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Antropologia das Religiões:

Segundo Mary Douglas, na sua reflexão “Pureza e Perigo”, as religiões consideradas


“primitivas”, associam a sujeira, o impuro à desordem, portanto devem estar afastadas
das atividades sagradas. Os rituais obedecem a uma ordem, pelo que não podem ser
alvo de desordem.
Segundo Mary Douglas a pureza e a poluição encontram-se relacionadas. Quando
existe pureza também existe poluição, estando as duas integradas na sociedade e
como tal, é atribuído aos comportamentos e atitudes de uma sociedade a conotação
de puro ou impuro.
O puro e impuro, não está, de acordo com Mary Douglas apenas associado ao limpo e
sujo, às doenças ou à alimentação, está associado a toda uma sociedade.
Assim, o puro e o impuro, são símbolos atribuídos a práticas sociais, e como tal em
simultâneo co sagrado e o profano. O que não tem obrigatoriamente de uma coisa
profana ser impura e uma sagrada ser pura, a mesma coisa pode ser numa
determinada realidade impura ou sagrada e noutra pura e profana, ou vice-versa.
Tomando o exemplo da autora:
“Alguns diziam que era por os porcos serem impuros; outros, por serem
sagrados. Isto (...) indica um estado nebuloso do pensamento religioso que ainda não
distingue claramente as noções de sagrado e de impuro misturando-as numa espécie
de solução difusa à qual damos o nome de tabu. (Spiritus of the Corn and of the Wild,
II, p.23)” (in Mary Douglas Pureza e Perigo, pag. 11)
Por vezes um ato de poluição pode num determinado contexto significar respeito e
noutro um ato de profanação. Deste modo a pureza e o impuro, o sagrado e o profano
não são sempre conotados da mesma forma. Deve-se ter atenção o contexto social
em que se inserem. A prática religiosa que é efetuada de acordo com o grupo social
ou sociedade que pratica aquele determinado culto ou ritual.
Mary Douglas termina a sua reflexão sobre a ideia que várias religiões primitivas
fazem da morte – o impuro – que aceitam tranquilamente – como um ao sagrado,
encontrando o seu caminho na Natureza.

2- No Sec. XIX, a Antropologia que acaba de aparecer nas ciências sociais pretendia
explicar a origem, a natureza e evolução da religião. Até meados do Sec. XX existiram
várias teorias, mas nenhum antropólogo fazia grandes avanços na compreensão da
Religião.
A Antropologia religiosa, retrata principalmente a religião dentro do grupo social, as
crenças os rituais. A religião é “um conjunto de comportamentos que exprimem as
crenças de um dado grupo de homens” (Labarre 1972, in Obadia 2011).
A sociedade é analisada tendo em conta os seus comportamentos e crenças
religiosas. Como se organizam e agem em função da sua religião.
A importância da religião nas suas dimensões sociais, os seus rituais e símbolos, são
tamb+em estudadas e analisadas pela Antropologia.
A Antropologia das religiões propõe-se a analisar as religiões, e não só uma religião,
desde sua origem, evolução e transformação, assim como o seu simbolismo, não só
numa determinada sociedade, mas por todo o mundo.
Dada a complexidade das religiões, o método de estudo deve ser repensado e
“afastado” da antropologia geral, podendo assim ser estudado plenamente como uma
disciplina.
“O foco da antropologia da religião tem-se deslocado do estudo das religiões tribais
para a diversidade religiosa presente nas sociedades ocidentais, nomeadamente as
variações locais das grandes religiões mundiais (hinduísmo, islão, budismo e
cristianismo) e para o impacto das religiões mundiais em países em desenvolvimento
(Java, Indonésia, Marrocos, Sri Lanka, África do Sul e Nepal), mais do que em
religiões de grupos isolados (Glazier, 1998: 24).” (in
A antropologia das religiões tem um foco de análise muito vasto, uma vez que as
religiões podem definir a maneira de estar e agir de uma comunidade.
Revista de Antropología Experimental Deposito legal: J-154-2003 nº 16, 2016. Texto
19: 263-284, UMA VIAGEM RETROSPETIVA À ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO,
Pedro PEREIRA
file:///C:/Users/Teixeira/Downloads/2441-Texto%20del%20art%C3%ADculo-10445-1-
10-20161018.pdf

3- As sociedades modernas, afirmam-se como sociedades laicas, isto é onde existe


uma divisão do poder e da religião.
No início a religião “comandava” a vida social das populações, com a modernização
das sociedades a religião deixou de ter um lugar de destaque no dia a dia dos
indivíduos. A própria mudança social, como um maior conhecimento científico levou a
mudança de hábitos e costumes, e ao afastamento dos indivíduos da religião. A
religião torna-se opcional, na sociedade moderna, ao passo que a ciência não.
Durante a época cristã medieval o poder religioso tinha uma força diferente da que tem
nos dias de hoje. A modernidade, construída no ocidente após o renascimento
provoca uma mudança no homem. Deixando este de ser um homem comandado pela
religião passando a sê-lo pela ciência.

As sociedades ocidentais, “modernas” tendem segundo Talal Asad, em ver as


tradições muçulmanas em que a religião e a política estão associadas. Segundo o
autor tal visão induz ao erro.
No entanto, vários autores de sociedades modernas, referem que a religião
muçulmana está fundamentada na comunidade, dando à religião uma integração
social e política, levando os seus seguidores a tomarem atitudes e seguirem
orientações de acordo com os escritos da religião. O estado moderno ocidental, vê-se
como oposto a esta ideologia.

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