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História do Espírito Santo

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História do Espírito Santo

01História do
01 Espírito Santo Colonial
Espírito Santo
Prof.º William Alcântara I @wllm_alcantara 01.1 O Espírito Pré-Colonial e o processo de
formação e ocupação do Espírito Santo
A História do Espírito Santo é um domínio de estudos de história Antes da colonização a região onde hoje é o estado do Espírito
do Brasil, concentrado na evolução do território e da sociedade Santo era povoada por diversas tribos indígenas. Pesquisadores
capixaba que, canonicamente, se estende desde a tomada de estimam que a região do Espírito Santo e Ilhéus no período pré-
posse da Capitania do Espírito Santo pelo donatário Vasco cabraliano eram ocupados por 97 mil índios.
Fernandes Coutinho, em 1535, até os dias atuais.

A história dos europeus em território capixaba começou em 23


de maio de 1535, quando os colonizadores portugueses,
chefiados pelo donatário Vasco Fernandes Coutinho,
desembarcaram na Capitania do Espírito Santo. Nesse mesmo
ano, foi fundada a povoação de Vila Velha, o primeiro núcleo
populacional da capitania. Na tarefa de catequese dos índios
da região, destacou-se a figura de José de Anchieta.

Houve um grande período neste meio tempo ao qual muitos


desconhecem, em que o Espírito Santo foi anexado à Bahia,
tendo, portanto, a capital sediada em Salvador.

A proibição da mineração nas Minas Gerais e a presença de


tribos hostis no interior contribuíram para que o Espírito Santo se
mantivesse por muito tempo como uma capitania
essencialmente litorânea. Apenas na segunda metade do
século XIX, essa situação modificou-se graças à expansão da
lavoura cafeeira. O café, penetrando no extremo sul do estado,
proveniente do Rio de Janeiro, garantiu o povoamento do
interior.

O plantio do café foi ainda a principal atividade dos imigrantes


europeus, especialmente alemães e italianos, que introduziram o
regime da pequena propriedade na região serrana. A
ocupação do extremo norte ocorreu no início do século XX,
graças às primeiras plantações de cacau, estabelecidas por
fazendeiros baianos. Mas foi apenas em 1963 que o Espírito Santo
adquiriu sua atual configuração geográfica, com a solução da
antiga disputa entre o estado e Minas Gerais, relativa à posse da
região da Serra dos Aimorés. Pelo acordo, a região foi dividida
entre os dois estados.

Atualmente, o Espírito Santo conta com trunfos valiosos na


arrancada para o desenvolvimento econômico: uma
privilegiada localização geográfica, riquíssimas reservas de
minerais radioativos no litoral, um dos maiores portos de minério Índio botocudo - Foto de Walter Garbe - Livro: Índios Botocudos do
do mundo e a segunda maior produção de petróleo do Brasil. Espírito Santo no século XIX, do autor Paul Ehrenreich

A colonização de outras partes da colônia resultou na fuga de


outros grupos indígenas para a região. Não houve para a região
um despovoamento, pelo contrário recebeu uma intensa
migração de população indígenas tanto do Norte quanto do sul.

O Norte era ocupado pelos tupiniquins que se estendiam de


Ilhéus até o Cricaré (São Mateus). A autodenominação que
pode ser grafada de diversas formas (tupiniquim, tupinaquis,
topinaquis, tupinanquins) vem da expressão Tupin-i-ki cujo o
significado em português é “tupi do lado, vizinho lateral”.

O grupo sofreu aldeamentos por jesuítas que fundaram Aldeia


Nova e Reis Magos para a catequese. O contato com europeus
significou também o contato com doenças contagiosas como
varíola. O aldeamento resultou no desaparecimento da língua
que não sobreviveu até os dias atuais. Como também de suas
práticas sociais e culturais que tornaram muito semelhante ao
campesinato brasileiro. Hoje no estado habitam três terras
indígenas no município de Aracruz.
“Capitania do Espírito Santo, pertencente a Capitania da Bahia pelo
governo militar”. Autor Anastácio de Santa Anna, copiado pelo Cap. M. Ao Sul estavam os Goitacás que ocupavam a costa e
F. C. de Oliveira Soares em 1853.
proximidades de Cabo Frio onde faziam fronteira com os

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tupinambás (tamoios). Ocupavam também os campos no baixo A sujeição dos gentios somente veio com o governador Mem de
Paraíba, até hoje conhecidos como campo dos goitacás. Sá que impôs os aldeamentos junto com os jesuítas. A catequese
Atrapalharam os projetos de colonização atacando os primeiros teve como principal dificuldade o nomadismo das tribos que
povoamentos e fazendas de cana-de-açúcar. O Sul também mudavam frequentemente, assim interrompendo a catequese.
era ocupado pelos temiminós, ficavam nas ilhas do rio Paraíba Muitos fugiam para o interior, o sertão, com a finalidade de
do Sul. Migraram para o Espírito Santo por pressão dos índios escapar da colonização. Os índios livres das aldeias entravam
tupinambás que eram seus adversários. Somente os goitacás em constante confronto contra os brancos, não aceitavam a
não falavam línguas tupis, conhecida pelos jesuítas e colonos. pregação dos jesuítas. Os escravizados eram obrigados à
catequese, mas sempre voltavam a suas práticas consideradas
pagãs.

As doenças também diminuíam em muito os números de índios.


A aldeia de Conceição foi assolada por doenças vindas da
Europa, como varíola, tuberculose. Em 1559 a capitania foi
assolada por infecção pulmonar e disenteria hemorrágica que
atingiu todo o litoral, foi levada pelos índios que fugiam do Rio de
Janeiro. Resultou no falecimento de 20% da população
indígena. Depois em 1564 houve um surto de varíola que
acometeu a aldeia de Conceição O entusiasmo dos jesuítas
diminuiu, muitos desistiram dos aldeamentos na região. (SALETTO,
2011)

A alta mortalidade consequentemente reduzia a mão-de-obra


levando a intensificação da escravização de nativos na região.
No final do século XVI os colonos passaram a praticar violência e
escravizar os índios. Os jesuítas viam-se impotentes diante das
ações dos colonos. A escravização dos índios não estava mais
em debate ela só era permitida através de prisioneiros de guerra
da chamada “Guerra justa”.

O termo refere-se à ocasião em que o grupo indígena atacava


um colono sem que ele tivesse o atacado anteriormente. Por
exemplo, a expedição para a expulsão dos tamoios de Cabo
Frio levou a escravização de quatro mil índios. Porém muitos
sertanistas adentravam o sertão da América Portuguesa
atacando aldeias indígenas para vendê-los em São Vicente. As
autoridades régias pouco ou nada faziam para combater a
escravidão dos gentios.

(...) particularmente sobre as margens do Rio Doce e rios que no


mesmo deságuam e onde não só devastam todas as fazendas
(...) e passam a praticar as mais horríveis e atrozes cenas da mais
bárbara antropofagia, ora assassinando os portugueses e os
índios mansos (...) ora dilacerando os corpos e comendo os tristes
restos (...). Desde o momento em que receberdes esta minha
Carta Régia, deveis considerar como principiada contra estes
índios antropófagos uma guerra ofensiva que continuareis
sempre em todos os anos nas estações secas e não terá fim,
A ocupação e colonização da região pelos portugueses senão quando tiverdes a felicidade de vos assenhorar de suas
encontraram dificuldades. Os tupiniquins e goitacás receberam habitações e de os capacitar da superioridade das minhas reais
os primeiros povoadores com flechas. Era impossível sobreviver armas de maneira tal que movidos do justo terror das mesmas,
peçam a paz e sujeitem-se ao doce jugo das leis, prometendo
sem a colaboração dos indígenas, como utilizaram os colonos
viver em sociedade, possando vir a ser vassalos úteis como já o
do Rio e São Paulo. Os ataques eram constantes, destruía-se
são as imensas variedades de índios que nestes meus vastos
povoamentos, plantações e engenhos. Os colonos trouxeram Estados do Brasil se acham aldeados e gozam da felicidade que
para a região escravos carijós e tamoios, inimigos dos tupiniquins, é consequência necessária do estado social.
aumentando a rivalidade e ataques. Vasco Coutinho o primeiro
povoador do Espírito Santo recebeu pedido de ajuda do índio Carta Régia de 13 de maio de 1808 D. João VI oficializou a guerra
Maracajaguaçu no Rio de Janeiro. contra os Botocudos antropófagos

Atendendo ao pedido foi com seus navios bem armados e No século XIX os botocudos moradores da fronteira entre a
conseguiu salvar e trazer até Vitória os índios maracajás. Foram província de Minas Gerais e Espírito Santo sofreram as tentativas
instalados onde hoje é a cidade de Serra, próximo a Vitória, de colonização do Mucuri e do Rio Doce implementadas por
criou-se uma aldeia para a catequese pelos jesuítas. A Teófilo Otoni. A construção da Estrada de Ferro Vitória Minas vai
povoação recebeu o nome de Nossa Senhora da Conceição, retomar os conflitos entre índios e colonos. A ocupação do
sendo construída uma grande igreja e casas para os religiosos. Espírito Santo ficou restrita durante o período colonial ao litoral e
suas proximidades.
O índio Maracajaguaçu e seus guerreiros maracajás
contribuíram para colonização portuguesa, ajudando no A proposta de construção da Estrada de Ferro e ampliação da
combate aos franceses quando atacaram Vitória e na fronteira agrícola através do café levou a ocupação do interior
expedição contra os franceses e os tamoios que originou a que era povoada por índios botocudos e puris, acentuando
fundação do Rio de Janeiro. Os tamoios eram inimigos dos ainda mais os conflitos com os indígenas. No decorrer do século
maracajás, entravam constantemente por conflito de território XX, a presença de tribos no ES reduziu significativamente, ao
mesmo antes da chegada dos europeus que o viram como ponto, de nos dias atuais, estar limitados poucas aldeias,
forma de estabelecer a colonização. (SALETTO, 2011) concentradas principalmente em Aracruz.

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Vasco Fernandes Coutinho foi o primeiro Capitão-Donatário da
donataria do Espírito Santo, e segundo Simão de Vasconcellos
era "fidalgo de igual valor e nobreza, dos mais illustres e antigos
solares de Portugal."

Há uma certa discrepância quanto ao caráter de Coutinho.


Alguns historiadores exageram suas más qualidades talvez por
terem se baseado em cartas enviadas ao El-Rei por inimigos ou
adversários do donatário no Brasil. Há também aqueles que o
enaltecem de todas as maneiras.

Parece certo que Vasco Fernandes Coutinho acolheu bandidos


e marginais em sua capitania, talvez pela necessidade de
povoá-la e explorá-la ao máximo, e isto realmente pode ter
ocasionado bastante crítica e perseguição por moralistas e
religiosos que chegavam ao Brasil para catequizar índios.

Alguns fatos na história deste Português, com efeito, levam a


preferir a versão que dignifica seu caráter. Primeiramente, só o
Indígenas botocudos no ES no século XIX. Fonte: EHRENREICH, 2014.
fato de ter recebido um pedaço de terra no Brasil, diretamente
Os Botocudos, também chamados de Tapuias ou Aimorés, do El-Rei indica certa importância na metrópole.
ocupavam o território que compreendia faixas da Mata
Diz assim o historiador Francisco Adolfo Varnhagen:
Atlântica e da Zona da Mata na direção leste-sudeste, cujos
limites prováveis seriam o vale do Salitre, na Bahia, e o Rio Doce, "É necessário confessar que Vasco Fernandes não era
no Espírito Santo. Os Botocudos pertencem ao tronco linguístico nascido para o mando. Como simples colono, houvera sido
Macro--Jê, são caçadores e coletores seminômades, com uma um companheiro agradável e obediente: era um péssimo
organização social que se caracteriza pelo constante chefe. Na Ásia havia ganho celebridade pela proeza de
fracionamento do grupo, pela divisão natural do trabalho e por investir em Malaca com um elephante que com a tromba
um sistema religioso centrado na figura dos espíritos encantados esgrimia uma espada. Era de caracter dócil e jocoso, mas de
dos mortos. nenhuma severidade para com os delinquentes e criminosos.
Sem pureza de costumes não podia ser modelo de uns, nem
terror de outros. Acabou por dedicar-se com excesso a
Origem do termo Capixaba
bebidas espirituosas e até se acostumou com os índios a
Segundo os estudiosos da língua tupi, capixaba significa, roça,
roçado, terra limpa para plantação. Os índios que aqui viviam fumar, ou a beber fumo, como então se chamava este
chamavam de capixaba sua plantação de milho e mandioca. hábito, que naquelle tempo serviu de compendiar até onde
Com isso, a população de Vitória passou a chamar de tinha levado sua devassidão."
capixabas os índios que habitavam na região e depois o nome
passou a denominar todos os moradores do Espírito Santo. O historiador José Francisco da Rocha Pombo, por outro lado, diz
não ter encontrado nem nas cartas dos primeiros missionários,
coisa alguma em que possam justificar tais acusações ao caráter
01.2 A Descoberta do Brasil e a Capitânia de Vasco do Donatário.
Fernandes Coutinho no Espírito Santo
Após a descoberta do Brasil por Pedro Alvares Cabral demorou Na verdade, segundo Rocha Pombo, o testemunho de alguns
trinta anos para a efetiva ocupação do território. As primeiras padres retifica a opinião de que Vasco era um homem simples,
atividades econômicas foram de cunho extrativista, sem paixões violentas e sobretudo de uma grande piedade
principalmente de pau-brasil da costa. Posteriormente em 1535 cristã, desinteressado e generoso, talvez por isso mesmo sem
com Martim Afonso de Sousa começou o plantio de cana-de- qualidades para construir, para organizar e reger o povo
açúcar para produção de açúcar com a implantação do naqueles tempos.
primeiro engenho em São Vicente.

A colônia foi dividida em donatárias, as chamadas capitanias


hereditárias. A colonização e exploração econômica do
território americano recém-descoberto era fruto da iniciativa
privada de homens de cabedal que não se importavam de
aventurar-se pelos mares e matas.

Vasco Fernandes Coutinho

Antes de vir para o Brasil, Coutinho já havia prestado grandes


serviços na Ásia e na África. Fez fortuna e recebia uma pensão
remunerativa que lhe deu D. João III pelos seus serviços na Índia.
Brasão do Capitão Vasco Fernandes Coutinho Viva em uma quinta em Alenquer, quando apareceu a
oportunidade de colonização do Brasil.

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Espírito aventureiro que era, Vasco decidiu deixar tudo para trás os portugueses as aliaram com uma, tornavam
e abraçar nova empreitada. Historiadores também divergem automaticamente inimigos de outras. O primeiro grupo de
quanto ao fato de ter o Donatário deixado a família em Portugal colonos que chegaram à terra era muito pouco para inspirar
ou trazido com ele a mulher e seus três filhos legítimos, além de respeito aos indígenas, e era claro o desejo do Donatário de não
outros filhos que teve com Ana Vaz Almada. se restringir àquela pequena faixa de terra costeira.

Suas terras foram concedidas pela carta régia de 1° de junho de Para aumentar seus domínios foi que Coutinho tentou atrair
1534, assinada em Évora. pessoas tanto da metrópole como das capitanias vizinhas,
oferecendo todos os tipos de vantagens. Um dos grandes
Determina os limites, ao Norte, com a Capitania de Porto auxiliares que conseguiu atrair para o Espírito Santo foi um fidalgo
Seguro, de Pero de Campos Tourinho, separada pelo Rio de certa importância chamado Duarte de Lemos, que vivia na
Mucuri, "na ponta do Sul", e "cincoenta leguas de costa" até Bahia e estava pouco satisfeito quando Coutinho o convidou
a Capitania de São Tomé, doada a Pero de Góis, limitada prometendo largos proventos e talvez oferecendo algo ainda
pela Serra de Santa Catarina das Mós, ao Sul do Rio mais sedutor. É certo que não foi por pouca coisa que Lemos
Itabapoana. A Oeste, as terras deviam entrar "na mesma resolveu se retirar da Bahia com seus bens, escravos e agregados
largura pelo sertão e terra firma a-dentro tanto quanto até mesmo seguido por alguns amigos.
puderem entrar e for de minha conquista", especifica o
documento régio. Duarte de Lemos cooperou com afinco com Coutinho,
especialmente em manter os índios à distância. Em retribuição,
Segundo Rocha Pombo, Vasco abriu mão de sua pensão em o Donatário doou-lhe uma ilha a que se dera o nome de S.
troca de um navio a algum armamento e provisões e partiu de Antônio e que de então em diante passou a ser conhecida pelo
Lisboa no início do ano de 1535. A expedição (segundo vários nome de seu novo proprietário. A partir daí foi que as
historiadores, era uma grande frota) chegou ao Brasil em 23 de desavenças começaram, não se sabe bem porquê. Alguns
maio do mesmo ano. Dentre os colonos estava Felipe Guilhem, estudiosos afirmam que foi devido às maiores pretensões de
espanhol entendido em minerais, o que prova o interesse de Lemos, que esperava uma sociedade com o donatário.
Coutinho pelo descobrimento das minas e sua consequente
exploração. Nota-se, entretanto, que é Duarte de Lemos quem se insurge
contra o capitão, acusando-o em carta ao rei de pretender
23 de maio – Dia da Colonização do Solo Espírito-Santense separar-se da monarquia e fazer-se estado independente na
Celebra-se no dia 23 de maio, o Dia da Colonização do colônia. Fernandes, pelo contrário, sempre se mostrou
Solo Espírito-Santense. A data tem origem no ano de 1535, reconhecido e disso deu provas retificando a doação perante
quando portugueses, a bordo da caravela Glória, El-Rei após a relação já estar estremecida.
desembarcaram aqui no estado (onde atualmente se
localiza a Prainha, em Vila Velha) com a missão de
colonizar a então Capitania do Espírito Santo. Neste dia,
simbolicamente, a capital do estado do Espírito Santo é
deslocada de Vitória para Vila Velha, em solenidade
oficial, antes de desfiles comemorativos no centro da
cidade.

Ao que consta já na chegada percebeu o donatário que sua


aventura seria mais atribulada do que imaginara, pois os índios
que habitavam aquelas terras os receberam com muita
hostilidade e um número não menor de flechas. Porém, acuados
pelas armas de fogo e canhões, os gentios se refugiaram mata
adentro.

Enquanto eram edificados os primeiros casebres da vila,


construíam também um forte para defesa contra prováveis
agressões indígenas. Mas o índio que se mostrou hostil de início Duarte de Lemos, terceiro Senhor da Trofa (estátua no Panteão dos
acabou tonando-se logo tolerante e até mesmo solícito em Lemos, Igreja da Trofa do Vouga)
agradar o estrangeiro.
O fato de Duarte de Lemos exigir esta ratificação perante El-Rei
A esta primeira vila atribuem alguns historiadores o nome de confirma que a relação já não era de confiança, pois tal doação
Espírito Santo, mas Gabriel Soares de Souza, cuja obra data de poderia, legalmente, ter sido feita exclusivamente pelo
1587, diz que a povoação chamou-se Vila de nossa Senhora de donatário. Uma cláusula da doação, portanto, parece que
Vitória, de acordo com a devoção de Vasco Fernandes acirrou os ânimos pois, de acordo com ela, Duarte não poderia
Coutinho. Souza confirma ainda a passagem histórica: diz que o cobrar impostos daqueles que já viviam na ilha, posto que a ilha
Donatário pertencia à capitania. Seu novo dono só poderia cobrar
daqueles que porventura vivessem dentro dos limites de sua
"chegou a salvamento à sua Capitania, em a qual fazenda.
desembarcou e povoou a Vila de Nossa Senhora de Vitória,
a qual chamam de Vila-Velha, onde logo se fortificou, a Em 1538, a colonização já estava bem encaminhada, e Vasco
qual em breve tempo se vez uma nobre vila para aquelas sentiu necessidade de adentrar-se pela capitania. Já se sabia da
partes, de redor dessa e acabados, os quais começaram a existência de tesouros naturais em seu interior. Para tanto, eram
lavrar açúcar, como tiveram canas para isso que se na necessários mais recursos humanos e financeiros. Como as outras
terra deram muito bem." capitanias sofriam da mesma escassez, Coutinho resolve tentar
na Europa. Deixou o governo da colônia com Jorge de Menezes
Coutinho distribuiu terras aos que o acompanharam, como e partiu para o reino.
combinara, e as primeiras plantações foram realizadas,
juntamente com a construção dos primeiros engenhos. Tal A ausência do donatário foi desastrosa para a capitania.
trabalho era auxiliado pelos índios. Menezes era um homem com hábitos incompatíveis com a
autoridade. Violento e de índole inconstante, era leviano e,
Acontece naquela faixa de terra havia várias tribos de nações segundo Rocha Pombo, um depravado. Os próprios moradores
diferentes e hostis umas com as outras, e ao mesmo tempo que
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se ressentiram da sua chefia, e logo ninguém queria ser Durante os primeiros meses só houve motivos para celebrações.
governado. A anarquia tomou conta e os índios começaram a Maracaiá-guassú foi o primeiro a converter-se e até foi batizado
ser subjugados de uma maneira tal, que a ferocidade inata foi com o nome de Vasco Fernandes Coutinho, homenageando o
aguçada a ponto de tribos da redondeza reagirem contra os donatário. (Sua esposa, batizou-se com o nome da genitora de
abusos dos invasores. Coutinho.) Mas, ao cabo de alguns anos, esta mesma aliança
causou novas decepções: uma insurreição geral dos Goitacás.
No desejo de vingança, goitacás e Aimorés se aliaram contra o
inimigo em comum. A luta começou com emboscadas e Mais uma vez o desânimo invade a colônia. Os moradores mais
proclamaram uma guerra de morte contra os estrangeiros que uma vez se refugiam em Duarte de Lemos. Vasco Coutinho, que
os subjugavam. Menezes morre em luta e logo depois seu voltara já alquebrado e esmorecido, pediu socorro ao
substituto no governo, Simão Castelo Branco. A destruição foi governador geral Mem de Sá, que acabava de assumir o cargo,
quase total. Os colonos se viram obrigados a se refugiarem às no ano de 1558. O Governador manda o próprio filho, Fernão de
margens do Rio Cricaré (São Mateus), abandonando a vila do Sá, com os reforços para conter os indígenas.
Espírito Santo.
Por outro lado, Goitacás, Aimorés e Tupinikins, unidos,
Quando Coutinho retorna da Europa, encontra sua capitania na recrudescem na luta e tornam-se implacáveis. Como eram
mais completa desgraça. Sem conseguir os recursos na corte, se superiores em número, causam muitas baixas aos portugueses.
empenhou muito em reerguer o ânimo daqueles que restavam. Dentre elas, Fernão de Sá.
Formou um novo núcleo na ilha de Duarte Lemos, onde era mais
difícil sofrerem ataques. Restabelecendo-se uma paz relativa, o Os colonos, totalmente desnorteados, escondem-se nas
donatário voltou a pensar em procurar colaboradores para uma montanhas vizinhas. Por sorte, um homem de valor aparece -
investida no interior da capitania. Diogo de Moura. Este toma o comando, reúne um grupo de 68
homens, consegue reanimá-los e ataca os índios numa
Deixando desta vez escrúpulos de lado, procurou em capitanias verdadeira missão suicida, mas acaba derrotando os gentios. É
vizinhas e acabou aceitando a vinda e oferecendo refúgios de então, que para perpetuar a memória deste feito, se deu o
criminosos e insanos, por volta de 1550. Nesta época, enquanto nome de Vitória à nova vila do Espírito Santo, construída na ilha
estava arrebanhando aventureiros em Pernambuco, foi de Duarte de Lemos, ficando a outra, no continente, conhecida
maltratado pelo bispo que não permitiu que ele assumisse o como Vila Velha.
lugar na igreja reservado aos nobres, e no sermão disse que
Coutinho se misturava com homens baixos, bebia fumo, e A capitania estava salva, mas totalmente desprovida de
deveria até mesmo ser excomungado. recursos humanos. Coutinho, já velho e cansado, sucumbiu em
completa penúria. Acaba por pedir renúncia que é aceita por
Mem de Sá, que nomeia Belchior de Azeredo capitão-mor até a
vinda do herdeiro de Coutinho, Vasco Fernandes Coutinho Filho.

O velho Coutinho faleceu "tão pobre que foi necessário darem-


lhe por esmola o lençol em que o amortalharam". Não se pode
dizer, no entanto, que seus esforços foram em vão. As duas
povoações por ele iniciadas, Vitória e Vila Velha, são hoje
orgulho de seus habitantes. Foi enterrado provavelmente em sua
própria residência, como era o costume da época.

Pouco mais de cem anos após seu falecimento, Francisco Gil


Nunes, primeiro Donatário da Capitania após esta ter sido
vendida pelos descendentes de Coutinho, mandou refazer a
Casa da Câmara, em Vila Velha e deu sepultura condigna aos
ossos de Vasco Fernandes Coutinho, "que estavam soterrados
numa arca."

Os Jesuítas no Espírito Santo Colonial


A presença regular da Companhia de Jesus, a partir do ano de
1551, foi crucial no desenvolvimento da Capitania, até sua
Índios Puri, por Johann Moritz Rugendas. expulsão, em 1760. No Espírito Santo, os jesuítas tiveram papel
importantíssimo na formação da sociedade, como agentes
Enquanto estava em uma destas viagens, os colonos da integradores das culturas europeia, aborígene e africana.
capitania do Espírito Santo, mais uma vez abandonados,
lembraram de chamar a sua ajuda missionários, que tantos frutos
já começavam a dar em outras capitanias. Os padres chegaram
à capitania em inícios de 1551, com missão de pacificar os
ânimos indígenas.

Mas as lutas continuaram. Quase todos os colonos passaram-se


para a ilha de Duarte de Lemos, onde se julgavam mais seguros.
Mesmo ali os Goitacás chegaram para atacar. Uma resistência
desesperada fez com que os índios se afastassem e os colonos
novamente puderam voltar às suas plantações.

Mas em 1553 o padre Braz Lourenço concebe um plano para


acabar de vez com os confrontos ao convidar uma tribo da
Guanabara para mudar-se para o Espírito Santo. O chefe
Maracaiá-guassú, ou Grande Gato, irreconciliável inimigo dos
Tamoios, aceitou o convite, e com seu povo retirou-se para o
norte nas embarcações que lhe mandaram do Espírito Santo. Colégio São Thiago, no século XIX. Hoje o prédio abriga a sede do
governo estadual e foi rebatizado para Palácio Anchieta.

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Os portugueses capitaneados por Vasco Fernandes Coutinho e palacianos subalternos. Os índios foram para a mata ou voltaram
seus sucessores tinham como principal objetivo a busca de ouro a ser escravizados ou utilizados em serviços públicos, sem
e pedras preciosas, deixando muitas atividades administrativas e remuneração.
econômicas nas mãos dos jesuítas e contavam com eles para a
sua principal função: a catequese do indígena, que forneceria Padre Anchieta
mão de obra e, principalmente, pacificaria os nativos. Não é de Padre José de Anchieta, missionário da Companhia de Jesus,
se estranhar, que somente aqui portugueses e jesuítas não também conhecido como o apóstolo do Brasil, foi assim distinto
entraram em confronto, nem pessoal e muito menos armado. As pelo fato de ter participado do início da catequização em terras
fazendas dos inacianos eram as principais fornecedoras de brasileiras. José de Anchieta foi beatificado em 1980 e
produtos agrícolas da capitania. canonizado em 2014.

No Espírito Santo, o primeiro superior da Ordem Jesuítica foi Pe.


Afonso Brás, que começou a construir o Colégio de São Tiago
(atual Palácio Anchieta) em 1551. Só ficou dois anos na
capitania, sendo substituído por Pe. Brás Lourenço (1525-1605)
que continuou a construção do colégio e da igreja de São Tiago
em material resistente (antes era uma palhoça).

O início da construção do Colégio, no ano de 1551, com a


chegada do Padre Afonso Brás e o irmão leigo Simão Gonçalves,
coloca-o como um dos mais antigos do Brasil. Em 1589, Padre
José de Anchieta é registrado como superior do Colégio do
Espírito Santo, indicando a importância do Espírito Santo na obra
desenvolvida pelos jesuítas no Brasil.

O colégio recebeu o nome de São Tiago por ter sido


inaugurado no dia deste santo, 25 de julho de 1551. Era
uma palhoça igual às outras construções do lugar. Teve a
primeira chamada para matrícula em 4 de maio de 1552,
recebendo a visita do Governador Geral do Brasil, thomé
de Souza e do padre Manoel da Nóbrega.

Era a partir do Colégio de São Thiago que se concentrava e


partia a maior parte das mobilizações para a defesa da
Capitania contra os invasores estrangeiros, sendo o índio o
principal combatente dos batalhões formados.
Em 1581, quando três naus francesas investiram contra a vila,
foram os catecúmenos aldeiados pelos inacianos que saíram a
campo em defesa da terra, matando e ferindo a muito dos
assaltantes. “Os moradores, atemorizados, não acharam quem
os defendesse senão quase só, diz Anchieta, os índios das aldeias
jesuíticas”.

O Colégio de São Thiago, aparecia como a principal edificação Monumento a Anchieta, em San Cristóbal em Tenerife, Espanha.
da ilha durantes os séculos de história de Vitória. Ele abrigou
Tomé de Souza, então Governador Geral do Brasil, em 1552, que José de Anchieta nasceu no dia 19 de março de 1534, em
lá se hospedou, assim como todas as autoridades que visitaram Tenerife, Arquipélago das Canárias - Espanha. Filho de João
o Espírito Santo, inclusive o Imperador Pedro II em 1860. López de Anchieta com Mência Diaz de Clavijo y Llarena e era
parente do fundador da Companhia de Jesus - Inácio de Loyola.
A construção do colégio e da igreja contou com grande apoio
dos colonos, que ajudaram de todas as maneiras com braços, Estudou em Portugal e, decorrente da doença de ossos de que
materiais e dinheiro, pois achavam a iniciativa positiva. Para isso sofria, por orientação médica, foi ainda noviço para o Brasil
organizavam e acalmavam os índios os concentravam es onde, através do contato com os índios aprendeu a linguagem
espaços pré-determinados. indígena e passou a comunicar e a defendê-los dos
colonizadores portugueses.
Os padres deveriam corrigir os costumes dos colonos e controlar
a ferocidade dos índios pela persuasão, tarefa difícil, mas que Padre Anchieta era o reitor do Colégio de São Tiago. Duas
nessa Capitania foi executada com grande proveito. Os jesuítas vezes por mês, ia de Reritiba a Vitória, a pé, usando o
prestaram também importantes serviços, no campo da caminho geral, que era a praia. Havia feito poços de água
agricultura, com técnicas e instrumentos raros na época. potável em Ponta da Fruta, Guarapari e Praia dos
Ajudaram a introduzir inúmeras espécies vegetais no Brasil, como Castelhanos. Sempre passava pela região de Barra do
o coco, jaca, fruta pão, manga, vindos da Índia, e carambola, Jucu, que ficava no caminho.
vinda da China.
Com a finalidade de ensinar e catequizar os nativos, José de
Apesar do esforço dos jesuítas, a colonização só avançou cerca Anchieta participou da fundação do colégio da vila de São
de 5 léguas para o interior, até inícios do século XIX. Isto por falta Paulo, que viria a ser mais tarde a própria cidade de São Paulo,
de vontade política, e também por falta de braços, ferramentas com esse nome porque no dia da sua fundação, 25 de janeiro
e dinheiro para implementar essa colonização. de 1554, é comemorado o dia do apóstolo São Paulo.

Em 1759, o Marquês de Pombal (1699-1782) baixou um decreto Anchieta teve ativa participação na História do Brasil; na
expulsando os jesuítas do Brasil e levando suas propriedades a fundação das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo; na
leilão público. Suas terras foram divididas entre os cortesãos e Santa Casa de Misericórida do Rio; em colégios e igrejas.

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79
História do Espírito Santo
Catequizou e alfabetizou curumins, foi historiador das nossas Conta-se que na viagem para o Brasil, ele teria acalmado uma
fundações, iniciador da literatura e poesia brasileiras, autor da forte tempestade e desde então, ficou conhecido como "o
primeira gramática Tupi, nosso primeiro teatrólogo à moda santo frade".
europeia. Fez papel de enfermeiro, médico, construtor, cientista,
embaixador, entre outras atividades.

Vista do Convento da Penha

Padre José de Anchieta A história do convento começa em 1558, quando chega à atual
Prainha frei Pedro Palácios, natural de Medina do Rioseco,
Anchieta escreveu Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e próximo a Salamanca na Espanha. Palácios foi, alguns anos mais
Sermões publicados pela Academia Brasileira de Letras em 1933. tarde, encarregado da construção de uma ermida no alto do
Escreveu, ainda, os seguintes autos: Auto Representado na Festa morro da Penha, tendo encomendado de Lisboa uma imagem
de São Lourenço, Na Vila de Vitória e Na Visitação de Sta. Isabel. de Nossa Senhora, que daria origem ao culto à Nossa Senhora
da Penha. A pequena ermida foi erguida e expandida aos
Dentre as suas obras mais conhecidas se distingue o Poema à poucos até se transformar no Convento da Penha, hoje o
Virgem, escrito durante o tempo em que se fez refém dos índios monumento religioso mais importante da arquitetura capixaba.
enquanto era negociada a paz entre indígenas e portugueses, e
Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil, Especula-se que frei Pedro Palácios morava numa gruta
gramática sobre o tupi que foi utilizada na missão jesuíta. que fica aos pés da ladeira do convento, onde era
mantido um quadro de Nossa Senhora dos Prazeres (ou
O Poema à Virgem é composto por mais de cinco mil Nossa Senhora das Alegrias em português moderno) que
versos. José de Anchieta decorou todos os versos, escritos ele trouxera de Portugal. A composição desapareceu
na areia da praia de Ubatuba e, somente meses mais três vezes e em todas as ocasiões fora encontrado no alto
tarde, transcreveu-os para o papel em São Vicente, do morro onde está construído o convento.
primeira vila do Brasil.
Segundo o escritor e historiador Francisco Aurélio, foi o povo que
No Brasil, destaca-se o dia de José de Anchieta na data do seu deu esse nome, por causa da localização da igreja: Penha
falecimento, que ocorreu no dia 9 de junho de 1597. Além disso, significa pedra, rochedo. "O povo dizia: vamos lá na igreja que
o nome da cidade onde ele faleceu - antiga Iriritiba ou Reritiba, fica na penha. Aí ficou Nossa Senhora da Penha".
no Espírito Santo, atualmente tem o nome de Anchieta, bem
como uma das principais estradas de São Paulo recebe o nome
de Rodovia Anchieta. Os restos mortais do Padre Anchieta se
encontram no Palácio Anchieta, sede do governo capixaba,
antigo Colégio dos Jesuítas, na cidade de Vitória, Espírito Santo.

Frei Pedro Palácios e Convento da Penha


Irmão leigo franciscano, a Frei Pedro Palácios atribui-se a
fundação do Convento da Penha, em Vila Velha. Pedro Palácios
nasceu na Espanha, na cidade de Medina do Rio Seco, mudou-
se para Portugal e, em 1558, chegou à Capitania do Espírito
Santo.
Frei Palácios

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História do Espírito Santo
Mapa da Capitania do Espírito Santo – Atlas Manuscrito de 1631 convocada às pressas, recomendara cuidado à mulher e à filha.
O autor deste atlas manuscrito é o cartógrafo português João Finalmente, os invasores, após chegarem à terra, em frente à
Teixeira Albernás, o velho, pois que o seu filho, também Ladeira do Pelourinho, e afugentarem a pouca resistência
cartógrafo, tinha o mesmo nome, daí porque usa-se pospor ao encontrada, lançam-se morro acima, buscando atingir o paço
nome do pai o algarismo romano I e ao filho, II. municipal, onde se encontravam os defensores e o seu
armamento bélico, para se apossar da vila, e se estabelecer por
lá.

Ilustração de como teria sido a invasão holandesa ao Espírito Santo e


como teria sido a reação de Maria Ortiz. Fonte: A Gazeta

Mas, ao atingirem pouco mais da metade da empreitada, num


local onde a ladeira se afunilava, justamente em frente ao
sobrado de Maria Ortiz, foram surpreendidos pelos ataques da
jovem, que lhes jogava água fervendo, enquanto empolgava os
vizinhos a lhes jogarem paus e pedras de suas janelas.

Ao mesmo tempo, Maria Ortiz, aos gritos, incitava os que se


encontravam na parte alta ao prosseguimento da luta.
Enquanto açulava os soldados e os populares, com um tição à
mão, pôs fogo à peça de artilharia que estava próxima à sua
casa, disparando contra os invasores. Os holandeses, pegos de
surpresa e feridos, tiveram que retroceder, descendo a ladeira,
enquanto os defensores, assim encorajados, foram-lhes ao
encalço.

Poucos foram os holandeses que chegaram ao navio sem


Mapa da Capitania do Espírito Santo – Atlas Manuscrito de 1631. o Morro
nenhum tipo de ferimento, sendo que 38 deles foram mortos. A
de João Moreno, Pão de Açúcar e o Forte de São Miguel ação surpreendente deu tempo ao donatário da Capitania do
Espírito Santo, Francisco de Aguiar Coutinho, de fortalecer as
Estão gravadas no mapa nomes de vários locais que hoje ainda defesas da vila, organizando militares e civis para um novo
permanecem inalterados, como a ilha dos Franceses, na altura confronto. Porém, os invasores derrotados, humilhados e
do município de Anchieta; ponta de Tubarão; rio Reis Magos; rio desanimados, zarparam quase de pronto, encaminhando-se à
Cricaré; rio Mucuripe. O rio Itapemirim aparece sem a letra “m” Bahia.
no final. Aparece a representação da Serra das Esmeraldas a
oeste, mais distante do litoral. A ação daquela jovem corajosa fora tão decisiva que o
donatário da Capitania a destacou em carta-relatório enviada,
A Invasão Holandesa e Maria Ortiz em junho de 1625, ao Governador Geral do Brasil, Diogo Luis de
Maria Ortiz (ou Urtiz), nasceu em 14 de setembro de 1603, na vila Oliveira:
de Nossa Senhora da Vitória – hoje a cidade de Vitória. A família
residia na parte mais estreita da ladeira do Pelourinho - hoje “Na repulsa dos invasores audaciosos é de justiça destacar
Escadaria Maria Ortiz -, que era a via de comunicação entre as a atitude de uma jovem moça que, astuciosamente,
partes baixa e alta da Vila, num sobrado branco, no qual no retardou o acesso dos invasores à parte alta da vila, por
térreo seu pai negociava com vinho e mantinha uma taberna. eles visada, permitindo assim, que organizássemos com os
homens e elementos de que dispúnhamos, a defesa da
Na época em que a Holanda era inimiga mortal da Espanha, sede. Essa jovem se tornou para todos nós um exemplo vivo
que, por sua vez, dominava Portugal, as colônias portuguesas de decisão, coragem e amor à terra. A ela devemos esse
passaram a ser alvo da ânsia de domínio da Holanda em uma valioso serviço, sem o qual a nossa tarefa seria muito mais
onda de ataques que se iniciara em Salvador (BA), em 1624. difícil e penosa. O seu entusiasmo decidido fez vibrar o dos
próprios soldados, paisanos e populares na defesa e
Assim, o famoso capitão holandês Piet Pietersz Heyn (1577-1629) perseguição do invasor audaz e traiçoeiro”
aportou em frente à Vitória, em março de 1625, aguardando o
momento propício para o desembarque. A vila começou a se Enfim, expulsos os invasores do Espírito Santo, seguiram-se as
preparar para resistir ao invasor com as poucas forças que tinha. comemorações da vitória. No senado da câmara, numa sessão
O ataque decisivo foi no dia 14 de março, através da rampa de solene, em meio a discursos e aclamações dirigidas ao rei Felipe
acesso à parte alta da Vila, que era a Ladeira do Pelourinho. II e à Fé Católica, Maria Ortiz foi agraciada, por seu gesto
heroico, com uma coroa de margaridas amarelas, posta sobre
Maria Ortiz contava com 21 anos de idade. Na manhã do sua cabeça por seu pai, o escrivão Juan Orty y Ortiz.
ataque, o pai de Maria, ao sair de casa e fechar a taberna para
participar, como escrivão da câmara, de uma reunião de guerra Pouco mais se sabe da vida de Maria Ortiz. Segundo Eurípedes
Queiróz do Valle, a heroína veio a falecer em Vitória a 25 de maio
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História do Espírito Santo
de 1646, antes de completar 43 anos de idade. Em 1889, por
influência do escritor Peçanha Póvoa, mudou-se o nome da
Ladeira do Pelourinho para Ladeira Maria Ortiz. Mais tarde a
ladeira virou uma escadaria e conservou o mesmo nome da
heroína capixaba. Ainda hoje a escadaria Maria Ortiz é a
principal ligação entre a parte baixa da cidade e a parte alta.

Combate entre Holandeses e Luso-Brasileiros no ES. Fonte: A Capitania


do Espírito Santo, ano 1945

Em 1640, com sete navios, os holandeses atacaram novamente


Construção da Escadaria Maria Ortiz, 1920
o Espírito Santo, sob o comando do coronel Koin. Conseguiram
Maria Ortiz também ganhou nome de escola e, nos anos 70, desembarcar 400 homens, mas foram repelidos pelo capitão-
numa faixa de terra desocupada próxima ao manguezal, a mor João Dias Guedes e não se firmaram em Vitória. Atacaram
história da heroína é perpetuada, mais uma vez, com o então Vila Velha, de onde foram também rechaçados.
surgimento de um bairro, em Vitória, que também levou seu
O governo colonial, diante de tão repetidos ataques, resolveu
nome e que, hoje, é uma região residencial com mais de 11 500
moradores. destacar para Vitória quarenta infantes da tropa regular. Nessa
oportunidade a capitania progride e Koin captura duas naus
carregadas de açúcar que, atingidas pelo fogo de terra, ficam
com a carga quase toda avariada.
01.3 O Espírito Santo e o século XVII
Em 1627, morreu o donatário Francisco de Aguiar Coutinho, cujo Em 1624 as tropas holandesas tomaram a Bahia, foram
sucessor, Ambrósio de Aguiar Coutinho, não se interessou pelo necessárias tropas do Espírito Santo e seus índios para a expulsão.
senhorio e continuou como governador nos Açores. Sucederam- No ano seguinte Vitória foi atacada por oito naus holandesas
se os capitães-mores, com frequentes e sérias divergências entre impedidas pelas tropas. Voltaram a atacar Vitória e Vila Velhas
eles e os oficiais da câmara. em 1640, perderam novamente. A população sofreu com
incêndios, muitos mortos, feridos e perdas de carregamentos de
Ao atingir a maioridade, em 1667, Antônio Luís Gonçalves da açúcar.
Câmara Coutinho, último descendente do primeiro donatário,
conseguiu a nomeação para capitão-mor de Antônio Mendes
de Figueiredo, governante operoso e estimado.

Em 1674 a donataria do Espírito Santo foi vendida a Francisco Gil


de Araújo por Câmara Coutinho herdeiro de Vasco Fernandes
Coutinho. As medidas de Araújo foram a reforma da sede da
Câmara de Vitória, da casa de Misericórdia, em Vila Velha
construiu uma casa de Câmara e pelourinho. Foi responsável
pela fundação da vila de Guarapari onde havia uma aldeia
jesuíta.

O esgotamento da população, que nos primeiros tempos, por


diversas vezes, ameaçara desertar a capitania, bem como a
incapacidade de dar seguimento a sua incipiente agricultura,
denunciavam a fraqueza dos alicerces em que se baseava a
Mapa do Espírito Santo Colonial, século XVI.
colonização local.
A descoberta de ouro onde hoje é Minas Gerais mudou como as
No século XVII, a União Ibérica provocou mudanças significativas autoridades passaram a ver a baía do Espírito Santos. Ela passou
no cenário brasileiro. Entre as consequências estão as invasões a ser considerada a principal entrada para invasões de nações
estrangeiras a América Portuguesa. A posição estratégica da estrangeiras com a finalidade de chegarem às minas.
capitania do Espírito Santo, dada a proximidade com o Rio de
Janeiro, logo ocasionou algumas tentativas estrangeiras de A coroa proibiu que fizessem estradas ligando a capitania à
invasão. Em 1592, os capixabas rechaçaram uma investida dos região mineradora, também, inibiu a ocupação de seu interior.
ingleses, sob o comando de Thomas Cavendish. Local onde estabeleceriam os índios botocudos e outras nações
fugidas da colonização. A coroa investiu na construção de
Em 1625, o donatário Francisco de Aguiar Coutinho enfrentou a inúmeras fortificações e no aumento da guarnição militar para a
primeira investida dos holandeses, comandados por Pieter proteção da capitania.
Pieterszoon Heyn, luta em que se destacou a heroína capixaba
Maria Ortiz.

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82
História do Espírito Santo
Entre as mais destacadas, que vasculharam as imediações do rio
Doce, contam-se:

- Diogo Martins Cão (1596),


- Marcos de Azeredo (1611) e
- Agostinho Barbalho de Bezerra (1664),

Francisco Gil de Araújo fundou a vila de Nossa Senhora de


Guarapari e construiu os fortes do Monte do Carmo e de São
Francisco Xavier; o de São João, encontrado em ruínas, foi
reconstruído.

Gil de Araújo promoveu 14 entradas através do rio Doce,


dirigidas à serra das Esmeraldas, as quais podem ter travado
Planta da cidade de Vitória, século XVII.
contato com os paulistas de Fernão Dias Pais. Da grande
atividade e do vultoso emprego de capital realizados por
Francisco Gil de Araújo
Francisco Gil não resultou, qualquer descoberta metalífera,
Francisco Gil de Araújo foi capitão donatário da Capitania do
Espírito Santo, entre 1674 e 1687, na colônia portuguesa do Brasil. embora se tenham produzido alguns frutos na valorização das
Durante a Guerra da Restauração, recebeu o posto de capitão terras, pelo estabelecimento de povoadores e criação de novos
de couraças pela mão Dom Fernando Mascarenhas Conde da engenhos.
Torre. Os lucros, de qualquer modo, não compensaram o investimento
feito. Seu filho e herdeiro, talvez por esse motivo, preferiu
Em 1674, adquiriu a Capitania do Espírito Santo a Antônio Luís conservar-se ausente do senhorio e, por morte deste, a capitania
Gonçalves da Câmara Coutinho, herdeiro de Vasco Fernandes tornou-se devoluta, sendo vendida à coroa por Cosme Rolim de
Coutinho, pelo valor de 40 mil cruzados. Moura, primo do último donatário. Em consequência, ficou o
Sua administração foi marcada por um reerguimento da Espírito Santo submetido à jurisdição da Bahia, e seu governo
sempre a cargo de displicentes capitães-mores.
capitania, aí tendo permanecido de 1678 a 1682. Durante a sua
administração concluiu-se a construção do Forte de Nossa A fortificação da Capitânia e a “Barreira Verde”
Senhora do Carmo, reedificou-se o Forte de São João e edificou- O acirramento das relações portuguesas com outras nações
se o Forte de São Francisco Xavier de Piratininga, na vila do europeias, principalmente durante a União Ibérica na sua
Espírito Santo (atual Vila Velha), para proteger a entrada da baía
apropriação pela Espanha, fez com que as principais
de Vitória. construções da Vila, no século XVII e XVIII, estivessem ligadas a
sua defesa. Os fortes acabariam por delimitar os contornos da
Em 1687, com o falecimento de Francisco Gil Araújo, Manuel
vila, pois ficavam nos pontos estratégicos e extremos, voltados
Garcia Pimentel, seu filho, sucedeu-o na donataria após
para o mar.
confirmação da herança por carta datada de dezembro de
1687. Este, no entanto, nunca chegou a visitar as terras
capixabas. Assim, em 1648, foi construído o que se presume ser o primeiro
forte da Ilha, o forte de São João, por Dão João de Castello
Branco. Esse forte fica localizado em frente ao Pão de Açúcar,
hoje Penedo, e no governo de Francisco Gil de Araújo foi
A busca pelas Esmeraldas no Espírito Santo reerguido.
No governo do novo donatário, Francisco Gil de Araújo, o
comércio e a lavoura se desenvolveram, mas foi totalmente
frustrado o motivo principal da compra da capitania: o
descobrimento das "pedras verdes" — as esmeraldas.

Essa busca começara por iniciativa do governo-geral. As


expedições iniciais, denominadas por alguns historiadores "ciclo
espírito-santense", incluem-se na categoria das entradas. Na
verdade, o ciclo limitou-se a poucas expedições relevantes, cuja
importância está menos nos resultados obtidos, do que na
dinamização do interesse pela área e em um maior
conhecimento do interior.

Gravura século XVIII: bandeirantes

Planta do Forte de São João

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História do Espírito Santo
O “fechamento” do forte junto à barreira natural do morro (hoje O “temor” da Coroa de que “quantos mais caminhos houver
Forte de são João), literalmente feito durante muitos séculos com mais descaminhos haverá”, não se pautou, em nosso entender,
larga e grossa corrente atravessada até o Penedo, funcionou por uma opção relacionada ao caminho mais curto, que seria a
como o delimitador leste da Villa da Victória. A partir dessa Capitania do Espírito Santo e o porto natural de Vitória.
região, as áreas da ilha eram consideradas rurais. A Villa tinha
precárias ligações com a fazenda de Jucutuquara, passando Para isso, basta levarmos em consideração as condições
pelo Forte de São João. A estrada ligando a Maruípe só geográficas de São Paulo e Rio de Janeiro, onde a Serra do Mar
começou a ser construída em 1792. também presente e em extensão maior aumentava a distância
no embarque portuário do ouro, o que realmente ampliaria as
Em 1667, já existia a Fortaleza de Nossa Senhora do Carmo, oportunidades de contrabando.
construída nas vizinhanças do porto dos padres, trecho hoje
compreendido entre o prédio dos Correios e o Teatro Glória. Racionalmente, o primeiro ouro descoberto na região, nos fins do
século XVII, pelo paulista Domingos José Arzão, na área
Em 1693, registra-se na villa de Victória, o que seria o primeiro conhecida como “Casa do Casca”, foi trazido para registro pelo
ouro encontrado no Brasil, no Rio da Casca, afluente do rio Doce, caminho mais fácil, na vila de Vitória.
e em território da capitania do Espírito Santo. A história regional
marca esse período, da exploração aurífera, como fator de A rigorosa proibição de comércio com as minas evidentemente
atraso de cem anos para a capitania, pois o nosso espaço prejudicou o Espírito Santo, que não teve força política suficiente
geográfico teria sido usado como barreira contra os desvios do para bancar a participação e/ou a manutenção do seu
ouro. território, reflexo das ausências e/ou deficientes administrações
dos Capitães-Mores ou de seus Governadores, e transformou a
sede da capitania em uma praça de guerra, com investimentos
apenas na área militar.

O desenvolvimento da Vila de Vitória foi comprometido, pois a


sujeição do Espírito Santo ao governo da Bahia, como capitania
subordinada, inibiu as funções político-administrativas e culturais
da sede.

De qualquer maneira, pode-se perceber a importância da área


de Vitória, pois foi ela a receber a maior parte dos investimentos
na área militar, que vieram para a capitania no século XVIII. No
ano de 1726, por exemplo, o vice-rei, conde de Sabugosa,
contratou o engenheiro Nicolau de Abreu Carvalho para
remodelar e construir mais fortificações. Entre suas obras estão:

- O Forte de São João, ampliando e melhorando a reforma que


se tinha feito em 1702, por ordem de D. Rodrigo da Costa;

- O de Nossa Senhora do Monte do Carmo, que recebeu casa


de pólvora;

- Construiu o forte de São Mauricio, ou São Inácio, dentro da vila


na marinha da cidade, em frente ao porto dos Padres;

- O Forte de São Thiago, que passou a se chamar São Diogo,


localizada hoje onde se encontra a escadaria de mesmo nome,
que liga os fundos da Catedral Metropolitana a Praça Costa
Pereira.

Detalhe de um canhão no Forte São João, Vitória. Fonte: IJSN.

Devemos considerar também, e não apenas isso, que a política


da Coroa Portuguesa para a área aurífera do Sudeste, proibiu a
abertura de estradas do Espírito Santo em direção às minas de
ouro e vice-versa, além de criar sua Capitania Real das Minas
Gerais, em 1720, com a maior parte das terras capixabas.

Desde o ano de 1704, através da Bahia, vinham ordens rigorosas


de Portugal para que não houvesse migração de capixabas em
direção às minas, e que os que lá estivessem, fossem
recambiados à capitania.

A explicação tradicional da “barreira verde”, onde se atribuiu à


dificuldade de transposição da Serra do Mar e a resistência dos Convento de São Francisco no ano de 1909
índios bravios toda responsabilidade por termos ficado alijados
da comercialização aurífera, não leva em consideração as
atitudes políticas da Coroa e, muito menos, os interesses das
outras capitanias envolvidas no comércio.

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84
História do Espírito Santo

01.4 O Espírito Santo e o século XVIII A colonização, portanto, continuou sem maiores progressos,
No século XVIII, quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, pela embora em 1741 fosse criada a comarca de Vitória, que
política pombalina, em 1760, suas propriedades ficaram em abrangia São Salvador de Campos e São João da Barra. Em 1747
posse do governo e muitas foram a leilão público. O Colégio de o ouvidor Manuel Nunes Macedo assim descrevia a situação de
São Thiago, em Vitória, foi ocupado pelo governo local, e assim Vitória:
está até nossos dias.
“Aqui não há cadeia nem Casa de Câmara, por terem
caído de todo e não cuidarem os meus antecessores na
O palácio Anchieta, nome que o colégio recebeu no
sua reedificação (...) pois a Câmara não tem rendimento”
século XIX em homenagem ao padre jesuíta, é
considerado o prédio mais antigo de ocupação
Ao mesmo tempo, contradizendo o aspecto de decadência e
governamental do país.
atraso, Saint-Hilaire citando a obra do poeta inglês Robert
Southey, intitulada “History of Brazil”, relatava que:
O Convento de São Francisco, mais antiga sede dos franciscanos
no sul e sudeste do Brasil, e primeiro noviciado dessa área,
“por volta da metade do século 18, [Vitória] era
conclui as obras iniciadas nos anos seiscentos.
considerada uma das principais cidades da América
portuguesa pela importância do trabalho dos inacianos
Depois que os jesuítas foram embora, o Espírito Santo passou a
aqui”, e considerou que a expulsão dos jesuítas, em 1760,
ser subordinado ao Bispado da Bahia, no que diz respeito as
foi o principal fator da decadência que se estabeleceria
questões religiosas.
na província, já que a maior parte da população era
formada por índios e esses, após a expulsão daqueles que
No ano de 1765, com benefício de provisão do Bispado da Bahia,
os protegiam, se evadiram e abandonaram o trabalho
datada de 14 de setembro, foi levantada na vila da Vitória a
regrado.
Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a requerimento
de uma Irmandade instituída por pretos, devotos da Santa, no
Ainda durante o século XVIII ainda perdurou o interesse pela
morro do Pernambuco. Atualmente a Igreja situa-se na Rua do
mineração, reanimado pela descoberta de Antônio Rodrigues
Rosário, com acesso pela grande escadaria do mesmo nome,
Arzão de pequena quantidade de ouro no rio Doce, em 1692.
atrás do Teatro Carlos Gomes.
Logo, seguiram-se numerosas entradas, dando início à abertura
do caminho para as Minas Gerais, enquanto as jazidas do
Castelo e outras atraíam moradores de capitanias vizinhas.

Segundo documentação oficial, em 1774-75, a população


do Espírito Santo era calculada em 7.773 almas. Os fogos
(homens aptos para a guerra) subiam a 1.434. Ao fazer tal
levantamento, visava a administração “saber a gente que
se pode tirar de cada uma [freguesia] para o serviço de S.
M. sem opressão dos povos”.

Assistiu-se a um novo impulso de conquista e ocupação do


interior, e as concessões de sesmarias favoreceram a fixação dos
colonos mais empreendedores. O movimento despertou a
atenção das autoridades baianas, e acabou prejudicado pelos
cuidados do monopólio real e receio de invasão estrangeira às
Minas Gerais a partir do Espírito Santo.

Tomaram-se então medidas para fortificar melhor a capitania,


enquanto por ordem do rei ficou proibido o prosseguimento das
explorações. Impediu-se a abertura de entradas para as minas.
A capitania defendia-se de surpresas marítimas e ficava isolada
pelas defesas naturais: florestas cerradas e por índios que
lutavam por seus territórios.

É certo que a obstinação dos mineradores e as melhorias


efetuadas no sistema de defesa acabaram por diminuir o rigor
das proibições e, em 1758, de acordo com ordem régia, abriu-se
um caminho para as minas e estabeleceu-se um posto de
quitação na vila de Campos.

Em 1768, novas providências são tomadas no aumento do


efetivo militar e construção da Fortificação da Ilha do Boi e
reforma das da Barra de Vitória. Para esse trabalho foi
contratado o engenheiro José Antonio Caldas que deixa rico
relato sobre a capitania, de como a viu em 1767, além um
precioso mapa da Ilha de Vitória. Em 1797, o regente D. João
dirigiu-se ao governador da Bahia nesses termos:

“Sendo-me devido em particular o reanimar a quase


extinta capitania do Espírito Santo, confiada até agora a
ignorantes e pouco zelosos capitães-mores, fui servido
nomear para a mesma governador particular, que ora vos
fica subalterno, e escolher um nome de conhecidas luzes e
préstimo na pessoa do capitão-de-fragata Antônio Pires da
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, centro de Vitória, ES. Silva Pontes.”

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85
História do Espírito Santo
O novo governador assumiu o cargo em 29 de março de 1800. ocupação do território e ampliara-se a base demográfica. Em
A obra de recuperação teve como objetivo principal melhores face das dificuldades enfrentadas, esses dados revelam um
comunicações com a de Minas Gerais. Em 8 de outubro do progresso nada desprezível.
mesmo ano, Silva Pontes assinou o auto, conjuntamente com o
representante do governo de Minas, que regulou a cobrança de O crescimento da cidade de Vitória, no final do século XVIII,
impostos entre as duas capitanias. Interessou-se também pela acompanha os de outras cidades no Brasil, principalmente
navegação do rio Doce, por abertura de estradas, pela aquelas que não foram beneficiadas pela exploração aurífera.
ampliação dos cultivos e pelo povoamento da terra. Sobrados e casas térreas feitas de taipa portuguesa, ou pilão,
adornavam as ruelas estreitas e tortuosas, herança europeia e
que dificultava as invasões estrangeiras e dos nacionais
indígenas, facilitando a defesa da Vila.

Em 20 de março de 1820 foi empossado como governador


Baltazar de Sousa Botelho de Vasconcelos, a quem coube
enfrentar os dias agitados da independência e passar a
administração à junta do governo provisório. Antes mesmo de
promulgada a constituição do império, foi nomeado presidente
da província o ouvidor Inácio Acióli de Vasconcelos.

O conjunto arquitetônico de Reis Magos foi um núcleo de catequese


indígena, realizado pelos padres jesuítas. Foi construído no período entre
os anos 1580 e 1615, com a ajuda dos índios tupiniquins.

Questão 01
A história do Espirito Santo teve início com o desembarque de
Vasco Coutinho, na atual Prainha de Vila Velha, onde fundou o
primeiro povoamento, no ano de:
Os Bandeirantes - pintura de Henrique Bernardelli, 1889
A) 1515
Em 1790, a população da vila é de 7.225 habitantes sendo 4.898 B) 1525.
escravos, o que equivalia a 67,5% da população da capital. Esse C) 1535.
número expressivo de escravos, que valiam até 800$000 D) 1545.
(oitocentos mil reis), demonstra que existem fortunas significativas E) 1555.
na cidade de Vitória, pois possuí-los demanda capital.
Questão 02
[...] Posse de escravo era sempre indicio de prosperidade. O território hoje pertencente ao município de Vila Velha era
Assim, no fim do século dezoito, a cidade é pobre, mas a habitado originalmente pelos índios ______________ e
população remediada. Importam-se mercadorias no valor _________________. Em 1549, estes índios haviam entrado em luta
de 21:267$840 [contos de reis], e exportam-se 45:668$480, contra os povoadores, queimando engenhos e fazendas. Em
saldo belíssimo, senão em valor, em percentagem busca de refúgio, alguns colonizadores se mudaram para a ilha
altamente abonadora. A maior parcela de importados é de Duarte Lemos e para as capitanias vizinhas. Na ilha, a
de tecidos:[...] panos de linho, cambraias e sedas. Segue- povoação passou a ser chamada de Vila Nova, ao passo que
se o sal, monopólio da Coroa, [...]; e o vinho a 76$800 a no continente, no correr dos tempos, o núcleo primitivo se
pipa, num total de [...] 16 pipas, [..]. tornava conhecido como Vila Velha. Os índios tornaram a
atacar. Em 1551, em face das inúmeras dificuldades, o donatário
transferiu a sede do governo para a ilha de Vitória, que recebeu
Em 1810 a capitania tornou-se autônoma em relação à Bahia, e o nome de Vila Nova do Espírito Santo, mais tarde de Nossa
passou a depender diretamente do governo-geral. Governou na Senhora da Vitória.
época Manuel Vieira de Albuquerque Tovar, que não se afastou
do programa de Silva Pontes. Deu o nome de Linhares às antigas Complete a lacuna marcando a alternativa que informe,
ruínas da aldeia de Coutins. corretamente, os nomes dos grupos indígenas.

O período colonial encerrou-se sob melhores auspícios, A) Bororó e Carajá


sobretudo em função da diligência de Francisco Alberro Rubim, B) Timbira e Tupiniquins
nomeado governador em 1812. Rubim foi o autor da "Memória C) Goitacás e Tupiniquins
estatística da capitania do Espírito Santo", realizada em 1817, na D) Carajá e Goitacás
qual afirmou haver na época na capitania 24.587 habitantes, seis E) Aimoré e Bororó
vilas, oito povoados e oito freguesias. Consolidara-se a

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86
História do Espírito Santo

Questão 03 Questão 05
“Mesmo sendo uma das primeiras capitanias brasileiras, O estado do Espírito Santo conta com uma diversidade de
colonizada por Vasco Fernandes Coutinho em 1535, e expressões culturais que chega a superar as trazidas pelos povos
considerada a melhor e mais abastada capitania brasileira pelo colonizadores, pois o contato entre estes povos originou novos
Governador Geral Tomé de Souza, a história capixaba é hábitos e costumes. Entre as variadas formas de expressão
marcada por altos e baixos, e existem períodos inteiros que ainda cultural do povo capixaba podemos destacar:
não foram desbravados por historiadores por falta de fontes.”.
(MACHADO, L. A Importância da história do Espírito Santo para a A) A tourada.
formação da identidade capixaba. Comunicação científica no V
CONCEFOR, 2018, p. 1) B) O frevo.

Sobre o início da colonização do Espírito Santo é correto afirmar C) A catira.


que:
D) O maracatu.

A) o local escolhido para o início da colonização foi a Ilha de E) O congo.


Santo Antônio, inicialmente chamada de Vila Nova.
B) o município de Vila Velha era a sede da administração da
capitania até a expulsão dos portugueses da região pelos
Questão 06
indígenas.
Entre as atividades exercidas por jesuítas e franciscanos no
C) mesmo antes da independência a capitania era povoada
Espírito Santo, durante o período colonial, destaca-se
por diversos povos europeus.
D) a capitania no século XVII não conseguiu resistir as diversas
A) a organização e financiamento de entradas e bandeiras para
investidas dos Holandeses, tendo sido conquistada em 1652.
avançar a colonização ao interior, território então dominado por
E) a capitania foi fundida com as Minas Gerais no chamado
índios hostis à instalação de povoados.
“Ciclo de Ouro”, como uma tentativa da metrópole de
aumentar o controle sobre a região das minas.
B) a regulamentação da capitania junto a Coroa Portuguesa,
que recebe esse nome em razão do protagonismo da Igreja na
Questão 04 região.
“Embora tenham sido dizimados pelas doenças trazidas pelos
europeus e pela violência, os índios constituíram a grande C) a ação pacificadora de tribos selvagens, catequizadas sem
maioria da população da capitania nos dois primeiros séculos de resistência por religiosos opositores à Guerra Justa, como José de
sua história. Foram eles que realizaram praticamente todo o Anchieta, recentemente canonizado.
trabalho nos primeiros tempos: nas roças, nos engenhos, no
transporte, nas atividades domésticas... Foram eles ainda os D) o pioneirismo na execução de atividades mineradoras, por
guias dos portugueses nas expedições ao “sertão”, os guerreiros meio da ocupação das margens do Rio Doce em parceria com
nos combates contra os invasores europeus e contra os índios bandeirantes vindos de Minas Gerais.
inimigos. O pequeno contingente de colonos que aqui se fixou
só sobreviveu graças ao trabalho dos índios; trabalho livre E) a atividade agrícola e pecuária, desempenhada com mão
inicialmente, sob a forma de escambo, executado em troca dos de obra indígena, e a participação na fundação de
preciosos produtos trazidos pelos europeus: instrumentos de aldeamentos, vilas e arraiais.
trabalho, como machados, facas, anzóis, e objetos de adorno.
Mas logo foi introduzida a escravidão, pois, quando os jesuítas se
Questão 07
instalaram, em 1551, já encontraram “grandíssima multidão” de
A colonização inicial da Capitania do Espírito Santo realizou-se
escravos” (FRANCESCHETTO, C. Imigrantes Espírito Santo. Vitória: Arquivo
em duas fases, pois:
Público do Estado do Espírito Santo, 2014.
A) Vasco Fernandes Coutinho fundou em 1535 o núcleo de
Sobre a importância indígena na colonização do Espírito Santo, povoamento que mais tarde ficaria conhecido como Vila Velha,
é incorreto afirmar que: abandonado após confrontos com colonos da Vila de Nossa
Senhora da Vitória, fundada em 1561 por Duarte Lemos e
A) a escravidão indígena, sobre a qual a historiografia passava nomeada capital em 1592.
rapidamente, considerando-a uma experiência fracassada, na
realidade assegurou o trabalho no Brasil até a metade do século B) Duarte Lemos fundou em 1535 a Vila de Nossa Senhora da
XVII. Vitória, mas os colonos foram expulsos pelos índios tupinambás,
B) além dos escravos, a população indígena incluía os e Vasco Fernandes Coutinho funda em 1561 novo povoamento
habitantes das aldeias dirigidas pelos jesuítas e mais algumas conhecido incialmente como Vila Nova e, em 1592, nova
outras, de índios aliados ou submetidos aos portugueses. cabeça da capitania.
C) a população indígena incluía os habitantes das aldeias
dirigidas pelos jesuítas e outras. O aldeamento começou na C) Vasco Fernandes Coutinho fundou em 1535 a Vila do Espírito
década de 1550, com a aldeia da Conceição (na Serra) e assim Santo, mas abandonada após retorno do donatário a Portugal,
surgiram Guarapari, Reritiba e Reis Magos. Duarte Lemos fundou, em 1561, a Vila Nova, mais tarde
D) a importância dessas aldeias para o povoamento do Espírito nomeada Vila de Nossa Senhora da Vitória e, em 1592, capital
Santo é evidenciada pelo fato de que, ao final do século XVIII, da capitania.
havia apenas cinco vilas na capitania, e três delas eram
D) Duarte Lemos fundou a Vila do Espírito Santo em 1535, mas
originárias de aldeamentos dos jesuítas: Guarapari, Benevente
conflitos em torno da escravização de nativos levou à expulsão
(Reritiba) e Nova Almeida (Reis Magos)
dos jesuítas que, sob liderança de José de Anchieta, fundaram
E) a força da presença indígena foi assegurada pelo governo
em 1561 a Vila de Nossa Senhora da Vitória, que em 1592 já era
Tupinambá da capitania no século XVIII. Nesse período foi forte
a principal da capitania.
a miscigenação com os europeus, e se consolidou pela força do
governo a cultura indígena no estado. E) Vasco Fernandes fundou a Vila de Nossa Senhora do Espírito
Santo em 1535, mas logo foi morto por indígenas tupinambás, a
capitania faliu e só voltou a ser ocupada quando Duarte lemos
fundou a Vila Nova da Vitória.

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87
História do Espírito Santo
Anotações importantes
Questão 08 ______________________________________________________________
Vila Velha é o município mais antigo do Espírito Santo. Considera- ______________________________________________________________
se que sua fundação ocorreu em 23 de maio de 1535. ______________________________________________________________
Considerando a periodização da história do Brasil, é correto ______________________________________________________________
afirmar que a fundação do município ocorreu durante o Período: ______________________________________________________________
______________________________________________________________
A) Colonial. ______________________________________________________________
B) Pré-descobrimento. ______________________________________________________________
C) Imperial. ______________________________________________________________
D) Republicano. ______________________________________________________________
E) Regencial. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
Questão 09 ______________________________________________________________
A fundação da Vila do Espírito Santo foi permeada por conflitos ______________________________________________________________
envolvendo: ______________________________________________________________
______________________________________________________________
A) canavieiros da região da Bahia que pretendiam expandir seus ______________________________________________________________
domínios, de um lado, e os tupinambás aliados a Diogo Alvares ______________________________________________________________
Correia, o Caramuru, que intermediou o contato entre índios e ______________________________________________________________
portugueses no Espírito Santo, de outro. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
B) os aldeamentos existentes, que estavam sob a proteção do ______________________________________________________________
jesuíta José de Anchieta, de um lado, e as tropas de Mem de Sá ______________________________________________________________
vindas da capitania da Bahia, a qual Espírito Santo estava ______________________________________________________________
subordinado, de outro. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
C) os colonos capixabas que se rebelaram à política de
______________________________________________________________
distribuição de sesmarias, de um lado, e os degredados que
______________________________________________________________
haviam sido parte da tripulação de Duarte de Lemos e exigiam
______________________________________________________________
terras, de outro.
______________________________________________________________
D) a ofensiva dos tamoios, após vitórias na atual região do Rio de ______________________________________________________________
Janeiro, de um lado, e a resistência portuguesa dos senhores de ______________________________________________________________
engenho estabelecidos há alguns anos na região de Vila Velha, ______________________________________________________________
de outro. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
E) a combativa presença indígena na região, composta em ______________________________________________________________
parte por aimorés, de um lado, e os esforços portugueses em ______________________________________________________________
defesa do assentamento criado por Vasco Fernandes Coutinho, ______________________________________________________________
donatário da Capitania do Espírito Santo, de outro. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
Questão 10 ______________________________________________________________
Os principais fortes existentes no litoral do Espírito S anto, erguidos ______________________________________________________________
durante o período colonial, testemunham: ______________________________________________________________
______________________________________________________________
A) o alvo constante que essa faixa territorial representava pela ______________________________________________________________
proximidade com o Rio de Janeiro, primeira capital da colônia e ______________________________________________________________
palco de disputas sangrentas entre índios aliados a franceses e a ______________________________________________________________
portugueses, da qual é exemplo a Confederação dos Tamoios. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
B) a ampla cobiça gerada pela descoberta de ouro no Rio Doce ______________________________________________________________
por Antonio Rodrigues Arzão, fato que atraiu milhares de ______________________________________________________________
aventureiros já estabelecidos na colônia ou vindos de Portugal, ______________________________________________________________
que desembarcaram no Espírito Santo sem autorização oficial. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
C) o propósito de assegurar à população branca locais seguros ______________________________________________________________
para se refugiar de ataques indígenas, uma vez que os ______________________________________________________________
botocudos, antropófagos, se alimentavam de colonos ______________________________________________________________
apreendidos quando escasseavam outras fontes. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
D) as constantes ameaças de invasão desse território e de outras ______________________________________________________________
extensões litorâneas por exploradores e corsários estrangeiros, ______________________________________________________________
exemplificadas pelas investidas de ingleses, como Thomas ______________________________________________________________
Cavendish, e holandeses, como Koin Handerson. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
E) a necessidade de ostentação de sua capacidade bélica por ______________________________________________________________
parte da Coroa Portuguesa, que precisava demonstrar seu ______________________________________________________________
poderio na região, ainda que o Espírito Santo não oferecesse ______________________________________________________________
riquezas que pudessem despertar quaisquer anseios de ______________________________________________________________
ocupação. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
Gabarito
01-C, 02-C, 03-B, 04-E, 05-E, 06-E, 07-C, 08-A, 09-E, 10-D

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88
História do Espírito Santo

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89
História do Espírito Santo
poder, Teófilo Otoni afastou da política e voltou seus olhares para
02 Século XIX, a Província do Espírito Santo e o os sertões do Mucuri.

Brasil Império Em 1851 no Rio de Janeiro em conjunto com comerciantes e


As províncias foram subdivisões do território brasileiro, criadas fazendeiros de Minas Novas criou a Companhia de Comércio do
com a chegada da Família Real Portuguesa ao e herdadas pelo Mucuri cuja finalidade era abrir um caminho até o oceano,
Império do Brasil. Foram instituídas após a transformação das utilizando o Rio Mucuri para a navegação de mercadorias para
capitanias em províncias ultramarinas, pelas Cortes Gerais e serem exportadas com maior agilidade.
Extraordinárias da Nação Portuguesa, ocorrida em 28 de
fevereiro de 1821, ainda no âmbito do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves.

Botocudos em Luta.

Assim foram organizadas duas expedições: uma ao Rio de Todos


os Santos e outra ao Rio Mucuri. Em um primeiro momento foi
aberta uma picada até o aldeamento em Poté. Em 1853, foram
interrompidos os trabalhos na picada nas cabeceiras do rio
Urucu devidos os constantes ataques de índios. A conquista
sofreu diversos ataques pelos índios, tiveram que negociar a paz
com o chefe Pojichá.

A ocupação e aldeamento da região não era a finalidade da


conquista, e sim a navegação do rio como uma rota para o
Oceano. Frustrados com a impossibilidade de navegação
resolveram incentivar a colonização, foram criadas colônias de
estrangeiros.

Vieram para Minas Gerais e Espírito Santo: alemães, belgas,


estadunidenses, franceses, holandeses, portugueses, suíços e até
Províncias imperiais do Brasil em 1822. chineses. Esperava-se que a ocupação facilitaria a
manutenção das estradas. Muitos vieram também para a
No âmbito capixaba, após longo período de relativa construção das estradas de Ferro que interligariam o Porto de
estagnação. A Província Capixaba Passou bastante tempo Vitória a Minas Gerais.
limitada a uma produção agrícola de cana-de-açúcar, feijão,
entre outras culturas. E somente no século XIX, que o Espírito 2.1 Panorama da Província do Espírito Santo no
Santo irá devolver um plantio expressivo de café.
século XIX
As administrações que geriram o Espírito Santo no século XVIII, e
durante o Império, podem ser classificadas de desastrosas, mas
não se diferenciam das outras partes do país, onde o poder
centralizado nas mãos dos capitães/governadores era total,
embora o desconhecimento sobre o espaço administrado fosse
um fato.

Planta da cidade de Vitória em 1895. Vitória no século XIX - Acervo: Carlos Henrique Gobbi

A Conquista do Sertão do Mucuri Apesar de alguns presidentes da província do Espírito Santo


A conquista do sertão do Mucuri e do Rio Doce só foi efetiva escolhidos pelo governo imperial, serem nomes importantes da
sobre o comando de Teófilo Otoni em 1847 quando ordenou a história política brasileira, nenhum deles foi capixaba, bem como
abertura de uma picada de Minas Novas até o Rio de Todos os estes não se destacaram pelas atuações em terras capixabas.
Santos. Teófilo Otoni natural do Serro é uma importante
personalidade política do Império Brasileiro, foi deputado pelo Entre os inúmeros relatos sobre os governantes, a respeito de
partido liberal. Após vitória e permanência dos conservadores no Vitória, destacam-se duas passagens dos governadores da

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90
História do Espírito Santo
Capitânia, Antonio Pires da Silva Pontes 1801-1804) e Francisco Seu governo foi marcado pela assinatura do auto de
Alberto Rubim (1812-1819): demarcação entre o Espírito Santo e Minas Gerais, em 8 de
outubro de 1800, o que ressalta a sua presteza administrativa, em
[...] Antonio Pires da Silva Pontes Leme fora nomeado [...] por colocar em ação a política da Coroa, comandada por D.
proteção de D. Rodrigo, Conde de Linhares. [...] Tinha a Rodrigo de Souza Coutinho, de navegação do Rio de Doce.
mania de retirar os agricultores de suas terras para retê-los por
meses inteiros na Vila de Vitória, a fim de exercitá-los em
serviço militar [...]. Francisco Alberto Rubim [...], se tal
administração foi brilhante, deixou de ser de acordo com as
Leis do Estado e os princípios de uma economia sábia. [...] Em
seu governo, proibiu vender algodão com semente e arroz
com casca. Por fim, o que parece quase incrível, a farinha
de mandioca, colhida em arrabalde da Vila da Vitória, foi
taxada em 2 cruzados por alqueire, enquanto a de outros
distritos da capitania ou de províncias vizinhas podia ser
vendida a preços especulativos.

A essa afirmativa somava-se a alta rotatividade dos presidentes


nomeados para o Espírito Santo, fato que ocorreu também em
outras províncias, com a exceção do Rio de Janeiro. Nos 65 anos
de administração imperial, a província acumulou
aproximadamente 100 governantes, entre Presidentes e Vice-
presidente, a frente da Província, o que representa tempo médio
de pouco mais de um ano para as gestões. Perspectiva da povoação de Linhares, 1819.

Viagem por um braço do rio Doce [in Wied-Neuwied,


Maximiliano, Viagem ao Brasil, p.155].

Durante o movimento de independência, em março e abril de


Vitória-ES 1903.
1821, ocorreram várias comoções políticas no Espírito Santo,
enquanto se procedia à escolha de seus representantes às Por essa extrema dedicação ao projeto da Coroa, Silva Pontes
cortes de Lisboa. Após a proclamação da autonomia brasileira, não se preocupou com a capital e sim com sua ligação com a
foi dado total apoio à nova realidade política, e em 1º de
área norte, sua área de atuação, construindo a primeira ligação
outubro de 1822, reconhecido imediatamente D. Pedro na da ilha com o continente, a ponte da passagem. Na época um
condição de imperador do Brasil. pontilhão construído com mão de obra indígena, a base de
pegões de alvenaria.
O governo provincial enfrentou séria crise econômica nos
primeiros anos da década de 1820, ocasionada pelo A partir do governo Silva Pontes, até o advento da República, a
estrangulamento da produção agrícola em razão da historiografia capixaba ressalta a ação do Governador Francisco
prolongada estiagem. Mesmo assim, iniciou a cultura cafeeira. Alberto Rubim, que governou de 1812 a 1819. Rubim, nas suas
Para tanto, incentivou o aproveitamento de terras por colonos “Memórias”, deixou excelente descrição da província. a
estrangeiros, o que se deu simultaneamente à chegada de descrição inicial é só elogio a situação da ilha.
fazendeiros fluminenses, mineiros e paulistas.
Sua principal villa é a da Victória, cabeça da comarca,
A exemplo das demais províncias do sul, no Espírito Santo essa tem seu assento em uma ilha montuosa quase duas legoas
experiência colonizadora baseou-se na pequena propriedade da barra, dentro forma uma bahia estreita, mas capaz de
agrícola, que logo se estendeu ao longo da zona serrana central,
navios grandes, na entrada 5, 6, 7 braças, mais dentro 5, e
em contraste com as áreas do sul daquela região, onde acima da villa junto à ilha do Príncipe [designação dada
predominava a grande propriedade. em 1860 em homenagem a Pedro II] onde está a casa de
pólvora 30, e 40 braças. Seus ares são benignos, o terreno,
As condições urbanísticas da Vila de Vitória no século XIX fértil, produz todos os gêneros propícios do reino, e da
A capitania do Espírito Santo, ainda sob a jurisdição da Bahia,
Europa [...]; dez rios principais banhão seu terreno; os
recebeu em 29 de março de 1800, o seu novo governador, campos são alegres; as matas ricas de toda qualidade de
Antonio Pires da Silva Pontes Paes Leme e Camargo, nomeado madeiras de lei, [...].
desde 1797. Silva Pontes era mineiro e inaugurou uma série de
administrações regidas por oficiais superiores do exército.

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91
História do Espírito Santo
Dentre as principais obras do governo de Alberto Rubim nenhuma praça pública, posto que aquela existente
constam: defronte do palácio é muito pequena e é com muita
condescendência que se dá o nome de praça à
- A estrado do Rubim, que ligava Vitória a Vila Rica e só foi encruzilhada enlameada, que se prolonga da Igreja de
inaugurada em 1820, depois de sua saída do governo; Nossa Senhora da Conceição da Praia até à praia".

- A desobstrução do canal de Camboapina, construído pelos Dois anos antes, isto é, em 1816, um outro botânico, o príncipe
jesuítas para ligar a baia de Vitória com o Rio Jucu; restauração Maximiliano de Wied Newwied, estivera no Espírito Santo,
da Santa Casa de Misericórdia de Vitória; percorrendo lhe toda a faixa litorânea, fixando, em desenhos
primorosos, aspectos da natureza espírito-santense, como,
- Alocação de um boticário licenciado em Vitória; também, registrando costumes do povo da região, assim se
referindo à cidade de Vitória:
- E o melhoramento dos cais da capital como o Cais Novo das
Colunas, abaixo do palácio do governo, o do Azambuja, o cais "A cidade de Nossa Senhora da Vitória é um lugar limpo e
Grande, para atracação das sumacas, o do Santíssimo, o do bonito, com bons edifícios, construídos no velho estilo
Batalha e o porto dos Padres, atrás do palácio do governo na português, com balcões e rótulas de madeira, ruas
atual General Osório. calçadas, uma Câmara razoavelmente grande e o
convento dos jesuítas ocupado pelo governador que tem
à sua disposição uma companhia de tropa regular".

Entre 1830 e 1840 as condições das estradas da Província eram


péssimas, e em 1836 a estrada Geral, litorânea que ligava Vitória
ao Rio de Janeiro e Bahia, parecia um grande atoleiro quase
intransitável “entorpecendo a marcha dos viajantes e estafetas”.
Esses fatores contribuíram para que todo o comércio exterior da
província tivesse a intermediação da capital do Reino e a
produção cafeeira, principal produto capixaba a partir de 1850,
fosse comercializado pagando impostos na praça do Rio de
Janeiro, resultando daí evasão de nossas divisas.

Vitória, 1883, Foto de Jean Victor Frond.

Com a proclamação da Independência em 1822, novas


instâncias passam a cuidar dos destinos das vilas e cidades. Em
Vitória, a Câmara Municipal assume o poder de reguladora e
inspetora das obras existentes e por fazer. Surge a necessidade
de estabelecer novos limites entre os municípios para a
cobrança regular de impostos e também para estabelecimento
das políticas públicas.

Em 17 de março de 1823 a Vila de Vitória foi elevada à categoria


de cidade. Mesmo assim, o Espírito Santo vivia em estado de
quase total penúria, minguadíssimos os recursos de sua
população, como minguada qualquer ajuda que porventura lhe
chegasse da Metrópole, de forma que, assim, se atrofiou, tempo
afora, social e economicamente.

Vitória, até princípio deste século, era cidade de feição


Planta de Vitória, 1896.
tipicamente colonial, portuguesa, na sua arquitetura e
arruamento. As construções, medíocres, não se diferenciavam,
O comércio se fazia quase que exclusivamente com o Rio de
as ruas tortuosas, estreitíssimas, muitas delas nem chegando a
janeiro. Por intermédio dessa praça, a Província importava os
cinco metros de largura, todas seguindo a topografia do terreno.
artigos estrangeiros de que necessitava. Escoavam-se por ela,
também, para além-mar, os produtos de sua lavoura.
Mesmo assim, Saint-Hilaire, quando de sua viagem ao Espírito
Santo, em 1818, a descreve com certa generosidade:
A Província estava unida aos distritos de Campos formando uma
Comarca corrigida pelo Ouvidor desta, desde 1741, o que
— "As ruas de Vitória são calçadas, porém, o são mal, têm
reforçava nossa dependência, colocando-nos sob a jurisdição
pouca largura, não oferecendo nenhuma regularidade.
judicial campista.
Entretanto, não se vê, aqui, casas abandonadas,
semiabandonadas, como na maioria das cidades de Minas
A exportação tinha na farinha de mandioca, gênero de
Gerais. Entregues à agricultura, ou a um comércio
consumo exclusivamente interno, seu principal produto,
regularmente estabelecido, os habitantes da Vila de Vitória
representando 61,4% do total; além dela, o açúcar, 16%, fio de
não são sujeitos aos mesmos reveses dos cavadores de
algodão, 7,3%, e outros produtos como arroz, cachaça, feijão,
ouro, e não têm razão de abandonar sua terra natal. Eles
milho, cal, colchas e redes, com cifras pouco significativas no
têm o cuidado de bem preparar e embelezar as suas
total geral das exportações.
casas. Um número considerável dentre elas tem um ou dois
andares. Algumas de janelas, e de lindas varandas,
A província importava desde o sal, farinha de trigo, telhas e
trabalhadas na Europa. Não possui, por assim dizer,
tijolos, até carne seca, marmelada, velas de sebo e drogas para

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92
História do Espírito Santo
as boticas. Essa relação estabelecida entre as exportações e
importações colocava o Espírito Santo fora das condições
mercantilistas de desenvolvimento, já que nossa balança
comercial era desfavorável, o que acabava caracterizando a
nossa vida colonial e provincial como fracassada e atrasada.

A evolução educacional era lenta, o que restringia a vida


cultural capixaba, e afastava a elite em formação que enviava
seus filhos para estudar em Coimbra, Salvador ou Rio de Janeiro,
propiciando a essa um maior envolvimento com problemas
gerais e nacionais, do que com as questões locais.

O certo, porém, é que, até 1847, as ruas de Vitória, à noite, não


tinham iluminação, apenas iluminados o Palácio do Governo, a
Cadeia Pública e o Quartel, daí que a cidade, às escuras,
favorecia não só a fuga de escravo como de ladrões e
assassinos, razão por que a Assembleia, a 19 de fevereiro
daquele ano, firmou contrato com Manoel Teixeira Mala para a
iluminação da cidadezinha, ocasião em que quarenta lampiões
foram distribuídos pelas diversas praças e ruas, pagando-se a
seus acendedores a importância de 4$550, por mês, pela
mudança de combustível.

Em 1856, a realidade da província já demonstrava as mudanças


produzidas pela expansão da cultura do café. A população
escrava que se mostrou decadente nos primeiros anos do século
XIX, sofreu aumento considerável na região de Cachoeiro de
Itapemirim, - 23,7% do total da província em 1824 - passou para
35,7% em 1856, tornando-se o maior núcleo escravo do Espírito
Santo, enquanto a capital perdeu sua hegemonia populacional
Retrato de Augusto de Saint Hilaire, Acervo do Museu Paulista da USP
e econômica.
Saint-Hilaire escreveu as Viagens pelo distrito dos diamantes e
Enquanto, no Rio de Janeiro, o café reforçou e ampliou a
litoral do Brasil (1833). Os nove capítulos da parte final, 2° tomo,
infraestrutura da cidade e de seus arredores, melhorando o
descrevem o percurso que fez o sábio naturalista pelo Espírito
sistema de meios de comunicação para escoamento das
Santo.
produções da baixada fluminense e outras áreas interioranas; no
Espírito Santo, o crescimento da rubiácea na região sul, fragilizou
Wied-Neuwied
a posição da capital.
Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied (1782-1867) foi um
príncipe renano que esteve no Brasil no início do século XIX, onde
Em muitos momentos, diversos grupos políticos defenderam a
estudou a flora, a fauna e as tribos indígenas. Foi um naturalista,
transferência da capital para Cachoeiro do Itapemirim, que
etnólogo e explorador alemão. Foi o autor de Viagem ao Brasil,
possuía laços estreitos com a capital do Império, o que lhe valeu
publicado por volta de 1820 com detalhadas descrições sobre
a primeira estrada de ferro da província, sendo também a
tudo o que pôde observar. Contou com o apoio de dois
primeira cidade a ter luz elétrica.
auxiliares alemães, Georg Wilhelm Freyreiss e Friedrich Sellow,
com experiência em coleta e preparação de animais.
Viajantes Estrangeiros no Espírito Santo no século XIX
Ao longo do século XIX, a Província do Espírito Santo recebeu
Chegou ao Brasil em 1815 com o pseudônimo de Max von
visitantes ilustres, como botânicos estrangeiros e até o mesmo o
Braunsberg. Por dois anos pesquisou o litoral e regiões do interior
Imperador D. Pedro II, em 1860. Entres os botânicos destacam-se
do Rio de Janeiro, Espírito Santo e do sul da Bahia, chegando a
os nomes de Saint- Hilaire e Maximiliano de Wied Newwied. Os
Salvador em suas viagens de pesquisa. Reuniu, entre outros
dois realizaram viagens pelo interior da província coletando
objetos etnológicos, vocabulários e utensílios de tribos indígenas
inúmeras amostras da fauna e da flora capixaba, além de
(como a dos Botocudos), plantas e animais.
tomarem notas sobre os costumes dos capixabas e dos índios
que viviam nas matas.

Saint-Hilaire
Augustin François César Provençal de Saint-Hilaire (1779-1853) foi
um botânico, naturalista e viajante francês. O estudioso
pertenceu aos primeiros grupos de cientistas, vindos da Europa,
para realizarem suas pesquisas e explorações no Brasil Colônia,
durante os anos de 1816 e 1822, período no qual a corte
portuguesa estava instalada no país, na cidade do Rio de
Janeiro.

O francês visitou as províncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro,


Espírito Santo, Goiás, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do
Sul e ainda margens do Rio da Prata e o Uruguai. Dia a dia,
tomava apontamentos no seu diário de viagem. Tinha como
principal objetivo estudar a História Natural. Organizou
importantes coleções zoobotânicas para o Museu de História
Natural de Paris, as quais constituíram assunto de algumas obras
científicas.
Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied (1782-1867)

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93
História do Espírito Santo
de Mordomo; Cônego Antônio José de Melo – Capelão;
Viagem de D. Pedro II ao Espírito Santo em 1860 Dona Josefina da Fonseca Costa – Dama de S. M. a
Pela manhã do dia 24 de janeiro de 1860 a esquadrilha de Imperatriz; mais alguns criados e criadas do serviço
Suas Majestades Imperiais partia de Valença, Província da doméstico de S. S. M.M I.I. Também acompanhavam a S. S.
Bahia, levantando âncoras da enseada do Morro de São M.M. o Conselheiro João de Almeida Pereira Filho – Ministro e
Paulo e seguindo por dentro dos Abrolhos, após dois dias de Secretário de Estado dos Negócios do Império e o seu Oficial-
viagem, avistava, aos albores do dia 26, os contornos da serra de-Gabinete, Dionísio Antônio Ribeiro Feijó – 1º Oficial da
de Mestre Álvaro, ponto de referência da baía de Vitória. Secretaria do Império.

Quando, do topo do Monte Moreno, o vigia descobriu as Antes que o Apa atingisse o começo da garganta que a baía
embarcações que demandavam o porto, deu o sinal forma em frente ao Penedo ou Pão-de-Açúcar e à Fortaleza
convencionado, acendendo uma girândola de foguetes. de São João, antiga guardiã da entrada da capital,
Incontinenti, outra girândola foi acesa pelo vigia da Fortaleza disparava esta os seus canhões cuja mudez permitia a
de São Francisco Xavier da Barra, e ainda ao mesmo tempo, familiaridade das teias de aranhas, ramos de matos e
outra, da Fortaleza de São João (N.R.: atual Clube Saldanha camaleões.
da Gama), elevava-se alvissareira acima do penedo, pondo
em alvoroço os capixabas. O correspondente do Jornal do Comércio registrou: “Ao
passar pelas fortalezas foram Suas Majestades saudadas com
No torreão do palácio governamental foi arvorada a as salvas que lhe são devidas, as quais correram
bandeira nacional e por dez minutos repicaram os sinos da regularmente, ao inverso do que quase sempre há
capela nacional, os de São Gonçalo, Santa Luzia, São acontecido, pelo mau estado da artilharia, pelo que não
Francisco, Conceição, Carmo, Rosário, Misericórdia e Matriz. poucos desastres tem havido.”
Aquelas festivas badaladas também marcaram as oito horas
da manhã.

Tocou-se imediatamente, chamada da Guarda nacional e


de 1ª Linha, para a formatura em honra dos augustos
visitantes.

As embarcações ancoradas, os escaleres e os barcos


particulares, embandeiraram-se e, obedecendo às
instruções expedidas pelo capitão do porto, formaram em
alas, “no intuito de facilitar-se a passagem da esquadrilha
até o ancoradouro e o trânsito até o desembarque no Cais
das Colunas”, conforme o programa.

“Tudo se pôs em movimento – escreveu o correspondente do


Jornal do Comércio – a Vitória despertou de seu contínuo
letargo, em todos os semblantes divisava-se ansioso esperar
pela honra do desembarque.”

O Imperador, a quem não escaparam os principais detalhes


da viagem, após esquadrinhar os horizontes com o binóculo
e a olho nu, pequeno lápis em punho, anotou na sua
caderneta de bolso;

“Entrada do Espírito Santo, do lado do Sul Moreno; Penha;


Quando o Apa, navio que conduzia Suas Majestades Mestre Álvaro do lado do Norte que se vê com tempo claro
Imperiais, à frente da esquadrilha, passava entre a ponta até 60 milhas ao mar; baixos do Burro e Cavalo ao Sul e da
Ucharia e o rio da Costa, aproximando-se da Fortaleza de Baleia ao Norte; ilha do Boi, do Des. Souto forte do Moreno;
São Francisco Xavier da Barra, a qual servia para tomar o Vila-Velha na base da Penha; portão e nicho no começo da
registro dos navios de cabotagem, prestando as devidas subida para a Penha; Pão d’Açúcar ao Sul; forte de São João
continências, os canhões da fortaleza abriram a salva de 21 ao Norte; Jucutucoara o do lado N., com seu mamilo sobre
tiros, enfumaçando em torno da grande bandeira auriverde o comprido de granito no alto da montanha, boa casa; do
imperial, lá hasteada; a mesma que impressionara, pelo Monjardim, genro do Capitão-mor Francisco Pinto do lado do
tamanho, o pintor François Biard, na sua chegada. Sul sítio da Pedra d’Água, ou de Santinhos.

Além de Dom Pedro II e sua consorte, a Imperatriz Dona Fundeamos perto da ponte de desembarque às 9, ¾.
Teresa Cristina Maria, viajava naquele navio capitânia, Desembarque ao meio-dia.”
pequeno séquito: o Conselheiro de Estado, Cândido José de
Araújo Viana, Visconde de Sapucaí, como Camarista; ROCHA, Levy. Livro Viagem de Pedro II ao Espírito Santo, ano
Conselheiro Luís Pedreira do Couto Ferraz, ex- governador da 2008. compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2010
província (1846-1848), futuro Barão e Visconde de Bom-Retiro,
como Viador; Conselheiro Antônio Manuel de Melo –
Guarda-roupa; Dr. Francisco Bonifácio de Abreu – Médico da
Câmara; Dr. Antônio de Araújo Ferreira Jacobina – servindo
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94
História do Espírito Santo
A Revolta de Queimado
Em 19 de março de 1849, ocorre no Distrito de Queimado (atual
município da Serra), o maior movimento de revolta escrava
negra do Espírito Santo.

Grupo de imigrantes italianos no século XIX.

Em 1846 fundou-se a colônia de Santa Isabel com imigrantes


alemães de Hunsrück e em 1855 uma sociedade particular —
Ruínas da Igreja do Queimado, recentemente a estrutura passou por
depois encampada pelo governo — criou a colônia do Rio Novo
processo de restauração.
com famílias suíças, alemãs, holandesas e portuguesas. Entre
1856 e 1862 houve considerável afluência de imigrantes alemães
O Distrito de Queimado era ocupado por fazendas tradicionais
para a colônia de Santa Leopoldina, que tinha por sede o porto
na produção de cana de açúcar, depois de café, com mão de
de Cachoeiro de Itapemirim, no rio Itapemirim, a cinquenta
obra exclusivamente escrava. A região era expressiva
quilômetros da foz, no sul do estado.
economicamente também por possuir um dos portos fluviais mais
importantes da região central de Vitória, localizado no Rio Santa
Rapidamente as antigas áreas de pastoreio pontilharam-se de
Maria da Vitória, e que fazia o transporte de mercadorias da
pequenos estabelecimentos agrícolas, que demonstraram
região interiorana do atual município da Serra e arredores para
grande força expansiva. As colônias de Santa Isabel e Santa
a cidade de Vitória.
Leopoldina, por exemplo, criaram desdobramentos através de
todo o planalto, entre os rios Jucu e Santa Maria, e mais tarde
Registra-se que durante a construção da igreja houve um
atravessaram o rio Doce.
recrutamento de escravos para o trabalho de construção,
correndo entre os negros “a boca miúda” que no dia da
No processo de colonização enfrentaram os imigrantes, a par de
inauguração da igreja seria concedida a tão sonhada
outras dificuldades, o sério problema indígena na região do rio
liberdade. Na ocasião de sua inauguração, entretanto, verificou-
Doce. Malgrado os esforços de aldeamento e as tentativas de
se um movimento dos escravos sob alegação do
utilização de sua mão-de-obra, sucediam-se os choques com os
descumprimento da promessa da alforria, negada com
colonos, e chegou mesmo a verificar-se grave contenda entre
determinação pelo pároco, como podemos comprovar na
índios e moradores de Cachoeiro de Itapemirim, como elevado
carta publicada, do próprio a imprensa da época.
número de mortos e feridos, em 1825. Duas décadas depois, o
comendador e futuro barão de Itapemirim, Joaquim Marcelino
A historiografia tradicional capixaba, seguindo os passos da
da Silva Lima, ainda tentou organizar um grande aldeamento à
brasileira, trabalhou, na generalidade, com a ideia de que o
base de terras devolutas.
movimento escravo de Queimado teria sido protagonizado pelo
Frei Gregório de Bene, então pároco do distrito, que teria
prometido aos escravos a liberdade em troca da construção da
Igreja. A nova História, em releitura a documentação de época
e a obra de Afonso Cláudio, “Insurreição de Queimado”,
considera que o movimento foi protagonizado pelos negros
capixabas, na liderança de Elisiário, João da Viúva e Chico
Prego.

a Revolta de Queimado tornou-se um marco de memória no


Espírito Santo por meio da obra de Afonso Cláudio e recebe
atualmente grande atenção por parte, principalmente, do
movimento negro enquanto referência da resistência política
negra no séc. XIX.

2.2 Imigração no Espírito Santo


A experiência inicial de imigração estrangeira para o ES foi feita
com açorianos, em Viana, com a instalação da colônia em 15
de fevereiro de 1813. Esse primeiro processo imigratório foi Pomeranos no Espírito Santo, fonte: Ervin Kerckhoff
incentivado por D. João, e trouxe para o ES 30 casais que se
instalaram na região conhecida como sertão de Santo Pomeranos no Espírito Santo
Agostinho. O grupo com os primeiros imigrantes pomeranos a chegarem ao
Estado era formado por 27 famílias num total de 117 pessoas. Eles
O processo imigratório no estado foi caracterizado pela eram agricultores luteranos que partiram de Hamburgo, na
presença dos Núcleos Coloniais, localizados, principalmente, na Alemanha, no navio Eleonor, em abril de 1859. O transatlântico
região central de Vitória, em terrenos de serra, que não entrou no porto do Rio de Janeiro após dois meses de viagem.
interessavam aos grandes proprietários.

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95
História do Espírito Santo
Lá estava sediada a “Central de Colonização”, responsável Imigração italiana no Espírito Santo
pelos contratos e transportes. O Espírito Santo abriga uma das maiores colônias italianas do
Brasil. Os imigrantes foram atraídos para o Estado a fim de ocupar
Depois dessa breve escala na Capital do Império, seguiram inicialmente a região das serras. Os imigrantes foram obrigados
viagem no barco “São Matheus” e chegaram ao Porto de Vitória a enfrentar a mata virgem e foram abandonados pelo governo
no dia 28 de junho. Para alcançar os lotes coloniais, seu destino à própria sorte. A situação de miséria vivida por muitos colonos
final, os imigrantes tinham que subir o rio Santa Maria em direção fez com que, em 1895, o governo italiano proibisse a emigração
ao “Porto do Cachoeiro”, atual Santa Leopoldina. Até 1860 de seus cidadãos para o Espírito Santo.
vieram outros 46 imigrantes. Porém, o maior fluxo se verifica entre
os anos de 1868 a 1874. Ao todo, foram 2.223 colonos de origem Encontram-se, no Espírito Santo, representantes de todas as
pomerana que entraram no Estado. regiões da Itália, mas a preponderância é para aquelas do norte
(Vêneto, Lombardia, Trentino-Alto Ádige, Emilia-Romagna,
Piemonte, Friuli-Venezia Giulia, Liguria e Vale d’Aosta), que,
juntas, forneceram 92% dos imigrantes. As regiões do centro
contribuíram com 6% e as do sul, com 2% dos italianos.

De acordo com o historiador Angelo Trento, no Espírito Santo foi-


se usado o mesmo modelo de colonização do sul, mas sem os
mesmos resultados. Até 1891, não emigravam mais de 200
italianos anualmente para esse estado. O fluxo cresceu nos anos
seguintes, sendo registrada a entrada de 476 italianos em 1892,
número que saltou para 2.406 em 1893. Esses italianos vinham se
empregar em obras públicas e, quando estas foram terminando,
alguns ficaram na capital, enquanto que a maioria se empregou
nas fazendas.

Localidades em que a língua pomerana é cooficial no Espírito Santo:


Domingos Martins, Itarana, Laranja da Terra, Pancas, Santa Maria de
Jetibá e Vila Pavão.

O dia do Imigrante Pomerano é comemorado em 28 de junho.


Esta data foi instituída no calendário oficial do Estado pela Lei
9.258/2009.

A Pomerânia estava localizada entre a Europa e o Mar


Báltico. A historiadora Cione Marta Raasch Manske, no livro
“Pomeranos no Espírito Santo”, ressalta que o solo fértil, a Imigrantes italianos no ES, século XIX.
diversidade hídrica e a localização estratégica
desencadearam disputas pela posse da terra na Idade A companhia de imigração La Veloce instituiu uma linha direta
Média, deixando-a marcada por guerras, epidemias e Gênova-Vitória, com navio partindo mensalmente. Isso garantiu
fome. A imigração, neste contexto, mostrou-se como uma um fluxo apreciável de imigrantes, tanto que em 1894 chegaram
opção para a sobrevivência. 3 215 italianos e, em 1895, mais 4 575 pessoas. Com esses
imigrantes foi-se tentada a colonização da região do Rio Doce,
Durante um período prolongado, diferentes conflitos mas com resultados desastrosos. Deu-se um surto de cólera no sul
devastaram o local. Em 1720, o território é conquistado pela do estado, o que fez o governo italiano suspender
Prússia, que em 1817 institui a Província Prussiana da temporariamente as operações de embarque em direção a
Pomerânia. No século XIX, conforme destaca a autora, Vitória, por meio do decreto de 20 de julho de 1895.
mudanças políticas e econômicas contribuíram de forma
significativa para o agravamento da situação de crise. A Em decorrência das dificuldades financeiras do estado, a
instabilidade social impulsionou os pomeranos a imigrarem imigração no Espírito Santo praticamente acabou a partir de
para o Brasil, com destaque ao Espírito Santo. (FONTE: site 1896. O número de italianos no estado, estimados em 20 mil
Governo do Estado do Espírito Santo).

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96
História do Espírito Santo
pessoas em 1895, ficou estagnado até a primeira década do
século XX, vindo a cair progressivamente a partir de então. Questão 01
“No dia 18 de março, todos que trabalharam na construção
Entre 1812 e 1900, entraram no estado do Espírito Santo 46,885 reuniram-se na porta da igreja. Frei Gregório, percebendo a
imigrantes, dos quais 34.925 eram italianos, ou seja, 75% do total. aglomeração, trancou-se ao lado de dentro. Elisiário, líder do
Após o ano de 1900, o fluxo de entrada diminuiu grupo de escravos, incentivava a ida às fazendas, para pedirem
consideravelmente, comparando-se com o século anterior. Até liberdade a seus donos. Obviamente negada e com isso a
1973 registrou-se a o número de 1.633 indivíduos. rebelião estava formada.”
Moreira, Thais Helena, e Perrone, Adriano. História e Geografia do Espírito
Santo. ES: 2008. p.62

Com relação à Rebelião de Queimado, é correto afirmar que:

A) apesar da forte repressão, o movimento conseguiu resistir por


vários anos.

B) a principal motivação da rebelião foi a tentativa da Igreja de


impor o catolicismo, e proibir a prática dos cultos africanos.

C)a vitória da rebelião, antecipou em duas décadas a abolição


da escravidão no Espírito Santo em relação as demais províncias
do Brasil

Imigrantes italianos, século XIX. D) a Rebelião de Queimado criou o maior quilombo da História
do Brasil, superando em número de quilombolas, o mais
Do Vêneto, as províncias que mais mandaram imigrantes para o badalado quilombo que foi o de Palmares.
estado foram Treviso (31%) e Verona (28%). Já os imigrantes
lombardos vieram de diversas províncias, mas sobretudo de E) independente da causa imediata da rebelião foi a promessa
de liberdade ou esperança do grupo pela mesma, pois a
Mântua (24%) e Cremona e Bérgamo com 20% cada. Por outro
escravidão, por si só, já constituía uma razão substancial para o
lado, os colonos oriundos do Trentino-Alto Adige vieram quase
levante.
que exclusivamente da província de Trento (96,2%), em especial
das comunas de Levico Terme e frações (17,40%) e de Novaledo
(11,78%). Os imigrantes vindos da Emília-Romanha também Questão 02
provinham de diversas províncias, com destaque para Bolonha Com a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 1808,
(24,10%), Módena (19,36%) e Parma (17,58%). as capitânias hereditárias foram transformadas em províncias,
assim a Capitânia do Espírito Santo se tornou Província do Espírito
De maneira geral, as cinco províncias italianas que mais Santo. Com esta mudança é correto afirmar que:
forneceram imigrantes para o Espírito Santo foram: Trento (2.801
imigrantes), Treviso (2.615), Verona (2.325), Vicenza (1.060) e A) Ao longo do século XIX, o Espírito Santo viveu uma explosão
Mântua (1.033). 94,81% dos imigrantes embarcaram no porto de demográfica e um desenvolvimento considerável, graças a
Gênova, no Norte da Itália; 4,51% no porto de Le Havre, na família real ter escolhido a capitânia do Rio de Janeiro com
França, enquanto que o resto embarcou no porto de Buenos capital do Império Português.
Aires (Argentina), de Nápoles (Sul da Itália) e de Marselha
(França). 68% dos imigrantes vieram diretamente da Europa, 31% B) A província capixaba teve um retrocesso, pois, parte da
fizeram escala no porto do Rio de Janeiro e 1% veio de Buenos população migrou para o Rio de Janeiro em busca de melhores
Aires. ocupações e cargos na Corte.

Algumas fontes afirmam que 60% da população do Espírito Santo C) A província capixaba atravessou o século XIX, sem grandes
é formada por descendentes de italianos. A historiadora Maria avanços econômicos e mudanças significativas.
Cristina Dadalto critica essa informação que, segundo ela, é um
"mito". Não existe nenhuma pesquisa que comprove esse dado, D) O Espírito Santo deve um grande desenvolvimento, graças ao
mas "uma profícua produção literária produzida sobre a contrabando de ouro das Minas Gerais que escoava pelo Rio
imigração italiana no estado ajudou a construir e a fortalecer Doce.
este mito".
E) O Espírito Santo foi anexado à província do Rio de Janeiro, o
A Abolição da Escravidão no Espírito Santo que levou os capixabas a um surto de desenvolvimento
No final do século XIX, os capixabas, sobretudo a econômico e social.
intelectualidade, aderiram ao movimento abolicionista. A
exemplo do que aconteceu nas demais províncias, surgiram Questão 03
associações ligadas à emancipação, como a Sociedade A região do Rio Doce e do Sertão do Rio Mucuri tinham presença
Abolicionista do Espírito Santo (1869) ao lado de acirrada marcante e aguerrida de tribos indígenas, que em muitas vezes,
campanha jornalística e parlamentar. No próprio edifício da ofereciam resistência ferrenha aos colonizadores. Entre estas
Câmara Municipal de Vitória fundou-se uma sociedade tribos destacam-se:
libertadora (1883). Durante a propaganda, evocava-se a
crueldade dos castigos infligidos aos escravos, como sucedera A) Guaranis
após a insurreição de cerca de 200 negros no distrito de
Queimados, em 1849. B) Ianomamis

A abolição da escravatura, no entanto, conduziu os grandes C) Tupinambás


proprietários à ruína, em virtude da privação da tradicional mão-
de-obra. Assim, com o advento da república, o primeiro D) Botocudos
governador não encontrou condições materiais para levar a
efeito os planos preconizados pela propaganda republicana, E) Crenaques
pois, as finanças da antiga província encontravam-se exauridas.

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97
História do Espírito Santo

Questão 04 Anotações importantes


(...) o maior fluxo de imigrantes que vieram para o ES ocorreu ______________________________________________________________
entre meados e final do séc. XIX, portanto no período do Império ______________________________________________________________
Brasileiro. Mas a imigração, tanto dirigida por acordos ______________________________________________________________
governamentais quanto a espontânea, continuaria até o fim da ______________________________________________________________
República Velha, decaindo no início da era Vargas e tendo um ______________________________________________________________
novo impulso com início da 2ª Guerra Mundial, já no Estado Novo ______________________________________________________________
getulista.” ______________________________________________________________
(Moreira, Thais Helena, e Perrone, Adriano. História e Geografia ______________________________________________________________
do Espírito Santo. ES: 2008. p.58) ______________________________________________________________
______________________________________________________________
Comparando o processo migratório do Espírito Santo com o de ______________________________________________________________
São Paulo em meados do século XIX, podemos concluir que: ______________________________________________________________
______________________________________________________________
A) a mão de obra indígena atendeu a demanda no Espírito ______________________________________________________________
Santo, fruto dos aldeamentos jesuítas. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
B) em ambos os casos o trabalhador europeu não foi utilizado ______________________________________________________________
para substituir o escravo nas plantações de café. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
C) o tráfico interno de escravos atendeu a demanda de mão de ______________________________________________________________
obra, não necessitando o Espírito Santo do elemento imigrante ______________________________________________________________
europeu. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
D) em São Paulo devido à grande oferta de mão de obra ______________________________________________________________
escrava, o imigrante não atuou no setor cafeeiro, foi incorporado ______________________________________________________________
a crescente indústria paulista como assalariado. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
E) no Espírito Santo, o europeu foi atraído para projetos de ______________________________________________________________
colonização de uma imensa área de terras devolutas onde ______________________________________________________________
deveriam ser constituídos os núcleos coloniais, tornando-se ele, ______________________________________________________________
na maioria das vezes, um pequeno proprietário. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Questão 05
______________________________________________________________
Durante o Império, sobre a economia, cultura e sociedade na
______________________________________________________________
Província do Espírito Santo, é correto afirmar que:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
A) extração de metais preciosos foi a principal atividade
______________________________________________________________
econômica na região do Espírito Santo no período imperial.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
B) O povoamento do Espírito Santo concentrou-se na porção
______________________________________________________________
norte do território.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
C) Com a estagnação econômica, a província abandonou
______________________________________________________________
obras militares e religiosas.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
D) Saint-Hilaire e Wied-Neuwied foram botânicos que
______________________________________________________________
percorreram o Espírito Santo, na primeira metade do século XIX.
______________________________________________________________
Os dois estudiosos realizaram estudos e analises importantes
______________________________________________________________
sobre a fauna, a flora, os capixabas e índios.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
E) Todas estão incorretas.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Gabarito
01-A 02-C, 03-D, 04-E
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História do Espírito Santo

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99
História do Espírito Santo

03 Espírito Santo
e a República
A República também representou uma nova configuração na
organização administrativa no Brasil. Com a criação do sistema
federalista, as antigas províncias tornam-se estados. As
municipalidades passam a contar, em algumas cidades, com
uma prefeitura.

03.1 O Espírito Santo na Primeira República


Em novembro de 1889, proclamada a República no Brasil,
assume o poder o Marechal Deodoro da Fonseca, dando início
à nova direção do país. Inicia-se, assim, um novo período da
História do Brasil, conhecido como Primeira República. No
mesmo dia 15, por meio de um telegrama, a notícia da
proclamação da República chegou a Vitória, onde não houve
qualquer tipo de manifestação favorável ou contrária à Vista da cidade de Vitória (1903)
mudança de regime.
A expansão da lavoura cafeeira e a necessidade de
Em Cachoeiro, porém, onde o movimento anti-monarquista escoamento da produção impôs, desde meados do século XIX,
sempre foi mais forte, os republicanos promoveram passeatas em a utilização de tropas de burro para o transporte do grão.
comemoração ao evento. No dia 16 de novembro, tendo sido Somente nos anos 40 do século XX as tropas foram cedendo
dissolvida a Assembleia Legislativa, os líderes republicanos lugar aos caminhões. Até a década de 30, Santa Leopoldina foi
escolheram para chefe do novo governo provisório Afonso um importante centro comercial onde chegavam muitas tropas,
Claudio, cuja posse foi noticiada pelo jornal A Folha da Victoria, que entregavam o café para os ricos comerciantes da região.
em 21 de novembro de 1889. Estes, por sua vez, negociavam diretamente com a Europa.
Percorrendo todo o estado, essas tropas conectavam as fontes
A vitória da República significou, no país, a hegemonia das elites produtoras, cidades, portos marítimos, portos fluviais e estradas
regionais contra o centralismo do império. Seguindo o modelo de ferro, levando o café e trazendo sal, açúcar, bebidas e outros
americano, o Brasil foi dividido em estados, com o conjunto produtos.
formando uma Federação. Cada estado tinha ampla
autonomia, podendo fazer empréstimos externos, escolher seus
governantes e arrecadar impostos.

Não foram fáceis as primeiras décadas da República, que


passou por conflitos armados – como a Guerra de Canudos, a
Revolução Federalista, revoltas populares, greves, movimento
tenentista – e por uma grave crise financeira ocasionada pela
política econômica denominada Encilhamento, adotada pelo
ministro da Fazenda Rui Barbosa.

Também o Espírito Santo passou por períodos conturbados nesse


início republicano. Afonso Claudio não permaneceu no poder
durante muito tempo. Sucederam-se vários governantes. E a
Constituição estadual de 1891 foi rapidamente modificada. No
âmbito nacional, predominava, conforme aqui já se analisou, a
chamada política do café-com-leite, a indubitável hegemonia
de São Paulo e Minas Gerais, grandes produtores de café e leite,
respectivamente, o que fazia com que esses dois importantes
estados se revezassem na presidência da República.
Colheita do café, início do século XX.

Em nível local predominava o “coronelismo”, com os chefes


Até o governo de Jerônimo Monteiro, as rendas do estado
regionais controlando o processo eleitoral e manipulando o
estavam sujeitas às incertezas da monocultura cafeeira. Um
resultado das eleições devido ao sistema do voto aberto que
longo período de seca, entre 1898 e 1899, trouxe grandes
permitia o chamado “voto de cabresto”, fenômeno este
prejuízos à lavoura de café, que se prolongou até a safra de
também verificado no Espírito Santo desse período, quando
1901. Igual fenômeno foi percebido em 1909 e 1910, quando
importantes figuras políticas revezaram-se no poder até a
outra seca fez diminuir a exportação em 20%, prejuízo que se
revolução de 30. Entre eles destacaram-se José de Mello
estendeu até 1911. Comparando com a safra de 1907-1908, a
Carvalho Moniz Freire e Jerônimo de Souza Monteiro.
média de exportação caiu quase pela metade em 1911,
quando o café foi responsável por menos de 60% do total da
Em meio a esse ambiente político, o Espírito Santo notabilizou-se
receita do estado. Em 1893, sua exportação contribuía com 91%
pela produção cafeeira. Desde a segunda década do século
do total das rendas.
XIX, o café vinha enriquecendo muitos fazendeiros que passaram
a constituir uma elite rural de enorme prestígio e influência. O
Foi a necessidade de escoamento da produção cafeeira que
café já era, em meados do século XIX, um dos principais produtos
impôs, no final do século XIX e início do século XX, uma melhoria
da Província do Espírito Santo. Em 1903, porém, 95% da receita
das vias de transporte, abertura de estradas, caminhos,
do estado advinha da produção de café.
melhoramento de portos, construção de ferrovias e introdução
de barcos a vapor. Foram, então, construídas muitas estradas,

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100
História do Espírito Santo
que tiveram destacada influência no desenvolvimento
econômico das regiões por que atravessavam, entre as quais
citamos as áreas de Santa Teresa, Santa Leopoldina, Castelo e
Muniz Freire. Muitos rios dispunham de portos fluviais, com intenso
movimento comercial. O de Santa Leopoldina, por exemplo,
recebia a produção de café das áreas vizinhas e a levava
através de canoas para o porto de Vitória, de onde seguia para
o exterior.

Região do bairro Jucutuquara, início do século XX.

Foram duas as principais ferrovias: a Estrada de Ferro Sul do


Espírito Santo, posteriormente denominada de Leopoldina
Railway, ligando Vitória ao Rio de Janeiro, e a Estrada de Ferro
Vitória-Minas, unindo a Capital ao norte do estado e a Minas
Gerais, que atualmente pertence à Companhia Vale do Rio
Doce. A primeira teve seu trecho inicial inaugurado em 1895,
unindo o porto de Argolas, situado no continente, à Vila de
Regiões cafeeiras no ES, 2006. Viana, e foi concluída em 1910. Contudo, o trecho que ligava
Vitória a Cachoeiro logo entrou em decadência, quando
diminuiu a produção cafeeira da região serrana (FRANCO; HEES,
2003, p. 38). Já a Estrada de Ferro Vitória-Minas teve seu primeiro
trecho inaugurado em 1904. Consta, ainda, naturalmente, que
foram construídas outras menores.

As estradas de rodagem também constituíram preocupação de


vários governantes, entre os quais Jerônimo Monteiro. Essas vias
de comunicação ligavam regiões isoladas às vias férreas,
aproximando populações e dando oportunidades de escoar a
produção agrícola.

Com a promulgação da Constituição de 1892, foi permitido aos


estados contrair empréstimos no exterior e a decretar impostos
sobre a importação e a exportação, o que possibilitou a
ampliação das atividades industriais no Espírito Santo. Foi então
que Jerônimo Monteiro (1908-1912) tomou medidas com vistas à
industrialização do estado, entre as quais destacamos a isenção
de impostos e o fornecimento gratuito de energia elétrica. Entre
as principais indústrias implantadas em seu governo, destacamos
a fábrica de tecidos que está no bairro de Jucutuquara, em
Região da Praia do Suá, início do século XX. Vitória, e a Usina de Açúcar Paineiras, no vale do Itapemirim,
onde várias outras indústrias foram instaladas, o que fez desse
Também tinham sua importância os portos marítimos, utilizados vale um parque industrial do estado.
desde o período colonial. Entre eles, citamos o de Vitória e o de
Itapemirim, no sul do estado, cujos valores de exportação de Malgrado tudo isso, as indústrias no Espírito Santo ainda
café chegaram a superar os de Vitória no final do século XIX. precisariam esperar algum tempo para se desenvolverem. Em
relação aos estabelecimentos bancários, em 1900 existiam em
Entretanto, esses portos não eram bem aparelhados para Vitória o Banco Espírito-Santense e o Banco de Vitória. Em 1910
atenderem às necessidades de escoamento da produção, foi instalada uma agência do Banco Inglês e, em 1911, foi
apesar do investimento dos governantes, especialmente nas fundado o Banco Hipotecário e Agrícola do Espírito Santo. Em
melhorias do porto de Vitória, o mais importante do estado. 1909 foi fundada a Associação Comercial de Vitória, com o
Aprovados em 1910, os trabalhos para a modernização do porto objetivo de defender os interesses da classe comercial.
de Vitória iniciaram-se em 1911, mas foram paralisados em 1914,
em decorrência do início da I Guerra Mundial (1914-1918). Com o crescimento das cidades, multiplicaram-se os pequenos
Somente em 1925 foram reiniciados os trabalhos. e grandes armazéns de secos e molhados, as farmácias,
armarinhos, bares, lojas de tecidos e outros estabelecimentos. De
A produção cafeeira gerou recursos que possibilitaram a grande importância era o papel dos caixeiros-viajantes, aqui
construção de uma boa malha ferroviária, pela qual se escoou chamados de “cometas”, abastecendo as casas comerciais e
a produção agrícola e se transportaram passageiros. Graças a percorrendo o interior com seus mostruários.
essas ferrovias, estabeleceu-se grande intercâmbio comercial
com regiões vizinhas, surgiram povoações e cidades e iniciou-se Muitos comerciantes encomendavam aos “cometas” as
um período de progresso econômico e social. mercadorias que estes compravam no Rio de Janeiro ou em São
Paulo e traziam para Vitória. Como em outras cidades do Brasil
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101
História do Espírito Santo
de então, havia também os mascates, em geral sírios ou Os clubes também eram importantes pontos de encontro da
libaneses, que percorriam o interior vendendo produtos diversos. classe média e da elite. O mais famoso era o Clube Vitória, onde
ocorriam os bailes de debutantes, concursos de misses e os bailes
Na Primeira República, a exemplo do que ocorreu em várias de carnaval. Entre as opções de lazer, também podemos incluir
outras cidades brasileiras, foi iniciado o processo de as regatas aos domingos, os banhos de mar na Praia Comprida
remodelação de Vitória, que ganhou um novo aspecto, e na Praia do Canto e as partidas de futebol entre aqueles que,
perdendo parte de suas características coloniais. Sobretudo a posteriormente, organizarão os times do Rio Branco e do Vitória.
partir de 1908, com Jerônimo Monteiro, casas foram demolidas,
fachadas foram remodeladas e pontes foram erigidas. Com Jerônimo Monteiro, surge o Parque Moscoso, tido como
área nobre da cidade, pois ao redor dele estavam
Vitória recebeu, nessa época, iluminação pública, monumentos, concentradas as residências da elite. Durante o dia, nele se
jardins, arborização. Ruas foram alargadas e a cidade passou a reuniam as famílias e estudantes. À noite, ocorria o footing das
contar com serviços de água e esgoto, além de limpeza pública. empregadas domésticas e dos militares, já que naquela área
Naturalmente tudo ainda era precário e poucas eram as casas achava-se instalado o Quartel Militar, desde 1896.
com telefone. Mensagens urgentes eram enviadas por telégrafo,
pela Western-telegráfico, com escritório em Vitória. Entre as escolas de ensino médio, destacamos o Ginásio Espírito
Santo, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, a Escola Normal e o
Eram bastante precários os meios de transporte terrestre, apesar Ginásio São Vicente de Paulo. Nas maiores cidades do estado só
da produção cafeeira necessitar deles. Compunham o quadro havia uma escola dessa natureza. As escolas de ensino médio
algumas poucas linhas ferroviárias e os caminhos de penetração eram privilégio quase absoluto da classe média e das elites, a
destinados principalmente às tropas de burro, com vistas ao maioria da população permanecendo infelizmente analfabeta.
escoamento da produção agrícola. Desde 1905 Vitória já As escolas de Ensino Fundamental, por sua vez, eram em
possuía bondes puxados a burro. No entanto, com a introdução pequeno número. Acrescentemos, ainda, que, de 1908 a 1912, o
da energia elétrica, o serviço foi eletrificado. Havia ainda tílburis número total de escolas cresceu de 125 para 271.
e carroças. Já linhas de ônibus eram inexistentes, devido à
precariedade das estradas. Em 1909, Jerônimo Monteiro fundou a Biblioteca Pública e a
Escola de Belas Artes, além do Arquivo Público. Poucos eram os
Eram poucas as opções de lazer. No mundo urbano, era comum jornais no estado. Entre os principais temos: O Estado do Espírito
fazerem-se passeios por praças e coretos, para ouvir bandas de Santo e O Comércio do Espírito Santo, o primeiro do Partido
música. Faziam-se festas para comemorar batizados, aniversários Construtor autonomista e o último do Partido Republicano
e casamentos e, às vezes, realizavam-se bailes familiares. Aos Federal.
domingos, dias santos ou datas cívicas, as pessoas reuniam-se
para conversar, jogar futebol, entre outras atividades. Nas festas, A sociedade capixaba da Primeira República pode ser dividida
ajudavam-se mutuamente, enfeitavam suas casas e consumiam em três segmentos:
quitutes e bebidas. A sociabilidade semanal, entretanto, dava-
se nas missas dominicais e dias santos, quando todos se dirigiam - A elite, composta de dirigentes políticos, altos funcionários do
à igreja, ou ainda, como preferiam outros, nos botequins e estado, juristas, altos comerciantes e grandes proprietários de
quiosques, para longas conversas. terras;
- Um grupo intermediário, constituído de profissionais liberais,
médios e pequenos funcionários públicos, pequenos
comerciantes, professores, pequenos proprietários de terras e
operários;
- E o último segmento, o dos menos favorecidos, como artesãos,
meeiros, vendedores, empregadas domésticas, entre outros.

Graças à entrada de imigrantes a partir da segunda metade do


século XIX, o número de habitantes do estado aumentou
significativamente e continuou a crescer na Primeira República,
contando, sobretudo, com descendentes de italianos, alemães
e libaneses.

Segundo o Recenseamento Geral da República, em 1900


o Espírito Santo possuía uma população de 209.783
habitantes, com esmagadora predominância de católicos
e absoluta maioria vivendo nas zonas rurais, dedicando-se,
Café o Globo, Vitória, início do século XX. sobretudo, à produção cafeeira, com os desconfortos e as
carências que identificavam o interior brasileiro daquele
Também os teatros e cinemas – existentes em centros maiores – período histórico. Já por volta de 1908, Vitória contava
constituíam locais de divertimento da população. Em Vitória, o com uma população de 12.000 habitantes, e o Espírito
primeiro cineteatro foi o Melpômene, localizado no Largo da Santo, com cerca de 250 mil.
Conceição, hoje Praça Costa Pereira. Foi inaugurado em maio
de 1896 e tinha camarotes, poltronas e capacidade para 800 Muniz Freire
pessoas. Após um incêndio em 1924, foi demolido. O primeiro José de Melo Carvalho Muniz Freire, mais conhecido como Muniz
cinema de Vitória, feito de madeira e coberto com folhas de Freire (1861-1918), foi um advogado, jornalista e político brasileiro.
zinco, foi o Éden, inaugurado em 1907, com capacidade para Muniz Freire foi governador do estado do Espírito Santo por dois
150 pessoas. mandatos, entre (1892 e 1896; 1900 a 1904), além de senador
(1905 a 1914), vereador de Vitória (1883 a 1889), deputado
Havia poucos bares e restaurantes, onde se encontravam as provincial (1882 a 1883; 1888 a 1889) e deputado federal (1890 e
pessoas mais refinadas da sociedade, como políticos, escritores 1892).
e jornalistas. Os cafés, em geral, tomavam as calçadas com suas
mesas e cadeiras de ferro. Nas farmácias, faziam ponto os Em sua homenagem, foi dado o nome de "Muniz Freire" a um
médicos. município interiorano do sul do estado do Espírito Santo que faz

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História do Espírito Santo
parte da região do Caparaó. E em homenagem à sua esposa, exportação/importação do Estado – especialmente do café,
Colatina Soares de Azevedo, foi dado o nome de "Colatina" a nosso principal produto na época.
um município ao noroeste do estado do Espírito Santo.
O intuito de conferir à Vitória um caráter moderno, em negação
03.2 O desenvolvimento do Espírito Santo entre os inclusive à sua origem colonial, revelou-se ainda no século XIX,
com o projeto de um Novo Arrabalde, desenvolvido pelo
anos 30 e 40
engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, correspondendo a uma
Os ares republicanos e a força do café em muito contribuíram
expansão que, quintuplicava a área urbana da época.
com o Espírito Santo. Entretanto, mesmo com esse relativo
desenvolvimento comercial, Vitória não abrigava uma
população superior a 10 mil habitantes no início do período
republicano. Era uma cidade pequena e circunscrita à região
central da ilha.

Entre os morros e o mar, essa pequena população urbana se


exprimia no bairro que hoje é conhecido como Centro. Em seu
redor, situavam-se várias fazendas; as de Santo Antônio, Maruípe
e Jucutuquara. Por fim, ao norte da ilha localizava-se a região
das praias: local ermo, desabitado e de difícil acesso.

Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, mais conhecido como Saturnino


de Brito (1864-1929), foi um engenheiro sanitarista brasileiro que realizou
alguns dos mais importantes estudos de saneamento básico e urbanismo
Praia de Camburi, anos 40. em mais de 50 cidades do país, sendo considerado o "pioneiro da
Engenharia Sanitária e Ambiental no Brasil".
O primeiro presidente eleito da província, Muniz Freire (1892 a
1894), tinha como prioridade no seu governo “... transformar Todavia crises financeiras relacionadas à comercialização do
Vitória numa grande praça comercial.”. Os planos munistas café inviabilizaram a urbanização imediata da área e
pretendiam transformar o Espírito Santo, reelaborar a contribuíram para a retomada de investimentos públicos de
organização espacial da província e centralizar os menor porte sobre o próprio núcleo urbano existente ou sobre
empreendimentos na capital, sendo que para tanto também sua extensão em área contígua.
previa a reestruturação da rede ferroviária para ligar as regiões
produtoras à capital e a reconstrução do porto na cidade de Nas décadas seguintes, em continuidade a esse processo, foi
Vitória, com capacidade de competir com os outros centros desenvolvida uma série de projetos urbanísticos, planos e obras
exportadores e visando melhor assimilação da demanda públicas com a intenção de retificar, ampliar e alongar
prevista. percursos, além de criar novos espaços públicos sobre o traçado
colonial da cidade ou em seu prolongamento. As
transformações urbanas em Vitória, que ocorreram nas primeiras
décadas do século XX foram motivadas:

[...]muito mais pelo pensamento de progresso da elite


dominante que assumiu o poder na República e pelo
desejo de romper com um passado considerado
vergonhoso, do que propriamente pela procura de
soluções para dotar a cidade de melhorias para a vida de
sua população. [...] Assim, no governo de Jerônimo
Monteiro, as necessidades de mudanças na cidade
encontraram eco no pensamento da elite dirigente do
Estado.

Vários foram os projetos políticos que envolveram o


desenvolvimento do porto de Vitória, crucial na independência
comercial do estado do Rio de Janeiro, que realiza pelo seu
porto a exportação de grande parte do café produzido na
região sul capixaba, que tinha a cidade de Cachoeiro do
Itapemirim como seu centro econômico.
Inauguração do bonde elétrico, Vitória, 1991.
Os anos 30 até 1943, já na Era Vargas, durante o governo do
Interventor Punaro Bley, destacam-se os nomes de Mário Aristides
Estas ações apresentariam Vitória como um moderno centro
Freire, Dr. Christiano Ferreira Fraga, Professor Fernando Duarte
econômico. Em suma, intentava-se transformar Vitória num
Rabelo, Secretários de Estado que contribuíram no campo das
grande centro populoso e centralizador de todo o comércio de
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103
História do Espírito Santo
finanças, saúde e ensino, com construção de hospitais, escolas Foi onde primeiro começou a se evidenciar a diferenciação
e outras obras de interesse estadual. Cabe-nos lembrar que espacial, pois ali veio a predominar a localização de pessoas de
Punaro Bley foi um excelente executor do planejamento maior renda daquele momento. A consolidação de sua
nacional realizado por Getúlio Vargas, que não olhava para ocupação ocorre nos anos 40 e se estende pelas ruas Dom
Vitória em especial, mas sim para a função do estado do Espírito Fernando, Padre Nóbrega e Uruguai.
Santo na montagem da nova ordem política.
Nesse período, a região do comércio ocupa espaço específico
na cidade. Estendendo-se em linha reta nas proximidades do
João Punaro Bley (1900 - 1983) foi um administrador mar e do porto, o que facilitava o transporte de mercadorias,
público, militar brasileiro e o 21° governador do Espírito iniciava-se na antiga Rua da Alfândega, nas imediações do
Santo, de 1930 a 1943. Era filho do engenheiro João Bley Prédio Nicolleti (atual Glória), indo em direção ao Cais do
Filho e estudou no Grupo Escolar Teófilo Otoni, no Colégio Imperador, Rua 1º de Março, Rua do Comércio (atual Florentino
Militar de Barbacena e fez o superior na Escola Militar de Ávidos) e o Cais Schmith (próximo hoje da Loja Dadalto da
Realengo. Florentino Ávidos).

Administrou o estado do Espírito Santo por quase uma Jones dos Santos Neves (1950 a 1954), de forma mais objetiva
década e meia, sendo interventor federal de 1930 a 1935, que os anteriores, executou aterro destinado exclusivamente à
governador eleito pela Assembleia Legislativa estadual implantação de edifícios.
de 1935 a 1937 e novamente como interventor de 1937 a
1943. No período de 30 de janeiro de 1958 a 1º de Esplanada da Capixaba
fevereiro de 1960, comandou a Academia Militar das As obras da futura Esplanada da Capixaba constam o
Agulhas Negras. Entre 12 de abril e 18 de dezembro de enrocamento para a contenção do aterro, assentamento de
1962, foi Comandante da Artilharia Divisionária da 1ª blocos de concreto ciclópitico e muro de acabamento numa
Divisão de Exército, no Rio de Janeiro extensão de cerca de 1.000 metros, com a dupla finalidade de
corrigir o sistema de águas da bacia de evolução do Porto e
conquistar para a cidade uma área edificável na continuidade
da zona comercial de Vitória.

Será assim conquistada uma área de cerca de 96.000m², dos


quais 48.000m² destinados à abertura de amplas vias públicas e
os outros 48.000m² para edificação. As atuais Avenidas Princesa
Isabel e Getúlio Vargas se prolongarão, aquela [av. Princesa
Isabel] galgando [sic] o Forte de São João, próximo ao Club [sic]
Saldanha da Gama, esta [av. Princesa Isabel] ladeando-o e
seguindo pela avenida que será lançada, pela Orla do Mar.

João Punaro Bley (1900 - 1983) foi o 21° governador do Espírito Santo, de
1930 a 1943.

O número de edifícios aumenta e, também a atividade


portuária, com a conclusão das obras do porto. A vida cultural
se estabelece com o funcionamento do Teatro Carlos Gomes,
dos cinemas e das praças. Os aterros se sucedem na ampliação
da área habitável, 16 e no saneamento de regiões interiores da
ilha, sendo objeto de realização do Governo Estadual.

Ao primeiro importante aterro da ilha na área denominada


“Campinho”, atual Parque Moscoso, durante o governo
Jerônimo Monteiro, se sucederam muitos outros. No governo
Florentino Ávidos duas regiões foram aterradas no centro:
próximo à Rua do Comércio, atual Florentino Ávidos, entre a rua
General Osório e a Vila Rubim, o que resultou numa área de
quatro quarteirões apropriados ao mar. O outro aterro foi feito
próximo ao Forte de São João, em direção ao atual Colégio
salesiano e Av. Vitória, “abrindo caminho para a futura Av. Beira Obras de aterro na região da Esplanada Capixaba.
Mar.” No período da interventoria (1930 a 1943) aterrou-se parte
da frente do Palácio para construção de armazém e abertura Os terrenos surgidos desse importante e grande aterro eram de
de ruas. propriedade do governo e foram doados para construção de
prédios públicos, principalmente.
Nos anos 40, os aterros e a valorização das áreas urbanas da
capital devido ao crescimento da população e do comércio No entanto, somente na década de 1950 que se iniciou o
incitam “diferenciações espaciais nas áreas centrais de Vitória processo de consolidação da ocupação da área, fortemente
com reflexo nos preços dos terrenos.” A região do atual Parque influenciada pelas melhorias nas condições de transporte
Moscoso é exemplo disso. coletivo, com a implantação de linha de ônibus, e com a
ampliação de equipamentos complementares ao uso
residencial, como a construção de escolas. Foi justamente nesse

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História do Espírito Santo
momento, que surgiram os primeiros edifícios de baixa altura formação do mercado privado. A Esplanada da Capixaba
nessa região da cidade, reservada pela elite local como “... torna-se então, não só um estímulo decisivo à verticalização,
alternativa ao Centro como moradia”. como também, à sua concentração na área central, durante
seu desenvolvimento e expansão, nas décadas a seguir.

03.3 Os anos 60 e 70 no Espírito Santo


Durante as décadas de 1960 e 1970, a Capital do Estado recebe
novo impulso no desenvolvimento urbano, em consequência
das novas demandas econômicas do estado e da infraestrutura
e logística de transporte que facilita o acesso a capital.

Evolução cronológica do espaço do município de Vitória, destaque para


o desenvolvimento do aterro da COMDUSA (em azul claro) entre as
décadas de 70 e 80. Fonte: http://deolhonailha-
vix.blogspot.com.br/2010/08/historico-dos-aterros-da-baia-de.html

Medidas básicas de saneamento, construção de parque


público, praças, e de uma avenida principal, promovidas desde
o início do século, culminaram, na década de 1940, com o fim
das obras do porto e na década de 1950, com a realização do
extenso aterro da Esplanada da Capixaba, em área contígua e Aterro da Condusa, na região da Enseada do Suá, 1980.
inserida no ambiente geográfico do Centro.
O papel histórico da cidade comercial e prestadora de serviços
ganha uma outra dimensão. Deixa de absorver os efeitos da
produção agrícola por intermédio apenas das cidades-polos
(Colatina e Nova Venécia ao norte e Cachoeiro do Itapemirim
ao sul) e passa, depois de 60, a receber diretamente de qualquer
cidade do interior os seus impactos.

Em outras palavras, as mudanças ocorridas no campo rompem


o sistema de cidades então existente, dando maior
convergência para Vitória. Convergência não só para atração
de migrantes saídos do campo, como também para tornar
Vitória um centro de informações e de decisões para todo o
estado.

A década de 1960 marcou a consolidação da verticalização no


centro bem como o crescimento do comércio nessa área. A
principal consequência desse crescimento e a posterior exclusão
Obras do aterro da Esplanada, 1953. dos pobres do centro da cidade foi o início das invasões das
áreas de propriedade pública e privada normalmente próxima
Essas circunstâncias contribuem para o entendimento do ao centro. Essas invasões provocaram uma ocupação
surgimento da verticalização e sua concentração em desordenada que acabou contribuindo para a deterioração da
determinado sítio. De fato, a Praça Costa Pereira, as vida urbana da cidade.
proximidades do Parque Moscoso e a Avenida Florentino Ávidos
e adjacências são justamente os endereços dos primeiros O centro, assim, com a desvalorização dos imóveis, decorrente
edifícios com sete ou mais pavimentos em Vitória. desse processo, passa a ser local de moradia das classes média
e baixa. A ocupação dos morros se acelera, bem como a
Ao tomar como base a maioria dos vinte e dois edifícios transformação de muitos prédios em cortiços.
registrados no período, percebe-se que a origem da
verticalização de Vitória relaciona-se ao uso residencial, mesmo Paralelamente a essa ocupação desordenada ocorre a
considerando a característica comercial do Ed. Glória (Teatro ocupação dos espaços livres do centro, pelo setor informal do
Glória), de 1926, o primeiro A despeito da insignificante comércio, formado pelos trabalhadores desempregados e
participação do uso comercial dos edifícios construídos em subempregados que ficaram à margem do desenvolvimento do
Vitória até a década de 40, um amplo aterro feito entre 1951 e setor terciário no centro.
1955, contíguo à Praça Costa Pereira, produziu a criação de um
novo espaço caracterizado como comercial, projetado para [...] Isso tudo repercute na saída do centro, da elite que ali
receber somente edifícios e denominado Esplanada da residia e que se transfere para a ‘nova cidade’, construída
Capixaba. pelo setor imobiliário na zona norte, junto às praias, que se
torna a área nobre da cidade. Ainda na segunda metade
Com a produção desse novo espaço, o poder público mantém do século XX, a economia do Espírito Santo era totalmente
seu importante papel na atividade imobiliária, mas nesse caso, centrada no café.
ao contrário do ocorrido em momento anterior, favorece a

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História do Espírito Santo
Vale ressaltar que: desmatamento progressivo da mata original que levava, não só
a descaracterização da região, mas também o risco de
[...]por volta de 1950 a população urbana representava desabamentos de rochas que não tinham mais onde se fixarem.
apenas 20% da população total do Estado e que só a partir Nos anos 60 e 70, os fluxos migratórios de população de baixa
dos anos 70 vai-se sobrepor à rural, vindo a representar 67% renda se intensificaram e a fronteira da ocupação urbana sem
da população total em 1980. planejamento foi estendida dos morros para os manguezais que
circundam a ilha.
No Espírito Santo não existia segundo produto que pudesse
competir com o café, cultivado em grandes e pequenas [...] O contingente populacional dessa aglomeração
propriedades, essas últimas com o trabalho familiar, e a urbana que era de 111 mil indivíduos em 1959 e passara
produção destinada ao mercado externo. a 194 mil em 1960, cresceu para 386 mil em 1970, 706 mil
em 1980 e 1.063 mil em 1991.
Paralelamente à atividade agrícola, as indústrias do centro
hegemônico do país buscavam novos mercados, produzindo A nova dinâmica de articulação em que o Espírito Santo se
implementos para modernização do campo. O consenso insere, não se dá apenas pelas mudanças ocorridas no campo,
vigente acreditava que a agricultura "atrasada" constituía fator mas também pelo novo papel que assume as cidades, no caso
de entrave para o desenvolvimento. Era preciso, segundo esse Vitória, de concentrar o núcleo do processo produtivo, que vai
pensamento corrente na época, modernizar o campo, seja com deixar de estar nas atividades rurais, para se estabelecer na
o uso de novas técnicas, isto é, desenvolvimentos de máquinas indústria.
e insumos, seja promovendo mudanças nas relações de
trabalho, para que se pudesse aspirar a qualquer alternativa de
progresso.

No Espírito Santo as mudanças no campo não foram imediatas,


nem ocorreram pelo intenso emprego das máquinas. O café
aqui era plantado sem técnica (morro abaixo), era velho e de
baixa produtividade. Com a crise nos preços internacionais do
produto a partir de 1956, a política federal de erradicação dos
cafezais, a primeira iniciada em 1962 e a segunda em 1966, teve
grande aceitação no Estado, visto que ao produtor não restava
alternativa.

A forma como era cultivado o café e os preços internacionais


desfavoráveis acarretaram mudanças na agricultura capixaba.
Foi no bojo dessa crise que se processaram mudanças no
campo. O café deu lugar à pecuária, ao reflorestamento e mais
tarde à cana-de-açúcar, que trouxeram concentração fundiária
e mudanças nas relações de trabalho, com a criação de um
acentuado êxodo rural. Aterro da COMDUSA, década de 80. Fonte:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=69820269
Na cidade a alternativa perseguida para a recuperação
econômica do Estado foi a via da industrialização. Se, a partir da Os grandes projetos industriais nos anos 60 e 70
década de 60, se inicia a modernização do campo, a capital Na década de 70, dentro da linha desenvolvimentista de
capixaba passa a ter acesso fácil e rápido com as demais descentralização da produção industrial da ditadura militar,
cidades do país. Rompem-se os limites das fronteiras regionais. grandes investimentos modificaram profundamente a estrutura
Vive-se o momento da instalação de empreendimentos de fora socioeconômica e territorial do estado do Espírito Santo.
no Estado, seja do setor industrial, seja do comercial ou de
prestação de serviços. A implantação dos grandes projetos industriais nos
anos 60 e 70, desencadeou a concentração urbana
Nesse período, o Espírito Santo beneficia-se das propostas do II na Grande Vitória. Na década de 60 houve aumento
Plano Nacional de Desenvolvimento, de descentralização de área construída em Vitória, com discretas
industrial, criado pelo governo federal, que tem como estratégia manifestações depois da criação do BNH, em 1964,
conter os fluxos migratórios para os grandes centros, mas nunca foi tão grande o crescimento de
industrializando as cidades de porte médio. As lideranças construções como entre 75 e 82.
estaduais se articulam e conseguem atrair a implantação dos
Grandes Projetos Industriais para a Grande Vitória. Os chamados Grandes Projetos Industriais (Companhia Vale do
Rio Doce, Companhia Siderúrgica de Tubarão, Aracruz Celulose
As mudanças no campo, desencadeadas com a erradicação e Samarco Mineração), localizados no litoral e notadamente na
do café na década de 60, e o processo de industrialização capital Vitória e seu entorno (parte da atual Região
iniciado a seguir, vão dar os traços do novo contexto que o Metropolitana da Grande Vitória), imprimiram desde o início de
Espírito Santo passa a viver. sua efetivação e ao longo do tempo, um caráter de forte
concentração da riqueza gerada no estado em uma pequena
A Grande Vitória se apresentou como alternativa mais viável, porção de seu território.
dentre as cidades do Estado, como opção de vida e
oportunidade de trabalho para os que deixaram o campo e Além disso, a mudança na estratégia de produção e,
viram em busca dos empregos que seriam gerados pela consequentemente, da localização dos empregos fez surgir
produção industrial concentrada na Região Metropolitana de novos eixos viários e influenciou a transformação da ocupação
Vitória. do território de modo a produzir um espraiamento urbano com
acentuadas discrepâncias em seu interior, sobretudo geradas
A ocupação paulatina dos morros centrais iniciada na década pela pressão sobre as áreas ambientalmente frágeis, única
de 50, que são mais de 70% do território da ilha de Vitória, sofre opção de moradia dos menos favorecidos.
um aumento vertiginoso nos anos 60, 70 e 80, com

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História do Espírito Santo
Entre 1969 e 1979 foram construídas seis usinas de pelotização de por Vitoria, Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana não era suficiente
minério de ferro pela Companhia Vale do Rio Doce, no Espírito para comportar a massa populacional que ali buscou se
Santo, com investimento de US$ 1 bilhão. em 1969 foi feita a estabelecer.
descoberta de petróleo no campo de São Mateus, sendo a
exploração iniciada em 1973, quando também se faz a Se por um lado isso proporcionou a solução integrada de alguns
descoberta de gás natural, que passa a abastecer as indústrias problemas, como o planejamento da oferta de transporte
da Grande Vitória através de um gasoduto concluído em 1984. coletivo metropolitano com tarifação única, levou igualmente à
ocupação de áreas ambientalmente frágeis, de forma
diferenciada em cada um desses cinco municípios, dentro de
um panorama mais abrangente de exclusão dos mais pobres à
oferta habitacional no período de maior crescimento
demográfico.

Complexo de Tubarão, década de 60.

Completava o quadro de investimentos principais a


implantação e operação da Companhia Siderúrgica de
Tubarão – CST, atual Arcelor Mittal, em 1983 no município de
Serra, com investimentos da ordem de U$ 3 bilhões e suas
posteriores ampliações.

Esses fatores constituíram os principais elementos estruturantes do


desenvolvimento do Espírito Santo, no qual a Região
Metropolitana da Grande Vitória, criada oficialmente em 1995,
assumiu o papel de principal centro urbano do estado, capaz de
exercer influência para além de sua área conurbada,
configurando novas interações de atividades sobre o território e
a criação de novos vínculos entre várias localidades mais
afastadas e a Capital.

Se em 1960 o recenseamento nacional contou pouco mais de


216 mil habitantes nos sete municípios que atualmente
compõem a RMGV, no Censo 2010 foi registrada uma
população de quase 1,7 milhões de habitantes, sendo que 90%
desse total apresenta-se concentrado nos quatro maiores
municípios conurbados, a saber, Vila Velha, Serra, Cariacica e
Vitória. Os dados mais recentes apontam que a RMGV
concentra cerca de 64,7% do PIB (em 2008) e 49,68% da
população (em 2010) estadual em 5% de seu território.

Trem de passageiros Vitória a Minas na estação de Belo Horizonte,


excepcionalmente tracionado pela G-16 n° 605. Foto: Flávio F. Lage

Na esteira dessas mudanças, o espaço urbano sofreu


modificações significativas: a expansão da malha existente, a
pressão por novas áreas de moradia, infraestrutura e transportes.
A denominada Microrregião Homogênea de Vitória, composta
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107
História do Espírito Santo
Construção da 3ª Ponte
A Terceira Ponte, oficialmente Ponte Deputado Darcy Castello
de Mendonça, liga as cidades de Vitória e Vila Velha, no Espírito
Santo. Foi a maior obra já realizada no estado e uma das maiores
do Brasil, tornando-se um dos cartões-postais das duas cidades e
do estado.

Vista panorâmica da 3ª Ponte.

O povo apelidou-a de Terceira Ponte logo que foi anunciado o


projeto de sua construção, devido às duas outras pontes que já
existiam anteriormente ligando Vitória a Vila Velha: Ponte
Florentino Ávidos (conhecida como Cinco Pontes) e Segunda
Ponte (Ponte do Príncipe).

A primeira ponte (Florentino Ávidos), inaugurada em 1928, ligou


o coração de Vitória com os fundos de Vila Velha. A segunda,
aberta em 1979, trouxe o tráfego continental para o miolo da
capital, Vitória.

A Terceira Ponte é a quinta maior ponte, em extensão, do Brasil.


Foi construída para desafogar as duas primeiras pontes. Possui
3,33 km de extensão, vão principal com 70 m de altura e 260 m
de um pilar ao outro, permitindo assim o acesso de navios de
grande porte à baía de Vitória.

Obras de construção da 3ª Ponte, anos 1980.

É a principal ligação de Vitória com Vila Velha e o litoral sul do


Espírito Santo e depois de sua construção, Vila Velha passou por
um intenso crescimento na construção civil, dando outra
dimensão à sua então condição de cidade-dormitório.

O primeiro pilar da Terceira Ponte foi concretado em 1978,


durante o governo de Élcio Álvares e foi concluída em 1989, no
governo de Max Mauro. A ponte iniciou operando com 12 mil
carros por dia, e em outubro de 1992 já eram 15.964 por dia, em
média. Atualmente passam pela Terceira Ponte, diariamente,
cerca de 58 mil veículos, contando com uma estrutura moderna
e eficiente, que compreende iluminação, sinalização, serviço de
emergência médica e socorro mecânico. Toda a operação da
Terceira Ponte é monitorada por um moderno Centro de
Controle Operacional.

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108
História do Espírito Santo
Devido ao aumento do número de veículos em circulação, Governo Albuíno Azeredo
longos congestionamentos se tornaram comuns na ponte, Formado em engenharia pela Universidade Federal do Espírito
sobretudo nos horários de pico. Santo, Albuíno Azeredo nasceu no povoado de Morro de Argolas
na zona portuária de Vila Velha. Antes de ingressar no ensino
Terceira Ponte em números: superior trabalhou como vendedor ambulante, comerciante e
- 61 pilares; peão de pedreira com passagem pelo Atlético de Vitória onde
- 3,33 km de extensão; foi jogador de futebol. Estagiário da Companhia Vale do Rio
- Vão central com 70 metros de altura (segundo maior Doce, trabalhou para a referida empresa após a graduação e a
do Brasil); seguir fundou a ENEFER, empresa de consultoria no ramo do
- Vão livre com 260 metros (entre um pilar e outro); transporte ferroviário. Dividindo suas atividades empresariais com
- 250 postes e 250 lâmpadas instaladas; a política, integrou o MDB e também o PMDB foi nomeado
- Desde a sua inauguração até os dias de hoje, o fluxo Secretário de Planejamento pelo governador Max Mauro cujos
de carros que trafega pela Terceira Ponte teve um irmãos eram sócios de Azeredo em sua empresa.
crescimento superior a 450%;
- Praça de pedágio com 15 pistas, sendo 12 pistas
(manuais) e 3 automáticas (arrecadamento
automático debitado em aparelho eletrônico no
veículo);
- Dois painéis de mensagens variáveis agilizam a
comunicação da empresa com os usuários,
informando principalmente sobre as condições de
tráfego. Estes painéis também são utilizados para a
comunicação de relacionamento com os usuários.

03.4 Os Governos capixabas na redemocratização

Governo Max Mauro


Governador Albuíno Azerefo
Em 1986 foi eleito governador do Espírito Santo filiando-se ao PDT
no curso do mandato e em 1990 apoiou o engenheiro Albuíno
Azeredo seu sucessor no Palácio Anchieta derrotando em Rompida a convivência política entre o governador capixaba e
os Camata no início dos anos noventa tanto Max Mauro quanto
segundo turno o senador José Ignácio Ferreira (PST). Em 1991
Albuíno Azeredo ingressaram no PDT e nisso Azeredo foi eleito
recebeu a Condecoração do Mérito Universitário outorgada
governador do Espírito Santo no segundo turno das eleições de
pela Universidade Federal do Espírito Santo e migrou para o PMN
1990 derrotando o senador José Ignácio Ferreira após um início
perdendo a eleição para governador em 1994 no primeiro turno.
de campanha onde suas intenções de voto registradas pelas
pesquisas de opinião sequer chegavam a cinco por cento. Ao
Max Freitas Mauro (1937) é um médico e político brasileiro.
lado de Alceu Collares foi um dos primeiros governadores negros
Foi prefeito de Vila Velha, deputado estadual, três vezes
da história do país.
deputado federal e foi eleito governador do Espírito Santo
em 1986. É pai do também político Max Filho.
Após cumprir integralmente seu mandato retornou às suas
atividades empresariais e em 1997 foi nomeado Secretário de
Foi eleito deputado federal, pela terceira vez em 1998 pelo PTB.
Planejamento do município de Cariacica pelo prefeito Dejair
Em 2002, pela coligação PTB/PDT disputou novamente o
Camata, cargo que deixou para se candidatar a governador
governo, sendo derrotado ainda no 1º turno para Paulo Hartung,
alcançando 41,50% dos votos válidos. Sucessivas derrotas viriam em 1998 num pleito onde foi derrotado exatamente por José
Ignácio, agora filiado ao PSDB.
em seguida: em 2006, para Renato Casagrande em disputa ao
Senado, e em 2010, para deputado estadual. Desde 2010, não
Convidado por Anthony Garotinho, então governador do Rio de
disputou mais nenhuma eleição.
Janeiro, presidiu a Rio Trilhos (responsável pelo metrô) e a
Companhia Fluminense de Trens Urbanos (FLUMITRENS)
retornando ao Espírito Santo em 2002 para se candidatar a
deputado federal pelo PMDB num pleito onde figurou como
suplente. Quando Rosinha Matheus, esposa de Garotinho,
assumiu o governo fluminense esta nomeou Albuíno Azeredo
presidente da Companhia Estadual de Engenharia, Transportes e
Logística (CENTRAL) e também o fez retornar à Secretaria de
Transportes.

Governo Vitor Buaiz


Vitor Buaiz formou-se em medicina pela Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES) em 1967.Tem especialização em
Gastrenterologia e Nutrição pela UFRJ. Na universidade atuou
ativamente no movimento estudantil. No exercício de sua
profissão como professor exerceu dezenas de cargos na
academia e participou de um leque variado de seminários e
cursos. De 1970 a 1973 ocupou a Coordenação do Programa de
Controle da Esquistossomose no Espírito Santo. Foi chefe do
Departamento de Clínica Médica da UFES. Militou no Sindicato
dos Médicos do ES, tendo sido um dos seus fundadores e seu
Max Freitas Mauro Com O Pai Saturnino Rangel Mauro Na Câmara primeiro presidente em 1979.
Municipal De Vila Velha

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109
História do Espírito Santo
Foi vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos e
Secretário Geral da Associação Médica do ES, por duas vezes. A atuação da Assembleia legislativa impôs pressões para a
Participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em aprovação de leis e restringiu a capacidade do seu governo
1980. Nos anos seguintes participou ativamente no movimento administrar as contas públicas. Há também críticas de que a
das Diretas Já. Ainda em 1979 foi um dos líderes da campanha própria equipe de governo não fez a leitura devida da difícil
vitoriosa contra a instalação de um depósito de lixo atômico no realidade que se enfrentava no início do mandato e por isso
estado. De 1990 a 1992 foi o Coordenador do Comitê de Defesa concedeu um reajuste salarial aos servidores públicos. Mas a
da Democracia e contra a Violência. Em 1993 foi membro da força desse argumento para a crise é duvidosa. Pesquisadores
Coordenação Nacional da Campanha contra a impunidade. demonstraram que essa medida não teve a importância que
muitos atribuíram à crise daquela época.
Vitor Buaiz (1943) é um médico, professor e político
brasileiro. Foi deputado constituinte, prefeito de Vitória Mas a avaliação justa do governo estadual da quadra 1995-1998
(1989-1992) e governador do Espírito Santo no requer que se considere a realidade da conjuntura política e
quadriênio 1995-1998. econômica da época. Na economia, o fim do longo período
inflacionário que se vivia determinou a obrigação de fortes
Foi eleito deputado federal em 1986 e tornou-se um dos ajustes nas finanças das empresas, com impactos negativos
deputados constituintes. Em 1988 foi eleito prefeito de Vitória. As sobre a arrecadação de tributos. Nas finanças estaduais essa
avaliações que são feitas sobre a sua gestão à frente da exigência de um ajuste real das contas foi seguida também do
Prefeitura são predominantemente elogiosas. Há um fim de uma alternativa de administração do caixa até então
reconhecimento de que foi um período de realizações muito utilizada que era as operações bancárias de ARO –
importantes para a cidade, notadamente nas áreas de Antecipação de Receitas Orçamentárias -.
assistência social, educação, cultura e saneamento. Também há
o registro de que durante seu mandato como prefeito de Vitória, Para agravar ainda mais a situação financeira houve a
houve um ambiente de efetiva participação da sociedade civil aprovação em 1996 da Lei Complementar 87, conhecida como
e dos servidores públicos. “Lei Kandir”, que isentava de tributos as exportações. Essa
medida impactou fortemente a economia estadual, a qual tem
uma forte relação com o comércio exterior.

No período houve um crescimento fortíssimo das importações


pelos portos capixabas. Mas os ganhos tributários com aquele
crescimento não ocorreram por causa do sistema FUNDAP que
praticamente absorvia por completo a parcela da receita
destinada ao Estado. O atraso no pagamento dos salários dos
servidores foi o maior complicador para o governo estadual. Essa
realidade levou à situação do governador não se candidatar
para um novo mandato, tendo, à época, apoiado o seu vice-
governador Renato Casagrande (PSB), que perdeu a eleição
para o Senador do PSDB José Inácio Ferreira.

O governador Vitor Buaiz buscou saídas junto ao governo


federal. Mas o tratamento dado ao Estado foi marcado pela
frieza e distanciamento. A relação com os ministros era difícil,
com destaque para a forma rude e até mesmo desrespeitosa
adotada pelo então Ministro do Planejamento José Serra nas
interlocuções travadas com o governador Buaiz. Em 1995, o
Estado defendia seus interesses enquanto acionista minoritário
da ESCELSA, a concessionária de distribuição de energia elétrica,
que havia sido parcialmente alienada pelo governo federal
ainda no governo Albuíno Azeredo. As negociações na época
foram muito difíceis, alheias a um republicanismo constitucional.
Renato Casagrande (esquerda) e o Governador Vitor Buaiz.
O Presidente Fernando Henrique Cardoso pouco fez pelo Estado
Como prefeito, participava das assembleias, ouvia as em todos os quatro anos. Antes, ele havia apoiado a eleição de
reivindicações dos servidores e estava sempre aberto ao Buaiz em 1994 e tal apoio foi muito importante para a sua vitória.
diálogo. Segundo alguns depoimentos de servidores que Porém, ao longo dos quatro anos, FHC efetivamente não teve
trabalharam na época, esse foi o melhor momento para se motivos para visitar o ES. Em uma primeira vez esteve por poucas
trabalhar como servidor público municipal e o prefeito é tido horas no início de obras de um terminal portuário privado em Vila
como o melhor que a capital capixaba já teve Velha que era, inclusive, financiado pelo governo estadual. De
outra vez, o Presidente apenas fez uma breve parada no
Em 1994 foi eleito governador do estado do Espírito Santo para o aeroporto, quando estava a caminho de uma visita à ilhas de
mandato 1995 -1998. Sua eleição ocorreu em 2º turno, tendo Trindade e Martin Vaz, arquipélago localizado a 1.200 kms da
disputado contra o candidato do então PFL Cabo Camata. costa capixaba e pertencente ao município de Vitória.

A avaliação de sua administração à frente do governo estadual O apoio das lideranças políticas capixabas da época abriu a
é controversa, sendo objeto de elogios e críticas. Foi um período possibilidade do estado tomar empréstimos junto ao BNDES. Tais
conturbado para a gestão governamental. embora tenha créditos impuseram obrigações rígidas para alienação de ativos
havido realizações importantes. Uma referência muito difundida da empresa estadual de habitação e da empresa de
na imprensa estadual foi a de que o governo não conseguiu dar saneamento.
conta dos desafios encontrados. Em seu governo houve um
longo período de litígio com os deputados estaduais e lideranças Apesar das profundas dificuldades e dos titubeios na gestão,
do seu próprio partido. Essa ambiência conflituosa levou o durante o governo Vitor Buaiz houve realizações importantes
governador a sair do partido do qual tinha sido fundador. para o desenvolvimento do Espírito Santo.

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110
História do Espírito Santo
No seu governo o Bandes instituiu um amplo programa de Governo Paulo Hartung
financiamento a pequenos produtores rurais e Paulo Hartung é formado em Economia pela Universidade
microempreendedores. O PROPEN – Programa Pequenos Federal do Espírito Santo (UFES). Ligado ao Partido Comunista
Negócios - foi classificado como uma referência nacional. O Brasileiro (PCB) na época da clandestinidade da legenda
governo estadual fortaleceu as empresas capixabas do setor durante a ditadura, Hartung foi eleito o primeiro presidente do
metalmecânico nos projetos de investimentos da então Aracruz Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFES.
Celulose, CST e Vale. Tais ações foram importantes, em um
momento delicado da economia brasileira com restrições de
crédito privado.

Naquele período o ES foi o primeiro estado a aderir ao FUNDEF


(Emenda Constitucional 14/96) assegurando recursos financeiros
para educação e terminando de uma vez por todas com atrasos
nos pagamentos dos professores e demais profissionais da área.

A única concessão pública rodoviária estadual, cujo objeto foi a


3ª Ponte ligando a capital Vitória ao município de Vila Velha e o
trecho da estrada até Guarapari foi feita naquele período. Há,
em torno do fato, elogios em função das melhorias ocorridas e
críticas em função dos valores cobrados de pedágio. Mas foi
essa a única concessão estadual até hoje.

Uma outra conquista importante em termos de obras foi a


conclusão da ponte sobre o rio Doce, a qual vinha se arrastando Paulo César Hartung Gomes
havia mais de dez anos. No período de seu governo foi
formalizado o ingresso da região norte do Espírito Santo na Em 1979, participou ativamente do processo que reestruturou a
SUDENE. União Nacional dos Estudantes, tendo atuado como organizador
da bancada capixaba e na mobilização dos delegados em
todo o país para o congresso de reconstrução da entidade que
Governo José Ignacio Ferreira representa todos os estudantes brasileiros, realizado em Salvador,
José Ignacio Ferreira (Vitória, 18 de maio de 1939) é um capital do estado da Bahia.
advogado e político brasileiro. Foi governador do Espírito Santo
de 1999 até 2003. Paulo Hartung filiou-se ao Partido do Movimento Democrático
Brasileiro em 1979, e deu assim início à sua trajetória político-
Filho de Aristóbulo Innocêncio Ferreira e de Jurandi partidária. Aos 25 anos de idade, elegeu-se deputado estadual
Leite Ferreira, graduou-se na Faculdade de Direito do para um mandato de quatro anos (1983 a 1987), destacando-se
Espírito Santo (posteriormente integrada à UFES). Foi como o mais novo parlamentar da Assembleia Legislativa do
presidente da OAB seccional do Espírito Santo, por 2 Espírito Santo.
mandatos consecutivos: de 1979 a 1981 e de 1981 a
1983. Expirado o mandato, conseguiu reeleger-se em 1986 para um
novo quadriênio (1987 a 1990) e participou da elaboração da
Foi vereador (1963-1967), deputado estadual (1967-1969), Constituição Estadual. Em sua passagem pela Assembleia,
senador (1983-1991 e 1995-1998) e governador do Espírito Santo preocupou-se com a defesa do funcionalismo público, e tratou
(1999-2002) pelo PSDB – partido que ajudou a fundar. Terminou o de temas fundamentais à sociedade, como meio ambiente,
mandato pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), atual saúde, educação, transporte público, dentre outros.
Podemos.
Em 1990, Paulo Hartung conquistou o mandato de Deputado
Como candidato a governador em 1998 foi vencedor em 76 dos Federal (1991 a 1995), com a maior votação dentro do Município
77 municípios capixabas com 723.853 votos. Entre seus de Vitória, capital do estado. Sua relevante atuação fez com
adversários estavam o ex-governador Albuíno Cunha de que assumisse o cargo de vice-líder do Partido da Social
Azeredo (1991-1995) e o governador Renato Casagrande (2011- Democracia Brasileira na Câmara dos Deputados, cuja
2014, 2019-atual). liderança era exercida por José Serra, então deputado por São
Paulo.
Após realizar um governo impopular, acusado de corrupto,
terminou seu mandato desgastado. Encerrou em 2002 sua Em 1992, elegeu-se Prefeito de Vitória (1993 a 1997). No início de
trajetória na vida pública, não mais ocupando, desde então, 1997, passou o cargo ao seu sucessor eleito, Luiz Paulo Vellozo
qualquer cargo eletivo. Lucas, também do PSDB, e participou, nos Estados Unidos, a
convite da Embaixada daquele país, do programa intensivo
sobre Administração Pública e Sistema Políticos nos Estados
Unidos.

Após o retorno ao Brasil, em junho de 1997, foi nomeado pelo


então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, seu
correligionário de sigla partidária, a Diretoria de
Desenvolvimento Regional e Social do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social). No primeiro ano de
gestão, a pasta investiu 1,4 bilhão de reais em projetos sociais.

Em 1998, candidatou-se ao Senado da República e foi eleito


com 780 mil votos, a maior votação que um político já recebeu
no Espírito Santo.
Governador José Inácio Ferreira (1999-2003).

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111
História do Espírito Santo
Em 2002, filiado ao Partido Socialista Brasileiro foi eleito, ainda no "As masmorras de Hartung"
primeiro turno, governador do estado. Em 2005, retornou ao Conforme amplamente noticiado pela mídia nacional e
PMDB, se reelegendo em 2006 com a maior votação percentual internacional, escandalosos presídios foram criados durante a
do país. Após deixar o governo, voltou a trabalhar como gestão de Paulo Hartung como governador do Estado do ES. Na
economista, consultor e palestrante. época, o escândalo ficou conhecido como "As masmorras de
Hartung", e teve repercussão até na ONU.
Em 2014, Paulo Hartung, ainda no PMDB, foi eleito governador
pela terceira vez. Disputou o governo com o então governador Benefícios fiscais
Renato Casagrande (PSB). Hartung tomou posse como A decisão do presidente do TJES Pedro Valls Feu Rosa, relaciona
governador do estado do Espírito Santo em 1º de janeiro de 2015. Hartung aos benefícios fiscais concedidos nos últimos 10 anos a
Em 9 de julho de 2018, o governador anunciou a secretários que empresas localizadas no Estado e o valor de eventual dívida da
não disputaria um novo mandato e que ''passou a hora de administração em decorrência dos incentivos. Segundo o texto,
passar o bastão". Desfiliou-se do MDB em 7 de novembro de 2018, todas as operações realizadas, num período de 90 dias,
pouco antes do fim do mandato. resultaram, estimativamente, em um lucro de 50 milhões de reais
para os envolvidos. Pedro Valls também pede a apuração de
Greve da Polícia Militar do Espírito Santo de 2017 uma operação de compra de terrenos e incentivos fiscais dados
Em fevereiro de 2017 foi internado no Hospital Sírio Libanês à empresa Ferrous em sua instalação em Kennedy.
em São Paulo para uma cirurgia de ressecção de tumor de
bexiga. Dois dias antes, não tendo passado o cargo de Negociação de apartamento de luxo
Governador do Estado do Espírito Santo ao seu vice César Conforme noticiado na mídia local, em maio de 2011, Hartung e
Colnago, uma greve dos Policiais Militares se instalava, sua esposa compraram um apartamento de luxo em Vitória pelo
levando a uma grave crise na Segurança Pública do valor de R$ 48 mil. No entanto, no mesmo dia, conforme consta
Estado do Espírito Santo, sendo entregue cinco dias depois no Livro Registro Geral nº 2, matrícula 59.364, do 2ª Cartório de
o comando da Segurança Pública do ES às Forças Registro de Imóveis de Vitória, houve uma nova transação de
Armadas, antes nas mãos do Secretário André Garcia. venda do apartamento, desta vez, por R$ 2,1 milhões. Uma
valorização de R$ 2 milhões em 24 horas [19].
Em 9 de fevereiro de 2017, um panelaço foi feito por
moradores de bairros de Vitória durante a entrevista do Reeleição
governador Paulo Hartung à Miriam Leitão, na Globonews. Na votação realizada no dia 1º de outubro de 2006, Paulo
No dia seguinte, em entrevista à Globo News o ex- Hartung foi reeleito governador do Espírito Santo tendo
secretário nacional de segurança José Vicente da Silva alcançado a maior votação percentual do país para o cargo.
Filho disse que a hospitalização de Paulo Hartung sem antes De acordo com os resultados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral,
ter passado o cargo ao seu vice facilitou que o movimento Hartung foi reeleito com 1.326.175 votos (77,27% dos votos
se espalhasse por todo o Estado sem um comando do válidos), seguido pelo candidato do PDT, Sérgio Vidigal, que
governo estadual para interromper ou desmobilizar a greve obteve 373.474 votos (21,76% dos votos válidos).[20]
da Polícia Militar.
Acidente de Helicóptero
Um helicóptero da Polícia Militar do Espírito Santo com o
governador do Espírito Santo caiu, na tarde de 10 de agosto de
2018, dentro dos limites de Domingos Martins, região Serrana do
Espírito Santo. Paulo Hartung não se machucou e a primeira-
dama, que também estava na aeronave, teve luxações leves na
perna. O chefe da Seção de Segurança Operacional da
Secretaria da Casa Militar, do Núcleo de Operações e Transporte
Aéreo (Notaer), major Paolo Quintino, explicou que a aeronave
se desgovernou ao se aproximar para pouso e realizar manobra
de campo. Um dos rotores, que é a parte de trás do helicóptero,
colidiu com o solo. O major ainda explicou que os pilotos
auxiliaram os passageiros para que todos saíssem do local o mais
rápido possível. A aeronave, a princípio, teve perda total.

"Clima de tensão durante protesto de moradores em frente ao


Comando Geral da Polícia Militar do Espírito Santo em Maruípe".
Tânia Rêgo/Agência Brasil

Em outubro de 2018 o Ministério Público do Estado do


Espírito Santo emitiu portaria para investigar a
responsabilidade do alto comando do governo do estado
na paralisação da Polícia Militar. Entre os investigados estão
Paulo Hartung, o então secretário de segurança pública
André Garcia e o ex-comandante da PM Nylton Rodrigues
Filho. Em nota, a Associação de Cabos e Soldados (ACS)
disse que "espera que o MP encontre as causas da
paralisação, pois um evento daquela magnitude só ocorre
pela omissão Estatal".

Em outubro de 2018 o então candidato a governador que Sobre o acidente, o deputado Sérgio Mageski criticou o uso da
veio a ser eleito, Renato Casagrande, declarou à Folha de aeronave para, segundo ele, o governador passar o fim de
S. Paulo que, em relação aos militares punidos em virtude semana nas montanhas. Em discurso na assembleia legislativa,
do movimento paredista, o que for perseguição política Mageski afirmou que o governador Paulo Hartung não se
será revertido. encontrava em agenda oficial e por tanto, foi pego no pulo do
gato. O deputado solicitou informações à Casa Militar sobre os
planos de voos dos helicópteros que servem ao governo, para

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112
História do Espírito Santo
saber as origens, destinos e objetivos, porém, recebeu como 82,30% dos votos válidos. Diante disso, renuncia ao mandato de
reposta apenas que não existem planos de voos. senador e passa a gestão para sua suplente, Ana Rita Esgário.

Em 16 de agosto de 2018 o portal de notícias Gazeta Online Em 2014, disputou a reeleição para o cargo de governador do
exibiu reportagem com o título "Governo do Estado omite Espírito Santo tendo como seu candidato a vice o então
informações sobre uso de helicóptero por Hartung". Segundo a presidente da Câmara Municipal de Vitória Fabrício Gandini do
reportagem, em janeiro de 2018, a fim de saber como as PPS. Obteve 39% dos votos e foi derrotado no primeiro turno pelo
aeronaves do estado são utilizadas pelo governo, o jornal ex-governador Paulo Hartung, que venceu com 53% dos votos.
Gazeta online solicitou ao executivo o detalhamento das
viagens institucionais, quanto custam, quem foi transportado e Em 2015, o Conselho Curador da Fundação João Mangabeira
quais os destinos desses traslados pagos com o dinheiro público. (FJM) elegeu, por unanimidade, Renato Casagrande, como o
No entanto, mesmo tendo acionado o executivo por meio da Lei seu novo presidente, em substituição a Carlos Siqueira, que
de Acesso à Informação, os dados solicitados foram omitidos, os assumiu em outubro o cargo de presidente nacional do Partido
prazos não foram respeitados. O jornal afirmou ainda que, Socialista Brasileiro.
segundo especialistas, houve um descumprimento da lei por
parte do governo. Além disso, elegeu-se no primeiro turno em 2018, como
governador do Espírito Santo, com cerca de 55% dos votos.
Governo Renato Casagrande
José Renato Casagrande (1960) começou a participar Projetos de lei e outras proposições
ativamente da política como representante do Centro Em 2003, Casagrande foi um dos propositores da PEC 215/2003,
Acadêmico e do movimento estudantil na Universidade Federal transformada na emenda constitucional 101/2019, que discorre,
de Viçosa (UFV), na qual cursou Engenharia Florestal entre os com o acréscimo do § 3º ao art. 42 da Constituição Federal,
anos de 1979 e 1983. sobre a possibilidade dos militares dos Estados, do Distrito Federal
e dos Territórios possuírem mais de uma profissão remunerada,
No mesmo período, Casagrande iniciou sua trajetória no Partido mediante cargo de professor, cargo técnico ou científico ou,
Comunista do Brasil, passando também pelo PMDB e PSB durante ainda, cargo privativo de profissionais de saúde.
a década de 1980. Além disso, adentrou no cargo de Secretário
de Desenvolvimento Rural da Prefeitura Municipal de Castelo de Renato Casagrande propõe, em 2004, um projeto de alteração
1984 a 1987. Ainda em 1987, iniciou os estudos na Faculdade de na Lei nº 8.010/1990, que reformula o texto dos artigos 1º e 2º e
Direito de Cachoeiro de Itapemirim, formando-se em 1991. acrescenta o item "f" ao inciso I do art. 2º da Lei nº 8.032/1990. As
Também participou da fundação e se tornou o primeiro modificações, transformadas na Lei Ordinária 10964/2004,
presidente da Associação Acadêmico Castelense (AAC). trataram de questões referentes às importações de bens
destinados a pesquisa científica e tecnológica, objetivando a
isenção ou redução de impostos.

Também em 2004, Casagrande discorre sobre o projeto que


altera o caput e revoga o § 1º do art. 3º do Decreto Legislativo
nº 7/1995, vedando a ajuda de custo (Jetom) de membros do
Congresso Nacional no que se refere à sessão legislativa
extraordinária.

Casagrande também colaborou para apresentação da CPI


(Resolução da Câmara dos Deputados 31/2005) que objetivava
a investigação de organizações criminosas do tráfico de armas
e para a PEC 416/2005, instituída como a emenda constitucional
71/2012, implementando o art. 216-A à Constituição Federal, que
trata da criação de um Sistema Nacional de Cultura.

Em 2006, em seu primeiro ano de mandato como senador,


José Renato Casagrande, 47.º e 49.º Governador do Espírito Santo. Casagrande assumiu a tarefa de relatar o processo de
investigação do senador Renan Calheiros como membro da
Filiado ao Partido Socialista Brasileiro, elegeu-se deputado comissão de Ética e Decoro Parlamentar, alegando ser favorável
estadual (1991-1994). Em 1994, foi indicado pelo partido para às investigações sobre as denúncias de falta de decoro
compor a chapa do Governo do Estado tornando-se vice- parlamentar do ex-presidente do senado. Diante de tal
governador (1995-1999). Em janeiro de 1995, ainda como vice- posicionamento, Renato sofreu pressões internas e externas dos
governador, assumiu o cargo de Secretário de Estado da aliados de Renan. Além disso, em 2006, também foi vice-
Agricultura, desligando-se em abril de 1998 para disputar o presidente da CPI do Apagão Aéreo do Senado.
Governo do Espírito Santo.
Em 2019, Casagrande foi o único chefe de Executivo estadual
Em 1998, candidatou-se a governador do Espírito Santo, ficando das regiões Sul e Sudeste a se pronunciar contra a flexibilização
em terceiro lugar. De abril de 1999 a outubro de 2001, Renato do porte de armas no Brasil, pelo Decreto nº 9.785 (2019),
Casagrande exerceu o cargo de secretário de Meio Ambiente assinando a carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro, junto à
do município da Serra, Região Metropolitana da Grande Vitória. treze outros governadores, majoritariamente representantes do
No mesmo ano, integrou o Conselho Estadual de Meio Ambiente nordeste do país.
e presidiu a Associação Nacional de Municípios de Meio
Ambiente (ANAMMA), Seção Espírito Santo. Propaganda Irregular
Em 2014, os candidatos a governador Renato Casagrande e
Secretário-geral da Comissão Executiva Nacional do PSB em Paulo Hartung, e os candidatos a deputado estadual Josias da
2001, elegeu-se deputado federal em 2002 e atuou como líder Vitória, Janete de Sá e Renzo Vasconcelos nas eleições daquele
da bancada do partido em 2006. No mesmo ano, elegeu-se ano foram multados por propaganda eleitoral irregular.
senador com 62% dos votos válidos. No pleito de 2010, elegeu-se Casagrande teve que pagar multa de R$ 2 mil por ter afixado
governador do Espírito Santo, vencendo já no primeiro turno com placa contendo propaganda de sua campanha na fachada de

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História do Espírito Santo
uma borracharia, o que é vedado pela legislação eleitoral em
seu artigo 37 que impede a utilização de fachadas de SALETTO, Nara. Donatários, colonos, índios e jesuítas: O início da
estabelecimentos comerciais para propaganda de candidatos. colonização no Espírito Santo. 2 ed. rev. Vitória: Arquivo Público
Casagrande foi notificado para retirar a propaganda irregular, do Estado do Espírito Santo, 2011
no entanto, não cumpriu o prazo legal de 48 horas.

REFERÊNCIAS BIOBLIGRÁFICAS

CUNHA, Maria José dos Santos. Vasco Fernandes Coutinho:


notas históricas e genealógicas. Dimensões, revista de História
da UFES. n. 31 (2013). Disponível em:
https://periodicos.ufes.br/index.php/dimensoes/article/view/757
2 Acesso em: 30 agosto de 2021.

OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado do Espírito Santo, 3ª


edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito
Santo – Secretaria de Cultura, 2008

GALVÊAS, Homero Bonadiman. A História da Barra do Jucu, 2006


Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2013

Desde 1987 José Renato Casagrande é filiado ao PSB. Gazeta, Tatiane Braga Da TV (30 de março de 2016). «Lenda de
imagem de Nossa Senhora conta história do Convento da
Penha». Festa da Penha 2016. Consultado em 29 de março de
Escândalo das Passagens Aéreas 2021
Em 2016, o nome de Renato Casagrande constava na lista de
443 parlamentares ou ex-parlamentares acusados pela Maria Clara Medeiros Santos Neves e Luiz Guilherme Santos
Procuradoria da República de participação no Escândalo das Neves. «Vila Velha - Histórico». Vila Capixaba. Consultado em 9
passagens aéreas, datado de 2009, durante seu mandato de fevereiro de 2013. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2013
senatorial. A acusação toma respaldo no crime de peculato,
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 21,
podendo atribuir entre 2 a 12 anos de prisão. Em defesa,
ano 1961, Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril /2013
Casagrande se pronunciou dizendo que o Senado e a Câmara
dos Deputados admitiam o uso de uma cota de passagens sob SUETH, José Cândido Rifan. Espírito Santo, Um Estado “Satélite”
critério dos próprios parlamentares, sem especificações. Na Primeira República: de Moniz Freire a Jerônimo Monteiro
(1892-1912). Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de
Diante disso, Renato admite a doação de passagens aéreas Ciências Humanas e Naturais Programa de Pós-Graduação em
para pessoas carentes, que precisavam fazer tratamento no História. Disponível em:
hospital Sarah Kubitschek em Brasília. O processo, arquivado pelo https://ape.es.gov.br/Media/ape/PDF/Disserta%C3%A7%C3%B5
Supremo Tribunal Federal em 2009, veio a público novamente e es%20e%20Teses/Hist%C3%B3ria-
também foi arquivado de acordo com as investigações, entre os UFES/UFES_PPGHIS_JOS%C3%89_C%C3%82NDIDO_RIFAN_SUETH.p
anos de 2016 e 2018. df Acesso em: 30 agosto de 2021.

Delação da Odebrecht Velhos Templos de Vitória & Outros temas capixabas, Conselho
Em 2017, Casagrande foi alvo de um pedido de inquérito Estadual de Cultura – Vitória, 1987
enviado pelo Supremo Tribunal Federal ao Tribunal Regional
Federal com base em delações de ex-executivos da Odebrecht, SITES
sendo suspeito de receber, junto a Paulo Brusqui, e o prefeito de
http://www.morrodomoreno.com.br/
Vitória, Luciano Rezende, R$2,3 milhões para campanhas
políticas em 2010, 2012 e 2014. O delator, Sérgio Neves, ainda https://www.es.gov.br/historia/povo-capixaba
afirmou que uma das reuniões para fechar o valor dos repasses
ocorreu dentro da própria sede do governo estadual, o Palácio http://www.sefa.es.gov.br/painel/orig02.htm
Anchieta, em 2012.

Casagrande afirmou que o dinheiro recebido para a campanha


foi de acordo com a legislação eleitoral e que o delator entrega
informações novas para ter benefício, misturando doações para
campanha e propina. Paulo Brusque disse que se defenderá
quando for intimado pela Justiça. O prefeito de Vitória afirmou
que jamais teve contato com executivo algum ou qualquer
representante da Odebrecht e que está à disposição para
esclarecimentos o mais rápido possível.

Referências bibliográficas:
EHRENREICH, Paul. Índios Botocudos do Espírito Santo no século
XIX. Tradução de Sara Baldus. Organização e notas por Julio
Bentivoglio. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo,
2014.

OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado do Espírito Santo. 3ª


ed. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo;
Secretaria de Estado da Cultura, 2008.

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