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OS ALDEAMENTOS INDÍGENAS FUNDADOS NA

BAHIA E CAPITANIAS VIZINHAS DURANTE O


PERÍODO COLONIAL
André de Almeida Rego*

RESUMO

Esse artigo busca identificar os aldeamentos indígenas formados na Bahia e nas capitanias adjacentes
durante o Período Colonial. A partir de pesquisas em fontes diversas como as correspondências dos
missionários, autoridades régias e imperiais e na bibliografia correlata, traçou-se uma cartografia dos
núcleos indígenas, procurando-se oferecer pistas sobre sua localização atual. Foram acrescentadas
informações relativas ao histórico de fundação e transformações ocorridas nas referidas povoações ao
longo do tempo, que, para muitos aldeamentos, a partir do século XVIII, significou a sua conversão
em vila ou freguesia. Também são trazidas informações referentes à demografia desses núcleos de
índios. Uma das intenções primordiais é demonstrar a forte presença indígena na história da Bahia
durante o Período Colonial e século XIX, relacionando-se, nesse sentido, com as propostas de estudos
recentes no campo da história indígena, os quais, dentre outros objetivos, esforçam-se por descontruir
a ideia de invisibilidade dos índios na experiência histórica após a chegada dos europeus.

Palavras-chave: índios, aldeamentos, Bahia, Colônia, missionários.

ABSTRACT: INDIGENOUS SETTLEMENTS FOUNDED IN BRAZILIAN BAHIA STATE AND


NEIGHBOR CAPTAINCIES DURING COLONIAL PERIOD

This article seeks identify the indigenous settlements founded in Bahia State and neighbor Captaincies
during Colonial Period. Using searches in several sources as correspondences of missionaries,
authorities of Portuguese Crown and Brazilian Empire and correlate bibliography, one realized
cartography of indigenous places, intending offer evidences about its present localization. Was
increased relatives information on foundation historic and changes occurred in those settlements
during signaled times, that, for much places, at eighteenth centuries forward, signified its conversion
in village or district (freguesia). As well, information relative to demography of those Indian
settlements was registered. The fundamental intention is demonstrate the strong presence of Indians
within history of Bahia during Colonial Era and nineteenth century. In this sense, the job links with
the proposals of recent researches on history of Indians, whose objectives seek deconstructing the idea
of invisibility of the Indians in historical experience after arriving European.

Keywords: Indigenous people, settlements, Bahia, Colony, missionaries.

* Doutor em História Social pela Universidade Federal da Bahia-UFBA, mestre em História Social pela UFBA, graduado em Licenciatura
em História pela Universidade Católica de Salvador-UCSAL. Atualmente, é professor adjunto de Humanidades lotado no Campus Paulo
Freire/ Teixeira de Freitas da Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB, Brasil. E-mail: almeida_rego@yahoo.com.br

Opará: Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação, Paulo Afonso, v. 4, n. 5, p. 81-108 (com apêndice), jan./jun. 2016
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Os Aldeamentos Indígenas Fundados na Bahia e Capitanias Vizinhas Durante o Período Colonial

Introdução: considerações sobre Aldeamentos do entorno de


os dados à disposição Salvador e regiões próximas
Sobre os aldeamentos da Bahia e
No século XVI, os jesuítas
de suas capitanias vizinhas ao longo do
erigiram os primeiros aldeamentos. Em
Período Colonial, estabeleceu-se uma
1558, foi fundada a aldeia de Espírito
relação de sua localização, buscando
Santo de Abrantes (atualmente distrito
identificar a sua origem, acrescentando
de Camaçari), composta por índios
dados quanto às etnias que os
tupinambá1. A aldeia de São João
constituíam, assim como informações
Evangelista, segundo informação de
demográficas. Nesses dois casos, muitas
Serafim Leite, foi fundada “nas Ribeiras
vezes é complicado estabelecer uma
de Pirajá”, o que reforça a suposição de
precisão: no caso das etnias, as fontes,
que se trate do sítio correspondente às
quando não são omissas, apresentam
margens do Rio do Cobre, no atual
classificações variadas; enquanto que, no
Parque Florestal da Represa de Salvador,
que toca à população, as diferenças nos
no bairro de Pirajá. Não se obteve a data
critérios de contabilização do número de
exata de fundação desse núcleo, mas se
fogos, casais, homens adultos, além do
nota que, em 1560, os índios se haviam
processo de dispersão temporária ou
dispersado, sendo novamente reunidos
permanente, trazem cifras muito
pelos padres no sítio do atual município
diferenciadas para um mesmo lugar, a
de Mata de São João. O novo aldeamento
depender da fonte e do período. Há
recebeu o nome de São João ante
também que se falar na questão da
portam latinam, mas deixa de ser
sazonalidade dos contratos de trabalho,
mencionado nos documentos do século
o que poderia acrescentar ou retirar
XVIII, sendo sua extinção
habitantes por tempo determinado,
provavelmente motivada por espoliações
gerando variação demográfica nas
de terras feitas pelos portugueses, além
diversas fontes.
de mortes por epidemias, guerras e de
deserções. O núcleo parece ser um

1 No século XVIII, também se registra para Abrantes o etnônimo guayaná, conforme se vê no documento com a seguinte referência:
Relação do número de aldeias de índios, que se criaram em vilas, nomes que se lhes deram na sua criação, com a notícia de suas
situações: Bahia, 24 de abril de 1759 Arquivo Público do Estado da Bahia - APEBA Seção Colonial/ Dossiê Índios, maço 603.

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exemplo bastante ilustrativo do que município de Maragojipe, região outrora


ocorreu aos grupos do litoral logo nos sob a jurisdição de Santo Amaro, nas
primeiros séculos da colonização. proximidades do rio Acupe (ou Sergipe),
nas adjacências do Engenho Sergipe do
Em 1561, foi fundada a aldeia de
Conde.
Santa Cruz, na Ilha de Itaparica. Serafim
Leite também menciona trabalho de Santo Antônio, antes vinculado à
catequese dos jesuítas no sítio da capela de vila de Jaguaripe, passou à jurisdição de
Nossa Senhora da Penha de França (atual Nazaré e hoje se situa dentro dos limites
bairro da Ribeira, em Salvador). Todavia do município de Aratuípe. Relata Serafim
não se mencionam explicitamente Leite que, após o estabelecimento de uma
aldeamentos erigidos ali. Enumera-se trégua com os grens, “o Visitador padre
também o aldeamento de São Pedro de Manoel de Lima encarregou o provincial
Saguipe ou Saboig (Sauípe), fundado em de as mudar ou fundir numa só
1561 pelos padres jesuítas Luiz da Grã, Residência, sugerindo que fosse preferida
Antônio Rodrigues e Gaspar Lourenço. A Capanema”. Diz-se mais que a Casa de
área desse núcleo é de índios tupinambás Residência dos jesuítas em Santo Antônio
(LEITE, 1945: 266-267, 281). de Jaguaripe foi encerrada em 1613
(LEITE, Op. Cit.: 267-269). Mas,
Nos arredores nortes da cidade de
seguramente, isto não significou o fim do
Salvador, foi fundado o aldeamento de
núcleo, pois os documentos do século
Santo Antônio, erguido no ano de 1560. Os
XVIII e XIX ainda o mencionam como
índios desse núcleo foram deslocados no
aldeamento composto por índios
fim do século XVI e início do século XVII.
sapucaias ou tupinambás, administrados
Foram distribuídos em duas novas aldeias
pelo clero secular. O Mapa Geral de todas
no Recôncavo, no intuito de servirem de
as missões, ou aldeias de gentio manso
barreira contra os aimorés
que estão situadas nesta Capitania da
(grens/botocudos), que, em suas
Bahia, e nas mais que compreende o seu
incursões, chegaram às proximidades dos
governo... (datado de 20 de dezembro de
povoados do Recôncavo. Os dois novos
1758), intitula-o como Aldeamento de
aldeamentos foram o de Santo Antônio,
Jaguaripe do Rio da Aldeia, vinculado à
em Jaguaripe e o de São Sebastião, em
vila de Jaguaripe, freguesia de Nazaré
Capanema. Capanema é distrito do
(invocação de Nossa Senhora de Nazaré).

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No século XIX, volta a ser mencionada contatar índios, prospectar metais e


como aldeia de Santo Antônio, freguesia e pedras preciosas e reconhecer o terreno –
Aldeia, município de Nazaré2. tiveram a participação de jesuítas, como
ocorreu com a entrada liderada por
Já a aldeia de São Sebastião de
Francisco Espinhosa, em que coadjuvou o
Capanema aparece na documentação do
padre jesuíta João Azpilcueta Navarro,
século XVIII como aldeamento de Santo
entre 1553 e 1555.
Antônio da Aldeia, sita nos limites da vila
de Maragojipe, freguesia de São Após o fim do domínio holandês no
Bartolomeu – invocação de Santo Antônio território de Pernambuco e capitanias
(mencionado no Mapa Geral...). No século vizinhas (1654), ocorreu uma reativação
XIX, já não se encontra menção a essa da presença colonizadora no sertão das
aldeia. No Mapa Geral de 1758, tanto Jacobinas. Agora, porém, não se tratava de
Jaguaripe do Rio da Aldeia (de Nazaré), empreender incursões ou descimentos,
quanto Santo Antônio de Maragojipe já mas sim de ocupá-lo, promovendo um
não aparecem sob a administração dos povoamento que tinha na atividade
jesuítas, mas sim do clero secular. pecuária extensiva, na produção de sal e na
mineração do ouro sua base econômica. O
Sertão das Jacobinas, Jeremoabo e
trabalho dos missionários na região
regiões vizinhas
(primeiramente os jesuítas) vinha para dar
Área de aldeamento jesuítico foi o suporte a essa expansão do povoamento.
sertão das Jacobinas. Sólon Natalício, na Nas Jacobinas, os missionários da
sua dissertação sobre os payayás da região Companhia de Jesus contataram os tocós,
de Jacobina, chama a atenção para a os sapoyás e os payayás. Em 1656,
sintonia entre os objetivos régios de anunciaram os jesuítas terem descoberto
interiorização da colonização e o os amoipiras ou amaupiras (tupinambás,
missionamento no sertão das Jacobinas. segundo Gabriel Soares de Sousa3) na
De fato, muitas expedições de entrada no margem ocidental do rio São Francisco.
sertão - que tinham o múltiplo objetivo de Relata-se que, em anos anteriores, os

2 DÓREA, José Jacome. Mapa das Aldeias Indígenas da Província da Bahia (Salvador, 14 de janeiro de 1861). Arquivo Público do
Estado da Bahia (APEBA)/ Seção Colonial-provincial: Série Agricultura – Mapa das Aldeias Indígenas da Província da Bahia – MAÇO
4610.
3 SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Biblioteca Digital Brasiliana - Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ). 1938. Disponível no seguinte endereço eletrônico: <http://www.brasiliana.com.br/obras/tratado-descritivo-do-brasil-em-


1587/preambulo/8/texto>. Acesso em 26 de junho de 2016.

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padres da Companhia de Jesus já haviam e exigiam índios dos aldeamento


conseguido descer algumas aldeias de jesuíticos, depois do que aprisionavam os
amoipiras para o litoral. A expedição de aldeados como escravos. Os curraleiros
1655, composta pelo padre jesuíta Rafael também buscavam aliar-se aos índios, na
Cardoso e o capitão João Pereira não havia oposição aos padres, abrindo espaço para
logrado êxito junto a esta nação, mas tentar arregimentar diretamente a força de
conseguiram descer várias aldeias de trabalho indígena.
payayás para próximo à costa (LEITE, Op.
Na região de Jacobina Velha, Jacob
Cit.: 272; SANTOS, 2011: 88-91).
Rolando e João de Barros ergueram, numa
No sertão das Jacobinas, o padre aldeia de índios cariris-sapoyás, uma
jesuíta Antônio de Oliveira fundou um igreja em louvor a São Francisco Xavier.
aldeamento de paiaiás que teve vida curta João de Barros missionou em São
(por volta de três anos): consta dos relatos Francisco Xavier de Jacobina durante
que, em 1675, por pretensão de João alguns anos, conseguindo reunir aos
Peixoto Viegas, com o apoio da Junta sapoyás outros grupos como os
Governativa, cerca de 230 índios do separenhenupãs e os borcás. É por essa
aldeamento foram removidos para razão que o núcleo, posteriormente, será
comporem a defesa das terras daquele designado como Aldeias dos Kiriris em
senhorio contra outros gentios. A Junta Jacobina. Outras aldeias fundadas foram
Governativa foi composta para governar Itapicuru (de índios boimés), Marassacará
até a chegada do sucessor do governador- (de índios caimbés) e Jeremoabo (de
geral Afonso Furtado de Castro do Rio de índios mongurus). A localização desses
Mendonça (visconde de Barbacena), núcleos é difícil de precisar. Há a povoação
falecido em 1675. Apesar da determinação de Massacará, hoje um distrito do
do novo governador-geral, Roque da Costa município de Euclides da Cunha. Mas
Barreto (empossado em 1678) e a despeito residem dúvidas se Massacará
das ordens régias, o aldeamento dos corresponde a Maraçacará ou se são
payayás não conseguiu se restabelecer. núcleos distintos, conforme discorrido
Outro fator a colaborar na depopulação da adiante. Por sua vez, Jeremoabo e
aldeia foi a prática dos criadores de gado Itapicuru são propriamente municípios do
(curraleiros) vizinhos à aldeia: sertão baiano. As aldeias dos jesuítas
anunciavam-se como capitães de entradas poderiam ter sido situadas nesses locais.

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Devido às tensões constantes incorretamente; comprometimento de


entre missionários e curraleiros acerca não voltar a cometer o delito e de
do controle da jurisdição dos reerguer as edificações, de acordo com as
aldeamentos, o padre Jacob Rolando ordens do Reitor (LEITE, Op. Cit.: 283-
decidiu apelar a El-Rey, solicitando a 285).
demarcação de três léguas de terra para
Não se informa se as
os aldeamentos de Itapicuru,
determinações foram seguidas pela Casa
Marassacará e Jeremoabo. Entendendo
da Torre, mas, pelos dados constantes do
ser isso uma ingerência nos seus direitos,
Mapa das Aldeias de 1758, assinala-se o
a Casa da Torre de Garcia de Ávila
aldeamento de Massacará, de índios
determinou a destruição das igrejas e
caimbés e kiriris (perfazendo 60 casais),
casas de residências jesuíticas daquelas
vinculada à vila de Itapicuru, freguesia
aldeias. Os jesuítas envolvidos nessas
de São João de Jeremoabo (invocação da
missões buscaram encaminhar a questão
Santíssima Trindade), sob a
para o Tribunal da Relação da Bahia,
administração dos missionários
através do Conservador Eclesiástico,
franciscanos. Massacará também
“todavia, o padre Antônio Pereira, da
aparece nas relações do século XIX, cf. a
Casa da Torre, tio de Garcia de Ávila,
de 1861. O mesmo se dá com a aldeia de
apressou-se a pedir misericórdia ao
Itapicuru, anotada pela relação de 1758
Reitor do Colégio da Bahia, padre
com a designação de Missão do Itapicuru
Antônio Forti, de quem na realidade
de Cima (não se informando a nação de
dependiam todas as Missões do distrito
índios que a compõe4), constituída de 80
da Bahia”. A solução encontrada por
casais, administrada pelos missionários
Forti foi de reconciliação: aceitação do
franciscanos, vinculada à vila de
pedido de clemência produzido por
Itapicuru, freguesia de Nazaré, cuja
Antônio Pereira, acompanhada de
invocação era a de Santo Antônio e
confissão em ato público da parte da
Nossa Senhora da Saúde. É por isso que
Casa da Torre, admitindo ter procedido
o núcleo seria assinalado nos documentos

4 Dantas, Sampaio e Carvalho sugerem a possibilidade de serem estes índios payayás: DANTAS, Beatriz G, SAMPAIO, José Augusto e
CARVALHO, Maria do Rosário. Os povos indígenas no Nordeste Brasileiro: um esboço histórico. In: CUNHA, Maria Manuela Carneiro da
(org.). História dos Índios do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras-FAPESP-SMC, 1992. p. 431-456.

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do século XIX como Aldeamento de Nossa que a permanência dessas aldeias foi fruto
Senhora da Saúde do Itapicuru ou Santo de um processo de re-fundação, no qual a
Antônio do Itapicuru5. ordem jesuítica cedeu lugar à franciscana.
Assim, ao invés de apor a informação
Não há menção, por sua vez, do
aceita (com a letra A), para os
aldeamento de Jeremoabo, de índios
aldeamentos em questão, Willeke anota
mongurus, na lista de 1758 ou na
que elas foram fundadas (marca-as com a
documentação do século XIX. Serafim
letra F) pelos franciscanos: Itapicuru de
Leite, em nota de rodapé, traz a notícia de
Cima foi fundada em 1689, mesmo ano
que os mongurus de Jeremoabo deixaram
para o qual se informa a fundação de
a catequese jesuítica e passaram a fazer
Massacará; Bom Jesus da Jacobina tem
guerra aos cariacás, em 1679 (Op.Cit.:
sua inauguração marcada com o ano de
286). Em Jacobina, a relação de 1758
1706 (WILLEKE, 1974: 84).
aponta o aldeamento do Senhor Bom
Jesus da Jacobina, sob a administração Willeke segue dando mais
dos missionários franciscanos, vinculada à informações que ofertam interessantes
vila de Jacobina (freguesia de Santo sugestões: retirando-se os jesuítas das
Antônio), cuja invocação era a do Senhor missões situadas na sesmaria da Casa da
Bom Jesus, composta por 100 casais de Torres (com ameaças de escusa definitiva),
índios sem identificação étnica registrada. os próprios Garcia de Ávila, o arcebispo da
Na documentação do século XIX, a aldeia Bahia e o governador geral recorreram a
tem o nome de Senhor Bom Jesus da diversas ordens religiosas. Eles percebiam
Glória6. que a colonização do sertão não poderia se
viável sem o apoio do trabalho de
Cruzando-se essas informações
catequese empreendido pelos
com os dados constantes na obra do frade
missionários. Por outro lado, dona Leonor
franciscano Venâncio Willeke, percebe-se
Pereira Marinho, uma das Senhoras da

5 P.e: Ofício sem data e sem menção nem de remetente nem de local de confecção, enviado pelo capitão João Dantas – dos Imperiais
Itapicuru, ao presidente da província da Bahia, Manoel Inácio da Cunha Meneses – visconde do Rio Vermelho (abril-maio de 1827).
Manuscrito do Arquivo Público do Estado da Bahia - APEBA: Seção Colonial-Provincial, série Agricultura – Correspondência enviada
pelo Diretor Geral dos Índios... MAÇO 4614.
6Cf. MADUREIRA, Casemiro de Sena (Diretor Geral dos Índios da Bahia). Ofício enviado ao Presidente da Província da
Bahia, João Maurício Vanderlei (Cidade da Bahia, 20 de outubro de 1854). Manuscrito do Arquivo Público do Estado da
Bahia - APEBA: Seção Colonial-Provincial, série Agricultura – Correspondência enviada pelo Diretor Geral dos Índios...
MAÇO 4612.

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Casa da Torre (motor da disputa com os Ávila, ainda que se estabelecessem tréguas
jesuítas), solicitou ao Padre Provincial dos entre a Casa da Torre e outras ordens
franciscanos a cessão de alguns como a dos jesuítas e a dos capuchinhos, o
missionários para as aldeias do rio São missionamento da Ordem dos Frades
Francisco. O pedido foi atendido e sabe-se, Menores (OFM) recebeu um suporte
com segurança, que os franciscanos material importante daquele senhorio,
substituíram os jesuítas nas aldeias de provendo-se assim parte indispensável do
Caruru, Rodelas e Axará (Acará ou sustento das missões naquela região.
Oacará), na região das missões de Rodelas. Dessa forma, a família Ávila doava
Mas, sobre as aldeias da região de diariamente um boi a cada aldeia de
Itapicuru (Itapicuru, Marassacará e franciscanos em suas terras, munindo
Jeremoabo) e Jacobina (São Francisco também as capelas com paramentos
Xavier), Willeke admite não haver dados (WILLEKE, Op. Cit: 107). Isso criou entre
suficientes sobre o que realmente a Casa da Torre e suas aldeias franciscanas
aconteceu após a saída dos jesuítas. Existe uma espécie de padroado que enredava os
o dado de que, em 04 de novembro de aldeados e os apóstolos da OFM ali
1698, a Junta das Missões, deliberando atuantes no tecido das relações de poder
sobre o retorno dos jesuítas às aldeias que gravitavam em torno daquele
abandonadas, decidiu “ser melhor poderoso potentado.
encarregar-se outra Ordem religiosa, visto
Dessa forma, é muito provável que
que D. Leonor sentia bastante
as missões de Itapicuru, Marassacará e de
repugnância à Companhia de Jesus”
Jacobina tenham sido retomadas pelos
(WILLEKE Op. Cit.: 86-87).
franciscanos. Não se trata de uma
É preciso lembrar que havia aquisição, devido às circunstâncias em que
animosidades e disputas entre jesuítas e foi feita a retirada dos jesuítas, mas, antes,
franciscanos, o que ficaria claro no uma reorganização ou re-fundação. Em
episódio da expulsão dos inacianos na Jacobina Velha havia a aldeia de São
região de Rodelas. Além disto, a ordem dos Francisco Xavier, que reunia cariris
franciscanos possuía uma relação sapoyás, separenhenhupãs,
diferenciada por parte da Casa da Torre. secaquerinhéns, borcás, cuparãs e
Não obstante haver conflitos entre os payáyás. Havia uma aldeia específica dos
missionários franciscanos e os Garcia de payayás que durou pouco ali, sendo seus

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índios migrados para a aldeia de Trindade, sendo bastante plausível


Serinhaém, em Camamu. Em 07 de maio corresponderem ao mesmo aldeamento
de 1705, a princesa regente de Portugal, em diferentes administrações. O mesmo se
Catarina de Bragança, decretou ordem pode dizer da Aldeia de Itapicuru de Cima,
régia concedendo licença para que muito embora Serafim Leite seja mais
Antônio da Silva Pimentel erigisse uma preciso quanto ao grupo étnico ali
igreja na região de Jacobina. Pimentel era existente sob os jesuítas: os boimés. Já
identificado como senhor e possuidor das Venâncio Willeke marca o etnônimo
terras onde ficava a aldeia dos índios, tupinambá.
mencionados na ordem régia como
Zona do rio Itapicuru e adjacências
payayás. Determinava-se mais que o
referido proprietário deveria nomear Na mesma época em que se estavam
clérigo idôneo, com o apoio do arcebispo. formando as missões jesuíticas de
O documento fala que os índios já eram Jacobina (por volta de 1666), erigiu-se a
“domésticos com os brancos e muitos já aldeia de Nossa Senhora da Conceição de
instruídos na fé católica”. Tudo leva crer Natuba (no atual município de Nova
que se tratava da aldeia de São Francisco Soure), composta por índios da nação
Xavier das Jacobinas, que reunia índios kiriri. Natuba era administrada temporal e
não somente do grupo payayá. Willeke espiritualmente pelos inacianos, dentre os
assinala não haver informações claras quais um dos primeiros foi o padre João
sobre a construção da igreja, mas que, no Mateus Falleto. Jacob Rolando atuou ali,
ano de 1706, os franciscanos foram erguendo a primeira igreja do local. Uma
encarregados da Missão do Senhor Bom segunda igreja foi erguida sob a supervisão
Jesus da Glória de Jacobina (Op. Cit.: 93). do padre Antônio de Andrade, mas o
problema de Natuba era o comum a quase
O caso de Massacará reforça a
todas as aldeias do sertão: a posse
teoria de re-fundação franciscana dos
fundiária e o controle da mão de obra dos
núcleos abandonados pelos jesuítas.
índios. O próprio Antônio de Andrade, já
Massacará (dos franciscanos) e
na qualidade de Procurador do Brasil em
Marassacará (dos jesuítas) eram
Lisboa, fez uma representação ao rei
compostas pelo mesmo grupo étnico: os
expondo a situação dos índios em 1717:
caimbés ou catrimbis (katrimbis). Tinham
aldeados antes da chegada dos colonos à
também a mesma invocação: Santíssima

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Os Aldeamentos Indígenas Fundados na Bahia e Capitanias Vizinhas Durante o Período Colonial

região, ainda não tinham seu terreno índios kiriri. Situava-se “no vasto
oficialmente demarcado, sofrendo, por seu tabuleiro, à esquerda do rio Itapicuru” e o
turno, com a invasão de suas terras por seu território estava compreendido dentro
parte dos curraleiros. da jurisdição do atual município de
Ribeira do Pombal. O aldeamento foi
O principal ponto de conflito se
fundado em 1667 por João de Barros e
dava com Gaspar Carvalho da Cunha,
Jacob Rolando, mas foi o padre Jacques
proprietário das terras em que a aldeia
Cocleo o responsável por reerguer a
estava encravada. As denúncias feitas por
missão, a partir de 1672, período marcado
Antônio de Andrade, quando retornou à
pelo atentado da Casa da Torre aos
aldeia em visita, apontaram Gaspar
aldeamentos vizinhos de Massacará,
Carvalho como aliciador dos índios,
Jeremoabo e Itapicuru. Por estar fora dos
tratando-os “como escravos dos seus
limites da sesmaria de Garcia de Ávila, sua
escravos, mandando prender a estes por
igreja e casa de residência não foram
qualquer coisa e trazê-los à sua presença
afetadas. Cocleo encetou a construção de
amarrados”. As terras reservadas aos
nova igreja, mas enfrentou dificuldades na
índios também eram motivo de
catequese, devido ao apego dos índios ao
descontentamento da parte do
culto de Varakidrã (Uariquidzã). A aldeia
missionário, pois era brejeira, permitindo
recebeu um aporte de índios kiriris. Esse
plantação apenas no verão, “e ainda em tão
ingresso ocorreu entre 1678 e 1679,
somente pouca terra”, havendo o risco de
quando, devido à guerra empreendida
as chuvas fortes, comuns ali, baldarem a
contra os kiriris, muitos índios daquela
cultura agrícola. Por conta disso, os índios,
nação foram levados à Cidade da Bahia
durante as chuvas e no inverno, plantavam
como cativos. Os jesuítas intervieram no
no sítio Bendós, a mais de cinco léguas do
sentido de remeter os prisioneiros para
núcleo da aldeia. O apóstolo via nesses
Canabrava, a fim de serem doutrinados
fatores o grande obstáculo à catequese
(LEITE, Op. Cit.: 289-290).
junto aos kiriri de Natuba (ANDRADE
apud LEITE, Op. Cit.: 287-288). Também se assinala o aldeamento
jesuítico da Ascensão do Senhor de Saco
Nos sertões, outro núcleo indígena
dos Morcegos, composto por índios de
erigido pelos inacianos foi a Aldeia de
etnia kiriri. A aldeia situava-se onde hoje é
Santa Tereza de Canabrava, também de
o atual distrito de Mirandela, da jurisdição

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do município baiano de Banzaê. Por ser a religiosas, conforme se vê com Massacará


aldeia muito próxima à Massacará, e Nossa Senhora das Neves do Saí, aldeias
Serafim Leite credita a João de Barros a administradas pelos franciscanos
fundação de Saco dos Morcegos. A sua (WILLEKE, 1974: 82)
localização dificultava a produção
Rodelas e Ilhas do São Francisco
agrícola, havendo constante assolamento
devido às secas, gerando escassez de água Na região do rio São Francisco
e mantimentos. Isso contribuía para a erigiu-se outro importante complexo de
manutenção do sistema de migrações missões. Da parte dos jesuítas,
sazonais entre os índios. Antônio Vieira empreenderam-se as Missões de Rodelas7,
buscou mudar o sítio da aldeia, mas, ao nas quais teve atuação importante o padre
que parece, a avidez dos curraleiros por João de Barros. Organizaram-se os
terra impediu a concretização dessa aldeamentos de Rodelas, Ilha de Zorobabé
proposta. ou Sorobabé (Sorobabel), Acará (Oacará) e
Curumambá. Rodelas é assinalada como
Os índios das três aldeias (Saco dos
composta por índios prokás, enquanto que
Morcegos, Natuba e Canabrava)
Acará tem a mesma designação dos índios
realizavam serviços “de caráter público,
ali aldeados (akroás ou acarás), embora,
sendo requisitados... para as expedições
em relação das aldeias capuchinhas
que se organizavam oficialmente”.
(administradas pelos capuchinhos
Trabalhavam como vaqueiros, percebendo
italianos), consta a aldeia de Axará, outra
salários ou jornais, ajudando a conduzir as
denominação para Acará, composta por
boiadas provenientes dos currais da zona
índios prokás e pankararus ou
do São Francisco e do Piauí. As aldeias
brancararus (REGNI, 1988a: 211).
serviam como “estalagens de repouso” aos
Zorobabé tinha a sua população
que se direcionavam para o rio São
constituída pelos carurus (ou Pankararus).
Francisco ou aos que, dos sertões,
A dúvida existe sobre a nação dos índios
buscavam a cidade de Salvador, sejam eles
componentes do aldeamento de
boiadeiros, sejam eles missionários
Curumambá. Existe menção de que esses
(LEITE, Op. Cit.: 290-292). Isso também
índios eram denominados de rodelas ou
ocorreu com as missões da outras ordens
rodeleiros (LEITE, Op. Cit.: 302; REGNI,

7 As missões de Rodelas localizavam-se na região do atual município de mesmo nome, entre os estados de Bahia e Pernambuco.

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Os Aldeamentos Indígenas Fundados na Bahia e Capitanias Vizinhas Durante o Período Colonial

1988.: 212). expulsão, procedeu-se à destruição das


igrejas e casas de residências jesuíticas nos
Tal como ocorrera com as aldeias
citados aldeamentos. Segundo
das regiões de Jacobina e Itapicuru, a
depoimento de Felipe Bouriel, a sugestão
organização das Missões de Rodelas foi
de expulsão dos jesuítas de Rodelas foi
marcada pelo conflito entre missionários,
feita por um padre franciscano de nome
de um lado, e os curraleiros e a Casa da
Agostinho, “o qual assistindo em casa do
Torre de Garcia de Ávila, de outro. Por
Sargento-maior Antônio Gomes de Sá...
ordem do governador geral dom João de
falou com outros brancos em como era
Lencastro procedeu-se à demarcação das
bom e acertado botar fora aos Padres da
terras dessas aldeias, o que foi feito pelo
Companhia (LEITE, Op. Cit.: 301).
padre superior das missões de Rodelas,
Felipe Bourel. Essa demarcação recebeu a A investida dos índios de Vargem
oposição dos Garcia de Ávila e seus deu-se por ordem das “senhoras da Torre”,
curraleiros. Com o apoio de índios que administravam aquele senhorio após a
aldeados em Vargem, empreendeu-se a morte de Francisco Dias de Ávila. As
expulsão do missionário da aldeia de “senhoras da Casa da Torre” eram
Acará. A aldeia de Vargem era um núcleo Catarina Fogaça (irmã de Francisco Dias
administrado à época pelos Padres de Ávila) e sua filha, Leonor Marinho
Borbônicos8. Os índios da Vargem eram Pereira (sobrinha e viúva de Francisco
aliados do procurador da Casa da Torre de Dias de Ávila). Antes desses episódios,
Garcia de Ávila, o sargento-mor Antônio Francisco Dias de Ávila (pouco antes de
Gomes de Sá. morrer) havia feito aliança com os índios
de Rodelas, a fim de que nãoestes se
O episódio da expulsão do
opusessem aceitassem à chegada dos
missionário deu-se em 26 de julho de
padres da Companhia de Jesus. Após
1696. No mesmo dia, os índios da Vargem
apelo do Reitor do Colégio da Bahia, o rei
procederam à expulsão do administrador
de Portugal ordenou, em 20 de janeiro de
do aldeamento de Curumambá, padre
1698, uma devassa sob a coordenação do
Agostinho Correia. Em 27 de julho de
ouvidor da comarca de Sergipe. Dom
1696, foi expulso o missionário jesuíta da
Pedro II ainda determinou a imediata
aldeia da Ilha de Zorobabé. Juntamente à

8 Posteriormente Vargem será adquirido pelos capuchinhos franceses, como mais adiante veremos (REGNI, 1988a: 210).

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restituição dos jesuítas e reedificação das moralidade pública, cometidos pelos


senhores da terra e seus empregados e
Casas de Residência e Igrejas. Ao dependentes (LEITE, Op. Cit.: 306).

governador geral, El-Rey incumbiu


nomear juízes ordinários a cada cinco
Após os graves conflitos com os
léguas na jurisdição da Bahia, com o
curraleiros, os jesuítas adotam
propósito de conhecer dos crimes dessa
modificações nas suas missões pelos
natureza e enviar ao ouvidor da comarca
sertões. Para os sertões de Jacobina e
da Bahia. A Companhia de Jesus desistiu
Itapicuru, foram sugeridas concentrações
de levar adiante o processo e solicitou ao
de aldeias. Assim, aldeias menores seriam
rei permissão para se abster das missões
reunidas às maiores. Esse foi o caso de
de Rodelas. Dom Pedro II aceitou a escusa
Saco dos Morcegos, Natuba e Canabrava.
jesuítica sobre as missões de Rodelas, mas
Natuba acabou por reunir 05 aldeias,
ordena a continuação do processo, “para
perfazendo, em 1717, cerca de 800 índios.
se castigarem os culpados”. Os índios da
Em Canabrava, como se viu, houve um
Vargem, nesse ínterim, se refugiaram na
aporte de índios kiriris prisioneiros das
Serra do Ibiapaba (entre os atuais estados
guerras ocorridas nos sertões. Saco dos
do Ceará e do Piauí). Fazendo uma análise
Morcegos assinala a presença de índios
sobre esse conflito, Serafim Leite revela
moritises9, revelando a incorporação desse
muito da situação dos aldeamentos
grupo aos kiriris-kipeás ali assentados
indígenas dos sertões, oprimidos pelos
desde a fundação da missão. A julgar pelas
sesmeiros:
informações, os moritises também devem
O caso das Aldeias de Rodelas, com ser assim
ter sido acrescidos às aldeias de Natuba e
tão desagradável para os Padres, que nelas
estavam, foi útil para os índios, e veio a por Canabrava, assim como na de Jeru. Em
a descoberto a situação perigosa dos
latifúndios demasiado grandes. Ainda que os Natuba, assinala-se a presença de índios
sesmeiros deveriam dar terras para os
índios, a indeterminação da lei colocava natus, levando a pensar que kipeás, natus
praticamente na mão deles toda a vida
religiosa e civil, impedindo a colonização e moritises se dividiam dentre as cinco
progressiva e a criação de Aldeias e
aldeias reunidas. Há ainda os orizes-
povoados. E se se criavam, ficavam esses
novos povoados em situação de arbitrária procazes, pacificados e aldeados nesses
dependência, incompatível com a isenção e
autoridade necessárias para repreenderem núcleos no século XVIII, após oferecerem
os crimes contra a liberdade humana e

9 Sobre a menção aos moritises associados aos kiriris em Saco dos Morcegos, ver a seguinte referência: Relação do número de
aldeias de índios, que se criaram em vilas, nomes que se lhes deram na sua criação, com a notícia de suas situações: Bahia, 24 de
abril de 1759. Manuscrito do Arquivo Público do Estado da Bahia - APEBA Seção Colonial/ Dossiê Índios, maço 603

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Os Aldeamentos Indígenas Fundados na Bahia e Capitanias Vizinhas Durante o Período Colonial

dura resistência. atual município de Camamu). Os índios


das aldeias de Camamu, segundo Serafim
No sertão de Rodelas, apesar do
Leite, eram frequentemente requisitados
pedido de escusa, os jesuítas mantiveram
pelos Governadores Gerais “para as
uma aldeia “11 léguas acima da Cachoeira
guerras e serviços de caráter público”. Por
de Paulo Afonso”, no rio das Rodelas. Ao
exemplo, os aldeados de Camamu,
que parece é o mesmo aldeamento de
liderados pelo indígena Antônio Taveira,
Rodelas, sendo que parte dos índios
participaram da campanha para debelar os
situou-se no rio Caraíbas, outra parte na
índios na Guerra do Recôncavo, episódio
missão e fazenda Urubumiri e São Brás –
comentado adiante. Taveira, nomeado
em território alagoano - e outra porção na
capitão e cabo dos índios, marchou com
fazenda Jaboatão, em Sergipe. A aldeia dos
seus comandados em 1671, juntamente
índios carurus, outrora na Ilha de
com os índios da aldeia do Espírito Santo.
Sorobabel, foi transferida para território
Relata-se que as aldeias e os povoados da
nas fronteiras entre a Bahia e o Piauí. A
região de Camamu eram atacados
aldeia de carurus passou a ter como
frequentemente por índios hostis,
vizinha a aldeia de Curral dos Bois,
notadamente os aimorés (gren/
recentemente fundada, situada entre os
botocudos).
atuais municípios de Sento Sé e
A fundação do Aldeamento de
Malhadinha, na Bahia. Outra aldeia de
Camamu ocorreu por volta de 1679. O
Curral dos Bois passou a existir na região
núcleo era composto de índios “brasis”, ou
de Rodelas, administrada pelos
seja, de tupinambás. A missão de São
franciscanos.
Miguel e Santo André provavelmente foi
Camamu e Baixo Sul da Bahia fundada por volta de 1683. Serafim Leite
Na região de Camamu, os jesuítas acha plausível que o núcleo tenha recebido
administravam os aldeamentos de índios das antigas aldeias de São Miguel do
Assunção (atual cidade de Camamu), de Taperaguá e Santo André, em Santa Cruz,
Santo André e São Miguel (mais tarde na capitania de Porto Seguro. Daí a
conhecida como Aldeia de Serinhaém, no invocação dupla para a localidade. Mas a
atual município de Ituberá) e de Nossa peculiaridade do aldeamento era o payayá,
Senhora das Candeias (denominado etnia predominante na missão, a partir da
Maraú, situado dentro da jurisdição do década de 1670. Os payayás são típicos da

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região das Jacobinas, conforme se viu. O índios tupiniquins e, desde o início, muitas
padre jesuíta Antônio de Oliveira – das suas terras eram arrendadas a
intitulado “o apóstolo dos payayás” – particulares, fato que colaborou para o
missionou na região das Jacobinas, surgimento da freguesia de Maraú,
fundando então um aldeamento com esses fundada em 1718, um pouco mais ao sul da
índios por volta do ano de 1675. Com a sede da aldeia. O sítio da aldeia
guerra deflagrada contra os payayás, por encontrava-se no que é hoje o distrito de
ordem do governador Alexandre de Sousa Barcelos do Sul, dentro da jurisdição do
Freire, e devido a oposições dos sesmeiros, município de Camamu. A povoação
Antônio de Oliveira pleiteou a mudança do vizinha, composta por arrendatários das
sítio da aldeia. Enfrentou a oposição de terras da missão, cresceu no sítio que
João Peixoto Viegas, que tinha a pretensão corresponde ao atual município de Maraú,
de remanejar os payayás aldeados para as extrema sul de Camamu.
fronteiras das suas terras, na intenção de Existe a menção ainda ao
criar uma barreira defensiva contra outros Aldeamento de Boipeba, fundado no
grupos de índios hostis. Viegas, Antônio século XVI, na Ilha de Boipeba. Ali havia
Guedes de Brito e outros potentados do uma Residência dos Jesuítas e o
sertão buscavam, junto ao governador crescimento da aldeia, no fim do mesmo
geral Afonso Furtado de Castro do Rio de século, tem a ver com os ataques dos
Mendonça, retirar dos padres da aimorés e com uma política deliberada
Companhia de Jesus a administração dos para evitar que os holandeses fizessem da
índios payayás. Os jesuítas, apesar disso, Ilha de Boipeba um ponto de apoio para a
conseguiram remanejar os índios aldeados conquista definitiva da Bahia. A trégua
em Jacobina para Serinhaém. estabelecida com os aimorés, a
A aldeia de Maraú estava localizada neutralização da ameaça holandesa e o
em terras outrora pertencentes a Mem de florescimento da região de Camamu
Sá, transferidas posteriormente aos concorreram para que a Residência
jesuítas. Intitulava-se Aldeia da Virgem voltasse ao sítio inicial (Camamu),
da Purificação junto a Camamu, mas o convertendo Boipeba em aldeia de visita,
seu sinônimo era mais usual na tendo sido suas terras rapidamente
documentação: Nossa Senhora das tomadas pelos moradores locais e
Candeias. O núcleo era composto por arrendatários. Nomina-se, por sua vez, a

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Aldeia de Rio de Contas, situada próxima sua história vinculada à catequese dos
à foz daquele rio (nos limites do que é hoje capuchinhos italianos, conforme se verá.
o município de Itacaré). Marca-se, além
dos índios, a presença de alguns Capitania de Ilhéus
portugueses foreiros (LEITE, Op. Cit: 199- Na capitania de Ilhéus os jesuítas
215). O mapa de 1758 marca a etnia gren fundaram o aldeamento de Nossa Senhora
para esta aldeia, que, de fato, é intitulada da Escada, mais tarde convertido em Vila
Aldeia dos Grens, vinculada à vila de São Nova de Olivença. Olivença é hoje distrito
Jorge dos Ilhéus e convertida em Vila de Ilhéus. Sua composição étnica,
Nova de Almada no ano de 1758. Esses registrada pelo Mapa de 1758, é de
índios foram reduzidos pelo padre jesuíta tabajaras ou tupiniquins. Todavia, as
Agostinho Mendes, coadjuvado pelo informações sobre a catequese jesuítica na
coronel da vila de Ilhéus, Pascoal de região dão conta da redução de um grupo
Figueiredo. Havia, na mesma região da de índios denominados socós, “que não
aldeia de Almada, outro aldeamento falavam a língua geral”, ou seja, não eram
denominado de Nossa Senhora dos do grupo tupi-guarani.
Remédios. Serafim Leite informa ter sido Após vencer a oposição de um
o aldeamento extinto em 1757. No Mapa de indivíduo denominado Xorte, que passara
1758, não se assinala sua presença; já a a viver entre os socós, negando-se a aceitar
relação de 1861, Nossa Senhora dos o aldeamento, o padre inaciano Gonçalo
Remédios é apontada como aldeia que do Couto reduziu-os próximo a Olivença,
tinha “ainda selvagens10 em suas matas e em 1691. O Aldeamento dos Socós deixa de
câmara igualmente de posse de seus ser mencionado, todavia, a partir de 1702,
terrenos e usufruto”. A Câmara Municipal fato que sugere terem sido os socós
da Vila da Barra do Rio de Contas estava aglutinados à população de Olivença
de posse da quase totalidade dos terrenos (LEITE, Op. Cit: 223-224), embora não
doados outrora aos índios11. Remédios tem haja menção a esta etnia no Mapa de 1758,
tampouco na relação encontrada no Maço

10 Esse é o termo utilizado na documentação oficial para se referir a índios com pouco contato com a sociedade nacional.
11P.e: MELLO, João Tavares de. Carta do Delegado de Polícia da Barra do Rio de Contas, dirigida ao Diretor Geral dos
Índios da Província da Bahia, Casemiro de Sena Madureira (Vila de São José da Barra do Rio de Contas, 27 de maio de
1854). Manuscrito do Arquivo Público do Estado da Bahia - APEBA: Seção Colonial-Provincial, série Agricultura –
Correspondência enviada pelo Diretor Geral dos Índios... MAÇO 4612.

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603 do Arquivo Público do Estado da outros grupos indígenas. A redor do ano de


Bahia. 1684, informa-se que a aldeia do Espírito
Santo foi reunida à de São João Batista,
Capitania de Porto Seguro mas, poucos anos depois, foi reconstituída
Na capitania de Porto Seguro, há no rio Patatiba (Buranhém). Ficou então
informações de que, no século XVI, os conhecida como aldeia de Patatiba,
inacianos administravam nove aldeias. posteriormente convertida em Vila Verde.
Todavia, Serafim Leite pontua apenas Estava situada na jurisdição do atual
conhecer o nome de duas: Santo André – município de Porto Seguro, no que hoje é
vizinha ao povoado de Santa Cruz, ao norte o povoado de Vale Verde. São João Batista
da sede da Capitania – e São Mateus (cinco era outra aldeia dos arredores da vila de
léguas ao sul da vila de Porto Seguro). O Porto Seguro, mas, enquanto Patatiba
grande ataque dos aimorés, que culminou localizava-se no interior, São João estava
com a saída dos jesuítas da capitania, sita no litoral. Também era registrada com
alterou estes índices. Quando do retorno o nome de São João dos Tupis,
dos padres da Companhia de Jesus, os denunciando a sua composição étnica:
aldeamentos haviam se reduzido a quatro, tupiniquim (ou tabajara); converteu-se em
três dos quais tem seus nomes revelados. Vila Nova de Trancoso, através da
Santo André (em Santa Cruz, já legislação pombalina. É o atual distrito de
mencionado), era composta de índios Trancoso, incluso dentro dos limites de
tupiniquins, mas teve boa parte dos seus Porto Seguro.
catecúmenos transferidos para as aldeias Alude-se ainda a trabalhos de
de Camamu, em 1692. Não figura na lista catequese jesuítica junto a índios hostis na
de 1758, mas é apontado pelos mapas do região do rio de Caravelas (ao sul de Porto
século XIX (p.e: 1855 e 1861) compondo- Seguro), mas – ao que parece – a missão
se de uma população que gravitava em não rendeu muitos frutos ali, já que,
torno de 40 e 50 aldeados, depopulação adentrado e muito o século XVIII, a
que certamente se explica pelas sucessivas população e os missionários ainda se
transferências do seu contingente. debatiam para tentar conter os ataques
A aldeia do Espírito Santo também indígenas naquela zona. Os índios das
era composta por tupiniquins, mas a aldeias de Porto Seguro (Espírito Santo e
relação de 1758 aponta para mistura com São João) eram frequentemente

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requisitados para as expedições de defesa estabelecimento de vários aldeamentos.


no rio Caravelas (LEITE, Op. Cit: 240- As motivações para isto se davam, segundo
242). Outros núcleos indígenas foram frei Venâncio Willeke, em virtude de
criados como parte do processo de quatro ordens de fatores: 1º) a descoberta
constituição da ouvidoria da comarca de de ouro na região atraiu inúmeros
Porto Seguro, no século XVIII, conforme exploradores e aventureiros, aumentando
será visto. os abusos na escravização dos índios; 2º)
O trabalho de missionamento dos O povoamento da região acirrara o
franciscanos (Ordem dos Frades Menores problema entre sesmeiros e aldeias no
– OFM) recebeu impulso significativo a tocante ao controle e administração dos
partir de 1679, após um período de índios; 3º) As ilhas do rio São Francisco
paralisação que se iniciara em 1615. Na constituíam-se pontos estratégicos para
fase em que vigorava a Custódia de Santo assentar aldeamentos indígenas, por
Antônio (que possuía jurisdição sobre o ofertarem defesa natural contra índios
trabalho apostólico na Bahia), o arcebispo hostis e colonos e [o mais importante para
de Salvador não reconheceu as colonos e missionários] 4º) Os índios ali
prerrogativas extraordinárias dadas ao aldeados apoiariam o processo de
custódio frei Melchior de Santa Catarina, conquista e ocupação de território
dentre as quais estava a implantação de estratégico (que ligava o norte ao sul do
aldeamentos para a catequese indígena. país), ajudando a submeter índios
Outro fator que muito obstou a catequese “selvagens” e rebeldes, prestando serviços
da OFM foi a invasão holandesa, que, aliás, principalmente na atividade pecuária e
concorreu para um interregno no utilizando as aldeias como locais de pouso
apostolados das outras ordens religiosas. para aqueles que buscavam circular entre
Em 1657 a Custódia de Santo Antônio foi os sertões e o litoral (WILLEKE, 1974: 81-
convertida em Província Autônoma de 82).
Santo Antônio, que passou a ter atenção
especial pela região do Rio São Francisco. A atuação dos franciscanos e
Nessa zona, a aliança entre a OFM e a Casa capuchinhos italianos nos
da Torre de Garcia de Ávila traduziu-se aldeamentos indígenas da Bahia e
numa efervescência de atividades regiões vizinhas
missionárias, acarretando o

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No território objeto deste trabalho, expulsão dos missionários franciscanos e


foram fundados, re-fundados ou capuchinhos que atuavam na catequese
adquiridos pelos franciscanos muitos das regiões de Pernambuco, Alagoas e
aldeamentos. A aldeia dos Coripós Paraíba. Abusos e decadência da disciplina
situava-se entre os municípios de Juazeiro entre os capuchinhos e os franciscanos
e Petrolina e foi adquirida em 1702, não foram os argumentos utilizados para tal
sendo informado, porém, qual ordem decretação. As missões dessas ordens
havia administrado o aldeamento antes da foram extintas, elevando-se à categoria de
OFM. A aldeia de Zorobabé foi assinalada paróquias ou incorporadas a freguesias já
por Willeke como sendo fundada em 1702. existentes (Op. Cit.: 84-85).
É possível, porém, que ela tenha sido re- Na Bahia, os franciscanos e
fundada ou reorganizada pelos capuchinhos puderam continuar os
franciscanos após a expulsão dos jesuítas trabalhos de catequese, após 1760. As
no final do século XVII, jesuítas esses que primeiras missões datam do ano de 1689:
haviam levado consigo uma parte dos Itapicuru de Cima e Massacará (já
índios carurus, transferindo-os para a citadas). Em Rodelas e Acará (Axará), os
zona de Sento Sé. Pontal foi outro franciscanos foram sucedâneos dos
aldeamento administrado pela Província jesuítas, se bem que os jesuítas ainda
Autônoma de Santo Antônio. Estava mantivessem alguns núcleos em Rodelas
localizado na atual Ilha do Pontal (no (11 léguas acima da Cachoeira de Paulo
município de Lagoa Grande-PE) e era Afonso. Willeke informa que Axará e
composta por índios tamaquins. Sua Rodelas ficaram pouco tempo sob a
fundação data de 1705, a mesma data de direção dos franciscanos. Pietro Regni,
fundação do aldeamento de Unhunhu tendo como base o documento intitulado
(Inhamuns), localizado também às Informação Geral da Capitania de
margens do rio São Francisco. Marca-se Pernambuco (da primeira metade do
ainda o aldeamento de Pajeú, na bacia do século XVIII), aponta que essas duas
rio de mesmo nome. missões foram reassumidas pelos
Todas estas aldeias foram capuchinhos italianos. Dado que se põe em
empreendidas com a autorização do sintonia com o Mapa de 1758, o qual
governo da capitania de Pernambuco. Em mostra que Rodelas figurava como aldeia
1760 o governo da Colônia decide pela ministrada pelos barbadinhos da

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Os Aldeamentos Indígenas Fundados na Bahia e Capitanias Vizinhas Durante o Período Colonial

península itálica. A missão de Aricobé tem adquiriu é 1702, um ano depois da retirada
sua fundação assinalada para o ano de dos capuchinhos franceses do território da
1739. A aldeia tem sua localização inicial às América Portuguesa Colonial. Muito
margens do rio São Francisco, sendo provavelmente os franciscanos tenham
posteriormente transferida para a região substituído os barbadinhos bretões nesse
do atual município de Angical-BA. Sua caso. A mesma transferência (dos
extinção data do ano de 1860, quando já capuchinhos aos franciscanos) parece ter
estava na alçada do clero secular. Nossa ocorrido com a aldeia de Aracapá. Aracapá
Senhora das Neves do Saí foi fundada em e Pambu voltam aos capuchinhos, quando
1697, tendo sua extinção em 1863. da fase dos missionários italianos. O
Situava-se em terras intermediárias entre aldeamento de Curral dos Bois situava-se
os atuais municípios de Senhor do Bonfim na região de Rodelas e tem nos anos de
e Campo Formoso. 1702 e 1843, respectivamente, as datas da
Massarandupió, de índios sua fundação e extinção. São Gonçalo de
tupinambás, foi adquirida em fase tardia Salitre, na região do rio Salitre, foi uma
pelos franciscanos: foi administrada pelos aldeia adquirida pela OFM em 1703. Não
carmelitas descalços e, depois, pelos se registra a data em que ela foi devolvida.
padres marianos até 1831. Sua extinção, Bom Jesus da Jacobina foi fundada em
após um conflituoso processo de 1706 e extinta em 1847. Nossa Senhora das
reivindicação de terra entre aldeados, de Grotas de Juazeiro, dos índios tamaquins,
um lado, e rendeiros e herdeiros da Casa surge no mesmo ano de 1706, mas se
da Torre, de outro, ocorreu oficialmente extingue em 1840.
na década de 1860. A aldeia de Nossa O apostolado capuchinho junto aos
Senhora das Brotas de Jeremoabo foi indígenas iniciou-se com os capuchinhos
fundada em 1702, mas foi decretada franceses. O fim da invasão holandesa
rapidamente extinta em 1718. Nossa (1654), além do matrimônio do rei dom
Senhora da Conceição de Pambu foi Afonso VI com dona Maria Francisca de
adquirida em 1702, mas frei Venâncio Sabóia (1666) são eventos que
Willeke não informa das mãos de que impulsionaram esse apostolado. O
ordem os franciscanos a receberam. encerramento do domínio holandês
Pambu sempre foi área de missionamento reabriu os sertões para o trabalho de
capuchinho. A data em que a OFM a conversão católica, enquanto que a

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influência da rainha bretã garantiu inserção de xocós) e Poxim (em Pacatuba),


proteção aos padres franceses, seus composta por índios caxagós ou karapatós
compatrícios. A partir de 1657, os (cariris). Há ainda a menção a Irapuá e
capuchinhos começaram a solicitar à Vargem. Aquela se situava a três léguas a
Propaganda Fide, congregação a que a montante de Cavalo (na ilha fluvial à altura
ordem estava vinculada, autorização para do município pernambucano de Orocó) e
ampliar a atuação missionária ao sul de também era composta por cariris-
Pernambuco. Em 1669, a atividade dzubucuá-obacoatiaras. Esta se situava a
apostólica no sertão da Bahia ganha um seis léguas a montante de Pambu (na ilha
ponto de suporte na fundação do Hospício à altura do município baiano de Abaré),
Capuchinho de Nossa Senhora da Piedade tendo sido adquirida pelos capuchinhos
na cidade de Salvador. O sertão do rio São franceses dos padres borbônicos. Era
Francisco passa a ser um polo de atuação formada por índios prokás e pankararus
missionária. (REGNI, 1988a: 209-229).
Na região de Rodelas, os Regni informa que a aldeia de São
capuchinhos franceses fundaram a aldeia João Batista de Rodelas era “formada por
de São João Batista (de Rodelas), nas ilhas seis ou sete ilhotas, entre as quais Setiná
compreendidas entre os atuais municípios [ou Jetinã], a maior, e Aticu [Araticum]”.
de Rodelas-BA e Belém do São Francisco- Situam-se entre os atuais municípios de
PE. Na região de Aracapá, nas ilhas fluviais Rodelas-BA e Belém do São Francisco-PE.
do rio São Francisco, floresceram as O aldeamento de Rodelas foi fundado pelo
missões capuchinhas de Aracapá, Cavalo e frei capuchinho Francisco de Donfront,
Pambu12, composta por índios cariris- entre os anos de 1671 e 1672. Tinha a si
dzubukuá-obacoatiaras (os índios de vinculada a missão de Hereripó (ou
Cavalo acrescentavam o etnônimo tuxá). Aranhipó). O núcleo deixou de ser
Assinalam-se ainda, no Baixo São administrado pelos capuchinhos,
Francisco, no atual território sergipano, as passando às mãos dos jesuítas por volta do
aldeias de São Pedro (em Porto da Folha), ano de 1685. Essa substituição ocorreu
de índios aramurus (com posterior pela dificuldade de os capuchinhos bretões

12Cf. capítulo 01, “Pambu era o nome da ilha fluvial atualmente denominada Assunção, no município pernambucano de Cabrobó. As
outras localidades – Cavalo e Aracapá – situavam-se à montante de Pambu, a quatro léguas de distância, no atual município de Orocó-
PE. Na outra margem, do lado baiano, encontram-se os municípios de Curaçá, Abaré e Macureré.”

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proverem-se de missionários, devido à de Ávila Pereira, filho de Francisco de


política portuguesa de restrição aos Ávila Pereira. A família Garcia de Ávila (da
missionários estrangeiros. Contudo, Casa da Torre) contabilizou inúmeros
conforme se viu, após o conflito com a conflitos com os missionários capuchinhos
Casa da Torre, os jesuítas cederam lugar franceses, mas ela sempre se anunciava
aos franciscanos em Rodelas, Axará e devota de São Francisco. Além disso, a
Sorobabel-Caruru, após um brevíssimo família havia nutrido uma admiração
período de administração capuchinha pelos capuchinhos italianos freis João de
francesa (novamente) e carmelita. Anos Romano e Tomás de Séstola, quando dos
depois as aldeias retornaram aos seus contatos, a partir de 1679.
capuchinhos, só que agora eram os Importantíssima também foi o
missionários oriundos da Itália. descontentamento dos Garcia de Ávila e o
A fase dos capuchinhos italianos povo baiano para com o trabalho
não se deu imediatamente à saída dos seus catequético dos carmelitas (dizia-se que
confrades anteriores. Após a expulsão dos custavam muito e rendiam pouco). Sendo
bretões, em 1701, as missões capuchinhas assim, a Casa da Torre dirigiu petição à
foram assumidas pelos carmelitas e Corte de Lisboa solicitando autorização
franciscanos. O Hospício da Piedade para os capuchinhos italianos praticarem
passou a funcionar como um ponto de seu apostolado na América Portuguesa,
descanso para os missionários comprometendo-se a custear as despesas
capuchinhos italianos que, da Europa, se dessa missão. Como resposta, foi baixado
dirigiam à África. O arcebispo da Bahia, o alvará de 10 de dezembro de 1709,
nesse ínterim, fez várias solicitações concedendo-se a referida permissão. Já
demandando permissão da Santa Sé e da em 1711 encontram-se capuchinhos
Coroa Portuguesa no sentido de liberar a italianos em Pacatuba, São Pedro de Porto
catequese dos barbadinhos italianos em da Folha, Rodelas, Axará, Cavalo, Aracapá,
terra brasileira. O ponto que impedia tal Pambu e Irapuá (REGNI, 1988b: 19-35).
autorização era o financiamento da missão Mas o suporte financeiro dos Ávila
italiana. A Coroa não queria despender não foi para toda a missão do sertão do rio
soma alguma com esse serviço, alegando São Francisco. Quando se cria a prefeitura
ser suficiente o clérigo aqui já existente. A capuchinha na Bahia, centrada no
questão foi resolvida pelo coronel Garcia Hospício da Piedade, separam-se as

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jurisdições do apostolado da Bahia e de recrutado para atuar em outra região onde


Pernambuco. A Casa da Torre se recusou a os capuchinhos italianos realizaram
oferecer suporte ao trabalho de catequese apostolado: o sudoeste baiano do Rio de
das missões localizadas em território Contas (REGNI, 1988b: 94-95).
pernambucano. Além disso, havia sempre A descoberta de jazidas minerais no
a contenda entre as autoridades, Rio de Contas abriu espaço para que a
principalmente quando se pensa que boa expansão colonial se direcionasse para a
parte dos aldeamentos do sertão são região. Como a zona era repleta de índios
franciscano estava em zona de fronteira hostis, principalmente os aimorés, cujos
entre capitanias. Assim, se tornou comum ataques marcaram por demais o início da
o conflito de jurisdição, impactando colonização nas terras ao sul da Bahia, as
diretamente na política de catequese. Foi o autoridades coloniais lançaram mão de
que ocorreu em 1728 com o missionário uma política de repressão calcada na
capuchinho frei Bernardino de Milão, guerra. Os missionários seriam a outra
administrador da missão de Rodelas, cujas face dessa política, a catequese atuando,
terras estavam situadas na jurisdição de então, como um vetor de estabilização nas
Pernambuco e da Bahia. Ocorre que, para relações entre indígenas e colonos. Visava-
controlar os índios da missão, frei se proporcionar a sedentarização dos
Bernardino solicitou o auxílio do grupos indígenas, com o intuito de
mataroa13 da Bahia, função que era tornarem-nos elementos de defesa dos
exercida pelo índio Jorge Dias de povoados contra o ataque de outras
Carvalho. A intervenção de Jorge Dias em “tribos”. Como parte dessa estratégia, foi
Rodelas desagradou as autoridades fundado o aldeamento de Nossa Senhora
pernambucanas, que haviam determinado dos Remédios, na Barra do Rio de Contas,
a subordinação de todos os índios de seu na atual região de Itacaré. O núcleo foi
território ao capitão-mor Diogo Álvares de estabelecido em 1728 pelo missionário
Oliveira. O episódio culminou com o jesuíta padre José de Jesus e Maria, com a
afastamento do frei Bernardino de Milão coadjuvação do oblato capuchinho Fidel
da missão de Rodelas. O missionário seria (Fidélis) Franco Belloto.

13Mataroa era o título dado ao capitão-mor dos índios daquela região. Pietro Regni utiliza a expressão governador dos índios para o
mataroa. O provimento desse cargo se dava por indivíduos índios, mas o autor informa não haver certeza se mataroa era um cargo
efetivamente ou uma família indígena que exercia comando entre os indígenas da região. O mataroa será também atuante no processo
de redução dos índios orizes-procazes da região de Jeremoabo.

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A aldeia era composta por índios clero secular. Sua história vai até o período
aimorés (grens). Com a enfermidade do imperial. Os índios de São Fidélis
padre José, assumiu a direção da aldeia o exerciam a função de canoeiros no
capuchinho Bernardino de Milão (que transporte de cargas, principalmente de
havia se envolvido na contenda com as madeiras, ao longo do curso do rio Una, na
autoridades pernambucanas em Rodelas). direção do florescente porto de Valença.
Os índios gren, com efeito, solicitavam a
administração da ordem capuchinha, o Carmelitas e clero secular
que passou a ocorrer com a assunção do Os carmelitas também são citados
frei Bernardino. Mas, ao longo de alguns em atividades catequéticas no sertão da
anos, a missão foi abandonada e a razão Bahia, formando assim aldeamentos. Os
principal relacionava-se com a carência de carmelitas calçados administraram a
pessoal entre os capuchinhos14. Em 1748, aldeia de Nossa Senhora do Carmo do Rio
frei Félix Maria de Cremona transferiu os Real da Praia, composta por índios kiriris.
índios de Nossa Senhora dos Remédios A missão estava vinculada à freguesia de
para o novo centro missionário fundado na Nossa Senhora da Abadia, na vila de
região do rio Una, cuja denominação era mesmo nome, com invocação Jesus Maria
São Fidélis ou Aldeia de Una do Cairu. José15. Os calçadistas também estavam à
São Fidélis, hoje distrito do frente do aldeamento de Japaratuba,
município de Valença, foi aldeamento localizada dentro dos limites do atual
fundado por frei Anselmo de Andorno em município de mesmo nome. Japaratuba
1745 e reunia índios de matriz tupinambá, era composta por índios boimés e estava
aos quais foi incorporado o contingente de vinculada à freguesia de São Gonçalo, vila
aimorés trazido de Nossa Senhora dos de Abadia, com invocação de Nossa
Remédios. São Fidélis deixaria de ser Senhora do Carmo. A ala reformada dos
governada pelos capuchinhos em 1761, carmelitas (descalços) dirigiu o
quando o decreto do marquês de Pombal aldeamento de Massarandupió, de índios
expulsou do Brasil todos os missionários tupinambás, que tinha como invocação
provenientes dos Estados Pontifícios. O Santo Antônio de Arguim; localizava-se no
aldeamento seguiu sob a administração do setor costeiro do atual município de Entre

14 Por isso, Nossa Senhora dos Remédios não deve ser confundida com o já referido aldeamento dos índios gren administrado pelos
jesuítas na mesma região da foz do Rio de Contas, o qual foi convertido na Vila de Nova Almada.
15 Abadia é hoje distrito vinculado ao município de Jandaíra, na divisa costeira entre Bahia e Sergipe.

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Rios – BA (DANTAS, SAMPAIO & missão pouco tempo sob a direção da


CARVALHO, 1992: 445)16. Massarandupió OFM. Já foram citados os casos de Santo
foi transferida para a administração da Antônio de Maragojipe e de Jaguaripe do
Ordem dos Padres Marianos, segundo Rio da Aldeia, antes nas mãos dos jesuítas,
noticia Muniz Barreto (página 72 verso). doravante sob a direção do clero secular.
Menciona-se também a aldeia de Nossa
Havia as aldeias entregues à
Senhora dos Prazeres, vinculada à vila de
administração do clero secular, também
Jequiriçá, freguesia da Estiva. Os
chamado de religiosos do hábito de São
documentos consultados não mencionam
Pedro. Na Bahia, assinalam-se as
o grupo indígena componente de Prazeres,
seguintes aldeias nestas condições: Poxim
mas ela estava em área de incidência do
(vinculada à vila de São Jorge dos Ilhéus,
grupo tupinambá. Havia ainda as aldeias
freguesia de São Boaventura, composta
da Conquista de Pedra Branca e
por índios meniãs ou mongoiós/
Caranguejo. Eram compostas por índios
camacãs), no atual distrito de Poxim do
cariris-kamurus e cariris-sapoyás. Hoje se
Sul, município de Canavieiras; Aramaris e
situam dentro da jurisdição do município
Manguinhos (respectivamente compostas
de Santa Terezinha (DANTAS, SAMPAIO
por índios kiriris e caramurus, vinculadas
E CARVALHO, Op. Cit.).
à vila de Água Fria, freguesia do Espírito
Santo), no atual município de Aramaris; e Conclusão
Água Azeda (aldeia cuja localização e
O esforço de assinalar os
demais informações não constam da lista
aldeamentos fundados no território
de 1758). Sob a administração do clero
baiano no Período Colonial e século XIX
secular, na relação de 1758, também é
pode ser lido a partir da ótica das políticas
registrado o aldeamento de Salitre
indigenistas e também de uma história da
(vinculado à vila de Urubu de Cima,
catequese e missionamento no Brasil. De
freguesia de Santo Antônio). Salitre havia
fato, quando se fala em aldeamentos,
sido adquirido pelos franciscanos em
remete-se a estratégias coloniais para
1703, mas Willeke informa ter ficado essa

16Ver também, para o caso das três aldeias dos carmelitas, o mapa de 1758. Para a aldeia de Nossa Senhora do Carmo do Rio Real da
Praia, ver o seguinte documento: FREITAS, Francisco Aires de Almeida. Ofício do ouvidor da comarca da Bahia endereçado à Presidência
da Província da Bahia (Bahia, 05 de agosto de 1826). Manuscrito do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEBA)/ Seção de arquivos
coloniais e provinciais/ Governo da província- Série Judiciário: correspondências das ouvidorias – MAÇO 2213.

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manejar os grupos indígenas que períodos históricos, nas várias regiões do


entravam em contato com a sociedade que hoje é a Bahia, perceber a
envolvente. Um universo existe no que permanência desses povoados ao longo de
tange às estratégias dos próprios indígenas significativo espaço de tempo, permite
na sua experiência de contato ou mesmo à inferir sobre a significativa presença dos
vida de diversas populações fora do diversos grupos indígenas na história da
aldeamento, em diversas aldeias, Bahia e de suas várias regiões. Da mesma
reconstruindo suas vidas, suas alianças e forma ocorre ao se constatar as fortes
sua dinâmica de guerra e paz. De fato, a disputas em torno do estabelecimento de
palavra aldeamento tem sido usada para se exploração da mão de obra indígena e do
referir àqueles núcleos erigidos a partir de controle sobre os aldeamentos: não é
políticas indigenistas e, com efeito, é esse possível contar a história da Bahia sem
o sentido adotado nesse trabalho. inserir nessa narrativa a experiência de
grupos como os kiriri (sapoyás, kipeás,
Por outro lado, a tentativa de
dzubukuás, kamurus...), payayás,
localizar e elaborar um perfil histórico de
maracás, tupinambás, tupinikins, boimés,
tais núcleos pode-se coadunar com a
caimbés, maxakalis, pataxós, gren,
revisão da história indígena, já que, nesses
kamakãs, moritises, akroás, prokás,
estudos mais recentes, destaca-se uma
parkararus e diversos outros que, pela sua
forte preocupação em identificar a
imensa variedade e complexidade nos
importância das populações indígenas na
caminhos históricos trilhados, não
história do Brasil, além do seu
caberiam neste trabalho.
protagonismo. Detectar a quantidade dos
aldeamentos fundados em diversos

REFERÊNCIAS

DANTAS, Beatriz G, SAMPAIO, José Augusto e CARVALHO, Maria do Rosário. Os povos indígenas
no Nordeste Brasileiro: um esboço histórico. In: CUNHA, Maria Manuela Carneiro da (org.).
História dos Índios do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras-FAPESP-SMC, 1992. p. 431-
456.

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LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo V. Rio de Janeiro:


Imprensa Nacional do Rio de Janeiro. 1945.

PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. O Tempo da Dor e do Trabalho – a conquista do território


indígena nos Sertões do Leste. Tese (doutorado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Departamento de História (UNICAMP), 1998.

REGNI, Pietro Vittorino. Os Capuchinhos na Bahia: uma contribuição para a história da Igreja
no Brasil. Vol. 1 (os capuchinhos franceses). Salvador: Editora Pallotti. 1988. (a)

____. Os Capuchinhos na Bahia: uma contribuição para a história da Igreja no Brasil. Vol. 2 (os
capuchinhos italianos). Salvador: Editora Pallotti. 1988. (b)

SANTOS, Sólon Natalício Araújo dos. Conquista e Resistência dos Payayá no Sertão das
Jacobinas: tapuias, tupi, colonos e missionários (1651-1706). Dissertação (mestrado), Programa de
Pós-graduação em História Social, Universidade Federal da Bahia (PPGH-UFBA), 2011.

SILVA, Jacionira Coêlho. Arqueologia no Médio São Francisco: indígenas, vaqueirros e


missionários. Tese (doutorado), Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), 2003.

WILLEKE, Venâncio. Missões Franciscanas no Brasil (1500-1975). Petrópolis-RJ: Editora


Vozes. 1974.

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Anexo

Extraído da tese de doutorado do autor, cuja referência é a que se segue: REGO, André de Almeida. Terra,
Trabalho e Identidade indígena na Província da Bahia: 1822-1862. Tese de doutorado, Programa de Pós-
graduação em História Social, Universidade Federal da Bahia (PPGH-UFBA), 2014.

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