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A atualidade da antropologia e os desafios

contemporâneos

Apresentação
A possibilidade que a antropologia inaugura para o conhecimento é extremamente ampla. A
despeito de seu surgimento, que fazia da antropologia uma ciência destinada a estudar e classificar
somente as culturas, a antropologia contemporânea reivindica o seu objeto de estudo para além
das categorias de produção simbólica humana. Ou seja, é possível determinar o que é cultural e o
que é natural? Tais categorias são heranças da dicotomia estabelecida a partir da modernidade ou
realmente colaboram para a compreensão da sociedade atual? Por outro lado, a sociologia passa a
se colocar dentro de um contexto antropológico.

Desse modo, pensadores como Norbert Elias passam a propor um estudo antropológico que
englobe diferentes áreas do conhecimento a fim de se compreender a formação social de tudo que
envolve a sociedade. Outrossim, as correntes antropológicas mais contemporâneas passam a
assimilar como objeto de estudo a experiência de vida nas grandes metrópoles.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá o distanciamento entre cultura e natureza. Verá
como a compreensão de Norbert Elias amplia a abordagem sociológica em relação aos processos
formativos da sociedade e, por fim, conhecerá a leitura da antropologia acerca dos processos de
urbanização.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Descrever, sob o olhar contemporâneo, a clássica dicotomia entre natureza e cultura.


• Explicar o conceito de sociedade contra o Estado, proposto por Norbert Elias.
• Analisar os processos de urbanização e seus impactos sociais sob o olhar da antropologia
urbana.
Desafio
A compreensão sociológica de Norbert Elias é inaugural na medida em que propõe uma intersecção
entre as áreas de conhecimento. Portanto, para compreender o tecido social, faz-se necessário que
se compreendam os diferentes processos que formam a sociedade e suas estruturas. Nesse
sentido, seria necessário à sociologia compreender os processos histórico, educacional, psicológico,
entre outros, para traçar um estudo mais amplo acerca da formação social, uma vez que, segundo
Elias, não há como separar o tecido social, pois uma estrutura é correlacional, constitutiva à outra e
os processos devem ser compreendidos em suas relações.

Compreender o tecido social, assim como compreender-se nessa constituição social, implica
assimilar uma relação de controle e submissão em todos os casos. Ou seja, o indivíduo, a sociedade
e o Estado dependem uns dos outros para sua existência.

Nesse contexto, você, como antropólogo, deve produzir um estudo etnográfico acerca da educação
na primeira infância, indicando o que implica a determinação estrutural da educação de um
indivíduo. Escreva sua proposta.
Infográfico
Os estudos e propostas de Bruno Latour acerca do conceito de híbridos naturais-culturais se
aproximam em muito do conceito de ciborgue de Donna Haraway. Nesse sentido, Haraway parte
do conceito híbrido de ciborgue para repensar as posições identitárias.

Neste Infográfico, você entenderá o conceito de ciborgue a partir do Manifesto Ciborgue de


Haraway.
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Conteúdo do livro
Desde seu surgimento, a antropologia busca compreender os processos de formação e
simbolização do humano, do mundo, da natureza e, mais recentemente, do não humano. Nesse
contexto, diferentes abordagens constituem o estudo da antropologia. A necessidade de uma
ciência como a antropologia se deu para problematizar a relação entre cultura e natureza. Nesse
sentido, a antropologia clássica tinha como objeto de estudo compreender o que era chamado de
uma natureza universal e o que era cultural. Portanto, buscava-se uma natureza, tanto do homem
quanto do mundo, exterior ao homem, que era entendida como aquilo que já é determinado. Já a
cultura era entendida como aquilo que se constitui. Isso, em grande parte, se deu por conta das
distinções clássicas cunhadas pela filosofia que estabeleciam uma separação entre corpo e mente,
natureza e cultura, indivíduo e sociedade.

Nesse contexto, a antropologia contemporânea vem requerer uma outra possibilidade


antropológica: uma antropologia do centro, o perspectivismo ameríndio, uma antropologia não
humana. Ou seja, entender o mundo como uno e ao mesmo tempo como multicultural e
multinatural.

Na obra Antropologia social, leia o capítulo A atualidade da antropologia e os desafios


contemporâneos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem.

Boa leitura.
ANTROPOLOGIA
SOCIAL

Mayara Joice Dionizio


A atualidade da
antropologia e os desafios
contemporâneos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever a clássica dicotomia entre natureza e cultura sob o olhar


contemporâneo.
„„ Explicar o conceito de sociedade contra o Estado, proposto por Nor-
bert Elias.
„„ Analisar os processos de urbanização e seus impactos sociais sob o
olhar da antropologia urbana.

Introdução
Desde seu surgimento, a antropologia estuda a origem e o desenvolvi-
mento humano, pensando nos processos pelos quais a sociedade e os
povos passaram (e passam). Assim, por meio desse estudo, entende-se
o que é natural e cultural no ser humano, ou se é possível estabelecer
uma relação de compreensão com o que não é humano de modo não
hierárquico. Compreender a relação entre a sociedade e o indivíduo no
sentido constitutivo e os modos de existência e experiência de vida nas
cidades também é próprio ao estudo antropológico.
Neste capítulo, você estudará como a abordagem e as críticas con-
temporâneas à dicotomia entre natureza e cultura ocorrem; de que modo
o indivíduo e a sociedade existem em uma correlação e estão submeti-
dos ao controle do Estado; a importância do estudo antropológico em
relação à vida nas cidades e os problemas decorrentes do processo de
urbanização.
2 A atualidade da antropologia e os desafios contemporâneos

Clássica dicotomia entre natureza e cultura


A necessidade de definir o que é natural e cultural no indivíduo se trata de
um problema secular, sendo que a relação entre o que se determina e o que se
cria surgiu como questionamento já na obra do filósofo grego Aristóteles. Em
sua teoria, existe uma distinção entre a constituição humana e a da natureza,
assim, os seres humanos são classificados como não objetivos; e a natureza está
submetida às leis e ordens. Nesse sentido, a natureza é ordenada e, segundo
o pensamento aristotélico, sua ontologia se refere à investigação científica de
suas leis; já a ontologia do ser humano seria subjetiva e relacionada àquilo que
é próprio de uma produção cultural. Portanto, a partir da concepção aristotélica,
a natureza começou a ser tratada como uma realidade externa pronta para ser
descoberta em seu funcionamento.
Já a concepção do termo cultura é própria, em seu primeiro uso, dos romanos
e advém do verbo colere, em latim, que significa o trabalho no campo, com
a colheita. Os romanos empregavam tal verbo tanto para se referir à colheita
e ao processo de produção de agricultura como ao cultivo das virtudes, inte-
lectualidade e propriedades do espírito.
Essa compreensão da cultura evoluiu em alguns aspectos, mas continuou a
incluir faculdades do espírito e da intelectualidade até o surgimento da corrente
filosófica Iluminista, a qual defendia que o uso da razão seria suficiente para
os indivíduos saírem da menoridade intelectual. Portanto, o refinamento do
espírito e da mente ocorria pela capacidade racional do ser humano. Um filósofo
que intensificou e protagonizou essa forma de entender cultura e natureza no
movimento Iluminista foi René Descartes (1596-1650).
Na obra “O discurso do método” (1637), Descartes apresenta sua teoria
sobre um método para se chegar à verdade. Portanto, o método é o racional e
considera como se pode provar que você existe e que a realidade ao seu redor
não é apenas uma formação da sua imaginação. Para o filósofo, prova-se
que existe refletindo: se penso é porque existo. A razão seria a responsável
por garantir a existência, e não os sentidos que podem enganar. Do mesmo
modo, por ser externa, a natureza pode ser investigada em suas leis por meio
do método racional.
O sentido do termo cultura permaneceu assim até o final do século XIX,
quando surgiram os estudos de antropologia e sociologia. Nesse contexto, ela
começou a ser entendida como tudo o que constitui um povo, por exemplo, as
tradições, a língua, as técnicas, o conhecimento, etc. Foi propriamente com a
antropologia que a problematização dessa dicotomia teve início. Já as primeiras
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correntes filosóficas que marcaram essa nova abordagem antropológica são


o racionalismo e o empirismo, os quais partem do questionamento sobre o
conhecimento e sua fonte — a razão ou a experiência. Posteriormente, essas
noções foram superadas com a teoria newtoniana, que defende que tudo está
submetido às leis universais, naturais e eternas. Desse modo, a antropologia
se concentrava em classificar tudo que compunha esse universo cultural:

[...] há uma natureza humana tão regularmente organizada, tão perfeitamente


invariante e tão maravilhosamente simples como o universo de Newton.
Algumas de suas leis talvez sejam diferentes, mas existem leis; parte da sua
imutabilidade talvez seja obscurecida pelas armadilhas da moda local, mas
ela é imutável (GEERTZ, 2008, p. 25).

Entretanto, tal concepção foi alterada a partir da publicação do livro de


Charles Darwin (1809-1882), “Sobre a origem das espécies e a seleção natural”
(1859), cuja teoria evolucionista encerra com a percepção newtoniana. Na
medida em que a evolução das espécies começou a ser vista como um processo,
surgiram estudos que demonstram que o mesmo ocorreu com a sociedade e
os povos. Assim, essa teoria influenciou os estudos antropológicos, de modo
que, no século XX, a antropologia desenvolveu um estudo cultural, o qual
abordou a cultura por duas vertentes: a primeira era mais originária, e a
segunda ganhou mais espaço nessa área.
Inicialmente, a antropologia cultural compreendia o ser humano a partir
de duas estruturas, a biológica e a cultural, depois, a partir do pressuposto
de que a cultura é mais determinante do que a estrutura biológica. Se, em
um primeiro momento, os estudos antropológicos partiram de uma univer-
salidade biológica em que as diferenças entre os povos ocorriam de acordo
com os níveis de desenvolvimento deles, posteriormente, a história cultural
começou a ser mais valorizada. Nesse contexto, para um parecer científico
acerca do ser humano, seria necessário comprovar uma natureza universal
da humanidade.
A partir deste paradoxo, após a Segunda Guerra Mundial, algumas correntes
antropológicas começaram a apresentar novos estudos relacionados à dicotomia
entre natureza e cultura, entre os principais nomes que marcaram a área no
século XX está Claude Lévi-Strauss (1908-2009), considerado o inventor da
corrente estruturalismo. Lévi-Strauss defendia a dicotomia entre natureza e
cultura sob o argumento de que a cultura nunca foi “capaz de afirmar sua
existência e originalidade a não ser cortando todas as passagens adequadas
a demonstrar sua conivência originária comas outras manifestações da vida”
(LÉVI-STRAUSS, 1982, p. 26).
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Na obra de Lévi-Strauss, o dualismo é a própria possibilidade de ressigni-


ficação dessa estrutura, sendo a vida regida por dois determinismos: o mental
e o do meio — o primeiro cuida das necessidades do espírito, e o segundo
coage. Portanto, esses determinismos assumem peso igual na constituição
do ser humano, já a cultura começa a ser pensada como uma constante em
relação à natureza, que ora a substitui e ora a utiliza. O determinismo mental
(da cultura) trabalha as estruturas relativas às informações que recebe; e o
determinismo do meio (da natureza) abastece simbolicamente o pensamento,
ambos trabalham em correlação.
Houve muitos críticos à obra de Lévi-Strauss, entre eles, se ressaltaram
Philippe Descola e Bruno Latour. Descola foi orientando de Lévi-Strauss
no doutorado, e sua tese apresentou algumas críticas à teoria dualista lévi-
-straussiana. Ele ainda defendeu que o dualismo natureza e cultura é um
paradigma que foi aprofundado especificamente na modernidade ocidental
e, na tese La nature domestique, realizou um estudo etnográfico sobre os
povos ameríndios da Amazônia, sobretudo os Achuar. Nesse estudo, Descola
argumentou que essa dicotomia não existe na cosmologia ameríndia, na qual
a natureza é participante ativa na cultura deles, por isso, o domínio natural e
o cultural se completam.
Portanto, a crítica de Descola a Lévi-Strauss envolve o argumento de que,
na teoria deste, a natureza não incide na atividade simbólica: “incidência dos
fatores ecológicos sobre todos esses aspectos da vida social que não podem ser
considerados produtos da atividade simbólica” (DESCOLA, 2011, p. 38). Isso
decorre também de Lévi-Strauss reconhecer certa primazia e superioridade
das produções mental e cultural sobre a natural.
Já Latour (1994) argumenta no mesmo sentido que Descola, porque, para
ele, a oposição entre natureza e cultura decorre da fenda que foi aprofun-
dada na modernidade. Em sua obra, “Jamais fomos modernos”, ele afirmou
que, com as invenções modernas e a contribuição filosófica, começou-se a
distinguir entre o que é humano e o que não é. Assim, a máquina purifica-
dora moderna criou um abismo entre o que seria humano e tudo o que não
era, como objetos, natureza, entre outras “coisas”. Tal dicotomia somente
é superada pela resistência dos híbridos, um conceito que designa aquele/
aquilo que transita entre os dois domínios (natural e cultural), que foram
separados pela modernidade.
A crítica de Latour cabe à antropologia na medida em que esta foi in-
ventada pelos modernos, na tentativa de compreender os que não eram
considerados modernos. Portanto, ao focar nas culturas, a antropologia
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aprofundou ainda mais a cisão dicotômica, porque seus estudos não tratam
da natureza, mas, sim, da cultura, corroborando com a cisão entre extremos.
Latour propôs uma antropologia que se dedicasse ao centro, aos híbridos
de natureza e cultura. Nesse contexto, há também a crítica à modernidade
filosófica. Latour acusou a ontologia moderna de acirrar essa cisão, apre-
sentando três estratégias:

„„ A separação entre a política dos seres humanos e a da natureza, como


é ilustrada com a invenção da ciência política pelo filósofo Thomas
Hobbes e da ciência política da natureza, instituída por Boyle — a
criação de laboratórios.
„„ A filosofia kantiana ao estabelecer a primazia da razão sobre a natureza
e o mundo. Assim, o sujeito basta em sua racionalidade, o que causa
um distanciamento entre ele e a natureza.
„„ A limitação do sujeito ao discurso, como foi aprofundada no século
XX. O ser humano é o sujeito do discurso, portanto, para compreender
categorias como natureza, cultura, sociedade e ser, deve separá-los.

Segundo Latour, há apenas natureza-culturas, portanto, a antropologia


não consegue se debruçar sobre a cultura para superar a dicotomia natureza
e cultura, pois esta é uma invenção devido ao afastamento do ser humano em
relação à natureza na modernidade, assim como a noção de natureza universal.
Protagonizado, em grande parte, pelo pensamento do antropólogo Eduardo
Viveiros de Castro, o perspectivismo ameríndio aborda a relação entre natureza
e cultura a partir dos povos ameríndios, na contemporaneidade. De acordo com
Viveiros de Castro (1996), trata-se de uma inversão na forma de pensar essa
relação, se para os ocidentais a noção de natureza sempre foi compreendida a
partir da universalidade e a cultura como a particularidade de cada povo; para
os povos ameríndios, a cultura é universal e a natureza particular.
Assim, para os ameríndios, o que distingue os corpos é a natureza, sendo
a cultura universal, pois engloba tudo que existe — os corpos são o que
singularizam. Isso, segundo Eduardo Viveiros de Castro, demonstra que a
relação entre natureza e cultura, a partir do perspectivismo, ocorre por meio
de um multiculturalismo e um multinaturalismo de forma igualitária, sem que
haja a valorização de um ponto ou de outro, somente a perspectiva. Portanto,
a animalidade não é considerada inferior à humanidade em detrimento da
ausência de cultura, mas, sim, a ressignificação desta como um outro modo
de vida, de uma outra simbologia.
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Você conhece a história do antropólogo Claude Lévi-Strauss? Lévi-Strauss nasceu


em Bruxelas, capital da Bélgica, no ano de 1908 e faleceu em Paris, em 2009. Ele foi
considerado o fundador da antropologia estruturalista e um dos maiores intelectuais
do século XX, inaugurando uma nova forma de pensar nos povos ameríndios, porque,
no contexto em que viveu, o pensamento sobre os indígenas era muito preconceituoso
e colonialista. Nesse sentido, seus estudos confrontaram, especialmente na França, a
consciência imperialista. Ele também foi professor de antropologia no College de France
e membro da Academia Francesa. Seus trabalhos centrais são “Tristes trópicos”, “As
estruturas elementares do parentesco” e a tetralogia intitulada “Mitológicas”.

Conceito de sociedade contra o Estado,


proposto por Norbert Elias
Em grande parte de sua obra, o sociólogo alemão Norbert Elias problematizou
os limites entre as áreas do conhecimento em sua diversidade para entender os
processos sociológicos pelos quais as estruturas sociais se formam. Entretanto,
isso não significa que a problematização consistia em conceber tais estruturas
como estáticas, mas, sim, o funcionamento e o desenvolvimento constante
dos processos das instituições sociais: o histórico, o biológico, o educacional
e o psicológico.
Já na obra “A sociedade de Corte: Investigação sobre a sociologia da realeza
e da aristocracia de corte”, Elias trata das relações entre a corte e os sujeitos
à corte. Nesse sentido, a teoria eliasiana demonstra como era configurada a
sociedade francesa entre as regências de Francisco I e Luís XIV, de que forma
a sociedade se organizava e era organizada. Ressalta-se também a formação
social e a função social do rei em relação à psicologia exercida por meio do
controle dos sujeitos; à educação, na medida em que a corte determinava as
formas de vida e o comportamento; aos hábitos; entre outros aspectos.
A teoria de Elias propõe o conceito de configuração para compreender os
processos formadores do tecido social. Nesse sentido, a sociologia proposta
por ele é classificada como sociologia configuracional, que tem como base
de estudo a configuração dinâmica que liga os indivíduos. Portanto, não se
trata mais de entender a sociedade e o indivíduo como centros isolados, mas,
sim, mediante uma relação formativa desses sujeitos. Elias defende que, para
a sociologia entender determinado processo ou estrutura social, é necessário
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que se compreenda os estratos sociais em suas diferenças de relação e como


esta se configura no campo social.
Assim, além da sociologia e do processo histórico, Elias propõe que seja
abordada a psicanálise para que se estabeleça a compreensão dinâmica ne-
cessária à “contínua circulação de impulsos entre umas e outras [...] desde o
princípio toda a configuração do campo social, que é mais ou menos diferen-
ciado e carregado de tensões” (ELIAS, 1993, p. 239). Para ele, a sociedade
entendida por meio do conceito de configuração a transforma em um fenômeno
de intersecção constante com o indivíduo, de modo que os limites instituídos
entre sociedade e sujeito, social e psíquico, público e privado, sejam suspensos
e compreendidos a partir de um constante fluxo relacional.
Elias compreende a sociedade e o sujeito como diferenciáveis, mas que a
estrutura da sociedade participa do indivíduo, assim como este participa da
estrutura social. Em “A Sociedade de corte”, ele propõe que os processos de
formação e configuração social sejam problematizados a partir da sociogênese
(o estudo sobre a formação das configurações) e psicogênese (o estudo sobre
estruturas e comportamentos sociais). Assim, teoriza uma sociologia que rompe
com a compreensão do indivíduo separado de tudo que é não humano, uma
vez que sua relação com o mundo segue a mesma lógica que a relação entre
sujeito e sociedade, sendo interseccional. Sua teoria rompe com os paradigmas
sociológicos que isolam o indivíduo do que não é ele e defendem que a relação
entre humano e não humano tem como base a racionalidade e a reflexão.
A proposta eliasiana defende que o indivíduo e as coisas que participam de
seu mundo, e de sua cultura, estão na mesma estrutura simbólica que forma as
estruturas sociais. Portanto, a formação social está atrelada à educação, sendo
que, no processo educacional, os indivíduos se diferenciam pelas estruturas
sociais que ocupam. Por exemplo, por meio da educação, que começa na
infância, o sujeito participa da construção de hábitos e comportamentos, da
construção simbólica social e de seus trejeitos corporais. Assim, as distinções
sociais ocorrem por meio de um conjunto de elementos que diferenciam os
indivíduos. Segundo Elias, isso também funciona como uma forma de controle
do Estado sobre esses sujeitos.
Por exemplo, segundo Elias, o processo civilizatório de uma criança opera
no sentido de regulamentação. Assim, na corte francesa, a educação de um
nobre se voltava a uma série de regras comportamentais, como etiqueta,
formação do caráter virtuoso e hábitos, distinguindo quem participava de
cada estrutura. Com isso, ele tentava entender como que as relações de força
entre burguesia e aristocracia submeteram a sociedade ao controle do Estado
quanto aos corpos e à psique.
8 A atualidade da antropologia e os desafios contemporâneos

Uma vez que o controle ocorre por meio do Estado, o próprio rei deve se
submeter a ele. Elias argumenta que, em relação à aristocracia que compunha
a corte francesa, por exemplo, a educação estava voltada à autorrepresentação
da superioridade desses nobres perante os outros grupos sociais, inclusive, os
burgueses. Assim, na sociedade de corte, a educação da psique e dos corpos
era o que garantia a distinção dos nobres entre si, pois existiam níveis de
educação destinados a cada um de acordo com seu título e a hierarquia na
corte. Nesse contexto, Luís XIV foi o rei que simbolizou ao máximo essa
educação, estabelecendo as regras de etiqueta e moda como poder regulador
e dominador, principalmente da corte.
Para Elias, Neiburg e Waizbort (2006), a configuração social acontecia
pela relação educacional estabelecida em sua função simbólica, tanto cultural
como social, uma vez que essas categorias estão totalmente ligadas. Isso
significa que não existe o indivíduo desassujeitado, que não esteja submetido
e submerso em uma subjetivação. Esse processo está atrelado aos símbolos
culturais, ao compartilhamento de uma língua e a um modo de vida. O papel
de cada sujeito é estabelecido pela origem de nascimento, tanto geografica-
mente como socialmente: “[a]té sua liberdade de escolha entre as funções
preexistentes é bastante limitada. Depende largamente do ponto em que ele
nasce e cresce nessa teia humana, das funções e da situação de seus pais e, em
consonância com isso, da escolarização que recebe” (ELIAS, 1994, p. 21). Pelo
determinismo social e cultural a priori, pode-se dizer que tal configuração
limita, inclusive, a possibilidade de relações na tessitura social, de modo que
ela funciona como um mapa social do micro para o macro.
Elias ainda propõe uma reflexão sobre dois conceitos: função e poder.
A função deve ser pensada a partir do jogo de xadrez, no qual o movi-
mento de cada peça implica no movimento das outras. Isso também ocorre
com as funções dentro de uma sociedade, em que as ações dos indivíduos
acontecem em caráter relacional entre eles, de modo que não existe função
sem relação, pois toda função implica em algo/alguém, havendo produções
simbólicas sociais.
Nesse sentido, existem as relações de poder, pois se toda função exige
uma relação, o poder se instaura nesta, portanto, quem tem maior poder
sobre o outro domina. Assim, o poder possui um caráter relacional e diversas
formas de ação, não ficando restrito apenas à dominação e fundamentando
as estruturas sociais. Por exemplo, em uma relação de trabalho, pode-se dizer
que quem domina é o patrão, pois ele tem os meios de produção, por outro
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lado, quem manda é o empregado, pois para continuar sendo chefe, precisa
que o outro trabalhe para ele.
Na sociedade, não existem indivíduos que não estejam submetidos ao con-
trole do Estado, inclusive quem o compõe. Segundo Elias, o poder é estrutural
e o que forma a sociedade, a qual vive em constante processo civilizador. Pela
compreensão dupla em relação à formação da sociedade — o indivíduo não
existe sem ela, nem ela sem o sujeito, Elias defende que todas as entidades se
estabelecem por meio da relação e submissão ao controle.
Portanto, o Estado se legitima por meio da coação da sociedade, na qual
os indivíduos vivem, submetidos às regras estatais, por exemplo, quando o
Estado decide declarar guerra, quem deve servir ao exército, torna o voto
obrigatório, intervém na educação de crianças e adolescentes, etc. Com isso,
Elias demonstra que “[s]omos levados a acreditar que o nosso ‘eu’ existe de
certo modo ‘dentro’ de nós; e que há uma barreira invisível separando aquilo
que está ‘dentro’ daquilo que está ‘fora’ – o chamado ‘mundo exterior’” (ELIAS,
2008, p. 129), que as pessoas somente existem por meio da sociedade, a qual
apenas existe devido ao Estado.

Processos de urbanização e seus impactos


sociais sob o olhar da antropologia urbana
Geralmente, a figura do antropólogo é associada a alguém que se dedica aos
estudos etnográficos de culturas que não participam das sociedades ocidentais,
em uma relação de proximidade, como os povos primitivos e nativos de regiões
mais distanciadas. Apesar de, em seus primórdios, a antropologia clássica
ter abordado mais esses estudos, a mais contemporânea se voltou também
ao estudo sobre o processo de urbanização e a vida urbana dos indivíduos.
Nesse contexto, a vida na cidade parece ser de mais fácil acesso para o estudo
antropológico, cuja inauguração aconteceu, em grande medida, a partir dos
estudos sociológicos feitos pela Escola de Chicago, na primeira metade do
século XX. O grupo de etnógrafos se dedicou a empreender os métodos de
observação sobre os povos indígenas norte-americanos, em relação às suas
práticas sociais, aos seus costumes e modos de vida nas cidades de Chicago,
formando a antropologia urbana.
Não existe apenas um fator que levou ao surgimento de uma nova área de
estudos da antropologia (sobre a vida na cidade) e ao processo de urbanização,
10 A atualidade da antropologia e os desafios contemporâneos

porque muitas mudanças ocorreram no contexto social no século XX, desde


as alterações geográficas e econômicas resultantes das guerras aos processos
de migração de cada região, de acordo com situações múltiplas. Por exemplo,
no Brasil, houve o surgimento das favelas devido à exclusão social de pessoas
negras (após a abolição da escravidão), desajustadas e pobres, em busca de
melhores condições de vida e trabalho. Entretanto, o que se pode afirmar é
que o processo de urbanização gerou muitos impactos tanto para os que já
habitavam nas cidades como para os que migraram.
Portanto, problemas sociais relacionados à marginalidade, pobreza e discri-
minação étnica começaram a atingir grandes proporções e se tornaram objeto
de estudo antropológico. Isso também foi um desafio, pois o estudo nos grandes
centros precisava de adaptações e reformulações dos métodos utilizados até
então pela antropologia clássica. Desse modo, desde os anos de 1960, diversos
antropólogos desenvolveram métodos antropológicos e epistemológicos que
atendessem a esse novo cenário de pesquisa.
Assim, a antropologia urbana começou a tentar compreender o processo
de urbanização a partir de três vertentes: urbanização, urbano e pobreza
urbana. Entre muitas dificuldades, uma de grande relevância foi a produção
etnográfica, devido ao tamanho das cidades, tornando-se um problema avaliar
as partes e o todo, bem como um problema teórico e de metodologia, pois os
processos de análise etnográfica ocorriam em outro contexto. Nesse sentido,
uma vez que este estudo ficou caro, o método etnográfico se reformulou
para buscar uma articulação entre os seguimentos e planos para a unidade de
determinada cidade.
A antropologia urbana se debruçou sobre vários seguimentos e aspectos
da vida urbana, surgindo, neste contexto, diferentes métodos etnográficos.
Contudo, mesmo com diferentes métodos e a complexidade do processo de
urbanização de cada cidade, em geral, tal ramo de estudo tentou compreender
a experiência de vida urbana. Portanto, é objeto de estudo a diversidade
étnica e cultural dos sujeitos que habitam e visitam esses locais, como
turistas, moradores fixos ou não, imigrantes, minorias, etc. Isso também
serve para a diversidade de gênero, de sexualidade, as necessidades ou
determinações físicas e biológicas, por exemplo, número de pessoas com
doenças psíquicas, necessidades especiais, entre outras. Estuda-se ainda
diferenças políticas, religiosas, ideológicas, educacionais, comportamentais,
todos os modos de vida que determinado local possui e qual sua relação
com a cidade.
A atualidade da antropologia e os desafios contemporâneos 11

Portanto, o estudo etnográfico da antropologia urbana parte de um duplo


em relação a cada contexto: a perspectiva de quem foi estudado, independente-
mente de qual aspecto, e a perspectiva do antropólogo que realizou esse estudo.
Segundo Augé (1994, p. 51), emprega-se o lugar antropológico, que é o sentido
simultâneo de quem observa e daquele que está sendo observado. Trata-se
do ponto de vista do observado, que se comunica para ser entendido, e cabe
ao antropólogo reconhecer, entre as alternativas, a escolha dele por aquilo ou
tal caminho, chegando a uma unidade de análise ou etnográfica, a qual tenta
compreender um fenômeno devido ao seu alcance social inteligível. Mediante
esse processo, torna-se possível entender os impactos sociais da urbanização
das cidades, por uma proximidade e um distanciamento.
Nesse sentido, a antropologia demonstra a importância em compreender
a organização social e os modos de vida na cidade, uma vez que enfatiza a
relevância dos registros múltiplos dos agentes sociais. Assim, a antropologia
urbana dignifica os atores sociais em todas as relações que estabelecem com
uma cidade, como sua função, seu trajeto, suas dificuldades e sua existência.
A identidade de diversas existências é significada a partir de um estudo mais
aprofundado e de perspectiva dos atores que compõem essa sociedade.
Conclui-se que esta importante área da antropologia faz os modos de
vida serem compreendidos de forma mais completa. Por exemplo, como se
poderia entender os problemas de determinado grupo que vive certa situação
sem o estudo etnográfico, ou como se poderia pensar em soluções para os
problemas urbanos sem um estudo aprofundado que considere tanto os seus
impactos para toda a sociedade como o ator social que vive determinada
realidade? Nesse contexto, a antropologia urbana cria a própria condição de
compreensão de si, como ator social, e a possibilidade de agência em relação
às problemáticas urbanas.

No link a seguir, assista à série “Somos 1 só”, em que é apresentado o ponto de vista
de diversos pensadores sobre a relação entre cultura e natureza.

https://qrgo.page.link/PYJvC
12 A atualidade da antropologia e os desafios contemporâneos

AUGÉ, M. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Cam-


pinas: Papirus, 1994. 111 p.
DESCOLA, P. As duas naturezas de Lévi-Strauss. Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro,
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ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. 201 p.
ELIAS, N. Introdução à sociologia. Lisboa: Edições 70, 2008. 204 p. (Biblioteca 70, 16).
ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. 2 v. 572 p.
ELIAS, N.; NEIBURG, F.; WAIZBORT, L. Escritos & ensaios 1: estado, processo, opinião pública.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 238 p.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 213 p.
LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro:
34, 1994. 149 p. (Coleção Trans).
LÉVI-STRAUSS, C. As estruturas elementares do parentesco. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1982.
537 p.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio.
Mana — Estudos de Antropologia Social, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 115–144, out. 1996.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-
-93131996000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 26 set. 2019.

Leituras recomendadas
CASTRO, B. J.; OLIVEIRA, M. A. Para além da dicotomia homem-natureza: a pers-
pectiva não-moderna de Bruno Latour. REMEA — Revista Eletrônica do Mestrado em
Educação Ambiental, Rio Grande, v. 35, n. 2, p. 348–361, maio/ago. 2018. Disponível
em: https://periodicos.furg.br/remea/article/download/8225/5390. Acesso em: 26
set. 2019.
COSTA, A. O. Norbert Elias e a configuração: um conceito interdisciplinar. Configu-
rações — Revista de Sociologia, Braga, v. 19, p. 34–48, 2017. Disponível em: https://
journals.openedition.org/configuracoes/3947. Acesso em: 26 set. 2019.
DESCOLA, P.; SCARSO, D. A ontologia dos outros. Entrevista com Philippe Descola.
Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 28, n. 43, p. 251–276, jan./abr. 2016. Disponível
em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/view/aurora.28.043.EN01.
Acesso em: 26 set. 2019.
A atualidade da antropologia e os desafios contemporâneos 13

ELIAS, N. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia


de corte, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. 312 p.
ELIAS, N. Le concept freudian de société et au-délà. In: ELIAS, N. Au-délà de Freud:
sociologie, psychologie, psychanalyse. Paris: Découverte, 2010. p. 131–186.
MAGNANI, J. G. C. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasi-
leira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 17, n. 49, p. 11–29, 2002. Disponível em: http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092002000200002&script=sci_abstract&tlng=pt.
Acesso em: 26 set. 2019.
Dica do professor
O movimento estruturalista foi uma grande vertente do pensamento no século XX. Essa corrente, à
qual pertenceu o antropólogo Claude Lévi-Strauss, se dedicou a pensar a formação social e a
compreensão da realidade a partir das estruturas que a compõem. Nesse contexto, vários
pensadores contribuíram com essa corrente dedicando suas obras, em distintas áreas, para pensar a
estruturação simbólica da realidade. Foi o que se deu também com a obra do francês Jacques
Derrida.

Derrida pertenceu à corrente pós-estruturalista. Tal corrente, ao mesmo tempo, deu continuidade
ao pensamento estruturalista e rompeu com parte desse pensamento. A obra de Derrida
problematiza as estruturas que significam a realidade a partir da produção simbólica que se dá
primeiramente pela linguagem.

Nesta Dica do Professor, você compreenderá as noções de suplementaridade, iterabilidade e


historicidade a partir da produção simbólico-linguística que significa a realidade.

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Na prática
A relação entre as migrações rurais para as grandes cidades constitui, em grande parte, a história do
Brasil. Ou seja, o fenômeno conhecido como êxodo rural acontece desde o processo de
colonização. Assim, cabe dizer que a antropologia urbana vem justamente estudar a tessitura social
dos modos de vida nas cidades a partir dos fenômenos que a compõem.

Neste item, você entenderá a relação entre êxodo rural e história.


Ademais, entenderá a antropologia como dignificação e a relação de identidade dos atores sociais.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

A negação da obra: Derrida leitor de Artaud


Veja, neste artigo, a compreensão pós-estruturalista de Jacques Derrida.

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A visão etnográfica de Bruno Latour da ciência moderna e a


antropologia simétrica
Este artigo apresenta ideias de Bruno Latour sobre a natureza da ciência a partir de sua imersão em
um laboratório científico.

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O projeto ético de Donna Haraway: alguns efeitos para a


pesquisa em psicologia social
Conheça o que os autores deste artigo consideram ser o projeto ético de Donna Haraway.

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A pílula anticoncepcional enquanto técnica farmacopolítica
A obra de Paul B. Preciado tem mostrado, dentro dos estudos sobre biopolítica, antropologia e
estudo de gênero, uma outra abordagem em relação à ciência e à estruturação de simbólico na
sociedade. Compreenda, assistindo a este vídeo, qual a relação entre a farmacopolítica e a pílula
anticoncepcional.

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