil: varia conforme o ponto de proveniencia, I) dr~5lino
do na\'io, sua nacionalidaLa, a natureza L-.; sua larga.
a longitude da navegaç;io, e oulras circumstancÍ;l5, e i:,slj
ainda afóra o re~imen especial dos tralados qUt' tem
celebrado com qua3i to~as as nações commcrciautes dr;
mundo, na Europa e na America.
Daremos delia uma noticia, quanto bl~le pan ~t~
formar um juizo seguro sobre a pret.~nç.ão da le::;a(io
dessa Potencia.
O direito de tonelagem em Fran~a, anl·,'~ das '.:i-
tadas leis do anno passado, a que se refere o rela.to-
rio, se póde resunJÍr do seguinte modo:
Este imposto é devido p>:lo f.O facto da entrada do
navio em um porto francez, ainda que a demora !''.'ja
de horas; e se paga nos vinte dias da chegada e
anles da partida do navio.
Os navios francezes erão favorecidos com um di-
reito differcncial: elle era de 1 franco por toudada
para os que ião de Inglaterra ou de suas posses~üe~ ;
gozavão, porém, de isenção, quando erão procedentes
de quaesquer oulros paizes.
Os pro(Jrios paquetes francezes, destinados exclusi-
va.mente ao transporte de viajantes, pagav;lo esse im-
posto, na razão de uma tonelagem por cada pasf.a;,(ciro.
fi.ozavão, porém, de isenção os navios de guerra
fretados por conta do E~lado, os da pesca, os arrt-
batias, os empregados como parlamentarios, e outros.
- -li -

Para os navios estrangeiros era de 2 fr. 50 cenlimos


pOI' tonelada; alt"m disso pagavão um meio direito de
J ir. 25 c.ent. por tonelada, cujo produclo era alIectado
exc.lusivamente ás despezas de sustentação e de repa-
ração dos portos,
Erão isentos os navios estrangeiros arribados que
não fizessem operação alguma de commercio.
Essa legislação tem sido ultimamente modificada pelos
tratados que essa Ilação celebrou com a Inglaterra e
com a Belgica, e pelas franquezas commerciaes que
forão adoptadas no novo regimen que inaugurou o
:Ictual Imperador j mas não nos daremos ao trabalho
de expô-Ias todas, porque ellas não aproveWio imme-
dia lamente ao Brasil.
Em França os navios brasileiros não pagavão tone-
lagem, e só erão passh'eis deste imposto, tanto como
os francezes, se fossem provenientes da Inglaterra. e
isso em virtude do tratado de 8 de Janeiro de 1826,
art. t 6, e de muitos actos de sua administração.
A lei. porém, de t9 de Maio de 1866 estabelece o
seguinte:
« Arl. 4.° Os direitos de tonelagem estabelecidos
sobre ús navios estrangeiros que eotrão nos portos do
Impcrio serão supprimidos a contar do 1° de Janeiro
de IHt.i7.
« Ficão suosistindo os direitos de tonelagem que ac-
tualmente se cobrão, tanlo das emharcações francezas
como das estrangeiras, e se achão applicados como
garantia do pagamento de empres limos contrahidos para
obras (Ie melhoramentos dos portos de mal' fran-
cezes.
« P.r decretos imperiaes expedidos soh a fórma de
regulamentos da aJmiuistração publica se poderá, para
- I"!-

occorrer :"1' de~pezas ries!a natureza, crear um direitn


de l<JOel:l:.!em não excedente ele ~ fr. 50 cento por to-
nehla. c'linj1rehelJ1jidas as frac-\ões, taoto sr,jlre"~
navios fr:wcezes, como sobre os estraD~eiro::,"
II Art. 5: Tres anDOS depois da promul;..ra.~ão da ;ire-

sente lei IIc3.ráõ snpprimidas as taxas "fltl icionaes 8t'


bandeira. hoje applicl\ei3 aos produclos qO' não :,ão
importados dos p:lizes da prodw:.:ão em emt.1f(:. 1t:r..,.~
.
franl'ezas.
II Ar!. 6." ~o ca'() em que a bandeira franceza eSlher,

em paiz estran~l'iro, sujeita em beneficio do gJ\"erno


das cidades nu corp )rações, quer directa, fluer indi-
recl'unenle para a navegação, importação nu I',,\,or-
tação d lS mercalJorias, a direitos ou l]1l:Les'luer Lllllr05
onus de qUI! fôrem iSI'nlas as emharca.~iie~ dess'~ raiz.
poder-se-lia. por decreto imperial, I~slabel('cer sohre as
emharcJçiies da dita nação, que enlrar~m nos porlos
do Imperio, de urna colonia ou posses:,,}o fran!"'7;!. e
sobre 3S mercadorias a seu bordo, aquellc5 t.1ireitos ou
taxas addicionaes que í'e julgarem necessarias para
compensar as desvantagens da bandeira. (raIlCl'z~" )
Para cxecuçã() desta lei baixárão já dons dl'rreto~ :
um, o de 18 de Junho, foi mencionado no relalorio;
mas, além desse, foi expedido (\ de 27 de Dezembro,
que é o que versa sobre o assumpto da tOlldagern.
embora não seja applicavel ao Brasil.
Esse Decreto de 27 de Dezembro teve em vista prin-
cipalmente tratar de algumas nações, como a Dinamarc3,
•a Republica Dominicana, a Prussia, a Suecia, a ~o­
ruega, c as Cidades Anscaticas, cuja legislação espe.'ial
obrig.wa a antiga legislação franceza a consagra." 11m-
bem eerla especialidade n3 cobrança da Lonelag'~Ill; e
bem assim regular as relações da França com os 8"
- 4a-

tados- Uflidos neste aSsllmpto, em face tIo tratarlo de


24 de Junho de 482t; e i~entar desse impo~to os
navios francezes procedentes da Grã-Bretanha, e~ten­
dendo a isenção aos navios estrangeiros, procedentes
da Inglaterra, que entrem nos portos franeezes.
A doutrina, pois, que cumpre bem conhecer e es-
tudar, é a da citada lei. e não a deste decreto; e essa
doutrina "em a ser a seguinte: a suppressão do di-
reito de tonelagem em todos os portos do Imperio
Francez, a partir do i o de Janeiro de t867; e não
se mantém excepcionalmente a sua percepção senão a
respeito daquellas nações que em seus portos impu-
zerem direitos differenciaes de tonelagem aos navios
francezcg, isto {', direitos de que sejão isentos seus
proprio~ navios.
Mas não nos parece acertado que o governo imperial
entre em quaesquer ajustes, ou faça concessões a este
respeito: to, porque não tem disso necessidade, visto
como os navios brasileiros que demandem os por-
tos francezes não estão sujeitos ao pagamento da
ancoragem: 2°, porque, feita a concessão á França,
teremos necessariamente de estendê-la a Portugal. á
Inglaterra, aos Estados-Unidos, a todas as nações
cojos navios frequentá\! nossos portos para seu com-
mereio, e por essa fórma supprimiremos esta verba
da receita do Estado; ou então estabeleceremos em
fa\"Or da França. uma excepção odiosa, ou antes um
direito differencial para tonas as demais nações, direito
differencial esse, que não teremos meios para sus-
tentar por muito tempo e que não será conveniente
que sustentemos: 3°, porque a reciprf)cidade seria
illu~oria, só aproveitaria aos navios francezes, sendo
certo que não temos navegação de longo curso para
- 1·1-

os porlos dessa nação: .\.0, porque uma nação fraca


como t'~ o Brasil. e nas difficeis circumstancias em qne
se acha, deve preferir a igualdade de tralamentn para
todas as nações, consagrada nos principios gerap,s de
sua legislação, a celebrar ~justes diplomaticos, ainda
que sejão por meio de simples notas reversaes; por-
quanto, por via de regra, são taes ajustes a fonte p
causa de conllictos, e reclamações contra o governo
imperial.
Nós, pois, não devemos celebrar semelhautes ajl1sle~;
e, bem longe de fazermos concessões. cumpre-nos
reclamar; porquanto, como já ponderei, os navios
brasildros cm França são equiparados aos nacionaf'S
pelo tratado de 8 de Janeiro de i826 3rt. t G: t'
como pela cito Lei de i 9 do Maio de i866 c Decreto
de 27 de Dezembro do dito anno os navios france-
zes pass:lo a gozar de isenção de tonelagem. mesmo
ql1antlu procedentes da Inglaterra, deve-se estender
esta isenção aos navios brasileiros que demaDl1arem
os por los francezes.
Além disso, não devemos fazer u:ua tal I'oncessão
á França, pelos prejuizos e inconvenientes que ,rahl
resultaráõ á nossa politica commercial; sem que t'ste
procedimento vá de encontro a letra ou ao espirilo
do tratado.
E com effeilo, segundo o Rcgulamt'uto das alfanrlesas
de «9 de Selerntlro de 1860 art. 663 estão sllji~:ta~ ai)
impo"Lo de ancoragem todas as embarcações (sem ('\C('-
pção tias nacionaes J procedentes de porto"- éstran-
geiros, que derem I'lItrada em portos do Impeiiu, :15
quaes, :-:egundo o art. 665. págão ancora8\~:U 1\1
razão de 300 rl'is por tonelada.
Portanlo t para que fizessemos uma conce~~ã,.l :i
Franç~'l nos termos que ella pretende. seria preciso,
ou tornar os seus navios mais favorecidos em nossos
portos do que aos proprios brasileiros. ou para €qui-
parar estes áquelles. consagrar, como dissemos, uma
excepção em seu favor. destruindo a igualdade de
tratamento que se mantém com vantagem do serviço
publieo, e cerceando uma parte da receita do Esta-
do, justamente quando são mais urgentes as neces-
sidades do nosso thesouro.
Entretanto cumpre notar o seguinte:
Pela Lei n. 591 de i3 de Setembro de i850 foi o
governo autorisado para isentar dos direitos de anco-
ragem, e de qualquer direito de porto que se haja de
estabelecer - os Paquetes illglezes.
l)ela Lei n. 803 de 20 de Setembro de 185&. foi
o mesmo governo autorisado a conceder. mediante as
condiçües que julgasse conveniente, ás companhias
Auglo-brasileira, Luso-brasileira, e a outras quaesquer
que se apresentarem em identicas circumstancias os
mesmos favores e isenções concedidas á Real Compa-
nhia de Southampton.
Prevalecendo-se desta faculdade, o governo, pelo
A\'iso n. 24.4 de 6 de Junho de i 860, concedeu
isell~ão do pagamento de ancoragem aos vapores fran-
Cfzes da Companhia Messageries.
Portanto os - paquetes - francezes já gozã\) de
isenção de ancoragem·
O governo usou, pois. de uma autorisação que
lhe foi concedida por lei; - parece-nos porém que
emquanto subsistisse o direilo estabelecido sobre as
embarl:ações brasileiras da navegação de longo cursa,
lião era regular conceder um tal favor áquelles pa-
quetes.
-lG -

"as uma vez que assim se praticou, não convém a~or~l


estender essa concessão a todos os navios merc.a.uli:s
des~a nação que demandarem os nossos porlos.

Por ultimo. observarei que a tarifa das alfa.[)de~as


é de todos os recursos o que póde produzir renda
mais avantajada; e por muitos annos ainda ficará
sendo, e será conveniente que seja, a fonte mais
abundante da receita publica.
Esta fonte de renda será ainda mais proouctiía,
quando mesmo se conserve sem a menor altcfjç~o l
tarifa actual, se fôr radicalmente reformado o Rf.'~ul.
de 19 de Setembro de 1860, o qual, complicando sem
necessidade, nem proveito, o systema dOi> despacbo~,
dHficulta o expediente e enleia, não poucas vezes, os
empregad'is zelosos e os negociantes honrados; ao
passo que não tira á fraude os meios de que póde ~t'r­
vir-se, e de que ás vezes se serve, para prejudlcar os
legítimos interesses da fazenda nacional. Estes incon-
venientes crescem de ponto, considerando-se qlle nos
seis annos decorridos, muitas são as alLcrações e
explicações que tem tido, que mais o complicão e en-
redão os negocioso
Esta reforma do Regulamento seria por si só sum-
ciente, sendo acompanhada de uma fiscalisação severa,
para augmentar a renda; mas, em altenção ao eslado
financeiro do paiz, penso lambem que é de toda a
conveniencia retocar a tarifa em vigor, elevando al~u­
mas de suas taxas.
É debaixo deste ponto de vista, que nos parece ne-
cessario que as multas, que pelos regulamenlos dlS
alfandegas pertencem aos seus empregados, passem a
fazer parte da receita geral.
- 17-

Os empregados das alfandegas são os melhor retri-


buídos do Imperio, principalmente os da côrte; e
conservando-se-lhes tão sómente os {Jrdenado:; e gra-
tificações, ficão ainda larglrnente remuner~,do:" e me-
I hor que os da repartição-chefe. que é o tbesouro na-
cional.
Mas, para compensar o prejuízo que soffreráõ com
a suppressão das multas. poder-se-ba reunir 3S grati-
ficações aos ordenados que presentemente têm, para
prefazerem um só vencimento a titulo de-ordenado-,
afim de dar-se-lhes por esse meio uma aposentadoria
mais vantajosa. e favorecê-los tambem nos casos de
licenças ou impedimentos por molestia.
III

HIPOSTOS DIRECTOS.

Os impostos directos são, por certo. os que, por sua


natureza, maior relllctancia encolltrão da parte das po-
pulações; elles têm sido algumas vezes, quando exces-
sivos e oppressores, a causa de grandes motins popu-
lares e revoluções.
Nào são como os indirect'ls, que se págão iosellsi-
velmenle no consumo que se faz dos diversos objectos
necessarios para os usos da vida.
Convem, portanto, usar delles com summa pruden-
cia e moderaç;io, e sómente na medida precisa para
occorrer ás necessidades do seniçú publico: tanto
mais quanto todas as classes da socie/lade têm corrido,
pressurosas, a ofTerecer, além de seu sangue para \ in-
gar a honra nacional uitrajada, os mais generosos
donativos durante e:>tes ultimos dous annos que temos
sustentado a guerra com o Paraguay. O povo brasi-
leiro, cheio de abnegação e heroismo como se tem
mostrado, merece, pois, ser poupado tanto quanto
seja possivel.
Imposto pessoal. - Sendo por ora este imposto des-
conhecido entre nós, constituindo, portanto, uma inno-
vação, é justo que com eUe nos occupemos mais de
espaço.
Na sua exposição de motivos, o parecer a flue n05
referimos expressa-se do seguinte modo:
« Propõe a com missão a creação de um imposto de
- 49-

quolidade sobre cada pessoa nacional ou estrangeira,


que residir no Imperio, e tiver por sua conta casa de
habitação arrendada ou propria, ainda qne nella não
more. o qual terá por base o rendimento locativo
annual, segundo a tabella que a commissão o{ferece. )I
Parece justo que a renda moveI não fique isenla de uma
contribuição proporcional, porquanto só accidentalmente
fica ella sujeita quando se manifesta nos actos e transacções.
Este imposto não comprellende os valores locati\os de
pequena importancia, porque represenl3:o a classe ne-
cessit3da, como: artistas, operarios, trabalhadores, e
outros de rendimentos escassos.
Passando a formular o preceito legal. estabelece:
« Arl. 2.· Cobrar-se-ha de cada pessoa, nacional ou
estrangeira, que residir no Imperio. e tiver por sua
conta casa de habitação arrendada ou propria, ainda
que neHa não more, um imposto de qualidade , que
terá por base o rendimento locativo annual, e cuja
quota se regulará pela tabella seguinte:
\!rOTA 1>0 'f. %
f :', 0j o 'f. ~'; 0/. 3 % 4
I
%
IlIPOSTO
---
Na rurle ... .' 360Sa i'f.OS De maisde De mais dei Oe mais de De mais de
aos a t:~S a 'f.:4008 a 3:6001
Nas capi laes t:'f.008 UOOS 3:600~
das provo do
Rio deJan., S,
Pa'llo, S. Pe-
dro, Sahia,
PernambLlco •
Maranbão. e
Pará., ........ fIlOS a 360S, De mais de De mais de De mais de Ue mais de
3608 a nos 7~OS a {:'f.OOS a
~as demais ci- UOOS UOOS 2:.\00II
dades .•. , .... nO/Jai\08 De maisde De mais de De mais de De nlais de
~W8a4808 ~Sa96O$ 9608 <I { :9j(},f
{:~OS
Nas villas ..... 608ai'f.OS De mais de De mais de De mais ue De maill de
f~~aUO~ Wl8 a ~81 i80S a 9608 9608
Fóra das cida·
des e viII:!:!. " '88 a OO,r De mais de Oe mais de De mais de Oe nnis de
!I6S a {\liS 19U a 'f.Si8 i84Sa 11688 lS688
S. l.
--
-50-
« § {.- O arbitramento do valor locativo, em Calta de
recibos não contestados, serã Ceito com atteoc:ão ai)
local da h:lbilação: do arhitrl.mento haverá recurso
para as tbesourarias de fazenda, e dessas para o lri-
bunal du thesouro nacional.
« Não se comprcbenderáõ no valor locativo:
« t. o Os edificios ou parte de edificios consagrados
exclusivamente á agricultura;
« 2 o A parte do predin occupado por loja, omciua.
escriptorio, ou estabelecimento de industria ou pro-
fissão.
Cl § 2.· S~rão isentos do imposto:
« I. o Os membros do corpo diplomatico ostrangeiro ;
« 2. Os agentes consulares que fôrem estrangeirus.
0

e não ti\'erem outro rendimento além do provellientc


do seu emprego ;
« 3. 0 Os officiaes do exercito e arruada em erreetiv;-
dade de serviço, aquartelados ou embarcados;
(,( 4.° As pessoas que pagarem o imposto sobre os
vencimentos;
« 5.° Os paços episcopaes, os conventos, casas de mi-
sericordia, bospitaes de caridade, recolhimentos e es-
tabeleeimentos de piedade, beneficonCÍa ou instrucção,
mantidos pelos cofres publicos. »
Finalmente, calcula a commissão. que esta laxa
possa produzir- i ,OOO:O~OOO.
Este imposto acha-se e-;tabelecido em algumas na-
cÕes.
O seu fim é attingir as rendas moveis; o que por
toda a parte se tem reconhecido ser extremamente <iii-
ficH, visto como os capitacs dessa especie escápão á
vista, e se sublrahem facilmente á acção e ás exigen-
cias do fisco.
- :iI -

Este imposto em França tem passado por diversas


transformações: a sua primeira base excitou clamores,
e não correspondendo ás vistas fiscaes, foi sendo sue-
cessivamente modifieada até o presente. que é elle
regulado principalmente pela Lei de 21 de Abril
de t8:32.
N'lo faremos a sua historia detalhada; daremos ape-
Das uma. noticia do seu estado, visto que servi o essa
legislação de base á portugueza, que se trata de imi-
tar no projecto da camara dos deputados.
A contribuição pessoal e moveI em França se com-
plle actualmente de duas taxas: a taxa pessoal e a taxa
movei. A taxa pessoal se compõe do valor de tres dias
de tmbalho: o conselho geral é quem determina o
preço médio do dia de trabalho em cada commum;
sem poder, comtudo, fixa-lo em menos de 50 cent.,
nem em mais de t fr. e 50 cento
Esta contribuição é estabelecida por meio de repar-
tição entre os departamentos, os districtos (arrondis-
semen13). as communs e os contribuintes.
A contribuição moveI é devida por toda a casa ou
hahitação mobiliada: a quota de cada contribuinte é
fixada segundo o valor locativo: todavia, sobretudo
DOS districtos rurae~, seguio-se o uso de estabelecer
este imposto segundo as faculdades lJrl~$umidas dos
contribuintes.
A legislação franceza é muito minuciosa a respeito
deste imposto, mas ainda assim a sua arrecadação se
torna muito difficil e vexatoria; por isso tem sido
fortemente censurada. e primeiro que chegasse ao
pontu em que hflje se acha teve de lutar com grandes
emb,traços e soffrer repelidas decepções.
Adam Smith já. dizia o seguinte: - « Os impostos de
-~-

~'.pt:j~-;'o 'orn~o-se inteiran,ente arbitrari~. ~~: t,rn-


CIJfc1 propor~io(l:.-bs ~ f, nuna ou ã renda dr: L'"ia
fLn"l~uio\é. O estad) da (ortgn3 dé um CO:ltri;,u;r:k
"4ríd de um Cü para outro. e. a ffiêtl'J5 de eu~prt'­
~dr-~e uma ir''1lJisição mai~ i!l.5uppxl~H'el qUe jU1I·
quer iUlI")st'J, e reol)\-:1'ia lodos os ann05, n:;:) ~ p'J~­
sil'el fazer md.Ís do que apprecil-b por cooJeclun.
«Os jmpiJ~los de capitação, por iS50 que ret:a!lelli
sobre as da5St;;S ioferiores do pa,o, são impostos ,ii·
rectos sobre os séilarios do traLalho, e produzdu
todos os incoD\-eDientes resallantes desta nalurel:J. Je
conlribuiçijes. »
Não pretendemos estender estas considerações, pt·r-
que i,"o nos levaria muito longe e o tempo no~ fl.-
lece; basta-nos pooljerar que é um imposto compli-
cado, vexatorio e cbeio de embaraços na sua cobrança,
e d'abi vem que os escriptores fraDcezes abundão em
censuras contra elle.
Em nosso peD~ar foi uma idéa infeliz que teçe a
c.ommissão; e parece-nos que com vantagem do lhe·
souro e dos contribuintes pôde ser substituído por
UlUa elevação na quota da decima urbana até pre-
fazer a importancia dos mil contos em que a (um-
missão orçou o algarismo a que poderá chegar a ar-
recadação desse imposto. '
O projecto não foi tão amplo C i IDO a legislação P:Jf-
tugueza, mas ainda assim a sua introducção no Brasil
não ha de ser escoimada de graves inconvenientes.
Creando-se este imposto, fica a propriedade urbana
gravada com tres impostos; a decima urbana que o
projecto eleva a t~ 0/.; o imposto pessoal na razão Je
t 4/'1., 2, 2 1/'t., 3 e 4 0 / . , segundo a progressão dos
rendimentos dos predios; e o imposto de profi:>sões c
-53-
industrias que se passa tambem a estabelecer, eleva. do
a taxa do de lojas que está em vigor.
Os dous primeiros são directamente pagos peto pro-
prietario; o 30 , pelo inquilino ou explorador de in-
dustria.
Este systema de impostos lem, a meu ver, dous gran-
des inconvenientes: o t·, onerar em demasia a pro-
priedade urbana, para onde se refuftiavão os capitaes
medrosos das especulações mercantis e bancarias tão
prejudiciaes nestes tres ultimos annos ; o iO, complicar
a nomenelatura dos impostos, difficultando a sua C.Q-
brança, augmenlando o expediente das repartições de
arrecadação e sua escripluração, e sendo motivo para
muitas duvidas e questões no processo de seu lançamento
e cobrança.
O projecto orça em f ,OOO:OOO~ a sornma que pôde
produzir este imposto. Mas eu penso que um dos pri-
meiros cuidados que se deve hoje ter, é procurar que
o supplemento de receita se alcance pelo modo o mais
suave possivel. simplificando, quanto ser possa, a no·
menclatura dos impostos.
O imposto é sempre um mal, e é pago de má von-
tade-: mas o contribuinte mais se impacienta quando
se mulLiplicão as occasiões e os meios de se lhe faze-
rem as exigencias fiscaes.
Finalmente para considerar esta questão debaixo de
um ponto de vista pratico e offerecer elementos po-
sitivos rara uma discussão profunda. reunimos em
um appendice toda a legislação portugm·za a ella alti-
nente.
-54-
ImpoBto sobre as industrias e profissões. -~e-:,te caso
concordo com a commissão.
Sello.-Comquanto me pareção rigorosas as taxas
do sello applicadas pelo projecto a certos actos -.
todavia, como medida exlraordinaria para occorrer ao
deficit, não posso deixar de prestar-lhe o meu fraco
apoio.
Taxa de ('scravos.-Creio que a taxa de ~ 50bre
os e5cravos de fóra das cidades e villas, seri Oe uma
cobrança extremamente d,mcil : ha de, além disso, pro-
duzir grande descontentamento nos nossos fdzendeiros.
De que modo se realizará a sua cobrança, não digo
já na provincia do Rio de Janeiro, mas em ~inls, nos
sertões da Blbia e de Pernambuco, em S. Paulo ou em
Goyaz?
E será esta taxa extensiva aos infelizes habiL'lntcs
da província de Matto-Grosso 1
Serão todos os fazendeiros obrigados a percorrer
lon~as leguas para irem á collectoria do seu municipiv
dar á matricula todos os seus escravos sujeitos á tau ~
Se pelo contrario os collectores tiverem de ir receber
ou exigir as relações, poderão por ,-entura lO!l\lf a
si tão penoso encargo, em prejuizo de oulros interesses
da fazenda nacional que ficaráõ preteridos durante
a sua ausencia?
Nesta hypothese, onde serão hospedados os colJeclore5!
Serã .conveniente que o sejão nas ca.S1S das proprias
rarles interessadas'
Impostos de ~ e t5 0/. sobre as vcudas de e/llbar-
cações -Não me parece conveniente esta medida; não
só porque vai fazer diminuir a receita, mas ainda pl1rque
não preencherã o fim que parece ler em vista, que é
facilitar 3S transacções desse genero.
Meia síza de escravos.-Oprojecto muda, com razão,
a denominação deste imposto. Quando a siza dos immo-
veis era de iO 0/." os ã % das transferencias dos es-
cravos chamou-se meia siza.
Ao derois a Lei n. t, I ~ de 27 de Setembro de
1860, art. 12 § 7°, mudou-lhe a natureza dI' propor-
cionai que tinha, para a de fixo, e a taxa actual é
de .\0;,.
A reducção da taxa a 2 ·(0, se tem por fim facilitar
as transferendas, ou excitar os contribuintes a não de-
frauda-Ia, creio que o não conseguirá. A taxa actual
não embaraça as tl'an5acções : além disso pouco importa,
que a taxa seja moderada. desde que o nrgociante ou
conlraLtador quizer defraudar os interesses fiscaes.
Bcm modico é o direito que págão os diamantes na
eX(Jorlação, e nem por i~so se deixa de fazer o contra-
bando em grande escala.
AI~umas provinri:ls do Norte chegárão a estalwlecer
impostos forli~sirnos sobre a exportação dos escravos,
mas esta se fazÍ:J. do mesmo modo, desde que os preços
que elles alcançavão nos mercados do Sul compensavão
esse onns,
Se quando a commissão apresentou o seu trabalbo
era. grande o deficit do !hesouro, hoje que novos en-
cargos accrescêrão, não convem diminuir a renda.
O que é, porém, necessario é impedir que esta verba
de receita continue a ser defraudada.
O Decrelo n. 2699 de ':!8 do Novembro de 1860,
art. 5·, suppoz que ficavão sufficienlemente acautelados
os interesses da fazenda nadonal, prohibindo, como
probibio, sob pena de nullidade, os contractos de vendas
de escravos feilos em virtude de cartas de ordens ou
-:16 -
por procurações que não fossem especiaes para os
mesmos contractos.
Mas. não obstante, o imposto continúa a ser desviado
de um grande numero de transacções; e o meio que
se emprega para ilIudir a lei, é o dos substabt'Jed-
mentos das procurações.
Por isso parece-me neces~ario prohilJir expressa-
mente, sob pena de nnllidade, os substabelecimelltos das
procurações nesses contractos.
Cessã'J de prit1ilt?gios.-Concordo com a commis~ão ;
mas visto razerem-~e muil.ls concessões desse gc[}('ro,
creio que alguma observação cabe aqui apre~el\lar a
bem dos interesses do thesouro; tanto mais qU3ilto
a commissão, que foi Ião escrupulosa a respt.!~ln da
Lei ue 28 de Agosto de {8aO, não adoptou o Ulf':,I1l0
procedimento relativamente ás apoJices, que emoh-em
entretanto um principio de fé publica.
A citada Lei de 28 de Agosto de t830, art. 4°, de-
clara que o direito do descobridor ou inventor, será fir-
mado por uma patente, concedida gratuitamente, pa-
gando só o sello e o feitio.
Entendo que a taxa do seBo neste ('~so /leve ser
elevada, e bem assim a dlJ feitio, que são os emolu-
mentos.
Além disso não vejo razão por que os J O Di.. que
ndica a commissão não poderáõ ser extensivos ;15
eessôes ql1e se fizerp-m destes privilegios.
Essa lei sobre privilegios é reconhecidamente tIl:!-
feetiva, e se algl1m ponto haveria digno de reforma
seria esse, se por ventura embarac.a.sse a cobrança doJs
impostos necessarios para fazer-se face às despezas pu-
blicas.
Em 1830, pelas circumstancias em que nos achava-
-';,7-

mos, pelo estado pouco adianlado da industria nos


diversos paizes do globo, pela difficuldade das com-
municações e de introducçlo das descobertas, essa lei
podia ter o caracter de opportunidade e de conve-
niencia.
Mas hoje as circumstancias do paiz, e da industria
em geral são inteiramente ditTerentes.
Hoje as concessões desse genero se mulLiplicão entre
nós em grantlc escala, e n;io ha razão economica ou
admini"trativa que aconselhe a concessão de patentes
gratuita~. O pagamento dos direitos e dos emolumentos
em nada perturba o exercicio do dirpito de illv('ntor;
e por isso me~mo que é um meio de auferir graneles
lucros, {! de toda a justiça que a administração publica
não seja pri vada da arrecadação tio impostos qllo se
cobrão de outros privilegios de natureza industrial e
merLantil.
Subrogação de bens alienaveis. - Neste artigo di-
virjo completamente da commissão, bem como me
aparto da doutrina do art. t ~, as ql1ae:-; não só são
ollensivas da fé publica, como incongruentes com os
fins financeiros a que se pro(ioz ella no seu pro-
jecto.
A t3b,~lIa annexa á Lei de 30 de Novellibro de
t8H § V ... manda que se cobrem novos direitos da
licellça de slJbrogação de bells que ~ão inaliena\eis.
O pr' ,jeclo estende esse imposto ás suhrogacões de
bens inalienaveis por apolices da divÍlla publica.
É digno de reparo o escrupulo com flue se procu-
rou respeitar a disposiçã n da citada Lei dos privllegios
de 28 de Ago:,lo de t830. comparado c·)m a (,tclli-
dade que se leve em sujeitar as apolices a diversos
impostos. em cOlllrdposil;ão á. disposiçio expressa da
· - 58-

Lei organica da fundar;ão da divida publica. Lei que


toda~ as nações moralisadas procurão acatar I
Segundo a commissão não se pMe exigir impostos
de uma cessão de p"tente pela simples il1troducção no
paiz de uma deScoberta estranha, mas póde-se gra\'ar
com elles as apolires a que a Lei concecieu amplos
favores e privilegios ,que forão sempre respeita(los. e
isso jm-tamente quando nestes ultimos dOl1s anllos o
tbesouro tem emittillo grande numero deIlas e pre-
cisará. ainda emittir mais.
De sorte que quando comem não só por pnnuplu
de moralidade politica, mas até por nercssidalle ur-
gente do Ihes(H1fO, que esses titulos sejão procnrados
por sllas garantias e prh'i1e~ios, é qUl~ o proj.'clo,
preterindo essas considerações de ordem elevada, lança
impostos sobre ellas!
Revogação do art. 37 da Lei de ti) de Novembro
de t 827. - Egta medida é tão inadmissivel ClllllO a
antecedente. Formulada em termos tão singelos, dir-
se·ia uma medida mui simples. de utiliuade incon·
toslavel e facil aceitação.
Considerada. porém. attentarnente, reconhece-se que
elta é de grande alcance.
Esse art. 37 que a commis~ão cita, estabelt'ce-
que as apoliccs serão isentas do imposto sobre as
heranç.as e legados.
Mas este artigo fàZ parle de um systéma; elle deve
srr entendido no conjuncLo de oulras di&posições e de
accôrdo com o espirito geral da Lei de Ui de Novem-
bro de t827.
As apolices gozárão sempre de isenção de impo~tos.
até mesmo depois da Lei de '11 de Outubro ue IS'!;}.
que creou o seno proporcional.
Por uma aberração. porém, dos S10S principios de
administração, cm 1860, um acto de violencia passou
para o domínio da legislação com o caracter de pre-
ceito legal.
A Lei n. t H 4 de 27 de Setembro de '860. arte
t f § !l, obrigou ao pagamento do se1l0 proporcional
as transferencias das apolicr.s; e esta disposição foi
repetida no art. 6 § 7 fIo Regulamento de 26 de De-
zembro do mesmo anno.
O pretexto que se bus~ou para legitimar este acto
arbitrario, foi - que quando em '827 se fnndou a di-
vida publica só havia o sello fixo, e não o propor-
cionaI, qne foi creado pela citada Lei de 1843.
Mas este fundamento não tem o menor valor.
O facto de ter sido o sello proporcional estabele-
cido em t843, isto é, 16 annos depois da lei que
fundou a divida publica, não era razão sulliciente plra
justificar semelhante disposição: porquanto, exami-
nando-se as circumstancias do Br.\sil naquelle tempo,
reconhel~e·se que as camaras e o governo tinhio a in-
tenção e a necessidade de conceder a esses titulo:;
todas as garantias, privilegios e isenções possivds para
animar os poucos capitaes existentes a empregarem-se
nellas, na presença da grande penuria de recursos do
thesouro e da situação politica em extremo melin-
drosa.
Houve, pois, o proposito bem manifesto de tornar
esses titulos privilegi idos, não só nessa época, mas
igualmente no futurn, como exigia a honra e a leal-
dade dos poderes do Estado.
Não é, pois, licito que o governo, depois de oblidos
os capilaes para as suas necessidades, restrinja os
favores concedidos e aeeitos em boa fé, e cerceie os
-GO -

lucros que os particulares tenhão em vista pril'an-


do-se de seus capilaes para emprc8ta-los ao gO\'erI10.
Cumpre ainda lembrar que as apolices são til~llos
de divida do governo, e é altamente irregular que (I
devedor por um aclo de sua exclusiva \'ontad€' im-
ponha a seus credores condiçõ,ls que não exi"lião no
momento da emissão desses títulos.
Além dis~o a propria Lei citada de 1813, que
creou o imposto proporcional. não comprehendeu n"
obrigaç?ío do paRamento as apolices, Dr,lll tão pouco
o foi exigitlo pelo Regulamento de 26 dt! Abnl de
f8H, que em exccução dessa lei foi expedido.
O Heglllamento de 10 de Julho de 1~50 art. :n
§ 7 expressamente isentou-os desse imposto.
VC!-se, portanto, que a historia da It'gislação vem
confirmar a inlelligencia pratiea que se de\'ia dar e
que se tem dado a esse principio sempre respeitador.
)las no plano inclinado dos abusos camillha-~e
sempre acceleradamente.
Ao imposto do sello a que ficárão as apolices su-
jeitas nas transferencias, accrescenla o projecto mais
dous.
De sorte que as apolices que gozárão por largos
annos de isenção de impostos, ficilrão sujeiLa.s:
Ao sello proporcional;
Aos nO\'01\ direitos n )8 casos de suhroga,:âo ;
l

Ao imposto de Lterança, ainda augmeulatlo pelo


mesmo projedo.
E, como se ainda não fosse bastante, esl.'iJ lias
tran::;fl'rencias os po~suidores obrigados a pagar UIDl
porcl'lltaw'm aos corretores I
Talvez não haja na legislação de pOVu algum CIl!-
lisado um exemplo desta naLureza.
- 61-

Todos os escriptores, sem excepção daquelles que


lembrão os fundos publicos como m:1teri:\ contribuinte,
susten Ião que em caso algum é licito onêra-los de
impostos quando na lei organica da fundação da di-
vida se lhes tem outorgado privilegios e isenções.
Dizem elles que é não só iníquo e impolilico, mas
que uma tal deliberação importa a declaração de
orna banca·rôta.
Na Inglaterra os titulos da divida gozão tambem
de isenção; - mas quando foi estabelecido o incarne
taa:, imposto sobre a renda, comprehendêrão nelle
a renda proveniente dos fundos publicos. Mas é sa-
bido quanto é odioso este imposto, denominado de
guerra, e de que PiU se lembrou durante a sua luta
herculea contra Napoleão. É um imposto tão violento
que se não vola nas cam aras senão por um prazo
determinado; não é de uma duração permanente; e
quando ultimamente se tem renovado a sua concessão
e as finanças o permíttem, se trata sempre de o re-
duzir: e só uma nação rica como a Inglaterra e
abundante de capilaes póde supporta-Io nos termos
em que elle se acha constituído.
Nilo póde, pois, servir de exemplo.
Um estadista ilIustre, e sobretudo um homem de
bem, o Sr. Sella, ex-ministro da fazenda do reino
de Italia, oecupando-se deste assnmpto apresentou
as seguintes considerações dignas de toda a ponde-
ração:
« .... Les inlérêts de la dette ne sont pas eo cux-
mêmes une marchandise, une richesse; ils sont une
expression spéciale, un symbole du produit annucl
d'un capital; ce sont des revenus et rien de plus;
et eo fait, s'ils n'étaient pas seulement uo revenu,
-G::!-

ils ne tOllJberaient pas sous l'action de l'impôt sur


le revenu, et nous n'auriong pas lieu de discuter la
questi'Jn de leur francbise.
« II est bieo de rcconnaitre qu'imposer la personne
ou la marchandise ne serail pas illlposer les fODds
publics; mais ceci a evideulment e1 necessairement
lieu lorsqll'oo impose le revenu des citoyens. La dil-
férence entre UDe laxe générale sur le reveuu, D'esl
qu'uoe simple di1Térence de quaolitê. landis que.
dans le cas de la caritatioD et des douaDes, iI y :lU-
rail dlfTérence d'espece. La leltre ou l'esprit d~ la.
pro messe a été que I'intérêl de la dette publiquu De
serait jamais direclcmeoL laxé; eL II ne l' est pas
lorsqu'on laxe les hommes par simple c:l(lltalion, ou
à. l'occasioD de la vente de leurs marcnandh.es; mais
quand 00 les impose en raisoll de leurs ['eveDus, ou
ne fait precisement que taxeI' direclemeot les {unus
publics, et 00 élend seulemenl la taxe ;'l toutes les
autres espt'ces de revenu, Or, de même que la mort
d'uu homme n'en sera pas moins réelle, paree 'lu'jl
sera louché sur le champ de bataille avec beaucoup
d'autres; de même 00 ne peul prétendre que Ic re-
vcnu aS5igoé aux foods publics soit reste exemplo
parcrqu'il sera taxé eo même lemps que les anlres
reveuus pl'o\'coaot du prül d'uo capital, de I'cntes
viageres, de salaires, de rindu~tríe.
« Telle est l'objeclion peremptoire à mes yeux que
sou leve la théorie aoglaise.
cc Deux lignes de conduitc se présenlent done. Le
~ouvellJcment peul pretexler qu'en semblable cas une
fidelilé scrupuleuse oe doil pas êLre de de\'oir slricl.
el que les peuples n'eo forment point comme une
conLlilioll de leurs placemeots. Je n'ai pas cru devoir
-w-
le iaire. J'espere avoir pOllrtant assez ten11 compte
des inlerêls malériels de Ilolre pays, qu'il serait pre-
mature de croire desorm li:; affranchi dn besoin de
recollrir à l'aide du crédit: mais je fle dois pas le
dissimuhr, l ai cOIIsulté la voix de la conscie1lce bien
plus q//U'l calcul d'avantages matériels; et elle m'a,
dil qlL'une p,'omessc ne devail pas etl'e moins sacrée
pourlJ.n État qu.'en desi1'e qu'elle le 80il pour choque
homme en particulicr; qu' elle doit ~trc scrupuleuse-
mmt et si1lcerement maintenue; que la {Ot' publique
doit ~tre nOll ~eulemellt gardée, mais. comme la (elllme
de Ce"ar, n6 doit pas ~tre soupçonnée. L'opinion publique
et le credit nous tien(/ront, j'en suis s/lr. Wl compte
légi1ime de ce respect réligieu"C de n08 engajements.))
Imposto ,obre os ?'wGÍmentos. - Este imposto será
injusto e iniquo se fôr generalisado como se acha no
pl'Ojeclo.
Eu entendo que elle não deve ahranger os venci·
mentos de tiOO~OOO , e muito menos as pensões do
monte-pio e meio soldo. Dir·se-hia ao \'êr um tão
grande rigor, que o Imperio do Brasi I esgota o ulti.
mo recurso.
As nossas finanças estão sem duvida arruinadas, o
deficit é borrivel ; mas para lançar-se impostos sobre
as pensões do monte-pio e de meio soldo seria pre-
ciso cortar primeiro grandissimo numero de despezas,
que provavelmente não o serão.
Não ha, p(lis, necessidade de ostentai' tanta penuria
de meios, nem Ião excessivo rigor, quando muitas ou-
tras fontes podem fornecer recursos para o thesouro
que não custem as lagrimas e as privações dos empre-
gados pobres, tias viuvas e tios velhos servidores do
Estado,
-St -

Di:;ima de chancp.llaria. - A dizima de chancellaria


é um dos impost0s mais \ldiosos que temos e dos de
mais dlfficil arrecadação. e nenhum. talve?. eslá tão
sujeito ás alicanlinas forenses.
1\0 espaço de 30 annos os nossos ministros mais
ilIuslrados tem tomado providencias tendentes a eyilar
as fraudl~s e a fazer etractiva a arrecadação desta reo-
da; mas a despeito dos maiures esforços a divida
acth'a não diminue.
A Lei n. ti t4 de ~7 de Setembro de t 860 art. H
S 5 substiluío o imposto de : % de chanl~ellaria pür
uma multa de 4. °/0, nunca excedendo a 60~00ú so-
bre o valor do pedido nas acções civeis ou crimes
civilmente intentadas e realizavel sómenle nos C;lSQS
de recur50S de appellação, guardadas as isenções es-
tabeleciJas nas dispasições anteriores. Par:l sua exe-
cução baixou o Decreto n. '!.7 ~3 de t 3 de Fevereiro
de t86t.
A experiencia, porém, demonstrou desde logo que
essa medida não podIa continuar; a opinião publica
e a imprensa fulminárão-a de orna man·;ira justa e
inexoravel, e a tal prmto, qlle a Lei de ~ de SeLüm-
bro de 186~ art. to § 36 acablJu com ella e rt'stl-
belecell a antiga dizima de 2 0/•.
Mas restabelecendo ~!S 2 0/0' conservou toda a legis-
lação antiga em vigor. - a qual, além de confllsa,
contém uma disposição que dificulta a ~obrallç.a;­
essa disposição é a qlle permitta as averbações.
Eu entendo que se deve acablr com as averbaç,r.es:
e que se deve expedir um novo Regulamento em que
sejão consolidadas todas as di posições em vigor.
Tmposto sobre a illumin<v.:ão a ga~. - O Sr. Chase
ex-ministro da fazenda dos Estados-Unidos lembrou-se
-('õ-

deste imposto na razão de 5, tO e i5 cents por mil


pés cubicos, segundo a producção mensal é de menos
de 500,000, de 500,000 a 5 milhões, acima de 5
milhões pc.
Sendo um objecto de luxo a ilIuminação a gaz,
torna-se sem duvida materia largamente contribuinte.
Póde-se estabelecer uma taxa fixa sobre os relogios
ou contadores da gaz na razão de t~ por cada
um, obrigando-se a companhia a uma verificação da
exactidão da marcha delles na inspectoria do gaz por
parte do governo.
Sllppondo que existão US,OOO rclogios ou contado-
res, deverá esta taxa produzir para a receita publica
a somma de i5 contos.
Poder-se-ha tambem cobrar da companhia too réis
por cada mil pés cubicos de gaz que fabricar.
Diversos outros impostos. - Não faremos expressa
mencão de outros impostos lembrados pela commissão,
visto concordarmos com o seu parecer, e nada julgamos
por isso dever aqui accresccntar, tendo urgencia em con-
cluir este trabalho que tomou maior largueza do que
lhe quizemos traçar.

8. F 6
IV

As sommas resultantes dos impostos directos é in,li-


rectos não serão de certo sufficientes para fazer !It~
a todas as despezas e compromissos do governu: tor-
na-se, pois. indispensavel lançar as vislas para Olllfa~
fontes.
Além da colonisaç.ão e emigração, que agora mais
do que nunca se deve promover eom Lodo o e~forl:(\:
além tIo soccorro e animação á lavoura, de qUt~ () rela·
torio do ministerio tIa agricultura elo correnk ano"
se occupou de nma maneira digna de toJa a porule-
.
ração, devo lembrar:
ti l'elldn dos prúpl'ws nacionae.ç. - O Estado P0'>5Uf
grande numero de propriedades rllstic3.s c urkl'las rm
diversas provincias.
E cumpre que, além da alllorisação qur. j:L L'1ll o
governr:l pela Lei n. tt H de 27 de Selem bro de t ~t;O
art. t t § 60 , se lhe permilta alienar todos aquelles cle~­
ses bens que julgue conveniente aos interesses do Ihe-
souro publico.
O governo deve tambem, a meu ver, promover a
lenda:
De um vasto terreno nas fraldas do morro de Santu
Antonio nesta capital, que foi desapropriado a .JO~0
Maria Velho da Silva por 300 contos, se porventura se
desistio do projecto de fazer alli construir um palacio
para o1Imperante;
De varios predios na Prainha, que forão desapro-
- f,i-

priados com destino á estrada de ferro de D. Pedro,


pelo valor de 240 contos;
De diversas outras casas no Campo da Âcclamação,
lambem desapropriadas para serem, em seu lugar, edi-
ficado um theatro /yrico , e que importárAO em i30
contos .
..( venda da estrad(L de ferro de D. Pedro n.-Esta
questão é grave: mas estando pendente de deliberação
í!o senado, é de esperar que a sabedoria de tão ilIus-
tre (,orporação proceda como tiver por mais acertado .
..t desamortização dos bens das corporações de mão
morta.-Em um trabalho annexo ao relatorio do mi-
nisterio da justiça ue l855 se acha um extenso in-
vetltario dos bens possuidos por estas corporacÕes,
que foi por mim confeccionado.
Por esses escla.recimentos, posto que incompletos,
se pôde calcular appl'oximadamente a importancia do
palrimonio deBas, e o quanto pôde d'ahi tirar recur-
sos v governo para acudir ás necessidades financeiras
do Estado.
~a sessão da camara dos deputados de t5 de Julito
de t8i)l foi apresentado sobre este assumpto um pro-
jedo que é digno de ser tomado em consideraçã:J,
com as lllodificaçôe5 aconselhadas pela experiencia ul-
terior.
A. divida activa,. Quando se tem uma divida activa
tão avultada como a que possuimos, parece que se
deve envidar todos os esforços para realizar a sua
cobrança, anles mesmo de tratar-se de crear ou de
augmentar impostos.
Costuma-se dizer, para desculpar o ele,'ado alga-
rismo desta verba do orçamento, que todas as nações
tem di\'ida activa. Como se um vicio de administração,
- 11;-

que cumpre ex.tirpar, pudesse nunea justificar um


semelhante facto!
~: esta uma materia arida, muito positiva. de dé-
talhe de adrninislra~'.ão. pouco ~abida e pouco expli-
cada nos docnmentos officiaes; e t!'ahi '"em que se
lhe não presta toda a attenção que ella merece, "
passa de;aperceiJida nas discussões da illlprens;~ e dfl
parlamento.
Entretanto basta ponderar que, st~gund() :\ tatl,IL~
n_ 37 do relatorio, é esta verba do orç.amentn ,]"
5,333:30H'H 19, para se reconhecer Ilesde logo :i
sua importancia e alcance nas finanças do Esl:do.
É um mal que data de longe, e que, por Sd
cbronico, não é incllravel.
Segundo a referida tabclla temos 287: '.08..,.);;6 01,>
di vida pertencente aos annos de i 808 a 182 t; .;:i,
dividas que datão de 60 annos'
Ainda mais: ha uma classe de divinas. sem dl~­
tincção de aI1ll0S, parte ua qual se ueve suppôr d~ t1lDJ
data mesmo anterior a 1808, que se elc~a a
1,070:684~51 ,
Temos dividas ue 18~~ a 1831 na imporLlflcia tk
489: i 40~78t.
Não seria conveniente tomar uma providencia etlicaz
e definitiva sobre estas dividas tão antigas?
Não seria acertado fazer-se ao menos uma reJaç.,"il)
historica dessas dividas para as camaras Icgislativ:1S
ou o governo tomarem uma deliberação qualquer 'I
O Decretto n. 235~ de t 6 de Fevereiro de f ~.)!l
procurou melhorar este ramo de serviço publico: e
posto apresentasse alguns pequenos embaraços, fa('I:i~
de remover, não merecia a opposição tenaz que se
lhe fez e que deu em reSllllado a expedição do D~-
-69-
creio n. ~719 de 31 de Dezembro de 1860, appa-
reniemante destinado a melhorar o se"iço, mas real-
mente feito para fazer cahir a idéa, como aconteceu.
Nos relatorios do mlDlslerio da fazenda se tem in-
dicado alguns meios tendentes a fazer diminuir e des-
apparecer esta divida: lembraremos alguns delles.
Propõz-se que a divida alrazada fosse reduzida a
lelrJs por prestações, na conformidade da Lei de 15
de ~ovembro de ISi7, convidando-se por editaes a
todu:, os devedores que assim se quizessem aproveitar
deste indulto. AqueDes, porém. que deixassem de
comparecer em um prazo dado, fossem as suas dividas
arrematadas com o abatimento de ~O até 30 o;. naquellas
de di llici I arrecadação como dizima, etc., da mesma
maneira que se observava com as heranças litigiosas e
bens vacantes, segundo o Alvará de ~6 de Agosto de 1801.
Feila esta operação em prazo lambem dado, conhecida
a insolvabilidade, declarassem-se estas dividas pres-
criptas; -e que toda a divida, que posteriormente se
conlrabisse, vencesse o juro da lei.
Lembrou-se autorisar ao governo a annnllar a divida
que reputasse incobravel; ou arrematar, com desconto,
toda a que excedesse de tO annos.
Lembrou-se que, tomando-se am consideração o dis-
posto no cap. ilO das antigas Ordenações da Fazenda,
fosse autorisado o governo a eliminar parte dessa di-
vida que se achasse prescripta, para ao menos poupar
o trabalho material de revê-la annualmenle.
Ainda mais: no anDO de 1851 foi apresentado ã
consideração das camaras, por um de nossos primeiros
jurisconsultos, o Sr. Nabuco. um projecto que poderia
servil" de base para uma reforma do juizo dos feitos,
-70 -

feitas algumas modificações que forão lembradas D'.'


relatorio rio ministerio da fazenda desse anDO.
Mas, a meu ver, seria preferivel a extincção das
varas privativas desse JUIzo; porquanto o que constitue
a sua especialidade é a especialidade da legislaç:iú:
são (IS privilegios da fazenda nacional, a particulari-
dade de seu processo, qye crião e mantém esse estallo
de cousas: o juiz não sahe do ministerio da fazend:l.
não é um agente propriamente sen; é um magi~trado
nomeado pelo ministerio da justiça, como convl~m que
seja.
!'esde. pois. que pelo citado projecto .3 pelas bas6
ofTerecidas em diversos relatarios. a jurisdicçio, fora
das capitaes principalmente, se distribue e p1ssa tam-
bem aos juizes municipaes, deixa d~~ existir a espe-
cialidade do juizo. fica subsistindo apenas a especiali-
dade da kgislaçã, para o julgamento das quest0e~
tiseaes.
Além disso, hoj" já não' se verifica a mór parle dos
inconvenientes que se notarão para legitimar a crea(;)
desse juizo privativo.
Pela disposição provisoria do Codigo deixou d,~ existir
no Imperio o juizo privativo, e começárão as di\'ida~
da fazenda a ser ajuizadas segundo as regras do di-
reito cammum. e por conseguinte a ser tratadas llas
t1iver:::as comarcas fóra do alcance das autoridades fiscaes
da capital. A unica providencia que havia, e quI' Sr
notou, foi a do art. 9~ da Lei de 4 de Outubro de
t83t. que facultava ao governo e ás Lhesourarias a
nomeaç.ão de commissarios. de tiscaes que prO[J}ove~sem
as arrecadações da fazenÔa.
Mas isto hoje se não dá. As questões se resolvem
segundo a legisla(;ão fisca\. Hoje o braço "igoroso do
-71-
ministel'io da fazenda, armado na sua legislação, que
cada vez mais retempera no rigor de seus meios, se
estende a lodos os angulos do lmperio; a sua acção
multiplicou-se e augmentou de energia.
As facilidades das communicações, a repressão dos
crimes nas comarcas do interior, o principio de au-
toridade mais respeitado, fazem desapparecer muitos
dos argumentos que produzirão grande effeito na dis-
cussão da lei do juizo privativo.
Com o desenvolvimento e regularisação que tem tido o
contencioso administrativo, principalmente o fiscal,convi-
ria mesmo passar para a administração publica algumas
questões que se resolvem nesse juizo: e nem deve haver
para isso grande escrupulo, quando muitas dessas passa-
gens ou transferencias a respeito de questões que aliás
envolvem conflictos com o direito civil, têm sido esta-
belecidas por simples ordens do thesouro: não é
portanto para estranhar que, por um acto legislativo.
esses novos principios ficassem firmados, com van-
tagem para o serviço publico e para as parles,
embora talvez um ou outro delles fosse chocar de
le\"e alguma filagrana de direito, mais especiosa que
util e real.
A outra medida que reputo conveniente para não
fazer augmentar periodicamente a divida activa, consiste
em regular melhor o serviço da cobrança dos impostos
de lam:.amentl); fazendo-se uma mais acertada distri-
buição do serviço da cobrança, augmentando-se ao
mesmo tempo a porcentagem dos cobradores, mas
obrigando-os tambem a multas. quando por sua incuria
não recebão as collectas devidas pelos contribuintes.
para o que será conveniente que se exija a declaração
-72-
de uma. tal intimação: a cOÍlrança fica mais trabalhosa,
mas é mais cerla.
Porquanto póde acontecer que um cobrador, por
exemplo, de uma tua de escravos em S. Clemente,
e que tendo por essa cobrança 240 rs., deixe de faé-h,
para não gastar em uma gondola uma pa:;:;agem mais
avultada do que aquelle lucro que a lei lhe dá; e o
resultado é declarar a quantia incobravel, ser ella ia,,·
cripta na divida activa, sem que com justiç.a pudesse
ser inculpado o contribuinte.
Este facto pMe repetir-se a respeito de oulros im-
postos pela mesma causa, ou por outras, que ás VeZ6
se dão e fôra longo enumerar.
Estas considerações referem-se á divida activa. que
tem de ser cobrada no juizo dos feito~, e ás somlIlas
que são inscriptas nos quadros dessa divida pela falta
de actividade e esforço dos cobradores na sua arreca-
dação:- restava ainda lembrar aquella que não tem ido
ainda. para o juizo dos {eiLos e se liquida na directoril
de eontabilidade do thesouro. A respeito desta tenho
a observar, que as Instrucções de 26 de Ontubro Il~
t866, que eJlpedio S. Ex. o Sr. conselheiro Zacllarias,
têm produzido um bello resultado; e é de crêr que,
continuando S. Ex. a prestar sua esclarecida. attenç.ão
e energia para este pODLo. consiga vêr essa medida
corresponder ainda melhor á sua espectativa.
Emiuão de bilhetel do thesouro.- Para oecorrer ao
deficit que em 1839 desequilibrava o orçamento, foi
lembrada a emissão de bilhetes do t.hesouro debaixo
do seguinte systema:
« Art. 4.° Para sopprir a deficiencia das rendas ordi-
narias dooretadas n"" referida lei (a lei do orçamento)
lW'a as despezas do anno corrente, o governo emittirá
- ~
/,)-
)

na circulação, á propOl'ção que o fôrem exigindo as


necessidades do serviço. bilhetes do lhesouro de curso
forçado, os quaes serão recebidos como moeda nas
estações publicas das provincias, onde tiverem curso
legal.
(( Art. 5. 0 Estes bilhetes serão fabricados com a maior
perfeição para que não possão ser falsificados: ven-
ceráõ o juro annual de 7,3 por cento, correspondente
a ~ rs. diarios por caua toog, o qual irá declarado
nos mesmos bilhetes. e será pago no dia do venci-
mento delle~.
'( Arl. 6.° A circulação destes bilhetes fita limitada ás
provindas do Rio de Janeiro. Bahia. PernamlH1co.
Maranhão e ã cidade de Santos; serão dos valores de
2~. !lOO~, 5001li e t :000'. aceitos pelo thcsoureiro
do thesouro publico. rubricados pelo inspector da caixa
da amortizaçl0. e assignados por dous membros da
junta da caixa. os qlJaes não poderão assignar além
da sornma decretada nesta lei, sob pena de so tor-
narem responsaveis. bem como o inspector da caixa, e
o thesoureiro geral, pelo valor do excesso da emissão.
« Art. 7.° Asomma total será emittida com os prazos
de 6. t~. t8 e i i mezes; c dentro de cada semestre
se irão resgatando a porção equivalente, producto das
seguintes r&odas, que fic;.10 exclusivamente applicadas
ao resgate:
I( Art. 8. 0 Os bilhetes resgatarlos dentro de cada se-

mestre, serão no fim delle entregues ã caixa d'amor-


tização para proceder na queima com as solemnidades
marcadas na lei de t I do Ou'ilbro de f 837.
cc Art. 9.- Se as rendas arrecadadas em cada semestre
não bastarem para resgatar os bilhetes que nelle se
-'il-

vencerem, o excesso denes sobre a renda será refor-


mado, pagando-se nesse acto o premio "encido_
« Art. 10 Aemissão dos acluaes bilhetes não poderá
mais ter lu~ar desde que estiverem promptos os novo~
bilhetes, ficando revogado o art. t R da Lei de II de
outubro de t837 - »
Esta medida, porém, não foi aceita; o governo leve
autorisação para usar de outros meios.
Em 1842, pelas Instrucções de fS de Janeiro desse
anDO, tratou-se de restabelecer a idéa de t839. em-
hora modificada; mas parece que não surtio ella (I
desejado resultado.
O mecanismo da emissão era algum tanto compli-
cado: não otIerecia grande incentivo nos pequenos lu-
cros que dava, e isso em uma élloca em que os capitaes
acha"ão faeil, segura e mais rendosa applicacão, apezar
das complicações financeiras do Estado_
Os bilhetes do thesouro tiverão mais tarde outra or-
ganisação; e aql1ella que se acha agora em vigor pre-
enche sem maiores inconvenientes o fim que se te\'e
em vista, e satisfaz aos interesses dos depositanle~;
cumprindo-nos observar que estes bilhetes não sã,)
propriamente emittidos por antecipação de receita; elles
constituem verdadeiros empreslimos a curto prazo; e
os capitaes que elles representão são os que puderão
escapar da criso de Setembro de t86~, os quaes. 011
por falta de emprego seguro, ou pelo receio de risco,
forão abrigar-se nos cofres do Estado, e por t.al sorte
que, se em lugar de fixar-se então o juro de 6 °ln,
o governo. no comêço do recebimento, o~ estabele-
cesse na razão de 4 ou 5 °/0' ainda assim elles serião
alli depositados.
Ao depois as circums'ancias modificarão-se: o pani.:o
- ifi-

desappareceu. embora ainda exista a falta de confiança;


e hoje todo o juro que fosse menor de 6 ./. não acharia
grande aceitação.
Entretanto o actual systema de bilhetes do thesouro
podia talvez ser melhorado, de modo a offerecer ao
thesouro mais variedade no uso desse expediente fi-
nanceiro.
Na Inglaterra os bons do echiquier sofIrêrão uma mo-
dificação ha pouco tempo, e sem que eu me proponha
a emittir um juizo a respeito da applicação de seu sys-
tema no Brasil, parece-me a materia tligna de ponde-
rac.ão.
Em i 8ftt, diz um escriplor, o parlamento inglez
a(lop10U novas disposições a respeito dos bons do ech i-
guier que os approxim:!, dentro de certa medida, do
lypo dos bilhetes de renda.
Eis aqui a traducç.ão litteral do texto impresso nos
proprios bons (Exchequer billa) :
« f tOO.
« Este bon 110 echiqllier dá direito a M....• ou á
{( sua ordem, a rer,eber toO f no banco d'Inglaterra
« sobre o fundo consolidado •. na expiração de cada pe-
« riodo de t ~ mezes tlurante:; annos, a partir da data
« abaixo. O juro deste bon será pago todos os 6 mezes
« no banco d'Inglaterra, pela taxa que será de tempos a
« tempos publicada na Gazeta de Londres, aos cuidados
(( do commissario do thesouro. ))
« Este bon póde ser dado em pagamento peja somma
de tOO f, e mais os juros vencidos, aos recebedores
em pagamento de qualquer taxa, auxilio, impostos ou
conta do cchiquier no banco ti'Inglaterra, em qualquer
épút;a dos ultimos 6 mezes de cada anno, a começar
do dia em que este bon tiver curso em virtude da lei.
-71\ -

« São acompanhados de coupons com estas palavras:


- Este COlllJon dá. direito ao portador a. receber os juros
da somma acima declarada, pelo semestre vencido.
« O limite da emissão destes bons foi fixada em
f3.230.000 ,f, e o banco pUde adiantar dinheiro atéa
conclIlTencia desta somma COIUO soure devositos t1est~
titulos,
« Esta combinação é perfeitamente concebida IJara
manter os bOBa do echiquier ao par, ~lOrquanto não
sómenle o detentor está certo de adquirir o seu ca-
pital pelo reembolso a curto prazo, mas, a.lem disso,
elIe pMe remetter ao governo em pagamento uma ,'om-
ma de tOO ;f. o que equivale a um reembolso imllJe-
diato.
« Comtudo, a variabilidade da taxa do juro tira a
este titulo uma parte do seu merito como agente da
circulação. Com um juro fixo de 3,60 por too, e uma
amortização de mais longo vencimento. os bOB~ do
echiquier se sustentarião lambem ao par e vassarião
mais facilmente de mão em mão para as permuta-
ções .
• Os bons do echiquier creados por M. r.ladstone ,
sendo todos reembolsaveis no fim de t 2 mezes, eft
preciso poder ele\'ar o juro á taxa do mercado para
evitar grandes pedidos de reembolso. O juro fi,\o
exigiria uma amortização por tiragem á sorte.
I( Seria para desejar que bilhetes ue renda f05St'ID
emittidos pelos diversos Estados ... »
Nos Estados-Unidos, para dar tempo ao go,'eroo plrcl
esperar a realização dl)s recursos que lhe proporcil1•
nou o congresso, por acto de 25 de Fevereiro de IM~.
autorisou-se a emissão de bons resgataveis 110 11m de cinco
annos, e pagaveis a vinte aonos de sua data. AJ~m
-77-

disso autol'isoo-se a emissão de bilhetes dos E8lados-


Unidos. destinados a supprir a moeda metallica.
Não forão só essas duas especies de emissões de que
lançou mão o governo daquella nação; muitas outras
em quantidade prodigiosa se derão.
Assim, emittirão-se certificados de dividas ou obri-
gações pagaveis dentro de um anno; recebêrão-se de-
positos por 30 dias res~ata"eis com to dias de aviso.
E Mr. Chasse, depois de ter obtido do congresso a
precisa permissão para dividir uma somma de 125 mi-
lhões em bilhetes de quantias inferiores a 25 francos,
lançou na circulação especies de sellos de correio de
:; centimos iI cent. ou a centesima parte de um doBar).
sem curso forçado entre os particulares, mas aos
quap,s substituia-~e á vontade sellos gommados para
franquear as cartas e os jornaes: era uma maneira
de tornar convertiveis em moeda, bilhetes de um valor
imperceptivel.
Empregárão ·se todos os meios e expedientes para
crear recursos ao thesouro, principalmente o papel-
moeda, de que se usou e abusou na maior escala.
« ~o fim da guerra, diz Bigelow, as finanças dos
Estados-Unidos se achavão nas condições as mais des·
favoraveis; o papel continental, cuja emissão, autor i-
sada pelo congresso, representava sommas enormes e
fôra de proporção com as estipulações de amortização,
soffreu tão grande depreciação. que quasi não U-
nha valor algum: 500 dollars em papel apenas bas-
tavão para pagar um simples almoço. Emissões consi-
deraveis de bilhetes falsos tinhão contribuido para a
depreciação deste papel, de que uma parte nunca foi
reembolsada. »
Quando se CCMDpara esta Situação com a do Brasil,
-78 -

reconhece-&e quanto tem sido honesta e discreta a nossa


administração da fazenda.
PapeZ-moeda.- Segundo o relatorio do mini::lerio
da fazenda, o papel em circulação (bilhetes do gÚ\WOO
e dos bancos) é deI 18,498:85<i~OO.
Comquanto seja esta. sornma avultada, não é por
ora tão extraor(linaria e excessiva, flue deva causar
pavor _
Quando a nossa renda p,ra de 35 mil contos, tínha-
mos 46 mil contos de papel-moeda: hoje, que a ri-
queza publica tem augmenlado. que as transacçill:'s se
aellão mais desenvol,idas, e a nossa renda é de Gil
mil contos, a somma de papel circlllanlp, nã'l pode
inspirar temores.
De\'ernos lemurar-nos que o nosso comlllercio t.' a
ntlSSa industria tomárâo nestes ultimos dez anuos um
grande desemohimento: muitos lugares auandonados,
ou de simples transito, fÓfmão boje grandes povoados,
cujo movimento de transacções cousome ou enlre!i'rn
uma certa somma do meio circulante; sirvão de exem-
plo Iodas as po\'oaçúes que Sl~ fundárão ao IOllgLl da
estrada de ferro de D. Pedro II, e as de outras e~­
tradas de ferro; as que se creárão nas margens Ik
alguns rios, cuja navega.ção tem sido ultimamente fran-
queada. E no Amazonas, que dentro de Ires mcze~
tem de ser franqueado a todas as bandeiras, muitas p'"
voações se desenvolveráõ igualmente, e nellas achará
grande emprego o meio circulante.
Portanto, se a emissão é grande, ella tem achado,
e póde aehar derivações; de modo ql1e sua deprecia-
ção, se houver, não será consideravel_
E como o direito emissorio passou do banco do BI'l-
-71l-

zi! para o go\'el'Oo. ha tudo a esperal' que o ministerio


da fazenda saberá fazer de uma tal faculdade o uso
conveniente; não devemos, pois, receiar abusos.
E nenhum meio é hOJe tão facil, e diremos mesmo.
tão conveniente, no presente estado de cousas, como
a emissão do papel-meeda; uma vez que, cessada a
guerra, tenha o governo a prudencia de retirar da cir·
culação a parle desse papel que se tornar excessiva,
e superabundanle para as transacções commerciaes e
as necessidades da publica administração.
Devemos ainda reflectir, que a<; transacções com-
merciaLs exigem hoje para seu alimento uma somma
de meio circulante maior do que a que se empregava
anles da cri~c dt~ Setembro de f86.í, e isto porque
diminuio extraonlinariamente o numero !las cont::lS cor-
ren!cs com a fallcncia das casas bancarias.
DemaiS, cOllsta do relatorio, qne o valor da im-
portação no anno ue 1865-6ti foi de 138,095:96~,
maior que o de t864-ü5, 6,4!)5:500~, e que o termo
médio dos cinco annos anteriores. O valor da expor-
laçilo foi, em tH65-66, de 157 ,Ot6:\85~, maior
que o do anno de 18M-65 t5,948:0t~. e que o
do termo ml'dio dos cinco annos anteriores.
A balança commercial apresentou, pois, um grande
saldo em nosso favor, de 19 mil contos.
Esle saldo só póde ser pago, ou com numerario,
ou com a permutação de productos de valor equiva-
lente. Se a conta se balanceou segundo a primeira
hypothese, é evidente que tivemos uma importaç,io
de metal que virá impedir que o camIJio ba ixe
mais, e ,.. irá consolidar a circulação do paiz, e
facilitar ao governo os meios de trocar pelo seu papel
esse metal de que precisa para. a guerra do Paraguay:
-~-

se, porém, se verificou a segunda hypoti::lese, amda


assim nada houve a perder; e, equilibradas as trans-
acções, gozaráõ as praças do Imperio do credito e da~
larguezas resultantes da sua qualidade de credôras plra
continuarem os seus negocioso
Bem se vê que, formando esle raciocinio. que me
parece exacto, eu não tive á minha disposição todos
os elementos que erão de mister para apreciar de uma
maneira rigorosa esse movimento em todas as suas
partes. Não tive á mão todos os esclareci menlos, nem
o tempo me permittia colligi-Ios.
Persuado-me. porém. que, examinando-se esta ques-
tão em todos seus detalhes, chegar-se-ha á mesma
conclusão que acabo de enunciar.
Credito publico. - Parece-nos que não pouemn~
prescindir do uso de nosso credito, senão desde já.
dentro de um futuro proximo.
Depois das condições onerosas com que contrahirn(l~
o ultimo emprestimo na praça de londres, seria te-
meraria qualquer tentativa que agora fizesscmos.
sobretudo para ser o capital que levantassemos ll1;,-
sumido em despezas de guerra com o Paraguay.
Mas depois de terminada e11a, depois de votados t)~
impostos e de assim desassombrado o governo dI'
maiores difficuldades e armado de meios, poderá ft'-
correr á praça de Londres e á da Hollanda para ne-
gociar, não pequenos emprestimos que nos obriguem
a repetir taes pretenções com depreciação de nos:.o
credito e prestigio, e sim uma grande operação que
melhore todos os nossos titulos da divida exlt'rna e
nos dê alguns recursos para emprehendcrmCl:- l'c11l)$
melhoramentos importantes de que carecemos, a exem-
plo do que praticou o Sr. Bastoggi em relação 3.0S
- 81-

titolos de divida dos diversos Estados que boje íór-


mão o reino da Ilalia.
Segundo o relato rio, a nossa divi~a externa é pre-
sentemente de:fH.~t7.500, ou, pouco mais 9U me-
nos, 150,000:000". As despezas de juros, commis-
sões e corretagens que devem pesar sobre o exercicio
de 1868 a t869, são orçadas em 8.277:00ã.Uã, não
comprebendendo o emprestimo de t839, que se vence
em Janeiro de 1869, e que nesta ultima data será
da importancia de :f ~77 ,800.
Ora o augmento de impostos indicado pela til com-
missão da carnara dos deputados do anDO passado,
era orçado em cerca de 10,000;000": e como novo
augmento tem este anno de ser votado, e a renda
tem sido progressiva, parece-nos que o governo ficará
babilitado para occorrer ao pagamento dos juros de
Ioda a nossa divida externa, e por essa fórma poderá
manter com dignidade o nosso credito na praça de
londres e tranquUlisar os possuidores de nossas apo-
Hces.
Mas não basta isso: cumpre fazer diminuir os onus
do tbesouro, e promover alguns melhoramentos que
devem produzir o desenvolvi~ento de nossa industria
e riqueza, e o augmento da receita g~al d'abi re-
sultante.
Esse meio, .como dizemos, é u~ grande empre!\timo
em q\1e sejão refundidos todos os anteriores, inclusive
a pequena parcella do de t83~.
O governo, e o negociador terão bastante sagacidade
e criterio para regulare.m as suas condições, e es-
colherem a occasião mais opportuna; mas cremos
que ctuas dessas condições podem desde já ser apon-
tadas: - o juro não ~eve ser maior de 4 IIi, e o em-
s. F. 6
-82-
presUmo deve comprebender a importancia de todos
os oulros reunidos.
Ainda mais, nessa occasião. convirá pedir mais
tO, !lO. ou 30,OOO:OOO~. que sejão dados integral-
mente, se fôr possivel, e que sinoão para estender os
ramaes de nossas estradas de (erro, e promover outros
melhoramentos semelhantes, e bem assim a coloni-
sação ou a emigração em grande escala, não de um
só ponto da America, mas de diversos paizes. apro-
veitando principalmente a boa disposição d~ emi-
gração para o Brasil que actualmente tem as popula-
ções do Sul do~ Estados-Unidos.
Esta medida. por ser vasta, não deixa de ser p.xe-
quiveI.
Por meio deste grande empreslimo, diminuiriam0s
os onus do thesouro, reduzindo a 4 1/2 % os jurus
das sommas de que hoje pagamos iS ./. e e~paçariamos
para um futuro mais remoto os compromissos do pre-
sente.
A medida de que se trata sotrreu já algum rf'paro
e censura da imprensa; mas, bem longe de a nJt~re­
cer, parece-nos que é digna de ponderação.
Não ha quem desconheça que quando se le"anta
um emprestimo se tem muito a considerar o capital
e o juro do titulo ou apoUce que se emilte: alguns
escriptores aconselbão que se sacrifique o capital ao
juro, e outros opinão pelo systema inverso: mas quer
em um systema. quer em outro, a primeira condiç.io
para o bom exilo da transacção, é o prestigio, o as·
dilo que goza a nação negociadora.
Entendemos que o Brasil não pMe nem deve tü-
mar nenhum dos extremos; não deve preferir um juro
mini mo. como tem seguido a Inglaterra. nem COll~t'r·
-83-
var-se perpetuamente no de 5 elo de alguns de seus
emprestimos.
Não poderiamos sacrificar extraordinariamente o va- .
lor do capital para termos um Juro minimo, porque
seria lançar enormes onus sobre o futuro, quando
tivessemos de amortizar as nossas apolices; nem as
nossas circumstancias e posição no mundo politico
nos poderião proporcionar occasiões para vêr aceitos
titulos que dessem apenas de juro 3 elo, como são os
titulos da divida ingleza.
Pareceu-nos, por isso, que deviamos collocar-nos
em uma posição média, tanto mais plausivel que já
temos titulos de nossa divida externa de 4. t/i 0/••
De todos os alvitres que podião ser lembrados a
respeito deste grave assumplo, foi este o que nos pa-
receu mais razoavel, e tanto mais conveniente, quanto
é certo que o thesouro do Brasil, pelas bruscas oscil·
lações de nosso cambio, soffre grandes prejuizos com
as remessas das som mas que semestralmente tem de
ser destinadas para o pagamento dos juros de nosSa
divida externa.
A operação de que se trata não é perfeitamente
identica á de que tem lançado mão algumas nações
em occasiões criticas; ella, pelo contrario, teria de
ser tomada em circumstancias diversas para produzir
resultados ditIerenles. Eu me explico.
05 governos servem-se do meio da conversão dos
titulos de maior juro por titulos de menor juro em
tempos prosperos em que o credito é amplo, e se
pretende sua visar os onus dos empreslimos contrahidos
em tempos menos favoraveis. Para etIectuar-sa esta
operação é de mister que se olIereça aos credores,-
ou o reembolço immediato, 00 a reducção do juro: do
-84.-

~ntrario, sem esta opçio, a oenverção nãe ~ri;\ DeIll


licita, nem moral; não pas...o.aria de uma espoliação
disfarçada.
Operações deste genero forão, ainda em ISU. fei-
.tas na Belgica, na IDglaterra, e no antigo reino dai
Duas Sicilias.
Às \'eles tambem se tem usado da conversão por
am acto violento, quasi sempre revolucionario: mas
&este caso é uma medida insustentavel, que con~ljtue
a declaração da banca-rõla, e que só um gov€'rM
dasmoralisado, e eorrompído pMe tomar.
A medida que lembramos produz o resultado da
conversão do juro de 5 "I. em 4. 1'2, mas por oeca-
sião de um grande ·emprestimo; não é parcial, e rea-
liza-se no momento de operar-se a substituição de
1odos os títulos da divida externa. r. bem se vê, que
o governo, não ui direclamenllJ dirigir-se aos pússui-
dores dos seus bonds para ajustar com clles a reduc-
f;ão do juro ~ levanta um grande capital e em virtude
-deUe emille apoUces de 4. 1/'J. ·/~.
Os possuidores dos titulos antigos terão de escolher
- uma de duas cousas, ou tomar os novos titulos,
ou recéber a importa.ncia dos que possuem.
A operação é difficil e melindrosa; mas é por isso
que seria temerario, e até ridiculo lenta-la sem achar-
se o credito do Brasil na praça de Londres escudado em
som mas avultadas. Não é uma operação para hoje:
é sim para quando a guerra terminar, e occasião op-
porluna se offerecer.
Qua.ndo a primeira vez sQ5citamos esla idéa em um
officio .qoo dirigimos a S. Ex. o Sr. ministro da fa-
aenda~ não pudemos, ~r falta de lempo, expõ-Ia
-96-
desenlolvidamente. Mas pelo que agora 8lpen4emOs
se verá todo o DMSO pensamento.
E aCITesreotaremos que se a Republica d() paragnay
fosse uma naçoo rica, ou pelo menos de Rrandes re-
cursos já explorados; se as Repuf)Jieas Oriental e Ar-
gentina que lem augrnentado com a guerra a sua ri-
queza -, e ás quaes fizemos grandes empreslimos-,
pudessem ou quizessem pagar o que nos devem, nada
seria tão facil como a realização da medida lembrada.-
Duas palavras bástão para o demonstrar.
Segundo o relatorio do ministerio da fazenda. forão
votados, para occorrer ás despezas da guerra, os
creditos concedidos. pelas ResoI. n. 224fa. de ~6 de
Junho de tS65, ns. t3aO e t33i dLl ~4 de Agosto
de t866, n. 13;;2 de 19 de Setembro de {866, todos
para prefazerem a somma de tO~.594:451~. Por
conta dessas au torisações tem o governo obtido re-
cursos na importancia de 64,367:262~.
Como despezas exclusivas da guerra, temos o direito
de exigir indemnisações do ParaRuay que as provocou.
O Paraguay não tem, de certo, meios para pagar-
nos sornma tão av ultada, a qual ainda assim não re-
presenta a totalidade da despeza que temos feito:
mas quando a guerra terminar, o governo tem o direito
de fazer recon becer a divida, de obriga-lo a emittir
titulos della, de procurar hypolhecas que garantão o
pagamento de seus juros, e, em ultimo caso, negociar
esses titulos onde puderem ser aceitos, ainda com
grande abatimento; pois que se o Paraguay tem sido
até hoje uma simples feitoria ou fazenda de Lopez,
póde ainda tornar-se uma nação prospera e rica, e
acbar quem temporariamente queira os titulos de sua
divida consoUdada.
-
-so-
Já se vê, qae esta somma. ainda quando soffresse
um abalimento de 50 °/0, e fosse reunida as que nos
devem a Confederação Argenlina e o Estado Oriental,
formarião uma base importante, um recurso consideravel
para, reunido a outros. habilitar-nos a tentar em
Londres ou na Hollanda a medida que lembrá.mos.
v

Os meios indicados não podem dispensar a reducção


de algumas verbas de despeza que não sejão reputadas
urgentes. e a suppressão de outras.
Neste intuito passamos a indicar as segniotes:
Companhia de esgoto.-Pelo orçamento do ministerio
das obras publicas para o exerci cio de 1866 a 1867 foi
calculada em 8i6:ti~ a despeza a fazer com o asseio
e esgoto das aguas de 1,46i predios, a 6()J cada um,
segundo o contracto feito com a companhia City Impro-
vements.
Esta despeza é de certo avultadissima, e tem de durar
por espaço de 90 annos. Posto seja resultante de clausula
expressa de contracto, conviria ver o modo de re-
duzi-la.
Pela Cond. 3·, § ,. do contracto apl'rovado pelo
Decreto n. 1929 de i6 de Abril de 1857, o governo
obrigou·se a pagar á companhia 42~ por cada um dos
predios sujeito!\ ao imposto da decima urbana em Que
o syslema de despejos se achasse em execução. Mas esta
taxa, Que já não era pequena, foi elevada a~. por
Decreto n. 2835 de ti de Outubro de 1861.
Para fazer face a essa despeza a Lei de i8 de Se-
tembro de 1853, arl. U, S 3°, autorisou o governo a
elevar a decima urbana na proporção necessaria. Como,
porém, a realização dessa medida recahia com des-
igualdade sobre os contribuintes e apresentava muitos
outros inconvenientes, enlendeu-se acertado fazer re-
-88-
vogar a autorisaç:io, passando a despeza a ser feita pelo
recurso das rendas publicas, sem para isso haver uma
taxa com especial applicação; e foi essa solução a que
aceilou o art. 9° do projecto.
Seria de bom conselho estudar o meio de diminuir
esse onus que pesa sobre os cofres publicos. uma vez que
as DO~Sas circuIDstanchls financeiras não permiUem que
se resgate o privilegio. E em todo caso paI eoo evidente e
indispensavel que se não ampliem os districtos, para
não (azer ainda mais elevar esse algarismo já tão con·
sideravel da despeza publica.
Melhoramento da agricultura.-A lei do orçamento
n.f245 de 28 de J:meiro de t865, consignou 400:0001)
para esta verba de despeza. Mas nas circumstancias me-
lindrosas em que nos achamos convem supprimir esta
verba.
Illumirzação a gaz.-A despeza tom esta verba é.
em numeros redondos, de M6:~.
A portaria do ministerio da justiça de 5 de Dezembto
de t854. marcou as distancias que de\'ião haver enlre
os lampeães; mas essa determinacão foi ultimamente
modificada.
Pelo contracto de H de Marco de t Stt7, a dura~,ão
da companhia ê de ~5 anDOS, dos quaes eslão ven-
cidos t li; e por Decreto de fj.7 de Abril de t 865,
passou o serviço a ser feito por uma companhia in-
gleza, á qual forão transferidos os direitos e obriga-
ções constantes do citado contracto.
É para lJesejar Que o governo, entendendo-se com
a companbla, trate dá reduzir a despeza.
Obras publicas geraes e au:r:ilio ds províncias _- O
algarismo constante do orçamento ele,a-se a t ,OOO:()O()f.
-81)-

Parece que alguma reducção se pôde e deve aqui


fazer.
SublJenção ds companhias de navegação por vapor.
-A despeza orçada é de 2,723:~. Quando não li-
nhamos esquadra havião razões de conveniencia poli-
tica que aconselhavão as fortes subvenções ás companhias
que se destinavão a estabelecer a navegação a vapor
em todo o nosso littoral : hoje essa necessidade diminuio
consideravelmente, e esta verba pôde soft'rer uma re-
ducção.
Commissão scientifica de exploração de alguma8 pro-
"incias. -A conservação desta verba não tem justifi-
cação, deve portanto ser supprimida.
..4rsenaes.-É nos arsenaes que se deve fazer a maior
reducçãO.. Acabada a guerra, é de toda a necessidade
diminuir a despeza que com elles se faz.

Taes são os meios que, empregados conveniente-


mente, poderão em nosso conceito melhorar o estado
financeiro do paiz, que acaba de ser exposto no re-
latorio.
~ão constituem elles de certo o fiat lux da creação:
não basta decretar essas medidas, para ver as finanças
restauradas: é uma questão de tempo, de perseve-
rança, e em que os calculos poderão falhar, se os ele-
mentos da natureza nos não vierem em auxilio.
-
APPENDICE

LEGISLAÇÃO PORTUGUEZA

o IMPOSTO PESSOAL.
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Carta de lei de ao de Junho de 1868
Dom PMro, por graça de Deos. Rei de Portugal e
dos Algarves, etc. Fazemos saber a todos os nossos
subditos que as côrles geraes decretárão e n6s que-
remos a lei seguinte:
Artigo 1.0 Fieão extinctos desde o to de Janeiro
de t861 em diante os impostos denominados de criado.
e cavalgaduras e quatro por cento sobre a renda
tias casas, assim como todos os addieionaes e sellos
de conhecimentos pelos respecUvos impostos, e substi-
tuideI por uma contribuição, que se denomioat'ã pesllOal,
nos termos da presente lei.
Art. ~.o A C8ntribui(io pessoal cempõwe:
t.- De taxas fixas, re8U1adas pela IabeUa asneu qae
faz parte da presente lei.
oj. o De uma poroentagem complementar sobre a renda
Oll va10r locativo das casas habitadas, que exceder a
toJOOOnas terras de primeira ordem, t5~ Das de
segunda, t ~ nas de terceira e quarta, e :s~
DaS &erras de quinta e sexta ordem, no reino e Hhas
adjacentes, a qual porcentagem complementar será fi-
uda aonualmente DOS termos da presente lei.
S t..o A ordem elas terras a que se refere este artigo
é a que 88 aeb.a estabeleoida no art. ,. da lei de eon-
&Mnição induslrial•.(1)
S i.o Exceploão-se da disposição do n. ~ deste
artigo os paços episcopaes, as casas de residencia dos

li) E DO al1. to § IOdas ltuWllCfÓII f'C9M~U , de 7 de


Julbo de t863, que se &egll8m a es&a lei.
-94-

parochos, OS conventos das religiosas, e as casas em


que as camaras municipaes, juntas de parochia, mise-
ricordias, confrarias e outras instituições publicas ~
piedade ou instrucção estiverem estabelecidas.
Art. 3. o As taxas de que trata o n. t o do artiF
antecedente recabem:
L° Sobre os criados do sexo masculino;
~.o Sobre cavallos, égoas ou muares;
3. o Sobre os vehiculos destinados ao transporte de
pessoas.
Art. 4... Exceptuão-se da disposição do D. to do
art. 30 : .
1.' Aquelles que sõ accidentalmente fizerem serviçt)
de criados;
~.o Os criados ou moços dos forneiros e padeiros,
os amassadores e moços de fornos, os moço". boleei-
ros e cocheiros de seges e carruagens de aluguer.
os serventes e moços de casas de pasto, hospedarias,
lojas de bebidas e outras analogas, e criados empre·
gados no serviço da agricultura e nos hospitaes e esta-
belecimentos pios (~).
Art. 5." Exceptuão-so da disposição do n. 2° do
art. 3°.
L° Os cavallos, égoas e muares que liverem praç.a
no exercito, e os das pessoas a quem o estado os con-
cede ou obriga a ter para desempenho dos seus cargos;
~ •• (Lei de 20 de Junho de 1863 art. to ~ unico).
I( Os cavallos, égoas ou muares que se empregarem

(i) Lei de to de Junho de 1863. • Art. 2.0 São comprdJrlll!i,h'S


nas isenções de que Lrat:l o II. i" do art. 40 da Carla ,Ie Lpi tle
:lO de Julho de lFl6O, sobre contribuição pegsoal. os ('fiadus qll-
Ilregados 110 s,'rviço dos collegios de instruc~\ào e t,.lul'aç..1v.
-95-

principalmente no serviço da agricultura ou da industria


fabril (3).
« Esta isenc.ão é applicavel ás terras de i", 2., e 3a
ordem. »
3.° As égoas de criação, os poldros até quatro annos,
e os cavallos destinados á padreação;
4.° As cavalgaduras de carga ou transporte.
Art. 6.° Excepluão-se da disposição do n. 3° do
art. 3° os trens de aluguer.
Art. 7.· Ficão sujeitas á contribuição pessoal todas
as pessoas nacionaes ou estrangeiras que residirem DO
continente do reino e nas ilhas adjacentes.
§ unico. Exceptuão-se:
t.. Os membros do corpo diplomatico estrangeiro
em effectivu serviço;
2. o Os agentes consulares de paizes estrangeiros que
não tiverem em Portugal rendimento algum além do
que lhes provier do seu emprego.
Art. 8.° A contribuição pessoal começa a vencer-se
desde o principio do trimestre em que o contribuinte
tiver no concelho algum objecto sujeito ás taxas esta-
belecidas no n. to do art. 2° ou por sua conta alguma
casa habitada por elle ou arrendada; e cessa de ven-
cer-se desde o princivio do trimestre em que o con-
tribuinte deixou de ter objectos a ella sujeitos.
Art. 9.° O lançamento e distribuição da contribuição
pessoal far-se-ha por concelhos, e compete á junta
dos repartidores da contribuição predial, com reclama-
ção para a mesma junta e recurso para o conselhn de
Estado nos termos da presente lei (4).

3) Artigo n. 2.' O, ('av~lIos, égoas ou Illuares que se empre-


garem prillcipalruenlt' no serviço (la agricnllura ou da industria.
,4) Este artigo foi alterado pelos arls. -i" e 50 da Lei de 7 de
-96-

§ 1.0 Haverá .em cada concelho informa.dores-Iou-


vados especiae::; para o serviço desta contril)ui~.ã.o,
nomeados annualmeute pelas juntas (5).
§ 2. Cumpete ás mesmas aUloridades a imposição
0

de quaesquer multas a que possa dar lugar o lanç~­


mento ou a repar~ição da contribuiçã.o pessoal (6j.
ArL. 10. Far·se-ha em cada concelho um arrola-
Jaenw geral de todas as pess0a5, que nos termos da
presente lei estiverem sujeitas á contribuição pessoal,
que se denominará matriz da contribuição pes8odl, a
qual matriz servirá para se lançar e distribuir a mesma
contribuição.
§ 1. Esta matriz será feita pelo escrivão de fazenda
0

do respectivo concelho, tomando por base no primeiro


anno o ultimo lançamento das contribuições el.lincl.1s
por esta lei, no qual fará, ex·oflicio, ou a reclamação
de qualquer cidadão contribuinte, todas as alterações que
a mudança de circumstanoias dos individuos aJli collec·
tados ou as novas provisões desta lei tornarem nec·:s-
sarias. Feita a primeira matriz será esta tomada para
base das subsequentes.
§ 2.° Nesta malriz declarar-se-ba :
LO O nome da pessoa sujeita á contribuição pes-
soaI;
2. o ;1 sua morada;
3. 0 A ordem da terra em que reside;

Rlho de !86i!. No caso de que se Lrala cabe recurso da Jwllã


para o concelho de di3tricto, e deste para o concelho de f'~t3Jlú.
sem elJeito suspensivo, nos prazos marcados 1I0S arls. ~:l. ti) "
7. das j1 ciL. In.</rucçótt reguLamm.oret de 7 de Julho dI' IBM.
(II) V. cit. instrncçóes arts. 16 a !!3 e M,95 e tOO.
(í3) \:. cil. ifUlrllcçóel arts. 9' a 106.
-{fl-

4. o O facto ou factos sobre que recahir a contri-


buição.
Art. 1~. A matriz, depois de feita pelo respectivo
escrivão de fazenda nos termos do artigo antecedente,
será patente aos contribuintes no tempo e pelos prazos
que os regulamentos fixarem; e das reclamações que
não fôrem satisfeitas pelo escrivão de fazenda haverá
recurso para as juntas dos repartidores da contribui-
ção predial, que as julgará nos prazos estabelecidos
nos mesmos regulamentos (7).
§ unico. Como as rectificações (8) feilas pelas juntas
dos repartidores fieão as matrizés concluidas para por
ellas se fazer o lançamento e repartição da contribuição
pessoal do anDO respectivo nos termos da presente
lei.
Art. t2. A importancia da contribuição pessoal será,
sobre proposta do governo, votada annualmente pelas
côrtes e reparlida pelos districtos administrativos.
Arl. ~ 3. (3° da cito lei.) « A porcentagem comple-
mentar da contribuição pessoal, de que trata o art.
io da Carta de Lei de 30 de Julbo de 1860, será de-

(1; As disposições deste arlgo forilo alteradas pela supracilada


Lei de 1 de Julho de 186!, art. 4°. A matriz depois de feita pelo
escrlvilo de fazenda, ê por este entregue á junta dos repartidores,
que a fará patente aos contribuintes nos prazos legaes, para elles
reclamarem perante as mesmas juntas o que tiverem por con-
veniente. Neste caso faz parte da junta um vogal nomeado pelo
governador civil, e o escrivilo de fazenda nilo tem voto nas deci-
sões das reclamações. Destas decisões ba recurso para o concelho
de dislrirto, e deste para o concelho de Estado, mas sem elJeHo
sllspenslvo.-V. cito iMtn&CÇÓU arls.3i a tiO.
(8) Estas recUOcaçôes só pódem SPI' feitas depois de iUcididus
fJS recursos pelo concelho de districlo. Antes disso nio se juigio
cOllcluidas as ma\rizes.- V. cit. iM&r. arts. 1S1, 1S9 e 60.
s. F. 7
-~-
terminada annualmente em cada districto pelo respecti\'o
delegado do tbesouro. » (9)
§ unico. Ao contingenle tie cada concelhn accre~cerá
a quantia que no anno precedente tiver sido annullada
por indevidamente collectada (tO).
Art. H·. (4,0 da cito l~i l. (.( Para os eífeitos do
artigo antecedente o delegado do tbesouro adopLlrá
para base do calculo a importancia das taxas fixas do
anno anterior, e comparando-a com a importa.ncia lutal
do contingente designado ao districto por lei, tomará
a differença, e comparando esta differenca com o valor
total locativo das casas de habitação sujeitas á verba
complementar no anno anterior. fixará porcenL1gem
de que trata o artigo antecedente, que será. a mesma
para todos os concelhos de cada districto.
§ nnico. Se pela operaçio a que se refere esle
artigo se cobrar maior importancia do que a autorisada
por lei ao districto, será a differença a. mais deduzida
do contingente do anno futuro; se pelo contrario (,jr
inferior será a differença a menos addicionada ao dito
contingente. » (U)

(9) Àntigo ar'. t3, pr. • As juntas gel'aes de distrktn r~pu'


tlráõ pelos respectivos concelhos o contin"ente que por \p\ p.;r·
\encer aos seus dislrir,los administrativos. Sendo a porcelltagem
complemen&ar determinada pelo delegado do tbesouro lião tem
a8 juntas que repartir, porque as luas fixas estão reparlid.ls
por lei.
ílO) E a importa:lci:\ d03 vencimentos dos escriptnrarios t1Q~
escrivães de fazenda.
(H) Antigo ar/o U •• As camaras munieipaes poderã(l ft'.·nlT~r
fiara o concelho de estado da rcpartiç.ào feita pelas jllllLa.~ ;craes
de dislrkto, quando a julgarem injll8t.a. com rel:\~'10 as ~m
re5pecli vos concelhos. »
Este art. 14,. lloou implicitamen\e revoKado pela lei tilada m·
texto; porque de~de que as juntas geraes uão ~m qu.! rt)p~rljr
-99 -

Art. 15. A' vista. das matrizes concluidas nos termos


dos arts. 10 e t 1 e seus §i§ (12), lançaráõ logo as
juntas dos repartidores as Luas fixas. estabelecidas
no n. i o do arte 2° desta lei, ás pessoas que a ellas
estiverem sujeitas.
Art. 16. (5° da cit. lei.) «Da porcentagem de
que \rata o artigo antecedente dará logo o delegado do
thesl)uro conhecimento á. junta dos repartidores para
proceder á. conveniente repartição. li (t3)
Ad. 17. Nos concelhos de Lisboa e Porto a por-
centagem sobre a renda das casas de habitação será
igual para os respectivos bairros que os compõem. não
se subdividindo o contingente de cada um dos ditos
concelhos; porém, para todos os mais eíIeilos desta
lei, os mesmos bairros serão considerados como con-
celhos (U).
Art. i8. Da matriz concluida nos termos dos arts.
10 e I t e seus paragraphos da presente lei, e do

o contingente da contribuição pessoal, tambem as camaras não


têm Ilue reclamar. No texto se estabelece a maneira de conse-
guir qualquer erro de calculo, que é unico que se pMe dar.
(li) E notas conespondentes.
(J3) Esta repartição deve ser feita pelo processo prescripto nas
já eil. imtr. regul. arts. 62 e 63.
Antigo art. 16. A dilTerença entre o contingente da contribuição
P'lssoal, que couber a cada concelho, e a importancia total das
taxas fixas de que trata o n. lo do art. iO da presente lei, com
que da respectiva matriz se mostrar, conrorme a disposiç40 do
artigo antecedente, dever contribuir o mesmo concelho, será pela
junta dos repartii.lores da contribuição predial repartida pro-
porcionalmente á renda ou valor locativo das casas de habitação,
qll~, 1108 termos do n. to do ar&. iO da presente lei, estiverem
5ujciws á (,Álntribuição pessoal.
(H] A primeira parte deste artigo caducou depois das novas dis-
posições dos arts. 13 pr. e U.
-100 -

lançamento e repartição que sobre elIa se fizer, nos


termos dos arts. lã e 16, da mesma lei, haverá ainda
recurso para o concelho de estado e para o gO'fcrno,
nos termos dos arts. 9°, 10 e fi da lei da contrihuiç;io
predial (15).
Arl. 19. A contribuição pessoal será addicionada cum
~ por cento para falbas e annullações. os quaes 2 por
cento serão contados sobre o total da contribuição, corn-
prebendidos os addicionaes que houver (' 6\; e da me.sma
fórma, quando tenha lugar a annuIlação de qualquer
collecta, serão restituidos aos contribuintes os addi.
cionaes com a verba principal.
Art. 20. É o governo autorisado a fa.zer os regula-
mentos necessarios para desenvolvimento e execU!)o
das disposicões contidas na presente lei, a estabelecer
as multas convenientes para tornar effectiva essa eXe-
cução, e a oecorrer ás despezas com a formação tias
primeiras matrizes.
Art. 21. Fica suspensa a execução da presente lei
nas ilhas adjacentes, em quanto alli subsistirem os
dizi mos (17).
Arl. 22. Fica revogada em geral toda a legislação
em contrario, e especialmente a relativa aos impostos

(UI) r. notas aos artigos citados, e inslr. regulo eH. ("ap. 6',7'
e 100.
(16) O imposto de viação (10 por cento) é o unico addicional, !J1I"
recabe 30bre a contribuição pessoal - V. cito inslruccúrs ,1Ct>.
61 eM. .
, (17) Forão extillctos os dizimos lias ilhas adjacentes (' f.l!nt,,';)!I
alli a vigorar a legislação que rege a contribuição 'PCSSOll.' n,j
Madeira desde o to de Janeiro de 1863 em diant~, e nas i1ha..<
dos Açores desde 30 de Junho do mesmo anuo. (C. de L. dt'
i I de Setembro de l86i - D. de L. n. stOS.)
-101-

que são extinctos, e substituidos pela presente lei, na


parte que se oppozer ás suas disposições.
~
Mandamos. portanto, etc. .
O conselheiro de estado, ministro e secretario de es-
tado dos negocios da fazenda, a faça imprimir publicar
t

e correr. Dada no paço das Necessidades, aos 30 de


Junho de 1860. - EI-Rei ( com rubrica e guarda ).-
Antonio José d' .Avila.
-102 -

1.-e 2.- S.a 4.",5.' e6.·

Um criado •• tS~ iSOOO


Dois ditos. 38000
"'5000
2S1100 'lg50g
Tres ditos. • •• 9S000 75000 78000
Quatro ditos. • • 201;000 168000 165000
cada um a mais. • 58000 48000 45000
Um cavallo, égoa ou muar. 68000 58000 (Il) '25.)80
Dois dito~ . •• '" 158000 128000 (Il} 6)5000
Tres dilos.. • • • • • 305000 258000 (a) ']05000
Quatro dilos. . • • 505000 40gooo (a) ;)i)SI'l)()
Cada um a mais.. • 42S~OO 108000 (a) 9:;000
Cada \"ebiculo de duas rodas,
montado. Isto é, tendo pa-
relha correspondente, além
do imposto desta. • • • 15S000 128500 78500
Cada vebi.~ulo de quatro ro-
das, montado, Isto é, tendo
parelha correspondente,
além do imposto desta. • 308000 25S000 !5S000
Cada vehiculodeduasou qua-
tro rodas, tirado por um ca-
nllo SÓ, pagarã. ametade
da taxa que lbe correspon
dcria sendo tirado por uma
parelha.

Paço, em !lO de Julho de 1860 - Antonio 10$1 d·AviLa.

(a) Lei cito de 20 de Junoo de 1863 « A rt. 10, fWinc. A~ t.1 \15
fixas da contribuição pessoal, estabelecidas pela Carta de Lei ,jp
30 de Sulbo de 1860 para 08 donos de cavalgaduras nas terr.ls
de ", 5", e 6' ordem, dcão reduzidas ás imp'>rtancias ~g!)int"s :
Por um cavallo, égoa ou muar. . . " ••... 18000 ri'i§
Por dois ditos. •• • • . . • • • • • • • . • •• 'lS.'500 D
Por tres ditos . . • • • . . . . • . • . . . • . • • •• (l811()().,
Por quatro ditos • . . . • . . . • • • • . • . . .. IOSOl~\.
Cada um a mais. • • • .. • • • • • • . . • • • • •. !S300 ..
V. tabella junta ã.s clt. indr. regulo
-103 -

lnstruc~esreplallelltarel 4e 7 de J.lho de 1863 para


o lU9&Jaento e repartlçiO da contl'lbuiçlO plaoal.

CAPITULO I,
DISI'OSIÇOES FUNDAMEl'(TAES DA CONTRIBUiÇÃO PESSOAL,

Artigo t. o A contribuição pessoal compõe-se:


I. De taxas fixas, reguladas pela tabella A, anneu
a estas instrucções;
11. De uma porcentagem complementar sobre a renda
ou valor locativo das casas habitadas, que excedoc a
20,..,'"1'()()() nas terras de t" ordem, 15~OO nas de ~,
to;>OOO nas de 3& e 4", e 5V11000 nas lerras de 5a e
6" ordem, no reino e ilhas adjacentes, a qual porcen-
tagem complementar será fixada pela fórma adiante
declarada.
S t. o A ordem das terras é a que se acba estabe-
lecida no art. la° da lei da contribuição industrial,
Salvas as alterações que tenhão occorrido OlI passão
oceorrer por virtude dos arligos to e 2° da Lei de 't~
de Agosto de t861; considerando-se:
Terra de ta ordem a que comprehender tOO,OOO
almas e mais;
Dita de 2. a 50,000 a tOO,OOO;
Dita de 3," 4,000 a 50.000 ;
Dita de 4." 2.000 a 4,000;
Dita de 5. a 500 a 2,000;
Dita de 6." 500 e menos.
§ ~. o Exceptuão-se da disposição do n. 2° deste
artigo os paços episcopaes, as casas de residencia dos
parochos, os conventos das religio~as e as casas em que
se at:harem estabelecidas as camaras municipaes, juntas
-1M -

de parochi3s, mj~ericorrlias, confrarias e outras insti-


tuições publicas de piedade ou iD<:trucção.
Arl. 2.· As taxas de que trala o n. j di) artigo LO

antecedente recabem:
L Sobre os criados do sexo masculino;
II. Sobre os ca"allos, égoas ou muares;
m. Sobre os vehiculos destinados ao transporte de
pessoas (t).
Ar\. 3.° Exceptuão-se da disposição do n _ j o 11(.
art. ~o:
I. Aquelles que só aceidentalmente fizerem serviço de
criados;
n. Os criados ou moços dos Corneiros e p:ldeiros,05
amassadores e moços de fornos, os moços, holeeiro5
e cocheiros de seges e carruagens de aluguer, (JS ~er­
ventes e moç.os de C3Sas de pasto, hospedarias, lOjas
de bebidas e oulras analogds, e criados empregados no
servi~ da agricultura, nos hospitaes e estabelecimentos
pios, e nos collegios de instrucção e educação.
Art. 4.° Exceptuão·se da disposição do D. 2" do
art. 20 :
I. Os cavallos t égoas e muares que lherem prata
no exercito, e os das pessoas a quem o Estado os con-
cede ou obriga a ter para desempenho dos seus
cargos;
(I) .\inda mesmo que essas pessoas spjiio enlreva,h~. t' lI,io
possào p,)r outro meio salisfazer as prpscripçõc" tius facult.lliluS,
que Ibps a~o~selhern lIlovim pnto. e agil:Jçào; porque se nàu I'j).kw
adn.Ilt1!r 'hsltnCçÔes qUA a leI não :lIltorlsa. ~cm qUI> lilju~
pr~Ju(hcada a ex.ecução prática dos preel'ltos da mesma lei. uem
~ ITlt.erpr,·t lçào . das leis tri~1I t1rias póite Te", Tingir-;!' "'é~lUd<)
as CITcumstanclas dos contrlbumles. (Dec. sobre con~lIl1a d..
~oncelho de estado. de 10 de Dezenlbro ae 1862 _ D. df L . .Ie
866, n. ISO.)
-105 -

U. Os cavallos, égoas ou muares que se empregarem


principalmente no serviço da agricullura ou da indus-
tria fabril (2);
III. As égoas de criação e os poldros até quatro
annos (2);
IV. As cavalgaduras de carga ou transporte (2) ;
Arl. 5. 0 Exceptuão-se da disposição do n. 30 do
arte 2 os trens de aluguer.
0 ,

Art. 6. São sujeitas á contribuição pessoal todas as


0

pessoas nacionaes ou estrangeiras que residem no con-


tinente do reino ou nas ilhas adjacentes.
§ uniro. Exceptuão-se:
I. Os membros do corpo diplomatico estrangeiro em
effertivo serviço;
H. Os agentes consulares de paizes estrangeiros que
não tiverem em Portugal rendimento algum além do
qlle lhes provier do seu emprego (3).
i) Pelas iuformações dos informadores-louvados se deve conhe-
cer o filll principal li qU'l se dedirào as cavalgadurall; e provado
o facto que as isenta, pela, attestaçõcs dos informadores, devem
estas estas ser attellllidas, porque a in(lJrmaçálJ de louvados. esta-
belecida pela l~i, e uma prodJencia necessaria para garantir aOI
clJntribuintes a justiça da clJntrilJttição, e não ficar tlta sujeita só
ao .ftTl'iço fiscal dos empregar/os de (tI:enda. (Dee. sobre consulta
do concelhn de estado de :U de Dezembro de 1862 - D. de L. de
lR63, II. 78 )
Nà" se pMe julgar. sem interpretar a lei restricta e arbitraria-
mente. que só SI) considerão em)lregadas principalmente no ser-
viço da agricultura as cavalgaduras I(U'> puchão os arados e char-
rilas I'xeIusivarnente; logo 'iUl~ o contribuinte pro\'e que emprega
as suas cavalgaduras no serviço da agricultura, e não as destina ao
seu corrtlllodo pessoal, deve ser alliviado da contribuicão. ( Der.
eit. e " (Ie 25 de Fevt'rpiro de IR63 - D. de L. n. 7B.)
(3) Mas tendo outro:; rendimenlos devem ser collectados, porque
o art. 70 da lei da rontribuiç:lo pessnal slIjeita a este impo!Õto
lollos os naciollaes e estrangeiros residentes no reino. ( Oec. sobre
consulta do concelho de estado de \O de Junho de 1863 - D. de
L. n. i17.)
-106-

Art. 7.e A contribuição pessoal começa a vencer-S{'


desde o principio do trimestre em que o contribuinte
tiver no concelho algum objecto sujeito ás taxas esta-
belecidas DO n. to, do art. to, ou por sua conta alguma
casa habitada por elle ou arrendada; e cessa de ven-
cer-se desde o principio do trimestre em que o con'
tribulnte deixou de ter objectos a ena sujeitos.
§ unico. Quando porém.o contribuinte deixe de ter
os objectos sujeitos á contribuição pessoal no me.'-mo
trimestre em que começou a tê·los. ficará sujeito á
contribuição respectha a todo esse trimestre.
Art. 8.° As taxas fixas são devidas em cada conce-
lbo ou bairro em que o contribuinte tiver criados,
cavalgaduras ou vehiculos sujeitos às mesmas talas.
Art. 9.° A porcentagem complementar é devida em
cada um dos concelhos, bairros ou secção de bairros,
em que o contribuinte tiver a sua casa de habitaç;io
ou casa arrendada por sua conta.
Considerão-se. habitadas as casas de habitação arren-
dadas, ainda que nellas não habitem os inquilinos,
assim como as mobiladas por conta dos senhorios,
ainda que nellas não residão.

CAPITULO n.
DA PORCENTAGEM COMPLEMENTAR.

Art. 10. A porcentagem complementar da contribui-


ção pessoal será" determinada anrlUalmente em cada
districto pelo respectivo delegado do lhesouro.
S unico. Para este fim o delegado do thesouro adop-
taTã para base do calculo a importancia das laxas
fixas do anno anterior, e comparando-a com a impor-

-lOi -

lancia total do contingente designado ao districto por


lei, depois de consideradas as anDullações e verbas
sopplementares que tiverem havido nesse anno ante-
rior, bem como a importancia para os vencimentos dos
escripturarios. na parte que compelir ao mesmo con-
tingente, tomará a differença, a qual depois de addi-
clonada dos correspondentes impostos de 20 por cento
para viação e de 2 por cento para falhas e annullações,
será comparada com o lotai das rendas e valores 10-
cativos das cas~s de habitação sujeitos á verba comple-
mentar no referido anno anterior, fixando por esta
fórma a dita porcentagem. que deverá ser a mesma
para todos os concelhos do respectivo districto.
§ '1.0 Se pela operação a que se refere este artigo
se cobrar maior importancia do que a autorisada por·
lei ao districto. será a ditrerença a mais deduzida do
contingente do anno futuro; se pelo contrario fôr in-
ferior, será a differença a menos addicionada ao dito
contingente.
Art. tI. 1)e porcentagE:m complementar acbaoa nos
termos do artigo antecedente dará logo o delegado do
lhe50uro conhecimento ás juntas dos repartidores,
para procederem á conveniente repartição, na confor-
midade do que adiante vai declarado.
§ unico. A direcção geral das contribuições directa
dará o delegado do tbesouro igual conhecimento, com
designação das bases que servirão para achar a dita
porcentagem.
CAPITULO m.
D18 JUNTAS DOS REPARTIDORES.

Art. l~. As juntas dos repartidores da eontribuição


predial que, na conrormidade do art. 9° da Lei de 30
-100-

de Julho de ~860, têm de intervir no serviço da con-


tribuição pessoal, compete:
I. Tomar conhecimento das reclamações dos fonlri-
buintes sobre a matriz da contribuição pessoal organi-
sada nos termos do art. tOO da mendonada Carla de
Lei de !lO de Julho e art. 25 destas Instrucções;
II. Fazer o lançament:l e distribuição da contribuição
pessoal;
m. Tomar conhecimento das reclamações que os
contribuintes lhes dirigirem por se julgarem lesados
no dito lançamento ou distribuição;
IV .. Fixar as verbas supplementares, bem como a~
annullações da contribuição pessoal;
V. Encerrar a matriz da contribuição pessoal, ainda
mesmo quando a respeito della não tenhão de fazer-se
as rectificações de que trata o art. ~o da Carta de Lei
de 7 de Julho de t86t.
Art. t3. As juntas terão as sessões que fllrem ne-
cessarias até ao encerramento das matrizes da contri-
buição pessoal, e serão auxiliadas nos seus trabalhos
pelos regedores de parochia e informadores-louvados.
Arl. H. Nenhum vogal da junta poderá volar NJl
assumptos que lhe pertenção ou a seus parentes l' affius
até segundo grão em direito canonico.
Art. ~5. O vogal da junta dos repartidores, no-
meado em cumprimento do § unico do art. :!o da
Carta de Lei de 7 de Julho de t86~. sómentc tomará
paI:te nos trabalhos que tiverem relação com as recla-
mações feitas á mesma junta. sobre a malriz 11:1 . xm-
tribuição pessoal concluida nos termos dos ns. t· a 4°
do art. too da Carta de "ei de 30 de J uI tio de t H60. e dos
ns. t o a 'i o do art. 25 destas Instrucções; sendo ouvido
tambem sobre os recursos interpusLos das decisões lO-
madas a respeito das ditas reclamações.
-100 -

C.~PlTULO IV.

DOS I~FORMADORES-LOUVADOS.

Arl. i6. O serviço de informador-louvado é annual


e obrigalorio.
Arl. i 7. Os informadores-louvados, que têm de au-
xiliar o serviço da contribuição pessoal, serão nomeados
annualmenle pela junta dos repartidores da contribui-
ção predial na occasião de proceder á nomeação dos
que têm de servir para esta contribuição.
ArL 18. O delegado do thesouro, sobre proposta do
escrivão de fazenda do concelho ou bairro, fixará o
numero de informadores-Iouvadus, e em seguida dará
conhecimento á junta dos repartidores do numero que
ella tem de nomear.
Art. 19. A nomeação de informador-louvado deve
l"ecabir em pessoa que, sendo de reconhecida probidade,
reuna as condições seguintes:
I. A de ter conbecimento das pessoas da sua freguezia
e de alguma ou algumas proximas;
n. A de estar no gozo de seus direitos civis e poli-
ticos (~).
Arl. ~o. O informador-louvado, que não se julgar
nas circumstancias especificadas no artigo antecedente,
ou que se considerar inbabilitado para este serviço,
por ter mais de sessenta annos, ou por qualquer
outro motivo attendivel, poderá requerer á junta que
o tiver nomeado.
(~) E a de saber ler e escrever, porque nlo 810 válidas as suas
informações, 1110 sendo por elles assignadas. ( L. de 7 de Julbo
de t86i art. 8·.)
-110-

S unico. A junta, quando conceda a escusa, no-


meará logo outro informador para o lugar vago.
Art. 21. Os informadores-louvados, que forem no-
meados, prestaráõ joramento Das mãos do presidente
da junta dos repartidores da contribuição predial de
bem e fielmente servirem.
Art. ~~. Compete aos informadores-louvados, infllr-
mar o escrivão de fazenda e á junta dos repartidores
sobre a exactidão das declaracõ~s dos contribuintes,
00 das relações feitas pelos regedores, na parte rela-
tiva aos artigos das taxas fixas e ás rendas dos pre-
dios urbanos.
Art. 23. Nenhum iríormador-Iouvado poderá infllr-
mar sobre objecto relativo a seus parentes ou afilo:;
até segundo grão em direito canonico.
CAPITULO V.
DOS BLBIIElfl'OS PARA A MATRIZ B DA SUA FORMAÇio.

Art. 24.. Far-se-ba em cada concelho um arrola-


mento geral de todas as pessoas que, nos tennos da
referida Carta de Lei de 30 de Julho de 1860, esti-
verem sujeitas á contribuição pessoal, que ~e deDo-
..inará - matriz da contribuição pessoal-, a qual
mat.riz servirá para se lançar e distribuir a mesma
contribuição.
Art. 25. Nesta matriz. organisada segundo o modelo
n. t. declarar-se-ha:
I. O nome e morada da pessoa sujeita á contribui-
ção pessoal;
II. A ordem da terra em que reside;
- 111 -

III. O faclo ou factos sobre que recahir a contribui-


ção pessoal;
IV. As rendas ou valores locativos sobre que tem
de reeabir a porcentagem complementar (5);
V. A importancia da taxa ou taxas fixas, compre-
bendendo os correspondentes addicionaes de 20 por
cento para via~.ão. e 2 por cento para falhas;
n A importancia da porcentagem complementar,
comprehendendo igualmente os referidos addicionaes.
S t.· As designações indicadas DOS os. V e VI deste
artigo. só serão preenchidas depois de estabelecidas
definitivamente as bases sobre que recahe a contribui-
ç;i:o pessoal.
§ t. o Na folha do rosto da matriz se designará o
districto, o concelho ou bairro e secção de bairro, e
bem assim a porcentagem complementar que tem de ser
applicada ás rendas ou valores locativos sujeitos DO
concelho á contribuição pessoal.
§ 3. As rendas ou valores locativos de que trata
0

o n. IV deste artigo, são as do anno a que respeitar


a contribuição pessoal.
ArL 26. A respeito dos concelhos de Lisboa e Porto.
as matrizes d~ contribuição pessoal serão feitas por
secções de bairros.

(5) Nio estão sujeitos á porcentagem complementar de que se


trata, os armazcns de retem ou de deposito, e o~ estabelecimentos
ou oficinas, aintl:L que nelles durma algum criado, caixeiro ou
apn'udiz, para guarda dos meslDos eslallc'lecimentos, mas qnando
neHes habitem individuos, que se não acbem naquellas circulO-
stancias, deverá neste caso proceder-se na fôrma que determina
o § 30 do art ..i3 das Inslr. de i i de Abril lIe {85\, isto é. pro-
ceder-f'e á avaliação da renda, da parle habitada, para sobre ena
recahir ii mencion.ada porcentagem. (Oficios do dir. geral das
contr. ,Iireclas de 18 de Jan. c de 19 de Set. ue {861 aos deI. do
thes. no Porto e Lisboa.)
-112-

Art. 27. Quando o contribuinte, no mesmo concelho


ou secção de bairro, tiver mais de uma casa de habi-
tação por sua conta, declarar-se-ha essa cireumslancia
na columna n. 3 da matriz. Na columna n. t3 se
lançara a renda ou valor locativo respectivo a cada
uma, e na columna n. 1.\ a importancía total dessas
rendas ou valores. Se, porém, tiver só uma casa para
a sua habitação ou arrendada. a respectiva renda ou
valor locativo será logo levado á columua n. 1\.
Art. ~8. Para cada contribuinte se formará um ~ó
artigo na matriz, e neHe se comprehenderáü todos os
elementos da contribuição, por fórma que a coUecla
seja uma só para cada contribuinte em cada conce-
lho ou secção de bairro.
Arl. 29. O escrÍ\'ào de fazenda será auxiliado pelos
informadores·louvados e pelos regetlores de parochil.
quando o julgar necessario, e oUlrosim, poderá con-
vidar para o esclarecerem em qualquer assumpto.
os respectivos parocllos, ou aquelles individuos do
concelho que tenhão conhecimento mais particular dos
contribuintes do mesmo concelho.
Arl. 30. Os molivos que servem de base à contri-
buição pessoal, serão lançados nas coI um nas ns. i a
14. da matriz, em frente da ordem da terra designada
na columna n. 6.
Arl 31. Cada arligo da malriz será fecbado por
um traço a tinta, até á colnmna n. t3, deixandi} qua-
tro linbas em claro para as annotações que fôrem ne-
cessarias.
Art. 3i. As folbas da matriz serão numeradas e
rubricadas pelo presidente da junta dos repartidores.
Art. 33. A matriz deve ficar concluida nos lermos
dos ns. t a 4., inclusive do ar1. iS ate ao dia 30 de
-113 -

Junho, sendo apenas preenr.hidas as columnas desde


n. j até U.
S unico. Nas cidades de Lisboa e Porto, este prazo
será 3té 31 de Março.

CAPITULO VI.
DAS RECLAMAÇÕES SOBRE A MATRIZ.

Arl. M. As matrizes, depois de feitas pelos escri-


voos de fazenda, serão por estes entregues ás juntas
dos repartidores da contribuição predial, as quaes t
em seguida, as farão patentes aos contribuintes por
espaço de dez dias, afim de reclamarem perante as
mesmas juntas o que tiverem por conveniente a bem
de seus justos interesses.
Arl 35. As juntas de que trata o artigo anteceden-
te convocaráõ, com a necessaria antecipação, os
contribuintes por editaes para o exame das matrizes
no local que fôr indicado, e para apresentarem den-
tro do prazo estabelecido no mesmo artigo as recla-
mações que a lei lhes facul ta.
Estes edilae~ serão atlixados DOS lugares do costu-
me, e publicados pela imprensa nas terras onde hou-
ver folhas periodicas.
Art. 36. O exame da matriz deve ter lugar na
casa da administração do concelho ou bairro; quando
esta casa não tenha o espaço necessario, nem as com-
modidades indispensaveis, o administrador do concelho
ou bairro escolherá outra para aquelle fim.
Art. 37. As reclamações de que trata o artigo 35.
podem ter por objecto:
I. Erro na designação das pessoas e moradas;
s. F. 8
- 114-

n. Erro na. designação da ordem da terra;


lU. Injusta designação do facto ou factos, sobre que
tem de recahira taxa ou taxas fixas;
IV. Injusta designação da renda ou valor locativu da
casa da habitação, ou da que estiver arrendada;
V. Indevida inclusão ou exclusão de pessoas.
§ unico. Todas estas reclamac;ões podem ser feitas
pelos propriQs colleclados ou por outras pessoas. delJ-
tro do prazo estabelecido no artigo 3'1.
Art. 38. As reclamações de que traGo os arlig(l~
antecedentes serão feitas por escripto e entregues ;11)
presidente da junta dos repartidores, das uecis'les 'Ia
qual cabe recurso para o concelho de districto.
§ unico. Os reclamantes deveráõ mencionar us fuu·
damentos das suas reclamações, e reC(!ber:IÜ o., do(;U-
mentos com que as instruirem. logo que eSles deixem
de ser uecessarios.
Art. 39. As reclamações que fórem apresentada .. lJ"
prazo estabelecido serão decididas pela junta dos re-
partidores dentro de dez dias, contados do immeui~lo
áqueUe em que expirar o prazo marcado para as rece-
ber. Estas decisões serão publicadas immediatamelJte
tenha findado o dito prazo.
§ unico. O despacho da junta será motivado qmu-
do julgar improcedente alguma reclamação, a qUi!:
neste caso será entregue ao reclamante com os dow-
mentos que a acompanharem.
Art. 40. Para a decisão das reclamações a juuta
poderá convocar, se assim o julgar necessario, os fe.'-
peclivos regedores de paroohia e in{(}rmadores-Iouva·
dos que tiver por conveniente para a esclarecer.
Art. 4t. A reclamação de terceiro não será decidi-
da sem que préviamen&e seja avisado aquelle a quem
-11;) -

disser respeito, para allegar o que se lhe ofl'erecer a


bem dos seus interesses.
Art. i2. Se nas decisões da junta, ou em quaes-
quer outros actos da mesma junta, o escrivão de fa-
zenda. entender que houve manifesta injustiça ou
infracção de lei, disso dara immediatamente parte
tlirecta e motivada ao respectivo delegado do thesou-
ro, o qual ouvindo a junta della recorrerá para o
governo pela direcção geral das contribuições direc-
tas. interpon(lo o seu parecer. O governo, pela
referida direcção geral, resolvera taes recursos na
conforruidade do Decreto de ~O de Dezembro de t8~9.

CAPITULO VII.

DOS RECURSOS SOBRE Ao MATRIZ.

Art. 4.3. Os recursos das decisões das juntas dos


repartidores para o concelho de districto serão inter-
postos dentro de cinco dias, contados daquelle em
que taes decisões fôrem publicadas.
§ t. o As petições de recurso serão apresentadas ao
presidente da junta dos repartidores, de que passará
recibo, no qual especifique os documentos que as
acompanharem; e a junta, informando sobre o objec-
to do recurso, o remetterá pelo primeiro correio com
o seu parecer ao governador civil para ser presente
ao concelho de districto e resolvido.
S 2. o As petições de recurso serão datadas e assi-
gnadas, e levaráõ sempre adjuntas as reclama~ões in-
deferidas, podendo os reclamantes junLar quaesquer
- 1\1; -

documentos que lhes parecerem a bem da sua ju~­


liça.
S 3.· A respeito da decisão da junta sohre recla-
mação de terceiro, o recurso pMe ser interposto tan-
to pelo reclamante como pelo reclamado.
Art. U. O concelho de districto tomará wnhE'ci·
mento de todos os recursos para elle interpoSh)s LIas
decisões das juntas dos repartidores, e 0" resoher:'\
dentro do prazo de dez dias, cOlltado~ do immediahl
áquelle em que os tiver recebido.
]\() caso de indefl'rimento. o requerimi'lltn e re'·
pect.ivos documentos serão entregues ao recorrenk.
§ ... As petições de recursos, depois de decidttl'"
pelo concelho de districto, serão enviadas ao presiden-
te da junta dos repartidores. que as ,levera \'i~{t'bl:'r
até cinco dias depois de findo o prazo para a -na
decisão.
§ 2.· Sl~ o concelho de districto não resol",,1' os
recursos nos prazos marcados, proseguirá. o ser\"Il,o
com as decisões das juntas dos repartidores, e flual-
quer resolução por elle tomada fóra dos mesmo,
prazos será considerada no ser\'iço do anno seguinte.
Art. 4;). Ao concelho de dislricto serão milli5!ra.·
dos todos os psclarecimenlos de que precisar pan a
justa resolução dos recursos para elle interpostos.
Art. 46. Das decisões do concelho de dislricto ca-
be recurso para o concelho de estado sem eff1'ito
suspensivo, nos termos do artigo rio da Carta d,~ Lei
de 7 de Julho de l86:!, e nos prazos esL.\bekciJos
no artigo 48° do Regulamento daqllelle tribnml. de
9 de Janeiro de l8fiO.
§ unico. A. respeito das decisões do concelt)(\ dI'
districto sobre recurso de terceiro, o recurso para .)
-117 -

concelbo de estado pMe ser interposto, tanto pelo


recorrente, como pelo recorrido.
Art. 47. O disposto no artigo 42, a respeito das
decisões das juntas dos repartidores. é app1icavel ás
decisões do concelho de districto, das quaes o dele-
gado do tbesouro recorrerá para o concelho de esta-
do nos prazos estabelecidos no artigo 48 do Regu-
lamento daquelle tribunal, de 9 de Janeiro de 1850,
quando em taes decisõel:l se dê manifesta injustiça
ou infracção de lei.
Art. 48. O recurso de um terceiro não será deci-
dido sem que préviamente seja avisado aquelle a
quem disser respeito, para allegar o que se offere-
cer a bem dos seu" interesses.
Estes avisos terão lugar antes de subir o recurso
para o concelbo de districto.
Ari. 49. Se ás decisões favoraveis, que obtiverem
os contribuintes e de que não houver recurso por
parle da fazenda, o escrivão de fazenda, por doscui-
do, não tiver em tempo dado cumprimento, reconhe-
cido isto pela junta, ex-omcio ou por queixa do inte-
ressado, a mesma junta ordenará logo as necessarias
rectificações.
Art. 50. AS decisões da junta dos repartidores e
as d.) concelho de districto serão extractadas no ca-
derno das alterações de que trata o artigo 75.

CAPITULO VIU.
DAS ALTERAÇÕES NA MATRIZ EM RESULTADO
DAS RECLAMAÇÕES E RECURSOS.

Art. 51. As alterações na designação das pessoas


e moradas serão notadas nos respectivos arligo!\ das
matrizes n~LS columnas llS. i ou 3 a 5, riscando o
que indevidamente alli se tirer mencionado, e lan-
çando o verdadeiro nome do contribuinte 011 a sua
verdadeira morada.
Art. !\~. Quando a alteração fbr nas bases da cüfi-
tribuição pessoal, relativa a tempo ou quantidade dt
oLjeeto~, será semelhantemente notada Das Cúlumuít.:>
os. i a 12, riscando o que se achar inscliplo, e lan-
çaudo o que ficar !'ubstituido, devendo Luer-se J'e(~
rencia ao caderno das alterações.
Arl. :i3. Se a alteração fõr na renda ou \'alor ln-
cativo da casa de h ,hilal:io, riscar-se- ha a f(uanti<i
que se achar inseripla na columna D~. t a ou t4.
ou em ambas se o contribuinte ti\'er mais de lima
casa de habitação por sua conta, escrc,-eudo-se por
cima o que ficar subsistindo.
Art. M. Se U ;trtigo da matriz tiver de ser anuul-
lado por indevida inclusJ.o de pessoa, será riscado na
colullllla n. 1 e nas de n~. -; a i i e 14 que e~ti·
verem eseriptas, declarando-se no lUesmo artidú o
moth'o da annullação.
Art. 55. Quando se dê o caso de indevida elclu·
são de pessoa. será esta inscripta no fim da Illatriz.
nos termos tio arligo 25, com o numero de ordem
que lhe corresponder. fazendo-se referencias a ~
numero no lugar llnde o contrihuinte teria sidlJ iu-
scripto se se tivesse seguido a ordem alphabelkl.
Art. ;'6. Quandú por virlude de alteração no no-
me do contribuinte ficar allerada a ordem alphabetica
da matriz, no artigo em que, segundo a mesma or-
dem, lhe corresponderia, far -se-ha referencia á'JUellf'
em que estiver inscripto.
Art. tli. As alteraçi"jes que se fizerem na ma:m..
- II!) -

por effeito das decisões da junla dos repartidores e


do concelho de districto, serão noladas nos artigos
da mesma matriz, fazendo-se referencia aos numeros
de ordem no caderno das alterações. Esta referencia-
sopprc na matriz a declaração do motivo da altera-
ção.
Arl. ri8. Estas alterações devem ser consideradas
na matriz pela fórma que no cilado n. o t vai exem-
plificada.
Art. :s9. Feitas as alterações de que tratão os ar-
tigos antecede(jtes, a junta sommará a columna n. U
da matriz. A matriz, assim sommada, fica concluida
para se proceder ao lançamento B repartição da con
tribuição pessoal.

CAPITULO IX.

DO LANÇAMENTO E RBPARTIÇlO DA CONTRIBUiÇÃO PESSOAL.

Art. 60. COncluida a matriz nos termos do artigo


59., a junta dos repartidores, em vista das bases desi-
gnad3s nas eolumnas ns. 7 a t~, da tabella A que
faz parte destas Instrucções, procederá ao lançamento
das taxas fixas, com relação a cada contribuinte, e as
lançará na columna n. 15.
S L° Estas taxas serão lançadas em relação á or-
dem da terra onde o contribuinte estiver residindo ao
tempo do lançamento.
S 2.° Quando algum contribuinte tiver objectos coL
lecLaveis fól'! do concelho ou bairro, onde estiver resi-
dindo ao tempo do lançamento, a junta dos reparti-
dores do conoolho ou bairro, onde se acharem esses
objec&eB, o participará á do concelho ou bairro, onde
-l~-

estiver residindo o contribuinte, para ser por esta


collectado.
S 3.· As dilTerentes taxas a que um contribuinte
estiver sujeito serão lançadas na columna n. I;) em
uma só addição.
Art. 61. Ultimado o lan-,:,amenlo das taxas, e de-
pois de conferido. a junta dos reparlidore-; sommarj
as importancias dessas taxas. As som mas serão trallS-
portadas para a folha immediala. (\ assim sllccessira-
mente até chegar á ullima folha, qu~ apresenL1ra a
importancia total das taxas do concelho. cOffil'rehen-
dendo os correspondentes addicionaes de tO vor ('po-
to para viação e 2 por cento para falbas.
Arl. 62. Em seguida a junta dos repartidores, com
a porcentagem que lhe fór communicada pelo delega.
do do thesouro, nos termos do artigo H·. passar:!
a calcular sobre a renda ou valor locativo das C<iSa~
de habitação a verba complementar em que se COID-
prehendem os addicionaes que competem a cada cun'
tribuinte.
§ I. o Esta operação etIectua-se multiplicando a Pl)['
centagem achada pelas quantias designadas na columo ..
n. U. da matriz, e separando-se no producto duas
letras se a porcentagem não th-er fracções de uniôa-
de. tres letras se comprehender decimas, quatro letras
8e comprehender ceutesimas. e cinco letras se com-
prehender millesimas.
§ 2. o Achada por esta fôrma a verba complemen-
lar, com os addicionaes, que competir a cada c(m·
tribuinte. será lançada na columna n. 16 da malriz.
Art. 63. Para maior facilidade no processo da re-
partição a junta dos repartidores poderá formar uma
tabella da porcentagem da contribuição pessoal, á se-
- 121-

melhança do que se acha estabelecido para a repartição


da c.()ntribuição predial.
Art. 6.\. Concluida a repartição, nos termos do
artigo 6~, a junta dos repartidores, sommaodo to-
das as addições conlidas nas coi um nas ns. t 6 e t 7
da matriz, lançará. um termo de encerramento, que
será pela mesma junta assigoado, e no qual se men-
cionará. por extenso o numero llc artigos contidos na
matriz, a imporlancia das rendas ou valores locativos
e a importancia das verbas da contribuição pessoal.
com designação do que respeita a laxas fixas e por-
centagJm complementar, comprehendendo os impostos
addicionaes de 20 por cento para ,'iação e 2 por cen-
to para falhas e annnllações.

CAPITULO X.

DAS RECLAMAçõES E RECURSOS SOBRE o LANÇAMENTO


E REPARTIÇÃO.

Art. 65. Encerrada a matriz nos termos do artigo


6~ , a junta' dos repartidores convocará os contri-
buintes por edltaes para o exame do lançamento e
repartição da contribuição pessoal, e para que no pra-
zo de cinco dias successivos apresentem as reclama-
ções que tiverem a bem de sua justiça.
Art. 6ft. As reclamações de que trata o artigo 65
só podem ter lugar:
I. Por erro de calculo no lançamento ou repartição
da contribuição pessoal e nos correspondentes addi·
cionaes;
n. Quando o contribuinte deixar a sua casa de ha-
bitação ou de a ler arrendada por sua conta ;
- I'':! -

fi. Quando li ver d.iminuição nos artigos das mas


fixas, por passar a ter menor numero de criados ou
qoaesquer oulfos objectos sujeitos a estas taxas.
S uoiro. Quaodo, depois de feita a reparti,~ão, a
casa ticar de\olllta, annullar-se-ha a contribuiç.1o (mI!·
plemeotar.
4rt. 67. Ao, reclamações de que trata o 3.rtign 6:,
de~em :,er feita.;;; por escripto e dirigidas ~t re:,pt'diYl
junta dos repartidores.
§ unico. A respeito dos bairros de Lbooa e " s,;c-
ç:io dos bairros do Porto estas rec1amaçüt's LOmpre-
heod'.'ráõ as alteraçües oecorridas em um semestre, e
terão para esse tim lugar as do primeiro semestre
cinco dias depois da publicação do lançamento. e as
do spgundo semestre de f até :; de f1ezembro de fada
anno. Nos demais concelhos do reino dirão respeilu
ao :mno inteiro e terão lugar no segundo prazo.
Art. 68 .. \. junta, tomando eonhecimenl'l das re-
c1amaç,ões que lhe fôrem apresentadas DO prazo a que
se refere o artigo 65, decidi-Ias-ha em cinco dias r
~ontados do immediato áquelle em que tiver findado
o prazo para as receber. Em seguida patenterLrá as
suas decisões na casa da admioistraçjo do concdho ou
bairro.
S unico. O despacho da junta será motivado, quan-
do julgar improcedente alguma reclamação, a qual
neste caso será entregue ao reclamaute com os docu-
mentos que a acompanharem.
ArL. 69. Das decisões das reclamações. de que tra-
ta o artigo antecedente, haverá recurso para o con·
celho de districto. A respeito destes recursos proce-
der-se-ha de barmonia com o que se acha estabelecido
-123 -
para 05 recursos das decisões das reclamações sobre
as matrizes.
Arl. 70. Por virtude das decisões favoraveis das
reclamações e recursos, e nas hypotheses dos ns. I
a 3 do artigo 66. têm os contribuintes direito á
aonnllação de parte das suas verbas da contribuição
pessoal.
~ unico. Pela importancia das annullaç4"',es que se
fizerem na bypotbese do n. i do artigo 66, fica so-
lidariamente responsavel a junta dos repartidores.
Art. 7 t. Das decisões do concelho de districto ca-
be tambem recurso para o concelho de e~tado, sem
etreilo suspensivo, nos casos de preterição de forma-
lidades e termos essenciaes do processo ou offensa de
lei expressa, e lambem em casos de errada apreciação
de facto. e nos prazos estabelecidos no Regulamento
daquelle tribunal de 9 Janeiro rIe i850.

CAPITUr.O XI.

DA EXTRACÇlO DOS CONHECIMENTOS.

Art. 7i. Da matriz encerrada, nos termos do arti-


go 6', o escrivão de fazenda passará a extrahir em
seguida:
I. Os conhecimentos para a cobrança, que deveráõ
ser entregues aos recebedores até 3i de Outubro;
n. Uma certidão em duplicado, em que se men-
cionem o numero c importancia total das verbas da
conLribulI;ão pessoal, addicionada do imposto de 20
por cento par.! viação e do de ~ por cento para (a-
Jàas. Esta certidão será assigoada pelo presidente e
-124 -

secretario da junta dos repartidores, e remeUida ao


delegado do thesouro.
§ unico. Nas cidades de Lisboa e Porto serão os co-
nhecimentos entregues aos recebedores até tO de Ju-
lho.
Arl. n. Os referidos conhecimentos serão extrahi-
dos pelas importancias designadas na columna n. I i
da matriz c segundo o modelo n. 2. A respeito dos
bairros dos concelhos de Lisboa e Porto serão extra-
hidos por prestações, segundo o modelo n. ;l.
§ unico. Estes conhecimentos serão designados pel0
numero de ordem dos respectivos artigos da matriz. e
conteráõ o nome e morada do contribuinte, e as mais
circumstancias que vão indicadas nos referidos mo--
delos.
Arl. i~. Os impressoc; para os conhecimentos, an-
tes de serem entregues aos escrivães de fazenda, serão
sellados na respectiva reparlição de fazenda com o
sello branco, de que trata a Portaria de 22 de Maio
de 1854; ficando os mesmos escrivães de fazenda
obrigados a apresentar ao delegado do thesouro, finda
a extrar,ção, aquelles impressos que não fôrem apro-
veitados, quer se achem inutilisados quer não.

CAPITULO xn.
DO CADBRNO DE ALTERAÇÔES E ANNULLAÇOES.

Art. 75. Haverá em cada concelho ou bairro, e


para o serviço de cada anno, um caderno que se de-
nominará «Caderno das alterações e annullações da
contribuição pessoal».
Este caderno, que será formulado segundo o modelo
n. 4., servira para nelle se lançarem, por extracto.
os motivos das alterações e annnllacões das verbas
da contribuição pessoal, e as importancias dessas an-
nulLações, com designação dos nomes dos contribuintes
reclamantes, e mais circumstancias que no mesmo mo-
delo vão exemplificadas.
§ \lnico. Nas cidades ·de l.isboa e Porlo o caderno
das alterações e annullações será um por cada secção
de bairro.
Art. 7fi. f'indo o serviço do anno, o caderno das
alteraç,ões e annullações será sommado e encerraao
pela junta dos repartidores do concelho ou bairro. .
No termo do encérramento ~ fará menção dos nu-
meros dos extractos contidos neste caderno, bem como
do numero e importancia total das annulJações.
Art. 77. Do caderno a que se refere o artigo 75
se extratliráõ titulos de annullação. conforme o mo-
delo n. 5, que serão entregues aos contribuintes re-
clamantes. afim de lhes serem levados em conta no
pagamento das verbas da contribuição pessoal, ou res-
tituida a sua importaDcia quando tiverem sido pagas
as ditas verbas.
Estes titulos conteráõ o numero que lhes correspon-
der na columna n. tO do referido caderno, e o nu-
mero do respectivo artigo da matriz, o nome e morada
do contribuinte, e a imporlancia da annullação.
§ uoico. Na.'\ cidades de Lisboa e Porto os titulos
designaráõ a secção do bairro e a prestação a que
respeitão.
Art. 78. Do numero e importancia de t:ada uma
das annullações ordenadas pela junta dos repartido-
res ou pelo concelho de districto. com designação das
respectivas datas, formará a mesma junta, em vista
-. 126-

do caderno da~ alterações e annullações, uma nota que


remelterá ao delegado do thesouro.
Art. 79. Nos conhecimentos parcialmente annulla-
dos, e nos respectivos talões, lançarú o ret:ebedor :t se-
guinte verba. que rubricará com o escrivão de fazend .. :
Aonullada em réis . -pelo titulo n..•.
Os titulos de annullação ser\'iráõ para uocnmenllr fi
credito do livro f5-A
Art. SO. Os titulos de ann:lilação serão coDferidc~
com os respectivos ~Iões no acto de se aprespntarem.
e feito este exame serão O~ talões remenido5 á reparo
tição de fazenda para documentarem ü credito do li\! d
JS-A.

CAPITUlO xm.
DAS ALTERAÇÕES PARA MAIS t:: PARA MENOS DEPOIS UE E~CEf,­
ftADO o LANÇAMENTO E REPARTIÇ.\O.

Art. 81. As alterações para mais, que ocCOrreri:'ID llCl


contribuição pessoal depois do encerramento da malriz,
provém:
I. Do arrendamento de predios de novo edificados;
lI. De começarem a ser habitadas casas \lua eslavão
devolutas e não consideradas na repartição;
III. De se tomarem habitaveis ou de passarem a ser
habitadas casas, que erão unicamente estabelec.imentos
commerciaes ou industriaes, ou nàc estavão conside-
rados na reparti~ão;
IV. De começar qualquer contribuinte a estar ::,uJcilo
a taxa fixa, ou passar a ter augmento nos artigos da
mesma taxa.
- 127-

§ unko. Estas alterações darão lugar a verbas sup-


plemenlares de contribuição pessoal.
Art. 8~. As alterações de que trata o artigC' ante-
cedente serão conhecidas p~las declarações dos con-
tribuintes. pelas informações dos regedores de paro-
chia, ou por qualquer oulro meio; e compete ao es-
crivão de fazenda averiguar as que houver no seu
concelho ou bairro.
S unico. Estas alterações poderão (lar lugar a novas
reclamações para a junta dos repartidores e recursos
para o concelho de districto e concelho de estado.
An. 83. Uas alterações rIe que trata o artigo 8t
se formará uma matriz addicional de contribuição peso
soaI, segundo o modelo n. 6. na qual serão inscriptos
os contribuintes sujeitos as verbas supplementares da
dita contribuição.
§ 1.. Quando se der alteração nas rendas ou va-
lores locativos, de que trata o II. 4. do art. 25, far-
se-ha menção na columna n. 4 da matriz addicional,
desta circumstancia, e semelhantemente se procederá
quando houver augmento nos factos que dão lugar ás
taxas fixas. mencionando-se não só estes factos na re--
ferida columna. n. 4, como os que já estiverem ins-
eriptos na matriz primitiva, afim de que a oontribuição
tenha lugar na razão do numero total desses factos.
§ 2.° Na columna n. ;; da matl'iz addicional se no-
tará o periodo a que respeitarem as verbas supple-
mentares provenientes das alterações.
§ 3. Os novos artigos serão lançados segundo a
0

ordem alpbabelica dos nomes, e terão os numeros de


ordem daquelles primitivamente inscriptos na matriz,
addicionados de uma letra, ou os que lhes correspon-
- l':?"-

d~riãfJ ~': os ronlribuinte~ tivessem sido llella .[1-


scripto5.
Arl. 81. 05 contribuintes inscnptos na malriz :,.].
dicim'al. 1I0S termns dI) artigo antecedente, serão cnl·
le.'LlIlos. na contribuição pessoal, imposto para a \I.l~j,}
e 2 por tlOnlos para falhas, desde qUe tiver com,-.:ado
f) motivo para a collecla.

~ lInico. Para os eIJeitos deste arligo diwe kr,ge


em vi5ta o disposto no art. 8· da referida f:lrla d~} r "i
de :lO d,~ Julho de 1860.
Arl. 8:). Sommadas as verbas sopplementarc5 oe-
signadas na matriz addicionaJ, a junta 005 rep:\rll-
dores procederil ao seu encerramento em ltarme'/IIJ
com o que se acha estabelecidü no art. 6.1.
Em seguida a este serviço o escrivão 11'3 faZCllua pa..:,
sará a exlrabir os competentes conhecimentos p;ira 1
cobrança, bem como uma certidão em dupli(aJú ,lJ.
importancia das yerbas supplementares. em harrnullia
com o disposto no art. 72.
ArL. 86. As alterações para menos, que úccorrcl't'1U
na contribuição pessoal depois do encerramento da
malriz, são as que se leilão descri ptas nos Il~. t 11 J
do artigo 66, e dão lugar a annullaçües de \Wb13 fl,~
contribuição pessoal, uma vez que os conlribuintes
assim o requeirão nos prazos competentes.
Por estas annullações serão passados os corupetl:nb
titulos.
Arl. 87. Da malriz addicional e do caderno das JI-
te rações e annullações, extrahirá a junta dos 1'('[\:11"
tidores uma nota da jmportan~ia das verbas ~upplc·
mentares e das annullações da contribuição que hou't~r
no anno, e remetlê-Ia·ha ao delegado do thesouro.
Arl. 88. O delegado do thesouro. em vista das Ilotl::.
- 129-
das verbas supplementares e das anDullações da con-
tribuição pessoal que lhe enviarem as respectivas juntas
dos repartidores, formará um mappa em que se de-
monstre a importancia das verbas supplementares, bem
como a das annullaçõas em cada um dos concelhos,
e o remetl.erá á direcção geral das contribuições di-
rectas.
Neste mappa o mesQlO delegado tambem compre-
benderá a importancia da contribuição pessoal que de
menos ou de mais tiver sido repartida em todo o dis-
tricto, por etIeito da porcentagem achada nos termos
do art. to·, e a qual imporlancia tem de ser addicio-
nada ou deíluzida do contingente ,lu anilo seguinte,
conforme se determina no mesmo artigo.

CAPITULO XIV.

DA. COBRANÇA.

Â.rl. 89. A wbrallça da contribuição pessoal terá


lugar nas épocas determinadas.
ArL. 90. Um mez depois de lindo o prazo annun-
ciado para a cobrança desta contribuição, formará o
recebedor do concelho ou bairro uma relação nominal
de Lodos os contribuintes que deixarem de pagar as
suas collectas.
§ t. o Esta relação será fixal1a nos paços das res-
pectivas camaras. Relações parciaes, elLrahidas daljuella,
serão affixadas nas portas das igr,~ja:-: parochiaes.
§ 2. As reLlçües alfiudas I1CS paçus tias camara s
0

serão apreguadas pelús pregoeiros das mesmas, por


lre5 dias successivos, nos dias de mercado.
S. F. 9
-130 -
§ 3.· As relações affiladas nas portas das fregue-
zias serão lidas por tres dias successil"oS pelos res-
pectivos parochos, antes de começar a mIssa conl"en-
tuaJ.
CAPITt;LO XV.

DOS SALARIOS E GRATIFICAçõES.

Arl. 91. As gratific:u,iões pelo trabalho da formação


das matrizes da contribuição pessoal serão opportu-
namente fixadas pelo governo sobre proposta do dele-
gado do tbesouro.
Art. 92. Os informadores-louvados têm direito a 53-
larios pelas informações que prestarem.
EsLes salarills serão propo~los pelo administrador
do concelho ou ba.irro. sobre indicação do escrÍ\°j,'J de
fazenda, segundo o llIaior ou menor auxilio que pres-
lareul_
Arl. 93. O delegatlo do lhesouro, depois de ouvir
os administradores de concelho ou bairro, fixará o
ma.ximo e o minimo dos salarios que julgar razoaveis.
e os submelterà á approvação do governo pela dir~cção
geral das contribuições directas.

CAPITULO XVI.

DISPOSiÇÕES PENAES.

Art. 94,. O informador-lourado que não der 35 infor-


m~lçõe~ que lhe (I)rem exigidas, e de que elle de~J.
ter conhecimento, ou que as der recunhecidamenh:
inexactas, será despedido pela JUDta dos repartidores
- 131 -

S I. o O informador-louvado, assim despedido, perde


o direito que linha aos sala rios.
S 2.° Para o lugar do informador-louvado despedido
nomeara a junta logo outro.
Arl. 93. Quando se mostre flue o informador-lou-
vado procede com dólo a respeito das informações que
presta, além de ser despedido e ficar responsavel pelos
prejuizos que causar, será autuado pelo adminis trador
do concelho ou bairro, atim de ser processado e pu-
nido c,onforme as leis.
Art. 96. O contribuinte que não apresentar as de-
clarações a que é obrigado pelas instrucções regula-
mentares da contribuição industrial, e estiver sómente
sujeito á contribuição pessoal, pagará. como multa uma
quantia igual á oitava parle da collecta que lhe per-
tencer por esla contribuição.
Art_ 97. O conlribuinLe que der a sua declaração
diminuta, quer na designação do~ artigos das taxas fixas,
quer na renda ou rendas das suas casas de habitação,
pagará no primeiro caso uma multa igual á c~lIecta da
contribuição pessoal que tiver de satisfazer, e no se-
gundo caso igual á quantia que tiver occultado.
Art. 98. Estas multas serão impostas pela junta
dos reparMores, a qual deverá fazer exlrahir o res-
pectivo documento de cobrança, afim de ser cobrado
pelos meios administrativos.
Art. 99. Para os effeiLos do artigo antecedente, a
junta dos repartidores formará uma relação dos con-
tribuintes que fórem multados, com designação dos
nomes,motivos das multas e suas importancias, a qual
será sommada e assignada pela mesma junta. Esta
relação servirá. de documeuto de receita, e por ella se
extrabiráõ os conhecimentos.
,!

-132 -

Art tOO. Os vogaes da junta dos repartidore5. que


se não reunirem dentro do prazo que lhes é designado.
ineorreráõ solidariamente no pagamento de uma multa,
que será de 9~00 nas cidades de Lisboa e Porto. de
"~OO nos r,oncelhos que tiverem mais de 3.000 Covos,
e lÍe 2~oiOO nos de meDor população.
Art. lOt. Por falta da public~,ão dos editaes e dos
annuncios para a abertura dos cofres nos prazos esL1-
belecidos, incorrerá o recebedor respectivo na pena
de uma multa igual á metade das quantias de que ~e
faz menção no artigo antecedente.
Art. lo~. O recebedor e o escrivão de fazenda quI'
no prazo da lei deixarem de relaxar as collpdas em
divida. e bem assim o administrador do concelh.) 00
bairro e (. respectivo escrivão de fazenda, que dentro
do prazo legal deixarem de conelnir as exccn~ões a~­
ministrativas, incorreráõ no pagamento de uma mulUi
igual á vigesima parte ou a 5 por cento das respedim
colleclas.
Art. t03. Ao delegado do thesouro compete fisca-
lisar as juntas dos repartidores do seu districto. f'
impôr a multa est:tbelecida no art. tOO, quando esLa
multa tenha de ser applicada.
§ unic.o. A disposição deste artigo é applicavel p:\fl
imposição das mulLas a que se referem os arll;.:{)~
tot e lO2.
Ar'. tO&.. Para sr levar a efTeito a recepção degtas
multas deve o delegarlo do thegollro fazer extrahir n
re:;pi~ctivo documento de cobrança, afim dp, ser C<l-
hrado pelo eompetfmte rpcebet:lor, u na falta de paga·
mento fazer rnlaxal' a respectiva certirlão ao poder ju-
diciaI, para que lenha lugar a execução.
Art. t 05. O vogal da junta dos repartidores e o
- 133-
informador-louvado. que sem motivo justificado se re-
cusarem a prestar o serviço que lhes é designado por
lei, incorrem na pena dos que desobedecem aos man-
datos da autoridade. segundo o disposto no art. 364-
do Codigo Administrativo.
Art. 106. As multas a que se refere este capitulo
não poderão exceder as que se achão marcadas no Co-
digo Penal.
CAPITULO XVII.

DISPOSIÇÕES GEUES.

Art. t 07. Os escrivães de fazenda corresponder-


se-hão com todas as autoridades e repartições publicas,
para o fiel desBmpenho das obrigações que pelo pre-
sente regulamento lhes são impostas.
Art. toS. Tol1a8 as reclamações e reeu rsos serão
escriptos em papel sellado, e sellados todos os docu-
mentos com que forem instruidos.
Art. t 09. Os delegados do thesouro enviaráõ á di-
recção geral das contribuições directas relações annuaes
das annullações das verbas ria contribuição pessoal ef-
fectuadas em vista dos titulos.
Art. t to. Na conformidade do disposto no art. 6°
da Carta de Lei de 7 de Julho de f86i, fóra dos re-
cursos estabelecidos pela mesma lei, só poderão recorrer
extraordinariamente para o governo, pela direcção geral
das contribuições directas:
J. A fazenda nacional;
II. Os collectados sem fundamento algum para o
ser pela contribuição pessoal;
m. AqueUes a quem de direito pertencer o beneficio
da restituição.
-134 -

Art. t t f. As reclamações e recursos de que tratlo


as presentes Instrucções serão individuaes.
Art. tn. Os governadores civis 'expediráõ as mais
tennin&ntes ordens, para que os administradores de
concelho ou bairro, e os regedores de parochia, cum-
pl"Io exactamente o serviQO que pelas presentes In-
strucções lhes é incumbido.
Art. t t3. Nos casos omissos e urgentes compete ao
governador civil decidir, ouvindo o delegado do lhe-
800ro, e dando parte pela direcção geral das contri-
buições directas.
Art. tU. O governo fornecerá os impressos para as
matrizes da contribuição pessoal.
Art. U:S. Ficão substituidas pelas presenles Ins-
trucções as de 12 de Outubro de 1860, e bem assim
as disposições contidas no titulo 3° das de 19 de Julho
de 1862.
Ministerio da fazenda, em 7 de Julho de 1863.-Joa-
quim Thoma:l Lobo d' Âvila.

9 .} \ 68
'~r
~ I
blll'lIa • qur se .... r,.r .. o D•• t .• do a"l. t. O das IDlllr,,~õea · reKula_eDtarr8 dó eODlrlbulçAo p ... aoal

i.· E 2,0 ORIlEM 3.· ORDE~I l ." IS.· E 6.· ORDEM


UNIDADES TR/8trrAVE/S
~ =
PP.S· iOPOR 'l POR PESo 20 POR :! POR PES- !OPOR 'l POR
TÓTAL TOTAL TOTAL
SO.H CINTO CElHO SOAL Cr:~TO 1.~NTO SOAL CENTO CENTO
-- =oe

Um criado . . .... • . . . • . .. .. . , I$!OO SUO BO:!81 jS~S i~OOO 8200


Vols ditos . . . . . . . . • . . . . . • . . .. 38000 8600 8072 :\8812 ;!8500 80011
Tres dllOS. . . . . . • . . . . • . . . . . . . 08000 I~SOO ,~16\ USOJ6 7,\000 18\00
S()Q.,A.
jooo
168
~ 822..
38060
S8:"68
180001 92001
'lSISOO 8500
78000 1,.$'400
SOU i
se60 3 060
81GB 8 t:í68
~

Quatro di los . . . . . . . . . . . . . . . . 208000 UOOO \80,U.SiSO 168000 3S!oO S3S\ 19868\ 16JOOO 3,~ ,t3l!& Ig lS84
Cada um a mais .. ... . ... . . . . . . 118(\00 IbOOO RHOI eSJ20 4bOOO 8KOtJ 8096 ~SS9ô 4$000 ..t006 6 896
Um cavallo, égoa ou muar. • . . . . . . . 6S000 latOo SI6,~ 78:\14 IlS000 tSooo 8120 68120 18000 S'lOO 802~ I ,tm
Dois ditos . . . .•. . . .. . . . . . . . . . 15..$'000 38000 8360 18S36t) 12S0W 2HOO S'lSS tlBôi<8 2.$000 S/SGO 8060 38060
Trcs dllos . . . . . . . . . . . .. . . . ... a.1$000 66000 S7:"!°13tlSnO 206000 IHOOO 8(j()()j30H600 68000 1S!oo S14~ 7 34.i
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