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indígenas
Apresentação
A questão dos povos indígenas tem sido muito discutida na atualidade. É muito comum, por
exemplo, assistir a queimadas, agressões e, por vezes, assassinatos contra esses povos. Muitas
pessoas também não entendem o modo de vida ou a realidade deles. De um lado, existe o aspecto
material das condições de vida que são proporcionadas a esses povos em regiões demarcadas. De
outro lado, tem-se a incompreensão cultural do modo como eles se relacionam com a realidade e o
mundo.
De fato, a história do Brasil vem acompanhada da história do massacre indígena, seja ele físico ou
cultural. Desse modo, há duas versões
sobre a construção do nosso País, e o lado mais explorado, massacrado, foi o dos indígenas,
juntamente com os escravos negros e os povos quilombolas.
Bons estudos.
• Analisar a demarcação das terras indígenas como pilar existencial desses povos.
Desafio
O conflito entre a sociedade e os povos indígenas constitui toda a história do Brasil desde a
chegada dos portugueses. Assim, os povos ameríndios nunca receberam um tratamento digno, e
muitos, na atualidade, ainda não recebem. Apesar da importante conquista constitucional de 1988,
as terras demarcadas são tratadas por parte do Estado de forma hostil, e os indígenas nem sempre
são tratados de acordo com o que consta na Constituição. Ou seja, além de terem difícil acesso a
serviços básicos, os indígenas ainda são hostilizados.
b) Explique como os profissionais da área da saúde devem proceder em relação a essa comunidade
indígena de modo a preservar e a respeitar seu modo tradicional de vida.
Infográfico
O Brasil é um país com uma extensão territorial enorme, e boa parcela desse território abriga parte
da floresta amazônica. Desse modo, a habitação dos povos ameríndios se dá em meio à natureza,
isto é, em grande parte da floresta amazônica. Atualmente, cerca de 450 territórios são demarcados
como terras indígenas.
Neste Infográfico, você verá quais são as principais demarcações de terras e quais povos habitam
essas regiões.
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Conteúdo do livro
Pensar a realidade dos povos indígenas é, antes de tudo, partir do pressuposto de que esses povos
interagem com a realidade a partir de outro registro simbólico. Isso quer dizer que, enquanto para a
sociedade ocidentalizada a realidade, a natureza e o mundo são pensados por um sistema/registro
que tem como base a ciência, a matemática, a filosofia, entre outras formas de conhecimento, a
compreensão indígena sobre o mundo está amparada em uma cosmovisão. Ou seja, para os povos
indígenas, a natureza está ligada aos seres de modo espiritual. Portanto, preservar a natureza é
preservar entidades, espíritos, uma forma de subsistência física e cultural.
No capítulo Direitos étnico-culturais dos povos indígenas, da obra Antropologia social, você
compreenderá o processo de colonização portuguesa do Brasil a partir dos direitos indígenas. Verá
como uma compreensão cosmopolítica se faz necessária em relação aos territórios demarcados e,
por fim, entenderá como as terras demarcadas possibilitam a existência dos indígenas.
Boa leitura.
ANTROPOLOGIA
SOCIAL
Introdução
Os indígenas são considerados os povos originários do Brasil, mas esse
fato somente foi reconhecido jurídica e culturalmente com a Constituição
Federal de 1988. Anteriormente a esse período, eles tinham seus direitos
inexistentes ou tutelados por órgãos governamentais. Todas as conquistas
ocorridas colocam a questão indígena em um paradoxo: direitos foram
reconhecidos desde o processo de redemocratização do país, porém,
para além da lei, o reconhecimento por parte da sociedade continua
sendo dificultoso. A população ainda tenta compreender o modo de vida
indígena a partir de um ideal com resquícios colonizadores, integrando-
-o a um modelo que não é próprio a esses povos, pois não entende a
cosmovisão indígena do mundo.
Neste capítulo, você estudará os efeitos da Guerra da Conquista
(processo de colonização do Brasil pelos portugueses), a batalha cultu-
ral em que vivem os indígenas até a atualidade; os caminhos que eles
percorreram até terem seus direitos reconhecidos; o que fundamenta a
cosmopolítica, de que forma o território e a floresta se atrelam à cultura
ameríndia; e como a demarcação de terras possibilita o modo de exis-
tência desses povos.
2 Direitos étnico-culturais dos povos indígenas
reserva, deveriam ter uma justificativa e ser autorizados pela Funai. Em 1980,
o Brasil vivia um período de redemocratização, e os indígenas se colocaram
como força atuante e uma voz a ser ouvida. Assim, as lideranças indígenas
conseguiram incluir na Constituição um capítulo intitulado “Dos índios”, com
dois artigos. O primeiro artigo reconhece seu modo de vida e responsabiliza
a União por demarcar e defender seus territórios e bens. Já o segundo reco-
nhece a autonomia dos povos indígenas e suas organizações em seus direitos
e interesses, o direito de defesa diante do Ministério Público. Isso foi um
grande marco para essas lideranças, pois garantia aos povos falarem por si,
de seus direitos de defesa e agência por meio de organizações, o que rompe
com a visão integralista e de tutela deles, ao menos em relação à Constituição
de 1988 e à Carta Magna.
Desde 1988, a inserção desse capítulo na Constituição se tornou um impor-
tante dispositivo constitucional para a luta indigenista por romper, acima de
tudo, com a lógica de dominação desses povos. A partir desse momento, eles
começaram a ser vistos legalmente como diferentes, mas essa diferença não
é compreendida como incapacidade. Já a concepção de tutela foi substituída
pela ideia de proteção, assim, órgãos como a Funai têm o papel de proteger
esses povos. Em 2008, o Brasil adotou a declaração da ONU que reconhece o
direito dos indígenas à autodeterminação em relação à condição política e ao
desenvolvimento econômico; o direito à autonomia quanto à sua organização
interna; o direito à conservação de suas instituições políticas, jurídicas, cultu-
rais e sociais; o direito, caso queiram, de participar da vida social, em ampla
esfera, da sociedade nacional e do Estado; e repudia a remoção desses povos de
seus territórios sem acordo prévio, passivo de indenização (ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS, 2008).
Apesar dessas importantes mudanças jurídicas, a realidade dos povos
indígenas continua muito difícil. No sentido cultural, a visão colonialista
por parte da sociedade brasileira ainda não compreende o modo de vida
indígena e o rechaça. Assim, muitos indígenas enfrentam dificuldades quanto
a pertencer a um mundo, uma vez que vivem, muitas vezes, isolados e não
conseguem se adequar ao estilo de vida do Estado. Já os que decidem viver
de modo afirmativo culturalmente e posicionados em relação às reservas
e demarcações são constantemente atacados, geralmente por garimpeiros,
fazendeiros e outros grupos que não respeitam os territórios e tentam explorar
essas áreas.
Na Figura 1, você pode ver uma das marchas em prol dos direitos indígenas.
6 Direitos étnico-culturais dos povos indígenas
Assista, no link a seguir, à defesa feita por Ailton Krenak (importante líder indígena)
da emenda popular da UNI.
https://qrgo.page.link/wUbPd
BRASIL. [Constituição (1934)]. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. 31.
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Direitos étnico-culturais dos povos indígenas 13
Leituras recomendadas
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g=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 16 set. 2019.
Dica do professor
A cosmovisão indígena ainda é um mistério para os não indígenas. De fato, o modo de significar o
mundo pelos povos ameríndios é outro. Ou seja, a compreensão cultural é atrelada à relação com a
natureza. Portanto, não há cultura indígena sem uma relação fundamental com o mundo. Davi
Kopenawa (líder Yanomami e xamã) e o antropólogo francês Albert Bruce publicaram uma
importante obra, a qual retrata a cosmovisão indígena. Assim, além de explicar o modo como se
relacionam com a natureza, os autores narram como esses povos compreendem o modo de vida
não indígena e como este é nocivo ao mundo.
Nesta Dica do Professor, você entenderá no que consiste o livro A queda do céu e de que modo ele
apresenta a cosmovisão dos povos Yanomami por meio do relato de Kopenawa.
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Na prática
Muitas pessoas questionam, ainda hoje, a finalidade da demarcação
de terras indígenas. Ou seja, a conscientização da importância da preservação desses territórios
ainda é escassa. Para além da importância para o modo de vida dos povos ameríndios, a
demarcação das terras contribui consideravelmente para o equilíbrio ecológico.
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