Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e principais autores
A Antropologia da Religião, na sua fase iniciai, dedicou-se ao estudo da
mitologia dos “povos primitivos”. Este início se deu através do ponto de
vista do “homem civilizado”, que entendia a si mesmo como integrante de
uma cultura mais evoluída — estando os demais povos em estado de
infantilidade cultural e espiritual.
Existe até uma anedota sobre mitologia quando comparada com a crença
pessoal: “mitologia é a religião dos outros”. Com o tempo, a Antropologia
da Religião passou a evitar esse tipo de interpretação, pois distorcia a
realidade dos povos estudados.
Apesar disso, o fenômeno religioso não deve ser entendido como algo
superficial ou mera superstição. Muito menos como crenças de um povo
menos desenvolvido, afinal, trata-se de um fenômeno universal que
acompanhou todos os povos e ajudou a organizar comunidades desde o
surgimento do homem no planeta.
A civilização, como a entendemos hoje, ainda é bastante recente se
compararmos com os povos ancestrais que sobreviveram por milhares de
anos com o apoio dos mitos e dos vários ritos de nascimento, colheitas,
iniciação, morte e muitos outros.
E mesmo hoje não existe nação que não tenha nas religiões (ou nos
mitos) um dos pilares culturais de sua formação. Então, de forma alguma
as religiões são um objeto de estudo superficial.
Sobre isso, a autora Maria Lúcia Aranha diz:
“O sagrado e o profano foram sempre e por toda parte concebidos pelo espírito humano
como gêneros separados, como dois mundos entre os quais não há nada em comum”.
(DURKHEIM – 1989).
O seu livro Ensaio sobre a dádiva reflete de modo evidente esses temas,
iniciando estudos sobre a língua norueguesa antiga e, posteriormente,
abordando formas de organização social, grupos e regiões diversas –
celtas, Índia, China, Oceania, índios do noroeste americano.
Mauss propõe a dádiva como uma aliança, e também como fio condutor de
sua obra, e afirma que a ela produz os seguintes tipos de alianças:
A aliança é um fato social total, mais ampla ainda, que inclui presentes,
visitas, festas, comunhões, esmolas e heranças. Os impostos e tributos
também podem ser considerados como uma forma de dádiva.
Mauss está convencido de que toda a nossa vida social é constituída por um
constante dar-e-receber.
Ao dar, dou sempre algo de mim mesmo. Ao aceitar, o receptor aceita algo
do doador. Ele deixa, ainda que momentaneamente, de ser um Outro; a
dádiva aproxima-os, torna-os semelhantes.
Isto ocorre porque “dar e receber” implica não só uma troca material, mas
também uma troca espiritual, uma comunicação entre almas. A troca
pressupõe esse sentido mais profundo.
Esta troca, em muitas tradições antigas, também diz respeito às relações com
deuses, espíritos da natureza, espírito dos mortos e guias espirituais.
No livro, ele resumiu as várias teorias que teriam sido construídas pelos
antropólogos até então, porém, baseou sua posição nas dificuldades que
uma civilização tem em incorporar na mente e na cultura da outra.
Malinowski percebeu nos seus gestos ritualísticos não apenas uma troca de
natureza comercial, mas algo também ligado à religiosidade que traz satisfação
para suas necessidades emocionais — como também ocorre nas civilizações
europeias em suas religiões.
Ele fazia parte de uma missão cultural, que incluía também professores,
e que fora convidada por Getúlio Vargas. Ainda hoje a influência dessa
comitiva é marcante na USP.
O mito, por exemplo, é uma construção intelectual que opera com partes
de uma linguagem básica que nasce do meio-ambiente: leopardo,
pássaro-mosca, gafanhoto, lagarto, etc.
O homem vive sua vida em ambiente profano, mas sua vida não é completa (ou
não faz sentido) sem a dualidade entre o Sagrado e Profano.
Assim, entre os povos chamados primitivos ou selvagens está demarcado de
forma contrastante o mistério existencial enfrentado por todos os seres
humanos.
Essa angústia, que gera no homem moderno uma veneração vazia, seria uma
negação (ou medo) do mistério do mundo e da finitude da vida, que entre os
povos “primitivos” é enfrentada de forma mais natural, como um fato
inerente à toda existência.
Rudolf Otto, citado por Eliade, explica que a experiência diante do
Sagrado provoca pavor, pois coloca o ser humano em relação com o
mistério aterrador, mas ao mesmo tempo o lança em direção ao mistério
fascinante, dando-lhe um sentimento de plenitude.
“Uma coisa é ter ideias sobre o sagrado; outra perceber e dar-se conta do sagrado
como algo atuante, vigente, a se manifestar em sua atuação. É convicção fundamental
de todas as religiões que não só a voz interior, a consciência religiosa, o discreto
sussurro do espírito no coração, o palpite e o anseio prestem testemunho a respeito do
sagrado, mas que seja possível encontrá-lo em eventos, fatos, pessoas, em atos de auto-
revelação, ou seja, que além da revelação interior no espírito também haja revelação
exterior do divino”
Por isso, é preciso para fins analíticos “fragmentar’ o sagrado para que
os estudos de campo sejam feitos; para que seja possível construir
conhecimento.
Portanto, por mais que o antropólogo se esforce, e por tudo que foi dito
aqui, suas vivências e intuições mais profundas sobre o tema são de
difícil comunicação.
Bibliografia
1. ARANHA, M.; MARTINS, M. Filosofando: introdução à filosofia. 2 ed.
São Paulo: Moderna, 2002.