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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REALEZA PALACIANA MICÊNICA: GÊNESE, SOCIEDADE, CARACTERÍSTICAS


E COLAPSO.

Antiguidade Ocidental.

Gabriel da Rocha Ucella


Matrícula: 202410346311

Rio de Janeiro
2024
Resumo: A atividade a seguir prezará por apresentar uma definição concreta e, por
conseguinte, as devidas características em torno da civilização micênica como um todo e de
todos os seus aspectos, baseando-se, primordialmente, em toda a historiografia apresentada
acerca do tema juntamente aos vestígios documentais, utilizando-os como base para, assim,
realizar o debate seguindo os padrões metodológicos.

1. Micenas e sua descoberta.

A civilização micênica desenvolve-se na Grécia entre períodos de 1600 a.C. a mais ou


menos 1100 a.C., o termo “civilização”, embora possua caráter em parte anacrônico, visto que
a tese trata de um período da antiguidade, sua utilização constará na atividade relacionando à
uniformidade cultural. É notável que o termo já fora utilizado com caráter racista pelos brancos
europeus visando estabelecer sua identidade como civilizada, denotando, opostamente, outros
povos como selvagens ou até “primitivos”, sobretudo disseminados por Tylor (1871) e Morgan
(1877), influentes da corrente evolucionista do século XIX.1
Para começar do começo, na década de 1870, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann
direcionou-se à Turquia com o intuito de realizar escavações visando encontrar vestígios
materiais a respeito de Troia – tinha um certo fanatismo por Homero, autor de Ilíada. Após anos
de escavações, em 1874 é encontrada Micenas, a antiga cidade grega.
Há críticas em torno das escavações realizadas por Schliemann. Marazzi, por exemplo,
aborda que há uma elitização nas evidências materiais dadas pelo arqueólogo, visto que as
escavações centralizam nas localidades de maiores prestígios, como exemplo os palácios de
Knossos e Pilos, devido ao tesouro dos Atreus e, até mesmo, de vasos sofisticados de grande
riqueza, desenterrado pelo arqueólogo britânico Arthur Evans. (MARAZZI, 1992, p. 10).
Partindo de sua crítica concisa, de fato há uma evidente escolha por parte dos vestígios
materiais, cujos foram privilegiadas as descobertas de maior riqueza, o que, em contrapartida,
leva em um esquecimento por parte da população que ali viveu sobre como se organizavam
socialmente, como produziam sua subsistência e até quais técnicas utilizavam para tal produção.
Marazzi em sua obra La Sociedad Micénica afirma que o que é culturalmente identificado como
a “civilização micênica” parte da centralização da cidade, o que se tornou conhecida por
Schliemann (Idem, p. 11). Afinal, o arqueólogo dedicou-se a encontrar os vestígios de Tróia
com a tentativa de buscar materializar a narrativa da obra de Homero, Ilíada. Segundo Taylor,
o comerciante alemão investiu uma fortuna apenas com o intuito de provar que a narrativa
mitológica da Ilíada não era ficção, e sim, um fato histórico ocorrido (TAYLOUR, 1964, p. 15).

2. Sociedade micênica e suas características.

Distanciando-se dos períodos iniciais das descobertas culturais materiais em torno da


antiga cidade grega, atento-me, agora, em dar ênfase na forma de organização da sociedade, a
forma de governo cujo era estabelecida e, também, suas características.
O regime monárquico do período micênico pode ser chamado sistema palaciano – a
realeza palaciana -, mesmo modelo que o cretense.
O sistema palaciano, ou, de acordo com a historiografia, o modo de produção palaciano
seria uma consequência do processo de urbanização, processo que resultava no surgimento dos
palácios. A economia possuía divisão e especialização do trabalho, era uma sociedade que
continha hierarquias, os sistemas de propriedade continham tanto estatais – palácios e templos
religiosos – quanto privados – familiares (CARDOSO, 2003, p. 153-154).
Embora haja diversas questões ainda não respondidas devido as faltas de evidências a
respeito da civilização em debate, algumas informações seguras são possíveis serem trazidas à
tona, e isso é garantido graças ao sistema de escrita da população micênica denominado Linear
B. Em 1939, encontraram-se tabuinhas de argila escritas nesse molde de anotação grego,
todavia, as mesmas já haviam sido anteriormente encontradas por Arthur Evans, no palácio de
Knossos na região cretense (TAYLO UR, 1964, p.28). As tabuinhas foram decifradas pelo
arqueólogo britânico, cujo foi capaz de identificar todos os ideogramas.
Todos os tabletes, entretanto, foram encontrados em centros de importância político-
administrativa. Logo, John Chadwick (CHADWICK, 1997, p. 11) levanta com credibilidade a
tese de que a escrita Linear B teria sido quase a totalidade – não há como obter certeza absoluta
em estudos ainda incompletos – utilizada administrativamente, como um sistema de inventário,
de contabilidade.
Dado isso, graças as traduções epigráficas, é possível traçar o quadro de aspectos
internos do sistema político autocrático, cujo poder é centralizado na figura do anax - tanto em
Creta quanto entre os micênicos a centralização do palácio real girava em torno da figura do
anax (rei nos tempos moderno).
A função do anax era quíntupla. Possuía função política, militar, religiosa administrativa
e econômica, assim, o soberano micênico subordinava todos os setores da vida social
(VERNANT, 2003, p. 24).
Essa concentração de poderes, porém, de acordo com a ótica de Pierre Clastres (1984),
não é válida. O chefe deter privilégios e autoridade não significa que ele possui de fato o poder
sobre a comunidade, trata-se de uma forma distinta de se pensar a relação dominante e
dominado, na verdade, o poder é controlado pela comunidade, que o selecionou e o mantêm
como chefe
A atividade artística dos poetas e cantores são de muita importância quando se trata da
questão da memória social.
A memória, por exemplo, do modo de vida da realeza palaciana era mantida através dos
Aedos, poetas que compunham e recitavam ao mesmo tempo seus poemas homéricos. Além
disso, a arte musical levou ao surgimento dos rapsodos, os intérpretes dos poetas gregos, estes
recitavam e também cantavam em festivais de rapsódia. Segundo Finley, modelo de literatura
com inspiração em Homero que chegou até nós foi formulado no século VIII a.C. (FINLEY,
1998, p. 30).
Quando se trata da decadência micênica, faltam evidencias conclusivas, há a clássica
explicação de que ocorrera uma invasão dórica e que, em seguida, os centros foram destruídos
e abandonados, porém, não há mais respaldo em torno desta abordagem.
Margalit Finkelberg, historiadora e pesquisadora israelense diverge dessa ótica de uma
possível invasão e defende sua tese voltada à formação de um grupo multiétnico grego de recém
chegados imigrantes, estes, então, interagiram com a população da Helade.
Tal ocorrido resultou na interação cultural entre gregos e não-gregos, o que levou, então,
à formação da civilização grega (FINKELBERG, 2005, p. 28).
A inovação teórica historiográfica trazida pela autora está contida em ir contra a
narrativa da invasão dos dórios. Assim, o colapso então teve como fator as relações
matrimoniais entre grupos sociais heterogêneos.

3. Conclusão

A síntese, portanto, acerca da temática moldado nas bases historiográficas adequadas ao


tema debatido, elucida de forma concisa a respeito da totalidade do processo histórico de
formação da Realeza Palaciana Micênica. Indo do início das escavações que levaram à
descoberta da cidade de Micenas até o fundo de toda a estrutura política e social que esteve em
voga na sociedade micênica, analisando cada pedaço de sua temporalidade histórica,
enfatizando, sobretudo, o debate historiográfico acerca das atuais proposições sobre o tema.
Notas

1
Tylor em A Cultura Primitiva e Morgan em Sociedade Antiga, voltaram-se à justificativa de que havia
um sistema hierárquico de raças: selvageria, barbárie e civilização. Tanto para Morgan quando para
Tylor, a transição de um estágio inferior para um superior significava progresso, não apenas em termos
tecnológicos, mas também de moralidade, o que ajuda a explicar suas inclinações racistas.

Referências

CARDOSO, Ciro Flamarion. História econômica e História de empresas v.1 (2003). pps.
151-178
CHADWICK, John. Linear B and Related Scripts. Berkeley: University of California Press,
1997, p. 11
CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado. São Paulo: Global, 1984
FINLEY, M. Grécia primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São Paulo: Martins Fontes,
1990.
FINKELBERG, M. Greeks and pre-Greeks: Aegean prehistory and Greek heroic tradition.
Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
MARAZZI, Massimiliano. La Sociedad Micenica. Madrid: AKAL, 1992.
MORGAN, Lewis Henry. A sociedade antiga. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
TAYLOUR, W. The Mycenaeans. London: Thames and Hudson, 1964.
TYLOR, Edward. Primitive Culture: Research into the Development of Mythology,
Philosophy, Religion, Art, and Custum. New York: J. P. Putnam’s Sons, 1871.
VERNANT, J.P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2003.

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