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ANTROPOLOGIA

2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA
• Conceito e Origens:
Antropologia é e sempre foi reconhecida como uma das ciências mais relevantes
para o Homem, uma vez que esta é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado
do ser humano. É um termo de origem grega, formado por “anthropos” (que significa
“homem” ou “ser humano”) e “logos” que significa conhecimento. É uma disciplina
multidisciplinar, dado que envolve o ser humano com a grande diversidade cultural
existente no mundo, e daí existe uma grande ligação em diversas disciplinas que
procuram refletir sobre as dimensões biológicas, sociais e culturais, como por exemplo
a Antropologia Física ou Biológica (estuda a diversidade do corpo humano no passado e
no presente), Antropologia Social (analisa o comportamento humano, a cultura e as
estruturas de relações sociais) e Antropologia Cultural (se consagra no estudo das
linguagens humanas).

• A Pré-História do Pensamento Antropológico:


Já nos primeiros livros sagrados da Humanidade, de hebreus, muçulmanos e
hindus, encontramos relatos dos costumes destas sociedades Antigas. Foram esses
documentos que permitiram, mais tarde, a que os antropólogos estudassem essas
sociedades. No entanto, foram os gregos quem deu o maior contributo, com as
primeiras reflexões sobre os encontros entre culturas, visto que estes colonizaram
grandes áreas do Mediterrâneo.
No século V a.C., os trabalhos de Heródoto providenciam um interesse
antropológico muito desenvolvido. Este viajou e visitou outros povos e culturas,
interessando-se especialmente pelos costumes do casamento e os modos de
subsistência. Descreveu a sociedade egípcia, comparando-a à grega. Heródoto é
considerado também um dos pais da História. Escreveu sobre os bárbaros
(“estrangeiros”), considerando-os inferiores aos gregos, chegando a descrevê-los como
figuras com um só olho e os pés virados pra trás. Relacionou zona climáticas e culturais.
Estrabão (64 a.C. – 24 d.C.) – “Geografia”: Produto de viagens a todo o mundo
conhecido à época. História, religião, costumes locais e as instituições dos diferentes
povos estão misturados às descrições geográficas.

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Pausanias (séc. II d.C.) – “A Descrição da Grécia”. Método: observação direta e


citação de autores.
Júlio César (I séc. a.C.) – “A Guerra das Gálias”. Comentários do ponto de vista de
um observador participante escrita na terceira pessoa (descrição objetiva e
autorreflexiva).
Tácito (I séc. d.C.) – “Germânia”. Descrição detalhada; primeiro grande descrição
etnográfica. Os vizinhos bárbaros nas fronteiras do Império Romano. Vida pública:
política, religião, justiça, guerra, lazer; vida privada: casamentos, vida, familiar,
costumes, morte (rituais fúnebres).
Platão, Aristóteles (sobre as cidades gregas), Jenofonte (sobre a India) e outros
também se dedicaram à descrição dos costumes doutras culturas.
Entre os romanos, podemos observar uma especulação antropológica. O poeta
Lucrécio tentou descobrir as origens da religião, das artes e do discurso. Tácito
descreveu as tribos germanas, baseando-se nos relatos dos soldados e viageiros. Este
tem uma visão compreensiva, salientando o vigor dos germanos em contraste com os
romanos da sua época.
Com a chegada do Cristianismo, é introduzida, na escrita sobre outras culturas,
uma perspetiva etnocêntrica (consideram o seu grupo étnico ou cultura o centro de
tudo). Santo Agostinho, um dos pilares teológicos desta época, descreveu a Roma e a
Grécia clássicas como “pagãs” e moralmente inferiores às sociedades cristianizadas. A
sua obra transparece uma intuição do “tabu do incesto” como norma social que garante
a coesão da sociedade. No entanto, procurou explicações sobrenaturais para a vida
sociocultural.
Na Idade Média, o domínio absoluto no mundo das ideias foi da Igreja Católica,
ficando a especulação antropológica reduzida a considerações teológicas. Até ao final
do feudalismo, o Renascimento Antropológico não se verificou.
Nos séculos XVI e XVII, aumentam, consideravelmente, os descobrimentos
geográficos e os contatos dos europeus com outras culturas. Será nesta altura – século
XVI – quando se confirma a esfericidade do planeta com a primeira volta ao mundo de
Juán Sebastián El Cano e Juán de La Cosa. Nessa época, as viagens ultramarinas incluíam,
nas suas expedições, escritores encarregados de elaborar uma etnografia com fins

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administrativos, económicos e missionários. Foi este o caso do administrador francês


Jean Bodin (1530-1596) que estudou os costumes dos povos conquistados, para explicar
as dificuldades que os franceses tinham para administrar esses povos.
Outro exemplo foi o dos missionários jesuítas na América (ex.: Bartolomé de las
Casas e o Padre Acosta) que escreveram as “Relaciones Jesuíticas” e elaboraram a
“teoria do bom selvagem”, segundo a qual os índios tinham uma natureza moral pura
que devia ser aprendida pelos ocidentais. Esta teoria idealizava, com nostalgia, uma
cultura mais próxima do estado “natural”.
A expansão foi justificada por motivações económicas e religiosas, assim o
confirma Vasco da Gama na sua primeira viagem à Índia, afirmando aos locais que vinha
para arranjar “cristãos e especiarias”. A visão europeia era de que estes povos não
tinham lei, nem fé nem senhor.
No século XVI, o viageiro Marco Pólo elaborou informações críticas sobre o
Oriente. Outro pensador social importante foi Gianbattista Vico (1668-1744) que
defendeu que os humanos podiam reconhecer a sua própria história porque eram
autores da mesma (compreender o passado, recreando-o imaginativamente).

Renascimento Europeu:
As mudanças ocorridas na Europa, como o desenvolvimento do comércio e das
cidades e a expansão marítima, foram acompanhadas por um intenso movimento
cultural. Desta forma, estas transformações fizeram os europeus acreditarem que
viviam num tempo novo e de mudança, muito diferente daquele que governou toda a
Idade Média. Por isso, os europeus dos séculos XIV ao XVI acreditavam estar
presenciando o verdadeiro Renascimento. Assim, em grande parte da Europa,
começaram a surgir escritores e artistas preocupados em expressar os valores daquela
“nova” sociedade. Neste contexto, o Homem passou a ser visto com grande
importância, dando lugar ao movimento intelectual denominado por “Humanismo”,
onde se valoriza o ser humano acima de tudo.
Foram imensos os autores que escreveram acerca deste tema (dando cada vez
maior importância à antropologia como ciência) como por exemplo Hans Staden, Pêro
de Magalhães de Gândavo (Geografia, plantas e animais, costumes) e Jena de Lery

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(ilustrações feitas a partir dos seus próprios desenhos, que retratam costumes dos
índios, o seu imaginário, e cenas de guerra), fazendo importantes referências à
expensão da Península Ibérica no mar no que diz respeito à descoberta das Américas e,
consequentemente, relatos dos índios que lá habitavam, que despertaram o gosto pelo
conhecimento.

Eurocentrismo – Europa como o elemento fundamental na constituição da


sociedade moderna (Europa no centro do mundo).

A Idade das Luzes (séc. XVIII):


O período do Renascimento também ficou reconhecido como a “Época das
Luzes” e foi marcado, como já foi referido anteriormente, por grandes transformações
na estrutura social onde os temas giravam em torno da liberdade, do progresso e do
homem. Iluminismo foi um processo desenvolvido para corrigir as desigualdades da
sociedade e garantir os direitos naturais do individuo, como a liberdade e a livre posse
dos bens. Os iluministas acreditavam que Deus estava presente na natureza e, também,
no próprio individuo, sendo possível descobri-lo por meio da razão.

O Empirismo Inglês:
O empirismo inglês foi também outro conceito criado nesta época. Um
movimento que admite as experiências como únicas que formam os ideias (do homem
e do mundo em geral – John Locke “Homem como uma tábua rasa”). O empirismo
consiste numa teoria epistemológica que indica que todo o conhecimento é um fruto da
experiência e por isso, uma consequência dos sentidos. A experiência estabelece o valor,
a origem, e os limites do conhecimento. Um dos grandes defensores deste conceito foi
John Locke que, baseando-se no pensamento dos ideais, centrou-se na importância da
educação dos povos desta época, privilegiando o contacto direto com as coisas.

O Racionalismo Francês:
No mesmo contexto surgiu ainda o racionalismo Francês que se baseava em
ideias semelhantes, ou seja, na valorização do Homem e da razão. O racionalismo é uma

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teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de conhecimento


relativamente aos sentidos. Foram vários os autores que defenderam esta corrente,
como por exemplo:
a) Buffon – Primeira classificação das raças humanas (importante para o
“evolucionismo”);
b) Voltaire – A história do Homem é universal (elogiava a sua nação): defendia que
as histórias de varias nações, fazem a história de toda a humanidade;
c) Helvétius – Igualdade das raças e da psique humana: defendeu a liberdade,
fraternidade e igualdade;
d) Rousseau – Combate a desigualdade de forma a criar hegemonia social;
e) Diderot – História das duas Índias, ocidental e oriental, que despertaram muitas
obras de arte;
f) Montaigne – Ensaio sobre os canibais;
g) Joseph François Lafiteau – Cria as bases de uma ciência universal do homem;
defendeu os direitos humanos anti escravatura: carta dos direitos humanos.

Mais tarde, já no século XIX, deu-se ao Evolucionismo, conceito assente na ideia


do progresso (cientismo: ciência como base para o progresso) que se demonstrou como
um entusiasmo pela técnica e pela ciência. Neste contexto, surgiu a grande Revolução
Industrial (que também passou para as ciências sociais), em que o Homem passa a
controlar os processos de maquinação (produção), o que levou os povos à consciência
de um progresso infinito, repleto de técnicas inovadoras.

A Ilustração Francesa aderiu às teorias da evolução unilinhar e do progresso


social. Todas as sociedades passariam por uma série de estádios fixos: primitivismo,
selvagismo e civilização. Montesquieu, Voltaire, Condorcet, Adam Smith, Adam
Ferguson e William Robertson foram os autores de maior destaque. Montesquieu
escreveu “Lettres Persanes” e “L’Espirit des Lois”, obras em que defendeu a diversidade
de instituições e de governos existentes e onde afirma a ideia de que cada cultura é um
conjunto lógico. Outro autor importante foi J.J. Rousseau que publicou a obra “Émile” e
defendeu, de novo, a teoria “do bom selvagem”, segundo a qual os humanos são

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intrinsecamente bons: a sociedade é que os corrompe. Para recuperar a bondade


primitiva e original dos humanos é preciso voltar à natureza. Todos estes autores
procuravam justificar a nova sociedade industrial. Os ilustrados pensavam que era
possível encontrar leis gerais, como nas Ciências Naturais, para explicar a sociedade (da
física).

• A antropologia como ciência autónoma (séc. XIX):


Etnocentrismo – Ocorre quando um determinado individuo ou grupo de pessoas,
que têm os mesmo hábitos e carácter social, descrimina outro, julgando-se melhor ou
pior, seja por causa da sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias pela
forma de se vestir, ou até mesmo pela sua cultura. Esta avaliação é, por definição,
preconceituosa.
Durante o século XIX, aumentaram os estudos empíricos de povoações
primitivas. Outros aspetos da mudança de atitude relativamente a outras culturas foram
o aparecimento de sociedade etnológicas (na Europa e na América), a criação de museus
e de revistas antropológicas.

Auguste Comte surge nesta época descobrindo os mecanismos de evolução e


defendendo as 3 fases de evolução intelectual dos povos: teológica, metafísica e
positiva, (ou científica) e mais tarde, Charles Darwin (1809-1882) um naturalista que deu
os primeiros passos mais físicos, aplicando ao Homem os princípios que tinha dado
anteriormente aos animais.
Lewis Henry Morgan (1818-1881) foi outro dos nomes relevantes para esta
época. Este foi um jurista e um dos fundadores da Antropologia que realizou um
trabalho de campo entre os índios iroqueses e Manhattan. Estabeleceu também os três
estados de evolução da humanidade: selvageria, barbárie e civilização. Ênfase em três
áreas: estado (sistemas políticos); família (sistemas de parentesco); propriedade privada
(direito).
James George Frazer (1854-1941) realizou um estudo comparativo da mitologia,
religião e folclore (constituído por superstições transmitidas de geração em geração) de
várias sociedades. Teses: o pensamento humano evoluiu de um estágio mágico para

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outro religioso, e daí para um nível cientifico. Distinção entre magia e religião. Na magia,
o utilizador tenta controlar através de “técnicas” o mundo e os acontecimentos,
enquanto na religião, ele requisita o auxílio a espíritos e divindades.

A ideia principal do Evolucionismo é a de que a cultura e a sociedade evoluem,


tal como as espécies e organismos, a partir de formas mais simples até chegarem a
outras mais complexas. Tanto Tyler como Morgan afirmam que as sociedades passam
por estádios de evolução até chegarem a outras mais complexas da vida social. Tyler
acreditava ainda que as sociedades podiam importar elementos culturais umas das
outras através de um processo de difusão. Morgan, ficou conhecido pelo seu esquema
em que dividia o processo evolutivo em três estádios com seis subcategorias. As
principais divisões de Morgan são: Selvajaria (iniciou-se com o surgimento do Homem;
uso de arco e flecha), Barbárie (fase seguinte; arte cerâmica e domesticação de animais)
e Civilização (período atual). Esta conceção reflete perfeitamente o etnocentrismo da
burguesia intelectual europeia e norte-americana. As teorias evolucionistas não
explicam satisfatoriamente toda a diversidade cultural. Porque é que umas sociedades
evoluíram para a civilização enquanto outras ficaram na selvajaria? Hoje existe a
evidência etnográfica que nem todas as sociedades passaram pelas mesmas fases na
sua marcha evolutiva para a civilização.

Magia – Utiliza objetos (materiais) para fazer magia.


Religião – Existe um Deus que não pode ser forçado, pois é superior.
Ciência – O Homem é autónomo e dotado de capacidade para modificar a
Natureza.

O Difusionismo:
Acreditam que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da
tendência humana para imitar e absorver traços culturais. Rivers foi o primeiro a
declarar guerra contra o evolucionismo e desenvolveu trabalhos sobre o parentesco.
Adotou um tipo diferente de tratamento que consistia em fazer com que os soldados
falassem sobre as suas experiências como forma de enfrentar o medo.

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Mais tarde (início do século XX), após o movimento evolucionista, surgiu uma
nova corrente designada por “Difusionismo”, que veio criticar e pôr em causa as ideias
do evolucionismo. Esta correte visou estudar a distribuição geográfica dos traços
culturais e as sucessões de empréstimos de um grupo a outro.
Sob o impulso das críticas do antropólogo americano Franz Boas (1858-1942) às
teses evolucionistas, uma nova compreensão da humanidade desconsidera
progressivamente o evolucionismo linear e cede o lugar ao que foi designado de escola
difusionista ou ainda de corrente da história cultural. Esta corrente foi sobretudo
relevante nos Estados Unidos, mas também na Alemanha, pela iniciativa do geógrafo F.
Ratzel (1844-1904), onde prevaleceu até finais dos anos trinta.
Assim, contrariamente aos evolucionistas, que interpretavam as semelhanças
entre sociedades como a expressão de uma evolução paralela, os difusionistas
interpretam esta evolução como sendo essencialmente o resultado de empréstimos e
de contatos culturais entre sociedades, reconhecendo assim a diversidade.
Para os difusionistas a semelhança resulta de uma transferência direta e indireta
de uma sociedade para outra. Para reconstituir a história universal das culturas na sua
inter-relação, os difusionistas dividiam as suas áreas culturais, a partir das quais se
teriam efetuado as difusões, em vários estados – os quais iam dos “Caçadores-
recolectores” primitivos às civilizações evoluídas da Europa e da Ásia.
Introduziram as noções de “complexo cultural”, “círculo de cultura” ou
“civilização”.
Como forma de contestação ao difusionismo advém do hiper-difusionismo
(Elliot-Smith – discípulo de Rivers, desenvolveu a ideia de que todo o inventário cultural
do mundo se formou no Egopto – e Perry), que afirma que o primeiro está centrado
totalmente num único ponto que regula tudo o resto.
Este movimento foi constituído por três escolas:
a) Britânica (Eliott Smith e W. J. Perry) – Só admite um ponto de difusão (um
traço cultural só pertence a um sítio);
b) Germano-austríaca (F. Graebner e W. Schmith) – Defende que o mesmo traço
cultural pode ter sido inventado em zonas distintas.
c) Norte Americana (Kroeber, Goldenweiser, Sapir, Wissler) – Defende o Egito

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como único foco de invenção de cultura.

• O particularismo Histórico:
Reação contra o difusionismo.

Franz Boas (1858-1942), fundador da antropologia cultural, juntamente com os


seus discípulos Robert Lowie (Os índios da planície central) e Alfred Kroeber (Tribos de
sudoeste), que criticaram a corrente difusionista, pois sugeriram uma recolha
sistemática e exaustiva de uma só etnia, apoiando-se também na ideia de que a cultura
transcende o Homem (cultura como superorgânico), ou seja, é algo se que encontra fora
de nós mesmos.

Funcionalismo Britânico:
Por sua vez, o particularismo histórico de F. Boas também foi consequentemente
criticado pela corrente que ficou conhecida como “Funcionalismo Britânico” de
Malinowski, com o seu trabalho de campo (método de observação participante).

O Funcionalismo corresponde à doutrina que pretende privilegiar o estudo da


função dos elementos sociais em detrimento do estudo da sua forma. O conceito de
forma social designa qualquer aspeto de um complexo de civilização cujas expressões
podem ser observadas e transmitidas de uma sociedade para outra. Consideram o
estudo da sociedade em termos de organização e funcionamento. O objetivo é
evidenciar as relações causais, funcionais e interdependência entre os factos sociais e
as instituições de uma dada sociedade.
O fundador e o mais notável representante do funcionalismo antropológico foi
Malinowski. Este tentou ilustrar o postulado funcionalista em várias obras da sua
autoria, em particular nos Argonautas do Pacífico Ocidental (1922). Mas Radcliffe-Brown
esteve igualmente na origem da teoria funcionalista que mais tarde viria a ser
desenvolvida por M. Fortes.
Para Malinowski, “a identidade real de uma cultura parece repousar sobre a
conexão orgânica de todas as suas partes, sobre a função que um determinado

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pormenor preenche no interior do seu sistema, sobre as relações entre o sistema, o


meio e as necessidades humanas”.
O fundamento da necessidade e resposta à necessidade, postulado por
Malinowski, leva-o a criar uma tipologia distinguido entre:
a) As necessidades primárias a que o homem está adstrito por razões biológicas,
alguma delas universais por essa razão (como a necessidade de se alimentar);
b) As necessidades derivadas, próprias da condição humana e específicas das
sociedades (tais como a educação e a linguagem);
c) As necessidades sintéticas que correspondem a motivações caraterísticas do
psiquismo humano (como os ideais e a religião).
Funcionalismo como, simultaneamente, uma doutrina e um método. Como
doutrina, quando postula uma orientação geral segundo a qual a utilidade é a finalidade
absoluta do estado da sociedade ou cultura. Como método, quando considera que os
factos descritos devem ser recolocados no seu contexto e interpretados em relação a
este.
Segundo os funcionalistas, o facto social ou a instituição em causa só revela a sua
razão de ser quando apreendidos nas suas relações funcionais com os outros factos ou
instituições constituintes da totalidade social. Encontra-se implícito no funcionalismo
uma hipótese holística e um princípio utilitarista.

Malinowski (método de observação participante) escreveu várias obras:


a) “The Argonauts of Western Pacific” (1922): Nesta obra, este defende o “ritual do
Kula” (atividades interligadas à construção de canoas, cerimónias fúnebres e
tabus preparatórios), que consiste na troca de braceletes brancas por colares
vermelhos na sociedade, com o intuito de aproximação de povos de diferentes
ilhas. Estuda também a monografia antropológica (estudo profundo e completo
de uma só etnia);
a. Povos do norte à Pulseira Branca à Povos nativos de Sinaketa à
Pulseira Vermelha à Povos do norte.
b) “The Scientific Theory of Culture” (1922): Nesta obra, estabelece correlação
entre cultura, função e necessidades biológicas; verificação empírica de factos

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culturais;
c) “Sex and Repression in Savage Society” (1927): Primeiro a falar de incesto na
cultura.
Alferd Radcliffe-Brown (1881-1955), foi outro autor que criticou os aspetos do
particularismo (a ideia de cultura e a personalidade). Centra o conhecimento em
grandes instituições, não sendo algo biológico. Seguidor de Franz Boas; a monografia
antropológica à estudo profundo e completo de uma só etnia.
Função não deve ser usada como “intenção”, “finalidade” ou “significado”. A
função é o que sustenta a estrutura social à Forma como os indivíduos e os grupos de
uma sociedade se organizam entre si.

• O Culturalismo Americano:
Franz Boas – A recolha sistemática e exaustiva de uma só cultura/etnia e os
KwaKiut (estudo descritivo, sem teoria) à povo da costa do pacífico à estuda culturas
índias dos EUA, pois estavam em risco de extinção à método de observação
participante.
O Culturalismo, que teve os seus inícios nos anos 30, no EUA, no seio da escola
de Antropologia Cultural e que teve como influência fundamental a teoria psicanalítica
de Sigmund Freud, teve como principais representantes R. Linton, A. Kordiner, Ruth
Benedict, Margaret Mead, Edward Sapir, entre outros.
O Culturalismo define a cultura como sistema de comportamentos aprendidos e
transmitidos pela educação, imitação e o condicionamento (encolturação) num dado
meio social. Procura assegurar a integração social. Os culturalistas deram aos seus
trabalhos uma orientação psicológica e tentaram saber como é que a cultura está
presente nos indivíduos e como é que orienta os seus comportamentos. O
modelamento da personalidade opera-se consciente ou inconscientemente pelas
instituições e pelo jogo das regras ou das práticas habituais. Valores modais dominantes,
que não excluem variantes e desvios, permitem particularizar cada cultura.
No seu livro “Patterns of Culture” (1934), Benedict argumenta que as culturas se
organizam em torno de diferentes padrões, e que ligados a esses padrões estão
diferentes tipos de personalidade coletiva. As diferenças culturais explicam-se

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essencialmente em termos de diferenças na personalidade. Tanto Ruth Benedict como


Margaret Mead, procuram demonstrar através das suas etnografias que, por exemplo,
as diferenças de comportamento entre homens e mulheres existentes em qualquer
sociedade são um produto do treino social e da enculturação e não das diferenças
biológicas entre géneros.
Ralph Linton, nos seus 2 livros fundamentais, “Estudo do Homem” e “The
Cultural Background of Personality” procuraram elaborar uma teoria das relações entre
cultura e personalidade. Ralph Linton, juntamente com Abram Kardiner, durante as
décadas de 30 e 40, desenvolveram nos seus seminários na Universidade de Columbia,
alguns conceitos-chave deste movimento, como o de personalidade base, que é o
produto da partilha de certas experiências culturais por todos os indivíduos de uma
mesma sociedade. A personalidade base resultaria sobretudo do treino e educação
sociais recebidos na infância, da maneira como os adultos educam as crianças. O
conjunto de práticas culturais que davam forma à “personalidade base” era designado
por instituições primárias. Uma vez formada a personalidade base, esta faria depois
emergir um conjunto de instituições secundárias destinadas a satisfazer as necessidades
e solucionar os feitos originados pela estrutura da própria personalidade base. A religião
e o ritual eram exemplos de instituições secundárias decorrentes da personalidade base.
As instituições primárias e as secundárias influenciavam-se assim mutuamente de forma
circular, através da personalidade base. O problema deste tipo de teorias é criarem
explicações circulares das quais não se consegue sair, pois uma coisa explica a outra e
vice-versa, e assim sucessivamente.
O psicanalística Abraham Kardiner, em relação a Linton, mostra-se menos
preocupado em alcançar uma explicação plural dos factos culturais. Os costumes e
formas de disciplina, variáveis segundo as sociedades, adquiridas na infância e na
adolescência, são consideradas como decisivas na constituição do equipamento mental
dos indivíduos. Embora Kardiner reconheça que a hereditariedade, as disposições inatas
e a história individual levam ao aparecimento de uma determinada gama de
personalidades que vai da normalidade até ao desvio por inadaptação à norma, não
deixa de sublinhar a importância primordial da personalidade base, reconhecida como
norma social pelo conjunto dos membros do grupo.

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As principais críticas aos Culturalistas baseiam-se no facto de terem simplificado


demasiado o problema da formação da personalidade, de terem definido mal os
padrões (patterns), de terem negligenciado o não-codificável, hipostasiando os modelos
e de terem pressuposto a anterioridade lógica da cultura.
Concluindo, todo este “bolo” de conhecimentos descritos anteriormente
contribuíram para a antropologia como ciência autónoma que conhecemos atualmente.

• A escola sociológica francesa:


O desenvolvimento da Antropologia no mundo foi um processo lento e gradual,
mas apesar disso, ocorreu um grande atraso de evolução na França, nomeadamente no
que diz respeito à teoria e prática da mesma. Neste contexto, Émile Durkheim
(considerado o fundador da Sociologia), defende a ideia de que a socialização é o fator
integrador do homem na mesma. Deste modo, as idades deste autor são apostas ao
idealismo de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo “espírito” ou pela
consciência humana. Pelo contrário, afirma que a construção do ser social, feita em boa
parte pela educação, é a assimilação pelo individuo de uma série de normas e princípios
– sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que baliza a conduta do
individuo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto
dela.
Suas obras:
a) “La Division du Travail Social” (1893) – A sua função é criar grupos sociais
distintos e coesos. Dois tipos de solidariedade social:
a. Mecânica (por semelhanças) – Na sociedade primitiva;
b. Orgânica (por cooperação) – Na sociedade urbana.
c. A personalidade individual liberta-se da personalidade coletiva.
b) “Les Règles de la Mèthode Sociologique” (1895) – Procura de leis que regem
os comportamentos sociais. As instituições sociais (gerem as regras sociais) e
a anomia (ausência de normas). A anomia leva o homem ao desespero e ao
suicídio.
c) “Le Suicide” (1897) – Três tipos de suicídio:
a. Egoísta (por si próprio);

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b. Altruísta (uma mãe morre pelo filho) à indivíduos vêem-se como não
tendo importância para a sociedade;
c. Anómico (perde o gosto da vida porque perde as referências).
d) “Les formes Élémentaires de la Vie Religieuse” (1912) – Análise da religião
mais simples (aborígenes australianos). Questiona-se em relação ao grau
zero da religião. Génese das categorias do pensamento:
a. Origem na religião, e depois, na sociedade.
Marcel Mauss (1872-1950) – Contemporâneo de Durkheim, que estudou o
intercâmbio de prendas como principio das relações sociais, processo denominado por
“reciprocidade”. Primeiro mestre do estruturalismo francês; pai da etnologia francesa.
a) “L’Essai sur le Don” (1925) – A dádiva como elemento fundamental nas
sociedades. O principio da reciprocidade (base da economia primitiva):
a. A obrigação de dar, receber e retribuir.
b. O ritual do “Potlach” como aparente aberração:
i. A destruição de riquezas acumuladas; o fator “social total”:
1. Festejo religioso de homenagem seguido por uma
humilhação através da obrigação à renuncia ou todos
os bens materiais acumulados pelo homenageado
(para parar humilhação, tem de fazer um baquete
maior).

Psicologia – Representações individuais.


Antropologia – Representações coletivas, com carácter autónomo e inconsciente
para o individuo.

O estruturalismo francês:
Última escola da Antropologia.
A partir da segunda guerra mundial, a cultura começou a entender-se como um
sistema de ideias e de signos. Se o funcionalismo entendia a sociedade como um
organismo ou máquina (mecanicismo), na qual o ator social seguiu determinadas regras,
o estruturalismo começa a preocupar-se com os princípios lógicos das estruturas de

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sentido. Face ao modelo funcionalista, estático e incapaz de explicar a mudança e o


individualismo, o estruturalismo francês começa a preocupar-se com os mesmos.
O responsável pela adaptação do modelo estruturalista à Antropologia foi o
antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, inspirado pelo trabalho de alguns dos
linguistas do chamado Círculo de Praga, como Nicolai S. Trulartzkoy e Ramon Jacobson.
À influência do Círculo de Praga, Lévi-Strauss juntou as ideias de Émile Durkheim e
Marcel Mauss, introduzindo na Antropologia, o modelo linguístico da oposição binária
ou das categorias contrastantes, como também é por vezes designado.
Enquanto o estrutural-funcionalismo de Radcliffe-Brown se preocupava, acima
de tudo, com o funcionamento do sistema social, o estruturalismo de Lévi-Strauss
procurava descobrir a origem desse mesmo sistema assim como provar a universalidade
dessa origem, a qual segundo ele, se ancorava na estrutura profunda da mente humana,
que ele via como única e universal.
Segundo Lévi-Strauss, a cultura, expressa através dos rituais, da arte e do
quotidiano, não é mais do que a manifestação de uma estrutura mental profunda,
inerente à espécie humana. Por exemplo, o facto de as populações primitivas
organizarem os casamentos através de um sistema de “moitiés” (metades), que trocam
entre si os indivíduos para fugir à endogamia – é um exemplo de organização binária. A
estrutura binária da mente humana refletir-se-ia assim na linguagem e nas instituições
culturais humanas.
O Mundo à nossa volta é organizado em categorias que se opõem umas às
outras: alto/baixo; cozido/cru; norte/sul; mau/bom, etc. De acordo com a teoria
estruturalista, toda a construção cultural do mundo se faz com base num sistema de
oposições (estrutura está nos modelos técnicos e não na realidade empírica). Segundo
Lévi-Strauss, esta organização do mundo, em categorias opostas, não decorre somente
de uma necessidade prática, mas essencialmente de uma necessidade intrínseca da
mente humana. A cultura é uma manifestação da nossa estrutura mental. A natureza
profunda da mente força-nos a organizar o mundo à nossa volta através de um sistema
de contrastes binários que obedece aos mesmos princípios que a linguagem humana
falada.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Suas obras (Levi-Strauss):


a) “Tristes Tropiques” (1955) – Livro onde descreveu e elaborou a diferenciação
entre habitantes das duas américas, falando acerca de várias etnias do Brasil,
sobre um olhar europeu (visão eurocêntrica à visão de um europeu a olhara
para as culturas primitivas).
b) “Les Structures Elémentaires de la Parenté” (1949) – O tabu do incesto (dá
origem ao parentesco) e o átomo de parentesco.
a. A lei da exogamia e a troca de mulheres. Os sistemas “elementares”
(com casamento preferencial, ou seja, decidido desde o nascimento)
e os sistemas “complexos” de parentesco (não há compromisso; há
escolha à existe liberdade, mas em ambos os sistemas é proibido
casar com uma mulher da mesma família/clã).
c) “La Pensée Sauvage” (1962) – Demonstra que a lógica é baseada na lógica do
concreto (observação direta da natureza dos animais e plantas). Defende
ainda que qualquer estágio do ser humano leva-o a refletir e a criar novos
conceitos e adotando-os à sua vida (fala-se agora de realidades mais
abstratas que antes eram desconhecidas). Do concreto ao abstrato, ou seja,
o homem pensa noutras realidades para além da lógica.
a. Tottenismo – Pensamento baseado na lógica concreta que é um
parentesco mítico que as etnias atribuem a um animal mítico.
d) “Mitologiques” (1964-1971) – Nesta obra faz a comparação entre as duas
américas, afirmando que os mitos são iguais em ambas (sistema de
transformações), mesmo tendo personagens diferentes.
a. Para isso, o autor lê os mitos através de oposições binárias
(cru/cozido).
b. A dicotomia é uma característica universal da mente humana.

Interacionismo simbólico – O estruturalismo francês caiu em desgraça pois era


totalitário e não conseguia abranger toda a antropologia devido ao seu
desenvolvimento.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Interacionismo simbólico:
Origem na Escola de Chicago.

Erving Goffman, baseou os seus estudos no “self” (construção social) à mundo


simbólico só se constrói através da interação entre duas ou mais pessoas.

Suas obras:
a) “The presentation of self in Everyday Life” (1959) – Nesta obra, este faz o
paralelismo com o teatro, onde as pessoas fazem performances como atores
que desempenham um guião pré-determinado. E como tal, refere-se ao
teatro como um fingimento, dado que na interação com os outros indivíduos
ocorre ajustamento de comportamento. Defende ainda a importância de
manutenção e ritualização de si mesmo (fingimento que se faz para manter
o estatuto e pertença social) à ritualização do comportamento (classes).
a. Impressão Transmitida – Associada a símbolos verbais.
b. Expressão emitida – Comunicação em sentido amplo.
a) “Stigma: Notes on the Management of Spoiled Identity” (1968) – O livro trata
de marginais e daquilo que existe fora das classes sociais e manutenção de
estatuto de marginal (normalidade vs. comportamentos desviantes).
a. Identidade social, comportamentos desviantes e a estigmatização
b) “Asylums: Essays on the Social Situation of Mental Patients and Other
Inmates” (1961) – Neste livro o autor cria o conceito de “instituições totais”
que diz respeito às prisões, manicómios, conventos e internatos, com o
intuito de colocar entre 4 paredes aqueles que são estigmatizados, para
voltarem à “normalidade”.
a. Imposição de comportamentos reguladores a pacientes e guardas
(papeis pré-determinados) à pessoa sofre algumas degradações
morais, provocadas pelo rompimento com o mundo externo.

Victor Turner, foi antropólogo que fez estudos acerca das sociedades
primitivas/extraeuropeias.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Suas obras:
a) “The Forest of Symbols: Aspects of Ndembu Ritual” (1967) – Fala de rituais e
símbolos e consequente prática numa etnia (estudo de caso).
b) “The Ritual Process: Struture and Anti-Struture” (1969) – Reavaliação dos
rituais de passagem, estudados por Van Gennep. As três fases:
a. Separação;
b. Transição;
c. Reintegração.
i. A liminaridade e a communitas.

O Estruturalismo exerceu uma extraordinária influência na Antropologia um


pouco por toda a parte, mas particularmente na Europa e um pouco mais tarde nos EUA,
mas os seus princípios universalistas nunca foram bem aceites pela antropologia social
britânica.
Uma das maiores críticas ao Estruturalismo refere a frequente falta de uma base
etnográfica sólida que demonstre a existência dessa estrutura profunda da mente
humana, que supostamente determina a forma como os sistemas culturais se
organizam. Mas a sua maior falha é não explicar porque é que não havendo uma só
estrutura universal, existe uma diversidade tão grande de padrões e sistemas culturais
à escala mundial, como as línguas diversas, por todo o Mundo.

• A Antropologia Interpretativa:
A antropologia interpretativa aborda como ideias principais a analise da cultura
como hierarquia de significados, a classificação de valores culturais, categorias, fazendo
com que a etnografia se transforme em uma descrição completa, muito ligado à
realidade empírica.
Clifford Geertz faz uma divisão na antropologia, se contrapondo ao modelo de
Levi Strauss, criando essa nova teoria de antropologia que tinha a intenção de falar em
culturas num plural e interpretar os relatos da etnografia de acordo com os
pensamentos de cada antropólogo. Isto é, defendia que para se fazer Antropologia, o
antropólogo pode recorrer a várias matérias (livros, jornais), uma vez que tudo é bom

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

para estudar o Homem, desenvolvendo assim visões diferenciadas (avanço na


subjetividade).
Suas obras:
a) “The Description: The Interpretation of Cultures” (1973) – A cultura é feita
de uma teia de significados tecida pelo Homem, ou seja, cada antropólogo
percebe a realidade à sua maneira; não basta descrever factos (sociais e
culturais), é necessário interpretá-los.
b) “From the Native’s Point of View” (1976) – Nesta obra defende que só um
nativo de uma certa cultura é que consegue compreender e falar
corretamente acerca da sua nação, considerando os textos antropológicos
ficção.

Conceitos:
Emics – Ponto de vista dos nativos (defende este, dado que o nativo fala dele
próprio, como constituinte único da sua nação).
Etics – Ponto de vista dos antropólogos.

• Pós-Modernidade:
A pluralidade de autores e perspetivas na antropologia contemporânea.

A partir dos anos 50 e até aos anos 70, ocorreu a descolonização dos países em
todo o mundo e aí, a antropologia se reposicionou para uma “outra coisa”, isto é, o
conhecimento exempto e o conhecimento em geral. O pós-colonialismo estudou a
aculturação, etnocídio (destruição de uma cultura de um povo; não é necessariamente
intencional) e creolização (potência que interfere, desorganiza e quebra as hierarquias
do poder, daí a sua dimensão monstruosa). Assim, para estes “novos estudos” na Europa
o antropólogo visou-se para os pescadores, pastores e camponeses situados dentro da
sua própria civilização. A influência de um povo colonizador sobre um povo colonizado
pode ser fraca (aculturação), média ou semelhante.
A pós-modernidade é um conceito ligado à crise de representação do Homem
como agente do conhecimento. O axioma “moderno” que se pode conhecer o Homem

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

através do pensamento racional é posto em causa. A multiplicidade, a fragmentação e


a entropia (desorganização) do conhecimento são valorizados.
O antropólogo estuda nichos de culturas urbanas e os seus múltiplos objetos e
temas. Assuntos como a globalização e a multiculturalidade misturam o que antes
estava separado. A cultura de massas (imprensa, rádio, televisão, multimédia, internet).

AS RELAÇÕES DA ANTROPOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


As Ciências Sociais aparecem no séc. XIX, altura em que se consolida a sociedade
burguesa, a modernidade e aparecem novos problemas na relação entre o indivíduo e
o grupo.
As Ciências Sociais e Humanas têm em comum a relação entre o sujeito
(humano) e o objeto de estudo (humanos), implicando um estatuto epistemológico
próprio, diferente das Ciências Naturais. No entanto, a relação intersubjetiva com o
objeto de estudo também pode determinar algumas diferenças.
Durkheim (1995) defendia “os factos sociais como coisas”, ou seja, que as
Ciências Humanas e Sociais deveriam imitar as Ciências Naturais, considerando os
fenómenos sociais como naturais.
Dilthey (1839-1911), Max Weber (1864-1920) e Peter Winch, por outro lado,
defendiam que, como a ação humana é radicalmente subjetiva, as Ciências Sociais
deveriam ter um estatuto epistemológico próprio. Assim, estas ciências deveriam ser
capazes de compreender os fenómenos sociais a partir das atitudes mentais e do
sentido que os agentes conferem às suas ações, utilizando métodos qualitativos e
indutivos.
Karl Popper afirmou a inexistência de oposição entre as Ciências Humanas e
Sociais, pois a verdadeira oposição existe entre as ciências empíricas e os sistemas
metafísicos. Ele reconhece ainda o direito de a ciência procurar leis gerais, uma vez que
esta é provisória. Esta validade limitada significaria pensar no conhecimento científico
não como uma verdade irrefutável e absoluta, mas como uma validade limitada.
Thomas Kuhn (2000), pelo contrário, distinguiu as ciências paradigmáticas
(Ciências Naturais) das ciências pré-paradigmáticas (Ciências Sociais), porque não existia
um paradigma (conjunto de teorias e princípios sobre a estrutura e a natureza das coisas

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

– aceite por todos) sobre a natureza humana que fosse aceite por toda a comunidade
científica. É importante ainda situar as ciências humanas e sociais, nomeadamente a
Antropologia, na organização da produção social do saber.

• Paleontologia/Arqueologia VS Antropologia Física:


Paleontologia/arqueologia é o estudo das culturas humanas do passado. Estudo
da evolução da vida na terra tanto animal como vegetal, através do estudo dos fósseis
através de métodos de datação como a estratigrafia e o radiocarbono. A vertente
antropológica desta disciplina é a Antropologia Física, que estuda a evolução do Homem,
tendo em conta os aspetos genéticos e biológicos.

• História VS Antropologia Histórica:


História como a disciplina visto como ciência social matriz que sustenta todas as
outras ciências. O paradigma utilizado é o tempo, mais precisamente os ciclos de
Kondratiev (longa duração) e de Katchin (curta duração). A partir do estudo de ambos
os ciclos, chegaremos a conclusões sólidas. Complexos Histórico-Geográficos (Vitorino
Magalhães): acontecimento histórico interligado ao acontecimento geográfico, na
medida em que se influenciam e determinam sistematicamente. A vertente para a
História é a Etno-história, um conceito criado por J. Vansina que se refere aos estudos
da história recorrendo apenas a memórias individuais, em que indivíduos que não
sabiam escrever.

• Filosofia VS Antropologia Filosófica:


Filosofia Antiga era uma disciplina não científica que dividia o Homem em dois
mundos, o sensível (corpo) e o inteligível (alma). Aristóteles e a noção de alma. Já na
Filosofia Medieval, o Homem é considerado um ser criado por Deus, que tem como
objetivo procurar o destino da alma. A Filosofia Moderna traz-nos Descartes e a ideia de
“Cogito” (a faculdade de pensar), fazendo um estudo intermédio entre o corpo e alma,
referenciando a glândula pineal. Já a Filosofia Contemporânea mostra-nos o homem
fragmentado e o homem absurdo.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

• Sociologia VS Antropologia Social:


A Sociologia é criada por Comte, em 1838, e baseia-se na análise de instituições
sociais através dos comportamentos, funcionamento e ligações entre grupos humanos.
A revolução industrial e o capitalismo desenvolvido por Marx tentam levar a disciplina a
conclusões sólidas, ou seja, científicas. A vertente desta é a Antropologia Social, que
integra o estudo do Homem como ser integrado numa sociedade de homens; fazendo o
estudo de elites.

• Psicologia VS Etno-psicologia:
Psicologia como o estudo dos comportamentos e processos mentais do
indivíduo. A mente (sítio das operações mentais) estudada por Wundt e a estrutura
(sensações); William James introduz a função, ou seja, os processos conscientes.
Sigmund Freud tem grande influência na antropologia, pois muitos antropólogos usam
categorias de Freud como mecanismos. Géza Róheim criou a Antropologia Psicológica.
A Etno-Psicologia (vertente antropológica da Psicologia) procura compreender o “outro”
dentro das suas próprias teorias psicológicas.

• Ciência Política VS Antropologia Política:


Ciência Política como o estudo dos sistemas, organizações e processos políticos
para a tomada de decisão, utilizando como objetos o poder e o estado (soberania,
hegemonia, regimes, governos, etc.). A Antropologia Política diz respeito ao estudo do
poder nas sociedades sem Estado ou com um Estado simples (como o caso das tribos!).

• Economia VS Antropologia Económica:


Economia como o estudo da produção, distribuição e consumo de bens e
serviços nas sociedades complexas (urbanas), que gera leis de controlo de custo,
mercado, oferta, procura e riqueza. A Antropologia Económica é o estudo do sistema
simples de subsistência (como a recoleção, a caça, agricultura, pesca) e sistemas de
troca com ou sem mercado nas sociedades tradicionais (rurais).

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

• Geografia VS Geografia Humana:


Geografia como o estudo dos fenómenos significativos na paisagem terrestre,
vendo o espaço como paradigma. Geografia Humana como o estudo das marcas do
Homem na paisagem e a sua relação com o meio ambiente. Outra vertente é a
Antropologia do Espaço, que se dedica ao estudo das diferenças culturais relativas à
perceção do espaço.

• Linguística VS Etno-linguística:
A linguística estuda a linguagem na sua vertente histórica, funcional e estrutural.
É a disciplina que levou Lévi-Strauss a criar o Estruturalismo. A Etno-linguística estuda
as línguas dos vários grupos étnicos. Já a Antropologia Linguística estuda a relação do
Homem com a linguagem.

CONCEITOS BÁSICOS USADOS EM ANTROPOLOGIA


São necessários, genericamente, conceitos disciplinares, interdisciplinares e
transdisciplinares.
Conceitos Disciplinares são conceitos que nascem numa determinada
ciência/disciplina e são utilizados apenas pelas mesmas.
Conceitos Interdisciplinares são conceitos criados nas disciplinas “originais” e
que são aplicados em outras ciências.
Disciplinas Transdisciplinares são conceitos criados nas disciplinas “originais” e
que são utilizados em outras ciências, mas que são de tal forma alteradas que já não
podem voltar à sua disciplina de origem, pois perdem o seu sentido.
Karl Popper e Thomas Kuhn criaram condições para a evolução das ciências. Kuhn
foi responsável pela criação da revolução científica, distinguindo Ciência normal
(quando se desenvolve uma atividade científica no paradigma atual) e Ciência
extraordinária (momento em que se criam novos paradigmas).

Aculturação – Mudança cultural provocada por contato cultural prolongado


(conceito criado no culturalismo). O choque cultural (incompatibilidade) pode surgir da
fusão de culturas. As mudanças de sistema consistem na adaptação de traços de outras

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

culturas (cria conflitos quando o lado fraco é atacado). Contrariado pela nação purista
das culturas, defendendo que cada nação tem as suas próprias caraterísticas, que
corresponde à ação da história sobre cada uma das culturas, por isso é algo positivo.

Enculturação/Endoculturação – É o processo através do qual uma pessoa


aprende as exigências da cultura na qual ela está inserida, e adquire valores e
comportamentos que são tidos como apropriados ou necessários naquela cultura.
Pressupõe aprendizagem de uma cultura através da educação – formal ou informal – ao
longo da vida, de forma consciente ou não. Importância dos rituais de iniciação.

Animismo – A manifestação religiosa imanente a todos os elementos do Cosmos


(Sol, Lua, estrelas), a todos os elementos da natureza (rio, oceano, montanha, floresta,
rocha), a todos os seres vivos (animais, fungos, vegetais) e a todos os fenómenos
naturais (chuva, vento, dia, noite). Os fenómenos naturais são atribuídos à intervenção
de espíritos, bons ou maus. Segundo Edward Taylor animismo é uma fase original da
religião e diz que a religião nasceu quando as pessoas tentavam entender as condições
e eventos que não se podiam explicar através das experiências do quotidiano. Este autor
era “evolucionista”, por isso achava que a religião evoluiu em etapas: animismo,
politeísmo e monoteísmo. Base (alma é independente do corpo); sobrevivências (o culto
dos marabus – islão – e dos santos – cristianismo).

Área Cultural – A área cultural é um conceito desenvolvido na antropologia


norte-americana da primeira metade do século XX definido como áreas em que se
encontram culturas similares (Herskovits). Corresponde ao conjunto de elementos ou
traços culturais típicos de uma região (área), com uma atividade humana relativamente
homogénea ou um complexo de atividades (cultura) comuns entre si. Termo marcado
pela escola difusionista americana (Melville Herskowitz); dentro de cada área cultural
encontram-se os mesmos traços culturais; é possível datar objetos no interior de cada
área cultural de acordo com a distância ao centro difusor; importância para os estudos
comparativos.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Avunculato – Consiste numa relação particular entre tio materno e os sobrinhos.


Esta relação corresponde ao conjunto de direitos e obrigações que o tio materno tem
para com o sobrinho assim como o tipo de tratamento que é reconhecido entre eles –
autoridade familiar. Varia de sociedade para sociedade, mas geralmente o tio tem
autoridade sobre o sobrinho, ao qual transmite os seus bens. Existência universal do
avunculato. Levi-Strauss explica esta universalidade pela proibição de incesto entre
irmãos (tio dá a sua irmã ao pai do sobrinho).

Bom Selvagem – O bom selvagem ou mito do bom selvagem é um lugar comum


ou tópico literário na literatura e no pensamento europeu da Idade Moderna, que nasce
com o contato com as populações indígenas da América. No século XVI e XVII dá-se a
resistência dos índios à colonização (imagem do selvagem feroz); século XVIII a imagem
do índio inverte-se, o “bom selvagem” como contraponto às sociedades europeias
corruptas; J.J.Rousseau - reencontro da Idade de Ouro da Humanidade, o homem como
ser natural; Buffon - selvagem em transição.

Casta – Casta é um sistema tradicional, hereditário ou social de estratificação, ao


abrigo da lei e com base em classificações como a raça, a cultura, a ocupação
profissional, a religião. As castas são um grupo social hereditário, no qual a condição do
indivíduo passa de pai para filho, e cada integrante só pode casar-se com pessoas do seu
próprio grupo. Por exemplo, na Índia e alguns países de religião hindu, como o Nepal,
possuem um sistema de castas, que é uma divisão social importante na sociedade
Hindu. Separação social absoluta de 4 grupos sociais na índia: bramanes (sacerdotes),
kshatrias (militares), vashias (comerciantes), shudras (artesãos). Os intocáveis que não
têm casta, ocupam a base da pirâmide social.

Clã – Representa um grupo de pessoas unidas por parentesco (afiliação) e


linhagem e que é definido pela existência de um ancestral comum. O parentesco
baseado em laço pode ser de natureza meramente simbólica ou podem compartilhar
um ancestral comum "estipulado”. Os membros de um clã têm um antepassado mítico
e tabus alimentares em relação a esse animal. Os clãs são chamados de patrilineares,

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

matrilineares e bilateral. Patrilineares é quando os membros são apenas homens,


matrilineares é quando são apenas mulheres e bilateral depende das regras e normas
de parentesco. São sempre exógamos e constituem-se como um grupo que se
entreajuda e possui propriedades em como no interior da uma tribo.

Tribo - Grupo social da mesma etnia, que vive em comunidade sob a autoridade
de um ou mais chefes que compartilham a mesma língua e os mesmos costumes (tribo
indígena). Nas sociedades ditas primitivas, qualquer grupo que vive no mesmo território
e é unido pela suposta origem comum (tribo da nova Guiné). É um grupo com significado
político, uma espécie de estado embrionário.

Nação – Nação é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, que


falam o mesmo idioma e tem os mesmos costumes, formando assim, um povo com
consciência da sua identidade. Uma nação mantém-se unida pelos hábitos, tradições,
religião, língua e consciência nacional. Por exemplo, um conjunto de tribos.

Cultura – Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o


conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e
aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer
parte de uma sociedade como membro dela que é. Cada país tem a sua própria cultura,
que é influenciada por vários fatores. Segundo Franz Boas é o resultado de interações
individuais; para Malinowski surge em resposta a necessidades elementares do homem;
Lévi-Strauss diz que é o que se opõe a natureza. Cultura na antropologia é compreendida
como a totalidade dos padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Tem como
objetivo representar o saber experiente de uma comunidade, saber obtido graças à sua
organização espacial, na ocupação do seu tempo, na manutenção e defesa das suas
formas de relação humana. Estas manifestações constituem aquilo que é denominado
como a sua alma cultural, os ideais estéticos e diferentes formas de apresentação.

Etnia – significa grupo biológico e culturalmente homogêneo como os costumes,


incluindo língua, raça, religião. Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

certa uniformidade cultural, que partilham as mesmas tradições, conhecimentos,


técnicas, habilidades, língua e comportamento. Define-se por um nome (ciganos) e por
uma consciência coletiva (histórica). A sua coesão nasce da sua identidade cultural. Etnia
ultrapassa a fronteira do estado e há o problema do “etnocídio”. A Etnografia é a ciência
que tem como objeto de estudo os costumes e tradições das etnias. O termo não é
sinônimo de raça, pois a palavra raça tem um sentido exclusivamente biológico.

Raça – Grupo humano particular no contexto da espécie com variações


morfológicas em relação a um património genético comum. Resultam de pressões
ecológicas concretas (clima) e a consequente adaptação biológica (seleção natural).
Grupo humano particular no contexto da espécie (homo-sapiens) surge o perigo da
discriminação com base na raça. (Caucasóide, mongoloide, negroide, australóide).

Etnocídio – Destruição das identidades étnicas por ação dos choques culturais e
práticas de assimilação forçada (colonialismo). Pode também ser a destruição do habitat
e costumes nativos. O objetivo era a exploração económica dos nativos. Surge o perigo
das reservas indígenas. Teórico principal: Robert Jaulin “La Paix Blanche” 1970.

Miscigenação – Consiste na mistura de raças, de povos de diferentes etnias, ou


seja, relações inter-raciais. Recombinação genética e cultural resultante do encontro e
cruzamento de raças e culturas. Acontece quanto todas as partes ganham alguma coisa.

Assimilação – um processo mental pelo qual se incorporam os dados das


experiências aos esquemas de ação e aos esquemas existentes. É um movimento de
integração do meio no organismo. Acontece quando uma das partes impõe os seus
padrões às outras.

Genocídio – significa a exterminação sistemática de pessoas tendo como


principal motivação as diferenças de nacionalidade, raça, religião e, principalmente,
diferenças étnicas. É uma prática que visa eliminar minorias étnicas em determinada
região. Destruição total e sistemática de uma etnia geralmente com recurso à violência.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Os índios americanos e os E.U.A.; os judeus e o regime nazi; as “limpezas étnicas.”

Exogamia – É a regra básica do parentesco resultante do tabu do incesto, que


leva a uma procura de parceiro fora do grupo de pertença ou espaço territorial.
Casamento de um indivíduo com um membro de grupo estranho àquele a que pertence.

Endogamia – É a exceção a esta regra e só acontece em casos particulares como


entre membros de uma etnia minoritária (ciganos) ou entre determinados indivíduos
por imposições religiosas ou políticas (ex. os faraós do Egito casavam com as suas irmãs)
Casamento dentro do próprio grupo ou espaço territorial.

Feiticismo – palavra portuguesa. Prática de magia na qual os objetos são dotados


de poderes sobrenaturais. Existe a Crença que esses objetos determinam os destinos
humanos. Esses objetos estão associados a rituais. Magia simpática (ex. o Vodu). A
relação feiticista substitui pelo fantástico a relação do homem com a natureza.

Folclore – é o conjunto de tradições e manifestações populares, constituído por


lendas, mitos, provérbios, danças e costumes que são passados de geração em geração.
O folclore simboliza a cultura popular e apresenta grande importância na identidade de
um povo, de uma nação. O folclore é o produto da cultura de um país e por isso cada
país tem elementos únicos. Interessa-se pelos fenómenos vivos, mas também procede
a estudos comparativos com materiais de arquivo (históricos). O método histórico-
geográfico (finlandês). Desde o ponto de vista da antropologia, o folclore tem muita
plasticidade e está acomodado a diversas dinâmicas sociais, sendo dependente do
conceito de cultura. O folclore, enquanto movimento cultural, não partiu do povo: foi
uma recriação, um descobrimento da cidade, da burguesia e da modernidade. O povo
acabou por descobrir que tinha folclore, sem saber do assunto. Tanto com a
antropologia como com o folclore, a cultura e o seu conceito alargaram-se. Podemos
ainda afirmar que existiu uma certa continuidade e/ou influência entre os estudos de
ambas as disciplinas. Portanto, as diferenças relacionam-se mais com perspetivas
metodológicas e teóricas do que com o objeto e a tradição organizativa do saber.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Fratria – uma das metades de uma tribo com organização dualista. Essas
metades são exógamas e trocam entre si vários bens e serviços. Os Bororo do Brasil. As
suas aldeias refletem esta divisão em metades. É um efeito das regras matrimoniais.

Incesto - A sua proibição pressupõe um estádio anterior de hipotética


promiscuidade. Regras negativas (proibição) e positivas (prescrição). Levi-Strauss: uma
obrigação de troca. Totemismo exogâmico: proibição do incesto ligado a interditos
alimentares. Consiste em manter relações sexuais com um parente próximo. Em todas
as culturas há um “tabu” do incesto, com modos e expressões diferentes. Lévi-Strauss
diz que o tabu do incesto garante a exogamia, as alianças fora do grupo e entre grupos,
além de favorecer a mistura genética. O casamento garante os intercâmbios entre
grupos. O tabu do incesto seria, portanto, um imperativo socioantropológico, regulador
do intercâmbio e gerador de ordem social.

Iniciação – Cerimónia ou ritual de passagem de um indivíduo ou grupo a um


estado diferente. Estão associados aos mitos de morte e ressurreição. Mudança de
nome e traje. Provas e aprendizagens (reclusão ou afastamento).

Kula – Circuito de trocas inter-tribais praticado no arquipélago da Papua Nova-


Guiné, onde braceletes mwali circulam num sentido e colares souvala no outro. Tem
como objetivo estabelecer relações sociais e ganhar prestígio. Pares de intercâmbio
doador-recetor (Karayata).

Mana/Baraka/Carisma – Conceito com origem nas línguas malaio-indonésias que


exprime o sentimento do homem perante uma força que o ultrapassa: espanto, terros,
admiração. Significado ritual mágico-religioso. Por extensão, é aplicado a objetos,
pessoas e lugares ligados a essa força. Uso diversificado na linguagem nativa. Baraka
(mundo árabe); Carisma (ocidente).

Magia – Técnica que permite fazer intervir um benefício de um indivíduo ou


grupo sob uma força sobrenatural, habitualmente temida. As práticas de magia

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

assumem um caráter marginal e usam substâncias abjetas e atos reprováveis. Princípios:


similitude (magia homeopática) vs. do contacto (magia simpática).

Matriarcado – Os evolucionistas e a predominância das mulheres nos tempos


primitivos. 4 fases da evolução cultural: Hetaerista (promiscuidade); Matriarcal (direito
da mãe); Dionisíaca (surge o patriarcado); Apolínea (desaparecem todos os traços do
matriarcado).

Mito – Textos sagrados de caráter etiológico que explicam a criação do mundo,


o aparecimento do homem e dos animais, os fenómenos naturais e os costumes do
grupo de pertença. É a unidade psíquica da humanidade.

Pensée Sauvage – “O conjunto dos sistemas classificatórios elaborados pelas


sociedades primitivas” – mitos, ritos, totemismo. Axioma base: a recusa da
temporalidade. Uma lógica do concreto: as categorias mentais são criadas com base na
realidade observada (animais e plantas). É o pensamento que cria as instituições e não
o contrário (crítica ao funcionalismo) – Lévi-Strauss.

Personalidade de Base – Conceito introduzido na Antropologia Culturalista pela


psicanalista Abraham Kardiner, definido como o conjunto das características
psicológicas que refletem quer o tipo de educação de um indivíduo (ou grupo) quer a
sua adaptação ao meio. Num dado grupo esta personalidade de base mantem-se
constante. Personalidade: resposta a necessidades fisiológicas (alimentação,
sexualidade).

Potlatch – Palavra de origem Nootka, que quer dizer dádiva. Tribos do Nordeste
Americano. Prática ritual que consiste na oferta a um rival de riquezas para o humilhar
ou desafiar, obrigado a retribuir. Ligado por vezes ao sacrifício, à destruição de pessoas
ou bens. Aquisição de prestígio ou poder.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Ritual – Ato simbólico (religioso) que dá ao homem o poder de utilizar forças


ocultas para provocar fenómenos naturais. Rituais de luto: impedir o contacto com o
cadáver e fazê-lo aceder ao mundo do sobrenatural. Rituais de cura: expulsar a doença
do humano e transmiti-la a um animal expiatório. Rituais de controlo e de
comemoração: baseados em narrativas míticas. A imutabilidade do ritual é garantia de
eficácia. Ritual de passagem - mudança na situação da pessoa, onde podemos observar
ações, reações, cerimónias. São transmissores culturais e representam a transição para
novos papeis e estatutos sociais. Também representa uma integração, pois animam e
reavivam sentimentos comuns que mantem unidos e comprometidos com o sistema
social onde estão inseridos.

Sincretismo – assembleia do povo da ilha de Creta. Uma fusão de conceções


religiosas distintas ou a influência exercida por uma religião nas práticas de outra.
Exemplo: as religiões afro-brasileiras como o candomblé e macumba.

Tabu – significa sagrado, proibido. Associado normalmente às religiões


animistas, designa uma pessoa, objeto ou ação que tem de ser afastado por ser sagrado.
O que é tabu inspira respeito e temor por a sua violação ter sanções terríveis de origem
sobrenatural. Parecem irracionais, mas possuem um valor de controlo social e
económico importante, constituindo-se como um verdadeiro código moral, garante a
coesão social. É um assunto cuja discussão costuma ser evitada pela população em geral,
devido às diversas razões: seja porque este seria alvo de opiniões contraditórias; porque
trata-se de um assunto que interfere com a sensibilidade das pessoas; porque seja uma
pauta polêmica capaz interferir com a moral e bons costumes da sociedade.

Totemismo – Designa um objeto, animal ou planta, que representa um clã.


Estabelece um paralelo entre a ordem das espécies naturais e a ordem social humana.
Tabu alimentar: os membros do clã não podem matar ou comer o seu totem.

Trickster – Deus ou herói cultural (humano ou animal humanizado) que é gerador


de desordem (atua na margem das normas vigentes), mas que é suposto trazer

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

sabedoria ao comum dos mortais.

Xamanismo – uma prática mágico-religiosa das populações siberianas. O xamã é


uma figura que, através do transe, entra em contacto com os espíritos. É, por norma,
alguém deformado e deve viver fora das normas sociais.

Xamanística – São cargos religiosos a tempo parcial que medeiam a relação entre
as pessoas e os seres sobrenaturais. Esta religião é muito frequente nas culturas de caça
e recoleção (ex: esquimós).

PARENTESCO, CASAMENTO E FAMÍLIA


• Parentesco:
O Parentesco é importante pois sem este não haveria continuação da espécie e
da sociedade. Os estudos do parentesco constituem a verdadeira base das pesquisas
antropológicas. Desenvolveram-se em três etapas sucessivas.

Em 1861, o jurista Sir Henry Maine publica a obra pioneira “Ancient Law”, que
abre caminho às reflexões dos evolucionistas. Uma liga política das famílias soberanas
teria invocado uma geneologia comum, para elaborar os primeiros grupos de
descendência, ilustrados, entre outros, pelos romanos. Mas para Morgan, que publica
em 1871 o seu “Systems of Consaguinity and Affinity [Sistemas De Consanguinidade e
de Afinidade]”, a família, com função doméstica, distingue-se da gens (pessoas com o
mesmo nome de família), que tem apenas função política. Em 1897, J. Kohler compara
do ponto de vista terminológico, os sistemas índios dos Omahas e dos Craus. Mas, em
toda a Segunda metade do século XIX, circulam como moda corrente algumas ideias
(agora obsoletas), que defendiam a anterioridade das instituições matrilineares em
relação às patrilineares, as quais mostram sobrevivências do matriarcado; havia uma
ignorância presumível entre os primitivos sobre a paternidade fisiológica, etc.
A partir da controvérsia entre Rivers e Kroeber (1909), o propósito de
terminologias de parentesco, os estudos de parentesco desenvolveram-se em 3
direções: a teoria dos grupos e redes de filiação unilinear (Rivers, Radcliff-Brown, Evans-

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Pritchard, Fortes), as teorias da aliança, do casamento e do folclore familiar (Van


Wouden e Lévi-Strauss) e o estudo das terminologias (Kroeber, Lowie e Murdock). Nos
anos 20, forjaram-se os métodos de cadeias geneológicas e o sistema de relações
primárias.
Em 1949, o aparecimento simultâneo de três obras, em que se incluía “As
estruturas elementares do Parentesco” de Lévi-Strauss, renovou o conjunto das
perspetivas sobre as estruturas de parentesco, o que leva os europeístas, sobretudo nos
anos 70, a reexaminar as teorias de aliança e do casamento (escolha do cônjuge, tarefas,
estratégias matrimonias, formas de transmissão da autoridade e dos bens no quadro de
um parentesco bilateral). Goody, Schneider, Héritier, Zonabend e outros compararam o
parentesco e a família no Ocidente e na África. Historiadores como Duby e Legendre
demonstram os prós da Igreja no consentimento mútuo, na liberdade de fazer
testamento, na proibição de divórcio, de concubinato e de casamento entre parentes.
Insistem no parentesco espiritual (apadrinhamento compadrio) como contrapartida ao
parentesco carnal, enquanto a crítica feminista e as técnicas de procriação
medicamente assistidas conduzem agora a um reexame de filiação.

Principais sinais:

O parentesco define-se como um conjunto de laços que unem geneticamente


(filiação, descendência) ou voluntariamente (aliança, pacto de sangue) um determinado
número de indivíduos. Reveste-se mais de um caráter sociocultural do que biológico,
tanto mais que os laços de consanguinidade podem não ser reconhecidos socialmente
em casos de paternidade ilegítima, por exemplo, e que, inversamente, o parentesco
social nem sempre repousa sobre uma consanguinidade verdadeiro, no caso, por
exemplo, de uma descendência puramente mítica a partir de um totem comum ou de
uma filiação por adoção ou transferência de direitos.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

O parentesco, do ponto de vista biológica releva da natureza, mas é sobretudo


um laço jurídico e um código moral, pois a sociedade atribui representações mentais
relativas ao sistema e aos laços de parentesco um poder de coerção e de normatividade.
Um sistema de parentesco, nem agregado estruturado, nem grupo social, é uma rede
complexa de laços com numerosas ramificações.
Estes laços resumem-se a 3 relações primárias: a filiação (pais-filhos), a
germanidade (irmão-irmã) e a aliança (marido-mulher). Em “Antropologia Estrutural”
(1987), Claude Lévi-Strauss acrescenta, por constituir o que ele chama “o átomo do
parentesco”, a relação avuncular (tio-sobrinho), que pressupõe as outras três. Quando
a relação de filiação é familiar, a relação avuncular é rigorosa, mas quando o pai é
austero depositário da autoridade familiar, o tio é tratado com liberdade. Da mesma
forma, se o laço entre irmão e irmã é apertado, o laço entre cônjuges é mais largo, ou o
inverso.

O parentesco, na reprodução biológica e ordem social, resolve 4 problemas: a


regulação do acesso sexual entre homens e mulheres, a determinação dos deveres de
entreajuda resultantes da divisão do trabalho entre homens e mulheres, a determinação
das responsabilidades de cuidar das crianças, a criação de coesão no grupo (cada um
tem de saber qual a sua função).
O parentesco tem raízes biológicas (reprodução sexual) mas cada
cultura/sociedade específica tem as suas regras próprias que distinguem vários tipos de
regras de parentesco que se manifestam através de comportamentos diferenciados.
Ao proibir ligações sexuais dentro de cada grupo, o tabu do incesto implica
alianças com outros grupos (têm a exogamia como regra). Como exceção disso, a
endogamia assegura a manutenção da riqueza ou a “pureza do sangue/raça” dentro de
um grupo.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Importância do parentesco:
Não haveria continuação da espécie e sociedade. O parentesco resolve quatro
problemas:
a) Regulação do acesso sexual entre homens e mulheres;
b) Determinação dos deveres de entreajuda resultantes da divisão do trabalho
entre homens e mulheres;
c) Determinação das responsabilidades de cuidar das crianças;
d) Criação de coesão no grupo (cada um tem de saber qual a sua função à quanto
maior coesão, menor conflito).

A diversidade dos parentescos:


O parentesco tem raízes biológicas (reprodução sexual), mas cada
cultura/sociedade específica tem as suas regras próprias que distinguem vários tipos de
regras de parentesco que se manifestam através de comportamentos diferenciados.

Tabu e Exogamia:
Ao proibir ligações sexuais dentro de cada grupo, o tabu do incesto implica
alianças com outros grupos (exogamia como regra). Como exceção, a endogamia
assegura a manutenção da riqueza ou a “pureza do sangue/raça” dentro de um grupo.
Só na realeza sagrada é que os irmãos podem casar.

Parentesco e filiação:
A Filiação entende-se como o conjunto das regras que definem a identidade
social da criança em relação aos seus ascendentes, e que determinam a hierarquia dos
membros da família, a forma de herança dos bens, a transmissão de cargas e funções,
até a distribuição da autoridade nas sociedades tradicionais. Nestas, os fenómenos de
filiação distinguem as filiações legítima natural ou adotiva. Enquanto nós reconhecemos
um parentesco idêntico de ambos os lados, paterno e materno, muitas sociedades dão
privilégio às relações com um ou outro dos seus ascendentes.
A filiação chama-se indiferenciada, cognática ou bilateral quando o parentesco é
reconhecido dos 2 lados e quando há identidade de direitos e de deveres com respeito

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

aos parentes paternos e maternos, quer dizer, sem que o sexo dos parentes seja tido
como critério de seleção e o mesmo que, por vezes, se possam perceber inflexões
patrilaterais na transmissão dos apelidos, da autoridade ou da herança.
Em muitas sociedades do Terceiro Mundo, domina o tipo de descendência
unilateral, embora exista uma grande variedade de usos relativos ao tratamento social
do laço genealógico. A regra de filiação unilinear determina o grupo dos parentes (clã,
linhagem, etc.) de que o indivíduo se tornará membro entre os descendentes biológicos
de um mesmo antepassado.
Se os direitos sociais, a categoria, o apelido, a religião, os antepassados, os bens
são transmitidos pelos parentes paternos, quer dizer que, em linha agnática, a
sociedade é patrilinear. Os filhos fazem parte da linhagem dos pais e não da mãe. Só os
filhos machos transmitem a pertença à linhagem.
Quando o Ego se liga socialmente aos seus ascendentes através da mãe, quer
dizer que, em linha uterina, a sociedade é matrilinear. No entanto, o poder e o controlo
social pertencem a maior parte das vezes aos homens e é o tio materno (irmão da mãe)
quem exerce a autoridade sobre os filhos da sua irmã. Muitas vezes, no entanto, o pai
procura alargar a sua autoridade aos filhos, principalmente se vivem ele até à
puberdade, embora pertencendo à linhagem da mulher.
Podem ocorrer conflitos, devido ao facto de os parentes uterinos procurarem
reduzir o poder do pai. Devido à abundância das formas de família, de grupos
domésticos e locais que elas revelam, as sociedades matrilineares confundem os
etnólogos. Os Achantis do Gana herdam o “sangue” do clã materno, mas o “espírito”
provém do lado paterno.
O sistema de dupla filiação ou filiação bilinear, por exemplo, entre os Aborígenas
da Austrália, combina os sistemas patrilinear e matrilinear, ligando o indivíduo pela
transmissão de determinados direitos ao seu grupo paterno e por outros ao grupo
materno, mas são afastadas as pessoas que pertencem ao grupo matrilinear do pai ou
então patrilinear da mãe.
Grupos australianos como os Murngins, Karieras, Aruntas, não têm linhagem,
mas dividem-se em secções e praticam o casamento preferencial com a filha do irmão
da mãe e a filha da irmã do pai.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Resumindo:
a) Dois indivíduos são parentes se um descende do outro (filiação direta) ou se
ambos descendem de um antepassado comum (real, fictício ou mítico).
b) Os parentes fictícios consideram-se parentes e comportam-se como tal.
(Exemplo: os descendentes de escravos que se consideram membros da família
que comprou os seus antepassados).
c) A filiação mítica existe apenas na consciência dos homens, mas produz
comportamentais reais (entreajuda, cooperação ritual, etc.).

Parentesco e organização grupal:


a) As sociedades estruturadas pelo parentesco (linhagem, clã, tribo, nação).
b) Na linhagem todos os indivíduos que descendem do mesmo antepassado
histórico são designados por “irmãos” (provêm de uma mesma filiação).
c) No clã as várias linhagens assumem-se como descendentes do mesmo
antepassado mítico.

Parentesco e consanguinidade:
a) O parentesco é mais uma relação social que consanguínea.
b) Para que o parentesco possa ser um modelo de organização social é necessário
que nem todos os consanguíneos sejam considerados para efeitos
classificatórios (p. ex. considera-se só certas linhas de ascendência).

Tipos de filiação:
A aplicação das regras de filiação unilinear gera a formação, quanto ao modo de
recrutamento, de grupos seletivos, cujos membros estão ligados por uma descendência
comum, a partir de um antepassado comum (linhagem, clã, tribo, nação).
O clã é um grupo de filiação unilinear (patriclã ou matriclã), abarcando um
determinado número de casas que pretendem descender de um mesmo antepassado
lendário ou mítico. Os seus membros invocam, por vezes, um totem comum (animal ou
planta ou objeto) ligado ficticiamente ao antepassado. Respeitam as mesmas proibições
matrimoniais ou alimentares ou possuem o mesmo patronímico ou nome genérico. A

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

pertença ao clã determina a transmissão da herança e funções diversas – rituais,


económicas, políticas, guerreiras, etc. – e gera uma solidariedade ativa.
O clã compreende um certo número de linhagens exógamas (casa-se fora da sua
linhagem) ou subgrupos de descendência organizados unilinearmente, tendo atividades
comuns, contando geralmente de duas a 6 gerações e ligando-se a um antepassado
histórico, cuja recordação se conserva. No seguimento de dispersões por acréscimo
demográfico ou conflitos, clãs e linhagens segmentam-se com o passar do tempo.
Conforme as sociedades, podem ainda observar-se distinções entre clã, subclã,
linhagem principal, linhagem secundária. Por ordem de inclusão decrescente,
distinguem-se por vezes: etnia, tribo, clã, linhagem, família, casal e indivíduo.
No caso de filiação unilinear que obedece a 2 princípios (1- um único sexo, o
homem em patrilinearidade ou a mulher em matrilinearidade, transmite a pertença ao
clã; 2- os germanos [irmãos e irmãs] pertencem ao clã do progenitos transmissor da
pertença – a regra tem como consequência atribuir a grupos de filiação distintos os
primos cruzados, originados de germanos de sexo oposto [irmã do pai ou irmão da mãe]
e os primos paralelos, saídos de germanos do mesmo sexo [irmão do pai e irmã da mãe]).
Esta distinção é fundamental no domínio da aliança, pois, segundo a regra da exogamia,
os primos paralelos estão a maior parte das vezes proibidos como parceiros, enquanto
os primos cruzados são cônjuges possíveis.

Resumindo:
a) Filiação (de predominância) unilinear:
a. Patrilinear (agnática): Os filhos de um homem pertencem à sua linhagem.
b. Matrilinear (uterina): Os filhos de uma mulher pertencem à sua
linhagem.
b) Dupla filiação unilinear: Diferentes funções para as duas vias.
c) Filiação indiferenciada (bilateral; cognática): Mesma função das duas vias.

Filiação, herança e sucessão:


a) Filiação: governa a transmissão do parentesco.
b) Herança: governa a transmissão dos bens.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

c) Sucessão: governa a transmissão das funções.


Quando o parentesco rege a organização social, a herança e sucessão advêm da filiação.

• A residência:
A regra universal de coabitação dos esposos arrasta consigo uma alteração da
residência de pelo menos 1 de entre eles, quando do seu casamento, o que em parte
explica a edificação das comunidades locais. Os principais tipos de residência são os
seguintes descritos:
a) Patrilocal – A mulher instala-se na casa dos pais do seu marido;
b) Virilocal – A mulher instala-se na casa do marido, numa casa vizinha dos pais
deste.
c) Matrilocal – O marido vai viver com a sua mulher na casa dos pais desta;
d) Uxorilocal – O marido vai viver com a mulher, perto da casa dos pais dela;
e) Bilocal – O casal tem a liberdade de viver em casa dos pais de um ou outro dos
cônjuges, podendo a escolha ser ditada pela riqueza, pelo estatuto respetivo das
famílias ou pelas preferências pessoais;
f) Ambilocal – O casal reside alternadamente no grupo do marido e no grupo da
mulher;
g) Neolocal – O casal escolhe domicílio onde bem entende, em lugar diferente da
que em que cada um vivia antes do casamento; afastados dos pais e sogros.
h) Avunculocal – O casal vai viver com um tio materno do marido ou nas
proximidades.
Podem existir tipos de residência transitória, e bem como combinações muito
variadas entre filiação, aliança e residência. Uma desarmonia fundamental entre os
Ndembos da Zâmbia resulta, por exemplo, da associação de filiação matrilinear e de um
casamento virilocal. O que significa que a matrilinearidade não implica necessariamente
a residência matrilocal e que o grupo residencial pode englobar qualquer espécie de
organização familiar. Na residência patrilocal, a mulher continua a explorar os seus
conhecimentos técnicos adquiridos numa casa e para a casa, enquanto na residência
matrilocal o homem deve familiarizar-se com um novo meio ambiente e partir do zero
num novo enquadramento, onde deve reaprender a localização das pistas, das

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

referências, das jazidas de minérios, dos bosques, das tocas, dos terrenos de pastagem
ou da pesca. Daí a tendência para não se contrair casamentos muito longe da aldeia de
origem. Apresentada como uma regra de pertença, a residência é antes um grupo de
atividades comuns de aliados, na ocupação de um território familiar.

Tipos de classificatórios de parentesco:


As nomenclaturas de parentesco, simples categorias, constroem-se a partir de
dois pares de distinção: termo de referência ou termo de tratamento, sistema descritivo
ou sistema classificatório.
Os termos de referência são nomes que servem para designar um parente de
quem se fala, enquanto o termo de tratamento (ou de endereço) servem para interpelar
um parente com mais ou menos familiaridade (mamã, paizinho, titio, mano, filhote).
Os termos de parentesco dividem-se em 2 categorias: Descritivos (ou
denotativos), remetendo para uma única categoria de parentes definidos pela geração,
o sexo, o laço genealógico: pai, marido, mulher, irmã; ou Classificatórios, quando as
pessoas que não ocupam a mesma posição em relação ao Ego são classificados sob o
mesmo nome: Ego chamará “irmão” aos seus primos paralelos ou então aos co-
iniciados. Pelo termo “pai”, poderá designar todos os homens da mesma geração que o
seu próprio progenitor, que foram cônjuges possíveis da sua mãe.

Tipos Classificatórios de Parentesco:


a) Havaiano: Enfatiza as diferenças de gerações;
b) Esquimó: Descendência bilateral; família nuclear;
c) Iraquês: Descendência unilinear (matrilinear);
d) Omaha: Descendência patrilinear;
e) Crau: Descendência matrilinear;
f) Sudanês: utilizam diferentes termos para cada parente;
g) Sem parentesco: baseados na idade ou no sexo.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Princípios de classificação dos parentes (diferenciação):


Aos 6 primeiros critérios reconhecidos por Kroeber e Lowie, Murdock
acrescentou outros 3:
a) Geração: distinguem-se pai e avô, tia e sobrinha, mas o termo “primo”
negligencia a geração;
b) Sexo: tio-tia, cunhado-cunhada, com certeza. Mas sem precisão, netos e netas;
c) Aliança: genro, nora, cunhada. Mas tio pode ser irmão do pai ou marido da tia
da esposa;
d) Colateralidade: termo utilizado com a junção de um adjetivo (tia paterna ou
materna), especificado em outras sociedades por palavras diferentes, conforme
se trata do lado paterno ou materno;
e) Bifurcação: em certas sociedades, distinguem-se os parentes masculinos do lado
do esposo e os do lado da esposa, quer dizer, leva-se em conta o sexo da pessoa
que serve de traço de união entre Ego e eles.

• Casamento:
A aliança matrimonial:
União contraída entre 2 grupos exógamos pelo casamento de um dos seus
membros. A aliança liga 2 indivíduos de sexo diferente através de um conjunto de
direitos e de obrigações mútuas, variáveis de cultura para cultura. Lévi-Strauss
considera-o como fenómeno capital na constituição das estruturas de parentesco.
Efetivamente, a aliança opera uma remodelação da estrutura social, legitimada pelo
costume. Ela condiciona os processos de filiação, de residência, de apelido, de herança,
de atitudes e abre o caminho à procriação legítima no grupo conjugal. Geralmente, um
rito de casamento, religioso ou civil, soleniza a mudança de estatuto dos novos esposos
e a criação de laços jurídicos, sociais e económicos entre o grupo de filiação do marido
e da mulher. Não é falso dizer-se que, muitas vezes, predominam os casamentos por
motivações de ordem económica.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Trocas matrimonias:
a) Troca restrita (direta; simétrica): relação intermatrimonial entre 2 grupos
(dádiva e contradádiva). Exemplo: casamento de primos cruzados.
b) Troca generalizada (indireta; assimétrica): A dá uma mulher a B, que dá uma
mulher a C, que dá uma mulher a… N, que dá uma mulher a A. Alargamento do
círculo de alianças e reciprocidade diferida no tempo. Exemplo: casamento com
a prima cruzada matrilateral.
c) O casamento é considerado como uma instituição onde intervêm 2 ou mais
grupos exogâmicos que trocam mulheres entre si.

A escolha do cônjuge/Tipos de Casamento:


Na transação pré-matrimonial, tem lugar uma seleção do parceiro segundo a sua
origem, as suas qualidades, a sua identidade social, visando aumentar o capital material
ou simbólico, seguidamente, são empreendidas diligências para conquistar a pessoa
escolhida (pela família ou pelo indivíduo) e para obter, através de negociações, o
consentimento de um determinado número de pessoas nas famílias dos 2 parceiros.
A formação do laço matrimonial supõe a reunião de condições de fundo,
relacionadas com a idade, o sexo, o grau de parentesco dos esposos, o seu
consentimento, o prazo de viuvez, etc., e de condições de forma: respeito por certos
interditos, formalidades anteriores, modalidades de celebração, provas de contrato oral
ou escrito, condições de separação.
Nas sociedades arcaícas, a escolha do cônjuge pertence geralmente a membros
mais influentes dos grupos de parentesco respetivos, e a forma como se efetua essa
escolha varia consideravelmente segundo as sociedades, podendo ir de uma promessa
de casamento com a próxima criança que nascer até ao rapto real ou simulado.
Geralmente, segundo Murdock, a escolha opera-se por ordem decrescente, segundo os
critérios seguintes: etnocentrismo (interior da raça) à exogamia (fora do grupo de
parentesco)à a afinidade à a harmonia das idades.
Em toda a parte, a regra da exogamia (proibição de casar com determinados
parentes) reveste-se de uma importância capital. As proibições fundamentam-se menos
em factos biológicos do que na ideologia do parentesco e variam de uma sociedade para

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

outra. Maioritariamente, quanto mais pequeno é o grupo de parentesco, maior é a


tendência para praticar a exogamia.
Deve distinguir-se este termo dos seguintes: hipergamia é a preferência
matrimonial concedida por uma mulher a um cônjuge de estatuto e de condição
económica superior (casar acima da sua categoria social); a hipogamia é ilustrada pelo
caso de mulheres de sangue real que são coagidas a casar com um cônjuge de estatuto
inferior (casar abaixo da categoria social); homogamia ou isogamia é a escolha de um
cônjuge em meio social, geográfico e cultural idêntico ao seu próprio meio.
Existe ainda o casamento Monogâmico (um só cônjuge) e o casamento
poligâmico (vários cônjuges), que se divide em Poliginia (um homem com várias
mulheres) ou Poliandria (uma mulher com vários homens).

Casos particulares do casamento:


Muitas sociedades poligâmicas decretam regras diferentes para o casamento
primário (a 1ª união de um indivíduo corresponde a um critério de escolha preferencial)
e para o casamento secundário (toda a união contraída mais tarde, de entre um leque
variado de cônjuges possíveis).
Algumas dessas regras impõem ou recomendam o Levirato – disposição segundo a
qual a viúva ou as viúvas casam com um irmão do marido falecido. Os filhos desta união
são considerados do defunto – ou o sorenato – regra que obriga o viúvo a casar com
uma irmã solteira da esposa falecida. O casamento reveste, assim, formas muito
diversas. As mais curiosas serão os casamentos entre mulheres e os casamentos com
um morto.
Compensação matrimonial (preço da noiva): série de bens ou serviços dados
pelo noivo e seus parentes ao pai/parentes da noiva (ex. Gado).
Divórcio: dissolução dos laços matrimoniais. A compensação matrimonial tem de
ser devolvida.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

• Família:
A Família apresenta-se sob diversas formas. Nuclear, restrita ou conjuga, quando
compreende um casal e os filhos de menoridade, embora, por vezes, pessoas
suplementares possam residir com eles.
A família alargada é composta por várias famílias nucleares. Habitualmente,
numa família patrilocal, encontra-se um homem idoso, a sua mulher ou as suas
mulheres numa família poligínica, os filhos solteiros, os filhos casados, assim como as
mulheres e os filhos destes últimos. A casa pode abrigar indivíduos não-membros da
família.
Convém distinguir a família de orientação, aquela em que o Ego nasceu e onde
passou a sua infância (pai, mãe, irmão, irmã) e a família de procriação, a que ele funda
ao casar (marido, mulher, filho e filha). Nesta organização familiar, os laços são ao
mesmo tempo os do sangue e os do parentesco por aliança.
Qualquer família com origem no casamento tem certamente uma função de
reprodução, de educação e de socialização, económica, jurídica e religiosa.

Resumindo:
a) Família nuclear: Um casal e seus filhos.
b) Família extensa: Organizada em redor dos laços de sangue, que envolve várias
gerações.
c) Grupo doméstico: Unidade de residência, de produção e de consumo. Não
depende de critérios de parentesco.

Sistema de denominações:
a) Termo de tratamento: Nome que se dá a um parente de sangue ou afinidade
com quem se fala.
b) Termo de referência: Nome que serve para designar um parente de quem se fala.
a. Dividem-se em 2 categorias:
i. Sistemas descritivos;
ii. Sistemas classificatórios.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

• Atitudes entre Parentes e Aliados:


Entre membros de uma mesma família, as atitudes dependem evidentemente
do tipo de filiação (autoridade do tio materno nas sociedades matrilineares ou
comportamento afetuoso e condescendente deste tio, chamado por vezes “mãe
masculina” nas sociedades patrilineares), mas também de costumes estabelecidos
socialmente, por exemplo, o parentesco de evitamento que envolve a obrigação de
evitar os contatos físicos, os encontros à distância com determinados parentes (ex.: a
sogra) ou a obrigação, nos parentescos de troca, de dizer graçolas, obscenidades ou
pregar partidas sem animosidades, como prova de simpatia e mútuo entendimento. O
tabu contra a sogra, estudado por Freud, esconjura uma relação sexual que seria
perigosa para a unidade familiar. Entre pessoas de sexo diferente, especialmente que
poderiam ter sido cônjuges do Ego, os gracejos abordam frequentemente o sexo.
No átomo do parentesco definido por Lévi-Strauss (estrutura familiar de 4
elementos, pai, mãe, irmão e irmã) podem ser analisados 4 tipos de relações
fundamentais (filiação, aliança, germanidade, avunculato), repartidos em 2 pares de
oposição. Se as relações entre irmãos e irmãs são de afeto e de familiaridade, a relação
entre marido e mulher é mais de distância e de autoridade, ou vice-versa. Da mesma
forma, se opõem estruturalmente as atitudes entre tio materno e sobrinho e as atitudes
entre pai e filho. Em muitas sociedades, também se notou a oposição frequente das
gerações contíguas (pais-filhos) e, pelo contrário, a familiaridade entre gerações
alternadas (avós-netos).
Se, globalmente, as relações no interior da família são de cooperação recíproca,
de fidelidade, de solidariedade e de afeto, é necessário aprofundar a análise,
relacionando as atitudes com o grau de parentesco:
a) De primeira ordem: cônjuges, germanos, pais/filhos;
b) De segunda ordem: pai do pai do Ego, irmã da mãe, mãe da esposa, filho do
irmão, marido da filha;
c) De terceira ordem: primos germanos, marido da irmã do pai do Ego, filho da irmã
da esposa.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Resumindo, há três tipos de relações:


a) Relações de troca (verifica-se entre parentes por afinidade do sexo oposto da
mesma geração. Podem ser simétricas ou assimétricas);
b) Relações de evitamento ou respeito (entre gerações diferente, por exemplo
entre genro e sogra);
c) Avunculato (relação tio/sobrinha) – relação que envolve a autoridade do tio
materno sobre a sobrinha uterina em sociedades matrilineares.

FAMÍLIA, GÉNERO E SEXUALIDADE


• Sexualidades Ocidentais:
A Antiguidade Clássica (Grécia e Roma):
a) Os cultos e os mistérios: As vegetais vistas como sagradas.
b) O contrato conjugal (direito: o pater familias): Vontade de casar não era dos
próprios, mas sim das famílias. Pate famílias é quem decide na família com quem
vai a filha casar.
c) A homossexualidade: Nem sempre foi marginal (vista como relação desigual de
poder):
a. Ativa – Não descriminada;
b. Passiva – Descriminada (não aceite pela sociedade).
c. Na Grécia, tinham relações com os alunos até esses atingirem uma certa
idade.
d. Utilizado em pactos de silêncio.
d) A prostituição (os lupanares): Prostituição feminina; adquire um fator intenso no
campo profano.
e) A representação artística do sexo: normal antes do cristianismo (entre homens
e animais).

A Idade Média:
a) A ideologia da Igreja cristã: Ideologia dissimila a crença.
b) “Crescei e multiplicai-vos” (fertilidade) vs. celibato (valor da virgindade): Valor
da fertilidade e virgindade antes do casamento (época em que a igreja não

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

reconhecia os métodos contracetivos).


a. Mulheres da atualidade são consideradas profanas, pois têm relações
antes do casamento e não querem procriar.
c) Os costumes dos bárbaros germânicos.
d) Os rituais do casamento: o anel (aliança).
e) A invenção do amor romântico (morre-se por amor e falta dele, Teoria de Platão)
à Só surge a partir do século XII.
f) O povo e os rituais de fertilidade pagãos: Sentar nas pedras consideradas
especiais em casos de mulher inférteis, de forma a conseguir engravidar.
g) O “jus primae noctis” do senhor feudal: Ritual de direito da primeira noite de
disfrutar da noiva pelo senhor feudal (antes do próprio noivo).

A Idade Moderna:
a) A obsessão pelas bruxas (o feminino maléfico): Séc. XVI-XVIII. Apontavam as
mulheres que usavam a sua sexualidade de forma livre e as que não o faziam.
Tem o papel de aterrorização da população.
b) A Sociedade de Corte: as cortesãs e a libertinagem: Séc. XVII. Sociedade de luxo
pacificada dos reis, rodeados de gueixas que proporcionavam os seus corpos (rei
Sol).
c) A Revolução Francesa (liberdade/igualdade): Igualdade e Fraternidade como
iluminação da sociedade.
d) A Revolução Industrial (os proletários): A população só tinha direito aos seus
filhos, e o resto era controlado exclusivamente pelos seus patrões. Sociedade
vivia para trabalhar.
e) O puritanismo vitoriano em Inglaterra: Burgues modelo da virtude.

A Época Contemporânea:
a) Os anos 60 (A revolução sexual (a pílula)): Teorias de Freud e explicações de
histerias de mulheres que eram resultado de falta de relações sexuais.
Aparecimento da mulher emancipada, pois controlava quando queria engravidar
(liberdade de reprodução).

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

b) Os hippies e o amor livre (drogas).


c) Os anos 90 (As consequências da SIDA): Estes movimentos loucos perderam o
significado devido à doença, que acreditava-se que surgiu das relações
homossexuais.
d) O conservadorismo sexual (monogamia): Devido à SIDA.
e) As consequências do individualismo e da crise económica (a família
monoparental): Isto é, famílias tornam-se monoparentais (só mãe ou um pai),
sem haver casamento ou presença de um “casal sólido”. Caminho para famílias
mais liberais.
Cada vez existe mais na nossa sociedade numa casa um pai com filhos de
casamentos distintos.

• O género:
a) O mito do Andrógino: Diónisos, o deus duplo (a nostalgia do ser completo). Ou
seja, o amor acontecia entre um casal devido á nostalgia de se sentir completo.
b) Sexualidade e Sexismo: a falocracia (ligado a questões do poder; falocracia é
poder do homem sobre a mulher).
c) O mito de Don Juan: o macho decadente (macho que conquistou mais de 1000
mulheres, mas não estava interessado em ter nada com elas).
d) Transsexualismo contemporâneo: o género é uma construção cultural, devido
ao individualismo (liberdade de se regerem a si próprios).

ETNICIDADES, MIGRAÇÕES, NACIONALISMOS E XENOFOBIAS.


VIOLÊNCIA/MULTICULTURALIDADE. ARTE, CORPO E QUOTIDIANO
• Etnicidades vs. Xenofobias:
Etnicidades – É o conjunto de características comuns a um grupo de pessoas, que
as diferenciem de outro grupo. O seu significado é social/cultural e não racial. Isto é,
substitui o termo de raça.

Minorias e conflitualidade social – Está ligado às minorias que são consideradas


como um estado negro, pois são sempre apontados como potenciais desordeiros e

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

culpados de crimes na sociedade, gerando conflitos na mesma (ciganos).

Etnocentrismos e intolerância – Acentuam-se com intolerância que se gera das


diferenças individuais. E consequentemente, esta gere o racismo e Xenofobia (medo dos
estrangeiros. à Patamar superior; problema que existe em todas as minorias (que há
em todas as sociedades).
Etnocentrismo não está ligado só à raça/etnia, mas também com o poder.

• Migrações vs. Nacionalismos:


Migrações – As minorias referidas anteriormente estão sempre relacionadas
com as migrações, devido às más condições de vida e à xenofobia. As migrações são uma
rápida circulação de genes, doenças e crenças, que pode chegar a todo o Mundo (não
cortam contacto com o locar de origem).
Inter-etnicidades – Convívio entre etnias devido aos transportes da
atualidade/desenvolvimento das comunicações que permite estabelecer relações.
Transnacionalismo – Árica é um exemplo, uma vez que o seu mapa foi dividido
ao acaso, dividindo consequentemente nações e várias nacionalidades (distribuições
territoriais dentro de um estado).

Diásporas – Quando as migrações são massivas, falamos de diásporas.


Populações sem uma terra fixa para habitar como judeus, ciganos, etc. Fixam-se em
várias terras (cortam contacto com o local de origem).

Nação vs. Estado – Nação (associada a valores e tradições históricas de um povo,


é uma forma particular de agrupamento humano que apresenta valores e realidades
históricas comuns, juntamente com o seu território) vs. Estado (estrutura político-
territorial de um terminado grupo de pessoas que se relacionam por laços de cultura,
costumes, língua, religião predominante, sistema de leis, etc.). A Nação constitui todo o
grupo ligado por estes laços, constituindo a soberania e sobretudo a pátria de um
Estado.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Identidade – Muito importante nas etnias e podem estar comprometidas com os


transnacionalismos.
Aculturação – Mudanças numa sociedade diante da sua fusão com elementos
culturais externos. Pode levar ao etnocídio quando as pessoas adotam a cultura para
onde foram (do indivíduo à humanidade).
Etnocídio – “Genocídio cultural” é a destruição da cultura de um povo e não a
destruição do povo em si.

Nacionalismos vs. Etnicidades (ex.: Sérvia) – Nacionalismos relacionados pela


negativa com as etnicidades, pois existe o objetivo da prevalência dos valores da nação
(Forma de chegar ao poder através do conflito como guerras e terrorismo). Quando o
nacionalismo não consegue chegar ao poder pela via legal, grupos ilegais formam-se e
tentam chegar ao poder pelo terrorismo.
Nacionalismo e Conflitos (ex.: Patriotismo, guerras, terrorismo).

• Multiculturalismo:
Multiculturalismo – Caldo de cultura resultante da coexistência multiétnica que
leva a uma diversidade cultural. Pressupõe para que as culturas possam florescer.

Sincretismos vs. Purismos – A classe com mais poder é que toma as decisões.
a) Sincretismo – Nas migrações e choques culturais a cultura mais fraca
vai adotar aspetos sincréticos, isto é, aspetos/crenças da cultura mais
forte (colonizadora).
b) Purismos – Quando a cultura minoritária, em caso de choque cultural
e colonização, quer manter-se a todo o custo, migra para outro local.
Se isto não acontecer, são obrigadas e converter-se e acabam por
desaparecer.

Cosmopolitismo – Cosmopolita é a pessoa que se julga cidadão do mundo


inteiro, ou que considera sua pátria o mundo.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

• Violência:
Perante o olhar dos cientistas, a violência é culturalmente determinada, ou seja,
adquirida em sociedade. Não é algo inato, mas adquirido culturalmente.
A violência de estado é o pior tipo de violência, pois utiliza o exército para a
afirmação do nacionalismo (ex.: sionismo) vs. terrorismo (ex. Al-Qaeda).
O terrorismo é outro fenómeno que é praticado pelo lado mais fraco do povo,
uma vez que recorrem à revolução aterrorizando a sociedade, com o objetivo de a
alterar por completo (Revolução Francesa).
Violência nacionalista (ex.: ETA à grupo terrorista espanhol) pretende emergir
uma nação.
Violência fundamentalista religiosa – Pretende fazer buscular a sociedade,
tomando medidas radicais em prol do que consideram mais importante (ex.: os
bombistas suicidas do Hezbollah).
O “primitivo” considerado um “ser-para-a-guerra. Etologia (Korad
Lorenz) à Ciência que estuda a evolução.

• Arte:
Duplo simbólico da humanidade. Sempre presente na vida do Homem. É o
espelho do Homem de todas as étnicas, ou seja, expressão artística de todas as áreas da
vida do mesmo (individual ou social); é uma fonte inesgotável da psique.
A autorrepresentação do homem está sempre presente (consciência de si e da
sua identidade).

• Corpo:
Invólucro material que é simultaneamente sujeito e objeto de uma cultura e de
uma sociedade. Ou seja, ao olhar para si, a pessoa tem a perceção de si, o que acaba por
modificar e moldar a sua psique. É revestido de significação e re-semantisado de forma
particular por cada cultura, cada civilização, cada época.

O corpo humano (e sua escala) é a medida da compreensão do mundo que o


envolve.

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

Corpo como sujeito – Dos sujeitos fazem-se as sociedades.


Corpo como objeto – O corpo foi sempre recentotizado pois é moldado de
acordo com a sociedade (modas, tatuagens...). Ex.: Arquitetura ideal que os Nazis
queriam moldar na sua sociedade de “iguais e perfeitos”.

• Quotidiano:
Algo volátil estudado nas investigações mais recentes e presente na nova
história. Como por exemplo, estudar um bairro e as suas atividades. Os não-lugares são
espaços de passagem sem grandes significados afetivos (aeroportos, estações,
segurança social). O lazer, os tempos-mortos, o sono e o sonho. Que significado
antropológico? São aspetos de uma antropologia radical (pergunta que um antropólogo
deve fazer).

RELIGIÃO, CRENÇAS, MAGIA, RITUAIS. ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS E PODER


• Religião:
A Religião é o conjunto de crenças e práticas de uma sociedade relativo aos seres,
poderes e forças sobrenaturais. É um traço cultural universal e remonta às origens do
Homem. Tem funções explicativas, morais, educativas, de controlo social (assegurar a
conformidade às normas e manter as hierarquias e desigualdades); psicológicas (reduzir
a ansiedade face ao risco e ao desconhecido).
Como parte de uma Antropologia Simbólica, que abarca todos os aspetos do
símbolo da linguagem, nas artes, na cultura, a Antropologia Religiosa estuda o Homem,
construtor e manipulador de símbolos, na sua relação com o que ele julga ser o
sobrenatural ou o sagrado, mas nas religiões de micro-sociedades. (crença mais simples
à animismo; ritual mais antigo à xamanismo). O seu campo estende-se a domínios tão
variados como a dita mentalidade primitiva, a magia e o feiticismo, as formas de
organização religiosa, adivinhação, profetismo, etc.
Embora o discurso religioso pretenda abarcar a totalidade da experiência
humana vs. Natureza, ligando o material e o sobrenatural, a imanência e a
transcendência, a sua intenção fundamental é classificar, ordenar, hierarquizar, mas
além disso, enunciar normas pedagógicas para construir uma moral e dar um sentido à

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

vida, ainda que nada justifique que este sentido esteja fora do próprio homem.

Tipos de culto religioso:


a) Cultos individualistas (contacto direto com o sobrenatural);
b) Cultos xamanísticos (o xamã como intermediário);
c) Cultos coletivos (rituais de passagem);
d) Cultos eclesiásticos (controlados por uma carta sacerdotal).

O sagrado:
A esta força misteriosa, fascinante e temível, a que R. Otto chama de “sagrado”,
os povos atribuem conteúdos diversos: génios, Deus, Augusto, valores metafísicos,
forças superiores mitificadas. O sagrado está além da nossa apreensão e além do nosso
poder, é o mito ou a segurança íntima (o que significa a mesma coisa) de uma totalidade
que se responsabiliza por aquilo pelo qual eu não sou responsável. É uma forma de
teorizar a impotência.

Magia, Xamanismo e Feitiçaria:


A magia define-se geralmente como operação visando agir sobre a Natureza por
meios ocultos, que pressupõem a existência quer de espíritos, quer de forças imanentes
e extraordinárias. Opõe-se a magia branca, de efeitos benéficos, à magia negra que faz
intervir espíritos maus para empreendimentos maléficos. Toda a magia põe em acção
poderes externos, manipulados através de símbolos (objetos, fórmulas, gestos) visando
modificar o curso dos acontecimentos com uma finalidade aproveitável ao agente, mas
eventualmente prejudicial a outros.
Marcel Mauss, na sua obra “Théorie de la Magie” (1904) confunde magia e
feitiçaria. Reforça também a oposição entre fenómenos religiosos e fenómenos
mágicos. Esquematicamente, a religião tende para a metafísica, enquanto que a magia
é essencialmente prática. A 1ª tem como rito caraterístico o sacrifício, a segunda o
malefício. A 1ª supõe um intermediário de poderes sobrenaturais cuja utilização é
aceite; a 2ª aparece como violenta e produz efeitos automático, mas é considerada mais
ou menos ilícita. A 1ª é essencialmente coletiva e social; a segunda, individual nos seus

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

ritos e eventualmente antissocial, embora assente em crenças coletivas.


A estas oposições tendenciais correspondem na realidade muitas imbricações
entre magia e religião; existem magias benéficas, comunitárias e totalmente aceites
pelo grupo.
Para Lévi-Strauss, a magia estrutura-se em volta de uma tripla crença, um
suporte ideológico comunitário, a fé do paciente na eficácia do rito e a do mágico nas
suas técnicas.
Entre as diversas formas de magia, especifica-se habitualmente o Xamanismo. O
termo designa um conjunto de crenças mágicas e de fenómenos estáticos, observados
entre os povos da Sibéria e da Ásia Central, mas também no Tibete, entre os Esquimós,
entre os Índios da América do Norte, na Indonésia e na Oceânia. Segundo M. Elaide, o
xamã é um indivíduo inspirado e sujeito ao transe, cuja alma efetua a viagem ascensional
ao universo extra-humano.
Seja qual for a forma de seleção do xamã (transmissão hereditária, decisão
pessoal, vontade do clã), o reconhecimento social só é adquirido após a iniciação de
ordem extática (descida ritual aos infernos, transes), de ordem técnica (conhecimento
dos espíritos, dos mitos, das línguas) e de ordem ascética (jejum, estadia solitária na
selva, impressão de desmembramento do corpo). A personalidade do xamã singulariza-
se frequentemente por malformações físicas ou por um comportamento neuropático
(solidão, visão, crise de histerismo) mas a sua cura por ressurreição iniciática, se não o
integra totalmente na comunidade, pelo menos cria-lhe uma auréola de prestígio,
graças aos poderes sobrenaturais que lhe são reconhecidos.
Entre os buriatas da Sibéria, o xamã trepa até ao cimo do tronco de uma bítula
sagrada, o que simboliza a sua ascensão até aos espíritos celestes. Através desta viagem,
procura captar, em benefício da comunidade, o poder do sagrado para fins
propiciatórios, terapêuticos, de iluminação e de esconjuro.
A Feitiçaria consiste no poder de prejudicar os outros através de uma ação
espiritual. Os Azandés do Sudão, estudados por Evans-Pitchard, consideram-na ligada a
uma substância encerrada no corpo de certos indivíduos e que se herda de um parente
do mesmo sexo. Ninguém sabe se possui esta substância. Na medida em que são
inconscientes das suas ações nocivas, os feiticeiros são objeto de qualquer reprovação

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

moral, mas a feitiçaria é uma fonte de importantes preocupações, sobretudo quando há


conflitos latentes no seio de uma sociedade.
Condenada como ato ofensivo, maléfico para o grupo social porque é
fingidamente responsabilizada pela doença, morte, más colheitas, fracassos nos
negócios, etc., a agressão feiticeira é supostamente empreendida por um indivíduo ou
um grupo de indivíduos suspeitos de devorar as almas (vampirismo), de possuir o dom
da dupla visão, de circular de noite, de poder desaparecer à sua vontade, de se
metamorfosear. Entre os critérios de reconhecimento dos feiticeiros ficam os desvios
em relação à norma: os excessos de afeição, de pobreza ou de riqueza, a esterilidade, o
encarniçamento na luta pelo poder, o rancor tenaz contra um membro da família. O
oráculo, meio de detetar os feiticeiros, indica também os meios rituais de se proteger
deles (encantamento, exorcismo, exílio, morte).
A feitiçaria alimenta o receio dos desvios e tendências nocivas à sociedade, e
joga assim a favor da manutenção da ordem social. Sociologicamente, ela constitui uma
segurança, na medida em que se imagina ter identificado um mal e conseguido remediá-
lo. Psicologicamente, joga como reagente, identificando os motivos de ansiedade e
fazendo derivar a hostilidade para um fator exato de prejuízo. Ideologicamente, explica
a seletividade dos acidentes, infelicidades, calamidades, que atingem uns e não outros,
pela ação de espíritos maus. Esclarece-se também através dos infortúnios da líbido e
pela projeção das paixões.

• Organizações políticas e poder:


Sistema que permite tomar decisões que visam a resolução de conflitos para o
bem comum. Implica uma liderança forte.
Controle social através do direito (leis) e do aparelho repressivo (força física).
Autoridade – Dispersa ou centralizada (bando; tribo; chefatura; estado)
Monopólio da força vs. Guerra.
Poder político vs. Poder religioso.

A Antropologia Política está intimamente ligada com outras especializações


temáticas a Antropologia Jurídica ou Legal e a Antropologia da Guerra. A sociedade é,

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

então, vista como um terreno de luta política pela construção da hegemonia, a


dominação e o consenso. Perspetivas teórico-metodológicas que a Antropologia Política
tem adotado no seu percurso histórico:
a) Genética: preocupação pela origem dos sistemas políticos;
b) Funcionalista: identifica as instituições políticas e as suas funções;
c) Tipológica: identifica os tipos de sistemas políticos;
d) Terminológica: classifica as categorias fundamentais;
e) Estruturalista: estuda os modelos políticos de relações estruturais (equilíbrio,
ordem, formalismo);
f) Dinâmica e processual: estuda as dinâmicas das estruturas e dos sistemas de
relações, os confrontos de interesses e a competição como expressão da tensão
entre o costume e o conflito, a ordem e a rebelião; presta atenção ao ritual como
meio de exprimir e ultrapassar os conflitos, pela afirmação da unidade social.
g) Teoria da ação: tomada de decisões e motivação; como se manipulam os
símbolos para obter réditos políticos.

Wax Weber (1987) aponta algumas caraterísticas básicas da noção de poder:


a) Reconhecido em todas as sociedades humanas;
b) Está sempre ao serviço de uma estrutura social;
c) Defende a sociedade contra as suas próprias fraquezas;
d) É produto da competição entre indivíduos e grupos;
e) É um meio de conter a competição entre indivíduos e grupos;
f) Provoca o respeito das regras que o fundamentam;
g) Defende a ordem estabelecida;
h) Defende a ordem interior face à ameaça exterior;
i) Outorga grande importância ao sentido dos símbolos.

Afirma ainda que o poder implica um certo consentimento e uma certa


reciprocidade (contrapartida, obrigações, responsabilidades). No entanto, o
consentimento implica também uma legitimidade que, sendo ele, podem ser de três

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

tipos:
a) Legal;
b) Tradicional: com base na crença do sagrado das tradições, de acordo com o
costume (patrimonialismo);
c) Carismática: de caráter emocional, que implica uma confiança total num homem
excecional (santidade, heroísmo e exemplaridade).

Outra noção muito importante para a Antropologia Política é a autoridade, que


não conceitualiza o mesmo que a noção de poder. Todos utilizam o poder, nem todos
têm autoridade. O poder é visto como uma estratégia, enquanto a autoridade é um
exercício socialmente aprovado do poder, é um exercício legitimado, pela tradição, pela
legalidade ou pelo carisma pessoal. A autoridade implica, assim, um reconhecimento
público assente na legitimidade.

• Literatura Oral – Mito, Conto, Lenda, Épicos, Canção, Ensalmo, Oração, Provérbio:
Mitos:
São uma narrativa de carácter simbólico que expressa crenças e valores culturais
através de relatos. Esses relatos narram acontecimento passados com origem do mundo
dos deuses, heróis com atributos humanos. Estes mitos derivam de relatos sobre algo
transcendente com o objetivo de ensinar e moralizar. Servem também para ilustrar
crenças religiosas e transmitem esperanças e emoção.

Lenda:
Lenda é uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos
tempos. De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas combinam fatos reais e históricos
com fatos irreais que são meramente produto da imaginação humana. Uma lenda pode
ser também verdadeira, o que é muito importante. Com exemplos bem definidos em
todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até
certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas,
como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Podemos entender que lenda é
uma degeneração do Mito. Como diz o dito popular "Quem conta um conto aumenta

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

um ponto", as lendas, pelo fato de serem repassadas oralmente de geração a geração,


sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas.

Conto:
É um relato fictício, sobre algo o quotidiano sem localização concreta, intemporal
e não transcendente. Tem como objetivo e transmitir uma mensagem cultural profunda
(esperança, sucesso). Utiliza sempre formulas introdutórias “era uma vez”, o tema
central é a fantasia e sugerem a possibilidade de crescimento e autorrealização (por isso
é que é muito importante para as crianças). Os protagonistas são os heróis que utilizam
a inteligência, habilidade para chegar aos seus fins.

Épicos:
É o nome de um gênero tradicional de poesia, conhecida como poesia épica. No
entanto, atualmente o termo é também usado em outros tipos de expressão artística,
como romances, peças de teatro músicas e filmes, onde a história se centra em
personagens heroicas, e a ação tem lugar em grande escala, tal como na poesia épica.
Os épicos neste sentido são representações majestosas capazes de capturar lutas
espantosas, tais como histórias de guerra, aventuras, e outros esforços de grande
envergadura ao longo de extensos períodos de tempo. As histórias de personagens
heroicas tiradas da vida real também têm sido referidas como épicos.

Canção:
É uma composição musical para a voz humana, escrita, normalmente, sobre um
texto, e acompanhada por instrumentos musicais. É tipicamente interpretada para um
único vocalista, mas também pode ser cantada por um dueto, trio ou mais vozes. O texto
ou letra das canções são tradicionalmente versos de poesia, mas podem ser versos
religiosos de livre prosa. As canções possuem amplas maneiras de divisão, dependendo
dos critérios utilizados.

Ensalmo:
É uma oração, sozinho ou com os processos de candidatura ou remédios para

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

que os poderes mágicos curem os doentes. Eles também podem ser definidos como
fórmulas rituais de caráter mágico-religiosa, por vezes acompanhados por orações, e
aplicações de medicina natural, procurando curar doenças e ajuda.

Oração:
É um ato religioso que visa a ativar uma ligação, uma conversa, um pedido, um
agradecimento, uma manifestação de reconhecimento ou, ainda, um ato de louvor
diante de um ser transcendente ou divino. Segundo os diferentes credos religiosos, a
oração pode ser individual ou comunitária e ser feita em público ou em particular, e
pode envolver o uso de palavras ou música. Quando a linguagem é usada, a oração pode
assumir a forma de um hino, encantamento, declaração de credo formal, ou uma
expressão espontânea, da pessoa fazendo a oração. A maioria das religiões envolve
momentos de oração.

Provérbio:
São expressões de sabedoria popular que nos dá conselhos, ensinamentos ou
sugestões. Não é diretamente percebido, perecendo como um código cujo sentido é
preciso decifrar.

ESQUIMÓS
São povos indígenas que habitam tradicionalmente as regiões em torno do
Círculo Polar Ártico, no extremo norte da Terra, Vivem da pesca e da caça, retirando a
gordura de baleias, focas e ursos para usar como alimento e combustível para seus
trenós. Os esquimós vestem-se com peles de animais, porém, ao contrário dos outros
povos, eles usam a pele voltada para dentro, de forma a mantê-la mais próxima ao corpo
e promover um aquecimento mais adequado. Eles têm o costume de se alimentar do
fígado cru das caças, sua única fonte de vitamina C.
Religião e crenças: Esquimós acreditam que a natureza é controlada por espíritos
poderosos, no entanto, não consideram ser necessário fazer orações. Com o intuito de
afastar os maus espíritos que podem originar catástrofes ou situações desagradáveis e
inesperadas, os esquimós partilham a sua mulher com os visitantes. As crianças são um

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

foco importante, pois de acordo com as crenças deste povo, os pequenos são
reencarnações dos seus passados. Quando uma pessoa morre (sem ter causa definida –
como doenças) o corpo é colocado do chão para que possa encontrar o seu caminho
para o submundo.
O incesto é socialmente aceite em algumas regiões, assim como os filhos
ilegítimos – não há conceito de fidelidade conjugal. Tem uma sociedade patriarcal e
poligâmica – um homem tem mais mulheres à medida que vai possuindo mais riquezas.
A obra pioneira produzida por Boas após iniciar estudos em Antropologia foi “Os
Esquimós Centrais”, baseada em material etnográfico recolhido entre esquimós.

BOSCHIMANES
No início há uma simbiose total com a natureza; num momento posterior um
antropólogo vai ao deserto e filma-os – maior aculturação (mudanças); por fim são
apresentados como marginais do local onde se encontram dai a relação com o conceito
de etnocídio (destruição cultural de um povo).
Os bochimanes são homens do bosque que representam um tipo étnico muito
interessante. Continuam a viver em estado semisselvagem, de caça. Este povo com um
passado antigo não tem praticamente registos históricos escritos.
Ao desembarcarem nas praias da África Austral, há mais de 350 anos, os colonos
europeus chamaram-lhes apenas homens do mato, ou do bosque - bochimanes.
Considerando-os "indomáveis" e uma ameaça para os animais domésticos, os colonos
trataram-nos como ralé, matando-os em grande número.
Num estudo de antropologia publicado no século XIX, J.C. Prichard resume assim
a vida dos bochimanes: "Nunca os seres humanos viveram em condições de tanta
indigência e miséria". Nas populares feiras de horrores da época vitoriana, pequenos
grupos de bosquímanos eram anunciados como "os anões de África". Os primeiros
antropólogos classificaram-nos como "fósseis vivos" e não completamente humanos,
encarando-os como o elo em falta na evolução da Humanidade. Outro antropólogo
considerou a fantástica língua dos bosquímanos, com os seus estalidos, mais próxima
dos sons dos animais do que da fala humana. Hoje cerca de 85.000 bosquímanos vivem
à beira da extinção cultural. Fisicamente eram similares aos pigmeus em tamanho e

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ANTROPOLOGIA
2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS

tinham também um castanho claro como cor de pele.


Onde vivem: As evidências arqueológicas apontam que a área conhecida
atualmente como Angola tem sido habitada desde tempos pré-históricos. Contudo, foi
somente milhares de anos mais tarde, no início da história registada, que apareceram
as sociedades mais desenvolvidas. Os primeiros a estabelecerem-se foram os
Bosquímanos, que eram conhecidos como grandes caçadores. A maior parte reside nas
regiões mais distantes do deserto do Kalahari, no Botswana, na Namíbia, na África do
Sul, em Angola e na Zâmbia.
Como vivem: Este interesse é reforçado pela ideia de que o bosquímano é um
dos últimos elos que nos une à antiga existência de caçadores-recolectores, um modo
de vida comum a toda a humanidade até há cerca de 10.000 anos, no tempo em que os
seres humanos ainda não domesticavam os animais nem semeavam cereais. Uma época
em que dependíamos diretamente da natureza para sobreviver. Desde há algum tempo
que os bosquímanos deixaram de viver como caçadores-recolectores, em total
isolamento.
Uma das vantagens principais dos bosquímanos em relação a outras sociedades
humanas era a sua capacidade para sobreviverem sem água de superfície. Guardando
segredo sobre a forma de encontrar água em melancias e tubérculos, e aprendendo a
enterrar ovos de avestruz cheios de água na estação das chuvas para recuperá-los
durante a estação seca, os bosquímanos mostraram-se capazes de sobreviver onde os
outros não conseguiam.

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