Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No capítulo final, “A luta pelo real”, Geertz faz algumas considerações mais
gerais, resgatando para isso o debate sobre o “pensamento primitivo” (que para ele era
na verdade sobre as variedades de entendimento humano), entre o misticismo de Lucien
Lévy-Bruhl e o pragmatismo de Bronislaw Malinowski. Para o autor, este falha em
reconhecer que o senso comum é formado por, mais do que técnicas de enfrentar a vida,
maneiras de conceber a vida, e a religião (bem como a arte, a ciência, a filosofia, e a
história) tem como função complementar essa tarefa de dar sentido à experiência e é
capaz de modificar o senso comum no processo (o que Geertz denomina “reconstrução
do senso comum”).
Para o autor, o primeiro foi agravado pelas mudanças dos últimos cento e
cinquenta anos, que tornaram mais difícil tirar sentido dos rituais e símbolos religiosos
que até então caracterizou-os, o que ele atribui ao que Max Weber (influência
importante em sua obra como um todo) chamou de secularização do pensamento. Esse
processo teve como resposta a ideologização da religião, iniciada pelos escrituralistas,
que para Geertz foi inovadora por “fornecer ao islã uma política geral em relação ao
mundo moderno” (p. 112). Na visão do autor, nessa “luta pelo real”, emergem duas
estratégias para lidar com a principal encarnação da secularização do pensamento, a
ciência positiva. A primeira, notável no Marrocos, é a separação das esferas científica e
religiosa; a segunda, reproduzida na Indonésia, é a disseminação da ideia de que a
religião já continha as descobertas científicas.
Geertz conclui afirmando que cada vez menos pessoas têm acesso às
experiências que unem crença e ação, ainda que o desejo de acreditar diminua menos
que a capacidade. Como debatido no início, sendo, ao mesmo tempo, uma força
generalizante e particularizante, quanto mais a fé religiosa avança, mais precária se
torna.
Por fim, pode-se enumerar algumas das contribuições dadas pelo autor para a
antropologia, as ciências sociais e outras áreas do conhecimento, em sua obra como um
todo, bem como nesse livro em particular. O estudo das sociedades complexas (como
destaca Velho), da religião comparada, assim como o conceito semiótico de cultura,
como já mencionado, foram expandidos por suas reflexões. Além disso, a obra dialoga
com as ciências sociais de forma geral, tanto quando utiliza questões mais amplas para
introduzir o tema específico de cada capítulo, como quando, em “A luta pelo real”,
generaliza algumas das suas conclusões sobre os casos analisados. Por fim, Geertz
identifica, com antecedência notável, algumas tendências atuais, mas não novas, a
respeito da politização do islã.