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Antropologia

A antropologia (do grego ἄνθρωπος) é a ciência que tem como objeto de estudo
o homem e a humanidade visando o comportamento humano, a biologia
humana e a evolução, estudando padrões de comportamento e investigando
sociedades antigas e presentes. O campo biológico da antropologia estuda o
desenvolvimento biológico dos humanos bem como o comportamento dos
primatas e antepassados.
O nome antropologia advém de anthropos: ser humano; e logos: razão,
pensamento, discurso.

Divisões e campo
A divisão clássica da antropologia distingue a antropologia
cultural da antropologia física (ou biológica), já a divisão norte-americana,
conhecida como Four Fields ("quatro campos"), divide a antropologia
em arqueologia, linguística, antropologia física e antropologia cultural. Cada
uma destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento.
Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do
seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção
vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo
de estudo às características físicas do ser humano. Essa postura marcou e
limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando
a antropometria, ciência que trata das mensurações das propriedades físicas do
ser humano.
A antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de
investigação extremamente vasto: abrange, no espaço, toda a terra habitada; no
tempo, pelo menos dois milhões de anos e todas as populações socialmente e
devidamente organizadas. Divide-se em duas grandes áreas de estudo, com
objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a antropologia física (ou
biológica) e a antropologia cultural, para alguns autores sinônimo de
antropologia social, que focaliza, talvez, o principal conceito desta ciência,
a cultura. Segundo o Museu de Antropologia Cultural da Universidade de
Minnesota, a antropologia cultural abrange três tópicos gerais que por sua vez
subdivide-se e constituem-se como
especialidades: etnografia / etnologia, linguística aplicada à antropologia
e arqueologia. A cultura e a mitologia correspondem ao desejo do ser humano
de conhecer a sua origem, ou produzem um modo de autoconhecimento que é a
identidade, diferenciando os grupos em função de suas idiossincrasias e
adaptação em ambientes distintos.

Considerações
Para pensar as sociedades humanas, a antropologia preocupa-se em detalhar,
tanto quanto possível, os seres humanos que as compõem e com elas se
relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza, seja
na sua especificidade cultural. Para o saber antropológico o conceito
de cultura abarca diversas dimensões: universo psíquico, os mitos, os costumes
e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações
de parentesco, política, economia, arte, entre outros tópicos.
Embora o estudo das sociedades humanas remonte à Antiguidade Clássica, a
antropologia nasceu, como ciência, efetivamente, da grande revolução cultural
iniciada com o iluminismo.

História
Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia se tenha
definido enquanto disciplina só depois da revolução iluminista, a partir de um
debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico
remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. Enquanto o ser
humano pensou sobre si mesmo e sobre sua relação com o "outro", pensou
antropologicamente. A Antropologia é o estudo do ser humano como ser
biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito
ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que
indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como a
“antropologia física ou biológica” (aspectos genéticos e biológicos do ser
humano), “antropologia social” (organização social e política, parentesco,
instituições sociais), “antropologia cultural” (sistemas simbólicos, religião,
comportamento) e “arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos
desaparecidos). Além disso podemos utilizar termos como antropologia,
etnologia e etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições
acadêmicas.
Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss, a etnografia corresponde “aos
primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. A
etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à
síntese” e a antropologia, “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por
base as conclusões da etnografia e da etnologia”.
Qualquer que seja a definição adotada, é possível entender a antropologia como
uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de
respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo
“outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e
culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas
possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna
seres singulares, humanos.
Primórdios
Homero, Hesíodo e os filósofos pré-socráticos já se questionavam a respeito do
impacto das relações sociais sobre o comportamento humano; ou vendo este
impacto como consequência dos caprichos dos deuses, como enumera
a Odisseia de Homero e a Teogonia de Hesíodo, ou como construções racionais,
valorizando muito mais a apreensão da realidade no dia a dia da experiência
humana, como preferiam os filósofos pré-socráticos. Foi, sem dúvida,
na Antiguidade Clássica que a "medida Humana" se evidenciou como centro da
discussão acerca do mundo. Os gregos deixaram inúmeros registros e relatos
acerca de culturas diferentes das suas, assim como os chineses e os romanos.
Nestes textos nascia, por assim dizer, a antropologia, e no século V a.C. um
exemplo disto se revela na obra de Heródoto, que descreveu minuciosamente as
culturas com as quais seu povo se relacionava. Da contribuição grega fazem
parte também as obras de Aristóteles (acerca das cidades gregas) e as
de Xenofonte (a respeito da Índia).
Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, que tentou investigar as
origens da religião, das artes e se ocupou da discurso. Outro
romano, Tácito analisou a vida das tribos germânicas, baseando-se nos relatos
dos soldados e viajantes. Salienta o vigor dos germanos em contraste com os
romanos da sua época. Agostinho de Hipona, um dos pilares teológicos
do catolicismo, descreveu as civilizações greco-romanas "pagãs", vistas como
moralmente inferiores às sociedades cristianizadas. Em sua obra já discutia, de
maneira pouco elaborada, a possibilidade do "tabu do incesto" funcionar
como norma social, garantia da coesão da sociedade. É importante salientar que
Agostinho, no entanto, privilegiou explicações sobrenaturais para a vida
sociocultural.
Embora não existisse como disciplina específica, o saber antropológico
participou das discussões da filosofia, ao longo dos séculos. Durante a Idade
Média muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento
racional, aplicado ao estudo da experiência humana, como fez o administrador
francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que
buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que os franceses
tinham em administrar esses povos. Com o advento do movimento iluminista,
este saber foi estruturado em dois núcleos analíticos: a antropologia física (ou
biológica), de modo geral considerada ciência natural, e a antropologia cultural,
classificada como ciência social.

O século XVIII
Até o século XVIII, o saber antropológico esteve presente na contribuição dos
cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em
relação aos povos que conheciam, a maneira como estes viviam a sua condição
humana, cultivavam seus hábitos, normas, características, interpretavam os seus
mitos, os seus rituais, a sua linguagem. Só no século XVIII, a Antropologia
adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Carlos Lineu e
tendo como objeto a análise das "raças humanas".
O legado desta época foram os textos que descreviam as terras (a fauna, a flora,
a topografia) e os povos "descobertos" (hábitos e crenças). Algumas obras que
falavam dos indígenas brasileiros, por exemplo, foram: a carta de Pero Vaz de
Caminha ("Carta do Descobrimento do Brasil"), os relatos de Hans Staden,
"Duas Viagens ao Brasil", os registros de Jean de Léry, a "Viagem a Terra do
Brasil", e a obra de Jean-Baptiste Debret, a "Viagem Pitoresca e Histórica ao
Brasil. Além destas, outras obras falavam ainda das terras recém-descobertas,
como a carta de Cristóvão Colombo aos Reis Católicos. Toda esta produção
escrita levantou uma grande polémica acerca dos indígenas. A contribuição dos
missionários jesuítas na América (como Bartolomeu de las Casas e Padre
Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada "teoria do bom selvagem", que
via os índios como detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia
ser assimilado pelos ocidentais. Esta teoria defendia a ideia de que cultura mais
próxima do estado "natural" serviria de remédio aos males da civilização.

O século XIX
No século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes utiliza o termo homem
pré-histórico para discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados
arqueológicos, como utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante
remota. Posteriormente, em 1865, John Lubbock reavaliou numerosos dados
acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que
enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico.
Com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies, em 1859, e A
descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização
da teoria evolucionista. Partindo da discussão trazida à tona por estes
pesquisadores, nascia a antropologia física ou biológica.
Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do século XIX privilegiou
o darwinismo social, que considerava a sociedade europeia da época como o
apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígines eram
tidas como exemplares "mais primitivos". Esta visão usava o conceito de
"civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de
outros povos. Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional
de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como
inferiores, recebe o nome de etnocentrismo. É a visão etnocêntrica, o conceito
europeu do homem que se atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os
outros povos como os das ilhas da Oceania, estavam "situados fora da história e
da cultura". Esta afirmação está muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.
Com fundamento nestas concepções, as primeiras grandes obras da
antropologia consideravam, por exemplo, o indígena das sociedades não
europeias como o primitivo, o antecessor do homem civilizado: afirmando e
qualificando o saber antropológico como disciplina, centrando o debate no
modo como as formas mais simples de organização social teriam evoluído, de
acordo com essa linha teórica essas sociedades caminhariam para formas mais
complexas como as da sociedade europeia.
Nesta forma de apreender a experiência humana, todas as sociedades, mesmo as
desconhecidas, progrediriam em ritmos diferentes, seguindo uma linha
evolutiva. Isso balizou a ideia de que a demanda colonial seria "civilizatória",
pois levaria os povos ditos "primitivos" ao "progresso tecnológico-científico"
das sociedades tidas como "civilizadas". Há que ver estes equívocos como parte
da visão de mundo que pretendiam estabelecer as diretrizes de uma lei universal
de desenvolvimento.
Mas não se pode generalizar e atribuir as características acima a todos os
autores que se aparentaram a essa corrente. Durkheim, por exemplo, procurou
nas manifestações totêmicas dos nativos australianos a forma mais simples e
elementar de religiosidade, mas não com o pensamento enquadrado numa linha
evolutiva cega: se nossa sociedade era dita mais complexa, ele atribuía isso às
diversas tendências da modernidade de que somos fruto, e a dificuldade de
determinar uma tendência pura na nossa religião, escamoteada por milhares de
anos de teologia.
O método concentrava-se numa incansável comparação de dados, retirados das
sociedades e de seus contextos sociais, classificados de acordo com o tipo
(religioso, de parentesco, etc.), determinado pelo pesquisador, dados que lhe
serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estágio
específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica,
de modo a que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva,
como se o próprio costume tivesse a finalidade de auxiliar esta
evolução. Entendiam os evolucionistas que os costumes se demarcavam como
substância, como finalidade, origem, individualidade e não como um elemento
do tecido social, interdependente de seu contexto.
Vale ressaltar que apesar da maior parte dos evolucionistas terem trabalhado em
gabinetes, tais como Edward Tylor e James Frazer um dos mais conhecidos
pensadores dessa corrente, Lewis Henry Morgan, tinha contato com diversas
tribos do norte dos Estados Unidos. Seria exagerado creditar a autores dessa
corrente compilações cega das culturas humanas, isso seria uma simplificação
enorme, ao mesmo tempo que se deixaria de aproveitar esses estudos clássicos
da antropologia.
A antropologia difusionista reagiu ao evolucionismo e foi sua contemporânea.
Valorizava a compreensão natural da cultura, em termos de origem e extensão,
de uma sociedade a outra. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um
mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as
diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana
para imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma
"unidade psíquica", tal como defendia Adolf Bastian e outros intelectuais
como Friedrich Ratzel, Grafton Elliot Smith, William James Perry, William H.
R. Rivers, Fritz Graebner e Fr. Wilhelm Schmidt, fundador da
revista Anthropos.
Com Émile Durkheim começam os fenômenos sociais a serem definidos como
objetos de investigação sócio-antropológica e, a partir da análise da publicação
do livro As Regras do Método Sociológico, em 1895, começa-se a pensar que
os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então. No
final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, Durkheim se debruça nas
representações primitivas, estudo que culminará na obra "Algumas formas
primitivas de classificação", publicada em 1901 e, mais tarde, no livro As
formas elementares da vida religiosa, publicado em 1912. Inaugura-se então a
denominada "linhagem francesa" na Antropologia.

O século XX
Inicialmente centrada na denominada "Etnologia", a Antropologia Francesa
arranca, como disciplina de ensino, no Instituto de Etnologia do Museu do
Homem, em Paris, a partir de 1927. No início, a disciplina se vinculara ao
Museu de História Natural, porque se considerava a antropologia como uma
subdisciplina da História Natural.
O grupo de Durkheim visava constituir uma ciência propriamente social. O
debate francês se inspira sobre a tradicional questão de saber como ocorre o
processo de diferenciação social nas sociedades industriais no contexto de
organização das sociedades nacionais e das instituições republicanas, questão
que recebeu inúmeros desdobramentos nas obras de Marcel Mauss - que publica
com Henri Hubert, em 1903, a obra Esboço de uma teoria geral da magia, na
qual forja o conceito de mana - Denise Paulme, Germaine Tillion, Germaine
Dieterlen, Lucien Lévy-Bruhl, Marcel Griaule, Maurice Leenhardt e Michel
Leiris.
Já nos Estados Unidos, Franz Boas desenvolve a ideia de que cada cultura tem
uma história particular e considerava que a difusão de traços culturais acontecia
em toda parte, em várias direções. A antropologia estende a investigação ao
trabalho de campo, por meio da qual estuda-se a cultura em seus próprios
termos. Surgia o culturalismo, também conhecido como "particularismo
histórico", rejeitando, de maneira marcante, o evolucionismo que dominou a
Antropologia na segunda metade do século XIX. Consolida-se o conceito
de relativismo cultural (ver também Alfred Louis Kroeber, C. Wissler e Robert
Lowie).
Deste movimento surgiria posteriormente a escola antropológica da Cultura e
Personalidade. Criada por discípulos de Boas, influenciadas pela Psicanálise e
pela obra de Nietzsche, esta vertente teórica concebe a cultura como detentora
de uma "Personalidade de base", partilhada por todos os membros. Busca-se,
assim, estabelecer uma tipologia cultural, como, por exemplo, classificando as
culturas como dionisíacas (centradas no êxtase) e apolíneas (estruturadas no
desejo de moderação), ou ainda como pré-figurativas, pós-figurativas,
cofigurativas. Destacam-se as obras de Ruth Benedict, Margaret Mead, Gregory
Bateson e Ralph Linton.
Paralelamente a estes movimentos, na Inglaterra nascia com Bronislaw
Malinowski o funcionalismo, que enfatizava o trabalho de campo (observação
participante) - base para a etnografia, que envolve a elaboração desta produção
intelectual - e postulava que o conhecimento acerca de uma cultura exige
apreendê-la na sua totalidade. As instituições sociais ocupam o centro do
debate, a partir das funções que exercem na manutenção da totalidade cultural.
Sob inspiração na obra de Durkheim, advogava-se um estreito paralelismo entre
as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e
conservação) porque, em ambos os casos, a harmonia dependeria da
interdependência funcional das partes. Alfred Radcliffe Brown, por sua vez,
retoma os conceitos de estrutura e de função sob novo prisma, de modo a
analisar as obrigações, as relações sociais. A ideia de que a função sustentaria
a estrutura social, permitindo a coesão, fundamental dentro de um sistema de
relações sociais, ganhou diversos desdobramentos e críticas nos trabalhos
de Audrey Richards, Edmund Leach, Evans-Pritchard, Hilda Kuper, Lucy
Mair, Max Glukman, Meyer Fortes, Raymond Firth e Victor Turner.

Uma inflexão no debate antropológico ocorreu especialmente na década de


1940, com Claude Lévi-Strauss, que passa a centrar o debate na ideia de que
existem regras estruturantes das culturas na mente humana, e assume que estas
regras constroem pares de oposição para organizar o sentido. Para fundamentar
o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a corrente
psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo
da linguística, por Ferdinand de Saussure, denominado estruturalismo. Influenciaram-no,
ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e Marcel Mauss.

Para a Antropologia estrutural, as culturas definem-se como sistemas


de signos partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o
funcionamento do intelecto. Em 1949, Lévi-Strauss publica As estruturas
elementares de parentesco, obra em que analisa os aborígines australianos e, em
particular, os seus sistemas de matrimônio e parentesco. Nesta análise, Lévi-
Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura
social que os laços de sangue. Termos como exogamia, endogamia,
aliança, consanguinidade passam a fazer parte das preocupações etnográficas.
Pode-se observar o desdobramento das reflexões estruturalistas nas obras de
diversos antropólogos, como Françoise Héritier, Louis Dumont, Marshall
Sahlins, Pierre Bourdieu, Pierre Clastres e Philipe Descola.
Clifford Geertz é provavelmente, depois de Lévi-Strauss, o antropólogo cujas
ideias causaram maior impacto na segunda metade do século XX, não apenas
no que se refere à própria teoria e à prática antropológica, mas também fora de
sua área, em disciplinas como a psicologia, a história e a teoria literária.
Considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea -
a chamada antropologia interpretativa - defende o estudo de "quem as pessoas
de determinada formação cultural acham que são, o que elas fazem e por que
razões elas crêem que fazem o que fazem". Nesta vertente teórica, a cultura é
analisada como hierarquia de significados e a etnografia envolve a elaboração
de uma descrição densa, de interpretação escrita, cuja análise é possível por
meio de uma inspiração hermenêutica. É crucial a leitura da leitura que os
"nativos" fazem de sua própria cultura. Uma das metáforas preferidas de
Geertz, para definir o que fará a antropologia interpretativa, é a leitura das
sociedades enquanto textos ou como análogas a textos. A interpretação ocorre
em todos os momentos do estudo, da leitura do "texto", pleno de significado,
que é a sociedade na escrita do texto/ensaio do antropólogo, por sua vez
interpretado por aqueles que não passaram pelas experiências do autor do texto
escrito. Todos os elementos da cultura analisada devem portanto ser entendidos
à luz desta textualidade, imanente à realidade cultural.
Na década de 1980, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões.
Muitas críticas a todas as vertentes surgiram, questionando o método e as
concepções antropológicas. No geral, este debate privilegiou algumas ideias: a
primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou seja, vista sob uma
perspectiva subjetiva do autor, portanto a antropologia seria uma interpretação
de interpretações. Da crítica das retóricas de autoridade clássicas, fortemente
influenciada pelos estudos de Michel Foucault, surgem metaetnografias, ou
seja, a análise antropológica da própria produção etnográfica. Contribuiu muito
para esta discussão a formação de antropólogos nos países que então eram
analisados apenas pelos grandes centros antropológicos.
A Antropologia pós-moderna privilegia a discussão acerca
do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no
modelo das etnografias. Politiza a relação observador-observado na pesquisa
antropológica, questionando a utilização do "poder" do etnógrafo sobre o
"nativo", e crítica os paradigmas teóricos e da "autoridade etnográfica" do
antropólogo. A pergunta essencial é: quem realmente fala na etnografia? O
nativo? Ou o nativo visto pelo prisma do etnógrafo? A etnografia passa a ser
desenvolvida como uma representação polifónica da polissemia cultural – e
nela deveriam estar claramente presentes as vozes dos vários informantes.
Denis Tedlock, George Marcus, James Clifford, Michel Fischer, Paul
Rabinow, Renato Rosaldo e Vincent Crapanzano são alguns dos expoentes deste
debate.
Outros movimentos significativos, na história do século XX, para a teoria
antropológica foram as escolas Cognitiva, Simbólica e Marxista, além das
críticas feministas,[26] pós-coloniais e decoloniais. São inúmeras as
colaborações, dentre as quais destacam-se os trabalhos de: Arturo
Escobar, Bruno Latour, Donna Haraway, Frantz Fanon, Jean
Comaroff, Johannes Fabian, John Comaroff, Marshall Sahlins, Marilyn
Strathern, Michael Taussig, Sherry Ortner, Talal Asad e Tim Ingold.

Arte, mídia, música e imagem

Arte
Um dos problemas centrais da antropologia da arte diz respeito à universalidade
da arte como fenômeno cultural.[27] Vários antropólogos notaram que as
categorias ocidentais de pintura, escultura ou literatura, concebidas como
atividades artísticas independentes, não existem, ou existem de uma forma
significativamente diferente, na maioria dos contextos não ocidentais. Os
antropólogos da arte se concentraram em características formais em objetos
que, sem serem exclusivamente "artísticos", têm certas qualidades "estéticas"
evidentes. Arte primitiva de Boas, A via das máscaras, de Claude Lévi-
Strauss (1982) ou "'Arte como sistema cultural" de Geertz (1983) são alguns
exemplos de trabalhos neste campo.
Midia
A antropologia da mídia (também conhecida como antropologia da mídia ou
mídia de massa) enfatiza os estudos etnográficos como um meio de
compreender produtores, públicos e outros aspectos culturais e sociais da mídia
de massa. Os tipos de contextos etnográficos explorados variam de contextos de
produção de mídia (por exemplo, etnografias de redações em jornais, jornalistas
da área, produção de filmes) a contextos de recepção da mídia, acompanhando
o público em suas respostas diárias à mídia. Outros tipos incluem a
ciberantropologia.

Música
Etnomusicologia é um campo acadêmico que abrange várias abordagens para o
estudo da música (amplamente definido), que enfatizam suas dimensões ou
contextos culturais, sociais, materiais, cognitivos, biológicos e outros, em vez
de ou além de seu componente sonoro isolado ou qualquer repertório
particular. Embora as origens da etnomusicologia datem dos séculos XVIII e
XIX, ela foi formalmente introduzida como "etnomusicologia" pelo estudioso
holandês Jaap Kunst por volta de 1950. Mais tarde, a influência do estudo nesta
área gerou a criação do periódico Etnomusicologia e da Sociedade de
Etnomusicologia.

Imagem
A antropologia visual preocupa-se, em parte, com o estudo e a produção da
fotografia etnográfica, do cinema e, desde meados dos anos 1990, dos novos
meios de comunicação. Embora o termo às vezes seja usado como sinônimo de
filme etnográfico, a antropologia visual também abrange o estudo antropológico
da representação visual, incluindo áreas como performance, museus, arte e
produção e recepção de mídia de massa. Representações visuais de todas as
culturas, como pinturas de areia, tatuagens, esculturas e relevos, pinturas
rupestres, joias, hieróglifos, pinturas e fotografias estão incluídas no foco da
antropologia visual.

Economia e desenvolvimento

Economia
A antropologia econômica tenta explicar o comportamento econômico humano
em seu mais amplo escopo histórico, geográfico e cultural. Tem uma relação
complexa com a disciplina de economia, da qual é altamente crítica. Suas
origens como um subcampo da antropologia começam com Bronisław
Malinowski e Marcel Mauss, sobre a natureza da troca de presentes (ou
reciprocidade) como uma alternativa à troca de mercado. A Antropologia
Econômica permanece, em grande parte, focada na troca. A escola de
pensamento derivada de Marx e conhecida como Economia Política concentra-
se na produção, em contraste. Os antropólogos econômicos abandonaram o
nicho primitivista ao qual foram relegados pelos economistas e se voltaram para
examinar corporações, bancos e o sistema financeiro global de uma perspectiva
antropológica.
A economia política na antropologia é a aplicação das teorias e métodos do
materialismo histórico às preocupações tradicionais da antropologia, incluindo,
mas não se limitando a, sociedades não capitalistas. A economia política
introduziu questões de história e colonialismo às teorias antropológicas a-
históricas da estrutura social e da cultura. Três áreas principais de interesse
desenvolveram-se rapidamente. A primeira dessas áreas preocupava-se com as
sociedades pré-capitalistas sujeitas aos estereótipos tribais evolucionários. O
trabalho de Sahlins sobre os caçadores-coletores como a "sociedade afluente
original" contribuiu muito para dissipar essa imagem. A segunda área
preocupava-se com a vasta maioria da população mundial da época,
o campesinato, muitos dos quais estavam envolvidos em guerras
revolucionárias complexas, como no Vietnã. A terceira área era sobre
colonialismo, imperialismo e a criação do sistema mundial capitalista. Mais
recentemente, esses economistas políticos abordaram mais diretamente as
questões do capitalismo industrial (e pós-industrial) em todo o mundo.

Desenvolvimento
A antropologia do desenvolvimento tende a ver o desenvolvimento de uma
perspectiva crítica. O tipo de questões abordadas e as implicações para a
abordagem envolvem simplesmente ponderar por que, se um objetivo-chave de
desenvolvimento é o alívio da pobreza, a pobreza está aumentando? Por que
existe essa lacuna entre planos e resultados? Por que aqueles que trabalham no
desenvolvimento estão tão dispostos a ignorar a história e as lições que ela pode
oferecer? Por que o desenvolvimento é tão impulsionado externamente em vez
de ter uma base interna? Em suma, por que tanto desenvolvimento planejado
falha?

Parentesco, família, gênero e sexualidade

Parentesco
O parentesco pode se referir tanto ao estudo dos padrões de relações sociais em
uma ou mais culturas humanas, quanto aos próprios padrões de relações sociais.
Ao longo de sua história, a antropologia desenvolveu uma série de conceitos e
termos relacionados, como "descendência", "grupos de descendência",
"linhagens", "afins", "cognatos" e até mesmo "parentesco fictício". De modo
geral, os padrões de parentesco podem ser considerados como incluindo pessoas
relacionadas tanto por descendência (relações sociais durante o
desenvolvimento), e também parentes por casamento. No parentesco, você tem
duas famílias diferentes. As pessoas têm suas famílias biológicas e são as
pessoas com as quais compartilham DNA. Isso é chamado de relações
consanguíneas ou "laços de sangue". As pessoas também podem ter uma família
escolhida, na qual escolheram quem querem que faça parte de sua família.

Corpo, saúde, nutrição e alimentação, emoções, cognição e


comportamento

Saúde
A antropologia médica é um campo interdisciplinar que estuda saúde e doença
humana, sistemas de saúde e adaptação biocultural. Ele se concentra nos
seguintes seis campos básicos: 1) o desenvolvimento de sistemas de
conhecimento médico e assistência médica; 2) a relação médico-paciente; 3) a
integração de sistemas médicos alternativos em ambientes culturalmente
diversos; 4) a interação de fatores sociais, ambientais e biológicos que
influenciam a saúde e a doença tanto do indivíduo quanto da comunidade como
um todo; 5) a análise crítica da interação entre os serviços psiquiátricos e as
populações migrantes ("etnopsiquiatria crítica"); 6) o impacto da biomedicina e
tecnologias biomédicas em ambientes não ocidentais. Outros assuntos que se
tornaram centrais para a antropologia médica em todo o mundo são a violência
e o sofrimento social, bem como outras questões que envolvem danos físicos e
psicológicos e sofrimento que não são resultado de uma doença. Por outro lado,
existem campos que se cruzam com a antropologia médica em termos de
metodologia de pesquisa e produção teórica, como a psiquiatria cultural e a
psiquiatria transcultural ou etnopsiquiatria.

Nutrição e alimentação
A antropologia nutricional é um conceito sintético que trata da interação entre
os sistemas econômicos, o estado nutricional e a segurança alimentar e como as
mudanças nos primeiros afetam os segundos. Se as mudanças econômicas e
ambientais em uma comunidade afetam o acesso à alimentação, segurança
alimentar e saúde alimentar, então essa interação entre cultura e biologia está,
por sua vez, conectada a tendências históricas e econômicas mais amplas
associadas à globalização. O estado nutricional afeta o estado geral de saúde, o
potencial de desempenho no trabalho e o potencial geral de desenvolvimento
econômico (seja em termos de desenvolvimento humano ou modelos ocidentais
tradicionais) para qualquer grupo de pessoas.
Emoções, cognição e comportamento
A antropologia psicológica é um subcampo interdisciplinar da antropologia que
estuda a interação dos processos culturais e mentais. Este subcampo tende a se
concentrar nas maneiras pelas quais o desenvolvimento e a inculturação dos
humanos dentro de um determinado grupo cultural - com sua própria história,
linguagem, práticas e categorias conceituais - moldam os processos
de cognição, emoção, percepção, motivação e saúde mental humanas. Também
examina como a compreensão da cognição, emoção, motivação e processos
psicológicos semelhantes informam ou restringem nossos modelos de processos
culturais e sociais.
A antropologia cognitiva busca explicar os padrões de conhecimento
compartilhado, inovação cultural e transmissão ao longo do tempo e do espaço
usando os métodos e teorias das ciências cognitivas (especialmente psicologia
experimental e biologia evolutiva), muitas vezes por meio de estreita
colaboração com historiadores, etnógrafos, arqueólogos, linguistas,
musicólogos e outros especialistas envolvidos na descrição e interpretação de
formas culturais. A antropologia cognitiva está preocupada com o que as
pessoas de diferentes grupos sabem e como esse conhecimento implícito muda
a maneira como as pessoas percebem e se relacionam com o mundo ao seu
redor.

Política e leis

Política
A antropologia política diz respeito à estrutura dos sistemas políticos, vistos a
partir da estrutura das sociedades. A antropologia política se desenvolveu como
uma disciplina preocupada principalmente com a política em sociedades sem
Estado, um novo desenvolvimento começou na década de 1960 e ainda está se
desenvolvendo: os antropólogos começaram a estudar cada vez mais
configurações sociais mais "complexas" em que a presença de
Estados, burocracias e mercados compunham relatos etnográficos e análise de
fenômenos locais. A virada para as sociedades complexas significou que os
temas políticos foram tratados em dois níveis principais. Em primeiro lugar, os
antropólogos continuaram a estudar a organização política e os fenômenos
políticos que estavam fora da esfera regulada pelo Estado (como nas relações
patrono-cliente ou na organização política tribal). Em segundo lugar, os
antropólogos começaram lentamente a desenvolver uma preocupação
disciplinar com os Estados e suas instituições (e sobre a relação entre as
instituições políticas formais e informais). Uma antropologia do estado se
desenvolveu, e é um campo muito próspero hoje. O trabalho comparativo
de Geertz sobre Negara, o estado balinês, é um exemplo antigo e famoso.

Leis
A antropologia jurídica ou antropologia do direito é especializada no estudo
transcultural da ordem social. Pesquisas antropológicas jurídicas anteriores
frequentemente focavam mais especificamente em gestão de conflitos,
crime, sanções ou regulamentação formal. As aplicações mais recentes incluem
questões como direitos humanos, pluralismo jurídico e levante político.

Antropologia forense
A antropologia forense é a aplicação da ciência da antropologia física e
da osteologia humana em um ambiente jurídico, mais frequentemente em casos
criminais em que os restos mortais da vítima estão em estágios avançados de
decomposição. Um antropólogo forense pode auxiliar na identificação de
indivíduos falecidos cujos restos mortais estão decompostos, queimados,
mutilados ou irreconhecíveis. O adjetivo "forense" refere-se à aplicação desse
subcampo da ciência a um tribunal.

Natureza, ciência e tecnologia

Ciborgue
A antropologia ciborgue se originou como um subgrupo de enfoque dentro da
reunião anual da American Anthropological Association em 1993. O subgrupo
era intimamente relacionado ao STS e à Sociedade para os Estudos Sociais da
Ciência. O Manifesto Cyborg de Donna Haraway de 1985 pode ser considerado
o documento fundador da antropologia ciborgue, primeiro explorando as
ramificações filosóficas e sociológicas do termo. A antropologia ciborgue
estuda a humanidade e suas relações com os sistemas tecnológicos que ela
construiu, especificamente os sistemas tecnológicos modernos que moldaram
reflexivamente noções do que significa ser humano.

Internet e meios digitais


A antropologia digital é o estudo da relação entre os humanos e a tecnologia
da era digital e se estende a várias áreas onde a antropologia e a tecnologia se
cruzam. Às vezes é agrupado com a antropologia sociocultural e às vezes
considerado parte da cultura material. O campo é novo e, portanto, tem uma
variedade de nomes com diversas ênfases. Isso inclui a tecnoantropologia,
etnografia digital, ciberantropologia e antropologia virtual.

Ecologia
A antropologia ecológica é definida como o estudo das adaptações culturais aos
ambientes. O subcampo também é definido como o estudo das relações entre
uma população de humanos e seu ambiente biofísico. O foco de sua pesquisa
diz respeito a como as crenças e práticas culturais ajudaram as populações
humanas a se adaptarem a seus ambientes, e como seus ambientes mudam ao
longo do espaço e do tempo. Muitos caracterizam essa nova perspectiva como
mais informada sobre cultura, política e poder, globalização, questões
localizadas, antropologia do século e muito mais. O foco e a interpretação dos
dados são muitas vezes usado para argumentos a favor/contra ou criação de
políticas e para prevenir a exploração corporativa e danos à terra.
Frequentemente, o observador se tornou uma parte ativa da luta, seja direta
(organização, participação) ou indiretamente (artigos, documentários, livros,
etnografias).

História
Etnohistória é o estudo de culturas etnográficas e costumes indígenas por meio
do exame de registros históricos. É também o estudo da história de vários
grupos étnicos que podem ou não existir hoje. Etnohistória usa dados históricos
e etnográficos como sua base. Seus métodos e materiais históricos vão além do
uso padrão de documentos e manuscritos. Os praticantes reconhecem a utilidade
de materiais como mapas, música, pinturas, fotografia, folclore, tradição oral,
exploração de locais, materiais arqueológicos, coleções de museus, costumes
duradouros, linguagem e nomes de lugares.

Religião e sistemas de crença


A antropologia da religião envolve o estudo das instituições religiosas em
relação a outras instituições sociais e a comparação das crenças e práticas
religiosas entre as culturas. A antropologia moderna pressupõe que toda religião
é um produto cultural, criado pela comunidade humana. Também contemplam
estudos sobre a noção de magia, símbolos religiosos, laicidade e a atuação
religiosa na esfera pública.
Grupos etários

Infância
A antropologia da criança tem uma compreensão de como as crianças devem
ser entendidas como atores sociais relevantes, já que não apenas são submetidas
aos ensinamentos, mas criam sentidos e atuam sobre o que vivenciam. Diante
desse contexto, temos uma relação com a ideia trazida por Clarice Cohn (2005)
que é:
"Ao contrário de seres incompletos, treinando para a vida adulta,
encenando papéis sociais enquanto são socializados ou adquirindo
competências e formando sua personalidade social, passam a ter
um papel ativo na definição de sua própria condição. Seres sociais
plenos ganham legitimidade como sujeito nos estudos que são
feitos sobre eles. Vejamos como essas mudanças afetam os
estudos antropológicos em três aspectos: a criança como ator
social, a criança como produtor de cultura, e a definição da
condição social da criança".
Para essa autora é importante estudar as crianças, pois, assim, é possível
compreender a experiência cultural dos adultos, uma vez que esses
naturalizaram seus espaços, poderes e relações pessoais. Diferentemente, as
crianças veem as relações de outro ponto de vista, com novas ideias, valores e
relações. Ainda segundo Cohn (2005), a criança passa a ter um papel efetivo
diante à sociedade, além de conseguir perceber a autoridade dos adultos, as
regras do seu mundo e as culturas infantis.

Espaço urbano
A antropologia urbana se preocupa com questões de urbanização, pobreza e
neoliberalismo. Vários processos sociais no mundo ocidental, bem como no
Terceiro Mundo (este último sendo o foco usual de atenção dos antropólogos)
trouxeram a atenção de "especialistas em 'outras culturas'" para mais perto de
suas casas. Existem duas abordagens principais para a antropologia urbana:
examinar os tipos de cidades ou examinar as questões sociais dentro das
cidades. Esses dois métodos são sobrepostos e dependentes um do outro. Ao
definir diferentes tipos de cidades, seriam usados fatores sociais, bem como
fatores econômicos e políticos para categorizar as cidades. Olhando diretamente
para as diferentes questões sociais, também estaria estudando como elas afetam
a dinâmica da cidade.

Antropologia da educação
A antropologia da educação é um sub-campo da antropologia e está amplamente
associada ao trabalho pioneiro de Margaret Mead. Como o nome sugere, o foco
recai sobre a educação, incluindo a observação etnográfica de processos
informais e formais de ensino e aprendizagem. Problematiza-se a relação entre
educação e multiculturalismo, o pluralismo educacional,
a pedagogia culturalmente relevante e os métodos nativos de aprendizagem
e socialização.

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