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COMUNIDADES TRADICIONAIS: DEFINIÇÕES E PERSPECTIVAS

O conceito de comunidades tradicionais é um tema muito


discutido na Antropologia e na Lei. Neste texto você terá
acesso à ambas perspectivas.
O conceito de comunidades tradicionais é objeto de estudo
tanto da antropologia quanto do direito. De acordo com a
antropologia, as comunidades tradicionais são grupos sociais
que mantêm suas formas de organização, crenças e práticas
culturais há gerações. Já o direito brasileiro reconhece as
comunidades tradicionais como aquelas que, por meio de
relações sociais e econômicas, desenvolvem modos de vida e cultura próprios, como quilombolas,
povos indígenas, extrativistas, ribeirinhos, entre outros.
Segundo a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, as comunidades tradicionais são formadas
por grupos que compartilham de um mesmo modo de vida e têm uma relação especial com o meio
ambiente. Elas são baseadas em sistemas sociais e econômicos que se adaptaram ao longo do
tempo às condições ambientais e históricas do local em que vivem. Esses grupos têm uma história
e uma cultura próprias, que são transmitidas de geração em geração.
Já para o direito, a Constituição Federal de 1988 reconhece a existência das comunidades
tradicionais e garante a elas o direito à terra e ao território, como forma de preservar suas formas
de vida e cultura. Além disso, o Decreto Federal nº 6.040/2007 estabelece a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, com o objetivo de garantir
seus direitos e a proteção de suas formas de vida e cultura.
Porém, mesmo com o reconhecimento legal, as comunidades tradicionais ainda enfrentam muitos
desafios, como a violência, a perda de territórios, a falta de acesso a serviços básicos e a
desigualdade social. O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro destaca que as comunidades
tradicionais enfrentam uma disputa constante com os valores da sociedade capitalista, que muitas
vezes não valoriza seus modos de vida e cultura.
É importante ressaltar que a valorização das comunidades tradicionais não se trata apenas de uma
questão cultural, mas também de uma questão de justiça social e ambiental. Como destaca o
antropólogo Philippe Descola, as comunidades tradicionais são capazes de conviver de forma
sustentável com o meio ambiente e têm muito a ensinar sobre práticas ecológicas. Além disso, a
proteção das comunidades tradicionais contribui para a preservação da diversidade cultural e da
biodiversidade, fundamentais para a manutenção da vida no planeta.
Portanto, é fundamental que a antropologia e o direito trabalhem em conjunto para garantir a
proteção das comunidades tradicionais e o reconhecimento de seus direitos. É necessário que
sejam implementadas políticas públicas que promovam a valorização e a proteção desses grupos,
garantindo a preservação de suas formas de vida e cultura.
Dessa forma, a noção de comunidades tradicionais é um conceito que apresenta diversas
dimensões e pode ser entendido de diferentes formas. A antropologia, por exemplo, o entende a
partir de uma perspectiva cultural e histórica, enquanto o direito o reconhece a partir de uma
dimensão jurídica e política.
De qualquer forma, é importante destacar que o reconhecimento das comunidades tradicionais e
sua proteção legal são fundamentais para garantir a diversidade cultural e a preservação do meio
ambiente. A partir da compreensão do conceito e de sua importância, é possível desenvolver
políticas públicas que atendam às necessidades específicas dessas comunidades e promovam sua
participação e representatividade na sociedade.
Tipos

Existem vários tipos de comunidades tradicionais, e cada uma delas tem características específicas.
Aqui estão algumas delas:
1. Comunidades quilombolas: são comunidades formadas por descendentes de escravos que fugiram
das plantações durante o período colonial e se estabeleceram em terras próprias. Hoje, são
reconhecidas pelo governo brasileiro como comunidades remanescentes de quilombos.
2. Comunidades indígenas: são grupos que habitam o território brasileiro há milhares de anos e têm
suas próprias línguas, culturas e tradições. Os indígenas são reconhecidos como povos originários e
têm direito à demarcação de suas terras e à preservação de sua cultura.
3. Comunidades de fundo e fecho de pasto: são comunidades formadas por camponeses que
desenvolvem uma forma de agropecuária em terras coletivas. Essas comunidades se organizam
em torno de práticas agrícolas comuns, como a criação de animais e o cultivo de lavouras.
4. Comunidades de pescadores artesanais: são comunidades que vivem da pesca em pequena escala
e que têm suas próprias técnicas de pesca e tradições culturais relacionadas ao mar. Essas
comunidades enfrentam muitos desafios, como a pesca predatória e a degradação ambiental.
5. Comunidades de faxinais: são comunidades formadas por famílias que vivem da agricultura em
terras comuns. Essas comunidades mantêm tradições culturais próprias e dependem da
agricultura para sua subsistência.
Essas são apenas algumas das comunidades tradicionais que existem no Brasil. Cada uma delas
tem sua própria história, cultura e modo de vida, e todas elas enfrentam desafios em relação
à preservação de suas tradições e à garantia de seus direitos.
Referências:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
CUNHA, Manuela Carneiro da. “Os direitos dos povos e a diversidade cultural”. In: Cultura com aspas. São Paulo: Cosac Naify,
2009.
D’ALVA, M. C. O. Comunidades tradicionais: identidades e territorialidades em construção. Brasília: MMA, 2010.
DESCOLA, Philippe. “Ecologia e cosmologia”. In: Natureza e sociedade. São Paulo: Companhia das Letras,
DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec, 1996.
MOURA, M. C. Comunidades tradicionais: uma visão interdisciplinar. In: SANTOS, B. S.; MENESES, M. P. (Org.). Epistemologias do
Sul. Coimbra: Almedina, 2009. p. 137-156.
SANTILLI, J. Povos tradicionais e a Convenção 169 da OIT. In: SANTILLI, J.; BARBIERI, E. (Org.). Povos tradicionais e justiça. São
Paulo: Peirópolis, 2010. p. 47-71.

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