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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

Instituto de Ciências Humanas e Sociais – ICHS


Departamento de História – DHIST
HISTÓRIA ANTIGA I e II – Professor Lobianco

HELENISMO E ROMANIZAÇÃO (Egito e Judeia)


• Helenismo (definição do conceito);
• Romanização (“evolução” da definição do conceito ao longo dos séculos XX e XXI;
• Helenismo na Judeia: Assimilação e Resistência Sócio-Político-Cultural Judaicas;
• Helenismo no Egito: Assimilação e Resistência Sócio-Cultural Egípcias;
• Romanização na Judeia: Assimilação e Resistência Sócio-Político-Cultural Judaicas;
• Romanização no Egito: Assimilação e Resistência Sócio-Cultural Egípcias.
HELENISMO (definição de J. G. Droysen)
DROYSEN, J. G. Geschichte des Hellenismus, 1877-78 APUD PAUL, André. O Judaísmo Tardio.
História Política. São Paulo: Paulinas, 1983, p. 93.

• “Mas foi Droysen que, [...], deu a “helenismo” um conceito histórico de


contornos precisos e estendeu seu campo ao período que vai da derrota
do império persa dos Aquemênidas, por Alexandre Magno (331 a.C.),
até o fim do reino dos Ptolomeus, marcado pela batalha de Áccio (31
a.C.). Este período particular da história da antiguidade se
caracterizava também aos seus olhos pelo encontro e até pela
mistura de elementos culturais gregos e orientais [...].”
• Helenismo = cultura grega clássica + culturas do Oriente Próximo
• Observação: O Reino Helenístico Ptolomaico do Egito só termina com o
duplo suicídio de Marco Antônio e Cleópatra VII (30 a.C.), quando
Otávio conquista o Egito para Roma. (inserção do Professor Lobianco).
“A queda de Antônio e de Cleópatra é um momento
chave de nossa história. Com eles, morre a república
romana e a época helenística. Um novo mundo,
inteiramente regido pela onipresença de Roma se
instala. É o começo do reino imperial e o fim da
independência do Egito, logo reduzido à província
romana.”
Livre tradução do original francês para português, feita pela Professor Lobianco.

In: MARTIN, Paul M. Antoine et Cléopâtre. La Fin d’un Rêve.


ROMANIZAÇÃO
(“evolução” do conceito nos séculos XX e XXI)
In: MENDES, Norma Musco; ARAUJO, Yuri Corrêa. Epigrafia, Sociedade e Religião: o Caso da Lusitânia In: THEML, Neyde, LESSA, Fábio de Souza e BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha (editores) et alii. Revista Phoînix Ano 13. Laboratório de História Antiga da UFRJ. Rio de Janeiro:
Mauad Editora, 2007, pp. 257 a 279.
Conceito de Romanização da página 258 à página 262.

• 1ª fase: O Imperialismo Europeu (final do século XIX e início do século


XX) para justificar-se, cria o conceito de “Romanização”.
• 2ª fase: A Antropologia Cultural nos Estados Unidos e a desigualdade
das culturas dos países europeus, começam a questionar a
“Romanização”.
• 3ª fase: A Teoria Pós Colonial (anos 1970) questiona profundamente o
conceito de “Romanização” e a reestrutura.
• 4ª fase: “Romanização” com nova abordagem, no início do século XXI.
1ª fase: Imperialismo Europeu e Romanização
“O conceito de Romanização surgiu no final do século XIX, imbuído de
noções positivistas e eurocêntricas. Foi utilizado [...] para analisar o
contato entre os Romanos e os outros povos. Cunhado no mesmo
período das experiências imperialistas e das teorias raciais europeias,
o termo ficou marcado pelas noções de aculturação e pela perspectiva
de civilização versus barbárie, seguindo o pressuposto básico de que a
cultura nativa, considerada inferior, havia sido extinta, frente à
superioridade da cultura Romana. Tal visão desconsiderava a
autonomia dos agentes históricos em face dos processos sociais e
culturais de que faziam parte, legando aos indígenas uma posição de
passividade e ao mesmo tempo levando-nos a pensar o Império
Romano como uma estrutura estática, pouco dinâmica e homogênea.”
2ª fase: A Antropologia Cultural nos Estados Unidos
e a desigualdade das culturas dos países europeus

“A percepção de desníveis culturais [...] das sociedades consideradas


“civilizadas”, e o nascimento da [...] Antropologia Cultural, em meados
do século XX, nos Estados Unidos, contribuiu para o questionamento
da ideia de uma evolução cultural e da elaboração de modelos
dicotômicos entre culturas, sendo umas superiores, baseadas no
padrão cultural Europeu, e outras inferiores. Essa rejeição às posturas
etnocêntricas no âmbito das Ciências Humanas [...] surgia como uma
crítica à visão colonialista europeia, baseada em uma concepção
“elitista” do próprio termo cultura e à construção da História a partir
da perspectiva dos vencedores.”
3ª fase: A Teoria Pós Colonial
e a reestruturação do conceito de “Romanização”

“A partir de meados da década de 1970, vemos uma mudança


de postura nas análises das relações entre culturas. Esta
modificação permitiu que surgissem novas formas de
abordagem para tratar [...] da colonização europeia na África,
por exemplo. Por conta disso, os indivíduos submetidos
deixaram o tradicional lugar de nulidade a eles legado, para
uma posição de agentes capazes de construírem diferentes
respostas e escolhas frente à dominação.”
4ª fase:“Romanização” com nova abordagem, no início do século XXI

“Tais princípios nos levaram a entender o termo Romanização como processos de


mudanças socioculturais multifacetadas em termos de significados e
mecanismos, resultantes do relacionamento entre os padrões culturais romanos e
a diversidade provincial. Ademais, a apropriação das instituições, práticas sociais
e os itens da considerada cultura material dos Romanos variaram de significado e
intensidade de acordo com as características regionais e os interesses dos
distintos grupos sociais que formavam as comunidades nativas. [...] o termo
Romanização não tem potencial explicativo. Deve ser entendido como um termo
abrangente para designar os processos de mudanças resultantes do contato
entre a diversidade cultural provincial e a identidade Romana.”
MAPA da JUDEIA sob o Domínio dos Reinos Helenísticos
Ptolomaico (Egito) (323 a 200 a.C.) e SEULÊUCIDA (Síria) (200 a 167 a.C.)
Observação 1 (do Professor Lobianco):
Embora o Mapa cite “Palestina grega”,
o termo CORRETO é JUDEIA grega (helenística).”

Observação 2 (do Professor Lobianco):


Foi no Reinado de Antíoco IV Epífanes – soberano dos Selêucidas a partir de 175
a.C. -, que por ordens deste rei foi introduzido, à força, o Helenismo na Judeia,
fato que gerou a “Insurreição dos Macabeus” a partir de 167 a.C.

In: BARNAVI, Élie (direção). História Universal dos Judeus. Da Gênese ao Fim do Século XX. São
Paulo: Editora Cejup, 1995, página 41.
O HELENISMO NA JUDEIA

O rei helenístico dos Selêucidas, Antíoco IV Epífanes, impõe o


Helenismo e suas práticas pagãs aos judeus e à Judeia (175 a 167
a.C.).

As reações dos judeus: Assimilação e Resistência ao Helenismo.

In: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus: A Bíblia de Jerusalém. Livro 1 Macabeus,
capítulo 1, versículos 41 a 53. São Paulo: 1995, páginas 790 – 791.
“O rei prescreveu, em seguida, a todo o seu reino, que todos
formassem um só povo, renunciando cada qual a seus costumes
particulares. E todos os gentios conformaram-se ao decreto do rei.
Também muitos de Israel comprazeram-se no culto dele, sacrificando
aos ídolos e profanando o sábado. Além disso, o rei enviou, por
emissários a Jerusalém e às cidades de Judá, ordens escritas para que
todos adotassem os costumes estranhos a seu país e impedissem os
holocaustos, o sacrifício e as libações no Santuário,

CONTINUA NO PRÓXIMO SLIDE


profanassem sábados e festas, contaminassem o Santuário e tudo o
que é santo, construíssem altares, recintos e oratórios para os ídolos e
imolassem porcos e animais impuros. Que deixassem, também
incircuncisos seus filhos e se tornassem abomináveis por toda sorte de
impurezas e profanações, de tal modo que se olvidassem assim da Lei e
subvertessem todas as observâncias.

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Quanto a quem não agisse conforme a ordem do rei, esse
incorreria em pena de morte. Nesses termos ele escreveu a
todo o seu reino, nomeou inspetores para todo o povo e
ordenou às cidades de Judá que oferecessem sacrifícios cada
uma por sua vez. Muitos dentre o povo aderiram a eles, todos
os que eram desertores da Lei. E praticaram o mal no país,
reduzindo Israel a ter de se ocultar onde quer que encontrasse
refúgio.”
O HELENISMO NA JUDEIA: JUDAÍSMO x HELENISMO
(Assimilação e Resistência)
A Resistência Política e sobretudo Religiosa dos Judeus:
Matatias e seus filhos iniciam a “Insurreição Judaica dos Macabeus”
contra o rei helenístico selêucida Antíoco IV Epífanes

In: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus: A Bíblia de Jerusalém. Livro 1 Macabeus,
capítulo 2, versículos 15 a 22. São Paulo: 1995, página 792.
“Os emissários do rei, encarregados de forçar à apostasia (abandono
de crença – inserção do Professor Lobianco), vieram à cidade de Modin
para procederem aos sacrifícios. Muitos israelitas aderiram a eles, mas
Matatias e seus filhos conservaram-se reunidos à parte. Tomando
então a palavra, os emissários do rei disseram a Matatias: “Tu és um
chefe ilustre e de prestígio nesta cidade, apoiado por filhos e parentes.
Aproxima-te, pois, por primeiro, para cumprir a ordem do rei, como o
fizeram todas as nações bem como os homens de Judá e os que foram
deixados em Jerusalém.

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Assim, tu e teus filhos sereis contados entre os amigos do rei e sereis
honrados, tu e teus filhos, com prata e ouro e copiosos presentes.”A
essas palavras retrucou Matatias em alta voz: “Ainda que todas as
nações que se encontram na esfera do domínio do rei lhe obedeçam,
abandonando cada uma o culto dos seus antepassados e
conformando-se às ordens reais, eu, meus filhos e meus irmãos
continuaremos a seguir a Aliança dos nossos pais. Deus nos livre de
abandonar a Lei e as tradições. Não daremos ouvido às palavras do
rei, desviando-nos de nosso culto para a direita ou para a esquerda.”
MAPA DO REINO (Helenístico) PTOLOMAICO (EGITO)
De 323 – Ptolomeu I Sōtēr a 30 a.C. – suicídio de Cleópatra VII

• Com a morte de Alexandre da Macedônia (323 a.C.), Ptolomeu I Sōtēr passa a


governar o Egito e proclama-se Rei dos Ptolomeus em 306 a.C.

• O MAPA do Reino dos Ptolomeus é o próprio Egito, de 200 a 30 a.C.

• De 323 a 200 a.C., este Reino teve território maior, incluindo à oeste (parte da
Líbia), ao sul (parte da Núbia) e a nordeste a Judeia, mas após ser vencido em
200 a.C. pelo Reino Helenístico dos Selêucidas (Mesopotâmia e SÍRIA), o Reino
dos Ptolomeus passa a ter o território tradicional do Egito Faraônico.
O HELENISMO NO EGITO:
Culturas Hebraica / Judaica e Grega (Assimilação)

Tradução da Bíblia Hebraica para a língua grega


(para os judeus de Alexandria – Egito)

A Septuaginta ou a Bíblia dos LXX / 70

In: UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico de Lendas e Tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1992, páginas (pp.) 31 e 262.
O HELENISMO NO EGITO: Culturas Faraônica e Grega

(Assimilação e Resistência)

A PEDRA ROSETTA
In: DEVAUCHELLE, Didier (tradução). A Pedra de Rosetta. Paris: Museu Campollion e Éditions
Alternatives, 2003, página (pp. 4).
A PEDRA ROSETTA

Descoberta às margens do Mar Mediterrâneo e no noroeste do


Delta do Nilo, durante a expedição napoleônica ao Egito, de
1799, contendo o mesmo texto grafado em duas formas de
escrita da antiga língua egípcia: hieróglifo e demótico e
traduzidos para o idioma grego.
A partir da já conhecida língua grega e dos nomes de reis e
rainhas dentro de cartuchos, Jean-François Champollion pôde
decifrar os hieróglifos, dando acesso à toda esta escrita e seu
conteúdo, desta antiga língua faraônica.
ROMANIZAÇÃO no EGITO e na JUDEIA

MAPA DO IMPÉRIO ROMANO


com a cidade de Roma e as Pronvíncias do Egito e da
Judeia

BARRACLOUGH, Geoffrey (editor). The Times Concise Atlas of World History. Londres: Times
Books, 1994, páginas (pp.) 30 – 31.
A JUDEIA SOB O REINADO DE HERODES
MAGNO
(40 – 37 a 4 a.C.)

(Início da Interferência Direta Romana na Judeia)

In: PEREGO, Giacomo. Atlas Bíblico Interdisciplinar: Escritura – História – Geografia –


Arqueologia – Teologia – Análise Comparativa. Aparecida – SP: Editora Santuário e São Paulo:
Paulus, 2001 página (p.) 79.
FLÁVIO JOSEFO
• Nascido em Jerusalém em 37 d.C.: Josefo, filho de Matthias, era fariseu;
• Testemunha ocular da Guerra Judaico-Romana de 66 até o incêndio do 2º Templo
de Jerusalém, pelos romanos, sob as ordens de Tito, filho do Imperador
Vespasiano (69 a 79) e sucessor do pai no trono de Roma de 79 a 81 d.C;
• Tradutor entre Tito (em grego) e os resistentes judeus no Monte do Templo (em
aramaico) no verão do ano 70 d.C., antes da destruição do 2º Templo;
• Cidadão Romano: Tria Nomina: Titus Flavius Josephus, protegido e influenciado
pelos Imperadores Romanos Vespasiano e Tito, sendo pensionista imperial;
• Historiador judeu, da Judeia e de Roma;
• Narrativa ambígua em sua 1ª obra “A Guerra Judaico-Romana”(pró-romana e
pró-judaica – anti-romana e anti-judaica)
• Paradigma historiográfico de Josefo: Tucídides e a historiografia grega.
• Influenciado pelo modelo judaico de História: “Deus é o senhor da História”.
A ROMANIZAÇÃO NA JUDEIA
In: JOSEPHUS. The Jewish War. Loeb Classical Library. Cambridge – Massachusetts e Londres:
Harvard University Press: 1989, páginas (pp.) 70 a 71; 388 a 391 e 394 a 403.

• A entrada no local mais sagrado do 2º Templo de Jerusalém, por Pompeu (63


a.C.). (Guerra Judaica, Livro 1 §§ 152-153).

• As provocações do Prefeito Pôncio Pilatos (26 a 36 d.C.) com efígies do


Imperador Tibério, em Jerusalém. (Guerra Judaica, Livro 2 §§ 169 – 174).

• O desrespeito do Imperador Calígula (37 a 41 d.C.), impondo colocar suas


estátuas no Templo de Jerusalém. (Guerra Judaica, Livro 2 §§ 184 – 203).

• As reações dos judeus: Resistência à Romanização.


A entrada do Cônsul Romano Pompeu no 2º Templo de Jerusalém (63
a.C.)

“Nas calamidades até aquele momento, nada agrediu tanto a nação como o
Templo, até então não visto, ter sido desvelado pelos estrangeiros. Pompeu, em
companhia de seus seguidores, tendo [...] entrado na parte mais sagrada do
Templo, lugar em que somente ao Sumo Sacerdote era permitido entrar,
contemplou os objetos do interior: o candelabro e luminárias, a mesa, os vasos
para libação e incensórios, todos de ouro maciço [...] e o depósito de dinheiro
sagrado, [...] dois mil talentos. Ele (Pompeu), porém, não tocou nem nestes nem
em quaisquer outros [...] tesouros do Templo, entretanto no dia seguinte à (sua)
captura, ordenou aos guardiães purificar o Templo e dar prosseguimento aos
sacrifícios, como de costume.”
As provocações do Prefeito Pôncio Pilatos (26 a 36 d.C.) com
efígies do Imperador Tibério, em Jerusalém.
“Pilatos, tendo sido enviado à Judéia por Tibério como procurador
(prefeito), introduziu furtivamente à noite em Jerusalém as efígies de
César cobertas, as quais são chamadas de estandartes. Isto provocou
grande agitação entre os judeus durante o dia. Estes ficaram
consternados diante da visão, como se as suas leis tivessem sido
esmagadas com os pés, pois não era permitido colocar imagens na
cidade, enquanto a indignação do povo da cidade agitava as pessoas
do campo, que afluíam juntas em multidão. Apoiando-se em Pilatos
(indo) a Cesareia, (os judeus) imploraram-lhe retirar os estandartes de
Jerusalém e guardar (respeitar) as leis de seus antepassados.
CONTINUA NO PRÓXIMO “SLIDE”
“Quando Pilatos recusou-se, eles caíram prostrados ao redor de sua
casa e por cinco dias e noites inteiros e permaneceram imóveis
naquela posição. No dia seguinte, Pilatos tomou seu assento de
magistrado no grande estádio e convocando a multidão, com a
aparente intenção de respondê-la, deu o sinal combinado, a seus
soldados armados, para cercarem os judeus. Encontrando-se estes
dentro de um anel triplo de tropas, os judeus ficaram em silêncio, face
a esta visão inesperada. Pilatos, após ameaçar trucidá-los, caso eles se
recusassem em admitir imagens de César, fez sinal a seus soldados
para desembainharem suas espadas. Em consequência disso, os
judeus, em ação combinada, atiraram-se em conjunto ao chão,
estenderam seus pescoços e exclamaram que eles estavam mais
preparados para morrer do que para transgredir a lei. Pilatos,
enormemente admirado com a pureza do fervor religioso, ordenou
retirar imediatamente os estandartes de Jerusalém.”
O desrespeito do Imperador Calígula (37 a 41 d.C.), ordenando colocar suas
estátuas no Templo de Jerusalém

“Gaios (Calígula) [...] enviou Petrônio com um exército para Jerusalém,


para erigir no Templo estátuas do próprio Gaios, tendo ordenado, caso
os judeus não aceitassem, condenar à morte os recalcitrantes (os que
resistissem) e reduzir à escravidão todo o restante do povo. Estas
ordens, porém estavam sob os cuidados de Deus. Petrônio [...] com três
legiões [...] deixou Antióquia (na Síria) em marcha para a Judeia. [...].
CONTINUA NO PRÓXIMO SLIDE
Os judeus reuniram-se com suas esposas e filhos [...] e imploraram a
Petrônio para primeiro dar atenção às leis de seus antepassados e em
seguida a eles mesmos. Até então, transigindo com a vasta multidão e
suas súplicas, ele deixou as estátuas e suas tropas em Ptolemaida e
avançou em direção à Galiléia, onde ele convocou [...] a população
[...].

CONTINUA NO PRÓXIMO SLIDE


Lá ele frisou o poder dos romanos e as ameaças do Imperador e [...]
apontou a imprudência da solicitação deles, todas as nações súditas,
ele advertiu, haviam erigido, em cada uma de suas cidades, estátuas
de César, juntamente com aquelas de seus outros deuses, e que
somente eles (os judeus) se oporiam a esta prática, o que equivalia
quase a uma rebelião, agravada por insulto. Quando os judeus
expuseram o costume e as leis de seu povo, que não permitiam colocar
imagem, nem de Deus, nem de homem, não apenas no interior de seu
Templo, nem em qualquer lugar do campo, Petrônio tomando a
palavra disse: “Mas eu também devo fazer cumprir a lei do meu
senhor, se eu transgredi-la e os poupar, eu serei morto, com justiça.
Guerra será feita sobre vocês por ele, que me enviou, não por mim, já
que eu também, como vocês, estou sob ordens.”

CONTINUA NO PRÓXIMO SLIDE


Com isto a multidão gritou, que estava pronta para suportar tudo pela
lei. [...]. Os judeus responderam [...] que caso ele desejasse erguer
estas estátuas, ele primeiro deveria sacrificar toda a nação judaica, e
então eles próprios se apresentaram, suas esposas e seus filhos,
prontos para o massacre. Estas palavras encheram Petrônio de
admiração e piedade diante de um espetáculo de incomparável
devoção deste povo à sua religião e sua inabalável resignação à morte.
Então, por ora, ele os dispensou, nada sendo decidido. [...]. Desta
cidade (Antióquia na Síria) ele (Petrônio) dirigiu-se às pressas para
relatar a César sua expedição na Judéia e as súplicas da nação,
acrescentando que, a não ser que ele desejasse destruir o país, assim
como seus habitantes, ele deveria respeitar a lei deles e revogar as
ordens. A este despacho, Gaios respondeu [...] ameaçando matar
Petrônio por seu atraso na execução de suas ordens.
CONTINUA NO PRÓXIMO SLIDE
Entretanto, aconteceu que os portadores desta
mensagem ficaram retidos pelo mau tempo por três
meses no mar, enquanto outros, que trouxeram a notícia
da morte de Gaios, tiveram uma viagem afortunada.
Então Petrônio recebeu esta última informação vinte e
sete dias mais cedo do que a carta que trazia sua própria
sentença de morte.”
Na Judéia, a resistência passiva, relatada nos episódios de Pompeu,
Pilatos e Calígula, tornou-se resistência religiosa e política ativa em 2
Guerras entre Judeus e Romanos, tendo os judeus perdido ambas após
longa e corajosa resistência ao imenso poder bélico de Roma.

A Primeira (66 a 73 d.C.) foi cenário da destruição de Jerusalém e de


seu 2º Templo, pelos romanos, sob as ordens de Tito, no verão do ano
70 d.C.

A Segunda (132 a 135 d.C.) foi comandada por Bar Kochba e após a
derrota judaica, o Imperador Adriano determinou a expulsão dos
judeus da Judeia e, propositalmente, trocou o nome de sua terra
ancestral de JUDÉIA para PALESTINA – palavra cuja etimologia remonta
aos FILISTEUS (antigos inimigos dos Hebreus).
No Egito, NÃO houve resistência ativa (em guerras
contra o Império Romano), porém houve resistência
cultural passiva, como comprovam os artefatos
funerários de gregos e romanos, que “adotaram” a
cultura (sobretudo a religião) faraônica, em seus
sarcófagos, máscaras mortuárias ou estelas funerárias.
A ROMANIZAÇÃO NO EGITO:
Imagens Funerárias:
Hibridismo entre as Culturas Faraônica, Grega e
Romana.

A Resistência da Cultura Faraônica no Egito Romano


(30 a.C. ao século V d.C.)

O conceito de “Empréstimo Cultural”


(subconceito inserido no termo mais amplo: HIBRIDISMO CULTURAL)
In: BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. São Leopoldo – RS: Editora UNISINOS, 2006, páginas (pp.). 43 – 44.
EMPRÉSTIMO CULTURAL

“De acordo com o historiador francês Fernand Braudel,


[...] “pour une civilisation, vivre c’est à la fois être
capable de donner, de recevoir, d’emprunter”. (“para
uma civilização, viver é ao mesmo tempo ser capaz de
dar, de receber, de emprestar e de tomar emprestado.”
Mais recentemente, Edward Said declarou que “A
história de todas as culturas é a história do empréstimo
cultural.”
ICONOGRAFIAS FUNERÁRIAS HÍBRIDAS DO EGITO ROMANO
(mesclando elementos culturais ainda faraônicos, (sobretudo na religião), gregos
(na identidade dos mortos) e romano (na aparência dos defuntos)
• SARCÓFAGO DE ARTEMÍDŌRE;
• MÁSCARA MORTUÁRIA DE “TITOS FLAVIOS DĒMĒTRIOS”;
• ESTELA FUNERÁRIA DE PLOUTOGENĒS;
• ESTELA FUNERÁRIA DO MORTO LEVADO POR ANÚBIS A
OSÍRIS
• OBSERVAÇÃO 1: Todas as Imagens a seguir foram extraídas da obra de WALKER, Susan; BIERBRIER, Morris.
Ancient Faces. Mummy Portraits from Roman Egypt. Londres: British Museum Press, 1997, páginas 56 – 57; 84 –
85; 155 e 153 – 154.
• OBSERVAÇÃO 2: A descrição explicativa das iconografias, acima citadas, será feita
durante a aula.
SARCÓFAGO DE ARTEMÍDŌRE
• Múmia pintada de Artemídōre em estuque (argamassa feita de gesso e areia),
com o retrato do morto em pintura encáustica (pigmentos derretidos) sobre
madeira de limeira, acrescido de uma folha de ouro.
• Data da confecção do sarcófago: entre 100 e 120 d.C.
• Local no qual o sarcófago foi encontrado: Cemitério de Hawara, no Fayum (oásis
a cerca de 100 kms a oeste do vale do rio Nilo (Médio Egito).
• Localização atual: Museu Britânico – Londres – Reino Unido.
• Retrato romanizado do morto.
• Frase de despedida em grego.
• Vários registros com divindades e elementos culturais faraônicos.
MÁSCARA MORTUÁRIA DE
“TITOS FLAVIOS DĒMĒTRIOS” / TITUS FLAVIUS DĒMĒTRIUS
• Máscara de cartonagem dourada e pintada com inscrição em grego do nome do
morto: Titos Flavios Dēmētrios. O correto em latim: Titus Flavius Dēmētrius.
• Data da confecção da máscara: entre 80 e 120 d.C.
• Local no qual o sarcófago foi encontrado: Cemitério de Hawara, no Fayum.
• Localização atual: Ipswich Museum – Reino Unido.
• O rosto do falecido é representado como uma tradicional máscara faraônica e
não há sinais de romanização. Há um toucado tripartite (tipicamente egípcio).
• Na parte da frente, há divindades faraônicas, como Anúbis e Maat, além do ba
do morto (uma de suas partes – princípio de mobilidade).
• Na parte de trás, há o nome do defunto escrito em grego, porém trata-se de um
cidadão romano por ter a tria nomina: praenomen, nomen e cognomen, além
de ser visto Anúbis e mais símbolos faraônicos.
ESTELA FUNERÁRIA DE “PLOUTOGENĒS” (do grego: “origem rica”)
• Estela funerária de Ploutogenēs com inscrições em grego.
• Data da confecção da estela: séculos I a III d.C.
• Local no qual a estela foi encontrada: Abydos (Alto Egito e principal centro de
culto a Osíris, na época faraônica).
• Localização atual: Merseyside County Museums – Liverpool – Inglaterra – Reino
Unido.
• A estela retrata o cerne (ponto central) da psicostasia: Anúbis conduz o morto
até Osíris, estando Ísis atrás deste deus.
• No topo da estela há um disco solar alado, com duas uraei penduradas
• A iconografia da estela é fortemente faraônica, salvo a inscrição em grego e o
nome do falecido, igualmente grego e escrito em língua helênica.
Estela Funerária do Morto levado por Anúbis a Osíris

• Estela Funerária de calcário com inscrições em hieróglifos e cenas mostrando o


morto sendo conduzido por Anúbis até Osíris.
• Data da confecção da estela: entre 90 e 150 d.C.
• Local no qual a estela foi encontrada: Abydos.
• Localização atual: Liverpool School of Archaeology, Classics and Oriental
Studies.
• A iconografia relembra o âmago (ponto central) da psicostasia: Anúbis conduz o
morto até Osíris, estando Ísis atrás do defunto, o qual veste roupas e usa
penteado romanos.
• No entanto, todos os textos desta estela estão grafados em hieróglifos.
1) Todas as referências bibliográficas estão ao longo do “powerpoint”.

2) Em aula, apresentação e debates sobre este “powerpoint”.

F I M

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