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CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. O Egito Antigo.1º ed.

São Paulo:
Brasiliense,1982.

Ivanilde Gomes Sampaio

Ciro Flamarion Santana Cardoso possui graduação em História pela


Universidade Federal do Rio de Janeiro (1965) e doutorado em História -
Université de Paris X, Nanterre (1971). Foi professor titular da Universidade
Federal Fluminense. Tinha experiência na área de História, com ênfase em
História Antiga e Medieval, principalmente em Egiptologia. Além de tudo isso foi
escritor tendo várias obras como por exemplo: Um historiador fala de teoria e
metodologia: Ensaios (2005), A ficção Científica, Imaginário do mundo
contemporâneo: Uma introdução ao gênero (2003), La Guyane Française
(1715-1817): aspects économiques et sociaux. Contribution à l´étude des
sociétés esclavagistes d´Amérique (1999), Deuses, múmias e ziggurats: uma
comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia (1999), Dominios
da Historia (1997), Narrativa, Sentido, História (1997), Sete Olhares Sobre A
Antiguidade (1994), Modo de Produção Asiático: nova visita a um velho
conceito (1990), Antiguidade oriental: política e religião (1990),Ensaios
Racionalistas (1988),Escravidão e abolição no Brasil: novas
perspectivas (1988),Escravo Ou Camponês? O Proto-Campesinato Negro Nas
Américas (1987), Sociedades do Antigo Oriente Próximo (1986), A Cidade-
Estado Antiga (1985) e várias outras mais.

O livro tem sua primeira edição no ano de 1982 tendo como editora a
Brasiliense. É dividido em 5 partes, sendo o primeiro: A Falência da Hipótese
Casual hidráulica, Economia e Sociedade, O Poder: Sinopse da história
Faraônica, Aspectos da via Intelectual e Conclusão: Modo de Produção
Asiático

Antes de iniciar os capítulos, o livro possui uma introdução a qual o autor


inicia falando o que o Egito faraônico representa, dando ênfase não só como o
primeiro reino unificado, mas também como a mais longa história documentada
de continuidade política e cultural. O capítulo segue apresentando fatos a
respeito da continuidade cultural e consequentemente a pouca alteração da
língua egípcia. Enfatiza-se que nenhuma outra cultura da antiguidade inspirou
a elaboração de tantos livros como a egípcia.

O primeiro capítulo que tem por título “A Falência da Hipótese Casual


Hidráulica “, trata do povoamento, assunto que é colocado como muito
abordado por historiadores. Destaca-se a questão da cor dos egípcios que
foram levados para os vales africanos e da Abissínia, despertando a questão:
Seriam os egípcios brancos ou negros? Uma mistura de povos que levanta o
tema racismo. Com a desertificação da região do Saara o vale do Nilo passou a
receber os povos da África branca na região do Egito iniciando, assim, o
povoamento do lugar. Alguns estudiosos africanos, ligados ao Pan-africanismo
defendem a ideia de que o Egito, na sua formação, era de origem negra. O mais
sensato a se admitir é que na região em questão a diversidade de agentes
certamente influenciaram a formação de um povo miscigenado.
A região recebia asiáticos que atravessavam o mar vermelho e negros
que desciam o vale do Nilo, proporcionando, assim, uma grande variedade de
etnias que fazem parte do Egito. Em seguida o autor argumenta contra a
chamada hipótese causal hidráulica. Segundo essa hipótese, a unificação da
antiga civilização egípcia, por volta do ano 3000 a.C, teria ocorrido como o
resultado da "necessidade de uma administração centralizada das obras de
irrigação para o bom funcionamento da economia agrícola num país de clima
desértico. “Ciro Flamarion apresenta bons argumentos para refutar essa
hipótese, entre eles que o processo de irrigação no Egito Antigo era facilitado
pelo ciclo de cheias naturais apresentadas pelo rio Nilo, que, ao contrário dos
rios da Mesopotâmia, possuía períodos de cheias menos violentos. Além disso,
o autor esclarece que grandes obras de irrigação só foram levadas a cabo
pelos faraós no Reino Médio, até então o trabalho de irrigação sempre teve um
caráter mais local.

O próximo capítulo a ser comentado é o que tem por título a “Economia e


Sociedade”, que coloca as técnicas de produção como assunto inicial por estar
ligado a economia e o desenvolvimento da sociedade. As técnicas fizeram
parte do processo das inovações por parte do Egito e Mesopotâmia. Sendo que
a Mesopotâmia estava a frente do Egito no quesito inovações. Para se
compreender melhor, o autor coloca como exemplo a substituição do cobre
pelo bronze que aconteceu primeiro pela Mesopotâmia. Ciro afirma que os
instrumentos eram tão caros e valiosos que os seus donos os marcavam com o
seu sinete, após pesá-los, antes de entrega-los aos seus trabalhadores. Além
da inovação, afirma-se que possivelmente a ideia da agricultura e da escrita
tinham chegado ao Egito pela Mesopotâmia. As atividades agrícolas eram o
setor fundamental da economia agrícola antiga. Por serem bem conhecida, a
atividade agrícola é de fácil descrição, em virtude das copiosas cenas
representadas nas pinturas e relevos murais das tumbas. A vida agrícola se
desenvolvia segundo um ciclo bastante curto, se considerarmos as produções
básicas - cereais (trigo duro e cevada em especial) e linho - , em função das
três estações do ano que eram típicas do país: a inundação (julho-outubro), a
“saída” ou o reaparecimento da terra cultivável do seio das águas, época da
semeadura (novembro-fevereiro), e a colheita (março-junho).As características
gerais da economia dessa civilização, tais como a agricultura, a criação de
animais, a população, as matérias-primas, o comércio e os padrões de
referência anteriores a moeda .Quanto a sociedade, cada uma das suas partes
é descrita: o poder estatal, os faraós, os nobres, os camponeses e escravos. E
também é comentada a questão da propriedade de terras.

Dando sequência ao livro, o capítulo “O Poder: Sinopse da História


Faraônica”, possui umas 50 páginas, sendo o capítulo mais longo do livro onde
o autor faz um apanhado geral da história política da civilização egípcia.
Apresentando os diversos períodos, principais faraós, e mudanças que
ocorreram na política e na relação do faraó com os nobres e com os
sacerdotes; além de citar as diversas invasões estrangeiras e as épocas de
anarquia. O período analisado pelo autor vai desde a pré-história até o domínio
dos persas. Trata-se, precisamente, do tradicional e cristalizado esquema de
divisão da história egípcia em "reinos" (Antigo, Médio e Novo; períodos
intermediários), em que as vicissitudes do poder são seguidas na perspectiva
da sua identidade e permanência (momentos de unificação centralização do
reino, e momentos de anarquia e ruptura dinástica). A noção que, parece-nos,
preside e funda tal esquema é a de uma suposta "nação egípcia", de cuja
história se dá conta através da perspectiva projetada por aquele esquema.
Assim, observa o Autor: "A identidade política e étnica do país como reino —
ou, mais exatamente, como dois reinos unificados na e pela pessoa do
monarca —, em outras palavras e usando um termo algo anacrônico, a nação
egípcia antiga nasceu — e depois renasceu diversas vezes — da conquista e
se conservou por mecanismos religiosos, fiscais e militares. O texto, embora
bem escrito, é um pouco cansativo pela insistência do autor em citar dinastias,
nomes de reis, e outros eventos, que comentados tão rapidamente parecem
muito desinteressantes.

Sobre os “Aspectos da vida Intelectual, Ciro Flamarion afirma que Os


antigos egípcios tinham um caráter pré- filosófico e mítico. Mas destacava-se o
raciocínio que se baseava na acumulação de exemplos concretos, não em
teorias gerais. O pensamento egípcio estava interessado na preservação do
estado de coisas e estava relacionado também a religião. No antigo Egito, a
religião historicamente conhecida resultou, em primeiro lugar, da superposição
e organização das divindades dos Nomos. O dogma nunca foi, de fato,
unificado: em cada santuário o deus local era visto como a divindade suprema
e criadora. Os deuses dos nomos tinham aparentemente uma origem totêmica,
estando ligados a animais, personagens ou fetiches que se vinculavam ao culto
dos antepassados tribais e que sofreram nos tempos históricos um processo
parcial ou total de antropomorfização. Hórus, por exemplo, podia ser
representado por um falcão, por um homem com cabeça de falcão ou ainda -
mais raramente - por um homem.

No último capítulo o autor comenta o conceito de modo de produção


asiático, proposto por Karl Marx e por historiadores marxistas posteriores como
um modelo de organização social e política das antigas sociedades do oriente.
Segundo esse modelo, essas sociedades compartilhariam algumas
características: Um nível das forças produtivas mais avançado do que o das
sociedades tribais primitivas, A existência de um Estado despótico acima das
comunidades de aldeia, embora existam escravos no sentido comum do termo,
não constituem a base da produção social. Inexistência de comércio e
artesanato como atividades suficientemente autônomas para alterar a ordem
social. Tendência à estagnação. Para se compreender melhor as forças de
produção foram caracterizadas da seguinte maneira: Um nível das forças
produtivas mais avançada do que a sociedade tibais primitivas. A existência da
comunidade de aldeia, foi alterada pela comunidade primitiva. A existência de
um Estado despótico acima das comunidades de aldeia como um resultado da
separação entre produtores diretos e os organizadores da produção. A relação
entre o Estado e as comunidades aldeãs se expressa na chamada “escravidão
generalizada”. Em seguida destaca-se a afirmativa que embora existam
escravos no sentido comum do termo, não constituem a base da produção
social. A inexistência de comercio e artesanato como atividades
suficientemente autônomas para alterar a ordem social. E por fim o autor
coloca como característica a Tendência à estagnação.
A obra de Ciro torna-se um material considerado importante para quem
está começando o curso de história ou para aqueles que se interessam pelo
tema. Sendo dividido em capítulos com temas que dão início para se chegar ao
objetivo do mesmo. Mas entende-se que o livro é apenas um introdutório que
analisa a história política, econômica, social e cultural da civilização egípcia
desde a unificação do reino até a conquista romana. Com poucas páginas a
obra não permite um estudo mais detalhado da história, não conseguindo de
fato trabalhar todas as questões importantes. Embora o autor comente
rapidamente alguns temas interessantes, essa é uma obra que pode ser
considerada como o primeiro passo para um conhecimento mais profundo a
respeito do assunto.

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