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CADERNO

DE
SOCIOLOGIA

CADERNO 1 e 2

SOCIOLOGIA / CADERNO 1 e 2 - 1
Cultura

Cultura no senso comum


Quem nunca ouviu falar algum dia “Fulano de Tal não têm cultura”?! No senso comum a cultura
ganha um significado diferente.
O significado de cultura no senso comum costuma vir atrelado a uma ideia de conhecimento,
conhecimento esse que se adquire por meio de condições sociais. Por exemplo, “Fulano de Tal é tão culto!
Estudou no exterior e fala cinco línguas diferentes”. Ao modo que tudo que é mais popular se torna menos
significante nesse sentido, por exemplo, “Fulano de Tal não tem cultura, ele ouve funk”. Quando utilizamos
essa forma de definição, estamos nos referindo a pessoas que não tiveram acesso a determinadas
informações e saberes durante sua vida, e acabando por classificar esses conhecimentos ou saberes
entre mais ou menos “sofisticados”.
Sob essa óptica, cultura se torna um termo para classificar os indivíduos, as pessoas com as
mesmas afinidades ou até grupos inteiros, de modo generalizante. Cultura se torna sinônimo de um
projeto de civilidade.
A sociologia entra a partir daqui para refutar esse sentido preconceituoso de se tratar a cultura. Aos
olhos da sociologia cultura é tudo aquilo que vêm da criação humana, como por exemplo, ideias,
costumes, leis, crenças e até as vestimentas. A cultura é todo esse apanhado de conhecimento
proveniente do convívio social, por tanto, só os seres humanos possuem cultura, e não existe um ser
humano sequer que não tenha cultura.

Diferentes visões sobre o que é cultura

Cultura é um termo de origem latina e que tem ligação com o verbo “cultivar”, no sentido de ser
um meio de se buscar o crescimento – daí, por exemplo, a palavra agricultura. Essa ideia de se “buscar o
crescimento” em termos de formação intelectual do homem, desejada como a mais ampla que se pudesse
alcançar, foi utilizada de maneira usual a partir do Iluminismo, na Europa do século XVIII. “Cultura
compreendia, então, tudo aquilo que um indivíduo deveria adquirir para se tornar uma pessoa moral e
intelectual, no sentido mais pleno possível” (SIMÕES; GIUMBELLI, 2010, p.188). Daí, afirmarmos que
alguns “têm mais cultura” do que outros, em razão do seu acesso a essa “formação intelectual mais
ampla”, que pode incluir não somente a educação formal, adquirida nas escolas, como também, como um
aperfeiçoamento posterior desse saber – e acessível a um número bem menor de pessoas –, o gosto
“refinado” pelas artes plásticas, pela literatura, pela música clássica.
Voltando mais ainda no tempo histórico, podemos dizer que o ato do ser humano de transformar a
natureza pode ser entendido como uma primeira definição de cultura. Afinal, os homens e as mulheres
são diferentes dos animais, pois eles são “inventores do mundo”. Isto significa dizer que os seres humanos
são os únicos que não se submeteram totalmente à natureza, mas sim a transformam. Cultura, portanto,
pode ser definida por oposição à natureza. Assim, o ser humano, ao contrário dos animais, não vive de
acordo com seus instintos, mas sim a partir da sua capacidade de pensar a realidade que o cerca e de
construir significados. Estes são realizações culturais, que se transformam em símbolos. Os símbolos são
representações dos homens sobre a sua realidade, e não estão presentes em todas as sociedades da
mesma forma, variando de acordo com o tempo histórico e com o espaço físico e geográfico. Essa é outra
forma de definir cultura, ou seja, como uma representação da realidade ou da ação dos indivíduos.
A representação da realidade acontece muitas vezes por meio dos símbolos. O termo símbolo tem
sua origem no grego (sýmbolon), que designa um elemento representativo que está no lugar de algo que
tanto pode ser um objeto como um conceito ou ideia.
O símbolo é um elemento essencial na comunicação e nas culturas, e é difundido no cotidiano
pelas mais variadas formas da realidade e do saber humanos. Alguns símbolos são reconhecidos
internacionalmente e outros, só em um determinado grupo ou contexto religioso, cultural etc...
Podemos resumir símbolo como alguma coisa que representa algo para alguém, e ele será um dos
elementos centrais das culturas. Por meio dos símbolos, os indivíduos representam a realidade em que
vivem e formam a sua cultura, cultivam e inventam formas de se relacionar uns com os outros, formam
uma visão sobre o mundo. Portanto, diferentemente do senso comum, a cultura como forma de
representar a realidade existe em todos os lugares e indivíduos, não havendo, portanto, pessoas que têm
e pessoas que não têm cultura. Todos nós temos uma cultura, que se expressa em símbolos – as formas
de se vestir, as formas de falar, as formas religiosas, as formas artísticas etc.

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Cultura e o significado antropológico

No sentido antropológico, cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e
deve ser classificado.
A Antropologia é uma Ciência Social que nasceu no século XIX, como um projeto de ciência que
consistia em reconhecer, conhecer e compreender a diversidade das manifestações culturais dos povos
no tempo e no espaço. A Antropologia nos permitiu descobrir que aquilo que pensávamos ser natural em
nós mesmos é, na verdade, cultural, ou seja, ficamos perplexos e conscientes de que o menor de nossos
comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de natural. Enfim,
a Antropologia nos diz que o conhecimento de nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento
de outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas
outras, mas não a única.
Para entendermos melhor o significado antropológico de cultura, vamos nos reportar ao
antropólogo brasileiro Roberto DaMatta que elaborou uma síntese de algumas dessas definições.
Segundo ele, cultura “é um mapa, um receituário, um código, através do qual, as pessoas de um dado
grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas” (DaMATTA, 1986, p. 123). Em
outras palavras, a cultura é o “cimento” que dá unidade a certo grupo de pessoas que divide os
mesmos usos e costumes, os mesmos valores. Deste ponto de vista, portanto, podemos dizer que tudo o
que faz parte do mundo humano é cultura. Concretamente, podemos falar de culturas, ao invés de
cultura, no singular.
Assim, referimo-nos a uma cultura indígena, com seus modos de vestir, dormir, caminhar, se
relacionar etc., como a uma cultura chinesa, japonesa, francesa, cigana, nordestina... Enfim, quando
estudamos e identificamos traços de comportamentos, personalidades, simbologias comuns, atitudes
comuns em determinados grupos, comunidades ou nações, podemos dizer que há uma cultura específica
desses indivíduos que compõem grupos, comunidades ou nações.

Resumindo:
• No decorrer da História, os instintos originais do homem foram secundarizados pela cultura;
• A cultura é produzida pelo homem em qualquer meio geográfico;
• A cultura permitiu que o homem se adaptasse ao meio, como também que este se adaptasse ao próprio
homem e suas necessidades;
• A herança cultural prevalece sobre a herança genética do homem, pois este aprende hábitos e costumes
através da sua cultura;
• A cultura é acumulada socialmente a partir da experiência histórica vivida pelas gerações anteriores;
• A cultura estabelece regras que determinam como o mundo pode e deve ser classificado;
• A cultura condiciona o comportamento humano e pode servir como justificativa para todas as suas
ações;
• A cultura dá unidade a grupos de pessoas que compartilham os meus usos, costumes e valores;
• Uma cultura se modifica (e modifica) no contato com outra cultura.

Cultura Erudita e Cultura Popular

Ao analisar o “Renascimento”, movimento cultural surgido no norte da Itália, nos séculos XIV e XV,
percebemos que ele estava ligado a uma determinada parcela da população da Europa: a burguesia. A
burguesia era formada por comerciantes que tinham como objetivo principal o lucro, através do comércio
de especiarias vindas do oriente. Esse segmento da sociedade conquistou não apenas novos espaços
sociais e econômicos, mas também procurou resgatar ou fazer renascer antigos conhecimentos da cultura
greco- romana. Daí o nome Renascimento. Desde a sua origem, a burguesia preocupou-se com a
transmissão desse conhecimento a seus pares. A partir daí, então, foram surgindo instituições como as
universidades, as academias e as ordens profissionais (advogados, médicos, engenheiros e outros). Com
o passar dos séculos e com o processo de escolarização, a cultura dessa elite burguesa tomou corpo,
desenvolveu-se com base em técnicas racionalistas e científicas. Surgiu assim a cultura erudita. Essa
cultura “erudita”, ou “superior”, também designada de “elite”, foi se distanciando da cultura, da maioria
da população, pois era feita pela e para a burguesia. Por isso, ao pensarmos em cultura erudita,
imediatamente concluímos que seus produtores fazem, parte de uma elite política, econômica e cultural
que pode ter acesso ao saber associado à escrita, aos livros, ao estudo.

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A cultura popular, por sua vez, mais próxima do senso comum e mais identificada com ele, é
produzida e consumida pela própria população, sem necessitar de técnicas racionalizadas e científicas. É
uma cultura em geral transmitida oralmente, registrando as tradições e os costumes de um
determinado grupo social. Da mesma forma que a cultura erudita, a cultura popular alcança formas
artísticas expressivas e significativas. Vale ressaltar que, ao afirmar que os produtores da cultura erudita
fazem parte de uma elite não significa dizer que essa cultura seja homogênea, é impossível definir cultura
erudita, porque não podem ser homogeneizados os elementos culturais produzidos por intelectuais,
fazendeiros, empresários, burocratas, etc. porém, é igualmente impossível definir cultura popular, dada às
populações culturais diferenciadas de camponeses, operários, classe média baixa, etc.

Indústria Cultural

A partir do final do século XX, a industrialização em larga escala atingiu, também, os elementos da
cultura erudita (pertencente a uma elite que pode ter acesso ao saber associado à escrita, aos livros, ao
estudo) e da cultura popular (aquela de senso comum produzida e consumida pela própria população, sem
necessidade de técnicas racionalizadas e científicas, transmitida oralmente, registrando as tradições e os
costumes de um determinado grupo social). O incessante desenvolvimento da tecnologia, tornando-a cada
vez mais sofisticada, principalmente nos meios de comunicação de massa (p.ex. cinema, rádio, televisão),
passou a atingir um grande número de pessoas, dando origem à “cultura de massa”. Ao contrário das
culturas erudita e popular, a cultura de massa não está ligada a nenhum grupo social específico, pois é
transmitida de maneira industrializada, para um público generalizado, de diferentes camadas
socioeconômicas.
O que temos, então, é a formação de um enorme mercado de consumidores em potencial,
atraídos pelos produtos oferecidos pela indústria cultural. Esse mercado constitui o que chamamos de
“sociedade de consumo”. Em "Dialética do Iluminismo", texto clássico escrito em 1947 por Adorno e
Horkheimer, pertencentes à Escola de Frankfurt, define-se indústria cultural como um sistema político e
econômico que tem por finalidade produzir bens de cultura (p.ex. filmes, livros, música popular) como
mercadorias e como estratégia de controle social. Desta maneira, filmes e músicas de quaisquer gêneros
são vendidos não como bens artísticos ou culturais, mas como produtos de consumo e, por consequência,
ao invés de contribuírem para formação de cidadãos críticos, manteriam as pessoas "alienadas" da
realidade. Em outras palavras, “Indústria cultural” é o termo empregado para designar o modo de fazer
cultura a partir da lógica da produção industrial que possui padrões que se repetem com a intenção de
formar uma estética ou percepção comum voltada para o consumismo, a arte passa a ser produzida
visando o lucro.
Com a industrialização dos elementos da cultura erudita e da popular, o produto cultural irá se
apresentar de uma forma esteticamente nova e diferente. Podemos tomar como exemplo a gravação de
uma sinfonia de Beethoven executada com o auxílio de sintetizadores e outros aparelhos de alta
tecnologia, cujo ritmo e som diferentes quase original uma nova obra. A indústria cultural, utilizando-se dos
meios de comunicação de massa, primeiramente lança seu produto em grande quantidade (tiragens de
milhões de discos, por exemplo) e depois induz as pessoas a consumirem esse produto, apelando para
outras razões além de seu valor artístico. A cultura de massa, ao divulgar através dos meios de
comunicação produtos culturais de diferentes origens (erudita ou popular), possibilita o seu conhecimento
por diferentes camadas sociais, criando também um campo estético próprio e atraente voltado para o
consumo generalizado da sociedade.

Meios de Comunicação de Massa – Instrumentos de Poder

Vivemos em uma era interligada em que pessoas de todo o planeta participam de uma única ordem
informacional uma situação que é, em grande parte, resultado do alcance internacional das comunicações
modernas. As transformações na mídia ou nas comunicações de massa contribuem radicalmente na
alteração da vida das pessoas e suas relações no meio sociocultural.
Quando se fala em mídia de massa ou comunicação de massa está se referindo a uma ampla
variedade de formas de meios de comunicação que abrange um volume de audiência enorme e que
envolve milhões de pessoas em toda uma sociedade moderna e globalizada como a nossa. São meios de
comunicação de massa: a televisão, os jornais, o cinema, as revistas, o rádio, a publicidade, vídeos
games, CDs, internet, celulares e etc.
A mídia de massa não pode mais ser vista como um simples meio de entretenimento, como se
fosse algo que não interferisse na vida das pessoas; as comunicações de massa são instrumentos de

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informação que influencia em nossa forma de pensar e agir, atingindo o comportamento individual, social,
cultural e institucional; como o caso da alteração de valores sociais dos jovens, as banalidades de
questões sociais (pobreza, desemprego, violência, corrupção) e a opinião pública (posicionamento
reflexivo e prático das pessoas em determinadas situações específicas sobre questões socioeconômicas,
política-jurídico e cultural-ideológica).
Os donos dos meios de comunicação de massa são os novos donos de um poder moderno e
tecnológico, pois eles têm em suas mãos instrumentos que podem influenciar, controlar, manipular ou
interferir nas estruturas sociais, seja nas instituições sociais, econômicas ou políticas; a mídia de massa
têm dono, são grupos de pessoas que vivem de lucro, logo suas empresas estão a serviço de seus
interesses, que com certeza não é o da sociedade como um todo. Os meios de comunicação de massa se
relacionam intimamente com o capitalismo. A mídia exerce seu poder de uma forma ideológica,
camuflando suas intenções através da exposição de marketing sistematicamente e intensivamente visando
incutir na cabeça das pessoas perspectivas alheias aos seus próprios interesses. Isso acontece, por
exemplo, na veiculação de comerciais, novelas, filmes, desenhos, programas, séries, telejornais ou jornais
escritos, revistas, rádios e etc. (PIERRE BOURDIEU).

Identidade

A identidade é um conceito importante que devemos entender. Todas as pessoas se identificam


com alguma coisa e, também, recorrentemente usamos essa palavra em nosso cotidiano. Mas, para as
ciências sociais o que ela significa?
Vamos pensar nos seguintes termos: o que define um povo, apesar disto compor sua cultura, não é
uma mera demarcação territorial ou sua língua, mas, todo um conjunto de características – sociais,
políticas e culturais – que o fazem um grupo indenitário, se diferenciado, assim, de outros grupos.
Logo, o que faz um determinado povo se diferenciar de outro é justamente a identidade. Portanto, a
identidade:
Propicia a sensação de pertencimento, fazendo com que cada indivíduo dívida a sociedade em
dois grupos: nós e eles. Os que são como eu e os que não são. Desse modo, sabemos quem somos por
sabermos que não somos o outro. A identidade, portanto, é definida pela diferença, estabelecida por uma
marcação simbólica relativa a outras identidades (ARAUJO, 2012).
A identidade está internalizada em nós. Assim, muitas vezes, suas características passam
despercebidas, a ponto de indivíduos perceberem que fazem parte de um grupo somente quando são
postos à frente de um outro grupo indenitário.
Na modernidade, a consolidação de grandes identidades coletivas foi uma marca importante,
principalmente aquelas originadas pelas condições de existência, como as identidades de classe ou
nacionais. Entretanto, nas últimas décadas, as transformações sociais ocorridas em todas as sociedades
modificaram os elementos constituintes das identidades. Nesse contexto, identidades são construídas em
relação a demandas específicas de diferentes grupos, definidos com base em critérios como etnia, gênero
etc.
Para a Antropologia, a identidade ela não é inata, sendo a mesma construída. Ela é construída,
justamente, por intermédio de nossas relações sociais, crenças e costumes. Logo, no próprio indivíduo
várias identidades podem ter espaço. Por exemplo, uma pessoa pode se identificar como “homem”,
“católico” e “de esquerda”. Todas essas formas de enxergar o mundo, são identidades. As identidades,
para a antropologia, não devem ser hierarquizadas, umas como mais evoluídas do que outras.
Continuando, a identidade não deve ser apenas uma questão de uso de objetos. Por exemplo, se
identificar enquanto “índio” não deve ser interpretada como uma questão de usar arco, flecha e pintar o
rosto. Ser “índio” é muito mais do que isso. Para os antropólogos, a temática tange a um modo de ser e
não um modo de aparecer. Ou seja, o índio não deixa de ser índio por não usar coisas ligadas a tradição,
e muito menos deixa de ser por usar coisas advindas de outras culturas. Nós, brasileiros, por exemplo,
usamos uma série de coisas de outras culturas e não deixamos, ainda, de ser brasileiros. Eduardo
Viveiros de Castro (2006), ilustra bem a questão:
A identidade designava para nós um certo modo de devir, algo essencialmente invisível, mas nem
por isso menos eficaz: um movimento infinitesimal incessante de diferenciação, não um estado massivo de
“diferença” interiorizada e estabilizada, isto é, uma identidade. (Um dia seria bom os antropólogos pararem
de chamar identidade de diferença e vice-versa.) A nossa luta, portanto, era conceitual: nosso problema
era fazer com que o “ainda” do juízo de senso comum “esse pessoal ainda é índio” (ou “não é mais”) não
significasse um estado transitório ou uma etapa a ser vencida. A ideia é a de que os índios “ainda” não
tinham sido vencidos, nem jamais o seriam. Eles jamais acabariam de ser índios, “ainda que”... Ou

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justamente porque. Em suma, a ideia era que “índio” não podia ser visto como uma etapa na marcha
ascensional até o invejável estado de “branco” ou “civilizado” (VIVEIROS DE CASTRO, 2006).
Isto é, a questão da identidade é uma questão múltipla. Novas identidades estão sempre com a
possibilidade de surgir, devido ao contato entre as culturas. Contudo, as “antigas” identidades também
estão presentes no espaço. Cabe somente ao indivíduo perceber e pensar como se situar perante a este
fator.

Ideologia

O estudo das ideias produzidas em uma sociedade aparece nos escritos de Marx como uma
problematização da noção de consciência. Marx procurou demonstrar que ideias, representações da
realidade, pensamentos e conceitos não são frutos espontâneos da consciência humana, os reflexos
ideológicos das relações sociais (dadas pelas relações de produção de bens materiais) concretas entre
seres humanos. Sob esse ponto de vista, só é possível entender as ideias dominantes em cada período
histórico com análise das relações concretas entre os indivíduos, como as relações de poder e dominação
entre senhores e escravos, reis e súditos, patrões e empregados.
Por meio da ideologia, os interesses da classe dominante se transformam nos interesses de toda a
coletividade e constituem a ideologia de uma época. Foi assim que, com o triunfo do liberalismo no século
XIX, defendeu- se a bandeira da liberdade, mesmo que tal liberdade seja desfrutada apenas por uma
pequena parcela da população, aqueles que não são submetidos à exploração.
Para Marx, as ideologias seriam representações do mundo, elaboradas pelas classes dominantes,
que visam à manutenção e à reprodução das relações de dominação. Outros teóricos abordaram a
questão da ideologia de forma diferente. O filósofo e político italiano Antônio Gramsci, por exemplo, afirma
que as classes dominadas também possuem sua própria ideologia, já que ideologia seria sinônimo de
visão de mundo de um grupo ou classe social.

Teorias antropológicas culturais


Ao longo da história da cultura na antropologia, surgem diversas teorias para explicar-la, teorias
como:

Evolucionista: De acordo com a teoria evolucionista da humanidade, a história do homem seguiu, desde
sempre, um mesmo caminho, linear e progressivo.
Para os evolucionistas o mundo se divide entre “primitivos” e “civilizados”. Onde a sociedade segue
leis gerais de evolução humana, ou seja, uma única cultura, dividida em estágios. Analisando algumas
condições entendidas como universais, pode-se traçar o caminho realizado pelo homem desde seus
primórdios até os dias de hoje, evidenciando uma diferença temporal entre aqueles que ainda não
possuíam determinados estágios desenvolvidos.

Determinismo (biológico, geográfico e racial): Esse conceito estabelece uma visão de que o homem
está condicionado a seguir mecanismos biológicos, determinantes para a vida.
No determinismo todos os fatores são dependentes de uma casualidade, ou seja, determinados por
algo, ou seja, não há livre-arbítrio, são situações pré-determinadas e não há espaço para mudanças.
Por exemplo, para os deterministas características físicas e psicológicas do ser humano eram
condicionadas pela raça e nacionalidade que os colocam em determinadas classes.

Difusionismo:Nessa teoria os difusionistas acreditavam que uma inovação tinha inicio em uma cultura
específica, para a partir da ser difundida de várias maneiras para o restante dos povos, ou seja, ela tinha
um ponto inicial e eram transmitidas através do deslocamento.

Relativismo cultural:Franz Boas foi um antropólogo americano e um dos pioneiros e revolucionários da


antropologia moderna.
Boas critica os métodos anteriores existentes utilizados para estudar o surgimento da cultura
(evolucionismo, determinismo, difusionismo).
O evolucionismo por ser uma teoria etnocêntrica, que coloca os europeus no topo, onde tudo era
comparado a eles. E já que cultura como vimos anteriormente é uma soma dos traços de determinada
sociedade, entendemos que elas são únicas, por tanto não devem ser comparadas.

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Ao determinismo por obviamente ser uma teoria racista e muito fácil de ser refutada, por exemplo,
se pegar um bebê chinês e criar-lo na alemanha, com uma família alemã, independente de suas
características físicas e biológicas, ela vai crescer de acordo com a cultura dessa família alemã.
Ao difusionismo por não terem provas suficientes que sustentem essa teoria.
A partir de então Boas Propõe o relativismo cultural . Que propõe o entendimento de determinados
povos através deles mesmos, através de suas próprias crenças. Aqui já não há mais comparações.
De acordo com a teoria de Boas, as culturas são únicas e estão em constante transformação, em
um permanente estado de fluxo.

Relativismo: Não há verdade absoluta. Propõe uma abordagem cultural e moral sem julgamentos pré-
concebidos.

Exercícios

1) O que significa cultura no sentido antropológico?


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2) O que significa a afirmação “nossa sociedade é multicultural”?


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3) Explique a importância da definição de cultura pela Sociologia, comparando-a com a definição do senso
comum.
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4) (ENEM, 2001) Os textos referem-se à integração do índio à chamada civilização brasileira. I - “Mais uma
vez, nós, os povos indígenas, somos vítimas de um pensamento que separa e que tenta nos eliminar
cultural, social e até fisicamente. A justificativa é a de que
somos apenas 250 mil pessoas e o Brasil não pode suportar esse ônus. (...) É preciso congelar essas
idéias colonizadoras, porque elas são irreais e hipócritas e também genocidas. (...) Nós, índios, queremos
falar, mas queremos ser escutados na nossa língua, nos nossos costumes.” Marcos Terena, presidente do
Comitê Intertribal Articulador dos Direitos Indígenas na ONU e fundador das Nações Indígenas, Folha de
S. Paulo, 31 de agosto de 1994.

II - “O Brasil não terá índios no final do século XXI (...) E por que isso? Pela razão muito simples que
consiste no fato de o índio brasileiro não ser distinto das demais comunidades primitivas que existiram no
mundo. A história não é outra coisa senão um processo civilizatório, que conduz o homem, por conta
própria ou por difusão da cultura, a passar do paleolítico ao neolítico e do neolítico a um estágio
civilizatório. ” Hélio Jaguaribe, cientista político, Folha de S. Paulo, 2 de setembro de 1994.

Pode-se afirmar, segundo os textos, que:

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(A) tanto Terena quanto Jaguaribe propõem idéias inadequadas, pois o primeiro deseja a aculturação feita
pela “civilização branca”, e o segundo, o confinamento de tribos.
(B) Terena quer transformar o Brasil numa terra só de índios, pois pretende mudar até mesmo a língua do
país, enquanto a ideia de Jaguaribe é anticonstitucional, pois fere o direito à identidade cultural dos índios.
(C) Terena compreende que a melhor solução é que os brancos aprendam a língua tupi para entender
melhor o que dizem os índios. Jaguaribe é de opinião que, até o final do século XXI, seja feita uma limpeza
étnica no Brasil.
(D) Terena defende que a sociedade brasileira deve respeitar a cultura dos índios e Jaguaribe acredita na
inevitabilidade do processo de aculturação dos índios e de sua incorporação à sociedade brasileira.
(E) Terena propõe que a integração indígena deve ser lenta, gradativa e progressiva, e Jaguaribe propõe
que essa integração resulte de decisão autônoma das comunidades indígenas.

5) (ENEM, 2010) Não é raro ouvirmos falar que o Brasil é o país das danças ou um país dançante. Essa
nossa “fama” é bem pertinente, se levarmos em consideração a diversidade de manifestações rítmicas e
expressivas existentes de Norte a Sul. Sem contar a imensa repercussão de nível internacional de
algumas delas. Danças trazidas pelos africanos escravizados, danças relativas aos mais diversos rituais,
danças trazidas pelos migrantes etc. Algumas preservam suas características e pouco se transformaram
com o passar do tempo, como o forró, o maxixe, o xote, o frevo. Outras foram criadas e são recriadas a
cada instante: inúmeras influências são incorporadas, e as danças transformam-se, multiplicam-se. Nos
centros urbanos, existem danças como o funk, o hip hop, as danças de rua e de salão. É preciso deixar
claro que não há jeito certo ou errado de dançar. Todos podem dançar, independentemente de biótipo,
etnia ou habilidade, respeitandose as diferenciações de ritmos e estilos individuais. GASPARI, T. C. Dança
e educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008 (adaptado).

Com base no texto, verifica-se que a dança, presente em todas as épocas, espaços geográficos e culturais
é uma:
(A) prática corporal que conserva inalteradas suas formas, independentemente das influências culturais da
sociedade.
(B) forma de expressão corporal baseada em gestos padronizados e realizada por quem tem habilidade
para dançar.
(C) manifestação rítmica e expressiva voltada para as apresentações artísticas, sem que haja
preocupação com a linguagem corporal.
(D) prática que traduz os costumes de determinado povo ou região e está restrita a este.
(E) representação das manifestações, expressões, comunicações e características culturais de um povo.

6) (ENEM, 2011) Em geral, os tupinambás ficam bem admirados ao ver os franceses e os outros dos
países longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez um
ancião da tribo que me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e pêros (franceses e
portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?”
O viajante francês Jean de Loy (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um ancião
tupinambá o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no sentido:
(A) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais.
(B) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais.
(C) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau-brasil.
(D) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.
(E) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.

7) (ENEM, 2011) A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos,
a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do
Brasil, além de instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro como data comemorativa do Dia da
Consciência Negra.
A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade
brasileira, porque:

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(A) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas.
(B) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.
(C) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura.
(D) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação.
(E) impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnico-racial do país.

Referências:
Sociologia hoje: volume único: ensino médio / Igor José de Renó Machado… [et al.]. – 1. ed. – São Paulo:
Ática, 2013.

Sociologia para jovens do século XXI, Luiz Fernandes de Oliveira e Ricardo Cesar Rocha da Costa. –
3.ed. – Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2013.

Sociologia em movimento– 1. ed. – São Paulo: Moderna, 2013.

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