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SEBENTA HISTÓRIA
DE
LUANDA/2022
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NOTA PRÉVIA
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Assim sendo, a recolha de textos em causa, baseiam-se no
programa lectivo da disciplina que comportam vários capítulos e
subcapítulos.
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INDICE
Conceito de Cultura
Arte Rupestre
Cultura Angolense
Geração da Luz
O Teatro
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ORIGEM DA PALAVRA CULTURA
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A cultura é algo que transcende o ser humano, porque nenhum
indivíduo pode viver todos os elementos de uma determinada
cultura.
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arco, flechas, vasos, talheres, alimentos, habitações e outros
materiais.
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Por outro lado, o feminismo também pode ser apresentado
como o discurso de busca de igualdade entre os sexos. Todavia,
se queremos definir o feminismo como movimento de massas, é
um fenómeno bastante contemporâneo, que pode ser datado
em torno das décadas de 1960-1970, no mundo ocidental.
Cada vez mais esses grupos foram percebendo que suas vidas
estavam carregadas de estigmas preconceitos, bem como que
seus objectivos políticos nem sempre se confundiam com os
objectivos do operariado, então considerado a classe social que
seria a vanguarda de uma nova forma de organização social, o
socialismo. Foi nesse contexto que as mulheres começaram a
perceber que o sexo é político, ou seja, que é permeado por
relações de poder e de hierarquia, essa situação (marcada pela
desigualdade continuaria a existir mesmo em um regime no qual
inexistisse a luta de classes. Com o afloramento dessa
consciência a partir dos anos 1960, nos Estados Unidos, surgiu o
movimento feminista que assumiu e criou uma identidade
colectiva de mulheres, bem como, indivíduos do sexo feminino,
possuidoras de interesses compartilhados: o fim da subordinação
aos homens da invisibilidade e da importância, a defesa do
direito de igualdade e do controle sobre seu corpo e sobre sua
vida.
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O principal objectivo das feministas é superar o autoritarismo e a
desigualdade entre os homens e mulheres nas relações pessoais
com a organização política pública.
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também como comportamento social diverso que podemos ver
em várias culturas.
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ou outros grupos enquanto diferentes raças. A abordagem
antropológica e sociológica da questão estabelece que os
diferentes grupos entre humanos são etnias, e apresentam
diferenças fenotípicas, como a cor de pele.
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em cerimónias, danças, sacrifícios e orações. Um mito também
pode ter a função de manifestar alguma coisa de forma forte ou
de explicar os temas desconhecidos e tornar o mundo conhecido
ao homem.
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OS POVOS DE ANGOLA
KOISAN
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À mulher cabem as tarefas domésticas, a recolha de produtos
alimentares, a educação das raparigas e, eventualmente,
acompanhar o homem na caça quando esta não implica grandes
caminhadas. Exímia conhecedora das plantas comestíveis e
medicinais existentes no deserto, ela representa um elemento
fundamental na estrutura do grupo. A mulher tem um
envolvimento afectivo muito prolongado com a criança,
amamentando-a durante um longo período. Os seus haveres
reduzem-se ao mínimo indispensável ao facilmente
transportável, de modo a facilitar a constante mobilidade a que
se vê obrigada, não só pela exiguidade de recursos alimentares,
mas também pelo rigor das condições climáticas em
determinadas épocas do ano, ou por morte de algum elemento
do grupo.
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do homem curandeiro e tornam-se num só. O homem é o
instrumento utilizado pelo espírito ancestral para que se
estabeleça o contacto entre as duas instâncias. Os Nkung têm
critérios únicos de introspecção. A sua educação em relação ao
transcendente é gradual e passa ultimamente pela aceitação
individual de todo um processo que envolve a sua prática.
Acreditam que a possibilidade de viver a transcendência, conduz
a uma vivência superior como o objectivo de elevar o espírito.
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os Khoisan não existem, “foi uma imaginação do colonialismo,
fundindo indevidamente vários grupos para satisfazer os seus
propósitos políticos administrativos”. Mais adiante o autor
assevera que os “os Khoisan trata-se de uma junção forçada de
dois povos, os San e os Khoi-Khoi, sem se ter em conta o facto
mais relevante de classificação étnica, que é a identidade”.
ARTE
(Introdução)
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A arte é o reflexo do ser humano e muitas vezes representa a sua
condição social e essência do ser pensante.
ARTE RUPESTRE
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culturas que exercem grande fascino contemporaneamente, mas
são ainda pouco conhecidas.
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MIGRAÇÕES BANTU
CLASSIFICAÇÃO BANTU
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BAKONGO
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Na organização social tem evidência o Kanda ou clã. Muito ligado
ao terreno agrário sob protecção dos antepassados, aos quais
pertencem. Resta aos vivos o direito de usufruto do mesmo,
apesar de o princípio das terras clânicas apresentar sempre
implicações de vária ordem, como é o regime de concessão sob
orientações do Mfumo a Ntoto (donos ou senhores das terras).
AMBUNDU OU MBUNDU
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O rei Ngola foi um magnata, um dos patriarcas, um caçador
profissional e dono de terras e gente. Assenhorando-se da faixa
entre os rios Dange e Kwanza, ali estabeleceu-se uma monarquia
absoluta. O comércio de escravos via reino do Kongo, com o
governo português era uma das actividades mais rendosas que,
associados à sua bravura e opulência real, o tornaram muito
famoso. Ngola era tão falado em Portugal que, quando as
caravelas se preparavam para viajar de Lisboa para essas
paragens, os portugueses diziam “vamos à Ngola” ou “vamos
para Ngola”.
SAIBA MAIS
NJINGA
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Njinga viveu durante um período em que o tráfico de escravos e
a consolidação do poder dos portugueses na região estavam a
crescer rapidamente.
O IMPÉRIO LUNDA
Descontente com a decisão do seu pai, por este ter entre o trono
a Lueji, Tchinguri juntou-se a Ndumba Watembo, outro dos
irmãos de Lueji, retirou-se do reino e formou os grupos
Imbangala e Lwena do Alto - Zambeze. Tchinguri estendeu o
poder do reino Lunda, tornando-o numa das potências da África
Central. As suas conquistas estenderam-se ao Shaba (Congo), às
bacias do Zambeze (a sul) e do Kasai (a nordeste) e ainda aos rios
Kwangu, Kwanza e Kamweji.
SAIBA MAIS
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OVIMBUNDU
SAIBA MAIS
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São, ao todo, onze grupos: Ovamila, Ovangambwe, Ovankhumbi,
Ovandongwe, Ovahinga, Onkwankwa, Ovahanga Vampwa,
Ovahanda Vatchipungu, Ovatchipungu, Ovatchilenge Humbi e
Ovatchilenge Muso.
São hábeis nas artes e ofícios e têm uma filosofia que lhes
permite combinar a natureza com a sua própria vida. O barro, os
animais, as plantas e as aves confundem-se no dia-a-dia dos
Nyaneka.
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sua autoridade sociopolítica perante os pares é proporcional à
quantidade de gado que possui, e que pode chegar às 1000
cabeças.
HELELO
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visto que muda de residência com frequência em busca de
melhores zonas de pasto.
AMBÓ
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Os Ambó são criadores de gado bovino com predomínio
actividade agro-pecuária e em especial da bovinicultura.
Conservam algumas crenças e tradições ancestrais: são
supersticiosos e acreditam na existência de um espírito supremo,
o Kalunga.
RITUAIS DE INICIAÇÃO
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Por isso, a gravidez é um período carregado de tabus. A mulher
grávida é influente e pode transtornar muitas situações. Rodeia-a
um halo mágico-religioso; é ritualmente impura.
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correia. Às crianças, em lugar dele, atam-lhes um cinturão de
fibras vegetais ou de missanga.
A mulher, até passarem alguns dias, não pode tocar no fogo nem
moer farinha. Lava-se com frequência e faz irrigações que têm,
provavelmente, mais um simbolismo mágico que um fim
higiénico. Os mesmos fazem à criança.
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A mulher fica impura, pelo menos durante 20 dias. Não pode
coabitar com o marido. Os tabus e purificações são quase tão
variados como grupos.
Ritos de Puberdade
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ocupam lugar à parte. É nosso intento explicar o significado dos
ritos de iniciação na puberdade do homem e da mulher bantu.
Não podemos duvidar de que, na mentalidade bantu, o ser
humano nunca aparece acabada. Os diversos ritos de passagem
só são momentos decisivamente modificantes de um período da
vida. O pensamento bantu concebe a iniciação como um
processo nunca consumado na vida humana. O homem pode
penetrar sempre mais no mistério da vida participa e nunca pode
chegar a conhecer, manejar ou dominar por completo as
enormes possibilidades da interacção entre os dois mundos,
muito fecundos em potencialidades. Além disso, o Criador, Deus,
permanece sempre como o «Outro» misterioso. O bantu tem
consciência de que nunca esgotará o mistério da participação
vital, e ainda menos conhecerá ou poderá prever as incessantes
e imprevistas acções do dinamismo vital dependente de tantas
forças diferenciadas.” A iniciação converte-se numa operação de
longa duração, num enfrentamento do homem consigo mesmo
que não cessa senão com a morte; converte-se numa experiência
que se enriquece dia a dia».
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apreciado; carece do estatuto de homem; permanece excluído
da sociedade dos homens. As mulheres rejeitam-no e a sua
condição social equipara-o a um ser estranho à comunidade. Fica
um ser incompleto. Não «passou», por isso não «renasceu». Não
é homem perfeito nem encontra lugar na sociedade por causa da
sua ambiguidade. Não legalizou a virilidade nem está
emancipado.
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estação seca e fria. Iniciam as crianças compreendidas entre os
sete e oito anos e os treze ou catorze.
CIRCUNCISÃO
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da sua virilidade. A circuncisão estaria relacionada com a nova
vida, com o renascimento para uma vida superior mais dinâmica
e poderosa.
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Na realidade, a circuncisão motiva o começo da iniciação. Intenta
é sua óbvia finalidade preparar os homens para as funções
fisiológicas da paternidade, determina a especialidade sexual do
jovem e mantém uma relação directa com o casamento. Como
prelúdio do exercício sexual, a sua finalidade é prática. Tanto a
circuncisão como os ritos de puberdade conseguem que o rapaz
ou a menina fiquem definitivamente aptos, fisiológica e
ritualmente, para o casamento e funções sociais do adulto no
grupo.
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Tembu (sudeste do Cabo), afirma que «a mutilação cirúrgica ou
circuncisão deve ser considerada não só como uma prova de
aptidão para o estado adulto e como uma iniciação a este
estado, mas também como uma forma de sacrifícios».
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rituais de iniciação. A força impulsionadora, porém, é a inveja
primária.
A SEPARAÇÃO
RECLUSÃO E MARGINALIZAÇÃO
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É um tempo à margem do tempo, em que está em gestação o
novo nascimento e a ressurreição. Comportem-se como
«cadáveres».
RESSURREIÇÃO - RENASCIMENTO
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Como rito de passagem à sociedade dos adultos, a iniciação «é
posição de objectivação, mas de auto posição no interior do
ministério que o engloba. Ali o homem adulto está chamado a
construir a sua própria personalidade, por uma tomada de
consciência madura, por uma opção livre, por uma ascese que
prova o homem como força física e força moral, isto é, como
liberdade».
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A partir deste momento, recebem outro nome que corresponde
à sua nova personalidade e que ninguém conhecerá fora dos
seus companheiros. Aprendem uma linguagem convencional,
figurada e esotérica que só os iniciados do grupo falam. Também
as tatuagens, mutilações dentárias e escoriações permanecem
como testemunho da transformação alcançada.
REINTEGRAÇÃO
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SIMBOLISMO EFICAZ DA INICIAÇÃO
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vida primeira (natural) e renascer para uma vida superior, que é
ao mesmo tempo religiosa e cultural».
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O culto à vida, essência da Religião Tradicional, talvez consiga
nestes ritos o seu maior esplendor, simbolismo e realização. A
iniciação na vida sagrada, possuída em plenitude depois dos ritos
de ressurreição-renascimento, incorpora na corrente vital,
fundamenta a vida religiosa individual e comunitária, reactualiza
o ancestralismo fundante e dinâmico, assegura a solidariedade, a
paz e a harmonia, já que os novos membros se alimentam da
ortodoxia tradicional e da seiva pura duma vida nova.
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depois da iniciação, o jovem pode começar as suas aventuras
amorosas.
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iniciado, aquele que reconheceu os mistérios, é aquele que
sabe».
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INICIAÇÃO E A COMUNIDADE
INCONVENIENTES DA INICIAÇÃO
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pode impedir a normal convivência e obstaculizar a unidade
nacional, além de fechar a capacidade de abertura a outros
valores e outros estilos de vida, visto que os próprios do grupo
foram postos como salvadores, sacralizados também pelos
antepassados e pelos ritos religiosos mais solenes.
INICIAÇÃO FEMENINA
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«Descobre-se facilmente um elemento comum: uma experiência
religiosa profunda, que está na base de todos estes ritos. O
“acesso à sacralidade” tal como se revela ao assumir a condição
de mulher, constitui o ponto de mira tanto dos ritos iniciatórios
de puberdade como das sociedades secretas femininas.»
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ontologicamente, recebe o estatuto social, jurídico e religioso de
mulher adulta em e para comunidade.
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Bastantes povos negro-africanos praticam a excisão ou
clitoritomia. Aparece como excepção entre alguns grupos bantu.
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É insultante que alguns etnólogos queiram encontrar
justificações: «a excisão parece jogar um grande papel: é o
momento solene que marca profundamente o psiquismo da
jovem, realiza-se precisamente quando a mãe está ausente. Pela
primeira vez na vida… a jovem se encontra só, libertada da
benevolência materna, e assume sozinha as responsabilidades
duma mulher adulta. Este aspecto do problema explica
vigorosamente, por si só, que a jovem aceite os sofrimentos da
excisão.
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À infibulação, procedida ou não da clitoritomia, sujeitam-se as
mulheres dos países islamizados do nordeste africano, Sudão,
Etiópia, Somália, Eritreia, Djibuti, Chade. Quase exclusiva dos
muçulmanos, parece que esta prática não se conhece na área
bantu.
SAIBA MAIS
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votou de forma unânime pela intensificação dos esforços pela
sua abolição.
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do matrimónio resulta sempre um motivo de surpresa para o
africano».
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grupo que os cedeu. Além disso, são responsáveis por que dois
grupos se consolidem, intercomuniquem ou inaugurem amizade.
72
Este casamento contém um simbolismo carregado de eficácia:
«Significa e realiza a perenidade e expansão da vida de toda a
família… e é um laço que introduz uma família em outra».
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que prolonga e vivifica. Não se forma outra comunidade
diferenciada a partir da união legal homem-mulher.
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Esta dimensão familiar social cria, pela aliança, uma afinidade
entre dois grupos amplos. A solidariedade cresce.
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A maior parte das regiões tradicionais africanas são transmitidas
oralmente.
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O Candomblé e a Umbanda, apesar de suas semelhanças,
apresentam muitas diferenças entre si, como a origem, a relação
com os orixás, rituais, o fenómeno da incorporação, entre
outros.
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como Dona Beatriz foi uma profetisa religiosa congolês e líder do
Movimento Cristão conhecido como Antonianismo. Seus
princípios e ensinamentos religiosos surgiram principalmente, da
igreja.
TOKOISMO
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Trata-se de um dos maiores Movimentos cristãos de Angola,
contando igualmente com sedes em vários países africanos e
europeus.
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milagres invocando algumas passagens bíblicas. Este momento é
assumido pelo tokoísmo como momento que o Espírito Santo
desceu em África e a igreja cristã foi relembrada de forma a
retomar o caminho da igreja original do tempo dos Apóstolos. É
portanto, a data fundacional do Movimento Tokoísta.
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decidam por enviá-los para um segundo período para a ilha
portuguesa de São Miguel, nos Açores, onde trabalhará como
assistente faroleiro na localidade de Ginetes. A sua permanência
neste país demorará onze anos. No entanto, não esmorecerá o
seguimento da sua missão. Ao longo deste período, o dirigente
intercambiará milhares de cartas com seus seguidores em
Angola, com quem construirá um Movimento de carácter
Nacional. Em 1974, na véspera da saída de Portugal do território
angolano, Toko é finalmente, autorizado a regressar ao seu país,
o que acontece a 31 de Agosto desse mesmo ano. Vê finalmente
a liberdade de expressão e de culto do seu Movimento.
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“O comportamento psicológico dos tokoistas é doutrinalmente
assente na profecia da Libertação. Esta não se limitou apenas às
independências africanas profetizadas nos cânticos compostos
por Simão Toko desde 1943. Ela começa pela libertação
individual. Isto é, eles promovem o diálogo, aceitam opções
alheias sem se deslocar da Profética Doutrina Tokoista. Os
tokoistas compreenderam as contrariedades como aspecto
processual da Profecia. Exibem boas maneiras e trazem a ideia
da Paz pela sua vestimenta branca”. (Batsîkama, 2017:278).
KIMBANGUISMO
83
caravanas comerciais, anotando registos e facturas, quer ainda
dos necessitados, através da redacção de documentos
(mucandas) reivindicativos do direito de propriedade dos
camponeses espoliados pelos colonos. Este facto tornou-se
suspeitos aos olhos das autoridades coloniais portuguesas, sendo
por estas perseguidos e sendo frequentes os textos coloniais,
que administrativos, quer literário, a descrevê-los como
excêntricos, charlatães e recalcitrantes. Com o recrudescimento
do colonialismo após a Conferência de Berlim (1884-1885), a
chegada a Angola de colonos brancos em maior número e a
consequente marginalização dos africanos, prosseguida durante
a década de 1920 pelo alto-comissário Norton de Matos, os
ambaquistas foram totalmente silenciados e desapareceram da
sociedade angolana.
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do rio Lukala em 1617 e que, em 1625, uma vez pacificado o
conflito entre portugueses e o Mbandi-a-Ngola, retomaria a sua
função de pumbo, ou feira de escravos, transacionados por
jesuítas e capuchinhos (PARREIRA, 1990, p. 95, 125, 160-161).
Nas imediações, no Ambango Aquitango (na actual província do
Kwanza-Norte), viria a ser constituída a missão de Santo Hilário,
com o fim de cristianizar cativos e futuros escravos. Os métodos
de instrução dos missionários jesuítas e capuchinhos, embora
incrementados em função do destino de servilismo reservado
aos aprendizes na maioria dos casos ofícios como os de
sapateiro, alfaiate ou carpinteiro – pressupunham sempre o
ensino da leitura e da escrita e do catecismo, através da
retroversão dos textos sagrados da língua portuguesa para o
Kimbundu. Ainda que a missão tenha sido encerrada em 1760,
com a expulsão da Companhia de Jesus, o conhecimento da
escrita foi sendo transmitido de pais para filhos (SANTOS, 1997,
p.351-359). Daí que, em pleno século XIX, se encontrem textos
de autores coevos (antigos) descrevendo os ambaquistas a
percorrer o território angolano vestidos à europeia, munidos de
tinteiro, pena de pato e folhas de papel, acompanhados de
ajudantes, jovens que lhes eram confiados para aprender o
ofício, sempre prontos a pôr ao serviço de alguém a arte da
escrita (HENRIQUES, 1997, p. 119).
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tempo, foram-se integrando também, como anotadores de
recibos e facturas comerciais, das caravanas quibuca (kibuca)
que, vindas de Luanda, percorriam o sertão angolano (SANTOS,
1997, p. 351-359). Consta que terão redigido documentos
(mucandas) reivindicativos de direito de africanos às terras
expropriadas pelos colonos.
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poderem ser identificados à distância como ambaquistas em
pleno meio rural africano.
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lado do fiote, no Norte, em Cabinda, criado a partir do kikongo
com interferências do francês e do português, e do vimbali, no
sul, na região do Namibe, criado a partir do umbundu com
interferências do português, o kimbundu ambaquista pode ser
considerado um dos raros fenómenos linguísticos crioulizantes
registados em Angola.
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Os Ambaquistas Vistos Pelos Outros Africanos
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estatuto social superior, atribuído aos que possuíam a ciência
para praticar o acto sagrado da redacção de mucandas, que os
ambaquistas lograram desposar filhas, netas e sobrinhas de
sobas e participar assim, através de alianças de parentesco, nas
decisões políticas mais importantes da comunidade.
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Luanda em meados do século XIX, alargando sobremaneira os
musseques (do Kimbundu seke, areia), bairros periféricos, mercê
das transformações da política colonial que conduziriam à
Conferência de Berlim de 1884-1885. Durante a primeira metade
do século, num tempo em que se dá a independência do Brasil e
em que o tráfico de escravos e a escravatura eram perseguidos
pela recém-industrializada Grã-Bretanha, a necessidade sentida
pelos portugueses de procurar em África novas fontes de
matérias primas para o mercado mundial, e não já a mão-de-
obra escrava para o continente americano, levou à substituição
das lavras tradicionais africanas por grandes unidades produtivas
agrícolas e acelerou o processo de exportação e ocupação de
terras do interior pertencentes a agricultores angolanos, os
quais, desapossados, se viram na necessidade de se refugiar na
capital.
91
explorações agrícolas, que a extinta escravatura é juridicamente
substituída pelo indigenato a partir de 1875, data em que é
publicado o primeiro Código de Trabalho Indígena. Foram
considerados indígenas todos os angolanos desprovidos da
instrução escolar que lhes permitiria adquirir o estatuto de
assimilados e, consequentemente, de cidadãos portugueses.
Estavam, por esse facto, sujeitos ao que ficou conhecido por
imposto de palhota, cobrado pelas autoridades administrativas
coloniais nas aldeias do interior, cujo não pagamento implicava a
sujeição ao trabalho forçado ou contracto. Procurando fugir ao
imposto de palhota e ao contracto, muitas famílias saíram das
suas terras do interior para procurarem trabalho na cidade como
serviçais dos colonos ou, em alternativa e sobretudo no caso
feminino, como comerciantes ambulantes de peixe, fruta e
outros produtos básicos, multiplicando-se assim nas cidades o
número das chamadas quitandeiras.
92
saber ler e escrever e prosperar com agricultura, era considerado
“português”, no litoral, pelo mesmo motivo, seria visto como
“feiticeiro” (HEINTZ, 2004, p. 254). Ou seja, se a escrita entre os
africanos era encarada como uma “magia” ou uma ciência
benéfica de quimbanda, à medida que o poder colonial alastra
do litoral para o interior e se assiste, com migrações para as
cidades, à desculturação dos habitantes do musseque, vai-se
transformando no inverso, isto é, num maleficio de mulóji, uma
uanga, e utilizá-la é sinónimo de acto perverso de “feiticeiro”.
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coincidem no ponto de considerarem os ambaquistas, à
semelhança aliás do que acontece com os mestiços (ou mulatos),
indivíduos perigosos devido ao seu “hibridismo”.
Frequentemente manifestam repugnância pela sua falsa
“subserviência” aliada ao “descarregamento”, classificando-os
como ladrões e mentirosos e desconfiando da sua autenticidade
na fé cristã, mesmo em relação àqueles que, como era o caso da
maioria, eram baptizados, acusando-os de poligamia e
“fetichismo” (HEINTZ, 2004, p. 234-236).
94
poderia ser hoje um bonito espécimen (amostra) da civilização
portuguesa em África, se não tivesse sido assolado pelo preto
Mendes Machado, e outros a quem o governo entregou poder,
de que não sabem senão abusar” (PINTO, 1888, p. 5 e p. 128).
95
literatura angolana nacional ou pós-colonial. Relativamente a um
e outro caso evidenciamos dois exemplos que tivemos
oportunidade de analisar em estudos anteriores, sendo o
primeiro o romance de Guilherme de Ayala Monteiro Conquista
do Sertão, premiado no Concurso de Literatura Colonial da
Agência Geral das Colónias em 1930, onde o protagonista, um
chefe administrativo português, se orgulha de encarcerar
ambaquistas, considerando-os: “[…] charlatães de uma
loquacidade (falar muito) trapaceira, pelas suas habilidades
enredadoras, capazes de complicar as coisas mais simples e de
criar as maiores dificuldades à administração […] peritos na arte
de redigir num bárbaro português , inclassificável, alinhando
argumentos em que a lógica aparecente (que começa aparecer)
e a má fé disputam primazias” (MONTEIRO, 1930, p. 118-119).
96
dando origem a uma primeira burguesia africana, entendendo-se
aqui por negros e mestiços letrados.
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critica pessoas, entidades, costumes, vícios, etc., em tom jocoso
ou sarcástico; censura jocosa).
98
Em 1890 através do periódico Arauto Africano, José de Fontes
Pereira, reclama ou a exigir uma independência para Angola,
numa altura em que as fronteiras actuais de Angola não estavam
ainda definitivamente construídas tornando-se assim para alguns
intelectuais no primeiro nacionalista angolense mesmo antes de
Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi.
99
Era uma geração guiada pelas ideias da grande Revolução
Francesa de 1789 que defendiam como lema: liberdade,
igualdade e fraternidade.
100
eram diametralmente opostas as ideologias dos teóricos
colonialistas portugueses da época.
101
- Denuncia dos mitos que circulavam sobre o negro (selvagem,
bárbaro, e outros nomes pejorativos);
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PAPEL DA CULTURA E DAS ARTES NA CONSCIENCIALIZAÇÃO
DOS ANGOLANOS PARA ADESÃO DO MOVIMENTO DE
LIBERTAÇÃO E LUTA ARMADA
O GRUPO NZAJI
105
Bairro Operário, suas criações foram influenciadas por outras
pessoas que lá viviam.
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Messene za tulonga ó kutanga
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A dada altura, a canção refere que uma mãe estava embalando o
filho no quarto: «Ó meu filho, não chores, porque o teu pai é
uma ave, deixou-te ficar aqui e foi-se embora. E o vizinho do lado
responde: O oh Samba Utanga Makuto Samba, não mintas para
teu filho, diz a verdade, diz que morrias de fome e que foste ao
comerciante e trocaste alimento pelo teu corpo; o teu filho é
fruto dessa situação. A PIDE, não deixou passar esta canção.
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registou-se um grande declínio na produção musical em Angola.
O grupo se tornou decadente e perdeu a energia que tinha
décadas antes. Argumenta-se que Ngola Ritmos tenha
enfraquecido muito antes de seus limites, mas seu trabalho
influenciou as gerações seguintes de músicos tais como, Elias Dia
Kimuezo, grupo musical os Kiezos, Jovens do Prenda e outros.
TEATRO
111
Assim sendo, o teatro nasceu no período do paleolítico médio,
estava ligado as forças da natureza por intermédio dos espíritos
com objectivo de atrair estas mesmas forças por intermédio da
magia simpática. Desta feita os lugares onde eram executadas
práticas eram totalmente arenas, como na antiguidade média
porque muitos desses lugares eram totalmente sagrados.
112
TEATRO EM ANGOLA COMO FORMA DE RESISTÊNCIA
113
Quando fundamos o Gexto pensamos logo na integração do
Ngola Ritmos, do qual eu me sinto parte integrante, para vários
trabalhos clandestinos, muito embora as pessoas, enfim de um
grupo que refletisse os princípios que o Bota-fogo defendia,
normalmente no domínio da cultura.
114
A principal característica deste grupo foi concentrar no seu seio
um grande número de compositores, músicos, coreógrafos.
115
próprio oprimido tenha senso critico, onde a representação
teatral desempenhava uma grande função”.
116
GLOSSÁRIO DE HISTÓRIA
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Democrático (ex-Zaire), Gabão, República Centro-Africana,
Ruanda.
118
Armadas – frotas.
Aportar – atracar.
Autónomo – independente.
119
B
120
panos, folhas ou com diversos materiais apropriados, para fins
terapêuticos, geralmente para curar uma infecção ou cicatrizar
uma ferida.
Calhaus – cascalhos.
Coacção – Imposição.
121
Códice – Manuscrito antigo que contem as obras de um autor
clássico.
Companhias – Associações.
Coligação – Aliança.
122
D
Desacordos – Divergências.
Detrimento – Prejuízo.
Dimensão – Amplitude.
123
Embaixadores – Representantes de um Estado junto de outro.
Passar a ter domínio sobre a sua própria vida, ser capaz de tornar
decisões sobre o que lhe diz respeito: empoderamento das
mulheres.
124
Esclavagismo – Sistema baseado no trabalho escravo, na
exploração do homem pelo homem. Aromáticas utilizadas como
condimento.
Extermínio – Destruição.
Especiarias – Substâncias.
125
Fósseis – Restos de plantas ou animais que se encontram
enterrados há muitos milhares de anos e que constituem
testemunhos de épocas geológicas anteriores à nossa.
126
Hereges – Blasfemos, cristãos baptizados, mas que negam
veemente ou põem em dúvida algumas das verdades da fé
católica.
Incursões – Invasões.
127
Infantaria – Conjunto de tropas de um exército que combatem a
pé, munidos de armas ligeiras e pesadas, tendo por missão a
conquista, ocupação e defesa de um território.
Instituições – Organizações.
Legítimo – Legal.
Messiânico – do Messias.
Motivo – Causa.
129
N
Ornamentados – Decorados.
130
Pau-brasil – Madeira rija e avermelhada utilizada na construção
civil e naval.
Presídio – Prisão.
131
Q
132
Roda de oleiro – Disco achatado movido por um pedal. O
movimento rotativo permite trabalhar o barro, modelando-o até
ser possível obter o objecto desejado.
Subordinação – Submissão.
Subjugação - Submissão
133
Toponímia – Área da Linguística que estuda os nomes dos
lugares, a sua origem e evolução.
Troar – Estrondo.
Vassalo – Tributário.
134
Víveres – Géneros alimentares.
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BIBLIOGRAFIA
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REZENDE, Priscila, Antropologia Cultural, IESDE, Brasil, 2012.
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