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À N A I i l Z È

AO

D E G R E T O
, . . . . ' } , j W í l m P :..- T ^^HSHS
do í . de Desembro de 1822,
$ í .Sole ' i

DA NÒVA c m m DO ÓRVZitRO
„ •• y - w (.

Com* algumas notas.

ILLVSTRjfkAQ- AO BRAZMÈ
E AO IÍÜSSO IMPERADOR

O S E . D . P E D R O I

Oferecida ao Publico;
PÊLO D F 7 F A / Í J ATA

BAHIA, '

1823,
E vè do Mundo todo os Principaes,
Que nenhum no Bem Publico imagina,
Vè nclles, que não tem amor á mais,
Qü> á si somente, e á quemfilauciáensina.
CAMÕES.
IMPOLITICO revoltante Decreto publicado
no Rio de Janeiro com a d a t á dop¥imeií4>dé
Dezembro de 1822, sobre a cteáçáó dehüiaa
nova Oí-dem de CaVàlária, aíeafefc d e dar b o t e
vel choque aos corações dos BrazileiflpS,/ qtue
tem verdadeiro amor â Liberdade, e â Patria.
Quem diria, que os Ministros do Rio de Janei-
ro abuzarião tão depressa da confiança tóiíài-
ca, e da do Imperador, aprezentando com abo-
minável hypocrizia hum Decreto; que ápdpfe
serve para desmascarar as insidiozas manobras,
com que a Aristocracia, e o Despotismo macm-
não levantar de novo o seo,throno sobre a sin-
gela fé dos illudídos Btazileiros. H e m u i t o p q -
ra admirar, que os acontecimentos do tempo
1
fc : fJS • . rfJT "J1 , ,• - .. , - ' ' . - ,
prezente, e a incerteza dos negocies lpolitlfcos
t • _ . _ - \ ph
do novo Império, nao sirvao ao m e n o s d e í r e i o
à torpe ambição daquclles fabric,adores dé Dc-
cretos, que dão ao prelo este abominarei parlo
de sua çprrujpção, chegando tão audacioza im-
pudeniál á pjiblicèr o líècretò em ífdest^d, que
alem do mais faz reluzir a surpreza, e obrep-
ção praticada contra a singeleza do Imperador,
so á nm de se completarem os tenebrozos pla-
nos trabalhados sobre as bigornas, em que se
tem caldeado as pezadas algemas, que hão de
arroxar os nossos pulsos. Oh! maldade sobre to-
das as maldades! Sim, são os Ministros Brazi-
leiros, que illudindo o nosso Imperador e Pef-
fensor Perpetuo, e Constitucional liberal, per-
tendeni fazer retroceder de noyo o espirito bu-
ma.no, idolatrar a Tyrannia, e restaurar seo a-
petecido império das trevas, e da arbitrarieda-
de.:. ( # )
...i... f .

( * ) Athé certo tempo vio-sc o andamento liberal da Corte do Rio dc


Janeiro. E m quanto os Ministros de Estado julgàraõ os negócios políti-
cos flial,seguros, fingiap, que se promovia a Liberdade, e tudo eraõ cari-
nhbW, e amores: porem agora quje se persuadem estar reforçados de algü
partido, e apoiados pela Força Militar, ostentaõ a mais notoria arbitra-
riedade; de sorte que j á se naõ duvida, que elles aspiraõ fazer o Impe-
rador despotico, e restabellecer de baixo de novas formulas a passada
Monarchía arbitraria, essa Bemaventurança de Fidalgos, Previlegiados,
c Gente Togada; e sqa ranchad:.:, Quando se lem em outro Decreto es-
tas palavras — a Fazenda Nacional, e Minha --percebe-se facilmente o
ardiloso pássò do Despotismo. A Fazenda Publica pertence á Naçaõ
excluzivnmente: naõ pertence ao Imperador de maneira alguma; o Im-
perador rec.-be delia hilm sallirio como Primeiro Empregado Publico
Nacional, 8e*gundo a Constituição; portanto nada lhe pertence de pro-
priedader^pertender o contrario disto he querer perturbar a ordem, pois
.'<9;i?0Twf§taõ.alerta, e njnguem consentirá, que o Imperador denomine
a Fazenda Nacional -- Minha — O segundo passo dos Ministros para
Kstanrafcih seo- éxplendor, influencia, concideraçãn, poderio, e tyran-
nia do Gabinete, he a provocante Portaria, pela qual se manda abrir em
todas as Cidades, e Villas, e proceder á devassa de inconfidência por mo.
tiTOi imaginários; preudendo-se, e proscrevendo-se os Benemeritos da
E os ARISTOCRATAS Ministros do Rio de Ja-
neiro não estivessem tão corrompidos, e atola-
dos ainda nas antigas maldades, terião diante
dos olhos a temeroza oscilação, e desconfiança
das Províncias, a instabilidade das couzas hu-
manas em tempos de revoluções, e a desconfi-
ança e'medo dos Povos á respeito do methodo

Patria por suspeitas, sem serem ouvidos, nem convencidps: este plano
de terrorismo inventado para emmordaçar as boccas dos que combatem,
ou podem debellar de prezente, ou para o fucturo o Despotismo, ataca
directa, e absolutamente os dois direitos do Homem, a segurança pesso-
al, e a liberdade da Iinprença, e pedem reacção Publica: naõ ha maior
petulancia, do que a dos Ministros do Rio de Janeiro! Para se aparta-
rem de Lisboa algumas pessoas suspeitas, pédio-se a suspenção da Lei
Habtas corpus ( isto he, da lei da segurança da pessoa ) por trinta dia,s:
prenderão-se os homens, e enviaraô-se para o interior do paiz, vinte, ou
mais legoas fóra de Lisboa, á 10 legoas do mar: porem no Rio de Janei-
ro os Ministros em hum abrir d' olhos deVassaraõ, prenderão na Ilha das
Cobras, e exportarão, ou degradarão para Europa sem defeza, nem,sen-
tença! Quem poderá viver seguro no dia de hoje, se as Províncias obe-
decerem átaes ordens? Parece, que o Despotismo está peior, que d'
antes, e mesmo mais excessivo, do que em Argel, ou Constantinopla.
O Rio de Janeiro vai aprezentando o aspecto medonho de Roma no tem-
po de Mario, e Scilla, de baixo da vingança, e furor do nosso Dictador
José Bonifácio, cseos vis satelites, cobertos com a Toga do sacrificado
Imperador, que lhes dà demaziado credito, e confiança: Desgraçado
Imperador.
Se o Rio de Janeiro não mudar j à de eondueta; se não curaras feri-
das, que tem aberto na honra, c liberdade dos Cidadãos; se não restabe-
lecer o socego publico, extinguindo as devassas, e chamando os persegui-
dos; se não pozer em paz, e' quietaçHo as famílias, os coraçoes, ^ b s o à -
piritos; se não desembaraçar as boccas, n b > m . barulhadas vão
as Províncias, e perdidos sem re^ddio ^ C ^ Mo Imperador : por-
que nem lhe hao de valer as devàssds,^ fetforkpqtté so servem para
L i s irritar, e fermentar • odio; nem os eVfWi* ^ S b í *
nicamente tem a virtude de abrir os olhos a todos os virtuozos Cidadaos,
de hü Governo amoldado pelo execrando e de-
vastador systema, que nos esmagou mesmo nesse
còvil da tyrannia, o Rio de Janeiro; e de que
ainda se conservão as feridas abertas: elles Je-
rião reparado, que as Províncias, posto q u e f f e
nhão acclainado o Imperador, e a Independem
çia, ainda estão vacilantes com Governos crqa-
dos por seo único esforço, e heroísmo para mã-
terem sua liberdade; que podem retroceder, e
sublevar-se á vista de insidiozas manobras, que
qtacão de frente a Constituição, e a Liberdade:
elles terião reconhecido, que os Povos do Bra-
zil, cansados de sofrer os Aristocráticos, e os
horríveis attentados da nossa velha Monarchià,
não podem tolerar hum Governo, que faça re-
cordar as desgraças, e a escravidão da detesta-
da vara de ferro, que nos regeo: elles terião vis-
to, que parte do Brazil ainda não se tem reu-
nido; ( *;) que o Império ainda novo e tenro não
" -' * ,.' ' S "t ' ' " V r "'.
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e dispôlos para a revolta; nem os soldados, porque estes hoje estão ips- -
truidos nos seos deveres para com o Brazil sua patria, c u j a deffenção es-
ta.em primeiro lugar, do que ninguém; e mui particularmente, por que
também conhecem, que o Despotismo os ha de por sua vez devorar ; tu-
do isto merece mais attenção, quando vemos o Rio de J a n e i r o dividido
em partidos. Se o Imperador não sufocar este germen de discórdias po-
líticas, e não cortar pela raiz o systema de terror, e o manancial das dis-
córdias, o .qual consiste nas bem fundadas suspeitas de períenções sinis-
tras, e alheias da nossa liberdade; se n5p.substituir.-em,seo lugar lirandu-
ra, eçíPiÊança nos Povos, restabelecendo a p a g | g t e l ? d p s espíritos,.e
das. Províncias novamente desconMglg.; se n ã o • • j ã ^ M r ^ à . todo correr,
que Ellc se sugeita ás d e l i b e r a ç õ ^ ^ C o n g r e s s o '||gL$i|eiro 5 então po-
demos exclamar c o m ^ ç & o - n a b j f ^ p / o Miionc - ^ O ' spes falaces!
O' cogitationes imancsiinmi'! ' r;
• i^ittMmrdr Tr ••' > • * • ... <
( *) He-pára a d u b a r a loucitra d.d Ministro Josc Bonifácio; ellc su-
*

deitou as necessárias raizes, que a guerra ci-


vil ainda continua, e que o espirito humano hc
variavel, e a sorte da guerra inconstante: elíes
terião visto,' que os Povos do Brazil regeitarão
a união com Portugal só porque a Constituição
lhes não convéio, e que se dezejão fazer CóS^h
com o Rio de Janeiro, he porque esperão nOVO
systema, e Constituição livre, que lhes agrade;
Constituição feita sobre princípios liberaes, que
destrua Ordens, Previlégios, e Izenções, Clas-
ses, Morgados, Commendas, &c.; que não se
lembre de duas Camaras, nem de Veto absolu-
to; ( t ) que diminua, e corrija os Magistrados,
fazendo elleger estes pelo Povo; que deixe to-
da liberdade á Imprença, ás Sciencias, e ás Ar-

p o e , que tudo vai excellentemente, e que o Brazil está bem sínido, e o


P o v o disposto à sofrer o despotismo; pelo contrario devia elle attender
à melancólica face do novo Império • que P a r á , Maranhão, e Piauí , co-
mo mais ignorantes, e povoadas de Portuguezes, estão unidas à P o r t u -
gal 5 que Monte-Vidio, e Bahia ardem em guerra civil dezesperadá 5 qfte
as de mais Províncias estão unidas, mas desconfiadas, e vacilantes; elle
finalmente deveria temer, que sendo o nosso Império, como de vidro, p ó -
de quebrar-se com facilidade, ficando victima de sua ambição, loucura,
e despotismo o nosso Imperador,

( f ) De qualquer modo que se concidere o Veto absoluto, elle vale o


mesmo, que a não existencia da Constituição, elle he o escarneo das Cor-
tes, e verdugo dos P o v o s ; porque de nada serve fazerem as Cortes huma
boa Lei, quando o R e i , Imperador, ou Príncipe, julgando-a nociva aos
seos interesses, com a sua única e despotica v o n t a d e , e com huma só p a -
lavra - Veto, isto he, prohibo, não quero - prohibe, desfaz, e aniquila a
Lei Com esta condição de Veto absoluto não existirá Constituição, e ca-
hiremos novamente no Despotismo : ( e o mesmo ha de acontecer com as
duas Camaras.) Mas para bem do Brazil estas idéias j a se achão tão ge-
neralizadas, e cauzão tanto horror, que he de cref, que com tal Veto ab-
soluto o Brazil não acceitarà Constituição, ainda qüe venha do C e o : em-
b o r a se esforcem os Ministros com devassas, terrores, perseguições, espi-
a s , malcins, proscripções, emissários, pregadores, sobornos, ensmuaçoes,
tes; que institua Jurados no cível, e crime &c.;
que faça finalmente reluzir hum governo em tu-
do novo, livre, e perfeito, segundo os dezejos
das Províncias, que tendo sacodido o jugo, se-
rão antes arrazadas, do que dominadas; elles fi-
nalmente terião encaminhado o tiosso Impera-
dor pelas planícies da sincera Liberdade, e não
pelas tortuozas veredas do machiavelico Des-
potismo, alentado ainda por esse abominavel, e
execrando resto da semente dos Áulicos, que
se mordem de raiva, e lutão para restabelecer
no Rio de Janeiro a sua dominação. Lancemos
pois hüm golpe de vista sobre aquelle Decreto,
e mostremos aos nossos Brazileiros em breve a-
nalize o primeiro mortifero veneno involvido na
pirula doirada e adocicada, que o Anjo das tre-
vas, e do mal preparou para escravizar o Bra-
zil. Eu vou separar as idéias, e aprezentar
com verdadeiras còres o quadro do Ciclope, ou
do horrendo Minotauro, que para o fucturo nos
ha de devorar.

&C
; ' tU hC dC de
' P ° Í S « U e c o m e s t e andamento de polí-
t i c a cresce a d e z u m ã o , e se f o r m ã o p a r t i d o s de oppozição, que cedo ou

Ctaad0r°rl0SS0:| °S W«te2de Z ^ l
nosso I m p e r a d o r , bem contra a vontade dos Povos
Analizc.. 9

RES saõ as primeiras observações, que-de-


vem chamar a attenção, e vigilância do Povo
Brazileiro, e mover QS Patriotas, e as Provín-
cias á atalaiarem, e opporem-se aos subversi-
vos manejos, e subtilezas do Governo do Rio de
Janeiro.
A l. a he sobre as palavras £ E sendo pratica
constante, e justa dos Augustos Imperantes,» e
particularmente dos Augustos Reis Meos Pre-
decessòres £
A 2.a sobre as palavras £ Criar novas Ordens
de Cavallaria, para melhor perpetuarem as épo-
cas memoráveis de seos Governos, e com espe-
cialidade de Meo Augusto Pay £
A 3.a £ E por querer- outrosim augmentar com
a Minha Imperial Munificencia os meios de re-
munerar os serviços, que Me tem prestado, e
houverem de prestar. £

ANAL, B
§. IV.

GERAMOS agora o pano á esta temeraria sce-


na de attentados ^contra a nossa Instituição Im-
perial, e derribemos o monstro, que, posto que
seja de sombra, já nos ameaça. Se o Brazilse
está regenerando; se o Imperador he planta ten-
ra em solo novo, em tudo despegado do antigo
systema, cuja lembrança só por si nos faz estre-
mecer o coração no peito; e tudo em conse-
qüência deve ser diferente dessas maximas, e
formulas velhas, que trazem á memória as pe-
sadas cadeias, que temos arrastrado, como he
que os Ministros tem a animozidade de uzar des-
tes termos - constante c justa-f Isto mostra, que os
Ministros querem emendar o systema novo com
o velho; isto he, querem fazer este Governo Im-
perial huma continuação do Governo Moriarchi-
co. passado, fazendo reviver o monstro do Des-
potismo: isto he certamente hum ardil do Ga-
binete do Rio, a fim de pouco a pouco , e por
meio de honras e previlegios corromper as al-
mas fracas para se acostumarem aos ferros, que
se vaõ preparando nas fornalhas ainda ardentes
do antigo ministério. Que desgraça do Brazil!
Quando apenas principiamos a carreira da nos-
sa índçpendencia, já os Ministros buscão amon-
toar partidarios, formando facções contra a nos-
sa Liberdade! Quem deixará de se indignar
á vista das palavras -dos Augustos Reis Meos Pre-
decessòres-f O nosso Imperador he Brazileiro, e
he criado Imperador por graça dos Brazilei-
ros; ( * ) Elle he o primeiro Imperador e nunca
teve Prodecessòr; o nosso estado político he re-
cente; a nossa Independencia prova a nova or-
dem de couzas; o Reinado do Senhor Dom Jo-
aõ VI. he odiado no Brazil, ( t ) pois que nos
traz. ã memória despotismos, roubos, mortes,
R 2

( * ) Os Povos do Brazil actlamarão Imperador ao Senhor D . Pedro


pdr amizade, e fizerao do Brazil huma Nação nova; mas naõ sei porque
força de fado os Ministros querem fazer o novo Jmperio continuação do
Governo velho: naõ he precizo ser muito perspicaz para penetrar esta
verdade; athé fizerão ungir* isto h e , untar com azeite o Imperador, e
inventarão hum pantomimo de cêremonial, chamado sagração, ( risum
teneatis amici! ) a, fim de renovarem a irrizoria insujsa idéia, de que o
Poder do Imperador vem de Deos. Os Ministros estão doidos: o Impe»
rio he obra toda dos Brazileiros, os quaes escarnecendo das macaquices
da sagração, tem determinado, que o Imperador, como creaturá sua, el-
leito, acclamaÜo, e conservado taõ somente por graça do Povo, se con-
forme com osseos votos e vontades, a l i a s . . . . .

( t ) O Reinado do Senho* D. João V I . he abominado no Brazil.


Os Povos ainda se lembrãe, que elle em poucos annos lhes impoz mais de
dezoito tributos arbitrarios; que opprimio a todos com vexames, roubos,
e insultos de seos validos; &c. Os Povos ainda tem as cicatrizes das al-
gemas, grilhões, e correntes, muito frescas; e as lagrimas mal enxutas
pelas crueldades horrorozas, iilegal, e barbaramente commetidas na Ba-
hia; e carneficina inaudita de Pernambuco com mortes, esquartejamen-
tos, arrancamento dos cadaveres das sepulturas, profanação do Sacerdó-
cio, roubos, estupros, adultérios, sacrilégios, violências, insultos, inju-
rias, etormehtos ; surras mortaes, e palmatoadas na gente forra pretos,
pardos, è brancos, áthé nas mulheres, e meninos, a ponto de saltarem
fora as unhas, e de ficarem alèjados; bofetadas, xicotadas, pontapés;
iVc. &c. Os Povos ainda se recordão do ataque atraiçoado feito á P r a ç a
do Commereio do Rio de Janeiro, para sepultar nas ruinas os Elleitòres,
e o Povo, cujas ordens forão dadas por S.. M. o Seniwr D. JoSo V I . do
que se seguio morrerem 21 pessoas (alguns querem, que fossem 43 ) «m
huma palavra os Povos tem em vista o horrendo quadro da Moaarcàia
calamidades, mizerias, &c.; logo toda esta par-
te do Decreto foi organizada para corromper o
coração de S. M. í. e meter-Lhe nas entranhas
a soberba, e vaidade, que devem ser degrada-
das do seo Palacio, a fim de naõ excitar a des-
confiança, e dar vòo á outros males, que nos a-
balcm os alicerces do Império, ainda mal con-
V

solidados: ± para que combinar a velha Monar-


chia com o novo Império; o estado do passado
aviltamento do Brazil com a nova Regeneração
política? Longe, longe de nós similhantes idéi-
as, que só provão adulação, e manobras para
fazer apadrinhar a premeditada fundação de
hum Império Aristocrático. O' IMPERADOR abri
os olhos; os vossos Ministros Vos illudem; elles
querem astutamente fabricar huma machina, em
que Vós haveis de servir de testa de ferro para
os poderozos serem tudo, desfruetarem tudo, e
opprimirem tudo, sendo a Vossa partilha ficar
escravo desses mesmos, que Vos lizongeião!
Sereis Grande, sereis tudo^Crede-me S E N H O R )
pela Liberal Constituição; d'outro modo Vós
estaes perdido. ( J )

absoluta passada, abominão a memória desse Reinado, e por isso naõ


querem união com Portugal, c nem taõ pouco, que o novo Império se
assemelhe ao Reino do Senhor D. João VT, &r. Lutar contra isto,
hemachinar a dezunião das Províncias, e a dissolução do Império.

• ( t ) Se 09 Ministros do Gabinete do Rio teimarem, fazendo mano-


bras para que se coordene Constituição com desprezo das Bazes adopta-
das, c juradas, só com huma alteração, que he no artigo 19, p ó i s o S n r .
§.v.

EJAMOS pois a segunda observação, que


faz ainda crescer nossas desconfianças, e talvez
esporear mil dezordens. O Imperador cria es-
ta nova Ordem para perpetuar a época do seo
Governo, &c.: eis outro erro perigozo no tem-
po prezente. O Imperador naõ deve dizer, que
quer perpetuar a época do seo Governo, sim a
época glorioza do novo Império Independente:
as palavras do Decreto provão, que o Impera-
dor Se põe em primeiro lugar, como absoluto,
quando Elle he parte do Império; ellas mostrão,
que tudo se deve referir ao seo Governo, quan-
alias tudo se deve referir á Nação, de que o Im-
perador só he, por elleição, e espontanea von-
tade, e escolha dos Brazilèiros, Chefe do Poder
Executivo, isto he, Delegado do Povo, ou da
Nação: ( * ) os Ministros naõ nos afogão com a

Dom Pedro he ojiosso Imperador; se machinarem Constituição com du-


as Camaras; se quizerehi dar ao Imperador Veto absoluto, e a iniciativa
das Leis, contra as Bazes 23, e 25, faráõ aruinado nosso pacto social e
do Imperador, que, por falta de experiencia, julga tudo mui seguro, e
bem ordenado; mas huma fatal experiencia O ha de dezenganar.

( * ) No Rio de Janeiro j á sc tem escripto, que o Imperador pôde


tomar o titulo, que quizer, elleger-se à Si mesmo Imperador, Generalis-,
simo dos Exércitos, Senhor do Erário Nacional; e j á sc diz, que o Im-
perador só deve estar pela Constituição, se Lhe agradar; &c. & c . : que
abysmo se abre de baixo dos nossos passos! Nesta marcha ou o Brazil
se dilacera, e o Império baqueia; ou alias ficamos novamente escravos,
palavra -Imperador-; os homens livres naô se en-
gásgão com chimeras. Oh! praza á Deos, que
a demaziada lizonja dos Ministros naô precipi-
te o nosso Sincero Imperador, fazendo, que n'
Elle se cumpra o rifão - quem tudo quer, tudo per-
de-. Mas naõ succederá assim: nós illuminare-
mos o nosso imperador: nós O criamos como
Patriota; nós O ellegemos; nós O sustentaremos;
nós O defenderemos, assim como Elle nos de-
fende á nós; mas só com a diferença, de que o
Reino da Aristocracia será destruido, e a nossa
Patria Independente, g verdadeiramente Livre.

§.Yl.

já á terceira observação, que ver-


ASSEMOS

sa sobre as palavras - com a Minha Imperial Mu-


nificencia-. Que dezatino de Ministros! Mizero
Imperador! Como: vás enganado! <; Como lie
possível, que todos os Cidadaõs honrados, e li-
vres naõ se enchão de indignação, lendo, que o
nosso Imperador, tendo chamado Cortes, ainda
diz - a Minha Imperial Munijicencia - os meios de

o mais vis escravos, do q u e d' antes. O s Ministros a d u l a d o r e s , despre-


zando o bem do seo P a i z , e a liberdade dos vindouros, q u e r e m o Senhor
Dom P e d r o despotico, p a r a elles o s e r e m : mas eu n a d a receio, p o r q u e
as dispozições do B r a z i l saõ muito livres, e o s B r a z i l s i r o s sempre vWU
Jantes naS curvarão á c e r v i z p a r a r e c e b e r j u g o d e ninguém, "
remunerar os serviços que Me tem prestado, 8fc. - f
He precizo, que o Brazil abra os olhos com taes
pertenções, e afugente similhantes idéias. Quem
faz serviços, falos á Nação, e nunca ao Impera-
dor, que he parte da Nação: o Decretar pelos
públicos serviços pertence ãs Cortes, que figu-
rão a Nação inteira: quando antigamente o Che-
fe da Nação, poF ignorancia, e cegueira dos Po-
vos, e nefanda uzurpação dos inalienáveis ip-
prescriptiveis direitos de Reprezentação, Legis-
lação, &c. &c., se acreditava Senhor desses Po-
vos, como se estes forão manadas de bestas de
carga, então he, que o Imperador, ou Rei dizia
- Minha Imperial Munificencia-: mas hoje naõ he
assim: o nosso Imperador he Constitucional, naõ
he Senhor: Elle he hum Cidadão, por nossa gra-
ça Imperador, e Chefe do Poder Executivo; mas
isto naõ he, para que se arrogue, e uzurpe taes
poderes, que só pertencem á Nação: o Impera-
dor naõ deve, nem pôde remunerar serviços, fa-
zendo taes Decretos; a Nação como Soberana
por meio de suas Cortes he, que deve, e pôde
fazer tudo: este modo de dizer taô absoluto na
bocca do Imperador prova, que existem mano-
bras occultas para dominar no Congresso, e he
por isso, que o Publico murmura, e suspeita
muito maj das eleições de certos Deputados,
que parecem feitas por magicas tramóias, a fim
de se aprovarem maximas perniciozas, e de se
introduzir em o novo Império o systema da
Aristocracia, e do premeditado Despotismo, &c,
eu sou amigo do Imperador, como nosso Deffèn-
sor perpetuo, e por isso dezejo, que os seos
Ministros O naõ illudão, e precipitem por meio
de taõ baixas adulações. He para dezejar, que
o exemplo de Jaques II. Rei d'Inglaterra, e de
Bonaparte Imperador dos Francezes, e de ou-
tros muitos abrão os olhos ao Senhor Dom Pe-
dro I. para que se previna contra as fanthezias
de seos Ministros: Elle deve vèr tudo, e pezar
tudo, porque os Povos do Brazil querem ser
bem governados, e naõ dominados.

§• VII.

ANCEMOS agora os olhos para os artigos.


Que montão de desconcertos, ou para melhor
dizer, de arbitrariedades! S. M, I. he Graõ-
Mestre, Imperador, e Ministro para despachar:
o ardil he mui grosseiro; algum sequaz dos An-
dradas ha de ser o Chaneeller, &c. Que des-
graça ! Quando pela Constituição se devem di-
minuir as despezas, e os Ministros, estes.verdu-
gos do Brazil, então he, q u e se cria hum novo
lugar de Chaneeller, para acrescentar o numero
dos poderozos, e sequazes do novo Império, a
fim de fazer solido o methodo da dominação.
Desgraçado Imperador, que sendo taõ-dócil, e
liberal só acha Ministros, que O leréir pelais
vias da iniqüidade, e da perdição!

§, V1IL

[JANTO aos demais artigos, e suas divisões,


e arranjos, bem se vê, que estes inculeão ames
ma dezordem, pois saõ conseqüências da pri-
meira. No terceiro se vê o numero dos Caval-
leiros illimitado, o que de certo he arbitrarie-
dade. No sexto lemos com horror as palavras
- da Minha Imperial escolha e justiça -: parece, que
o Graõ-Turco em Constantinopla - naõ falia ria
com tanto arrojo: no fim do mesmo artigolè-se
- moreçao da Minha-Imperial Mumficenâú dispméa
£ pòis-0 nossó ímperádòr pôde dispensar
na Lei? Estamos e m - b é a ^ ^ m í Qmer tem«á -
ridade de Ministros! Eis aqui bem palpável o'
empenho destes aduladores erm amoldar o nóvò "
Império pela corrompida detestável Monáè?"
chia, que nos governou com seeptro d£ ferród
esmagando os mizeros Brasileiros, a póntó deJ
naõ terem jazigo, se naõ nos abysmos d á 'morte,.-.
c dos sepulchros. Mas naõ; eu naõ d e i c h a m .
omeo Imperador cahir incautamente nos laçnsr
c labyrintos dos facciozos Aristocratas: eu
ANAL. C
tenho braços para O deíFender, tenho coragem
para O illuminar, e voz para Lhe gritar: £ a-
cordai, SENHOR, acordai: RIS Vossos Ministros
Vos arruinão, abysmando com Vosco o Brazil:
Confiai nas Cortes Brazilianas; Confiai nos Vos-
sos Subditos, que Vos tem coinpatriotado; elles
Vos elevarão mais alto, do que as estrellas: saõ
elles, os Estados Geraes Brazilicos, e a Consti-
tuição, que Vos hão de eollocar no Templo da
Gloria, e da ímmortalidade,

§. IX.

OR seguirmos o nosso plano cie brevidade,


ponhamos de parte tudo quanto dizem os outros
artigos athé o undecimo; este pela sua matéria
he certamente hum, dos que involvem maiores
aggravos aos olhos dos Brazileiros; o que ma-
nifestamente appresenta o mais escarnado arbí-
trio: diz o artigo: -gozará de todos os prsvihgios,
foros, c isenções, ãe ove goza a Or&m de Christo -:
eis aqui huma miscelania, que tira toda a duvi-
da de perteiiderem os Ministros do Rio de Ja-
neiro fundar hum Governo Aristocrático, des-
lumbrando os olhos dos incautos Brasileiros
com ornatos de fitas, e medalhas; e o s espíritos
fracos com promessas de previiegios, foros,
izenções, &c. Lizongear o coração humano
sempre foi arma dos Tyrannos, e a mais peri-
goza á P a t r i a ; mas felismente o arteficio naõ
tem lugar no dia de hoje, em que o nosso Cor-
po Legislativo tudo pode prever, e acautelar,
pois que só á Elle pertence Decretar, &c. To-
davia eu sempre perguntarei aos Ministros, que
derão á S. M, I. a assignar subrepticiamenté es-
te Decreto sem o ler, nem reüectir, se naõ he
espalhar hum terrível fermento de nova revolu-
ção, tocar em previlegios, foros, e izenções, nes-
te tempo de luzes-, em que se tem diante dos o-
Ihos mil sublimes instrucções, reformas, e leis
da Constituição Portuguesa; e nesta occazião, .
em que se esperão outras similhantes do nosso
Congresso no Rio; e em que se naõ podem so-
frer, e de facto se haõ de extinguir previlegios,
foros, e izenções. ^ Se todos saô iguaes peran-
te a Lei, e deve haver responsabilidade, segun-"
do a mesma Lei, como he, que arrojadamente
se falia em previlegios, foros, e izenções? Eu
naõ posso duvidar, que havendo padecido a an-
tiga Nação Portugueza ( e nós com cila ) gran-
des males por estes previlegios, foros, e izenções,
ninguém dará apoio no Brazil á taõ corrupto
systema: se S. M. I. tivesse extincto as tres Or-
dens de Christo, Aviz, e Sant-Iago, como Or-
dens da Nação Portugueza, que hoje nos he es-
tranha; se conservasse as de Torre e Espada,
e Conceição, privativas do Brazil por serem
0 2
criados no;Rio de Janeiro, esperando, que as
nossas Cortes Brazileiras instituíssem esta do
Cruzeiro -para distincção honorífica dos Bene-
jneritos da.Patria excluzivamente, com alguma
ÂBSignia, que os cobrisse de gloria ( assim como
.em tempos antigos se premiavão as melhores
acções dos Heroes de Roma com huma coroa
«de loiro; ) se naõ se tomassem na bocca estas
•palavras detestáveis -previlegios, foros, e izenções-
-cada huma das quaes prova com evidencia a
•restauração do despotismo por meio de nova
- classe de Cidadãos, que só servem para pezar
sobre o resto da Sociedade; neste cazo daria-
mos talvez alguma desculpa aos Ministros, e es-
peraríamos, que o semivivo monstro do. Despo-
tismo naõ inficionasse com alito pestilente as
bemaventuradas plagas Brazileiras: mas naõ he
assim: ã vista do artigo XI. do Decreto em fren-
-' O
te os Cidadãos devem tremer, .pois já os Minis-
• Iros se supõem taõ fortes, que aprezentão sem
rebuço, e sem temor taõ arriscadas decizões.
^Porventura naõ se lè nos rostos de todo o mun-
do a firme, e brioza rczolução de naõ receber
algemas, e cadeias, ainda que sejão fabricadas
do mais fino ouro ? Salta aos olhos, que este
Decreto com taes artigos he o percursor do Go-
verno despotico, e da tvrannia. i Quem deixa
d e v e r , que aquellas palavras -no que naõ for
contrario á Constituição do império - saõ expietivas r
? e que o alvo, á que se atira he engodar os
escolhidos Cavalleiros para por interesse prote-
jerem os abuzos; e acostumar o povo igiíavo á
sofrer os golpes da arbitrariedade ? O Gabine-
te do Imperador quer ganhar terreno passo á
passo, para bfeve nos esmagar com Morgados,
Barões, Condes, Viscondes, Marquezes, e to-
dos quantos formão o cortejo do Despotismo.
Torno a repetir; estas palavras -previlegios, fo-
ros, e izenções - devem ser banidas no.Brazil pe-
lo nosso Sábio Imperador; alias temos a recei*
ar graves males, e os mais tremendos' fenôme-
nos políticos.

§• A'-

ÂLLEMOS agora do artigo 15, que tracta do


prêmio dos serviços dos Membros desta nova
Ordem. Eu já toquei de passagem nos títulos
honorários, de que os Benemeritos da Pátria
devem gozar: agora porem entro em matéria
g§pmhoza, pois vou proferir estas palavras ater-
radoiras - tenças, e commendas rendozas — korresco
referem Custa-me a acreditar, que os Minis-
tros tivessem o dezacordo de imprimir este ar-
tigo sem temer, que o Publico recalcitrasse a-
bertamente, e que a Nação inteira levantasse a
voz de seo ressentimento, e com elle as armas.
O artigo falia em dotação aos Nobres, e impor-
tantes fins da Ordem, e assevera, que se criara
hum numero certo de tenças, e commendas de
diversas lotações, &c. Pergunta-se, que ser-
viços fez Gordilho, e outros similhantes ? Que
fizerão os Prezidentes das Juntas Governativas
das Províncias, e Q Bispo de Saõ Paulo ? i Que
merecimento tem para Graõ Cruz Ribeiro de
Andrada, que minutou, redagio, e assignou o
mais vergonhozo de todos os pareceres de Com-
missões contra o Brazil ? Muniz Tavares, Fer-
nandes Pinheiro, e outros, que assignarão a
Constituição de Portugal ? Alem disto a con-
fuzão, e dezigoaldade da escolha demonstra
que os fins da Ordem saõ atrahir os que tem
influencia no Povo, e segurar os mais fortes, e
temerários, como o dito Andrada, Barata, Li-
no Coitinho, e outros capazes de serem chefes
de partido, para fazer delles escoras do despo-
tismo do Rio de Janeiro: &c. &c. Mas quan-
to melhor seria, que o nosso Imperador deixas-
se o Soberano Congresso Brazilico criar espon-
taneamente huma Ordem temporaria ( pois he
sua inalienavel attribuição ) para premiar os
Benemeritos da Patria, por elle Congresso es-
colhidos, athé a concluzão da paz geral, e tran-
qüilidade do Império, assignando á cada hum o
ordenado, que bem lhe parecesse1; ficando com-
tudo extincta a dita Ordem pelo' falescimento
dos Cavalleiros, bem como praticarão os Ame-
ricanos do Norte. Naõ ha maior indiscrição,
do que detestar as sabias instituições destes im-
mortaes Legisladores do Universo, só porque
cheirão a Republica. Oh! Infeliz Brazil! A-
inda hoje te perseguem teos tristes Fados, afas-
tando os Ministros do Rio dos òlhos do Impera-
dor a melhor legislação! Ora quem poderá
consentir hoje, que se julgue honrada por ex-
cellencia a classe militar, e que se criem Caval-
leiros igoalados á Tenentes Generaes, Briga-
deiros, Coronéis, Capitaês, &c., repartindo-se
com elles tenças, e commendas em ar de soldo :
naõ julgo eu as nossas Cortes taõ dorminhocas,
e pouco illustradas, e mesmo taõ escravas, que
deixem hir por agoa-abaixo os interesses daPa^-
tria a ponto de anuírem á taõ revoltantes, e ru-
inozas instituições. He de notar, qne posto
naõ adoptemos a Constituição Portugueza, por
naõ convir em grande parte aos interesses, e
Liberdade do Brazil; comtudo nella vemos os
Fidalgos, e Grandes contemplados unicamente
como Cidadãos; destruídas tenças, e commen-»
das, previlegios de classes, &c.; e por isso he
precizo respeitar a opinião publica do Brazil,
que naô abraçará Constituição menos liberal,
do que a de Portugal o he para os Portuguezes:
creio firmemente, que esta he a opinião cTomi-
nante das Províncias; e taes saõ as esperanças
dos Povos, e mesmo parece, que os nossos Des-
tinos nos convidão á essa ventura por meio, do
nosso imperador, e Deífensor Liberal Perpe-
tuo: e nem de outra maneira será admetida a
Constituição ;.(*••) seguindo-se necessariamen-
te a desmembração das Províncias, que ainda
se achão na espeetativa por serem todos osseos
juramentos promissorios, e implicitamente com
dicionaes. Quanto ao fim do artigo - na forma,
que deliberar a Assemhleia Legislativa do Império do-
Brazil- parece-me, que saõ palavras de formu-
lário, torno a repetir, á vista de todas as frazes
decizivas, e imperiozas, que se lèm no corpo do
Decreto. Eu dezejo, que o Brazil se acorde,
e conserve bem vigilante, e determinado, por-
que a fraqueza humana he muito grande, e a
ambição monstro temível, c alhé receio, que o
espirito de condescendencia de huns, o pouco
zèllo de outros, talvez ignorancia, egoismo, ou
puzilanimidade deixem hir os negocios segundo
a vontade dos perversos Ministros sòb pretexto,
de que o Decreto já existia, e que he de pru-
dência condescender com o nosso Imperador:
o meo coração presagcia naõ sei que de mal da
influencia dos Ministros do Gabinete, e da ser-
Yil condescendencia para com o Imperador,
pois que a novidade dos negocios, os mãos há-
bitos, a influencia dos corrompidos Saírapas; e

( * ) Esta he a r e z o l n ç ã o dos Povos, e das Províncias: bom seria,


que os Ministros lessem as obras de Mr. du P r a d .
o pezo dos incautos militares ( f ) faràõ trans-
tornar os planos patrióticos mais beiiâ eónéfeíta-
dos. Di talem terris averliie pestem !

, XL

RA havendo nós tocado em commenâas,


parece natural, que se pergunte, se o Pâpa
em Roma também criará agora commendas no
Brazil: e se estando nós livres desse flagello
Europeo filho dos tempos das trevas lhe dare-
mos entrada no Brazil, neste tempo de luzes,
na fernte das Cortes Geraes, Constituintes, e Li-
beraes do Brazil ? Eu o tenho por impossível;
taes idéias naõ saõ admissíveis, pois os homens
tem os olhos abertos, e as armas nas maõs, para
sustentarem seos direitos, e organizarem com
AJYAL. ,, D •

] t ) Pelo que lemos, e observamos he evidente, que o nosso Ilmpe-


raddfquerc.ónservár á força o c.ommando das Tropas, pois que com cilas
tudo se fará á bem do Governo despotico. Eu advirto ao Povo, que naõ
estando as Tropas sugeitas, c obedientes uuicamente ás Cortes, ou Esta-
dos Geraes naõ se organizará Constituição capaz, por faltar a Liberda-
de : e por isso as Províncias ficaràõ* dezobrigàdas de a receber : Consti-
tuição coordenada de baixo de terror, e sem segurança lie Constituição
de Escravos, ou para melhor dizer, naõ he Constituição: e aos Soldados
advirto, e recomendo, que naõ se deixem enganar com coroas de dia-
mantes, purpuras magnas, brilhantes vestimentas, títulos mudados, ban-
deiras novas, sedás, galões, carruagens, cerimonias pompozas, postoque
insignificantes, insinuações secretas, seductoçes, discursos, sordido» so-
bornos, ordens criminozas, &c.: he precizo, que os soldados se lembrem,
que o seo primeiro, e sacratissimo dever he dcftender sua pátria, sua li-
berdade, &c,
sabedoria a Constituição, que os ha de reger a-
pezar da porfiada luta, viciozos elementos da
abominável Aristocracia, e tcndencia violenta
da corrupção ministerial. Quero fazer mais ou-
tra pergunta. { Donde ha de sahir o dinheiro
ao Poder Legislativo para tenças, e commen-
das ? He da maior evidencia, que naõ ha di-
nheiros èccleziasticos para este fim, e que de
hoje em diante naõ pagaremos tributos, senaõ
os que forem justos, e absolutamente necessári-
os para as despezas publicas da Nação, e nun-
ca para luxo, e superfluidades do Imperador, e
seos Ministros, pois já lá vai o tempo de - Hei
por bem, e Me praz - isto he, - quero porque que-
ro; porque sou Imperador, ou Rei e Senhor para dis-
sipar, e todos os Cidadãos saõ meos escravos, para
trabalharem, em mco proveito -: já expirou aquella
arrogante fraze -plenopoder, absoluta vontade, &rc.-:
agora temos outra fraze, outra justiça, leis jus-
tas, e Constituição, e mais que tudo o conheci-
mento dos nossos direitos inalienáveis impres-
criptiveis; alem disto a Sociedade está alerta,
e reconhece a sua Soberania; e naõ ha de con-
sentir, que se imponhão mais nunca tributos ar-
bitrários, nem que se arranque hum só real pa-
ra gastos futeis, e de caprixo: ( * ) o povo d' ora

( * ) H e h u m a verdade, que o nosso Imperador já gasta 17 contos de


reis na sua Capella Imperial; < quem deixará de murmurar a vista desta
despcza, quando nos falta marinha, e qauze tudo? < Porventura sahirá
em diante naõ ha de dar dinheiro, sem s^ber o
para que, nem sòb fingidos pretextos; elle naõ
ha de pagar tributos, para se applicar o dinhéi-
ro, que he suor e sangue, em sobornar, e com-
prar huma parte dos Cidadãos, pára com ella
subjugar, e sopear a outra parte, anniquilando
assim os nossos direitos de igoaldáde, liberda-
de, propriedade, segurança, justiça, &c.: em
huma palavra o tempo he de luzes: o Povo naõ
pagará mais tributos, para manter o despotis-
mo, e esmagar á si mesmo, reduzindo pouco a
pouco á sombra, e á nada o bem particular, e
publico, a felicidade da Patria, e da Especie
Humana.

XII.

As, porventura temos nós á temer algum


dezastrozo fucturo ? Naõ: naõ: o Decreto em
questão apenas he hum desses partos monstruo-
zos, filhos dos cerebros escaldados dos corrup-
D 2

d' hoje em diante dinheiro do Thezouro Nacional para taes disperdicioa?


Se S. M. gosta de muzica, que a s u P r a a c u s t a do seo ordenado, e naí>
com o dinheiro do Erário Nacional, que naõ he seo. i Teremos porven-
tura a desgraça de sustentar ainda os Capados da Italia, e outros vadios
similhantes? ?? ( E deverá Elle ter muzica, quando o Império novo, en-
dividado, pouco solido, cercado de guerra, calamidades, e intrigas recla-
ma, e pede sólidas providencias? Fora com taes Ministros; tora cora
taes dezordens!!!
tos Ministros, áquem os antigos hábitos ainda
impelem a redobrar tentativas de restaurar sen
poderio; o Imperador como Moço inexperiente
foi enganado pela demaziada confiança, que
poz naquelles, que O cercão. Eis-aqui pois a
occazião, em que o generozo livre Povo Brazi-
leiro deve bradar ao pé do Trono: —Eia, SE-
— NHOR, vigilancia! Os Brazileiros naõ eurva-
—ráõ mais nunca o joelho ao Despotismo; elles
— o conhecem, e detestão, e lhe farão eterna
--.guerra. Alerta, alerta ! O'Adorado Chefe do
— Poder Executivo, IMPERADOR AUGUSTO, unica-
— mente por nossa escolha, elleição, e vontade!
— Alerta! O ' DEFFENSOR PERPETUO deste vasto
—Império! Vigiai, SENHOR; vigiai sobre asma-
« chinações dos Vossos infames Ministros; ellas
- s a õ arbitrarias, e subversivas: Segurai as re-
- d e a s do Governo Liberal; Ponde-Vos á nossa
— frente para debellar a Tyrannia: Firmai-Vos
- n o Trono, que nós Vos temos dado com tan-
~ t a magnanimidade: Parai nas balizas das Vos-
- s a s attribuições: Cortai o passo aos embustes,
— e ás insidiozas tramóias dos servís Áulicos,
— que Vos levão de rojo ao precipício: elles per-
— derão Vosso Augusto Pai, e podem cavar Vos-
— sa ruina! Monstros! Naõ, naõ, naõ! Os Bra-
-zileiros, SENHOR, Vos adorão, e Vos queimão
incensos sobre as aras da Liberdade; ..elles co-
— nhecém Vossas sinceras intenções, saõ Vossos
— amigos, Vossos leaes subditos: elles, e na õ
jínalize. 29

- o s Ministros traidores á Vós e á Patria, haô


- de fazer eterna, e feliz Vossa Dinastia: Recli-
- nai, AUGUSTO IMPERANTE, a Cabeça sobre nos-
- sos peitos: nós Vos conduziremos Gloriozo so-
- b r e nossos corações, e nossas espadas; os
-Brazileiros, SENHOR, V O S tem dado hum Impe-
- rio poderozo; elles sós Vos conduzirão em tri-
- umpho ao Templo da Memória.

FIM.

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