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1ᵃ edição – 2019

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LUMINOSOFIA
Coletânea Principal

Hugo Lapa

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DEDICATÓRIA

Este livro é dedicado a Jesus, Buda, Krishna e


Lao Tsé, os maiores mestres que a
humanidade já conheceu.

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Índice

Um anjo guia nossos passos ..................................... 14


A mensagem sagrada das flores
Nosso ego ferido
Vivendo a vida
Prece de comunhão
A janela da alma
As bem-aventuranças
Como são os seres que vivem nesse mundo?
Por que somos afetados pela mente e emoções?
Por que Deus não nos salva?
Parábola do grão de mostarda
Sonhei com uma escada que levava ao céu
Onde você coloca a sua fé?
Retirar a flecha do sofrimento
Um senhor de 99 anos descobriu a felicidade
Você cria o seu problema
A cura do corpo não é importante
Travessia essencial
O sábio que não perdoa
Ame para ser amado
Controle é uma ilusão
Mensagem dos espíritos para todos
Sistema humano de vida
Não aguento mais tantas brigas
O homem desafia Deus
Abençoe a vida
Deus pode diminuir o peso de nossa cruz
Você não é melhor nem pior
Não se sinta obrigado a viver o certo
O outro passou na minha frente
Não adianta tentar controlar a vida
Sobre Deus
Não existe o dar errado
A justiça da lei do karma
Fui traída ... o que fazer?
Buscar nossos sonhos
Espiritualismo fala de pecado?
Caminhar pela eternidade

6
Viver em paz
Atitudes que evitam a depressão
Aprendizado do espírito
Por que não podemos viver só o bom?
Você é um guerreiro da luz
Sobre o suicídio
Abrir nossa alma
O espírito é obrigado a encarnar na matéria?
As principais escolhas da vida
Destruição e reconstrução de nossa vida
A vida é uma grande oportunidade
Não se envolva
Do exterior ao interior
A verdadeira vida
Quando você morrer
Minha vida está toda bagunçada
Recomeçar
Sabemos o que é bom e certo
As forças da luz e as forças da escuridão
A queda dolorosa
O fim definitivo dos problemas
A história da mulher que foi para o inferno
Influência pré-natal positiva
Como ajudar uma pessoa
O vazio da riqueza material
Abrindo nossos caminhos
A história dos três espíritos infelizes
Proteção contra o mal
Morrer em paz
Lutar contra
Quem pode te fazer mal?
Vitória ou derrota
Ajudar uma pessoa
Motivos da crise financeira
Exemplos de karma
O ser desperta
Confie na vida
A vida é efêmera
Solte o peso que você carrega
Qual o melhor lugar do mundo
A verdadeira carência
As sementes do mal
O caminho para o infinito

7
É morrendo que se vive
As certezas humanas
Deus te dá as provas
Ensinamentos para a vida
Encontrar a alma gêmea
O valor da paz
Crises financeiras
Aprendendo a devolver o empréstimo
Crise de transformação
O outro me fez mal
Coloque-se acima das coisas
Hoje é o dia
Nascimento e morte
O pior e o melhor
Equanimidade
Estamos aqui de passagem
Tudo é perfeição
Proteção demais atrapalha
Preto velho foi expulso do centro espírita
Valorize o que você tem
Padrões que se repetem na vida
Julgar o outro
A fábula do lobinho diferente
Deixe estar
Que nada nos abale
Os mensageiros de Deus
Ninguém perde nada
O acaso não existe
Amor e apego
Amor verdadeiro
O que fazer na escuridão?
Os três sofrimentos
Nossos filhos são espíritos
Visão espiritual da vida
Qual o tamanho do seu mundo?
A doença que cura
Um homem ofende o sábio
Não alimente o mal
Não se importe
O mal que te fizeram
A perda nos faz evoluir
O que os outros pensam de você
Para que pedir algo a Deus

8
É preciso abrir mão
A história das quatro almas
Tudo vem e vai embora
Viver e morrer
Um espírita no umbral
Nossa barreira emocional
O veneno da serpente
Quem é o obsessor?
Cair e levantar
Aceitar a vida
Para uma vida feliz
A vida passa
Deixe tudo fluir
Buscar Deus somente na dor
Nossos apegos
O consolo após a morte
O erro do outro
Deus e perfeição
Ser e essência
Do mundo caminhamos para Deus
Paz de espírito
O apego
O tempo de Deus
Não se identifique
Viva pelo espírito
Amor incondicional
A joia da caridade
A lei da afinidade
A política nacional
Preocupações
Vida simples
As aparências do mundo
Um dia você vai morrer
O valor do vazio
Você é espírita
Perdas da vida
O pássaro na gaiola
O que é o sucesso?
Esperar o outro
Nível de consciência
Materialismo Espiritual
Vale dos Arrependidos
Quem dá recebe

9
Os três obsessores
O orgulho nos faz perder
O último abraço
Quando você perder
Início e fim
Respeito
Mimar os filhos
O Vazio interior
Como encarar os problemas da vida
Meu inimigo
Viver fugindo
Ser feliz
Deus está em nosso próximo
Felicidade e paz
Tudo tem um fim
Sabedoria e ignorância
Pensamentos
Princípios espirituais da vida
Hoje em dia
Os erros da vida
O poder
Falatório pessoal
O véu da ilusão
Destino e escolha
O papel de salvador
A vaidade
Comparações
A pobreza
Criar expectativas
A arte de viver
Quem tudo quer
Melhor forma de viver
Não sou nada
Eu sou universal
Consumismo
Um obsessor no centro espírita
A oração de Deus
A chuva divina
A fábula do pintinho e do ovo
Eu estou certo
A porta da verdade
A vida nos ensina
Perguntas para a vida

10
A verdadeira liberdade
O poder pessoal
O rádio da mente humana
Ensinamentos de vida
Siga em frente
A luta pela energia
Ser feliz em um relacionamento
A lenda da flor azul
Liberte-se da prisão
A pedra que me jogaram
Provações da vida
O espírito do mal
A venda nos olhos
Ser e estar
A casa vazia
O jardineiro cósmico
A cegueira do egoísmo
Fundo do poço
Nossas preocupações
Força interior
Saber viver
Ninguém gosta de mim
Obrigado professor
Fé em Deus
Lição de vida
Ataque espiritual
Atravessando o vale do sofrimento
A pessoa mais importante
Ninguém nos afeta
A roda da vida
O grande oceano
Nascer de novo
Lições do sofrimento
O silêncio interior
A razão da dor
A estrada da vida
Medo da solidão
Partícula de Deus
Isso passa
Nosso maior inimigo
A barreira invisível
As cinco regras da raiva
O que é espiritualidade?

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O que te faz feliz?
Nosso posicionamento na vida
Fazer o bem
Onde foi que eu errei?
Tudo está dando certo
Nove orientações sobre os falsos profetas
Luz e trevas
A escolha certa
O reflexo de si mesmo
Chama sagrada
O remédio amargo
O outro lado da vida
Um homem num leito de hospital
Minhas coisas
Maledicência
A eterna aurora
O plano das trevas
Medo de fantasmas
Ah se eu soubesse
Antigamente
Perder para o medo
Experiências revelam seu sofrimento
Autoperdão pelos erros
Perder nosso chão
O poder real
A busca do diamante sagrado
Caminho do sofrimento
Como chegar ao reino de Deus
Qual a sua sustentação?
Não permita que sua religião te faça estas doze coisas
Não julgar positivamente
Não crie muitas previsões
Como podemos ser livres?
Tudo se transforma
O que é fazer o bem?
Você não pode ser destruído
Não vale a pena
Querer ser forte o tempo todo
Nós somos o céu
Solte... e seja livre
Nossa missão espiritual
O amor é a solução
Esperar para viver

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O caminho dos sábios
O que é bom e o que é mal em nossa vida?
Seja verdadeiro
Não reaja ao mal
Dar e receber
Vida simples
O lobo feroz
Deus em nossa vida
Jesus seria novamente crucificado hoje
Ficar se defendendo sempre
Existem três tipos de família
Será que só Jesus salva mesmo?
Jesus e o dinheiro

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UM ANJO GUIA NOSSOS PASSOS

De vez em quando algumas pessoas me perguntam se os es-


píritos podem nos ajudar financeiramente, ou se podem nos
curar de uma doença, ou se pode tirar algum vício de nós, ou
se podem nos trazer nossa alma gêmea etc. Já há algum
tempo, minha resposta tem sido a mesma: os espíritos não nos
auxiliam a ganhar mais dinheiro, ou saúde, ou relacionamen-
tos, mas sim, eles nos ajudam a abrir nossos olhos para que
possamos enxergar o motivo profundo de estarmos passando
por tudo isso.

Vamos explicar isso de uma forma mais simples… com uma


metáfora. Imagine um homem que está caminhando pela vida
de olhos fechados. Em algum momento, ele decidiu fechar os
olhos para não ter mais contato com a dura realidade das coi-
sas. Um anjo bom vai guiando os passos desse homem e vai
impedindo que ele caia em buracos, que ele tropece em pe-
dras, que ele tome algum tombo etc. No entanto, não tarda
muito até o anjo parar e refletir: será eu estou mesmo ajudando
esse homem? Ou será que a melhor forma de contribuir para
seu bem estar é ajuda-lo a abrir os olhos? Abrindo os olhos ele
poderia ver por si mesmo todos os percalços do caminho e,
assim, pode desviar-se deles. Sim, ajuda-lo a abrir os olhos é,
sem dúvida, a melhor forma de apoia-lo, de assisti-lo, de cola-
borar com sua felicidade, conclui o anjo.

A mesma coisa ocorre com os seres humanos. Nós somos


como esse homem, que fechou os olhos para a realidade e es-
pera que forças externas do bem o guiem no escuro, para que
ele não seja obrigado a abrir os olhos e encarar a realidade,
encarar a si mesmo. Mas os espíritos não vão auxiliar nos des-
viando das provas, evitando nossas quedas, nos pegando no
colo quando atravessamos a lama que escolhemos percorrer.
Não… os espíritos de luz estão a todo momento nos pedindo:
“abra seus olhos”, “abra sua consciência”, “desperte para a re-
alidade de si mesmo”, “pare de fugir das coisas”, “veja o que
você está fazendo com sua vida”, “veja o que está semeando”,
“Ame a Deus e ame teu próximo” etc. Caso Deus ou os bons
espíritos nos ajudassem a desviar da colheita de nossa própria
semeadura, eles estariam criando as condições para que con-
tinuemos cegos diante da vida universal.

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Um homem pode estar passando por uma crise financeira por
ser muito egoísta e apegado com suas coisas. Então ele pre-
cisa olhar para si mesmo, abrir os olhos para a realidade das
suas tendências egoísticas, ao invés de ganhar mais dinheiro.
Uma mulher pode ter criado um câncer para ficar de cama, ficar
vulnerável, e assim, abrir os olhos e renunciar ao desejo de
controle excessivo que há muito tempo a faz sofrer. Um jovem
pode não dar certo em relacionamentos para, por exemplo,
aprender a resolver sua carência e conseguir ser feliz sozinho,
sem ficar colocando a sua felicidade em outros. Assim, os es-
píritos ajudam essas pessoas a abrirem seus olhos em relação
a si mesmos, abrirem seus olhos para aquilo que é mais impor-
tante… e não apenas resolver suas carências mundanas e ma-
teriais.

Portanto, abra os olhos do coração e da consciência. Pare de


fugir da vida e do enfrentamento de si mesmo. Aceite sua mor-
talidade e acolha de bom grado as provações que Deus coloca
na sua frente. Não peça a Deus para desvia-lo das pedras do
caminho, mas peça que Ele te ajude a abrir seus olhos, para
que você possa enxergar por si mesmo… e ser feliz na luz, e
não na escuridão. Você preferia ser um cego com um excelente
guia, ou preferia enxergar e ver as coisas como são? Ninguém
quer ser cego… por que então fechamos nossos olhos para a
vida como ela é em essência? A escuridão só existe em você
pela sua insistência em manter os olhos fechados.

Então sim… um anjo sempre guia nossos passos. Mas os se-


res angelicais nos guiam para dentro de nós mesmos e não
para fora.

E você, está fechando os olhos para algo em sua vida?

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A MENSAGEM SAGRADA DAS FLORES

Você compreende a mensagem das plantas e das flores?

A mensagem das flores é um princípio sagrado da vida. O ser


humano deveria observar mais as plantas e as flores… e as
lições que elas nos passam a todo momento.

Quando você estiver passeando na natureza, procure observar


uma plantinha e suas flores. Nesse momento, lembre-se que
antes de ser planta, arbusto ou árvore, ela era uma sementi-
nha, pequenininha, parte de outra planta maior. Ela se des-
prendeu da planta mãe, perdendo toda a proteção que este ve-
getal maior lhe dava. Ela caiu no solo e ficou muito tempo sem
poder se mover. Ficou tão imóvel e esquecida ali que começou
a afundar no solo. O solo foi absorvendo a sementinha aos
poucos, como faz com todas as sementes e ela começou a ficar
no escuro. À medida que ia afundando, ela caia numa escuri-
dão ainda mais profunda. Ela perdeu tudo… nada mais restava
para ela, a não ser obscuridade e um vazio profundo.

Então, o milagre acontece… É justamente nesse momento que


a sementinha começa seu processo de nascimento. Ela perdeu
tudo, foi abandonada pela planta mãe, caiu no chão, ficou pa-
ralisada, depois afundou no desespero de uma escuridão e de
um vazio. Nesse momento, ela começou a nascer ou renascer.
A alquimia sagrada da natureza começa sua grande obra. Fu-
rou o bloqueio do solo pesado da materialidade e orientou-se
em direção a luz. A luz foi seu guia; ela rompeu a camada
grossa do solo e nasceu para fora da terra, para a luz, para a
floresta cheia de vida. Ela desabrochou, tornando-se uma linda
plantinha. Após um tempo, ela começou a florescer; uma linda
e perfumada flor despontou, repleta de alegria e frescor diante
da nova vida, desse maravilhoso despertar.

Todos nós somos essa sementinha. Perdemos a proteção, ca-


ímos no “chão” do real, ficamos paralisados em vários aspec-
tos, começamos a afundar numa escuridão e num vazio. Mas
como nos mostra a sagrada mensagem das plantas e flores: é
justamente esse o momento, a oportunidade, o instante do re-
nascimento. É tempo de desabrochar, de florescer, de despon-
tar para a verdadeira vida.

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Essa é uma mensagem que deve ficar para sempre gravada
no íntimo de todos nós. É o grande aprendizado que a planti-
nha e a flor nos transmitem a cada momento. Sempre que você
observar uma plantinha e uma bela flor, lembre-se da sagrada
mensagem da sementinha. Essa semente somos todos nós.
Somos a semente do ser que vai desabrochar para o infinito e
a eternidade.

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NOSSO EGO FERIDO

Um homem foi procurar um sábio e perguntou:

– Mestre, fui muito ofendido por uma pessoa e estou com ódio
de tudo isso. O que você me aconselha?

O sábio disse: venha cá, meu filho, para que possa te orien-
tar.

O homem se aproximou e ficou aguardando. O sábio en-


tão pressionou forte seu ombro direito. O homem soltou um
grito de dor! Havia uma ferida em seu ombro. O homem per-
guntou:

– Mestre! Você enlouqueceu? Por que pressionou assim a fe-


rida que tenho no meu ombro direito? Doeu bastante…

O sábio respondeu:

– Doeu muito, não é? Agora vou tocar no seu ombro es-


querdo com a mesma força. Diga-me o que sente…

O sábio pressionou o ombro esquerdo do homem. O homem


disse:

– Agora não sinto nada mestre.

– Por que você não sente nada? Perguntou o mestre.

– Ora mestre, eu não sinto nada nesse ombro porque aqui


não existe uma ferida. Ao contrário do ombro direito, onde
existe uma ferida que faz meu ombro ficar sensível a qualquer
toque.

O sábio disse:

– Exatamente. Só dói onde existe uma ferida, ou seja, onde


estamos de algum modo sensíveis diante das ocorrências ex-
ternas. O mesmo acontece com as ofensas, as agressões ver-
bais, as calúnias, as difamações etc. Uma pessoa te ofende e
isso te afeta porque existe uma sensibilidade em você. E essa
sensibilidade vem de uma “ferida”, uma fraqueza, uma falta,

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uma carência etc. E tudo isso vem do nosso ego, do nosso or-
gulho, da nossa vaidade.

O homem prestava bastante atenção nas palavras do sábio.


Este concluiu:

– É necessário então curar essa ferida, resolver essa sensibili-


dade… e isso se faz deixando de lado o nosso ego. Não ha-
vendo mais ego, não há mais como alguém tocar nas nossas
feridas, pois o que nos deixa sensíveis a tudo é nosso ego fe-
rido. Quando você resolver isso, todos podem te ofender de
diversas formas: você não sentirá nada.

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VIVENDO A VIDA

Seja o que for, qualquer coisa que te ocorrer, fique em paz com
isso.

O bom ou o ruim que te chega, não desanime nunca… procure


ser feliz com cada coisa que acontece.

Se desanimar, não sofra por ter desanimado. Trate o desânimo


como algo normal. Não se identifique com ele, pois isso não é
seu nem é você. Nenhum sentimento ou estado de ser faz parte
de nós, mas apenas passa por nós, fica um tempo e depois vai
embora.

Qualquer notícia ruim, qualquer perda, qualquer desalento,


qualquer sofrimento, qualquer dor que lateja, quaisquer angús-
tias ou aflições internas, não se preocupe com nada disso. Seja
livre em relação a tudo o que sente e faz. Nada pode te abalar,
afinal, você é um filho de Deus perfeito. Nada deve ser alvo de
nossas preocupações. Sinta-se livre em relação a tudo.

Não tente impor nada a ninguém… e se alguém tentar impor


algo a você, não se preocupe, não se abale, não sofra por isso.

Não cultive crenças arraigadas. Não creia que você “precisa


muito” fazer isso ou aquilo. Não crie conceitos cristalizados em
sua mente. Não se deixe influenciar pelas coisas do mundo.
Não se apegue a nada. Não crie obrigações. Não se cobre por
nada. Faça o que sentir que deve fazer sem autocobranças.

Pense sempre assim: “Se fiz, fiz… se não fiz, não fiz. Tudo é
perfeito no universo de Deus”. Não se culpe. A culpa não serve
para nada e só nos atrasa. O que você receber, diga: “Obrigado
Deus”. Se não receber nada diga: “Obrigado Deus. Confio em
Teus desígnios. Teus planos são melhores que os meus”.

Seja feliz com o que você tem, ao invés de ficar sofrendo e


desejando o que você não tem. A felicidade com o ter ou o não
ter é o essencial na vida. O essencial é ser feliz, nada mais
importa.

O essencial não está no ter ou no não ter, pois como diz a má-
xima de sabedoria: “O essencial é invisível aos olhos”.

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Não fique fantasiando uma vida diferente da sua. Não imagine
situações fora de sua realidade. Aceite sua vida como ela é…
Viva o real dentro da sua existência. “Viver a vida que se tem;
é algo que nos faz muito bem”.

Sua vida é sua e de mais ninguém. É o que você tem para viver
agora. Se no futuro for diferente, ótimo. Se não for, ótimo tam-
bém. Não fique triste com sua vida, pois essa foi a vida que
Deus te deu. Pode haver algo mais precioso do que viver a vida
que Deus nos ofereceu para o desenvolvimento do nosso ser?

Não fique afirmando para si mesmo: “Isso é muito importante”.


“Isso tem muito valor”… ou: “Isso é muito verdadeiro”. Para
Deus, tudo é importante. Tudo tem muito valor. Tudo é verda-
deiro. Não há uma coisa mais importante que outra. Não há
uma pessoa, coisa ou situação mais valorosa que outra. Não
há nada que seja mais verdadeiro do que qualquer outra coisa.
Não existe o verdadeiro e o falso. Existe apenas o desejar acre-
ditar na ilusão ou buscar a verdade.

Quando você determina o que é bom, valoroso, verdadeiro e


importante, você começa a sofrer e perde sua paz e sua felici-
dade. Quando você determina o que é bom, você cria automa-
ticamente o mau. O mau será sempre aquilo que é diferente do
que você criou como bom. Portanto, não crie o bom, para não
criar também o mau e sofrer por ele.

Por isso, não busque mais o bom e nem evite o mau. Deixe de
lado os conceitos de bom e mau, certo e errado, positivo e ne-
gativo. Seja feliz com o que te acontecer, seja o que for. Não
se importe com o restante. Ser livre de tudo e feliz é o que im-
porta. Ser desprendido, espontâneo e livre é a maior dádiva
que o ser humano pode alcançar neste mundo.

Deixe que Deus cuide de tudo… assim, tudo estará sempre em


harmonia.

Entregue-se a Deus com total fé e confiança. Deixe que Deus


guie sua vida.

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PRECE DE COMUNHÃO

Já falamos sobre a prece de comunhão no texto “Tipos de


Prece”. Nesse texto definimos quais são os diferentes tipos de
preces acessíveis ao ser encarnado nesse mundo. Vamos
agora falar um pouco sobre a chamada “Prece de Comunhão”
ou “Oração de Comunhão”. Esta se constitui no tipo mais ele-
vado de prece que existe e que traz as maiores dádivas que o
ser humano pode alcançar.

O que é a prece de comunhão? Em linhas gerais, é o tipo de


prece onde o ser aspira entrar em contato direto com Deus.
Nas orações convencionais podemos pedir, louvar, agradecer,
fazer uma intercessão pelo bem de uma pessoa etc. Já na
prece de comunhão, a pessoa não busca nenhuma destas coi-
sas. Ela não busca pedir coisa alguma; ela não deseja ganhar
nada; não aspira nenhum benefício vindo do Alto. Não quer
casa, carro, emprego, posses, realização de sonhos etc. A
prece de comunhão serve tão somente para estar com Deus,
sentir a Deus, banhar-se na luz de Deus. Essa é a prece que
dispensa qualquer palavra; dispensa todo tipo de oração pro-
nunciada, pois para se harmonizar com Deus basta manter
nossa mente e coração tranquilos.

Na prece de comunhão é imprescindível não existir qualquer


expectativa de nada, nem de “sentir Deus”. Nossa mente con-
creta e objetiva não é capaz de alcançar o divino e isso ocorre
porque a mente só consegue assimilar aquilo que é limitado,
aquilo que tem uma forma, aquilo que possui uma aparência
externa. Mas como disse Jesus: “O Reino de Deus não pode
ser percebido com aparência externa” e Jesus completa em
outra passagem afirmando que “O Reino de Deus está dentro
de vós”. O Reino está dentro e não fora. Isso significa que
nosso interior é o receptáculo da presença divina. Nosso íntimo
é o templo sagrado onde Deus pode manifestar sua presença.
Por outro lado, Deus é algo de indefinível, ilimitado, infinito e
eterno. Não podemos sentir a Deus antes que nosso ser se
abra, ao menos em parte, para o infinito. A prece de comunhão
é, com efeito, a prece que nos faculta uma harmonização do
ser com o infinito, que é Deus. Este é um contato com o uni-
verso de infinitas possibilidades.

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A comunhão com Deus não é algo que se faz; é algo que sim-
plesmente acontece. Sem essa consciência, a comunhão com
Deus não ocorrerá. Não é algo que vem da “ação”, mas algo
que vem da “receptividade” do nosso ser. Tampouco é um
efeito de nossa vontade; mas um estado de espírito que per-
mite Deus estar em nós e agir através de nós, expressando em
nosso ser a Sua própria vontade divina. Primeiro de tudo pre-
cisamos ter a intenção de entrar em contato com Deus, mas
tão logo o processo se inicie, devemos abandonar toda e qual-
quer intenção e nos colocar receptivos a ação do espírito uni-
versal em nós. Para tanto, é preciso que a pessoa se esvazie
de si mesma, liberte-se de toda vontade individual, de toda ex-
pectativa, de todo desejo e de toda crença que tem em Deus.
Imagine um copo que está cheio de lama. Vem alguém e coloca
uma água límpida e cristalina nesse copo. O que há de ocorrer?
A água não poderá preencher o copo, pois o copo está abarro-
tado de lama. Em nosso ser ocorre o mesmo. É necessário pri-
meiro se esvaziar de todo tipo de expectativa de ganho ou van-
tagem individual, que cria toda lama do nosso ser, para so-
mente depois colocar-se receptivo a presença divina.

É certo que Deus não é aquilo que cremos. Deus não cabe em
nossas diminutas crenças e ideias. Deus não é algo criado em
nossa mente, como um conceito ou uma teoria. Ele é algo de
transcendente, de infinito e de eterno, que não podemos definir
nem pensar a respeito. Deus não está ao alcance do nosso
pensamento. Por isso, é necessário abandonar crenças, ex-
pectativas de quaisquer tipos, desejos e interesses individuais.
É necessário também tirar a atenção dos sentidos objetivos:
visão, audição, tato, paladar e olfato. Desloque sua consciência
para além dos sentidos, pois somente assim poderemos sentir
o infinito e o eterno.

Inicie sentando-se tranquilamente numa cadeia ou na posição


que você deseje. Apague a luz e feche os olhos. Faça algumas
respirações profundas, inspirando e expirando, sem interrup-
ção entre as inspirações e expirações. Depois relaxe comple-
tamente. É muito importante ter uma atitude de total entrega a
Deus nesse momento. Deixe de lado todas as preocupações,
toda pressa, toda a correria e permaneça voltado apenas à en-
trega total a Deus. Devemos considerar que Deus está em tudo
e tudo está em Deus. Deus é onipresente, onipotente e onisci-
ente. Não há coisa alguma que Deus não seja, não faça e não

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saiba. Tudo é Deus e nesse momento, você também é infinito
e eterno. Isso não é uma suposição, uma hipótese ou uma te-
oria. Essa é a realidade do universo. O Todo está em tudo e
tudo está no Todo. E você já possui a presença de Deus em
você, precisa apenas dar-se conta disso.

Mais uma vez vamos salientar que o contato com o divino não
é algo que se faz, mas algo que simplesmente acontece. Não
é você que vai descobrir Deus em você pela sua habilidade,
mas Deus que vai se revelar a você. Para que essa revelação
ocorra, é preciso um certo estado de espírito de pureza e des-
prendimento. “Bem aventurados os puros de coração, pois ve-
rão a Deus”. Deixe seu ser vazio de qualquer coisa. Não tenha
expectativa nenhuma. Não deseje nada. Não queira ganhar al-
guma coisa ou experimentar algo. Apenas deixe tudo fluir infi-
nitamente e entregue-se a Deus com total confiança, como
uma criança se entrega nos braços de sua mãe. Fique tran-
quilo, relaxado, em silêncio e despreocupado. Deixe seu ser
livre de tudo… Não espere resultados.

Aos poucos algo vai começar a acontecer… O que você come-


çar a sentir, procure não pensar sobre isso, apenas deixe fluir.
Lembre-se que você não sabe o que é sentir a presença do
infinito e nem pode recorrer à memória de experiências passa-
das, pois será uma experiência totalmente diferente de tudo o
que você conhece, repleta de novidade e frescor. Lembrando
também que a harmonização com Deus não se dá no plano
emocional, mas num plano interior que o ser humano ainda não
conhece. Assim, simplesmente deixe acontecer… deixe es-
tar… deixe ser. Vamos lembrar a mensagem que Moisés dei-
xou em êxodo quando disse: “Eu Sou o que Eu Sou”. Apenas
ser… mais nada.

A Prece de Comunhão é, sem sombra de dúvida, a experiência


de felicidade infinita mais maravilhosa que você terá nessa
vida. Nenhuma satisfação material pode ser comparada a ela.
O ser humano acredita que sabe o que é a verdadeira felici-
dade, mas ele só conhece a satisfação dos desejos ou o pra-
zer. A felicidade infinita e paz eterna só existem quando entra-
mos em contato com o divino. Essa é a experiência direta da
essência de todas as coisas, que está em você… e está em
tudo.

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A JANELA DA ALMA

Um homem foi ter com um mestre e lhe disse:

– Mestre, por que Deus não me abençoa? Deus não deveria


abençoar a todos com a felicidade, a paz, a justiça, o amor, a
liberdade, a plenitude, etc?

O mestre respondeu:- Não é Deus que escolhe derramar as


Suas bênçãos sobre uma ou outra pessoa. As pessoas é que
devem se abrir para as bênçãos que vem continuamente de
Deus.

Preste atenção nesse ensinamento: Julgar que Deus abençoa


uns e não a outros seria absurdo, concorda? Por que Deus iria
privilegiar uns em detrimento de outros de forma arbitrária?
Deus emite suas bênçãos a todos eternamente, assim como o
sol brilha para todos sempre, a todo momento. É da natureza
do sol nunca parar de brilhar.

Quando alguém diz: “Quero pegar um sol”. O que essa pessoa


deve fazer? Deve esperar que o sol lance seus raios sobre ela
mesmo que ela esteja dentro de um apartamento sem nunca
sair? Ou essa pessoa deve se deslocar até, por exemplo, uma
praia, e lá deitar uma cadeira sobre a areia, sentar-se e apro-
veitar os raios do sol? Obviamente a pessoa deve ir ao encon-
tro de onde tem sol, onde ela deve se colocar numa posição
em que os raios de sol a banhem em abundância… e não es-
perar que o sol venha até ela. Não adianta ficar presa dentro
de um apartamento e aguardar que o sol lance seus raios ple-
namente lá.

Esse processo é semelhante a uma pessoa que vive num


quarto em que existe uma janela toda suja e empoeirada. O sol
está sempre brilhando, sempre emitindo seus raios. Ele nunca
para de brilhar em todas as direções. Mas quando nossa janela
está suja… os raios do sol não conseguem entrar em nosso
quarto, por mais que o sol brilhe lá fora. O que devemos nós
fazer a esse respeito? Precisamos simplesmente limpar a su-
jeira que bloqueia a nossa janela. Limpando nossa janela e dei-
xando-a livre, sem nenhum bloqueio, sem sujeiras, sem impu-
rezas, sem manchas, os raios solares entrarão imediatamente

25
em nosso quarto, iluminando tudo e nos banhando sempre com
seu calor e luz.

O mesmo ocorre entre Deus e os seres. Deus, que pode ser


comparado a um sol espiritual, lança seus raios a todos os se-
res do universo a todo momento. Mas nem todos os seres lim-
pam a sua janela, ou vão de encontro aos locais onde podem
se banhar livremente com seus raios infinitos. Podemos afirmar
que poucos são aqueles que tomam o cuidado de limpar a sua
janela, mas mesmo assim ficam pedindo incessantemente que
Deus ilumine seu quarto.

De que adianta ficar orando a Deus e pedindo bênçãos, bên-


çãos e mais bênçãos, se nós mesmos não cuidamos de limpar
nossa janela para receber os raios solares de infinitas bênçãos
divinas?

Limpe primeiro a sua janela, purifique seu ser de todas as má-


culas e manchas mentais e emocionais, antes de ficar pedindo
que Deus derrame suas bênçãos sobre nós. Não adianta pedir
se você não faz o que precisa ser feito para receber a luz de
Deus. O sol divino não pode iluminar seu quarto a não ser que
você limpe o vidro da janela de sua alma.

O homem ficou muito feliz com a explicação do mestre, agra-


deceu e partiu, tornando-se outra pessoa.

E você, já limpou a janela de sua alma para receber os raios


solares do infinito?

“Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo aparece-


ria para o homem tal como é: infinito.” (William Blake)

26
AS BEM-AVENTURANÇAS

As chamadas “bem-aventuranças” são discursos proferidos por


Jesus em que este define os princípios e valores do bem viver,
estabelecendo regras morais para todos que aspiram um dia
sentir a felicidade eterna no Reino de Deus. Lembrando que,
segundo Jesus, o Reino de Deus está dentro de cada um. Elas
são expostas em Mateus capítulo 5 no chamado “Sermão da
Montanha”. Também são encontradas em Lucas no capítulo 6,
em menor número

Mas o que é um bem-aventurado? Bem-aventurado é basica-


mente uma pessoa que encontrou a verdadeira felicidade.
Essa não é a felicidade humana ou mundana, que pode ser
confundida com a satisfação de desejos materiais. A felicidade
das bem-aventuranças é a felicidade eterna, que nada nesse
mundo pode dar ou tirar. É uma felicidade que não é desse
mundo e que só existe no plano da alma. Os bem-aventurados
também podem ser compreendidos como os “abençoados”,
aqueles que receberam a benção infinita de Deus pelo mérito
da prática dos valores mais essenciais da vida espiritual.

Vejamos então as bem-aventuranças:

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o


reino dos céus; (Mateus 5, 3)

Jesus afirma que são bem-aventurados, felizes, ou abençoa-


dos todos aqueles que são “pobres de espírito”. Mas o que sig-
nifica ser pobre de espírito? O pobre é aquele que tem poucas
posses e vive apenas com o básico ou nem isso. Pobre de es-
pírito é aquele que é pobre interiormente, ou seja, aquele que
não tem grandes desejos, ambições, que consegue ser feliz
com pouco levando uma vida de simplicidade. O pobre de es-
pírito não tem grandes anseios, sonhos mundanos ou desejos
de realizações maravilhosas. O pobre de espírito consegue ser
feliz com o que tem… e sentir a paz com o que lhe acontece.
Ele é principalmente a pessoa que tem a virtude da humildade,
que não se coloca acima das outras e não quer ganhar de nin-
guém, ou vencer uma competição a todo custo. Ele não deseja
elogio, fama ou adoração pessoal. O pobre de espírito está va-
zio de si mesmo, ao contrário do ególatra que está cheio de si
mesmo e quer seu ego em destaque. Estando vazio de si

27
mesmo, o pobre de espírito é como o copo vazio que, por estar
vazio, pode ser preenchido com a “água da vida”, que vem de
Deus. Não será um bem-aventurado aquele que não for pobre
de espírito, ou seja, que não for humilde. Ser humilde é a pri-
meira condição da vivência da plena felicidade em Deus. Não
por acaso Jesus cita os pobres de espírito em primeiro lugar.
Aquele que não consegue despojar-se do orgulho e do ego-
ísmo, não está apto a felicidade eterna. Aquele que não se li-
berta do seu ego, não pode viver com Deus.

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão con-


solados; (Mateus 5, 4)

Abençoados são aqueles que choram, pois eles vão receber o


consolo. Não o consolo dos homens, que é limitado e condici-
onado, mas o consolo do Alto, de Deus, do infinito. A pessoa
que chora deixa suas emoções fluírem e não tem medo de de-
monstrar seus sentimentos. Não fica se reprimindo e imagi-
nando se outros vão julga-la fraca. Quem chora pelas coisas
do mundo se abre para a alegria do espírito. Quem chora por
aquilo que perdeu encontra o tesouro do céu que nunca poderá
ser perdido. O chorar significa sofrer por aquilo que é passa-
geiro, por aquilo que se perde, que termina, que se degrada.
Todos os que choram e sofrem pelo que passa um dia encon-
trarão consolo naquilo que não termina, que não se degrada,
que não se perde… esses são os princípios do espírito, eternos
como Deus. Aqueles que choram terão o consolo que vem di-
retamente da vida em Deus.

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a


terra; (Mateus 5, 5)

Os mansos são as pessoas calmas, tranquilas, sossegadas,


meigas, serenas. Eles não gostam de brigas, de guerra, não
fazem disputas nem entram em discussões estéreis para afir-
mar suas crenças e vontades, mas vivem em paz com as cir-
cunstâncias da vida. São calmos no agir, falar, pensar e sentir.
Não se deixam afetar pelas contrariedades e conflitos da exis-
tência. Não ficam lutando contra a vida e as pessoas. Lutar
contra é um dos caminhos que levam os seres humanos à in-
felicidade e a angústia existencial. Os mansos não se irritam,
não se deixam dominar pela cólera. Não se ofendem com ata-
ques e nem desejam revide, pois sabem que isso não os trará

28
nada de bom. Por isso, nada pode abalar sua calma e tirar sua
paz. Os mansos não têm pressa e nem vivem na correria do
dia a dia, estressados e ansiosos. A paz interior é a sua maior
riqueza.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, por-


que eles serão fartos; (Mateus 5, 6)

Abençoados são aqueles que procuram ser justos em tudo o


que fazem. Não querem levar vantagem em nada. Não são “es-
pertos” e tentam se dar bem em cima dos outros. Quem sempre
tenta levar vantagem, quem não é justo, está longe ainda do
Reino dos bem-aventurados. Quem engana, não está sendo
justo. Quem trai, não está sendo justo. Quem tenta passar uma
imagem daquilo que não é, também não está sendo justo. Os
hipócritas não são justos, pois pregam uma coisa e fazem ou-
tra. Quem anseia pela justiça um dia encontrará essa justiça
em sua vida.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcan-


çarão misericórdia; (Mateus 5, 7)

Misericordiosos são aqueles que tem compaixão pelos seus


semelhantes; são os que tem empatia, que se colocam no lugar
dos outros e tentam enxergar a vida pela perspectiva do outro,
e assim, são compreensivos e tolerantes com todos. Misericor-
diosos não buscam vingança, não querem retaliações. Eles
ajudam seus irmãos sem esperar nada em troca. Quem é mi-
sericordioso com outros vai receber essa mesma misericórdia,
pois quem ajuda, será ajudado; quem faz o bem, vai receber
esse mesmo bem de volta; quem ama, será amado. Mas quem
ajuda pensando em recompensas futuras, ou esperando grati-
dão, nada receberá. Os misericordiosos alcançarão misericór-
dia, mas os intolerantes, aqueles que não tem empatia pelos
seus irmãos humanos, esses estão longe da felicidade eterna
prometida por Deus aos seus filhos.

Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão


a Deus; (Mateus 5, 8)

Os limpos ou puros de coração verão a Deus. Jesus nos mostra


que somente aqueles que tem a verdadeira pureza podem ver
e sentir o divino. Ser puro é não ficar sempre vendo maldades

29
nas coisas e pessoas. Puro de coração é aquele que enxerga
apenas o bem, que não tem mágoas, angústias, culpas, não
tem ódio dos seus semelhantes. Aquele que vê sempre erro
em todos e em si mesmo, não pode experimentar a verdadeira
pureza. Puro de coração é quem vê a vida com inocência, tal
como o olhar de uma criança. O puro de coração não mente,
não dissimula, não manipula, não tenta parecer algo que não
é. O puro é o que é… sem rodeios, sem distorções, sem dis-
farces. Aquele que é limpo por dentro não tem preocupações e
nem se desgosta com os acontecimentos do mundo, pois se
tudo é de Deus, o que pode lhe provocar desgosto? Ele é limpo
de toda maledicência, crítica, julgamento e de toda impureza
mental e emocional.

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão cha-


mados filhos de Deus; (Mateus 5, 9)

Pacificadores são aqueles que procuram estabelecer a paz por


onde passam. Buscam dirimir ou solucionar os conflitos entre
pessoas e nações. O pacificador não pode realizar a paz a não
ser que tenha essa mesma paz em seu coração. A paz que ele
distribui ao mundo é um reflexo da paz que ele encontrou den-
tro de si mesmo. Só vive em paz aquele que passa a considerar
a paz como um valor inviolável. Se alguma briga tira sua paz,
ele já não está colocando a paz acima da briga. Se uma perda
financeira tira sua paz, ele não está colocando a paz acima do
dinheiro. É preciso elevar a paz interior como sendo o princípio
máximo da existência e a maior aspiração da alma. Somente
assim a pessoa pode se tornar uma pacificadora: aquela que
tem a paz e leva as gotas sagradas da paz ao mundo.

É muito importante que todos coloquem em práticas esses en-


sinamentos em suas vidas. Não devemos praticar as bem-
aventuranças porque é o certo, ou porque Jesus ficará satis-
feito conosco, ou para escapar do inferno de penas eternas.
Devemos colocar esses preceitos em prática porque é a única
chance dos seres humanos serem felizes. Não há felicidade
para quem não segue estes preceitos. Mas quem os vivencia
em toda a sua plenitude não estará feliz no Reino de Deus num
futuro distante, mas será feliz aqui e agora… e aqui e agora
será, finalmente, o Reino de Deus.

30
COMO SÃO OS SERES QUE VIVEM NESSE MUNDO?

Como podemos representar os seres que vivem em nosso


mundo?

Os seres que vivem no mundo humano, em sua grande maio-


ria, podem ser simbolizados pelo jovem que vai a uma cidade
buscar um documento muito importante. Esse documento é
fundamental para sua entrada na melhor universidade do país.

O jovem faz sua viagem a essa cidade onde encontrará o do-


cumento de que precisa numa repartição pública local. Resta
somente um dia do prazo para a retirada do documento. Depois
do prazo expirado, não é mais permitido solicitar o documento.

Assim que adentra a cidade, o jovem se encanta pelas belezas


do lugar. Começa a caminhar pelos parques, vendo a graça
dos pássaros e seu magnífico canto. Ele atravessa os monu-
mentos da cidade e fica maravilhado com sua harmoniosa ar-
quitetura. Observa as mulheres que moram no local e fica fas-
cinado pelo seu jeito, seu modo de falar, de agir, pelo seu olhar
etc.

O jovem está tão encantado pelos atrativos da cidade que, ao


observar as horas, percebe o relógio marcando 18:15hs. Ele se
dá conta de que precisava pegar o documento na repartição
pública, caso contrário, não poderia ingressar na universidade.
Sai então correndo pelas ruas e chega, finalmente, bastante
cansado, à repartição. Para sua total tristeza, o segurança lhe
diz que a repartição já encerrou seu expediente do dia. O jovem
cai de joelhos e ,aos prantos, percebe que jogou no lixo a
grande oportunidade de sua vida, que era cursar a universi-
dade.

As almas que vem a esse mundo são semelhantes a esse jo-


vem. Os espíritos vêm a matéria com um propósito: trilhar o
caminho do despertar espiritual, a fim de se tornarem eterna-
mente felizes como almas imortais que são. No entanto, ao
chegarem na matéria, começam a se distrair com as coisas do
mundo; deixam-se envolver pelas quimeras da existência; vão
se identificando com coisas que são passageiras e não trazem
a felicidade eterna do espírito; perdem-se em sonhos humanos
ilusórios que trazem apenas satisfações efêmeras e condicio-

31
nadas; começam a desejar aquilo que passa, aquilo que é pe-
recível… e acabam se perdendo nas paixões e apegos do
mundo. Quando se dão conta do tempo perdido, correm para
fazer o que é necessário e importante, mas, a essa altura, já
pode não dar mais tempo.

32
POR QUE SOMOS AFETADOS PELA MENTE E EMOÇÕES?

Por que somos tão afetados pelo conteúdo de nossa mente e


de nossas emoções? Por que nos desesperamos tão facil-
mente? Por que entramos em depressão? Por que tudo o que
vem em nossa mente tem um poder tão destruidor sobre nós?

A resposta é simples. Porque nós mimamos a ambos, tanto


nossa mente quanto nossas emoções, tal como se mima uma
criança. O que acontece quando se dá muitas coisas a uma
criança? Ela pode se tornar muito exigente, querendo sempre
mais e mais. Ela pode começar a gritar, a espernear, a fazer
birra, a chorar exigindo que sejam cumpridas as suas vonta-
des.

Tal como uma criança, quando o pai cede à chantagem ou a


birra do filho a fim de que ela pare de chorar e lhe dá o que ela
quer, assim também nossa mente chora, grita, esperneia, até
conseguir o que quer.

Sim, muitos ainda não se deram conta disso, mas nossos cor-
pos mental e emocional se comportam de forma semelhante a
crianças mimadas e cheias de vontades. Quanto mais a cri-
ança faz birra e mais o pai cede a chantagem da criança, mais
o filho vai gritar e espernear no futuro para conseguir aquilo que
deseja.

No entanto, o que os pais mais conscientes e menos influenci-


áveis costumam fazer nestes casos a fim de educar a criança?
O pai ou a mãe deixam a criança chorar, gritar, exigir, esper-
near, fazer toda birra possível e dizem “não” e acabou. O que
costuma acontecer aqui? A tendência é a criança ir aos poucos
diminuindo as exigências, até que chega o momento em que
ela interrompe sua birra, acaba esquecendo e vai fazer outra
coisa. Assim, se os pais não dão importância à birra da criança;
se eles não cedem às vontades do filho; se eles se recusam a
suprir todas as suas vontades e requisições, a criança continua
chorando, chorando… até que se dá conta de que suas inves-
tidas não surtem mais efeito… então suas demandas cessam.
A experiência mostra que, quanto mais os pais cedem, mais a
criança faz birra e exige o que quer… ao contrário, quanto mais
os pais deixam a criança chorar e não se rendem aos caprichos

33
do filho, mais rapidamente ele interrompe seus prantos e gritos,
pois vê que eles não geram mais qualquer resultado prático.

Nossa mente e nossa emoções agem da mesma forma. No


caso, por exemplo, da mente ser invadida de preocupações,
quanto mais a pessoa se curva diante dos “gritos” da preocu-
pação, da tensão, da aflição, dos receios que ecoam na mente,
mais a mente vai novamente “gritar” sobre preocupação, mais
ela vai gerar aflições, mais ela se acostumará com tensões,
mais ela vai ecoar receios etc. Mas quando a pessoa não se
coloca submissa e não alimenta a mente “gritando” em preocu-
pações, mais ela vai perceber que suas demandas não criam
raízes e tampouco produzem frutos. A mente vê a inutilidade
de ficar martelando nesse tema e… ou diminui seu falatório…
ou para completamente.

Precisamos tratar a mente e as emoções como essa criança


mimada e birrenta: quanto mais trela você der e mais fizer as
vontades dela, mais ela vai continuar gritando suas deman-
das, preocupações, culpas, mágoas, traumas etc.

34
POR QUE DEUS NÃO NOS SALVA?

Um homem estava à procura de um grande sábio. Muitos di-


ziam que se tratava de um sábio que podia explicar qualquer
tema espiritual, sempre de uma forma que as pessoas compre-
endessem. O homem seguiu as instruções do mapa e chegou
na casa do sábio.

O sábio estava sentado, tranquilo, em estado de meditação. O


homem saudou o mestre e perguntou:

– Mestre, vim até aqui para beber um pouco dos seus ensina-
mentos. No entanto, uma questão essencial que gostaria de lhe
fazer e que ninguém nunca conseguiu explicar é a seguinte:
por que Deus permite que tantas pessoas morram todos os
dias, dos mais diferentes motivos, fome, doenças, acidentes
etc? Por que Deus não salva estas pessoas? E a segunda per-
gunta é: por que Deus não salvou Jesus da morte na cruz, se
Jesus era um homem tão bom e amoroso?

O sábio apenas respondeu:

– Deus salvou Jesus, assim como salva as pessoas todos os


dias.

– Salvou senhor? – perguntou o homem – Mas então como Je-


sus morreu na cruz?

O sábio olhou para o homem e perguntou:

– Você quer que Deus salve a vestimenta?

O homem não compreendeu e pediu que o sábio explicasse


melhor. O mestre disse:

– Imagine a seguinte situação: sua casa começou a pegar fogo.


O fogo vai se alastrando rapidamente por todas as partes da
casa e seu filho está no quarto. O que você faz? Você salva o
seu filho ou salva a roupa ou as roupas do seu filho?

– Eu salvo meu filho, é lógico. As roupas não têm nenhum valor


diante do valor da vida do meu filho.

35
O sábio respondeu:

– O mesmo faz Deus, o Senhor de todo o universo, a inteligên-


cia infinita. Deus dá mais valor a vida dos seus filhos do que as
vestimentas ou as roupagens que eles usam ao longo das en-
carnações. Nosso corpo material é mera vestimenta temporá-
ria; é um envoltório descartável, perecível, o pó da terra que
volta ao pó da terra. Por que Deus haveria de salvar o corpo ao
invés de dar maior atenção em salvar o espírito? O espírito é o
verdadeiro filho de Deus… e não o corpo material ou a perso-
nalidade humana. Por isso, no incêndio que é esse mundo ma-
terial, onde tudo se desgasta, tudo perece e tudo se destrói,
Deus salva o espírito dos seus filhos, ofertando-lhes experiên-
cias muito valiosas para sua paz eterna e felicidade eterna, que
são muito mais importantes do que os estados efêmeros, ilu-
sórios e vazios da matéria. A experiência do espírito e seu
aprendizado fica gravada nele para sempre e é para ele fonte
de eterna felicidade. Já o corpo material é como a roupa do
corpo… se rasga, amassa, se destrói, se desgasta e se perde
arrastado pela força do tempo. Este tem muito pouca importân-
cia diante da paz infinita do espírito. Por isso, Deus não salva
a roupa do filho; O Ser divino salva o próprio filho: o espírito.

36
PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA

Jesus disse…
“A que assemelharemos o Reino de Deus? Ou com que
parábola o representaremos?
É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na
terra, é a menor de todas as sementes que há na terra;
Mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas
as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as
aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra.”
(Marcos 4:30-32)
O que significa essa parábola?
A menor das sementes da terra é a que mais cresce em
direção ao céu…. e se transforma na maior das árvores.
Essa parábola tem relação com outros ensinamentos de
Jesus.
“Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos.”
“Os humildes serão exaltados, e quem se exalta, será
humilhado”
Isso significa que os menores na Terra serão os maiores no
Reino de Deus
Quem se acha grande, se apequena… e quem se apequena,
se torna grande.
Quem se acha superior, se inferioriza… e quem reconhece
sua inferioridade, se torna superior.
Chico Xavier se achava grande, ou se achava pequeno, um
cisco? Ele mesmo dizia que às vezes assinava como “Cisco
Xavier”, pois se via apenas como um pequeno cisco.
Dizia que era como um diminuto pé de grama, sem nenhuma
importância diante do cosmos infinito.
Via-se pequeno… e em sua humildade, tornou-se grande,
como uma árvore frondosa que muitas “aves” (pessoas)
vinham se sustentar em seus galhos.
Não se acreditava menos ou mais do que os outros… mas
ínfimo diante do infinito divino.
Mas por que devemos nos ver como pequenos neste mundo?
Porque nada nesse mundo é real.
Imagine alguém sendo um excepcional jogador de games.
Ele joga tanto o game que esquece de sua vida real… não
estuda, não trabalha, não se prepara para a vida verdadeira.
O que pode ocorrer com essa pessoa?
Mesmo sendo grande no videogame, ele será pequeno na
vida real, pois concentra todo seu tempo e esforço no game,

37
ao invés de focar em sua existência verdadeira.
Assim também é o homem que se concentra nas miragens e
quimeras desse mundo… e se esquece da vida eterna do ser.
Esse é o simbolismo do grão de mostarda.
Precisamos ser tal como os grãos de mostarda e nos ver
como a menor das sementes.
Dessa forma, os pequenos serão engrandecidos… e quem se
acha grande, será apequenado.
Por que isso? Porque somente entra no Reino de Deus quem
se tornar tão humilde, tão vazio de si mesmo, que se torna
capaz de permitir que Deus O preencha completamente.
Pode-se encher com água um copo que já está cheio? Não.
Da mesma forma, Deus não pode penetrar numa pessoa
cheia de conceitos, padrões de pensamentos, emoções,
traumas, crenças, neuroses, cobranças, culpas, medos,
mágoas, etc.
É preciso primeiro esvaziar esse conteúdo do copo interior,
para depois receber a “água da vida”, como disse Jesus.
Não pode se encher de Deus aquele que ainda está cheio de
si mesmo, cheio da natureza humana, cheio de orgulho, de
egoísmo e de vaidade.
O francês Nizier Anthelme Philippe, também conhecido como
Philippe de Lyon, foi um místico que diziam fazer milagres,
promover curas, conhecer o passado e o futuro e até controlar
o clima.
Philippe de Lyon dizia: “Eu sou o cão do pastor, o menor de
vós. O céu tudo me concede, pois sou o último dos seus filhos
e o menor deles. Vós que sois grandes, nada obtém. Eu, que
sei da minha pequenez, tudo posso”.
É preciso ser pequeno no mundo da ilusão, para se tornar
grande no reino eterno da verdade. Ínfimo no mundo
transitório, para começar a crescer na eternidade.
Quanto mais pobre de espírito, maior será nossa riqueza
interior e espiritual.
Quem ainda se acha grande, bom, importante, sábio,
necessário… Deus não pode preencher essa pessoa, pois ela
ainda acha que é ela que vive e não que o Cristo vive nela,
como disse o apóstolo Paulo.
Deus só pode habitar no coração dos humildes, dos pobres
de espírito, dos mansos, dos pacificadores, daqueles que se
veem muito pequenos diante do infinito.
Quem ainda se acha grande, ou médio… bloqueia a entrada
do infinito em seu interior.

38
SONHEI COM UMA ESCADA QUE LEVAVA AO CÉU

Certa vez me vi saindo do corpo físico a noite enquanto dormia


e logo me percebi em meu corpo espiritual. Vi que me encon-
trava no plano astral mais sutil, no chamado “plano espiritual”,
onde tudo era mais verdadeiro e onde a realidade da vida po-
deria nos ser revelada de forma mais direta.

Comecei a percorrer várias zonas desse plano etérico e che-


guei a um local onde existia, imponente, um imenso portal.
Nesse portal havia uma inscrição na parte de cima, que dizia
“Religiões”. Fiquei bastante curioso em entender o que aquilo
significava e decidi penetrar naquele portal. Será que alguma
revelação importante seria passada ali?

Após cruzar o portal, me vi diante de uma imensa escada; uma


escadaria que parecia não ter fim… Ela se estendia de cima
para baixo até chegar ao céu, se perdendo no infinito. Lembrei
logo da famosa escada de Jacó, mas essa era um pouco dife-
rente. Naquela escada consegui ler a palavra “Cristianismo”.
Percebi que ali próximo havia outras escadas: em uma estava
escrito “Judaísmo”, em outra “Islamismo”, em outra “Budismo”,
em outra ainda “Espiritismo”, e assim por diante. Decidi subir
na escada “Cristianismo”, pois sou cristão. Assim que comecei
a subir, percebi muitas pessoas paradas em alguns degraus.
Percebi ainda que alguns indivíduos abraçavam a escada,
prestavam cultos à escada e até mesmo faziam da escada o
seu “ídolo”. Algumas pessoas gritavam que apenas a sua es-
cada levava ao céu. Outras criticavam e julgavam quem esti-
vesse em outras escadas. O culto da escada parecia ser a prá-
tica comum de todas as escadas, sem que se desconfiasse que
todas as escadas levavam a mesmo objetivo, para o Alto. Co-
mecei a refletir: qual o sentido de se manter parado na escada
e não ascender até o infinito, se somente lá existe a felicidade
eterna e a paz eterna?

A escada podia conduzir todas as pessoas ao céu, ao reino do


infinito, mas parecia que a grande maioria não queria subir por
ela para chegar a esse reino celeste, mas preferiam ficar para-
dos na própria escada. Eles pareciam gostar mais da escada
do que gostavam de onde a escada conduzia, que era esse
divino cósmico. Percebi também pessoas vestidas de branco
que desciam pela escada e chamavam a todos para continua-

39
rem subindo, para não ficarem parados na escada, mas sim
para ascenderem ao verdadeiro objetivo da escada. A maioria
achava lindo esses homens de branco, mas para minha sur-
presa, eles recusavam-se a seguir suas orientações.

Encontrei com um desses homens vestidos de branco, e ele


me explicou o significado de tudo aquilo. Ele disse:

– Essa escada representa o caminho espiritual. Aqui nessas


diferentes escadarias estão simbolizadas as principais religiões
do mundo. A escada é o símbolo de um meio de acesso a al-
gum lugar mais elevado. A natureza das religiões humanas é
exatamente essa: a de um meio para se chegar a um fim. O
grande problema é que quase todas as pessoas ficam parali-
sadas e presas a esse meio, a esse caminho e se esquecem
do fim, do objetivo maior, que é o céu, ou Deus, ou perfeição
etc. A religião é o caminho para se chegar a Deus… A maioria
fica parada no meio do caminho, adorando o caminho, lou-
vando o caminho, aprisionada e perdida no caminho, seguindo
as regras e códigos desse caminho, ao invés de seguir pelo
caminho para chegar até o grande objetivo do caminho, que é
Deus. Qual pessoa de bom senso sobe por uma escada e de-
cide ficar ali parado no meio da escada, ao invés de subir por
ela? Essa situação parece absurda, mas é exatamente isso
que os fiéis das várias religiões do mundo fazem. No final das
contas, as pessoas seguem as religiões e não conseguem che-
gar a Deus, mas só conseguem chegar a própria religião, e ali
ficam estagnadas e não encontram a paz e a felicidade em
suas vidas.

O homem de branco concluiu:

– Não confundam jamais os meios com os fins. As religiões são


como as escadas. Caminhos de acesso a um objetivo, não são
elas mesmas esse objetivo. Se você frequenta uma religião e
está preso a ela, está burlando a ordem das coisas. Não fique
parado na religião, mas siga elevando-se a Deus.

40
ONDE VOCÊ COLOCA A SUA FÉ?

Se você coloca a sua fé em alguma realização mundana,


caso essa realização não se concretize, você perderá a sua
fé.
Aquele que embasa sua fé no pedido de uma casa para
Deus, inevitavelmente perderá a sua fé caso não receba a
casa.
Será uma grande decepção pedir, esperar e não receber o
que se deseja.
Deus não nos dá aquilo que desejamos… Ele nos concede
aquilo que precisamos.
Você daria doces a seu filho sempre que ele lhe pedisse? Ou
daria uma alimentação saudável?
Deus não nos dá o que pedimos… mas o precisamos e mere-
cemos receber.
Por isso, ninguém deve colocar sua fé nas coisas que pas-
sam, naquilo que termina, naquilo que é limitado e perecível.
Coloque sua fé numa dimensão além… não fique condicio-
nando sua fé àquilo que é efêmero.
Caso contrário, você facilmente perderá a sua fé… ou terá
uma fé capenga, vazia, mentirosa.
A fé que se baseia em receber coisas de Deus é uma grande
ilusão.
Fé é a entrega total e absoluta a um plano maior de vida, que
denominamos de milhares de formas, não importa o nome.
A entrega a esse plano infinito e eterno deve ser incondicio-
nal, sem qualquer expectativa de ganhar nesse mundo, de re-
ceber brindes de Deus. Essa é uma atitude infantil que pre-
cisa ser revista o quanto antes.
Quando você se entrega a essa realidade maior, você adquire
uma maestria diante de algo menor. Você conquista um poder
e uma liberdade diante de tudo, pois está em contato com o
poder maior da existência.
Caso estivesse numa luta, você escolheria como parceiro o
homem mais forte ou o mais fraco?
Escolheria o melhor professor do mundo para lhe transmitir li-
ções, ou o professor da esquina?
Por que então entregar sua vida às migalhas ilusórias desse
mundo limitado?
Por que colocar sua vida naquilo que é pequeno, imperma-
nente, ilusório, incompleto, imperfeito?

41
Entregue-se ao centro da vida universal… e não às quimeras
mundanas.

42
RETIRAR A FLECHA DO SOFRIMENTO

Era uma vez um homem que levou uma flechada na perna de


um de seus inimigos. Algumas pessoas viram seu sofrimento e
lhe disseram:

– Não se preocupe, vamos nesse momento retirar esta flecha


de sua perna.

Mas o homem não permitiu, afirmando que caso a flecha fosse


retirada, isso lhe causaria uma dor imensa.

Passado algum tempo, o homem continuava sentindo dor,


aquela dor latejante e contínua, a dor da flecha cravada na
perna. Ele caminhava arrastando-se pelas ruas, com sua perna
já inchada e com dificuldade de pisar no chão devido a dor.
Algumas pessoas viram seu sofrimento e foram perguntar o ób-
vio:

– Senhor, por que não tira a flecha de sua perna, já que esta
lhe causa tanta dor?

A sua resposta era sempre a mesma:

– A retirada da flecha vai me causar uma dor lancinante, prefiro


não mexer nisso para não aumentar a dor. Deixe como está.

O ser humano age exatamente dessa forma. Ele possui cra-


vado em seu interior a flecha dos apegos, dos medos, das cul-
pas, dos traumas, das autocobranças, etc, mas ele sente que
mexer na causa dessas “flechas mentais e emocionais” lhe
causará uma dor muito grande, e por isso, deixa que os apegos
continuem doendo, que os medos continuem o aterrorizando,
que as culpas continuem lhe corroendo, que as autocobranças
continuem lhe estressando.

É como a mulher que não quer largar seu casamento para não
ficar sozinha, mas se esquece que já está sentindo a dor da
solidão dentro do próprio casamento. Ou como a mãe que re-
clama do sofrimento pelas preocupações com seu filho, mas
não consegue deixar seu filho seguir sua vida livre, pois doi não
conseguir controla-lo e não tentar definir seu destino. Ou como
o homem que reclama do sofrimento da culpa pelos erros co-

43
metidos, mas não consegue largar seu grande perfeccionismo,
não admite que tem direito de errar; não aceita suas limitações.
Não quer “retirar a flecha” da negação de suas limitações, pois
diz que aceitar seus erros doi muito. Ou ainda como a mãe que
sofre por seu filho ter saído de casa, mas não consegue “retirar
a flecha” do apego que tem ao filho, pois diz que a ideia de não
ter mais seu filho ao seu lado doi muito.

Isso descreve um comportamento típico do ser humano. As


pessoas querem continuar carregando seus pesos, não que-
rem solta-los… e depois reclamam que o peso que elas decidi-
ram carregar está muito pesado. As pessoas dizem que a ver-
dade doi, que ela é cruel e árdua. Mas não sabem que viver na
mentira e nas ilusões é muito mais doloroso a longo prazo. Não
quer enfrentar uma situação para não sofrer, mas não sabe que
o não enfrentamento pode lhe gerar ainda mais sofrimento.
Não quer agir para não se prejudicar, mas o não agir pode pre-
judica-lo ainda mais. Não quer falar o que precisa ser dito para
não causar confusão, mas não entende que não deixar tudo às
claras pode causar ainda mais confusão.

As pessoas frequentemente declaram que é muito difícil largar


os apegos. Mas não acaba sendo muito mais difícil e doloroso
viver com os apegos? É muito sofrido mexer nos medos, mas
não é muito mais sofrido viver com medo? Colocar curativos na
ferida dói, mas não tratar a ferida não dói muito mais e não faz
a ferida ficar ainda mais aberta e mais dolorida? Libertar-se de
algo gera sofrimento, mas a experiência mostra que viver apri-
sionado a algo gera muito mais sofrimento. Assim, o ser hu-
mano quer se livrar da dor da flechada, mas não querem retirar
a flecha dos apegos, do orgulho, do egoísmo, das culpas, dos
medos, as autocobranças, que lhes fazem sofrer.

Não viva mais entre uma dor e outra. Retire suas flechas agora.
Isso significa remover a causa do sofrimento, seja ela qual for.
Se remover a causa do sofrimento dói, lembre-se que não re-
move-la vai fazer doer muito mais e por um período bem mais
longo. Por isso, retire as flechas. Caso contrário, você vai con-
tinuar vivendo como esse homem, que não queria retirar a
causa da dor porque esta lhe causaria dor.

44
UM SENHOR DE 99 ANOS DESCOBRIU A FELICIDADE

Desde a minha infância, eu sempre busquei o bom na minha


vida.

Buscar o bom, o agradável e o prazeroso me parecia ser o


curso natural da existência humana, assim como repelir o mau,
o desagradável e o desprazer.

Quando criança, eu queria os melhores chocolates e as balas


mais gostosas. Era muito bom poder comer coisas prazerosas.

Mas quando os doces faltavam, eu sofria por não poder come-


los. Assim, não podia viver o bom como eu queria. Quando o
bom acabava, era ruim ficar sem ele.

Na adolescência, continuei minha busca pelo bom. Tentava fi-


car com as meninas mais bonitas, ter o carro mais rápido e
mais confortável, além de ter as roupas mais gostosas de ves-
tir.

Mas quando eu não ficava com as meninas, ou quando meu


carro foi roubado, ou quando não tinha dinheiro para comprar
as roupas que eu queria, eu sofria e sentia falta de todas essas
coisas boas. O bom de antes acabava sempre se transfor-
mando no ruim depois.

Quando cheguei na fase adulta, continuei na minha busca fre-


nética pelo bom, pelo agradável. Meu objetivo naquela época
era ser rico, ter o cargo mais alto na empresa e ter as condições
mais confortáveis de vida.

Mas aconteceu que eu perdi o emprego, não consegui ser rico


como era meu sonho e minha vida nem sempre foi confortável
como eu esperava. Viver uma vida boa parecia algo cada vez
mais distante. O sonho acabou se tornando um pesadelo. Será
que ainda dava tempo de viver o bom?

Foi quando cheguei na senescência, no alto dos meus 99 anos


e mesmo bem velhinho, resolvi mudar minha percepção das
coisas.

45
Ao invés de ficar esperando sempre o bom chegar até mim,
viver na expectativa do bom, do agradável, eu resolvi viver o
bom onde quer que eu estivesse.

Não ficava mais esperando o bom chegar… mas cada coisa


que eu experimentava, cada situação que eu vivia, cada coisa
que me acontecesse, eu via ali o bom, eu transformava tudo
aquilo em algo bom.

Passei a sentir o bom em todas as coisas simples da vida. O


bom agora não era mais um acontecimento externo, mas uma
realidade interna, que se manifestava através de mim a cada
momento. Quando eu ficava esperando o bom, eu sempre dei-
xava de sentir o bom de cada momento. Esperar algo é não
viver. Quem espera, não vive, quem vive, não fica esperando,
mas vive o momento de agora, vendo o bom nas coisas simples
da vida. Assim, eu não ficava mais esperando realizar sonhos,
mas vivia a mesma felicidade do sonho no aqui e agora.

Descobri que eu era muito mais feliz vendo o bom em cada


coisa, do que esperando que o bom me chegasse de fora. Des-
cobri que não é possível passar uma existência só vivendo o
bom, pois o bom, em verdade, somos nós que criamos como
bênçãos que já existem no presente, na simplicidade de cada
momento.

Demorei 99 anos para entender que o bom não é algo que


acontece, mas que o bom existe na forma como você vive e na
forma como você encara a vida. O bom depende da leitura que
você faz das coisas e não de como as coisas acontecem. Não
é uma dádiva que vem de fora… mas uma bênção que já está
em você nesse momento. O bom e o ruim estão dentro de nós,
dentro de cada um. Uma pessoa pode receber muitas coisas
boas e não viver o bom real, pois este só existe na alegria que
brota espontaneamente de cada instante sagrado da vida. O
bom não existe de verdade… o bom só se torna real na forma
como você enxerga as coisas da vida. O resto são apenas qui-
meras.

Sim, eu demorei 99 anos para descobrir isso… e estou aqui,


revelando essa sabedoria preciosa a todos. Por isso, não perca
sua vida buscando o bom… não desperdice seu tempo bus-
cando o bom fora, mas descubra a paz e a felicidade que existe

46
em cada momento, na simplicidade da vida como ela é, num
fluxo incessante de bênçãos que você pode enxergar no aqui
e agora. Ao menos em uma pequena época da minha vida, com
a graça de Deus, eu consegui ser verdadeiramente feliz.

ASS: Um senhor de 99 anos que aprendeu a ser feliz agora,


sem esperar nada.

47
VOCÊ CRIA O SEU PROBLEMA

Muitas pessoas duvidam que o ser humano cria seus próprios


problemas. Criamos os problemas e depois sofremos pelo pro-
blema que nós mesmos inventamos. Essas pessoas acreditam
que os problemas existem externamente a elas mesmas; que
eles existem como uma força fora de nós, e assim, nos afetam.
No entanto, no Espiritualismo se ensina que os problemas não
existem como poderes externos fora de nós, mas que eles são
criados por nós e também alimentados a todo momento por nós
mesmos. Na medida que eles são criados e alimentados, eles
tomam a aparência de uma realidade fora de nós, que seria
existente por si mesma. Porém, isso é apenas uma aparência,
uma ilusão, uma percepção puramente pessoal. Somos nós os
criadores de tudo aquilo que enxergamos como sendo um “pro-
blema”.

Vamos explicar esse princípio da criação dos problemas com


exemplos simples e objetivos, para que qualquer pessoa possa
compreender e visualizar a criação dos problemas em sua vida.
Preste bastante atenção nesses exemplos, para não cair na ci-
lada de criar e manter aquilo que depois será a fonte do seu
sofrimento.

Em primeiro lugar, um mesmo problema pode ser visto por pes-


soas diferentes em intensidades diferentes. Uma pessoa pode,
por exemplo, acreditar que é um problema imenso não ter ca-
sado ainda com 35 anos de idade. Ela pode se achar velha e
incompleta por ainda não ter constituído uma família. Outra
pessoa também com seus 35 anos pode, ao contrário. Achar
muito bom estar solteira, pois não deseja viver o casamento
por considera-lo uma “prisão” e valorizar mais a sua liberdade.
Observe que duas pessoas vivendo as mesmas circunstâncias
encaram o mesmo acontecimento de formas completamente
distintas: o primeiro indivíduo vê um problema em não estar
casado e o segundo não consegue ver problema algum, ao
contrário. Diante de um mesmo acontecimento há duas pers-
pectivas diferentes, para não dizer opostas. Isso nos mostra,
de forma clara, que o problema não existe por si mesmo: o pro-
blema depende sempre de alguém que o veja, o reconheça e
o identifique como algo mau, errado, ruim, catastrófico etc.
E como a primeira pessoa criou seu próprio problema? Interna-
lizando em sua mente que ela precisa casar para ser alguém,

48
para se completar, por julgar importante ter um companheiro,
um parceiro, ou ainda criando o desejo do casamento e da
constituição de uma família. Existe aí uma crença, ideia, regra
interna ou desejo forte que se direciona ao ato de casar. Há um
valor conferido por ela mesma ao casamento e à família. No
caso da não existência de uma ideia, regra, obrigação, valor ou
desejo, não haveria problema algum em não estar casada aos
35 anos. Mas como há tanto a ideia, obrigação social ou o de-
sejo ardente de se casar, o problema está criando quando essa
ideia ou esse sentimento não encontram realização no mundo
para nossa satisfação pessoal. Nesse sentido, o problema foi
criado pela própria pessoa. A carência ou a ânsia de casar cria
o problema de não conseguir casar.

Outros exemplos podem ser dados do mecanismo pelo qual a


mente humana cria seus próprios problemas e depois sofre
com sua própria criação. Por exemplo, uma pessoa cria uma
expectativa imensa de que sua mãe é uma pessoa boa, ho-
nesta, pura, caridosa. Ela então descobre que a mãe está en-
volvida num esquema de corrupção e desvio de dinheiro da
prefeitura de sua cidade. O mundo dessa pessoa desaba, pois
ela havia criado uma imagem extremamente positiva da mãe…
Nesse momento, a decepção com a mãe é enorme, a frustra-
ção pela expectativa não confirmada é terrível. Observe que a
causa da decepção não foi outra senão a expectativa criada
por ela mesma; quem gerou a frustração foi a imagem de pu-
reza que ela criou ao longo dos anos de como seria sua mãe.
E claro… quanto maior a expectativa, maior a decepção. O so-
frimento da decepção está diretamente vinculado a quantidade
de imagem positiva gerada. Isso mostra como a própria pessoa
criou seu problema e seu sofrimento.

Outro exemplo: Um pai acredita que seu filho precisa de todas


as formas ser bem sucedido na vida e que, para isso, ele pre-
cisa ser doutor, como ele é. Seu filho não estuda, não passa
na faculdade, não consegue se formar e deseja viver de outra
atividade. O pai então passa a enxergar um grande problema
nessa situação, pois ele fixou em sua mente a ideia de que o
filho tem que ser bem sucedido. Caso o pai não tivesse cons-
truído a necessidade do sucesso em sua mente, ele não sofre-
ria pelo aparente “fracasso” do filho. O desejo pelo sucesso cria
o problema do fracasso e seu consequente e inevitável sofri-

49
mento. Mais uma vez fica claro como o ser humano cria seus
próprios problemas.

Em outro exemplo, vemos uma pessoa que é muito apegada


as suas coisas. Ela tem um forte sentimento de posse em rela-
ção ao que tem. Certo dia, um incêndio detroi quase tudo e ela
perde boa parte de seus bens. Nesse caso, o problema que ela
vê nessa situação é imenso e será diretamente proporcional a
quantidade de apego em relação as coisas. Quanto maior o
apego, maior o problema que ela verá em ter perdido suas coi-
sas. O forte sentimento de posse criou igualmente a forte sen-
sação da perda. Se não houvesse tanto apego e tanto senti-
mento de posse, não seria identificado ali um problema tão
grande e consequentemente um sofrimento tão intenso.

Esses exemplos podem ser estendidos muito mais… Por


exemplo, uma pessoa que deseja ser bonita, vai ver um pro-
blema sempre que alguém diz que ela não é tão bonita quanto
gostaria de ser. Uma pessoa que quer ser muito rica vai sofrer
quando não ganhar dinheiro suficiente. Uma pessoa que de-
seja elogios por alguma obra realizada, enxergará um pro-
blema quando as pessoas não dão o reconhecimento ade-
quado ao seu trabalho. Uma pessoa que quer muito ser famosa
perceberá um grande problema ao ser esquecida pelo público
e não estar mais em destaque. Uma pessoa que cria um sonho
qualquer vai ver sempre um problema quando não conseguir
realizar o sonho ou quando perder o sonho depois de realizado.
Uma pessoa que tem o forte desejo de ganhar cria o medo de
perder ou o sofrimento pela perda. Observe que todo problema
que posteriormente é identificado como tal nasceu primeira-
mente de uma ideia, um conceito, um desejo, uma regra im-
posta, uma dependência, uma obrigação, uma valorização de
algo ou alguém, etc, que a própria pessoa criou.

Por isso dissemos que as bases da criação dos problemas hu-


manos sempre foram estabelecidas previamente por nós, de
uma forma ou de outra. Por esse motivo que se ensina no Es-
piritualismo que os problemas são criações humanas e não re-
alidades objetivas do mundo externo. As problemáticas enfren-
tadas não são entes externos com poder próprio, com força
inerente; eles não existem per si, eles são criados e alimenta-
dos por nós mesmos. Eles não existem fora de nós, externa-
mente, mas são primeiro cultivados internamente e somente

50
depois são projetados ao exterior e tomam a força que nós
mesmos conferimos a eles. Quanto mais a pessoa cria e ali-
menta seus problemas, mais ela sofrerá depois em decorrência
deles.

Por esse motivo, é essencial que você pare de criar seus pró-
prios problemas. Busque em ti mesmo a causa dessa criação.
Quando você fizer isso, um peso enorme sairá dos seus om-
bros e a felicidade plena jorrará como “rios de água viva” do
seu interior. Compreenda essa verdade, pare de alimentar a
causa do problema e seja feliz.

51
A CURA DO CORPO NÃO É IMPORTANTE

As pessoas ficam falando em cura do corpo, que a fé tem o


poder de curar, que é preciso curar as doenças, etc, etc. No
entanto, sabemos que a verdadeira cura não é a cura do corpo
material.

Vejamos… o que é o corpo material? É apenas um veículo


grosseiro composto de matéria que nos permite viver tempora-
riamente num universo permeado igualmente de matéria. Es-
tamos na matéria apenas de forma temporária. Tudo o que vi-
vemos aqui é passageiro. As pessoas vão viver apenas mais
umas décadas e logo depois vão descartar esse agregado de
materialidade. Algumas inclusive, muitas que estão lendo estas
linhas, vão morrer bem antes de algumas décadas. Tendo isso
em vista, será que o corpo material tem mesmo toda essa im-
portância para ficarmos supervalorizando os benefícios da cura
pela fé?

O corpo material é apenas um empréstimo de Deus… um em-


préstimo para que os seres possam realizar uma travessia pe-
las veredas do mundo tridimensional. É como uma roupa que
vestimos hoje… e amanhã já vamos vestir outra roupa. Se a
roupa rasgar, não perdemos a nós mesmos, mas apenas tro-
camos de roupa e nos revestiremos com outra roupagem. O
envoltório material serve como campo de provas do espírito na
matéria. Se o envoltório se quebra, pode ser substituído por
outro, mas o espírito mesmo não é afetado pela perda deste
envoltório e tampouco pelas enfermidades nele.

Por que então as pessoas falam tanto em cura material, em


cura do corpo físico? Simples… por que os espíritos que vêm
a esse mundo ainda estão excessivamente aprisionados aos
desejos deste mundo, aos apegos materiais, aos prazeres, às
paixões, aos ganhos, às posses, etc. Ainda estamos muito ma-
terializados e, por isso, nos identificamos com a roupa, ao invés
de nos identificar com o ser verdadeiro. Mal as pessoas sabem
que a identificação com o corpo material e com a personalidade
é exatamente a causa de todo sofrimento, angústia e vazio que
elas sentem.

Tudo isso nos mostra que a verdadeira cura não é a cura do


corpo. Uma criança que vive pulando os muros, vai rasgar sua

52
roupa novamente, e pode rasgar de novo e de novo…não im-
porta quantas vezes ela tentar remendar sua roupa. O mesmo
ocorre com os espíritos que vem a este plano. Não adianta cu-
rar o corpo várias vezes se nossas atitudes, pensamentos, sen-
timentos, apegos, paixões, posses, egoísmo, vaidade, luxúria
etc, novamente criarão enfermidades diferentes no corpo ma-
terial. Se a causa interior da doença não for curada, o corpo vai
continuar absorvendo e somatizando os males da alma. Por
outro lado, a alma é eterna… e o corpo é transitório. Será então
que não é muito mais importante se concentrar na cura interior,
na cura da alma, do que na cura do corpo?

Vamos parar de perder tanto tempo tentando curar o corpo. A


cura da alma, a cura interior, a cura das mazelas do espírito é
infinitamente mais importante. O espírito vai ficar conosco pela
eternidade… mas o corpo pode ser descartado em pouquís-
simo tempo… antes mesmo do que você supõe.
O que você vem fazendo para a cura de sua alma?

53
TRAVESSIA ESSENCIAL

Os espíritos que se adiantaram no caminho não conhecem


mais as preocupações. Preocupações são sentimentos huma-
nos, do nível de inferioridade em que nos encontramos. Os es-
píritos mais elevados não se preocupam com nada, pois sabem
que Deus está em todas as coisas… e que nada se ganha e
nada se perde nessa vida. Se nada podemos ganhar ou perder
aqui na matéria… e se nada pode nos atingir aqui, porque so-
mos espírito… o que há para se preocupar?

Nada pode ser perdido nessa existência. Todos os medos hu-


manos são causados por uma preocupação em se perder algo,
em algo dar errado, em algo não sair como esperado, em não
concretizarmos nossos sonhos. Mas o espírito que já se elevou
sabe que a ilusão permeia esse mundo, que nada aqui é real,
que tudo na vida material é um sonho… e que não vale a pena
viver um sonho dentro de um sonho, mas que é muito melhor
viver no real da vida cósmica. Se nada aqui é real… o que po-
demos ser perdido? O que pode dar errado num sonho, se o
sonho é apenas um sonho?

No entanto, devemos viver na matéria para nos desprender-


mos da matéria. Viver as paixões para nos libertarmos delas.
Viver o sofrimento para colocar um fim ao sofrimento. Experi-
mentar as dores e prazeres do mundo para transcendermos
tudo isso.

Por isso Jesus disse que os ladrões e as prostitutas iriam pre-


ceder os fariseus no Reino de Deus, pois eles estavam vivendo
intensamente o que eles são, enquanto os fariseus eram hipó-
critas e não viviam o que eles pregavam.

Não existe tempestade eterna… quanto mais forte a tempes-


tade, mais rápido ela tende a desaparecer. O mesmo ocorre
com nossa vida humana, quanto mais intensamente vivemos
suas tribulações, maior a chance de nos elevarmos acima de
tudo isso.

Precisamos fazer a grande travessia no vale do mundo… Fa-


zendo esta travessia chegaremos ao final do vale e poderemos
sair dele. O problema é que a maioria dos espíritos não faz
essa travessia essencial, mas se envolve tanto com o mundo

54
que acaba ficando preso aqui, esquece sua verdadeira essên-
cia e passa a estar na existência material como sei fosse o fim
da vida. O mundo humano não é o final da existência, mas um
meio para se chegar a um outro nível de ser.

55
O SÁBIO QUE NÃO PERDOA

Há mais de 200 anos num vilarejo, havia um homem que não


gostava de um velho sábio que vivia nas proximidades. Certo
dia, o sábio estava transmitindo seus ensinamentos a alguns
discípulos e ouvintes em geral. O homem apareceu diante do
sábio e disse:

– Você é um picareta, um charlatão que engana as pessoas!


Tenho nojo de você!

O homem foi embora sem dizer mais nada. No dia seguinte,


muitas pessoas foram procurar o homem. Essas pessoas rela-
taram a ele o quanto o sábio as tinha ajudado, como seus en-
sinamentos preenchiam seu interior. Várias pessoas testemu-
nharam melhoras após receberem os ensinamentos do velho
mestre.

O homem refletiu o dia inteiro e no final arrependeu-se de sua


atitude diante do sábio. Ele ficou sentindo remorso por sua le-
viandade… No dia seguinte, decidiu procurar o sábio e pedir
perdão pela sua ofensa.

O homem mais uma vez se colocou diante do sábio e disse:


– Mestre, desculpe-me por tê-lo insultado. Peço nesse mo-
mento seu perdão.

O sábio respondeu:

– Não o perdoo jamais.

Todos ficaram estarrecidos com a resposta. Nem o homem e


nem as pessoas que presenciaram o ocorrido esperavam essa
reação do sábio. O sábio então explicou:

– Não o perdoarei jamais… pois não me ofendi com o que você


disse. Só precisa perdoar aquele que se ofende ou se sente de
alguma forma atingido pelo outro. Como eu não me ofendi, não
há o que perdoar.

O homem perguntou:

56
– Mas mestre… você não tem receio que outras pessoas pas-
sem a acreditar no que eu disse?

O sábio respondeu:

– Não tenho qualquer preocupação com a opinião dos outros a


meu respeito. Não posso controlar a visão que as pessoas têm
de mim.

Todos compreenderam o que disse o sábio. Este completou:

– Isso serve de lição a todos. O perdão é algo muito difícil e é


fato que maioria das pessoas não consegue perdoar. Por isso,
o melhor a fazer não é praticar o perdão, mas sim não se ofen-
der, não se magoar, não se deixar afetar pelo que outras pes-
soas dizem ou fazem para nós. Quem não se deixa atingir, não
precisa passar por todo o processo de perdão, que, como todos
sabem, na maioria das vezes nunca ocorre por completo. Na
vida é necessário não se deixar atingir, não se permitir afetar
pelas ações e palavras alheias… Dessa forma, ninguém preci-
sará perdoar e tampouco ficará sentindo-se magoado.

O perdão é bom… mas não se deixar afetar é infinitamente me-


lhor.

57
AME PARA SER AMADO

Para ser amado, você precisa primeiro amar…


Não adianta ficar pedindo a Deus para ser amado, se antes
você não ama.
Primeiro amamos… e depois, somos amados.
Quanto mais amor transmitirmos ao mundo, mais amor retor-
nará a nós.
Essa é uma lei antiga e universal da vida.
O amor doado é o mesmo amor que retornará em nossa vida.
Portanto, ame para ser amado.
Perdoe para ser perdoado.
Respeite… para que possa ser respeitado.
Ninguém pode esperar o respeito, ou exigir o respeito, se não
toma a primeira iniciativa de respeitar.
Mesmo que destilem ódio contra você… ame e não se deixe
abater por isso.
Mesmo que outros não te perdoem, perdoa tu primeiro.
Mesmo que outros não te respeitem, respeita tu independente
do respeito do outro.
Para receber a luz da vida e de Deus, temos que primeiro ser
uma luz para outras pessoas e para o mundo.
Como diz a máxima: “sempre fica um pouco de perfume nas
mãos daqueles que oferecem flores”.
Da mesma forma, nossa vida sempre fica iluminada quando
aprendemos primeiro a iluminar a vida de todos.
No entanto, ninguém deve amar esperando ser amado, nem
respeitar esperando ser respeitado.
Caso contrário, estamos amando apenas para receber o amor
de volta ao invés de amar por amar.
Devemos fazer o bem pelo bem.
Devemos difundir a paz pela paz.
Devemos ser felizes pela própria felicidade.
Portanto, ame, respeite, perdoe e seja a paz e a felicidade para
o mundo.
E tudo isso será uma realidade em sua vida.

58
O CONTROLE É UMA ILUSÃO

Um homem foi procurar um sábio e lhe disse:

– Mestre, sinto que todas as coisas em minha vida estão fora


do meu controle.
Eu trabalhei a vida inteira e mesmo assim quase não ganhei
dinheiro.
Eu tentei mudar o cenário político do meu país, mas tudo con-
tinua do mesmo jeito.
Mesmo cuidando da minha saúde, tive várias doenças ao longo
da vida.
Mesmo dando conselhos para meus filhos, eles não me ouvi-
ram e seguiram seu próprio caminho.
Zelei pelas minhas posses durante anos, mas mesmo assim fui
assaltado algumas vezes e cheguei a perder tudo mais de uma
vez.
Quando minha esposa me traiu, queria esquecer isso e seguir
em frente, mas a mágoa continuava sempre lá, sem que eu
conseguisse controla-la.
Mesmo meus pensamentos são desgovernados e sinto não te-
nho controle sobre o que penso… Por tudo isso, sinto que a
sensação de controle nada mais é do que uma ilusão.

O sábio ouviu o homem e disse:

– Você está correto. Não podemos controlar nada nesse


mundo. Mas há uma coisa que você pode ter controle…

– E o que é? Perguntou o homem.

O sábio respondeu:

– Você pode viver em paz mesmo diante de tudo isso.

O homem reconheceu essa verdade. O sábio completou:

– Não podemos controlar nada que é externo, pois a qualquer


momento tudo pode mudar, acabar ou morrer. Mas podemos
escolher que reação vamos ter diante de tudo o que nos acon-
tece. Só é possível ter segurança aceitando a insegurança bá-
sica da vida. Não podemos controlar nada externo, mas pode-
mos controlar o nosso posicionamento interno. Não podemos

59
controlar os outros, mas podemos escolher como reagir diante
do que o outro faz. Você pode decidir ser feliz, mesmo diante
das catástrofes externas. E por fim… você pode optar pela paz,
mesmo diante das turbulências desse mundo.

60
MENSAGEM DOS ESPÍRITOS PARA TODOS

Meus filhos, estamos sempre com vocês, principalmente nes-


ses momentos de intensas provações. Aqueles que fecharem
os olhos e se interiorizarem, podem sentir a nossa presença.
Somos seus irmãos em Deus e recebemos a missão de cuidar
de vocês, de auxilia-los no caminho sagrado do espírito. Esta-
remos emanando as energias restauradoras que vocês preci-
sam.

No entanto, não podemos caminhar por vocês. Há certas coi-


sas que o ser encarnado precisa fazer sozinho. Na estrada da
vida material, vocês devem percorrer o caminho e viver as pro-
vações necessárias. É como o aluno que é auxiliado pelo pro-
fessor durante todo o tempo, mas na hora de fazer a prova de
fim de ano, ele precisa fazer tudo sozinho. Precisa lembrar dos
ensinamentos dos seus professores e aplica-los na hora da
prova.

Todo esse processo não é sem motivo, posto que tudo tem um
propósito na existência infinita da alma na eternidade. O aluno
passa de série após ser bem-sucedido na prova e vai subindo
de degrau em degrau, aprimorando seus conhecimentos e re-
alizando as provas em cada grau que se encontra. O mesmo
ocorre com vocês meus irmãos… As provas são duras, nós sa-
bemos… e isso serve para tirar o melhor de cada um de nós.
Assim como a flor que é esmagada libera um aroma maravi-
lhoso, vocês também meus queridos filhos, liberam o aroma da
paz e da felicidade quando o orgulho de vocês é esmagado
pelas duras provas da vida material.

Não existem superiores ou inferiores; existem aqueles que são


mais antigos, que já viveram todos os conflitos, todas as guer-
ras, todas as catástrofes, as dores mais agudas da alma e se
desprenderam de tudo isso, como todos vocês farão um dia.
Viver tudo isso e se libertar… passar pelo grande rodamoinho
da existência e depois sair dele… eis a chave da evolução, da
sabedoria e da liberdade. Os mais antigos auxiliam os espíritos
mais jovens, assim como os professores ajudam seus alunos.
Aqueles que já aprenderam um pouco, podem ensinar aqueles
que ainda não aprenderam. É assim em todo o universo, nos
mais diversos planos da existência.

61
Por isso, não há nenhum motivo de preocupação, já que tudo
nessa vida passa, tudo começa e termina. Como o rio que flui
com suas águas… como o vento que sopra… como o pássaro
que cruza o céu e desaparece… assim é a vida na existência
mundana. É preciso entrar e depois sair, se envolver e depois
soltar… é preciso sofrer para depois se libertar do sofrimento…
se prender e se libertar da prisão, se identificar e se desidenti-
ficar, se preocupar e depois se despreocupar, se apegar, para
depois conseguir se desapegar. Libertação… Agora é o mo-
mento da libertação.

Lembrem-se, meus filhos, estamos com vocês sempre… e


mais ainda com aqueles que mais necessitam. Ajudaremos a
todos nesse momento de grande provação global. Não se pre-
ocupem… lembrem-se de Jesus e dos grandes mestres que
vieram à Terra nos ensinar. A fé será o farol que nos guiará ao
porto seguro. Não temam, pois como filhos de Deus, nada nem
ninguém pode lhes fazer mal. Vocês apenas sucumbirão à
prova caso se deixem levar pelas coisas pequenas e insignifi-
cantes da matéria. Aquele que se apoiar na essência de sua
própria alma, estará liberto de tudo… e vai assistir todas essas
turbulências de camarote, sem estar envolvido com nada, dis-
tante, neutro e protegido na luz.

Deixem o espírito divino nascer dentro de vocês… Um novo


amanhecer virá em sua vida.

Com amor a todos os seres…

(Espíritos diversos)

62
O SISTEMA HUMANO DE VIDA

Você pode não perceber ou preferir não acreditar, mas todos


os seres humanos desse mundo vivem regidos sob a tutela de
um sistema. É o sistema atual em vigor que dita tudo aquilo
que nós devemos fazer, sentir e pensar. O sistema é como uma
imposição de um modo de vida. É um padrão pronto de pensa-
mento e crenças que todos acreditam dever seguir. O sistema
se compõe de determinadas normas de condutas e de saberes
sobre alguma coisa. Mesmo que você pense que não… você
está hoje sendo regido por um sistema; o sistema está dentro
de você e de certa forma é você. Aquilo que cremos ser uma
escolha nossa é quase sempre uma resposta pré-programada
do sistema.

Como podemos compreender melhor o que é esse sistema hu-


mano de vida?

Sistema pode ser definido como todas as normas de certo e


errado, bonito e feio, bom e mau, limpo e sujo, moral e imoral,
que todos nós cultivamos em nossas mentes. Elas são impos-
tas e nos subordinamos a elas. O sistema é criado e alimen-
tado pelas pessoas. O somatório de todas as pessoas, com
suas limitações, com suas idiossincrasias, com sua visão de
mundo restrita forma aquilo de denominamos de sistema hu-
mano de vida.

A nossa vida é uma subordinação a um sistema que o mundo


joga em cima de nós através de diversos canais. Esses canais
são múltiplos e variados, mas é possível identificar alguns de-
les para que possamos compreende-los melhor: a religião é um
deles. A televisão e as propagandas são outro. As propagan-
das, por exemplo, impõem um conjunto de valores que criam
padrões de conduta e de crenças. A valorização da vaidade é
um forte exemplo. Você precisa estar sempre bonita, maqui-
ada, com cabelo de tal forma, para ser apreciada pelos outros.
Esse é um exemplo da imposição de um modo de vida pelo
sistema.

A televisão te entrega o padrão pronto de pensamento e você


segue para obter algum tipo de ganho ou benefício com ele. O
sistema sempre te oferece algo, oferece alguma recompensa
caso você decida se subordinar a ele. Como disse o diabo à

63
Jesus: “Terás todos os reinos do mundo se, prostrado, me ado-
rares”. O sistema faz todo tipo de promessas: “se fizer isso, te
dou aquilo”. As pessoas obedecem cegamente e depois o sis-
tema não cumpre… Ele é mentiroso, falso, ilusório. Nós tende-
mos a acreditar no sistema porque desejamos obter as recom-
pensas que ele nos promete. O sistema cria esperanças, ex-
pectativas, sonhos… mas quando os alcançamos, sempre des-
cobrimos a instabilidade e a mentira de tudo aquilo. Nada
acaba sendo como nos foi vendido.

As religiões também são agentes poderosos do sistema. Elas


criam um conjunto de recompensas celestes para quem as se-
guir e criam punições para quem não as seguir. Religiões im-
põem regras de comportamento através de certos valores e to-
dos são impelidos a se submeter a eles. Ela define o certo e o
errado, o bem e o mal… e cria uma série de preocupações na
mente do ser humano para obriga-lo a seguir esse certo e re-
pudiar esse errado. Quanto mais rígido é o certo, mais lhe é
incutida a culpa por não conseguir se adaptar.

O sistema cria obrigações. Você precisa fazer isso; você pre-


cisa obedecer aquilo; você precisa pensar desse jeito. Por
exemplo: “Você precisa ser um exímio profissional para ser fe-
liz”. “Você precisa ter qualidade de vida para viver bem”. “Você
precisa oferecer o melhor aos seus filhos”. “Você precisa ter
dinheiro”. “Você precisa estar sempre atualizado“. “Você pre-
cisa se sacrificar pelo trabalho para ganhar bem”. Todas essas
obrigações impostas que se tornam autoimpostas criam preo-
cupações, angústia, ansiedade, estresse, cansaço. O grande
problema do sistema é que ele cria obrigações ilusórias que
sempre geram sofrimento.

A princípio, pode parecer mais fácil ir a favor do sistema do que


se libertar dele. Todos que desejam facilidades, comodidades
ou serem aceitos seguem o sistema. A maioria se ajusta ao
sistema para se sentir protegido, sentir um apoio, sentir que
não está sozinho… Quem se adapta ao sistema tem a ilusão
de estar a favor da corrente, mas na realidade está indo contra
si mesmo. Quando o sistema revelar sua natureza falsa e ilu-
sória, o sofrimento virá com toda força. Esse “fácil” depois se
torna difícil… essa vida de conforto externo depois faz emergir
um profundo desconforto interno, assim como o cheio exterior
cria um vazio interior.

64
Seguir o sistema durante décadas vai aos poucos nos consu-
mindo. Vamos nos sentindo carentes, angustiados e vazios.
Isso ocorre porque o sistema nos despersonaliza… ele tira de
nós aquilo que nos é mais valioso… nosso ser interior. O sis-
tema nos afasta do nosso interior e determina que sigamos
apenas ele. Tornamo-nos uma imagem pálida do sistema e re-
nunciamos a nós mesmos e a nossa liberdade de ser. Aqueles
que vivem pelo sistema sentem que perderam suas vidas
quando envelhecem. Eles fazem uma revisão das décadas
passadas e sentem que o fio de sua essência foi em algum
momento perdido e esquecido… tudo porque optamos em se-
guir normas e regras escravizantes, ao invés de nos orientar-
mos ao interior de nós mesmos. Cinquenta ou sessenta anos
se passam… e pensamos: onde eles estão? Onde eu me perdi
nesse caldeirão da existência? Sentimos fortemente que todo
esse tempo em que nos moldamos no sistema foram vazios e
inúteis.

O sistema não deseja que você note a presença do próprio sis-


tema. Ele coloca milhares de compromissos, diz que é inadiá-
vel, diz que precisamos ser rápidos e eficazes, tudo isso para
que não possamos pensar, refletir, ver tudo com calma e ver a
ação do sistema sobre nós. O sistema aponta para todos os
lados, assim não enxergamos o que está dentro. O sistema
tenta a todo momento nos distrair, cria milhares de recreações,
desvia nossa atenção do básico e fundamental. O sistema não
quer ser notado, por isso, faz você olhar em todas as direções,
menos para ele mesmo… ou para dentro de você, posto que o
sistema foi implantado em seu interior. Ficar preocupado com
o que os outros vão pensar de você é um exemplo emblemático
da típica submissão de nossa mente ao sistema.

Isso é importante, pois as pessoas acreditam que o sistema


está fora, mas ele foi semeado dentro de você. De modo que,
quando você pensa alguma coisa, não é você que está pen-
sando, mas o sistema pensando por você. Você diz que gosta
de um tipo de roupa, mas na verdade é o sistema que diz para
você gostar. Se a pessoa vivesse em outra época e tivesse so-
frido outra influência social, é possível que optasse por outro
estilo. Acreditamos no livre arbítrio, mas optamos por aquilo
que o sistema delibera.

65
O ser humano quase sempre defende o sistema com unhas e
dentes. Lutamos uns contra os outros para defender o sistema.
E nesse momento passamos a ser o próprio sistema. Nos des-
personalizamos, praticamente deixamos de existir e passamos
a ser o sistema. Quando você briga com alguém defendendo
um aspecto do sistema você está sendo o sistema naquele mo-
mento para aquela pessoa. Aquele que para e se liberta do sis-
tema, mesmo que parcialmente, descobre que no fundo ele
não faz muito sentido. Para ilustrar esse ponto, vejamos a fa-
mosa reflexão sobre o consumismo que diz: “Consumismo é
comprar o que você não precisa, com o dinheiro que você não
tem, para impressionar pessoas que você não conhece e tentar
ser uma pessoa que você não é”. Exemplos como esse mos-
tram o quanto o sistema é vazio por dentro, mas se torna real
na medida em que acreditamos fortemente nele. Por outro
lado, o sistema sempre nos diz que não tem como ser de outro
modo… que as coisas são assim e nada vai mudar. Mal des-
confiam que a própria vida é um fluxo inexorável de transfor-
mações… e que um dia tudo vai se alterar. Todas as coisas
vão se modificar independente de nossa vontade… por isso, o
sistema atual um dia vai ruir; aqueles que o defendem, vão cair
junto.

A solução é tirar o sistema de dentro de nós. É questionar o


sistema que já se tornou inerente ao nosso interior. O sistema
está dizendo que não posso fazer isso ou aquilo… será
mesmo? O sistema diz que preciso buscar o sucesso… mas o
que é o sucesso essencialmente? Por que preciso perseguir
esses valores? É necessário duvidar de tudo o que o sistema
nos decreta… Precisamos duvidar dos nossos próprios pensa-
mentos e crenças, tendo em vista que o sistema está dentro de
nós.

O sistema não nos obriga a nada… nós é que nos colocamos


nas mãos dele. O sistema não nos prende; nós entramos na
cela voluntariamente. O sistema não nos submete, nós é que
nos subordinamos e nos deixamos conduzir. A decisão de se
libertar é nossa…

Alguns desejam enfrentar o sistema criando outro sistema. O


sistema diz que eu não posso andar pelado na rua. Se eu saio
sem roupa, estou afrontando o sistema, mas esse comporta-
mento revela uma necessidade de bater de frente com o sis-

66
tema na tentativa de me libertar dele. O que estou fazendo é
apenas criar um sistema de oposição. É comum ver jovens
abandonando o sistema vigente e criando outro, como por
exemplo o movimento hippie dos anos 60. Um sistema foi
abandonado apenas para outro surja em seu lugar. Um novo
sistema, mesmo que tenha a pretensão de ser mais livre, é
também um sistema. Quem sente a necessidade de criar um
outro sistema a fim de se opor ao sistema vigente está ainda
aprisionado ao nível dos sistemas. Isso é o mesmo que trocar
uma prisão por outra.

É perfeitamente possível estar dentro do sistema sem se sentir


preso a ele. Podemos seguir as normas de um sistema sem
que essas normas sejam um peso para nós. Eu posso ir a
igreja, estudar os ensinamentos católicos, mas sem me subor-
dinar aos valores religiosos e dogmas que aprisionam. Eu
posso trabalhar numa grande empresa, seguir as regras dessa
empresa, mas sem me sentir escravizado, envolvido e moldado
pelo sistema empresarial. Mas cuidado… algumas pessoas se-
guem as regras do sistema acreditando que estão livres dele,
mas se recusam a enxergar a submissão a que estão subme-
tidos.

67
NÃO AGUENTO MAIS TANTAS BRIGAS

Vejo muitas pessoas dizendo que brigam muito com seus fa-
miliares e que gostariam que essas brigas parassem, pois não
querem mais entrar em confronto com ninguém.

Para este caso, há uma solução muito simples: não brigue


mais… só isso.

Há uma máxima da sabedoria popular que diz assim: “Quando


um não quer, dois não brigam.” Essa frase é muito verdadeira,
pois sempre que uma briga se concretiza entre duas pessoas,
se faz necessária a anuência e a participação de ambos nesse
processo.

Uma das partes pode até ficar provocando outra, pode ficar es-
timulando as controvérsias, mas se a outra parte não cede a
briga, não permite, não deixa acontecer, não se deixa levar…
a briga simplesmente não acontece.. A pessoa fica falando so-
zinha e a briga não se consuma. Sim, deixe que a pessoa fale,
provoque, insista… não ceda à influência e não brigue.

Muitas vezes as brigas entre duas pessoas são formas encon-


tradas de se descarregar as emoções retidas geradas de ou-
tras situações. Por exemplo, uma pessoa está estressada por
causa do mau desempenho de um projeto de trabalho. Ela
chega em casa e encontra o banheiro sujo… chama sua es-
posa e a briga por causa do banheiro sujo se inicia. Na ver-
dade, a briga não se iniciou por causa da sujeira, mas sim por
conta do nervosismo do trabalho. Mas como, por orgulho, a
pessoa não quer admitir que se irrita com o insucesso do pro-
jeto, pois quer se enganar de que tem o controle da situação,
ela encontra qualquer motivo para descarregar sua raiva retida.
A causa das brigas é sempre a mesma… puro orgulho.

O mais importante é que não podemos tratar a briga como se


fosse algo que não dependesse de nós, como se fosse algo
independente, que ocorre sem a nossa participação e contra a
nossa vontade. Se duas pessoas brigam, ambas aceitaram a
briga em algum momento… ambas cederam à tentação da
raiva, das fortes emoções, se deixaram conduzir e, por isso, a
briga ocorreu.

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Vejo muitas pessoas tratando as brigas dessa forma, como se
fosse algo contra a vontade delas. Mas se elas brigam, será
mesmo que não desejavam brigar? Se a pessoa realmente não
quisesse brigar, ela simplesmente não brigaria… ela não per-
mitiria que a outra lhe tirasse do sério. Ela pode até sentir a
raiva e ter o impulso de iniciar o embate, mas ela somente cede
ao impulso se naquele momento ela quiser brigar.

As brigas são expressões do nosso ego e na maioria das vezes


vem de crenças do tipo “Ele não pode falar comigo dessa
forma”, “ele não tem direito de levantar a voz pra mim”, “Ele não
pode me acusar e culpar assim”. Tudo isso nada mais é do que
uma forma de defender o próprio ego, é uma manifestação de
nosso orgulho. Sem orgulho, as brigas simplesmente não vão
para frente… pois colocamos a nossa tranquilidade interior
como tendo mais valor do que o nosso ego.

Portanto, brigar ou não brigar depende exclusivamente de


você. Depende de dar mais valor a sua paz do que ao orgulho.
O ego, o orgulho ou a vaidade não trazem bem-estar interior…
mas a paz sim. As brigas não são acidentes externos ocorrem
por acaso, são decisões internas que você pode deixar acon-
tecer ou não.

69
O HOMEM DESAFIA DEUS

Quem constrói um prédio?

Será que o pedreiro, o engenheiro e o arquiteto são os princi-


pais responsáveis pela construção de um prédio?

Vamos refletir sobre isso… O que faz o ser humano? O ser


humano apenas idealiza o edifício e coloca os materiais em
certos lugares, mas quem mantém toda a estrutura é Deus.
Deus… que é a inteligência infinita de toda a criação, mantém
a coesão molecular de toda a estrutura dos materiais e é justa-
mente essa coesão que sustenta toda a matéria que organiza
o edifício. Deus criou a pedra e toda a matéria prima do qual foi
feito o cimento, o concreto, o azulejo, o vidro, os metais e todos
os outros materiais que compõem a obra. Deus também cria e
mantém a terra, que é o sustentáculo de toda a estrutura. Sem
a terra que é a base fundamental, nenhuma estrutura seria ca-
paz de se manter em pé. Deus também estabeleceu a força da
gravidade, que atrai todas as coisas para a terra mantendo-as
unidas.

Diante de todos esses fatos, quem ou o que mantém toda a


estrutura e permite que o edifício se torne possível? É Deus…
é a inteligência suprema, a base da qual todas as coisas surgi-
ram e todas as coisas vão retornar. Tudo vem de Deus e tudo
retorna para Deus. A própria inteligência do ser humano tem
sua origem em Deus, pois se Deus é a inteligência suprema e
a causa primária de tudo… o que o homem possui de capaci-
dade de raciocínio também vem de Deus. Ao homem lhe foi
dada à inteligência e a força para realizar… e sem os elemen-
tos que existem no mundo, como os alimentos, a água e o ar…
o homem jamais conseguiria se manter no plano material. E
todas estas coisas já estavam aqui antes do aparecimento do
homem na Terra… e vão continuar após a extinção do homem.
Essas coisas não vieram dele, não são obras dele… mas são
obra do Eterno.

O próprio corpo físico do homem que lhe permite estar e agir


no mundo não foi criado por ele, mas é mantido por certos ele-
mentos primordiais que já estavam aqui antes do homem che-
gar. Graças a energia, aos átomos, às moléculas e às células,
à todas as reações químicas orgânicas, a inteligência inerente

70
aos organismos materiais… o homem pode existir nesse
mundo. O mais engraçado é que, mesmo diante de todos estes
fatos, o ser humano, em sua arrogância, se crê como o senhor
da criação, o grande ícone da existência, o ser mais evoluído,
aquele que se outorga o direito de destruir a natureza, que é
obra de Deus. A natureza que faz parte dele mesmo e é o que
permite a sua própria existência. O ser humano se vê como o
responsável por tudo, aquele que mantém tudo, que faz tudo
etc… mas o ser humano nada faz, nada cria. Ele apenas muda
as coisas de lugar… mas quem cria, quem faz, quem mantém
tudo a todo momento é o ser essencial.

Deus mantém os ciclos da chuva, Deus mantém o movimento


da Terra e de todas as coisas. Deus gera toda a energia que
move o mundo, Deus dispõe da terra para as colheitas, os ve-
getais e animais. Deus é a fonte do sol, que emana sua luz a
Terra e que dá vida a tudo. Tudo isso nos lembra aquela histó-
ria dos cientistas que acreditaram poder se igualar Deus cri-
ando outros seres humanos pela pesquisa genética com clona-
gem do DNA. Então Deus se apresentou a esses cientistas e
disse: “Antes de vocês criarem outro ser humano, criem pri-
meiro a sua própria célula, não podem usar a célula que foi
criada por mim”. Os cientistas então compreenderam que eles
apenas manipulavam algo a partir do que já estava criado. Po-
demos acreditar que todas as coisas que estavam aqui antes
de nós surgiram a partir do nada, do acaso ou de uma espécie
de “caos criador”. Mas se a inteligência maior surgiu a partir
desse acaso, será que a inteligência já não estava presente de
alguma forma nesse caos, nesse “acaso” ou naquilo que acre-
ditamos ser o “nada”? Do nada… nada pode surgir.

Por isso que a humildade é tão importante… e a entrega a


Deus é imprescindível. Não é a entrega à religião ou as corren-
tes espirituais humanas que foram criadas para se explicar
Deus… mas é a total e completa entrega de nossa vida à fonte
eterna da vida, que é a responsável por todas as coisas e sem
a qual nada seria possível.

71
ABENÇOE A VIDA

Ao acordar pela manhã, abençoe um novo e maravilhoso dia


que se inicia, com nova vida e novas e infinitas possibilidades.
Ao se dirigir ao local de trabalho, abençoe a todos que cruza-
rem seu caminho, irradie sobre eles amor, paz e bençãos infi-
nitas.
Abençoe cada momento em sua vida. Não fique ansioso em
chegar a um local, nem perca sua paz inquieto com o trânsito.
Abençoe o momento presente… repleto de frescor, novidade
e vida.
Não fique elucubrando coisas em sua mente. Não perca sua
paz com preocupações do que já foi ou do que virá. Não ceda
às preocupações que tiram sua paz… mas abençoe todas
elas.
Abençoe todas as suas atividades do dia. Procure realizar to-
das elas sem apego, sem posse, sem preocupações e sem se
envolver. Faça tudo com desprendimento…e abençoe tudo o
que for feito.
Aquele que desejar discutir com você, apenas abençoe essa
pessoa. Aquele que te criticar, apenas abençoe… Aquele que
te enganar, apenas abençoe e responda com palavras tran-
quilas e amáveis.
Tudo o que passa por você, deixe que isso passe. Não fique
segurando as preocupações em seu colo. Tudo vem e vai…
não fique se fixando nas coisas que já foram. Desprenda-se e
abençoe aquilo que já passou… Abençoe também aquilo que
está por vir.
Abençoe todos aqueles que te querem mal… Não guarde ran-
cor nem pense em retaliação. Apenas abençoe e entenda que
ele não sabe o que faz. Abençoe… e deixe a vida fluir livre-
mente.
Abençoe seu trabalho, mesmo que ele seja muito simples.
Realize suas tarefas sempre abençoando a oportunidade de
servir a Deus por meio do trabalho.
Não viva desejando o que você não tem, mas abençoe tudo
aquilo que possui. É melhor ser feliz abençoando o que Deus
nos deu do que viver infeliz por aquilo que nos falta.
Não reprove seu irmão perdido no mundo… Abençoe aqueles
que erram, que caem, que vivem na ignorância. Não julgue e
não condene… apenas abençoe. Quem abençoa a tudo e a
todos, vive melhor, vive em paz… vive mais feliz.

72
Abençoe o mundo inteiro e compreenda que a Terra é uma
escola sagrada de aprendizagem e desenvolvimento dos se-
res. Abençoe sua estadia aqui e, quando chegar o
momento de partir, despeça-se sem medo, sem culpa e sem
apego. Agradeça a oportunidade de evolução que o mundo
lhe proporcionou.
Abençoar a tudo e a todos é viver livre… é soltar todas as
amarras que nos aprisionam ao vício do ódio, dos julgamen-
tos e de toda iniquidade.
Não duvide disso… Quem abençoa a tudo e a todos se torna
também um abençoado.

73
DEUS PODE DIMINUIR O PESO DE NOSSA CRUZ?

No outro dia uma pessoa me perguntou se é possível fazer ora-


ções para diminuir o peso de nossa cruz.

Essa é uma pergunta complexa de ser respondida: será que a


oração tem poder de aliviar nossas cargas? Ou será que esse
alívio vem de outra forma?

Vamos refletir sobre isso. Podemos nos indagar se é possível


um aluno pedir ao professor que este faça uma prova mais fácil,
para que os alunos não sofram tendo que estudar tanto. Muitos
de nós na escola já fizemos esse pedido, ou ao menos deseja-
mos que a prova estivesse bem simples de ser respondida,
com perguntas óbvias e banais. Mas seria este pedido razoá-
vel? Será que solicitar ao professor uma prova mais fácil, que
não exija tanto dos alunos, seria proveitoso, vantajoso ou im-
portante aos estudantes? Poderia ser bom a curto prazo, mas
e a longo prazo, isso os ajudaria na vida? Será que o professor
que aceita esse pedido estaria contribuindo com os alunos, ou
estaria prejudicando todos eles?

Se um aluno pede isso ao professor, qual seria a provável res-


posta dele? Um professor qualificado e sensato provavelmente
vai nos dizer:

“Ao invés de diminuir a dificuldade da prova, é melhor você es-


tudar mais, se esforçar mais, para assim aprender mais e se
tornar uma pessoa de melhor formação e, consequentemente,
mais preparada para vida e seus desafios.”

O que isso significa na prática de nossa vida em relação ao


sofrimento?

Ao invés de pedirmos a Deus que diminua o peso da nossa


cruz… precisamos nós mesmos fortalecer nosso braço para
que a cruz pareça ser mais leve, pois assim a força estará em
nós e, naturalmente, o ato de carregar a cruz será mais sim-
ples. O que seria melhor? Deixar nosso braço mais forte para
que a carga fique mais leve, ou tornar a carga mais leve e, as-
sim, nossos braços e ombros continuarem sensíveis ao peso
do objeto? Não é verdade que uma pessoa bem forte quase
não sente o peso de algo que para outros, não tão fortes, é

74
considerado pesado? E não é verdade que uma pessoa bem
fraca vai achar qualquer carga como sendo bem pesada?

Dessa forma, se Deus diminuir o peso da nossa cruz, Ele es-


tará tirando a possibilidade de exercitarmos nosso braço e om-
bros, para que assim estes possam ficar mais fortes. O mesmo
ocorre com o professor… se o professor diminuir a dificuldade
de uma prova, ele estará fazendo o aluno estudar menos,
aprender menos, se dedicar menos, ser uma pessoa menos
instruída no futuro, e consequentemente, menos preparada
para a vida. O professor agiria corretamente se diminuísse a
dificuldade da prova? Que prova seria essa que é tão fácil a
ponto de não exigir quase nada dos alunos? Isso ajudaria os
alunos? Seria positivo e meritório para eles tirar 10 numa prova
bem fácil? Ou é muito mais meritório e muito mais importante
para nossa formação no esforço pessoal e a dedicação má-
xima para tirar 10 numa prova mais difícil?

Assim, Deus poderia diminuir o peso de nossa cruz, mas se


assim fosse feito, Ele não estaria nos ajudando, mas estaria
apenas nos mantendo fracos, despreparados, sensíveis, ignó-
beis etc. Quando nossos braços e ombros forem bem fortes…
as cargas serão tão leves que já não farão nenhuma diferença
para nós.

Como disse Jesus: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei


de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis
descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e
o meu fardo é leve.” (Mateus 11: 29, 30) Aqueles que forem
humildes de coração e mansos, como Jesus foi… aqueles que
seguirem os ensinamentos de Jesus e conseguirem realizar a
prática cristã, estes sentirão seu fardo muito leve e seu jugo
bem suave, pois estes adquiriram uma força interior inquebran-
tável, uma força que não vem deles mesmos, mas vem direta-
mente da fonte divina universal.

75
VOCÊ NÃO É MELHOR NEM PIOR

Quando uma pessoa vem e diz que você é bom, maravilhoso


e está acima da média, não acredite nisso.
Quando uma pessoa e diz que você não é bom, faz tudo errado
e é inferior, também não acredite nisso.
Ninguém é melhor do que ninguém… e ninguém é pior do que
ninguém.
Do ponto de vista maior, não existem superiores e inferiores,
não existem melhores ou piores.
Ninguém é tão bom quanto acredita ser ou quanto os outros
dizem… e ninguém é tão ruim quanto acredita ser ou quanto
os outros dizem.
O que é estar acima do outro? E o que é estar abaixo? Como
saber se alguém está mesmo melhor? E alguém está mesmo
pior? Melhor e pior dependem sempre do conjunto de valores
de quem julga a situação.
Uma pessoa só tem valor se a sociedade reconhecer esse va-
lor? Ou não será verdade que o valor, para ser valor, existe
independente da percepção das pessoas de uma época?
Desconfie sempre quando alguém disser que você é ruim ou
pior… e desconfie sempre também quando alguém disser que
você é ótimo ou melhor.
Na realidade, pior ou melhor são meros parâmetros humanos
relativos, que nada alcançam do panorama geral da vida cós-
mica.
Não existe o mais inteligente, existem tipos de inteligência dis-
tintos. Não existe o mais capaz, existem formas de capacidade
atuando em diferentes campos. Não existe o mais avançado
no caminho, existem caminhos diversificados onde cada qual
adquire experiências e dá sua contribuição.
A verdade é que no universo cada ser e coisa têm a sua fun-
ção… e essa função não é nem melhor e nem pior, nem inferior
e nem superior… mas toda função é importante para o quadro
geral da existência.
Uma máquina complexa não poderia funcionar sem uma
pecinha específica, apesar de ser pequena.
A ausência do faxineiro de uma firma poderia paralisar toda a
empresa, pois nenhuma empresa funcionaria na total imundice.
O pequeno inseto é tão fundamental ao equilíbrio da natureza
quanto os animais mais complexos, pois sem o inseto não ha-
veria alimento para os pássaros e outros animais, e assim, toda

76
a cadeia natural entraria em colapso caso os insetos fossem
extintos.
Observe que tudo no universo tem uma função e cada função
é imprescindível para o funcionamento do todo. Assim também
é cada pessoa que vive nesse mundo.
Você não é melhor ou pior do que ninguém… não está acima
nem abaixo. Mas está cumprindo a sua função, que é essencial
a grande maquinação cósmica.
Você é uma peça central do infinito… E por isso, todos os seres
são equivalentes, análogos e igualitários em valor, função e es-
sência.
Nenhum é mais relevante que o outro… e não existe acima ou
abaixo, mas sim posições temporárias que ocupamos no qua-
dro geral da existência universal.
Não busque ser melhor do que os outros… pois isso vai te fazer
sofrer quando você descobrir que não é melhor do que nin-
guém. E não sofra por se sentir pior… mas use esse senti-
mento como fonte de aprendizado e de humildade.

77
NÃO SE SINTA OBRIGADO A VIVER O “CERTO”

Quantas vezes em nossa vida nós sofremos por tentar a todo


o momento fazer o “certo”.

Sim, o ser humano quase sempre estabelece em sua mente


aquilo que ela acredita ser o certo. Assim, ele passa boa parte
da vida perseguindo esse certo, tentando se encaixar ao certo,
buscando concretizar esse certo em suas atitudes e em sua
vida geral.

O grande problema dessa situação é que a tentativa sistemá-


tica de se ajustar ao “certo” nos gera muitas preocupações ao
longo da vida. Ficamos preocupados, ansiosos e nos sentimos
sempre pesados e carregados por tentar a todo momento nos
encaixar naquilo que julgamos o certo em nossa vida.

“O certo é ser uma pessoa bem-sucedida”, esse pensamento,


por exemplo, vai nos gerar preocupações imensas até conse-
guirmos ser uma pessoa bem-sucedida. Depois de nos tornar-
mos bem sucedidos, a noção desse “certo” vai nos gerar preo-
cupações para conseguirmos manter a todo custo nosso “su-
cesso”… e se um dia perdermos o status de “bem sucedido”,
vamos sofrer por essa perda daquilo que consideramos “o
certo”, aquilo que supomos que precisaria acontecer de qual-
quer jeito.

Por esse motivo, ficar a todo momento acreditando que há um


“certo” a ser seguido sempre nos gera frustração, angústia e
infelicidade quando não conseguimos atingir o ideal do “certo”.
No momento em que estabelecemos a fronteira daquilo que é
certo, tudo aquilo que escapa desse certo, ou que está fora dos
limites desse certo, automaticamente já se torna errado para
nós. E quando percebemos o desvio do caminho do “certo”, o
errado aparece… e quando aparece, gera sofrimento, gera pre-
ocupação, gera culpa por não estarmos em conformidade com
o “certo”.

Mal essas pessoas desconfiam que o “errado” também pode


ser o “certo” e o “certo” pode ser o “errado”. Não existe essa
determinação daquilo que é certo e do que é errado. Toda essa
rigidez de conceitos é uma produção ilusória de nossa mente,
que deseja estabelecer parâmetros engessados da realidade

78
para que possamos nos sentir seguros seguindo pelos cami-
nhos desse mundo de caos e instabilidade.

Quando definidos aquilo que é certo de forma rígida e inviolá-


vel, tendemos sempre a ficar defendendo o nosso certo diante
dos outros. Há uma tendência a sempre tentar impor o nosso
certo aos outros, a construir no mundo a imagem da nossa opi-
nião sobre o certo. Essa tentativa de forçar ao mundo nossas
crenças sobre o “certo” nos coloca em constante conflito diante
do mundo. O mundo tem seu próprio caminho, que não é o
nosso caminho… O mundo e as pessoas tem seu próprio
jeito… e eles são o que são. Apenas isso.

Aquele que define de forma intransigente o seu certo descon-


sidera a complexidade do mundo e a riqueza das diferentes
visões e modos de ser e estar na existência. Por isso, a noção
do certo nos limita e vai criando sempre o movimento de cho-
que em relação a todas as diferenças. Por isso, quanto mais
enrijecemos nossa visão do “certo”, maior é o conflito criado
com tudo aquilo que foge do nosso conceito de certo e, obvia-
mente, mais peso passamos a carregar em nossa vida.

Por outro lado, quanto mais a pessoa flexibiliza suas noções,


suas verdades, suas opiniões, suas crenças, o seu “certo”, me-
nos preocupada ela fica, menos conflitos internos e externos
são criados, menos sofrimento ela gera para si mesma. A ne-
cessidade de seguir o “certo” é um peso imenso que você não
precisa carregar em sua vida…

Por isso, deixe de lado a necessidade de seguir o “certo”. Não


acredite na rigidez do certo. Não acredite no pensamento de
que as coisas “precisam ser desse ou daquele modo”, senão
tudo está errado. Não creia que você é obrigado a seguir este
ou aquele caminho correto. É preciso se libertar dessa prisão
mental para que possamos trilhar, de uma vez por todas, a
senda da felicidade e da paz em nossa vida.

79
O OUTRO PASSOU NA MINHA FRENTE

Um homem passa na nossa frente na fila do banco. Ficamos


bravos com isso, mas deixamos de lado e não reclamamos.
Quando esse homem chega ao caixa para ser atendido, a fun-
cionária diz que não pode resolver o problema dele. Nesse mo-
mento pensamos que de nada adiantou ele furar a fila e passar
na frente de várias pessoas.

Estamos há algum tempo parados num engarrafamento. De re-


pente, vemos um carro percorrendo rapidamente a pista pelo
acostamento e passando todos, o que é proibido por lei. Fica-
mos com raiva por alguém estar passando nossa frente no “jei-
tinho”. Passado algum tempo, o engarrafamento termina e vol-
tamos a andar normalmente na estrada. Após uma hora cru-
zando a mesma estrada, percebemos a ocorrência de um
grave acidente de carro. Assim que nos aproximamos, nos da-
mos conta de que o carro acidentado, com três pessoas mortas
na pista, era o mesmo carro que cruzou o acostamento pas-
sando na nossa frente. Nesse momento constatamos que de
nada adiantou ele passar na frente de todos.

Nosso chefe nos conta que vamos receber uma promoção a


um alto cargo na empresa que trabalhamos. Ficamos felizes
com essa notícia. No entanto, uma das funcionárias começa a
inventar uma série de mentiras a nosso respeito. Essas menti-
ras vão aos poucos minando nossa imagem diante dos colegas
de trabalho e do nosso chefe. Passado algum tempo, recebe-
mos a informação de que alto cargo almejado na empresa não
será mais nosso, mas da funcionária que inventou as muitas
mentiras a nosso respeito. Após alguns meses, essa funcioná-
ria tem uma parada cardíaca e vem a falecer. Nesse momento
constatamos que de nada adiantou ela criar várias mentiras e
tentar passar em nossa frente na busca pelo cargo.

Muitas vezes ficamos com raiva e sofremos porque alguém


“passou na nossa frente” em alguma situação corrente da vida.
No entanto, será mesmo que o outro está numa posição melhor
do que nós? Será que o “passar na frente” indica que a pessoa
se encontra numa posição privilegiada ou numa condição de
maior proveito, ou mesmo gozando de mais destaque?

80
O ser humano não admite que o outro “passe a sua frente” em
nenhuma circunstância, mas será que isso representa mesmo
uma vantagem? Ou será que a existência humana é tão rela-
tiva, como os exemplos citados, que não podemos determinar
quem está na frente e quem está atrás? Afinal, o que é o estar
na frente o que é o estar atrás? Será que devemos considerar
essas posições como definitivas ou como algo absoluto?

Nada do que existe na vida humana, nenhuma posição supos-


tamente “para frente” ou “para trás”, de vantagem ou desvan-
tagem, de privilégio ou de prejuízo, de benefício ou malefício,
pode ser considerada algo certo, verdadeiro e definitivo. A
qualquer momento tudo pode mudar e não ser mais como an-
tes. Além disso, muitas vezes consideramos que alguém está
na nossa frente, mas ao observar atentamente a vida da pes-
soa, constatamos que ela pode estar pior do que nós em outros
aspectos. Esse é o caso, por exemplo, de pessoas ricas que
vivem à base de antidepressivos, ou de pessoas muito bonitas,
mas que não conseguem ter um relacionamento feliz, ou do
homem que traiu sua mulher com várias, mas no final acaba
sozinho. Há alguma vantagem nisso? As pessoas precisam
compreender, de uma vez por todas, que o que denominamos
“melhor” ou “pior” são parâmetros humanos, limitados e total-
mente relativos, que não devem nos chatear, preocupar ou nos
fazer sofrer.

Da próxima vez que alguém passar a sua frente, ou levar al-


guma vantagem indevida, não se irrite, não se afobe, não se
deixe alterar por isso. Mantenha sua paz e não se esqueça que
as noções de “passar na frente” e “ficar para trás” além de se-
rem muito arbitrárias… são meras ilusões de nossa mente.

81
NÃO ADIANTA TENTAR CONTROLAR A VIDA

Uma pessoa que pega um barco e se arrisca a navegar no oce-


ano, sabe que vai encontrar ondas e condições desfavoráveis
em sua viagem.

O marinheiro sabe que não tem nenhum controle sobre o mar…


ele não pode controlar as ondas, os ventos, as tempestades ou
as correntes marítimas. Se ele enfrenta ondas grandes em alto
mar, seria absurdo tentar anular essas ondas para que sua na-
vegação siga em calmaria. O marinheiro precisa buscar se
equilibrar dentro do barco, para não ser jogado de lá para cá
pela força das ondas. O equilíbrio que ele deve buscar está
nele mesmo, na força dos seus braços e pernas e não na fútil
tentativa de controlar o mar para que este lhe seja favorável. O
mar é o que é… e vai se comportar conforme a sua natureza,
que é movimento contínuo, sobe e desce e instabilidade.

Tão absurdo quanto a prepotência do marinheiro em querer


controlar o oceano e sua força é o ser humano tentar controlar
as marés da vida para que estas lhe sejam favoráveis. O ser
humano quer buscar a estabilidade nas coisas do mundo para
que somente assim possa viver tranquilo. Ele deseja ganhar
bem para que possa ter estabilidade financeira e somente as-
sim viver em paz. Ele deseja que seu filho seja bem-sucedido
e saia das drogas para que somente assim ele possa viver des-
preocupado. Ele deseja que sua família conviva em harmonia
para que somente assim ele também esteja em harmonia. Ele
deseja que seu corpo esteja sempre com saúde para que so-
mente assim ele possa manter seu equilíbrio emocional e men-
tal.

Todas estas circunstâncias fazem parte da vida, são típicas da


natureza instável do mundo, não se pode controlá-las, não se
pode domá-las como pré-condição do nosso bem-estar, de
nossa paz e de nossa harmonia conosco mesmo. Isso seria
como o marinheiro tentar extinguir as ondas do mar… ou blo-
quear toda tempestade, ou domar o vento e fazer com que este
sempre sopre a seu favor. Isso é impossível, pois o mundo não
obedece às nossas conveniências humanas. É possível, du-
rante algum tempo, os ventos da vida soprem nosso favor, mas
tão logo o vento muda de direção nos levando para longe do
nosso caminho; tão logo as ondas se choquem com nosso

82
barco nos jogando no chão, tão logo a tempestade encha
nossa embarcação de água e quase a faça afundar, o ser hu-
mano se desespera, sofre, vive preocupado, pois ele não
aprendeu que não pode controlar as intempéries da vida para
que o barco siga bem em seu caminho.

Assim como o marinheiro deve buscar seu próprio equilíbrio


dentro do barco independente das ondas, marés e tempesta-
des, assim também o ser humano deve buscar esse equilíbrio
em si mesmo. O ser humano precisa parar de tentar equilibrar
o mundo dentro seus interesses e buscar não mais depender
das condições externas para ficar bem, tranquilo, feliz, harmo-
nizado e livre. O mundo nunca estará equilibrado para que pos-
samos nos equilibrar… o mundo nunca estará em paz para que
possamos viver em paz… e mundo nunca cumprirá o ideal que
criamos para que possamos viver uma vida ideal. Mas nosso
mundo interior, esse sim, pode estar em paz, em harmonia e
em felicidade.

O insensato e o ignorante sempre buscam controlar o mundo


para que seja possível controlar a si mesmo. Tentar domar o
externo para que o interno fique bem. O sábio aceita as trans-
formações e a instabilidade do mundo e desperta dentro de si
mesmo a tranquilidade, o equilíbrio e a felicidade mesmo diante
das condições mais caóticas possíveis. O caminho do sábio é
o único que leva à felicidade e a paz.

83
SOBRE DEUS

No universo existem dois fundamentos principais. Estes são o


ser e a essência.

Estamos chamando de universo, mas podemos denominar de


Deus, cosmos, existência, absoluto, vida ou até mesmo reali-
dade. O nome não tem importância, pois palavras são apenas
palavras. Ninguém deve permitir que a consciência fique apri-
sionada em palavras.

O que chamamos de Deus é, em verdade, a realidade, ou tudo,


ou ainda, se preferirem, o Todo.

Deus ou o absoluto jamais pode ser definido, descrito, rotulado,


compreendido pela mente, ou mesmo experimentado. O abso-
luto é inexprimível ou inefável. Alguns místicos se referem ao
absoluto como inefável, posto que é impossível compreendê-
los através de descrições teóricas. Como nos diz o Sutra Lan-
kavatara: “A mais alta Realidade é o eternamente impensável”.

Para compreender melhor Deus é necessário falar o que Deus


não é.

Deus não é um velhinho barbudo sentado no alto de uma nu-


vem com variações de humor. Se gosta de nós nos dá um pre-
sente, e se não gosta, nos lança desgraças em nossa vida.

Deus não é uma energia, pois se fosse uma energia, Ele seria
o efeito e não a causa primária de tudo.

Deus pode ser melhor definido como sendo tudo, todas as coi-
sas e também além delas.

Deus não é alguém e nem alguma coisa. Não é uma entidade


nem uma personalidade distinta da criação.

Deus é algo de ilimitado, infinito, eterno, imortal, imperecível,


incompreensível, não-dual, que tudo abarca, a causa de tudo,
a existência universal além do tempo e do espaço, embora Ele
também esteja presente dentro do tempo e do espaço.

84
Deus não é amor, nem paz, nem justiça, pois a forma como o
ser humano compreende o amor, a paz e a justiça não alcança
o que Deus é. Mas dentro da perspectiva do infinito, é possível
dizer que Deus não é justo, mas sim a própria justiça. Deus não
é amoroso, mas sim o próprio amor. Deus não é pacífico, mas
a própria paz infinita.

Uma boa imagem para agradar a mente, porém ainda muito


limitada, seria dizer que Deus apenas é, nada mais. Qualquer
adjetivação seria apenas uma forma de traçar um limite a algo
que, em essência, não tem fronteiras. Deus é. Eu sou o que eu
sou. O ser é o ser.

É correto dizer que cada pessoa cria um deus particular. Cada


um tem um alcance e um limite de percepção do que é Deus,
mas todos estes conceitos são imprecisos e, por isso, equivo-
cados. Dessa forma, quando uma pessoa fala de Deus, ela não
está falando verdadeiramente do Deus do universo, mas está
falando apenas do seu próprio deus.

Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, mas o mais


correto para o homem atual seria dizer que o ser humano criou
Deus a nossa imagem e semelhança. O ser humano humaniza
Deus. Ele projeta em Deus suas próprias qualidades, desejos
e imperfeições.

A maioria das pessoas tem uma visão de Deus onde tendem a


situá-lo no exterior delas mesmas, fora de si, em algum lugar
do espaço sideral ou fora do universo. Essa visão é um equí-
voco.

Não existe oposição entre Deus e o universo. Algumas pes-


soas imaginam que o universo está aqui e que Deus estaria
fora ou separado do universo. Nada mais falso, pois se assim
fosse, existiria um limite entre o que Deus é e o que Ele não é.
Mas como Deus é infinito, Ele não pode ter qualquer limite,
qualquer fator limitante.

Assim, o universo está dentro de Deus e o universo é Deus. Os


seres também não estão fora de Deus, mas estão dentro Dele,
vivem Nele e Dele retiram tudo o que tem e são.

85
Deus é onipresente, onipotente e onisciente. Isso significa que
Deus está em tudo, sabe tudo e pode tudo. No passado, Deus
era reconhecido como “O olho que tudo vê”. E isso está correto.

Deus está em nós e também fora de nós. Está no interior e no


exterior, acima e abaixo, no céu e na terra. No finito e no infi-
nito. No perfeito e no imperfeito. No erro e na virtude. Na po-
tência e no ato. Deus é o círculo e também o ponto no centro
do círculo. É o macrocosmos e também o microcosmos. Está
no infinitamente grande e no infinitamente pequeno e ambos
são um só. Está no ser e na essência.

Quando nos referimos a Deus, normalmente estamos falando


sobre os níveis ou planos de consciência e existência mais ele-
vados do cosmos, da realidade universal, os quais ainda não
temos acesso. Ao mesmo tempo, esses níveis, planos ou es-
tados de existência, consciência ou realidade estão todos pre-
sentes aqui e agora. Todos os planos e condições do cosmos
infinito são um só e estão em todos os lugares e ao lugar ne-
nhum. O ser humano é que tende a vislumbrar esses planos
como sendo múltiplos, mas em essência eles são um só.

O mesmo se pode dizer a respeito da energia. Não existem


milhares, milhões ou bilhões de formas e gradações da ener-
gia, assim como não existem níveis ou potenciais de energias,
nem vibrações baixas ou elevadas, ou frequências superiores
ou inferiores. Há apenas uma energia no universo, mas esta
energia é captada e transformada pelos seres. Ao ser captada,
ela passa a apresentar-se em aspectos diferentes de si
mesma, embora em essência seja uma coisa só.

Jamais podemos esquecer que não sabemos o que é Deus.


Deus é um profundo mistério. O maior mistério de todos. O pri-
meiro e último mistério. E todos nós, os seres que permeiam o
universo, somos parte desse mesmo mistério, pois somos
parte de Deus.

86
NÃO EXISTE O DAR ERRADO

Em nome de nossa felicidade e de nossa paz, precisamos com-


preender que não existe nem o “dar certo” e nem o “dar errado”
em nossa vida, pois tudo o que nos acontece tem como propó-
sito a nossa evolução.

Sim, a evolução é a palavra-chave de tudo o que nos acon-


tece… Quando uma pessoa diz que sua vida está dando er-
rado, isso não é verdade. A inteligência da vida está nos esti-
mulando à evolução, está nos forçando ao aprendizado… está
permitindo que pratiquemos o desapego… está nos ensinando
o despossuir, que Jesus já havia nos ensinado e nunca colo-
camos em prática (apesar de nos dizer cristãos). “Não acumu-
leis para vós tesouros na Terra”.

Quando a vida está supostamente dando errado, na verdade


tudo está dando certo, pois no universo de Deus não existe o
“errado”, não existe o “desvio”, não existe algo que esteja fora
do lugar, não existe o “desperdício”, tudo é aprendizado, tudo
é amadurecimento, tudo é desapego, tudo é evolução. Não
existe o caos… pois o caos nada mais é do que uma forma
ordem que ainda não conseguimos compreender. Também
não existe o acaso, pois o acaso nada mais é do que uma lei
ainda não entendida pelo ser humano. Tampouco há escuri-
dão… existe apenas nossa incapacidade de enxergar a luz que
tudo permeia.

Nada dá errado em nossa vida, pois não existem erros na cri-


ação divina. Tudo é aproveitado, tudo é útil, tudo nos eleva.
Não existe o fim de algo… existe o início de uma outra coisa.
Não existe a perda… existe o despossuir e o desapego que
nos conduz à liberdade. Como diz a máxima de sabedoria de
vida: “Quem perde o telhado, ganha as estrelas”.

Não existe o erro, existe o aprendizado. Não existe o desvio do


que deveria ser… existe apenas uma mudança de rumo. Não
existe o pior, pois sempre acontece o que é melhor para nosso
desenvolvimento interior. Não existe a barreira que nos atrapa-
lha, mas sim o obstáculo que estimula nossa superação em
transpor esse obstáculo. Não existe a crise, existe a oportuni-
dade. Não existe o fechamento de caminhos, existe a abertura
de um leque de novas possibilidades. Não existe o mal… existe

87
a transformação do nosso ser a partir das adversidades. Já di-
zia Lavoisier, na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se
transforma. O ser espiritual também se transforma sempre…
por isso não existe o “dar errado” na vida.

Da mesma forma, não existe a cruz pesada, existe a cruz que


trabalha nosso braço para que nos tornemos mais fortes. Tor-
nando-nos mais fortes, a cruz se torna mais leve e quase não
pesa mais. Nem mesmo existe a morte… existe apenas uma
passagem para uma nova vida, o renascer dentro de uma nova
realidade. Ninguém se perde nos caminhos da vida, pois quem
se perde em um lugar, se encontra em outro lugar. Não existe
a escuridão… existe a luz que a inteligência da vida nos ensina
a ver em todas as coisas.

Assim, não existe o “dar errado”… existe o desenvolvimento, o


aperfeiçoamento, o aprendizado e evolução eterna do espírito,
na imorredoura e inexorável jornada do ser.

88
A JUSTIÇA DA LEI DO KARMA

A lei de causa e efeito está em tudo. Todos os acontecimentos


da vida, sejam eles bons ou maus, tem relação com nosso
karma.

As doenças de todos os tipos, físicas e mentais, as catástrofes,


os acidentes, as balas perdidas, as brigas, os sentimentos ne-
gativos, as aversões e ódios entre as pessoas, a antipatia gra-
tuita, a pobreza, a miséria, a fome, o descaso, a indiferença, as
zombarias proferidas contra nós, o bullying, as deformidades
físicas, a paraplegia, as os graus de inteligência, as capacida-
des e habilidades, o local de nascimento, os abusos sexuais,
os bloqueios financeiros, os bloqueios amorosos, as mágoas,
as perturbações, os padrões que se repetem em nossa vida…
ou seja, absolutamente tudo o que nos ocorre, que fazem ou
não fazem contra nós, tudo o que nos acontece ou não nos
acontece, tem relação direta com nosso karma, com nossas
ações, pensamentos, sentimentos, intenções e escolhas desta
vida e de dezenas ou centenas de vidas passadas.

Um dos fundamentos da lei do karma é de que nada acontece


por acaso. Tudo o que veio a nós em nossa vida é a expressão
exata e matemática da lei de causa e efeito. Não poderia ser
diferente, pois a razão nos mostra que toda causa tem um
efeito e todo efeito tem uma causa… não há efeito sem causa
nem causa sem efeito. Assim, se não há efeito sem causa, ob-
viamente que a causa de nossas aflições e do cenário de nos-
sas vidas é fruto de uma semeadura anterior. Nós criamos no
passado as situações que hoje nos acometem. Ninguém pode
esperar semear jiló e colher banana. Aquele que semeia jiló,
vai inevitavelmente colher jiló. Algumas pessoas plantam jiló e
depois choram porque são obrigadas a colher o jiló. Que insen-
satez e cegueira profunda vive o ser humano!

A inteligência infinita da vida permite que cada pessoa semeie


o que quiser… mas ela é obrigada a colher o que semeou. A
colheita é o espelho exato da semeadura. Somos no presente
o reflexo do que fomos no passado e o passado nada mais é
do que o uso que fazemos do presente. Como diz a máxima:
“A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”. Se você
tem dúvida sobre o que escolheu em vidas passadas, ou sobre
como foi sua vida anterior, basta analisar como está sua vida

89
hoje. O que você experimenta hoje cujo controle lhe escapa
totalmente é a manifestação da lei divina de causa e efeito.

Todos aqueles que creem em Deus não podem deixar de ad-


mitir a sabedoria infalível desse princípio. Senão, vejamos:
como admitir que um Deus soberanamente justo, bom, perfeito
e amoroso permitisse que uma pessoa vivesse, por exemplo,
uma experiência de pobreza de forma arbitrária e injusta? Por
que submeter as pessoas ao mero acaso? Que culpa tem uma
criança de nascer numa família pobre e que mérito teria outra
criança de nascer numa família rica? Por que Deus faria essa
distinção entre seus filhos, se Ele ama a todos indistintamente?
Que Deus injusto seria esse que submeteria uns a uma vida de
alegrias, gozos, saúde e riquezas, e outros a uma existência
inteira de pobreza, fome, privações, doenças, dores, acidentes,
deformidades etc? O que dizer de pessoas que cuidam de sua
saúde e adoecem e outras que se descuidam e gozam de per-
feita saúde? Podemos admitir que esse pretenso Deus seria a
própria justiça? Esse Deus que admite o acaso e presenteia
uns com flores e ambrosia enquanto permite a destruição da
vida de outros seria mais parecido com um carrasco cósmico e
não com a inteligência infinita do universo.

Assim, se numa vida fomos algozes, na outra seremos as víti-


mas. Se numa vida fomos egoístas e buscamos tudo apenas
para nós, na outra vamos sentir os efeitos do egoísmo que se-
meamos no mundo. Se numa existência eu ataquei muitas pes-
soas, numa outra existência o atacado serei eu e isso pode
ocorrer de diversas formas. Se eu semeei o ódio numa ou mais
vidas passadas, nas próximas vidas vou colher o teor desse
ódio que eu mesmo plantei. Como disse Jesus: “Quem vive
pela espada, perece também pela espada”. Ou como se diz na
Bíblia: “Deus dá a cada um segundo suas obras”. Dependendo
de como eu criar minha obra numa vida, essa obra virá a mim
com toda força nas vidas seguintes.

90
FUI TRAÍDA… O QUE FAZER?

O sofrimento da traição só existe porque a pessoa cria uma


expectativa de fidelidade… depois de criada a expectativa de
fidelidade, com a traição, vem o sofrimento… Observe que o
ser humano cria o seu próprio sofrimento.

Caso a pessoa não esperasse nada, não criasse qualquer ex-


pectativa de fidelidade, de compromisso, de lealdade, etc, não
existiria a sensação da “traição”… o sentimento de que fomos
traídos só existe porque a pessoa não esperava que isso ocor-
resse… Ela criou em sua mente um ideal de fidelidade, com-
promisso e de “como as coisas devem ser”.

No entanto, a vida não corresponde ao nosso ideal… a vida


não é aquilo que esperamos que ela seja… a vida é o que é…
e não pode ser diferente. Aquele que fica esperando que a vida
siga seu ideal individual, sempre vai sofrer com traições e com
outras decepções e frustrações.

Com isso absolutamente não estamos afirmando que o infiel


esteja correto. O infiel também cria seu próprio sofrimento
quando se submete a situação de mentira, dissimulação etc.
Ambos estão criando sofrimento para si… tanto o infiel quanto
a pessoa que criou a presunção de fidelidade, como se esta
fosse parte de um relacionamento e algo a ser esperando, al-
mejado e faça parte de um certo ideal de relacionamentos.

O que estamos tentando fazer é libertar as pessoas do sofri-


mento que a infidelidade causa. O sofrimento da infidelidade
tem uma causa, isso é certo… e essa causa está exatamente
na expectativa que se cria em torno do valor da fidelidade. Não
importa se julgamos certo ou errado a infidelidade. O que im-
porta é que as pessoas criam em suas vidas as condições de
evitar qualquer tipo de sofrimento a partir do momento pre-
sente.

Libertar o ser humano do sofrimento é muito mais importante


do que ficar definindo o que é certo e o que é errado, ou como
devemos nos comportar num relacionamento… Nossa paz é
sempre mais importante do que qualquer situação de fidelidade
ou infidelidade.

91
Dessa forma, não crie seu próprio sofrimento com desejos e
expectativas. Aceite a vida como ela é… e o sofrimento ter-
mina.

92
BUSCAR NOSSOS SONHOS

Se você quiser viver buscando seus desejos e sonhos, bus-


que… não há nada de errado nisso.

No entanto, você não pode jamais esquecer de algumas coisas


muito importantes:

1 – Não acredite que a realização de um sonho é garantia de


felicidade. Algumas pessoas que realizam seus sonhos podem
sentir uma alegria por um tempo, mas depois de um tempo
essa alegria se esgota e a pessoa já quer algo mais… e já se
torna novamente insatisfeita com o que tem. Em outras ocasi-
ões a pessoa percebe que esses sonhos não são algo tão ma-
ravilhoso assim… e muitas vezes pode até lhe trazer mais pro-
blemas.

2 – Sempre é possível perder o objeto de nosso sonho e depois


voltar a ser infeliz. Todos os sonhos podem ser pedidos… e
quando perdemos, voltamos a estaca zero… e o sofrimento
pode ser ainda maior do que antes da realização do sonho.
Uma mulher pode, por exemplo, ter o sonho de se casar… ela
se casa e depois de muitas brigas, o casamento termina. Nesse
caso, o sofrimento será ainda maior. Com isso, obviamente,
não estamos dizendo que as pessoas não devem se casar…
mas sim que as pessoas não devem acreditar que seus sonhos
as farão felizes ou resolverão suas vidas.

3 – É sempre preferível ser feliz agora do que ficar anos e anos


esperando pela realização de um sonho. Muitas vezes não
conseguimos realizar nossos sonhos… o número de pessoas
que não conseguem realizar seus desejos e sonhos é maior do
que as pessoas que conseguem. Por isso, é preferível ser feliz
agora, no momento presente, ao invés de passar a vida espe-
rando alguma coisa acontecer.

4 – Como já dissemos em várias ocasiões, é certo que, quanto


mais esperamos que algo aconteça, mais frustrados ficamos
quando não conseguimos o que esperamos. A alta expectativa
é frequentemente um sentimento que gera muito sofrimento em
nossa vida… pois quando não conseguimos o que esperamos,
sofremos… quanto mais esperamos, mais sofremos. Por isso,

93
não crie expectativas de realizações de sonhos, para não ter
seus anseios frustrados depois.

5 – O sonho sempre parece mais gostoso do que a realidade.


Há muitas pessoas que confirmam esse fato. Elas esperam
boa parte da vida pela realização de algo, e quando realizam,
acham bom, mas não era tão bom, tão mágico, tão ideal e tão
perfeito quanto elas supunham antes de experimentar aquilo.
A idealização de nossa mente pode com frequência nos fazer
supor que algo é melhor do que na verdade é.

6 – A busca de sonhos também pode ser um mecanismo de


defesa, uma espécie de fuga da realidade. Uma pessoa que
fica criando muitos sonhos pode ser alguém que tenha dificul-
dades em aceitar sua vida como ela é. Claro que, algumas ve-
zes, nossa vida pode mudar, mas não podemos ficar criando
sonhos que sejam como escudos contra o enfrentamento da
realidade.

7 – O costume nos faz cansar daquilo que tanto almejamos.


Sim, o ser humano funciona assim… quando ele não tem al-
guma coisa, ele valoriza muito, mas assim que ele conquista o
que não tinha… ele passa a desvalorizar o que já possui. Isso
é muito comum… a pessoa realiza, por exemplo, o sonho da
casa própria. Passam alguns anos… e aquilo se torna algo
muito comum para ela. A pessoa se acostuma e a casa passa
a ser algo ordinário, comum, normal… que já não traz mais ale-
gria para ela como ela imaginou que seria. Muitas vezes pas-
samos a vida lutando por algo que depois descobrimos não ter
tanto valor quanto atribuímos em nossas idealizações.

Por isso, repetimos… quem quiser viver buscando seus so-


nhos, pode fazê-lo. Mas por favor, não acredite que sua felici-
dade depende disso… não acredite que você necessita disso,
que sem a realização de um sonho, você estará incompleto.
Acreditar que a realização dos sonhos traz felicidade é uma
das maiores mentiras do nosso tempo. É sempre melhor ser
feliz agora… do que viver esperando algo acontecer.

94
ESPIRITUALISMO FALA DE PECADO?

O espiritismo e o espiritualismo não falam em pecado… tam-


bém não desejam impor regras de conduta a ninguém. Tanto o
Espiritismo quanto o Espiritualismo, assim como a Luminosofia
mostram apenas a causa e a consequência de nossa conduta,
de nossas escolhas.

Não há nenhum mal em você seguir por um ou outro caminho…


o mal está no sofrimento que isso vai lhe proporcionar. A esco-
lha de um caminho te levará a uma consequência… a escolha
de outro caminho te levará a outra consequência… a escolha
de um terceiro caminho te conduzirá a uma terceira conse-
quência. Não há nenhum problema você escolher o primeiro,
segundo ou terceiro caminho… você tem o livre arbítrio para
decidir.

O que o Espiritualismo nos adverte é que a escolha de um ca-


minho pode te conduzir ao sofrimento. O único mal de seguir
um caminho de trevas é que este caminho te fará sofrer lá na
frente… ele tem uma causa, que é nossa escolha… e tem uma
consequência, que será o sofrimento. A escolha por um cami-
nho de trevas te conduzirá a uma vida de trevas… onde as tre-
vas vão escurecer a sua visão e toda a sua existência se trans-
formará em trevas. Mais uma vez vemos claramente a causa e
a consequência. Nenhum código de moral pré-estabelecido,
nenhuma regra inviolável, nenhum decreto divino que define
pecados. Apenas causa e efeito. O caminho e os resultados
desse caminho.

É como uma pessoa que fuma. Será que é pecado fumar?


Não… não é pecado, até porque não existem pecados. Mas o
fumo é uma causa… e essa causa trará uma consequência,
como também uma série de problemas de saúde que o fumante
vai experimentar ao longo da vida. Então fumar não é pecado…
o problema é a intoxicação que você produz a si mesmo e que
te fará sofrer, caso você continue nesse caminho. O mesmo
ocorre com aqueles que, por exemplo, têm mágoa e ódio. Essa
mágoa e esse ódio vão intoxicar a energia da pessoa e essa
energia tóxica vai criar uma série de consequências nefastas
na vida, atraindo todo tipo de situações que a farão sofrer. A
escolha é sua… O caminho do mal é um caminho de autointo-
xicação, em que o único prejudicado será a própria pessoa.

95
É pecado você mentir para uma pessoa? Não…. O grande pro-
blema é, mais uma vez, a causa e a consequência. O mentir
repetido fará com que, por exemplo, ninguém mais no futuro
acredite em você… e você poderá começar a mergulhar mais
e mais na ilusão que você mesmo criou para si. Viver nessa
ilusão vai certamente lhe causar sofrimento no futuro. O
mesmo ocorre, por exemplo, com julgar o próximo. Jesus já
nos advertiu a esse respeito… O mestre disse que “Quem jul-
gar será também julgado”. Jesus não disse que julgar era pe-
cado, que é errado, que viola regras divinas… mas ele apenas
mostrou a causa e a consequência que o julgamento pode nos
proporcionar.

Outra situação, por exemplo, é da pessoa que vive apenas jun-


tando dinheiro em sua vida. Trata-se de uma pessoa materia-
lista e que gosta de sempre acumular coisas, depositando sua
vida nos bens materiais. Essa é outra condição que Jesus tam-
bém nos advertiu, de acordo com a lei de causa e efeito. Jesus
disse para não acumularmos tesouros na Terra, pois as traças
os consomem e os ladrões arrombam e roubam. Jesus estava
alertando que os tesouros da terra são sempre passageiros e
quem se apega a eles, vai sofrer quando perde-los. Por isso,
Jesus nos adverte a apenas buscar os tesouros do céu, pois
estes não são passageiros e ficarão conosco pela eternidade.

Assim, não é pecado desejar ganhar mais e mais dinheiro… o


único problema disso é que um dia esse dinheiro será perdido
e quando isso ocorrer, a pessoa vai sofrer com essa perda.
Mais uma vez vemos a causa (desejo pelo dinheiro) e a conse-
quência (sofrimento da perda do dinheiro). Precisamos todos
compreender bem esse mecanismo de causa e efeito; de es-
colhas e de consequências dessas escolhas, posto que a única
razão pela qual devemos evitar certos comportamentos, atitu-
des ou decisões em nossa vida é que futuramente eles serão
fonte de muito sofrimento. É uma escolha que nos prejudicará
muito e que, no final das contas, não vai valer a pena. Jesus
também se referiu a causa e a consequência em outras ocasi-
ões, quando disse, por exemplo, que quem vive pela espada
também perecerá pela espada.

É apenas isso que o Espiritualismo nos sinaliza… a causa e o


efeito… a semeadura e a colheita. Você pode semear o que

96
você quiser, mas será obrigado a colher o que semeou… e
essa colheita pode não ser nada agradável. Você pode seguir
o caminho que você quiser… o espiritualismo fala do livre arbí-
trio…. e o livre arbítrio é sagrado e ninguém pode viola-lo, nem
mesmo Deus. Mas essa livre escolha vai sempre te trazer uma
consequência… a essa consequência pode ser de muito sofri-
mento, dependendo do que você escolheu e semeou.

97
CAMINHAR PELA ETERNIDADE

A vida do espírito é um caminhar eterno… É uma estrada infi-


nita… uma busca por si mesmo, por algo que já está eterna-
mente presente no ser que é.

Devemos sempre seguir no caminho da vida… nunca olhar


para trás e nem ficar parado, mas sempre seguir em frente em
nossa jornada. Aquele que fica parado, acaba perecendo, mas
quem segue em frente, cresce, se desenvolve, se melhora, se
eleva ao infinito.

Não espere nunca que o caminho seja totalmente vazio de obs-


táculos e dificuldades. Todo lugar vai ter um buraco, uma pe-
dra, um animal feroz, alguns espinhos, uma barreira, ou qual-
quer outra dificuldade ou contrariedade que precisamos atra-
vessar. Não existe caminho sem adversidades, sem provas
que nos obriguem a transpô-las. O caminho sem coisa alguma
seria um caminho inútil, que nada nos traria de positivo, pois
não nos instiga a melhora… As pessoas não iriam gostar de
seguir um caminho sem ondulações, um caminho que fosse
uma via sempre igual a si mesma. Isso iria nos estagnar e nada
nos acrescentaria.

Não existe um caminho pré-definido, cada pessoa sempre se-


gue um caminho único. Também não existe caminho certo ou
caminho errado, há apenas caminhos… e cada um faz o seu.
O seu caminho é sempre original, é sempre diferente dos ou-
tros, ninguém pode sair do lugar imitando as pegadas de outros
ou tentando ser igual aos demais. O caminho é criado quando
caminhamos e nosso caminho é sempre diferente… e é ape-
nas na diferença que todos são iguais.

O caminho sempre é eterno… ele nunca termina. Quando sen-


timos que um caminho acabou, outro caminho começa… o fim
de um caminho é sempre o começo de outro… e assim vamos
seguindo até o infinito.

Como diz a máxima de sabedoria: não existe caminho para a


paz, a paz é o caminho. Não existe caminho para o amor, o
amor é o caminho. Não existe caminho para a felicidade, a fe-
licidade deve começar no caminho, senão nunca a encontrare-
mos.

98
Existem muitas distrações no caminho. A todo momento vemos
pessoas, coisas e situações que tentam nos desviar da estrada
que seguimos. Há pessoas que nos ofendem… e nosso instinto
é parar de caminhar e tirar satisfação com a pessoa. Há pes-
soas que nos convidam para ficar em locais agradáveis fora do
caminho… e podemos ficar perdidos por um longo tempo nes-
ses locais. É preciso seguir independente das distrações e das
tentações, que estão por toda parte. Caminhar é ignorar as dis-
trações que nos desviam do caminho.

Aqui vale a máxima daquele conto… o horizonte nunca é al-


cançado. Por mais que caminhemos em sua direção, nunca
nos aproximamos dele. Para que serve o horizonte então? Jus-
tamente para nos fazer caminhar. Assim é a vida… estamos
sempre caminhando com vistas a um ideal, mas esse ideal
nunca é atingido. O ideal nos ajuda a sair do lugar, mas ele não
pode ser alcançado, posto que a perfeição não é desse mundo.

Quando partimos em busca de algo, sempre idealizamos o que


vamos encontrar, mas quando encontramos o que estávamos
buscando, nunca é exatamente como imaginamos, às vezes
pode ser bem diferente, até mesmo o oposto. Por isso, não de-
vemos nunca idealizar o que vamos encontrar, pois o impor-
tante é caminhar sem esperar encontrar algo determinado. Ca-
minhar por caminhar, sem esperar resultados. Quem fica espe-
rando algo acontecer no caminho, sempre se decepciona, e por
isso, muitas vezes perde a vontade de continuar seguindo.

Quando percorremos um caminho, não podemos ficar preocu-


pados com o que vai acontecer lá na frente, quando chegarmos
em tal ou tal lugar. É preciso se concentrar na pedra que está
a nossa frente agora, e somente quando passarmos pela pe-
dra, veremos o que nos aguarda depois. Ficar imaginando o
que vamos encontrar nos dispersa do que precisamos fazer
agora. Concentre-se no passo seguinte e deixe o caminho fu-
turo para quando ele chegar.

O caminho não é linear… Podemos ficar dando voltas e mais


voltas, andando em círculos. É possível ir e depois voltar…
abrir um caminho aqui e esse caminho nos conduzir ao mesmo
ponto. Por isso, é preciso contemplar os princípios eternos da
alma, que são como as estrelas do céu… nunca mudam e po-

99
dem revelar a direção que devemos seguir, em ressonância
com a bússola do nosso espírito e de nossa fé.

Durante a estrada da vida, quanto mais bagagens você levar,


mais pesado e lento será o seu caminhar. Aquele que carrega
culpas, preocupações, medos, mágoas, cobranças e todo tipo
de sentimentos negativos acaba não conseguindo seguir livre-
mente na eterna jornada da existência. É preciso soltar tudo
aquilo que nos atrasa, todos os pesos que carregamos, para
que possamos caminhar de forma livre e leve, carregando ape-
nas o aprendizado da alma. Por isso os mestres ensinam o “ca-
minhar vazio”, o caminho que se faz sem qualquer bagagem
pesada… apenas o ser com ele mesmo, totalmente livre de
tudo.

100
VIVER EM PAZ

Era uma vez uma jovem que vivia preocupada. Ela não conse-
guia ter paz, pois desejava conseguir certas coisas na vida.

Essas preocupações com a vida geravam grande estresse


nela. Então ela pensava: “Deixarei de ficar tão preocupada
quando conseguir passar na faculdade”.

Após alguns anos, ela passou numa boa faculdade.


Tempos depois, ela sentiu que estava muito tempo sozinha e
ficou com medo de nunca casar. Ela então pensou: “Deixarei
de ficar tão preocupada quando conseguir casar com o homem
que eu amo”.

O tempo passou e ela conheceu um rapaz muito bom. Apaixo-


nou-se e casou numa linda festa. No entanto, ela não conse-
guia engravidar e ficou muito preocupada de nunca ter filhos e
não poder constituir uma família. Ela então pensou: “Deixarei
de ficar tão preocupada quando conseguir engravidar”.

Após alguns anos, ela finalmente engravidou… Seu marido


perguntou se agora ela estava tranquila e despreocupada. Ela
disse que sim…

No entanto, pouco tempo depois, o bairro em que ela morava


se tornou muito perigoso, com muitos assaltos e assassina-
tos… Novamente as preocupações voltaram de forma intensa
e mais uma vez ela estava muito nervosa. Ela então pensou:
““Deixarei de ficar tão preocupada quando conseguir me mudar
para um local mais tranquilo, com menos violência”.

Passados 15 anos, seu marido conseguiu um emprego me-


lhor… e eles se mudaram para uma região mais segura da ci-
dade. “Agora estou mais calma”, pensou.

Logo depois, seu filho começou a não se dar bem na escola…


e mais uma vez as preocupações retornaram com toda força.
Ela então pensou: “Deixarei de ficar tão preocupada quando
meu filho estiver bem encaminhado na vida”.

Mas os anos foram passando… e o filho não ia bem na escola,


não passou na faculdade e não conseguia emprego.

101
Ela estava muito nervosa com essa situação.

Os anos passaram… e seu filho acabou conseguindo um bom


emprego numa grande empresa. Ela respirou aliviada e pensou
que, agora sim, finalmente, pela primeira vez em sua vida. ela
poderia se despreocupar e ter um pouco de paz de espírito.

No entanto, pouco tempo depois, ela descobriu uma grave do-


ença… e começou rapidamente a fazer muitos tratamentos
para se curar. Ficou muito preocupada em morrer… e não con-
seguia mais ter paz. Ela então pensou: ““Deixarei de ficar tão
preocupada quando conseguir me curar dessa doença”.
Mas aconteceu que o tratamento não fazia efeito… e ela ficou
ainda mais preocupada. Meses depois, ela foi a óbito… e aca-
bou morrendo bastante preocupada e infeliz.

Essa história nos mostra uma lição muito importante para a


vida. Pessoas que vivem esperando segurança, estabilidade e
circunstâncias favoráveis para só depois conseguirem se des-
preocupar de tudo jamais conseguirão ter paz. A crença
de: “vou ficar despreocupada quando meu filho se der bem na
vida” ou “vou ficar em paz quando conseguir um emprego” é
falsa, é uma grande ilusão, pois tudo sempre pode mudar a
qualquer momento e a paz é perdida mais uma vez.

Por isso, todos precisam compreender essa verdade: ou você


tem paz agora, independente das circunstâncias da vida… ou
você nunca ficará despreocupado e nunca terá a tão esperada
paz. Ou você tem paz agora, ou nunca terá. Ou você se des-
preocupa de tudo agora… ou viverá sempre com preocupa-
ções. Esperar alguma coisa acontecer para só então se des-
preocupar é seguir pelo caminho que nos leva a uma preocu-
pação infindável… uma preocupação que nunca, nunca
mesmo poderá ter um fim.

102
ATITUDES QUE EVITAM A DEPRESSÃO

1 – Não espere nada das pessoas. Quanto mais você espera,


mais você se frustra depois por não ter suas expectativas aten-
didas.

2 – Não fique se cobrando e se exigindo uma vida ideal, sem


erros. Aceite seus erros e suas imperfeições. É melhor ser feliz
do que ter uma vida impecável.

3 – Expresse mais seus sentimentos sem medo, não bloqueie


suas emoções. Deixe a lágrimas correr livre, deixe a emoção
se expressar livremente. Não se reprima para ser o “forte”.

4 – Fique bem menos tempo nas redes sociais, e quando en-


trar… busque apenas conteúdos relevantes, profundos e espi-
rituais.

5 – Não acredite que o dinheiro pode te trazer segurança, paz


ou felicidade. Se dinheiro trouxesse felicidade, nenhum rico to-
maria antidepressivos.

6 – Procure dormir sempre à noite, evitando dormir durante o


dia. O sono da noite é mais revigorante.

7 – Fique mais tempo na natureza, com as árvores e os ani-


mais, nossos irmãos… e menos tempo com celulares e apare-
lhos eletrônicos diversos.

8 – Leia livros profundos, com bom conteúdo e espirituais. Isso


vai tornar sua vida menos superficial e mais feliz.

9 – Não ceda ao dogmatismo religioso e nem fique criticando


os membros de outras religiões. Se você julga outros religio-
sos, deixa de praticar sua própria religião.

10 – Pare de ficar buscando o reconhecimento dos outros…


você não precisa provar nada a ninguém.

11 – Não faça jamais de outra pessoa a sua razão de viver e


pare de viver em função do outro. Ou você vive a sua própria
vida ou simplesmente não vive.

103
12 – Não se importe com o que os outros pensam de você.
Ninguém controla a própria imagem. Não se torne o que outras
pessoas esperam, mas seja você mesmo.

13 – Pare de ficar buscando qualquer companhia apenas para


não ficar sozinho. É melhor estar sozinho, consigo mesmo, do
que ficar se sentindo sozinho com alguém.

14 – Cultive momentos de calmaria e silêncio onde você está


apenas com você mesmo, sem preocupações exteriores. Um
tempo de ócio, de estar apenas consigo mesmo, é essencial
para sua saúde mental e para sua vida espiritual.

15 – Não tente impor ou moldar alguém dentro de suas cren-


ças. Respeite o livre arbítrio do outro, assim como você quer
que seu livre arbítrio seja respeitado.

16 – Ouça músicas com arte, profundidade, poesia e beleza…


ao invés de músicas barulhentas, com letras superficiais, de
sexualidade e ostentação.

17 – Não acredite que relacionamentos podem te trazer felici-


dade, ou que um companheiro ou companheira pode te preen-
cher. Quem não consegue ser feliz sozinho tampouco será feliz
com alguém.

18 – Quem quiser buscar seus sonhos, busque… mas lembre-


se que é muito melhor ser feliz agora, dentro da sua realidade.

19 – Não fique fugindo dos seus problemas, pois essa fuga só


alimenta o problema e nos torna ainda mais vulnerável a eles.

20 – Não fique preso ao passado, mas procure sempre seguir


em frente. Não importa o que aconteça, continue seguindo…
sem olhar para trás. Quem para, perece… quem segue, re-
nasce.

21 – Procure sempre aprender com seus erros, pois quem não


aprende com seus erros, tende a repeti-los no futuro.

22 – Não acredite que algo ou alguém pode preencher seu va-


zio… isso só você pode.

104
23 – Não fique jogando conversa fora. A fala é uma energia
que não deve ser desperdiçada.

24 – Não fique tentando imitar as pessoas. Procure buscar a si


mesmo… ninguém é feliz tentando ser uma cópia do outro.

25 – Alimente-se apenas de forma saudável, de preferência co-


midas orgânicas e livres de transgênicos.

26 – Faça exercício físico sempre que possível.

27 – Sinta a maravilha e a dádiva de estar vivo aqui e agora.


Lembre-se que a morte pode chegar a qualquer momento. Por
isso, viva sem preocupações e sem medo.

28 – Devolva sempre o ódio com amor, a agressão com a be-


nevolência, o mal com o bem, as trevas com a luz.

29 – Ore por aqueles que te fizeram mal… deseje o bem a


quem te feriu. Essa é a melhor forma de curar sua ferida in-
terna.

30 – Respeite o outro para ser respeitado. Ame para ser


amado. Só faça ao outro aquilo que deseja para você. Essa é
a regra áurea do bem viver.

31 – Não se apegue a nada nem a ninguém… quanto maior o


apego, maior o sofrimento quando algo vai embora.

32 – Procure conduzir sua vida da forma mais simples, leve,


espontânea e solta possível… A simplicidade nos traz paz, fe-
licidade e nos aproxima de Deus.

33 – Não fique programando muito as coisas nem tentando


controlar nada, pois a vida se vive sempre no improviso e tudo
pode acontecer diferente do que foi programado. O único con-
trole que você pode ter na vida é sobre você mesmo.

34 – Procure não se apoiar em nada, pois um dia esse apoio


vai embora… e o resultado é sua queda no chão.

105
35 – Não fique julgando ninguém. Nunca sabemos o que as
pessoas passaram para se tornarem quem são… e um dia
você pode estar fazendo o que tanto criticou no outro.

36 – Olhe para a vida com mais humildade… você não precisa


ser melhor do que ninguém para viver bem e feliz.

37 – Duvide sempre de suas crenças. Rompa com suas verda-


des e abra sua consciência… Nada pode ser mais angustiante
do que viver sempre rodando o mesmo programa mental.

38 – Não viva no piloto automático. Tudo o que você fizer, faça


com consciência… A vida não pode ser apenas responder ce-
gamente aos estímulos e impulsos.

39 – Solte todos os pesos que você carrega. Não vale a pena


ficar conduzindo cargas mentais e emocionais. Liberte-se dos
pesos… só assim você vai conseguir caminhar com leveza e
liberdade.

40 – Ame a si mesmo sempre. Amar-se não é se achar melhor,


mais bonito ou mais capaz, mas sim se aceitar. A autoaceita-
ção é muito importante para a felicidade.

41 – Não fique sofrendo pelo que lhe falta, mas aprenda a va-
lorizar o que você tem. É sempre melhor ser feliz com o que
temos do que ficar sofrendo pelo que nos falta.

42 – Não fique buscando o perdão do outro… o que você deve


fazer é perdoar a si mesmo. O autoperdão é essencial para
uma vida feliz.

43 – Coloque sempre sua paz e sua felicidade em primeiro lu-


gar.

106
APRENDIZADO DO ESPÍRITO

As pessoas ficam tristes, deprimidas e frustradas com determi-


nadas situações vividas por outras, mas precisamos compre-
ender que toda experiência é uma experiência importante para
o espírito.

O espírito encarnado que se envolveu com drogas, por exem-


plo, tem um aprendizado a tirar dessa experiência da droga. O
espírito encarnado que se suicidou, por exemplo… isso pode
nos parecer uma derrota total, pela perda de sua vida, mas o
espírito tira um precioso aprendizado até mesmo dessa expe-
riência e isso lhe é muito útil para sua vida na eternidade e para
sua evolução.

O espírito que vive a experiência de ser um assassino não está


perdendo coisa alguma, não está falhando, não está perdendo
sua vida… mas está ganhando uma preciosa experiência a
partir de suas escolhas como assassino, e isso lhe trata um
aprendizado valioso para seu espírito, que promoverá uma pu-
rificação do seu ser. Observemos que nada se perde… nada é
desperdiçado… não é inútil durante a encarnação, pois tudo é
experiência que vai enriquecer o espírito com um aprendizado
espiritual. Por que então sofrer com um filho nas drogas? Não
sofra, pois ele vive o aprendizado que precisa viver, ele atra-
vessa a experiência mais importante pata ele… pois está ex-
perimentando suas próprias tendências e vendo como isso
pode lhe autodestruir. Todo esse processo o ajuda na liberta-
ção dessa tendência e todas as tribulações vividas com a ex-
periência de uma tendência lhe traz uma purificação dessa ten-
dência e uma libertação em relação a ela. Como o espírito iria
tratar uma tendência negativa sem experimentar essa tendên-
cia com toda intensidade na prática da vida? Não seria possí-
vel…

Esse processo é semelhante a alguém que gosta muito de do-


ces… mas os doces lhe causam dor de barriga. A pessoa pre-
cisa comer todos os doces que quiser… e ao mesmo tempo
sentir os efeitos que os doces causam à sua saúde, com as
dores constantes de barriga. Ela vai comer doces até se cons-
cientizar de que o doce lhe faz mal à saúde e até se libertar
desse desejo desenfreado pelos doces… É preciso viver a ten-
dência, ou seja, comer muitos doces, e as consequências dos

107
doces: a dor de barriga e os problemas de saúde. Se ela não
vive isso intensamente, não aprende que os doces causam do-
res e prejuízo à saúde e, assim, não consegue se libertar do
desejo pelos doces e não consegue purificar seu organismo.
Primeiro o espírito encarnado experimenta a tendência, por
exemplo consumir drogas… depois ele experimenta todos os
efeitos das drogas, tanto em seu organismo, como na socie-
dade, como na família e toda degeneração moral que a droga
causa… depois ele vive o sofrimento relacionado a tudo isso e
sente que precisa se libertar das drogas. Depois da libertação
das drogas, vem a purificação do seu organismo de toda toxina
decorrente das substâncias que ingeriu, que é semelhante,
para o espírito, a libertação de uma tendência qualquer, se-
guida de uma abstinência que proporciona a purificação do seu
ser…

Se ele não viver tudo isso, continua com suas tendências, não
vive as consequências, não se liberta e, também, não se puri-
fica. Por isso que as experiências, mesmo sendo muito doloro-
sas, são extremamente necessárias à sua libertação e purifica-
ção. O espírito vai levar esses benefícios por toda a eternidade.
O que são algumas décadas de sofrimento em relação à eter-
nidade? Nada… seria o mesmo que deixar de tomar uma va-
cina por causa da dor da pontada da agulha, que dura alguns
segundos, e esquecer que a vacina te libertará daquela doença
por toda a vida. Se mesmo depois de todas essas explicações
você ainda acha que é muito difícil viver tudo isso, pense por
um momento: o que é mais importante, o que ocorre na vida,
ou o que levamos após a morte? É preciso decidir o que tem
mais valor em sua vida…

Portanto, sempre que você vir uma pessoa vivendo uma pro-
vação muito difícil, como doença, drogas, criminalidade, po-
breza, fome, etc, saiba que nada disso é em vão, tudo tem uma
razão… e a razão primordial é a purificação, é a elevação, é o
aprendizado… é a ascensão do ser ao infinito.

108
POR QUE NÃO PODEMOS VIVER SÓ O BOM?

No outro dia uma pessoa fez o seguinte questionamento: Por


que a vida não pode ser só o bom? Por que precisamos sempre
viver coisas ruins e negativas? Não seria melhor se tudo fosse
apenas bom e agradável?

A resposta a essa pergunta exige uma reflexão… Vamos ana-


lisar isso:

Se a nossa vida fosse constituída apenas de coisas boas, é


certo que, em dado momento, qualquer pessoa iria enjoar
desse bom. Sim… haveria um tédio generalizado e isso faria a
maré da vida pender para o outro lado, buscando o diferente
do bom, que se tornou enjoativo, chato, mesmice, entediante.
O bom, quando repetido, acaba não gerando o mesmo efeito
do que as primeiras vezes que nós o experimentamos. Com o
tempo, a repetição vai gerando tédio e vai desgastando a ex-
periência do que era bom.

Assim, quanto mais experimentamos o bom, mais ele vai aos


poucos deixando de ser bom e passa a ser algo comum, corri-
queiro, normal. Passa a ser até mesmo algo chato, repetido,
sem graça. Você pode adorar comer doces, mas se você co-
mer apenas os mesmos doces todos os dias, vai chegar um
momento em que você não vai mais aguentar comer doces e
vai passar a detestar o doce. Ou seja, o que era uma coisa boa,
pela repetição incessante, acaba se tornando algo ruim, pois
fica enjoativo, chato, sem graça, desinteressante.

Quando uma pessoa tem uma vida muito boa e fácil, muitas
vezes ela acaba se desinteressando das coisas, tudo começa
a perder o sentido. Ela pode ir tentando fazer esse bom se tor-
nar cada vez melhor e mais prazeroso. O resultado disso é
visto em muitos jovens que, sempre tendo coisas boas e facili-
dades, entram no mundo das drogas a fim de tentar potenciali-
zar esse bom, que já havia se tornado entediante. Dessa forma,
mesmo quando vivemos uma vida dita “perfeita” segundo os
padrões humanos da sociedade moderna, aos poucos essa
“perfeição” vai perdendo o sentido, posto que a mesmice e as
facilidades vão sugando o seu sentido mais profundo. Muitas
pessoas que vivem assim entram em depressão… e passam a
não ver mais sentido em suas vidas.

109
Por isso que se diz que o bom só existe em função do mau. Se
a vida fosse só o bom, o agradável, o satisfatório, o prazeroso,
o bom não seria bom, pois não haveria o seu oposto para criar
o contraste e fazer o bom ser identificado, reconhecido e viven-
ciado. Se tudo fosse só o bom, o bom se tornaria tão presente
que já não seria mais bom… seria o normal, e o bom perderia
a qualidade e natureza do bom. Uma vida só de coisas boas é
uma vida onde não existe superação, felicidade, crescimento…
é uma vida fadada ao desespero e ao vazio.

Os mestres da humanidade dizem que o objetivo da vida não


é buscar o bom e afastar-se do mau… mas sim elevar nossa
consciência para além dos opostos de bom e mau, positivo e
negativo, prazer e dor, luz e sombra etc. O objetivo não é ja-
mais buscar o bom e fugir do mau… quem vive dessa forma
estará sempre criando seu sofrimento. Não importa o que
aconteça, é impossível viver só o bom.

Dessa forma, objetivo da vida é dissolver nosso entendimento


de bom e mau e transcender essas polaridades.

110
VOCÊ É UM GUERREIRO DA LUZ

A encarnação do espírito é semelhante a vida de um soldado.


Vamos imaginar que um soldado foi à guerra e lutou uma ba-
talha muito simples, sem muita resistência do seu inimigo, num
terreno plano, com poucas armas, sem necessidade de grande
esforço de sua parte. Esse soldado, apesar de ter vencido a
guerra, não receberia as condecorações devidas, de honra ao
mérito, por grandes feitos militares.

Por outro lado, vamos imaginar um outro soldado que tenha


lutado uma batalha duríssima com um inimigo mais forte do que
ele. Esse soldado enfrentou frio, fome, privação de sono, um
terreno lamacento, insetos, condições climáticas adversas,
dentre outros percalços. Mesmo assim, esse soldado, junto
com seu exército, não reclamou das duras condições a que foi
submetido nessa batalha, mas lutou inspirado contra um ini-
migo mais poderoso do que ele, e, superando a si mesmo, bus-
cando forças em seu interior, conseguiu uma grande vitória,
que foi celebrada por todos.

O general outorgou a esse soldado uma medalha de honra ao


mérito, por suas realizações na guerra, e o promoveu ao posto
de tenente. Após um tempo, o soldado, agora tenente, foi con-
vocado a lutar em outras batalhas. Mais uma vez, eram bata-
lhas dificílimas, onde as chances de vitória eram pequenas. O
tenente superou-se mais uma vez… persistiu até o fim numa
bem pesada batalha; reuniu todas as suas forças, enfrentou
fome, frio e outras privações, deu tudo de si mesmo, e, final-
mente, o exército venceu a batalha e conquistou o inimigo. No-
vamente o general concedeu ao soldado mais uma medalha de
honra ao mérito, pelos grandes feitos militares que ele conquis-
tou vivendo as provações mais hostis, duras, desfavoráveis e
complexas. Dessa vez, o ex-soldado e tenente, agora foi pro-
movido ao posto de capitão.

O ex-tenente, agora capitão, foi convocado a lutar outras guer-


ras. Em todas as guerras ele deu seu sangue, suor e lágrimas
para vencer as mais complicadas batalhas, viajando para vá-
rias partes do mundo. Foi bem-sucedido em todas… foi reco-
nhecido como sendo um militar de vasta experiência, por ter
lutado em tantas batalhas. Por isso, galgou ao posto de general
e agora comandava seu próprio exército.

111
O que ocorreu com esse soldado, que foi vencendo batalha
após batalha, dando tudo de si, aprendendo, se aperfeiçoando,
se superando, ganhando mais e mais experiências, é análogo
ao que ocorre com o espírito quando vem a Terra para viver as
adversidades e provações da existência material. O primeiro
soldado, que lutou apenas uma batalha fácil, não teve nenhum
reconhecimento, não ganhou uma medalha de honra, não ad-
quiriu experiência e nada realizou de significativo. Continuou
sendo um mero soldado, que apenas obedece e ninguém lem-
bra dele. O outro soldado, que lutou as batalhas mais duras e
superou a si mesmo, esse foi condecorado diversas vezes, ga-
nhou o respeito de seus colegas, conquistou muitas coisas,
atingiu ao posto mais alto na hierarquia militar e ganhou ainda
uma estátua in memoriam pelas suas contribuições.

O espírito que vem a Terra e deseja enfrentar as adversidades


mais fáceis, que não exigem dele… não conquistará nada com
isso; não vai atingir uma evolução maior, tornando-se um espí-
rito de luz, não conquistará paz, felicidade, liberdade, harmo-
nia, plenitude, domínio de si mesmo, etc. Para receber estas
conquistas, o espírito deve se submeter as circunstâncias mais
duras na vida humana, ser provado de diversas formas, comer
o pão que o diabo amassou, viver a penúria e as piores adver-
sidades, em muitas posições diferentes. Assim, o espírito vai
adquirindo experiência e mais experiência, vai aprendendo, er-
rando, consertando, vivendo intensamente e se elevando além
da matéria, para que possa atingir as etapas mais altas na hi-
erarquia espiritual (assim como o soldado chegou a ser gene-
ral).

Por isso, é imprescindível que as pessoas não fiquem fugindo


das provações da vida, pois isso seria semelhante a um sol-
dado desertar e fugir da batalha, ou tentar sempre enfrentar um
exército inimigo pequeno, que lhe ofereça pouca resistência.
Viemos ao mundo para viver as provações, e quanto mais difí-
ceis são essas provações, maior será nossa evolução na es-
cala da ascensão do espírito. Como poderia um espírito que
viveu uma vida fácil, onde tudo lhe era favorável, atingir um
grau mais elevado na escala? Assim, toda vez que você estiver
vivendo uma situação de pobreza, de desemprego, de fome,
de perda, de doença, de dores terríveis, de depressão, de an-
gústia, de decepção, de desamparo, etc… lembre-se do sol-

112
dado que enfrentou todas as batalhas, superou a si mesmo, e
só assim conseguiu galgar ao posto de general. Ao contrário
do soldado, cujo objetivo é vencer batalhas, o objetivo do espí-
rito que vem a Terra é amenizar seus conflitos internos e bus-
car a paz mesmo diante da pior adversidade. E isso se pode
ser feito durante a vida material e suas provações. Não adianta
ficar confortável, no ar-condicionado, longe das batalhas… o
soldado que faz isso, não chega a general e nada conquista.
Mas o espírito que vem à matéria para viver as piores prova-
ções, esse atingirá as mais altas perfeições e pureza em seu
ser.

Aquele que consegue vencer as provas da existência material,


encontrando paz e felicidade mesmo no pior bombardeio, esse
se transforma num guerreiro da luz… e nada, absolutamente
nada mais poderá tirar-lhe a paz de espírito, transformando-se
em luz, paz, amor e pura felicidade.

113
SOBRE O SUICÍDIO

Não se mate, pois você não morre…


Você vai perder o corpo, mas a alma vai continuar…
Você vai destruir o envoltório material, mas a dor, a angústia,
o desespero, o sofrimento, tudo isso vai te acompanhar ao ou-
tro plano.
Você vai sofrer pelo suicídio e vai ficar um tempo padecendo
também no plano espiritual.
O sofrimento no plano espiritual é pior do que o sofrimento no
plano material, pois tudo no pós-vida é mais forte, ficamos mais
sensíveis, tudo é mais intenso.
Se você acha que está sofrendo aqui, vai se surpreender ao
descobrir que também vai sofrer lá.
O suicídio, além de não resolver nossos problemas, pode
agravá-los.
Pessoas que cometem o autoextermínio chegam ao plano es-
piritual e descobrem que todos os seus problemas tinham so-
lução.
Percebem que tudo poderia ser resolvido… que tudo passa…
e que todo sofrimento tem uma causa que está dentro de nós,
e por isso mesmo, pode ser tranquilamente desvendado, diri-
mido e transformado.
Além disso, você terá que voltar para o fim da fila e começar
tudo de novo… terá que aguardar uma nova encarnação.
Nessa nova encarnação, você terá que passar por provações
semelhantes a que você está passando agora, talvez até pio-
res, pois ficará com o trauma do suicídio e de uma vida desper-
diçada.
O espírito que se suicida chega ao plano espiritual com uma
imensa sensação de tempo perdido… uma sensação de ter
desperdiçado uma grande oportunidade de se melhorar.
Será como o aluno que perde 4 anos de escolaridade e per-
cebe que seus colegas estão melhores e mais adiantados do
que ele.
Suicídio nada mais é do que isso: um imenso tempo perdido e
mais sofrimento para nós.
Pode ser que o espírito suicida tenha que aguardar um tempo
bem mais longo para voltar a outro corpo material, para ter ou-
tra oportunidade de evolução. É como a pessoa que larga a
prova de um concurso público no meio por estar cansada e vai
embora. Ela pode ter que esperar vários anos até sair o novo
concurso.

114
A existência material é como uma prova que fazemos para um
concurso público onde vamos ganhar um bom salário caso se-
jamos aprovados.
No mundo humano, quanto mais difícil é a prova, maior é a
conquista de quem passa. Assim também é no mundo espiri-
tual: quanto maiores e mais difíceis são as provações, maior
também é o mérito daquele que as supera… e igualmente
maior será o avanço espiritual posterior, que nos trará paz pro-
funda e felicidade profunda.
Penamos para subir uma imensa montanha, mas um diamante
muito belo e valioso nos espera no topo. Quanto mais alta é a
montanha escalada, mais precioso será o diamante.
Portanto, qualquer esforço que façamos agora para superar as
provações da existência é válido, por pior que seja, pois esse
caminho nos conduzirá a uma imensa felicidade e paz de espí-
rito.
A vida é uma oportunidade de ouro, uma chance de elevação
que não deve jamais ser jogada fora.
Ninguém mais perde com o suicídio… só você.

115
ABRIR NOSSA ALMA

Mais do que abrir nossa mente e coração, é necessário abrir


nossa consciência e nosso ser.
O ser humano vive encerrado numa redoma de crenças, valo-
res, dogmas e visões distorcidas.
Moramos dentro de uma caixa e nem desconfiamos de nossa
prisão.
Aquele que só conhece a caixa, nem sabe que vive preso a ela.
É preciso conhecer o exterior da caixa para entender que há
um interior.
As pessoas só têm a experiência dos limites da caixa, e por
isso creem ser a caixa tudo o que existe.
É como o cachorro que vive apegado ao seu osso e rosna para
quem lhe tirar o osso e oferecer um pedaço de filé mignon.
É como o peixe que vive nas profundezas do oceano e crê ser
todo o universo aquela pequena região escura.
É como a bactéria que não entende outra coisa senão seu
mundo de células, organelas e matéria microscópica.
Ou como a criança que pensa ser o seu quarto todo o cosmos.
Qual o tamanho de sua caixa? Qual o alcance de sua
percepção? Você consegue imaginar o que nunca imaginou?
Consegue pensar o que nunca foi pensado?
Você consegue pensar diferente, ou seu pensamento nada
mais é do que um efeito de todos os pensamentos anteriores
dentro do velho esquema?
As pessoas ficam aprisionadas, cada uma dentro de sua
própria caixa, e esquecem que a vida sempre revela algo
além…
Viver nada mais é do que superar limite após limite. Mas a
maioria quer levar a vida criando limite após limite.
Para todo limite há sempre a possibilidade de se ir além. O
mesmo se dá quando observamos o mar e nos concentramos
no horizonte.
O que é o horizonte senão a linha imaginária que estabelece
os limites de nossa percepção? Só há linha do horizonte
porque nossa visão não enxerga além.
Para superar o limite é preciso ir até ele, reconhece-lo e só
então supera-lo.
Mas todos devem saber que o limite, em si mesmo, não
existe…
Há algum limite entre horas, minutos, segundos, centésimos,
ou milésimos?

116
Há limites entre os números 1, 2, 3…?
Há um limite ao espaço? Ou sempre podemos conceber algo
que esteja além da fronteira que nós mesmos impomos?
Todo limite sempre pressupõe a fronteira entre o conhecido e
o desconhecido.
Basta chegar ao limite e ultrapassá-lo. Mas poucos desejam ir
além, pois o além é desconhecido, e o desconhecido gera
medo.
Como medida de proteção, optamos em permanecer no
conhecido, mesmo sendo desconfortável e dolorido, ao invés
de se arriscar no desconhecido.
O medo vem do inseguro, do desconhecido, daquilo que não
conseguimos controlar.
Mas para viver um renascimento, é preciso deixar o velho de
lado, mesmo que ele seja confortável.
Posto que na existência material tudo sempre se inverte: o
confortável torna-se desconfortável; o estável converte-se em
instável; o seguro transforma-se no inseguro; o fixo é abalado
pelas correntes do tempo e se torna solto, maleável, movediço.
Amadurecer é aceitar sempre romper os limites do conhecido,
do possível, do confortável, do costume, do estável.
E só assim alguém pode crescer, melhorar e ser feliz.
Vamos abrir nossa alma para além do conhecido, do estável,
do óbvio.
Rompendo todos os limites, vamos além da vida… e
penetramos inexoravelmente na eternidade.

117
O ESPÍRITO É OBRIGADO A ENCARNAR NA MATÉRIA?

Não… na grande maioria das vezes, não existe nenhuma obri-


gação na encarnação, ou seja, ela não se dá de forma compul-
sória, forçada, mas sim com a anuência do próprio espírito.

Essa obrigatoriedade não é necessária, pois o espírito sente


por si mesmo, naturalmente, os benefícios que poderá obter
com a reencarnação, para sua paz e sua felicidade infinita da-
qui para frente na eternidade. Mas como o espírito percebe que
precisa encarnar e que isso é positivo para ele?

Vamos fazer uma analogia para que todos possam compreen-


der com mais clareza esse ponto. Imagine que um menino,
meio preguiçoso, vive numa comunidade onde todos os seus
coleguinhas estudam numa determinada escola. Esse menino
diz que não quer frequentar as aulas, pois não gosta de estu-
dar, prefere ficar em casa jogando games, ou ficar na rua brin-
cando. Ele acredita que ir a escola é muito desgastante e que
não há necessidade do esforço, da dedicação e de passar pe-
las provas dadas pelos professores. “Ir a escola é bobagem e
nada nos acrescenta”, pensa ele.

No entanto, o tempo vai passando e esse menino vai obser-


vando seus colegas da comunidade, que estão frequentando a
escola. Ele observa que um dos seus coleguinhas, após fre-
quentar os primeiros anos na escola, já sabe ler e escrever,
enquanto ele não adquiriu esse aprendizado. Esse colega, por
ter frequentado a escola, obteve esse conhecimento. Agora,
ele já pode ler livros, já pode ler o nome dos brinquedos, já
pode ler placas e passou a ter uma liberdade muito maior, além
de conseguir se guiar com muito mais segurança em qualquer
lugar. O menino percebe então a sua própria situação, e pensa
que seria muito bom poder aprender a ler, pois isso lhe daria
muita liberdade, lhe daria poder de decisão, o ajudaria a co-
nhecer melhor o mundo, como ocorreu com seu colega.

Mesmo assim, o menino ainda não está convencido e hesita


em ir a escola. O menino então percebe que outros dos seus
colegas já sabe fazer contas, já podem calcular uma série de
coisas e resolver problemas matemáticos, o que lhes confere
uma qualidade especial que contribui muito em suas vidas. As-
sim, conforme os colegas vão aprendendo mais e mais coisas,

118
o menino vai percebendo que ele vai ficando para trás. Chega
um momento em que ele não consegue mais conviver com
seus antigos colegas, pois eles já se encontram em outro nível,
enquanto ele continua paralisado no mesmo ponto. Ele começa
então a descobrir que a escola não é tão ruim e que pode até
mesmo ser muito necessária para sua vida.

Apesar de todo esforço exigido para passar de ano, os conhe-


cimentos adquiridos ajudam muito seus colegas, pois lhes dão
liberdade e concedem um certo poder sobre as coisas do
mundo, além de qualidades especiais. O menino observa seus
amigos passando de ano, adquirindo mais e mais habilidades
na vida, enquanto ele permanece estacionado e com quase ne-
nhuma habilidade. O que acontece nesse ponto? Quanto mais
o tempo vai passando, mais o menino vai observando o pro-
gresso gradual dos seus colegas e vendo as conquistas que
eles vão obtendo, além de constatar o quanto essas conquistas
trazem inestimáveis benefícios para suas vidas. Quanto mais
ele observa seus colegas progredindo, mais ele vai se perce-
bendo menor e sem qualidades… e mais vai crescendo nele o
desejo de também estudar, de aprender a ler e a escrever, de
fazer contas, de conhecer lugares e países, de obter mais e
mais conhecimentos e habilidades, assim como seus colegas
conquistaram indo a escola e desenvolvendo atributos muito
positivos, que os ajudam na vida.

Obviamente, o que ocorre com o menino preguiçoso que não


quer ir para a escola é muito parecido com o espírito que não
deseja vir a escola da encarnação para aprender, se aperfei-
çoar e evoluir. O espírito preguiçoso começa a ver outros espí-
ritos conquistando, por exemplo, uma paz mais profunda em
suas vidas após uma bastante atribulada encarnação. O espí-
rito observa que um certo espírito, após viver uma existência
de grande pobreza e privações, obteve uma grandiosa aquisi-
ção de liberdade interior, logrando não mais depender de coisa
alguma para viver bem. Sua luz interior se expandiu e ele se
sente mais feliz. O espírito preguiçoso percebe essa luz e essa
liberdade espiritual, e sentindo seu influxo benéfico, também
anseia obtê-la. Em outro caso, ele observa um espírito que vi-
veu uma existência material de muita depressão, muitos pro-
blemas emocionais, com por exemplo o fim do seu casamento.
O espírito percebe que essa alma corajosa que viveu essas
duras adversidades e as superou agora não se abala por quase

119
nada, ele não se deixa mais levar pelas marés turbulentas e
desenvolveu uma paz profunda, que se expande e pode ser
sentida por outros espíritos. Essa paz é maravilhosa… é su-
blime e calorosa, e o espírito também passa a desejar conquis-
tar essa paz espiritual radiante e de incrível beleza.

Assim, quanto mais o espírito vai observando os espíritos “des-


cendo” à matéria e aprendendo as lições da escola sagrada da
vida, mais ele vai pensando: “Eu também gostaria de fazer
como eles, também aspiro a essa paz, essa liberdade e essa
felicidade que eles alcançaram”. Dessa forma, num processo
bastante natural e sem qualquer imposição, o espírito vai des-
cobrindo por si mesmo as vantagens de se matricular na escola
da vida, por mais percalços que ela os traga.

O espírito que chega ao plano material e fica querendo evitar a


experiências das provas que podem eleva-lo é semelhante ao
menino preguiçoso que não quer ir para a escola e nem fazer
as provas para aprender. Aqueles que ficam evitando as pro-
vas da pobreza, das privações, das faltas, estão na recusa de
se elevar e permanecem estacionados, tal como o menino pre-
guiçoso. Aqueles que não querem viver as perdas, as tribula-
ções, o fim do casamento, o fracasso, as doenças, etc, estão
dando as costas para a sagrada oportunidade de elevação es-
piritual, que os trará paz infinita e felicidade eterna. Esses tro-
cam a pérola inestimável da vida espiritual pelas migalhas sem
nenhum valor da vida material.

120
AS PRINCIPAIS ESCOLHAS DA VIDA

Fugir ou enfrentar

A primeira grande prova que o ser humano vive é relacionada


ao enfrentamento ou a fuga. Como toda prova, o espírito en-
carnado tem sempre duas opções: ou ele foge de alguma
coisa, ou ele a enfrenta. Uma pessoa tem uma dor de ca-
beça: ou ele fica tomando analgésicos para abafar temporaria-
mente a dor, ou ele busca a causa da dor, seja orgâ-
nica ou emocional. Uma pessoa está deprimida porque um
ente querido desencarnou: ou ela enfrenta a tristeza, o deses-
pero, o vazio, a angústia,ou ela simplesmente usa subterfúgios
para esquecer ou não sentir essa emoção dolorosa. O mesmo
ocorre com nossos medos… ou os enfrentamos diretamente e
os superamos, ou cedemos e eles nos dominam.
Enfrentar algo é sempre conquistar uma supremacia sobre
esse algo, mas fugir é sempre permitir que aquilo nos domine,
nos conquiste, nos tire nosso poder interior. Na vida humana
infelizmente a maioria das pessoas fraqueja diante dessa prova
e opta por viver fugindo de algo que elas não desejam encarar
de frente. Fugir é mais fácil que enfrentar: permanecemos
numa zona de conforto que apenas adia a resolução da
questão. É muito comum os seres humanos agirem assim com
seus próprios sentimentos: Uma pessoa pode ter uma tristeza
profunda e comer muito para não sentir isso, ou pode beber
para ficar insensível a dor interna, ou pode embrenhar-se
nesse mundo consumista para sentir que tem controle sobre
sua vida, quando na realidade não controla seus sentimentos,
outra pessoa pode ter uma carência afetiva profunda, e por
isso, ficar mendigando afeto dos filhos, dos familiares, dos ami-
gos, etc. Ouvir música alta pode também ser uma fuga do si-
lêncio que poderia nos ajudar a ouvir a nós mesmos. Existem
milhares de formas de se fugir, toda uma variação de subterfú-
gios possíveis de serem utilizados quando não se dese-
ja enfrentar algo dentro de nós. Mas ao invés de olhar direta-
mente para esses sentimentos, ele prefere permanecer incons-
ciente e essa inconsciência gera tensão, vazio e sofri-
mento. Sua vida se torna uma eterna busca por distrações
mentais que o impedem de olhar para dentro de si e se desco-
brir.

121
Soltar ou ficar carregando o peso

A segunda grande escolha dentro das provações da existência


material é a de carregar os pesos das coisas ou simples-
mente soltar o peso. Falamos sobre isso na mensagem “Solte
o peso que você carrega”, por isso, não vamos aprofundar
muito aqui. Mas é importante que todos saibam que, na vida, o
ser humano tem sempre essas duas escolhas: ou carregar os
pesos, as cargas das coisas, ou soltar essas cargas, se ne-
gando a carrega-las. As cargas são as preocupações, as auto-
cobranças, as culpas, as mágoas, os ressentimentos, os trau-
mas, etc. Por exemplo, uma mãe acredita que precisa ajudar
seus filhos, resolver a vida deles, para que se tornem pessoas
com uma vida boa e estável. Ela sente que precisa de todas as
formas fazer isso pelos filhos. Aos poucos, isso vai se tornando
um peso na vida dela, pois ela precisa organizar sozinha uma
série de coisas que permitiriam os filhos ficarem bem de vida.
Isso vai roubando sua energia e fazendo com que, ao longo
dos anos, um peso enorme de responsabilidades recaia sobre
ela. Nesse momento, ela tem duas opções: Ela tem a escolha
de ficar carregando esse peso de preocupações, ou ela pode
simplesmente deixar de se preocupar e deixar tudo fluir, sem
tentar ficar controlando tudo. Pode entregar tudo a Deus e pedir
que Ele faça o que for melhor e não a nossa vontade. Aqui en-
tra o componente do desejo de controle. Podemos optar em
tentar controlar tudo, ou podemos admitir que não temos o con-
trole e simplesmente deixar que a vida flua livremente… e o
que acontecer, aconteceu. A escolha da soltura das cargas nos
dá uma imensa liberdade, um alívio profundo, uma leveza de
ser que nada nesse mundo pode trazer.

Ficar paralisado ou continuar seguindo

A terceira escolha principal da existência humana é ficar para-


lisado numa situação ou continuar seguindo nossa vida. Fala-
mos mais a esse respeito da mensagem “Siga em frente”. Ima-
ginemos um homem que amava sua esposa, mas o casamento
acabou. Ele fica arrasado com o término e não sabe mais o que
fazer da vida. Nesse caso, ele tem duas opções: ou ele cai em
depressão, ou ele segue sua vida e se abre para o novo. Esse
é o primeiro aspecto para se superar qualquer provação: ou
ficamos parados no sofrimento, ou continuamos nossa vida nos
abrindo para o que vem pela frente. Aquele que fica parado,

122
estagnado, preso na situação que já morreu, não consegue
vencer a prova, mas aquele que continua seguindo, mesmo
com forte dor no peito, esse superou ao menos um pouco da
prova. O estado de estagnação, de prisão ao passado, de não
conseguir desvencilhar-se do que já acabou, de não decretar o
fim daquilo que já teve um fim, representa um fracasso na pro-
vação. Aliás, tudo em nossa vida gira em torno do desligar-se
do passado e passar a viver no presente, no eterno agora.

Aprender ou rejeitar o aprendizado

A quarta grande escolha da vida humana na matéria consiste


em ou cometer um erro e aprender com ele, ou rejeitar o apren-
dizado. Costumo dizer que os erros que cometemos na vida
não são coisas ruins, desastrosas ou que devem suscitar dolo-
rosos sentimentos de culpa. Você pode ter cometido o pior erro
possível, não importa… o mais importante de tudo é aprender
com o erro cometido. Quando aprendemos com o erro, nada é
perdido, pois o aprendizado ficará conosco para sempre e nada
poderá nos tirar a valiosa experiência que absorvemos. Mas
quando nos recusamos ao aprendizado e cedemos ao martírio
interior, a culpa e ao desânimo pelo erro, o aprendizado não
vem… e além do sofrimento da culpa, estamos perdendo uma
oportunidade de ouro de aprender e crescer a partir de nossas
falhas. Portanto, sempre que cometer um erro, busque apren-
der com ele, use esse erro para conhecer melhor a si mesmo,
analise seu comportamento e veja o que é necessário transfor-
mar em seu interior. Quando aprendemos com nossas falhas,
adquirimos algo de inestimável valor: o autoconhecimento e o
desenvolvimento interior.

Viver em paz ou em conflito

A quinta escolha é sem dúvida uma das mais importantes, se-


não a mais importante de todas. Sempre que vivemos uma pro-
vação, há duas escolhas fundamentais: ou lutar contra a situa-
ção, se revoltar, se rebelar, ficar com raiva, entrar em conflito
com algo, etc, ou viver tudo isso em paz, preservando nossa
tranquilidade interior. Essa é uma escolha muito importante,
pois aqueles que ficam com raiva, se rebelam e entram em
conflito com o problema acabam tendo muito mais dificuldade
para resolve-lo. É como tentar se equilibrar numa corda para
atravessar um penhasco. Quanto mais bravos ficamos com a

123
situação, maior a chance de desequilíbrio e ficamos muito mais
perto de cair no precipício do problema, caindo em estados de
humor indesejáveis, como depressão, desânimo, medo, etc. É
muito importante que todos escolham sempre viver uma prova-
ção em paz… sem desespero, sem raiva, sem revolta… mas
experimentando tudo isso em paz interior, pois quando logra-
mos atravessar as adversidades mantendo nossa tranquili-
dade, vencemos as provas e não mais precisaremos repeti-las
no futuro. Se a pessoa consegue viver, por exemplo, um de-
semprego e mesmo assim mantiver sua paz interior… ela su-
pera a prova… e a conquista espiritual e interior será imensa.
Os benefícios virão no plano espiritual e nas próximas vidas.
Esse é, inclusive, o grande segredo de como viver no mundo
humano e alcançar a evolução do espírito.

124
DESTRUIÇÃO E RECONSTRUÇÃO DA NOSSA VIDA

Quando nossa vida foi toda destruída, você pode reconstruir


tudo de um novo jeito, bem mais elevado do que antes. Mas
quando nossa vida está toda estruturada, firme, fixa, consoli-
dada, nada pode ser mudado… Assim, ficamos paralisados e
presos numa condição inerte que nos prejudica e sufoca. Por
isso é que as tormentas da vida são necessárias, para destruir
tudo o que estava paralisado e aprisionado, para que só então
possamos reconfigurar nossa existência.

Todos sabem que quando tudo está bem em nossa vida, nos
acomodamos, ficamos parados num mesmo ponto e nada nos
obriga a deixar a zona de conforto. Por essa razão, as turbu-
lências são necessárias para nos obrigar ao movimento da ca-
minhada contínua. Por isso que o movimento da vida é sempre
de destruição, reconstrução e nova destruição… perda e ga-
nho, fazer, desfazer e refazer, fim e recomeço, nascer e morrer,
para depois renascer, num ritmo constante e inexorável.

Mas também não adianta tentar reconstruir tudo como era an-
tes, pois isso não vai funcionar. Precisamos reconstruir nossa
vida usando os pilares de valores eternos e espirituais e não
pilares materialistas, egoístas e voltados aos nossos interesses
pessoais. Os pilares do espírito são os únicos firmes o sufici-
ente para resistir a qualquer tempestade do mundo. Mas os pi-
lares assentados nas coisas passageiras do mundo sempre
são facilmente levados pelas correntezas da transitoriedade do
mundo.

Por exemplo, uma pessoa acredita que tendo uma quantia boa
de dinheiro guardado no banco ela estará protegida, mas uma
simples doença já lhe tira toda estabilidade e a faz correr risco
de morte. Mas quando a pessoa não se apoia em sua conta
bancária, mas se sustenta pelos pilares do espírito, de Deus,
da vida eterna, dos ensinamentos espirituais, ela pode perder
tudo que nada pode afeta-la e tirar sua paz, pois ela sabe que
nada que existe nesse mundo a pertence de fato.

Por isso, sempre que você for reconstruir sua vida, não o faça
mais com os pilares do materialismo e do egoísmo, tentando
se apoiar nas coisas do mundo e nas crenças falsas e ilusórias.
Mas coloque os pilares do espírito, pois esses nunca podem

125
ser destruídos. Nossa vida será construída e destruída milha-
res de vezes, ou milhões de vezes, até alcançarmos a consci-
ência de que somos espírito… e que o espírito não pode nunca
ser construído e nem destruído.

126
A VIDA É UMA GRANDE OPORTUNIDADE

Todas as coisas em nossa vida são oportunidades que Deus


nos concede para nossa libertação e felicidade. A própria vida
é uma chance, uma oportunidade sagrada de ser feliz indepen-
dente do que nos ocorra.

Por exemplo, quando perdemos o emprego, essa é uma


grande oportunidade da pessoa se libertar das preocupações
com o dinheiro, com as posses, com as paixões, com os dese-
jos e com tudo aquilo que represente um conforto, estabilidade
e segurança material. Caso a pessoa perca o emprego a fique
muito preocupada com a possibilidade de lhe faltar o básico,
ela está perdendo uma excelente chance de vencer a prova da
preocupação e passar por tudo em paz, livre de qualquer medo,
inquietação e angústia. Mas quando a pessoa passa pela
perda em paz, ela supera seus sentimentos inferiores e apro-
veita a oportunidade de ser feliz, de ter paz, de viver em har-
monia e de se libertar de tudo aquilo que a aprisiona.

Em outro exemplo, quando uma pessoa nos ofende seria-


mente, na frente de todos, essa é uma excelente oportunidade
de não se deixar afetar pela ofensa. Até porque, quando al-
guém não se sente ofendido, jamais essa pessoa poderá sofrer
qualquer ofensa, posto que a ofensa só existe para aquele que
se sente ofendido, ou seja, que se deixa afetar pelas palavras
do outro. Dessa forma, qualquer ofensa que soframos é o en-
sejo ideal para nossa libertação de qualquer sentimento de me-
lindre, de irritação, de raiva, de mágoa, ou qualquer outro sen-
timento que procede da ofensa. É uma valiosa chance de liber-
tação.

Em outro exemplo, num acidente, um homem embriagado bate


em nosso carro. Não pode haver melhor abertura para nosso
desapego do que nesse momento não se deixar afetar pela ba-
tida e tratar tudo com tranquilidade e sem afetação. Essa é a
oportunidade sagrada de praticar os ensinamentos de Jesus,
de não brigar, não ofender, não se irritar, não ficar preocupado
com a perda do carro, com a perda do dinheiro, com a perda
de mobilidade, etc. O carro costuma ser, em nossa cultura, não
apenas um meio de transporte, mas principalmente uma fonte
de status, poder, riqueza, prazer e até sexualidade. Uma batida
de carro pode trazer à tona muitos sentimentos que, nesse mo-

127
mento, temos a oportunidade de enxergar e nos libertar deles.
Tudo isso é uma chance para nossa libertação.

Isso é válido para todas as experiências da vida. Todas elas


são oportunidades, chances, ou aberturas para nossa transfor-
mação. É certo inclusive dizer que, quanto maior for a dificul-
dade da experiência, maior será a nossa oportunidade de ele-
vação, libertação e consolidação da paz em nossa alma.
Aquela situação que comumente amaldiçoamos é um bálsamo,
uma riqueza, ou uma fonte de ensinamentos e de oportunida-
des de transformação e libertação de nossa alma.

Assim, da próxima vez que atravessarmos situações como es-


sas, vejamos elas como oportunidades de elevação e liberta-
ção, e não como entraves no caminho. Vamos então aproveitar
as oportunidades que a vida nos dá a cada momento?

128
NÃO SE ENVOLVA

Não é o problema que te envolve… você é que se envolve


com o problema.
Não é o pensamento negativo que nos envolve… nós é que
nos envolvemos com o pensamento negativo.
Não é a carga que pesa sobre você… você é que fica
carregando o peso pra lá e pra cá.
Não são as memórias do passado que te envolvem… você é
que se envolve com elas e lhes dá poder.
O problema em si mesmo não pode jamais nos envolver…
mas nós podemos nos envolver ou não com o problema.
Você é quem decide o quanto do problema vai ficar preso
dentro de você e te afetar.
Isso depende do quanto você vai se envolver com o
problema, com o pensamento negativo, com a dificuldade, ou
o que quer que seja.
Aquele que não se envolve com as adversidades da vida… é
muito mais feliz.
Aquele que não se deixa envolver pelas negatividades, não é
afetado por elas.
Nada nos envolve… nada pode nos enlaçar, nos prender, nos
submeter. Nós é que nos submetemos, nos prendemos, nos
deixamos enlaçar.
Não são as mazelas da vida que roubam nossa alma… nós é
que entregamos nossa alma para ser aprisionada pelas
preocupações, pelas mágoas, pelas decepções, pelas
tristezas e depressões.
Nenhum problema pode te prender se você internamente não
se prender ao problema.
Você é tão livre quanto não se deixar envolver pelas
adversidades da vida.
Nada nunca nos envolve… nós é que nos envolvemos com
algo.
Não se envolva mais… e seja feliz.

129
DO EXTERIOR AO INTERIOR

Melhor do que ir regularmente ao centro espírita… é estar em


contato com seu centro interior.
Melhor do que acender uma vela para seu anjo… é acender a
chama sagrada do seu interior.
Melhor do que ficar sonhando com colônias espirituais, com
nossos parentes falecidos, com a vida futura… é passar a
viver no presente, no aqui e agora, onde a vida existe e onde
Deus está presente.
Melhor do que entrar em contato com os espíritos através da
mediunidade… é entrar em contato com seu próprio espírito e
tomar consciência de que você é uma essência imortal.
Melhor do que ficar comprando estátuas de santos para
rezar… é você santificar toda a sua vida, atingindo a pureza e
o amor de uma vida santa.
Melhor do que ficar acumulando tesouros na Terra… é melhor
acumular tesouros no céu, como disse Jesus. Tesouros no
céu são os tesouros interiores, aqueles que ninguém pode
tirar de nós.
Melhor do que ficar fazendo centenas de preces pedindo luz
aos espíritos… é você mesmo se tornar a luz que você quer
para sua vida.
Melhor do que ficar praticando milhares de rituais
mecânicos… é você tornar a sua vida um ritual de paz, amor
e plenitude em Deus.
Melhor do que ficar decorando os evangelhos e os textos
sagrados… é você fazer da sua vida um evangelho de paz,
solidariedade e felicidade.
Melhor do que ficar visitando um ou dois dias da semana um
templo de pedra… é você entrar em contato com o templo do
seu espírito no atemporal.
Melhor do que ficar adorando, louvando e orando para
Jesus…. é você ascender em espírito e alcançar o mesmo
estado de espírito que Jesus atingiu, pois como ele mesmo
disse “Vós sois deuses (…) Podeis fazer o que eu faço e
coisas ainda maiores”.
Melhor do que ficar pedindo coisas a Deus, como emprego,
casa, saúde, casamento, filhos, família, etc… é você entrar
em contato com Deus sem nada pedi, apenas entrando em
comunhão para sentir a presença de Deus na sua vida e se
entregar ao eterno de corpo e alma.

130
A VERDADEIRA VIDA

Carlos era um homem de negócios, possuidor de duas empre-


sas lucrativas e estava sempre cheio de milhares de compro-
missos. Vivia com a agenda cheia, indo pra cá e pra lá e quase
nunca parava. Era muito requisitado, estava sempre atrasado
e viajava muito para manter seus lucros. Vivia preocupado,
cansado, estressado e ansioso por fazer muitas coisas.

Certo dia, Carlos estava correndo de carro para chegar a uma


reunião e sofreu um grave acidente. Foi resgatado, mas os mé-
dicos disseram que, devido a batida e ao choque de sua co-
luna, Carlos nunca mais andaria novamente. Carlos saiu do
hospital e caiu numa grave depressão. Tomava mais de 10 me-
dicações entre antidepressivos, ansiolíticos e remédios para
dormir e começou a beber muito. Comprou uma cadeira de ro-
das, mas agora não tinha mais como se movimentar, como par-
ticipar das reuniões, como viajar, como assumir muitos com-
promissos. Vendeu uma de suas empresas e deixou um ge-
rente responsável pela outra.

Certo dia, viveu uma forte experiência espiritual e depois disso


nunca mais foi o mesmo. Carlos começou a andar com sua ca-
deira de rodas na praça todos os dias. Passado algum tempo,
os amigos começaram a perceber que Carlos estava muito
mais calmo, vivia mais em paz, estava sempre sorridente, pa-
recia muito leve, solto, espontâneo e feliz. Um amigo foi con-
versar com ele e disse:

– Carlos, todos estão comentando que você está muito, muito


melhor… mas como é possível que depois do acidente você
esteja tão bem? A maioria estaria revoltada e infeliz.

Carlos respondeu:

– Que nada… Nunca me senti tão bem como agora. Antiga-


mente eu corria muito, fazia tudo com pressa, vivia tenso, vivia
cheio de compromissos, com muitas coisas na cabeça ao
mesmo tempo, mas com a perda das pernas, eu comecei a de-
sacelerar, a caminhar mais devagar, a olhar para a praça que
eu quase nunca olhava, a ver as crianças brincando, a sentir o
vento em meu rosto, a olhar os pássaros no céu, a ouvir a vida
e as pessoas… a sentir os raios do sol.

131
Comecei a me sentir mais leve, solto e livre… a me enxergar,
a tranquilizar meus pensamentos, a não ficar mais sempre bus-
cando o futuro e preso ao passado. Agora que não posso an-
dar, não tenho mais a ânsia em estar em um lugar onde não
estou… agora fico tranquilo e sinto alegria exatamente onde
me encontro. Quando fiquei mais lento por causa da perda das
pernas, minha existência ficou mais vivida e comecei a viver de
verdade e não apenas a existir e responder cegamente aos es-
tímulos e aos milhares de desejos.

Carlos concluiu dizendo:

– Perdi a perna, mas ganhei a verdadeira vida, que nunca havia


vivido. Por estar em muitos lugares, eu acabava não estando
em lugar nenhum. Por tentar viver de milhares de formas, eu
perdia completamente minha vida. Por querer o mundo inteiro,
eu acabava perdendo a mim mesmo e perdia o essencial que
está aqui e agora.

As perdas, as decepções, as traições, as doenças e tudo aquilo


que rotulamos como mal e negativo podem ser a maior benção
de nossas vidas. Carlos compreendeu a verdadeira vida… Ao
invés de correr pra lá e pra cá em busca das migalhas da ilu-
sória satisfação humana, vamos passar a enxergar a vida infi-
nita que existe nesse simples momento…

132
QUANDO VOCÊ MORRER

Quando você regressar ao plano espiritual, vai perceber que


não havia nenhum motivo para se preocupar tanto com as coi-
sas, pois toda a sua existência material se esvaiu… No final
das contas, foi tudo como um sonho, no qual acordamos e tudo
terminou apenas num segundo…

Você vai perceber que não havia nenhum motivo para tantas
preocupações, para tanta agonia, para tantas aflições, tantos
desgastes, tantos pesos desnecessários que você carregou…

Para que conduzir tantas cargas em suas costas? Mas ainda


dá tempo de deixar tudo isso de lado e parar de se desgastar
tanto com coisas sem valor…

Quando seu corpo expirar pela última vez e sua alma deixar o
corpo material… você vai perceber que não havia nenhum mo-
tivo para tantas brigas, tantas contendas, tantas batalhas pelas
coisas…

Não havia razão para tanta luta, tanto confronto, tanto atrito,
tantas desavenças. Você vai compreender que a paz interior
vale infinitamente mais do que qualquer coisa que fez você per-
der a sua paz.

Afinal, você não pode levar nada ao plano espiritual, a não ser
a paz que você conquistou, ou os conflitos internos que você
cultivou.

Quando você reencontrar os guias espirituais no outro lado da


vida você vai se dar conta de que não havia justificativa para
tantas negatividades, para tanto desespero, para tanta pressa,
para tanta correria, para tanta afobação, para tantas tensões
em fazer as coisas.

Você vai ver claramente que correu tanto, se desgastou tanto


para alcançar algo, e não chegou a lugar algum.

Vai verificar que passou a vida buscando o prazer e deixou de


sentir a maravilhosa alegria de estar presente com você
mesmo na simplicidade de cada momento.

133
Vai se dar conta de que gastou sua vida buscando ser reco-
nhecido pelos outros quando na verdade tudo isso fez você
perder a si mesmo tentando ser o que o outro esperava que
você fosse.

Vai perceber que viveu sempre buscando algo fora de você,


quando a solução estava dentro de você. Vai entender que fi-
cou tão ligado e tão antenado em tudo e acabou esquecendo
de você mesmo.

Vai perceber que buscou tantas coisas, mas deixou sua alma
em segundo plano. Vai descobrir que ficou tão preocupado
com bem-estar material que esqueceu do bem estar interior
que você levaria para a eternidade.

Quando você chegar ao plano espiritual… vai descobrir tudo


isso. Mas será que é necessário morrer para descobrir que
você deixou de viver por motivos fúteis e vazios?

Não espere a morte para perceber que você perdeu sua vida
com coisas efêmeras e ilusórias… Depois, não tem mais volta.

134
MINHA VIDA ESTÁ TODA BAGUNÇADA

Quando fazemos uma mudança de apartamento para o apar-


tamento de cima, vamos conduzir todas as nossas coisas do
andar de baixo para o andar de cima… nessa arrumação, em
algum momento podemos olhar o lugar e ver que tudo nele está
uma bagunça. No entanto, está uma bagunça porque estamos
de mudança, porque se faz necessário desarrumar tudo para
depois arrumar novamente no andar de cima…

O mesmo ocorre com o crescimento espiritual. Quando vem o


novo, o que estava arrumado se desarruma... se uma pessoa
de fora olhasse essa desarrumação, sem saber da mudança,
poderia pensar que somos muito bagunceiros, mas ela não
sabe da mudança e, por isso, não sabe que a desarrumação
precede uma arrumação num andar maior.

Quando nossa vida muda e vem o caos… isso nada mais é do


que uma prévia de uma nova organização, mais sutil e menos
materializada, pois vamos ascender ao andar de cima, onde a
vista é maior, onde existe mais silêncio, pois está mais longe
do chão e mais distante da confusão da rua, do trânsito, etc. Lá
em cima existe uma perspectiva maior da existência, pois
quando estamos numa maior altitude, podemos enxergar tudo
com um olhar mais vasto, mais abrangente, sem os limites an-
teriores.

Por isso, se a sua vida está uma bagunça, está tudo um caos,
tudo está desarrumado, nada faz sentido e tudo está fora do
lugar, isso nada mais é do que uma mudança para o andar de
cima de sua consciência. Sua alma está ascendendo para o
infinito… seu espírito está mais próximo da essência da vida.

135
RECOMEÇAR

Ninguém pode desistir da vida. A vida sempre continua. Não


importa o que façamos, a vida é eterna e ininterrupta, sem fim
e inevitável, ela sempre segue uma marcha inexorável.

O que fazemos então? A pessoa que desistiu da vida, que está


mal, está deprimida, que não encontra mais alegria em nada,
que perdeu tudo… precisa recomeçar. Recomeçar é a coisa
mais importante que podemos fazer em nossas existências. A
pessoa não está cansada da vida em si, ela está cansada
da forma mecânica, protocolar e rígida como ela vive, que já se
tornou repetitiva e não oferece mais nada para ela.

Por isso, o mais importante é recomeçar… refazer-se… reno-


var-se… reinventar-se… recriar. Ou melhor, para resumir essa
ideia, é preciso renascer. Morrer para o velho e renascer para
o novo. Morrer para as velhas crenças e para tudo aquilo que
nos prende, que nos cerceia, que nos acomoda, que nos faz
sofrer. Podemos morrer e renascer a cada momento, que-
brando a cadeia normatizada dos velhos padrões que segui-
mos e que se tornaram obsoletos, desgastados, engessados.

Recomeçar…. essa é a palavra-chave para a evolução e para


a felicidade. E para recomeçar é preciso dar fim aos modelos
de pensamento do passado e recomeçar agora, não com no-
vos padrões em substituição dos antigos, mas com a liberdade
total em relação a qualquer padrão, qualquer fórmula pré-de-
terminada de vida. É preciso desatar-se da vida ultrapassada e
reiniciar a vida nova a partir de agora.

Recomeçar é viver o eterno recomeço de tudo nesse presente


instante. O recomeço da vida… o recomeço de nós mesmos.
Quando renovamos nosso interior e renascemos, nada mais
pode nos abalar, pois o velho sempre fica para trás e o novo
sempre ressurge agora, nesse momento do eterno agora. O
que nos fazia sofrer antes já é parte do passado quando reco-
meçamos agora.

Recomeçar é viver a verdadeira vida, o verdadeiro espírito que


somos. Infelicidade, depressão, angústia, vazio, tudo isso é ca-
racterística sempre do velho. Felicidade, paz, harmonia, liber-

136
dade, plenitude… esses são estados interiores do eterno reco-
meço.

A coisa mais maravilhosa da vida é recomeçar… Por que a in-


fância foi a época mais pura e plena que já vivemos? Porque a
criança é uma tábula rasa, repleta de frescor, novidade e vida…
ela não segue padrões de mente rígidos, com códigos, regras
e modelos fixos. Ela é livre, porque ela está começando e
recomeçando. Não por acaso Jesus disse que o Reino de Deus
é das crianças.

Por que Jesus passou esse ensinamento? Porque a criança


acabou de começar sua vida, ela é pura e não está presa a
nada… é inocente e viva, tão viva como a flor que acabou de
desabrochar ao ser iluminada pelos primeiros raios solares do
amanhecer. Vamos permitir que nossa consciência recomece
e desabroche para a verdadeira vida agora, nesse momento,
internamente, regidos sob a égide do Eterno, dentro de um
novo amanhecer para nossa alma.

137
SABEMOS O QUE É BOM E CERTO?

Um adolescente pediu um carro de presente ao seu pai. Sua


família era muito pobre, e por isso, o pai não podia dar um carro
de presente para o filho.

Como eles sempre foram pobres e o pai sentia-se um pouco


culpado por não poder dar algo bom ao filho, decidiu que tra-
balharia dobrado para poder comprar um carro, na verdade um
carrinho simples, mas que faria a alegria do rapaz. Trabalhou
durante 5 anos dobrado, fazendo bicos, economizando muito…
e de pouquinho em pouquinho, foi conseguindo juntar o valor
do carro.

Certo dia, o pai chegou em casa e chamou o filho pra fora. O


rapaz saiu de casa e foi para a rua… Para sua imensa alegria,
lá estava seu pai e ao lado o tão sonhado carro. O filho abraçou
o pai e logo pegou as chaves do veículo, todo contente com a
nova aquisição. O pai pensou: “Que bom, ao menos consegui
dar algo de bom ao meu filho. Foi duro, mas me esforcei para
dar o melhor para ele”.

Duas semanas depois, o pai estava voltando do trabalho


quando a viu sua esposa gritando desesperada na rua. Os vi-
zinhos estavam tentando acalma-la. O pai chegou e perguntou
o que houve. “Nosso filho morreu!” gritou ela. “Morreu num aci-
dente de carro”.

O pai caiu no chão e ficou atônito e inconsolável. Havia perdido


seu único filho. Olhou para o céu e disse: “Meu Deus… jamais
desconfiei que o carro que tanto me esforcei para obter seria
justamente o caixão do meu filho”.

Essa estória nos instiga a uma importante reflexão. Sabemos


mesmo o que é bom para uma pessoa? Sabemos o que é o
melhor para o outro? Uma coisa que num determinado mo-
mento e num contexto de nossa vida parece boa, ótima, mara-
vilhosa, correta e que traz uma grande satisfação, pode depois
se transformar em algo terrível, mau, péssimo, destrutivo e nos
fazer infelizes. Esse é o caso do pai que achou que estava
dando algo bom para seu filho, mas não desconfiou que estava,
na verdade, comprando seu caixão.

138
Por isso, fica o questionamento: sabemos o que é bom? Sabe-
mos mesmo o que é melhor? O que acreditamos ser o bom, o
melhor, o certo, pode na verdade não ser… Desconfie sempre
dessas noções de bom e mau, certo e errado, melhor e pior,
pois muitas vezes essas concepções são limitadas dentro de
nossa visão igualmente limitada e parcial da realidade.

139
AS FORÇAS DA LUZ E AS FORÇAS DA ESCURIDÃO

Existem as forças da luz e as forças das trevas…

Costumamos acreditar que as forças da luz nos ajudam e que


as forças das trevas nos prejudicam. Mas será que é assim
mesmo?

Não… Isso não é verdade. Tanto a luz quanto as trevas nos


ajudam. Sim, isso pode surpreender alguns, mas a verdade é
que a luz nos dá força para superar os obstáculos e as trevas
colocam estes mesmos obstáculos para que possamos vence-
los, supera-los e assim evoluir em espírito e em verdade.

As pessoas ainda acreditam que as trevas são “erradas”, “mal-


vadas”, “perversas”, mas não são. O que seria de nós se não
houvessem os obsessores para nos colocar à prova? Como
poderíamos evoluir? Como superar as tentações sem que os
espíritos negativos nos impusessem essas tentações? Como
superar a raiva se os espíritos inferiores não atiçassem essa
raiva em nós, obrigando-nos a nos tranquilizar? Como encon-
traríamos a paz profunda sem cruzar a turbulência das trevas
que eles nos jogam?

Infelizmente muitos ainda veem “erros” nos planos de Deus.


Acreditam que tal ou tal espírito está indo contra Deus, está
sendo rebelde, está se colocando em oposição ao divino. Uma
simples análise já revela o absurdo de tal pensamento. Se
Deus é perfeito e onipotente, quem poderia ir contra a perfei-
ção? Se Deus tudo sabe e tudo vê, quem poderia lhe fazer opo-
sição? Se Deus está em tudo, quem poderia violar suas leis?

Muitos não sabem disso, mas se o diabo existisse, até mesmo


o diabo serviria Deus. Os ditos “demônios” servem a Deus, pois
estabelecem as provas pelas quais os seres podem galgar os
degraus da escada universal da evolução. Quem cria as provas
são os demônios… eles nos levam ao ápice da nossa inferiori-
dade para que possamos reconhecer essa inferioridade em
nós e supera-la. Graças a eles, somos capazes de desenvolver
nossa alma. Os espíritos malignos tocam nossas feridas para
que possamos descobrir onde essas feridas estão e assim pos-
samos cura-las dentro de nós. Se ninguém tocasse forte em

140
nossas feridas, como seria possível reconhece-las, saber onde
se encontram e sara-las?

Devemos agradecer muito a luz, mas precisamos também


agradecer as trevas, aos espíritos negativos e inferiorizados,
pois são eles que impõem a nossa frente os obstáculos que
precisamos cruzar. Eles colocam a barreira a nossa frente que
nos ensinará a pular mais alto, a fim de vencer aquele obstá-
culo. Sim, pode parecer absurdo dentro da visão clássica ju-
daico-cristã. mas são os demônios que nos ensinam a ser an-
jos… Os demônios nos lançam seu ódio para que possamos
aprender a amar; eles nos lançam suas trevas para que pos-
samos aprender a acender a luz de Deus; eles nos agridem
para que possamos aprender a superar as agressões e mesmo
assim manter-nos em paz. Por isso que quando se fala hoje em
dia do “inimigo” (discurso comum em igrejas evangélicas), isso
é totalmente falso, pois não existem inimigos. Mas todos, tanto
a luz quanto a sombra, trabalham pela evolução do espírito.

Como poderia existir algo no universo perfeito de Deus que não


trabalhasse pela evolução da alma? Existiria essa linha limí-
trofe entre o que nos ajuda a evoluir e o que não nos ajuda a
evoluir? Isso aqui sim, ajuda em nosso desenvolvimento, mas
isso aqui não, não ajuda. Não existe essa separação, posto que
todas as experiências são experiências que nos geram apren-
dizado, desenvolvimento e purificação. É certo que os demô-
nios não sabem disso, eles não desconfiam, mas até mesmo
os espíritos do “mal” estão a serviço de Deus. Eles creem estar
atrapalhando a Deus, mas na verdade estão contribuindo para
o plano maior da criação.

Como seria possível aprender a voar se os espíritos negativos


não tirassem nosso chão?

Vamos refletir sobre isso… e parar de acreditar que existem


erros na criação de Deus.

141
A QUEDA DOLOROSA

João era um homem que vivia pela sua esposa. Ele fazia tudo
por ela. Sua vida girava em torno da vida dela. Sua mulher era
tudo para ele. É possível dizer que João se apoiava emocional-
mente nela. Sim, ela era seu sustento psicológico.

Certo dia, a esposa o chamou para conversar e disse que iria


embora, pois havia se apaixonado por outro homem.

O mundo de João desabou naquele momento. Ele caiu no chão


e ficou em prantos por dias, sem comer, sem dormir, sem fazer
nada, apenas chorando e muito deprimido. Depois desse tér-
mino, não conseguiu mais se reerguer e continuar sua vida.

Depois de 2 anos de grave depressão, já não aguentava mais


essa situação. Foi conversar com um monge budista e contou
tudo o que lhe ocorreu. O monge pensou e disse:

– O que aconteceu com você é o que acontece com todos


aqueles que se apoiam no outro, que buscam no outro a sua
sustentação emocional. Quando nos apoiamos em alguém, fi-
camos confortáveis até um certo momento, mas um dia a pes-
soa vai embora, e quando perdemos nosso sustento, caímos
no chão. Sim, quando nosso apoio vai embora, o resultado ine-
vitável é a queda. Foi o que ocorreu com você, que fazia de
sua esposa seu apoio… e quando você perdeu seu apoio, caiu
e até hoje não conseguiu se levantar e seguir sua vida. Esse é
o grande problema de todos aqueles que buscam se sustentar
emocionalmente através do outro e fazem sua vida depender
disso.

João ficou surpreso com a verdade das palavras do monge. Ele


compreendeu bem a lição e jamais a repetiu no futuro. Nunca
mais, em toda a sua vida, buscou sustentar-se nos outros.

É preciso sempre viver de acordo com essa máxima: Aquele


que se sustenta no outro sempre “cai no chão” quando o outro
vai embora. E essa queda pode ser tão dolorosa que não con-
seguimos mais nos levantar e seguir.

“Não busque nenhum sustento exterior a vós, mas faça de ti


mesmo teu próprio suporte”. (Buda)

142
O FIM DEFINITIVO DOS PROBLEMAS

Os espíritos costumam dizer que o ser humano não deve ficar


tentando resolver seus problemas, mas sim parar de sofrer por
causa deles. Por exemplo, uma pessoa está passando por uma
crise financeira bem séria. Ela busca soluções para essa crise.
A solução mais óbvia para o ser humano é conseguir ganhar
dinheiro, pois assim a crise chega ao fim.

No entanto, ganhar mais dinheiro não vai solucionar o pro-


blema. Trata-se de uma solução temporária, pois a próxima
crise financeira vai fazer voltar o mesmo problema… e nova-
mente a pessoa vai ficar sofrendo pela falta de dinheiro. O que
a pessoa deve fazer então? Ela deve ter o desprendimento de
não mais sofrer pela falta de dinheiro. Estou sem dinheiro, es-
tou… qual o problema? Não vou sofrer por causa disso. A pes-
soa pode até tentar ganhar mais dinheiro, mas do ponto de
vista espiritual a solução não é essa, e sim a pessoa parar de
sofrer por não ter dinheiro. Somente quando ela parar de sofrer
é que ela terá a verdadeira paz… e estará livre do sofrimento,
livre das angústias, livre dos apegos, livre da falta, livre dos de-
sejos, das paixões ou de qualquer coisa que a prenda a neces-
sidade de ter dinheiro, de ter conforto, de ter prazer, etc.

Parar de sofrer pelos problemas é não apenas a melhor forma


como é a única forma de resolver um problema. Para o espírito,
a ausência do sofrimento resolve qualquer tipo de problema e
nos faz vencer todo tipo de provações, não apenas da vida
atual, mas das vidas seguintes. O espírito que deixou de sofrer
pelos problemas é o espírito que se libertou de tudo, que pas-
sou a viver feliz e que encontrou o verdadeiro sentido da vida.
Ele encontrou a única e real felicidade e paz… A paz que ne-
nhuma solução de problemas mundana pode proporcionar.
Não importa qual problema a pessoa está vivendo… não im-
porta se é doença, se é abandono, se é traição, se é morte na
família, se é depressão, qualquer que seja o problema… A
única solução possível é não mais sofrer por ele.

O espírito que se liberta do sofrimento não mais experimenta


problemas… posto que uma coisa só pode ser considerada um
problema quando nos faz sofrer, quando nos afeta de alguma
forma, quando muda nosso humor, quando nos tira do sério,
quando nos irrita, quando nos deixa depressivos e vazios. A

143
traição conjugal pode ser um problema para aquele que não se
importa em ser traído? Não… o problema só existe quando a
pessoa não quer passar por aquilo, quando a pessoa tem
medo, quando a pessoa se desespera e sofre. Mas se o espí-
rito não mais se sentir dessa forma, que problemas podem
afeta-lo? Qual pode ser a provação que o faz sentir-se mal?
Nenhuma… nada pode afetar aquele que simplesmente se li-
bertou de toda forma de sofrimento… aquele que não dá mais
valor aos problemas, que reconhece e tomou consciência que
nada nesse mundo pode afeta-lo, pois nada pode afetar o es-
pírito que ele é. Isso parece bem simples e óbvio… e realmente
é. É tão claro, mas ao mesmo tempo poucos percebem.

Se você é espírito, qual poderia ser o motivo do sofrimento?


Onde está o sofrimento que você tinha há 1000 anos atrás
numa vida passada? Onde está seu sofrimento de 2000 anos
atrás? De 5000 anos atrás? Não existe mais e nem nunca exis-
tiu… pois o espírito não sofre, quem sofre é o ser humano, é o
ego que vive buscando sua satisfação, seu prazer… é a mente,
que divide tudo em certo e errado, bom ou mau… é a mente e
o ego que sofrem, o espírito não sofre nunca, pois ele não pode
ser afetado por nada que existe nesse mundo.

Assim, a única solução possível de qualquer problema, não im-


porta qual seja, é você compreender a causa do seu sofrimento
e desprender-se completamente dessa causa. Por exemplo, eu
sofro por não estar casada porque eu queria estar casada. Para
dar fim a esse sofrimento, a solução não é casar, pois qualquer
problema no casamento e expectativa de término vai trazer o
sofrimento à tona de novo. Para resolver em definitivo, basta
não mais se importar em estar ou não estar casada, não acre-
ditar que o casamento pode definir a sua felicidade ou sua in-
felicidade. Existe uma máxima no espiritualismo que diz que o
ser humano sofre porque quer sofrer. Sim… ele sofre porque
não tem o desprendimento necessário para se desvincular das
causas do seu sofrimento. Portanto, basta querer se libertar.
Além disso, uma frase famosa diz: “A dor é inevitável, mas o
sofrimento é opcional”. Sim, pois aquele que mantém as cau-
sas do sofrimento e nada faz para se libertar delas, está op-
tando pelo sofrimento.

Aquele que sofre, por exemplo, por causa de uma traição, vai
continuar vivendo traições atrás de traições até se libertar do

144
sofrimento da traição; até simplesmente não dar mais impor-
tância a traição, até decidir que a traição não o afeta mais. Isso
significa colocar o seu bem-estar acima do valor dado a uma
traição. Não sofro mais com uma traição pois valorizo mais meu
bem-estar, minha paz e minha felicidade do que a fidelidade. A
vida vai te fazer sofrer quantas vezes for necessário com uma
traição até você cansar de sofrer e só então decidir se libertar
do sofrimento.

Vamos fazer isso: ao invés de tentar resolver os problemas…


liberte-se do sofrimento que o problema te causa. Quando você
fizer isso… verá que não existirá mais nenhum problema na
sua vida… e esse será o início da felicidade e da paz eterna.

145
A HISTÓRIA DA MULHER QUE FOI PARA O INFERNO

Matilde era uma senhora muito cristã que adorava ir a igreja.


Vivia firme e convicta dentro dos preceitos de sua denomina-
ção religiosa.

Matilde era defensora incansável da moral, da família e dos


bons costumes. Quando via um crime ocorrendo, ela di-
zia: “Esses safados deveriam todos estar mortos. Cadeia é
muito bom para eles. Eles têm uma passagem só de ida ao
inferno”.

Vira e mexe Matilde via um assassinato e dizia: “Monstro, ca-


nalha! Tem que apodrecer na cadeia! Esse salafrário já está no
inferno!”

Ao longo dos anos, sempre repetia frases muito semelhan-


tes. “Tem que matar esses canalhas todos. Satanás está
aguardando todos eles lá embaixo”.

O padre de sua igreja chegou a alerta-la algumas vezes para


esse comportamento. Ele dizia: “Matilde, você não deve ficar
desejando o mal para essas pessoas. Não foi isso que Jesus
nos ensinou. Esses sentimentos podem te fazer mal”. Matilde
retrucava: “E você acha correto a população de bem ficar na
mão desses vagabundos? Tem que matar mesmo, eles vão di-
reto pro inferno, é um serviço que prestamos as pessoas de-
centes e ordeiras”, dizia.

Frequentemente Matilde os chamava


de “monstros”, “canalhas”, “safados” e repetia quase sempre
a mesma frase: “Esse aí vai pro inferno!”.

Certo dia, Matilde estava atravessando a rua e não percebeu


uma moto passando em alta velocidade. Foi atropelada e a
força do impacto jogou ela longe. Faleceu indo ao hospital.

Matilde se viu fora do corpo em espírito. Observou que alguma


força a puxava para baixo. Olhou a sua volta e viu um vale
sombrio, com nuvens negras e pessoas presas ao chão gri-
tando e que pareciam viver um grande sofrimento e desespero.
Num dado momento, observou um ponto de luz vindo em sua
direção. Esse ponto de luz era na verdade um anjo que veio

146
falar com ela. Matilde disse: “Meu querido anjo, gostaria de sa-
ber que lugar é esse aqui”. O anjo respondeu que ela se en-
contrava numa das zonas de muita negatividade do plano es-
piritual. Essa zona tinha muitos nomes, mas os cristãos o cha-
mavam de “inferno”.

Matilde começou a passar mal. Como cristã convicta que sem-


pre foi, jamais imaginou que seu destino seria o inferno. “Mas
o que eu estou fazendo aqui?” perguntou. O anjo respondeu:

– É simples… De tanto você desejar o mal para pessoas que


cometeram erros em vida, você acabou ficando com esse mal
dentro de si mesma, e por isso, veio para essa zona tenebrosa
do plano espiritual. Você mandou tantas pessoas ao inferno
que acabou por ser atraída a ele. O ódio que você tinha dessas
pessoas e todo julgamento que você proferiu, fizeram com que
você sintonizasse com as zonas obscuras do pós-morte. Nin-
guém tem direito de julgar, somente Deus sabe todas as coi-
sas. O seu ódio trouxe você exatamente para o local onde você
desejava que as pessoas viessem.

“Não julgueis, para que não sejais julgados.


Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com
a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a
vós.” (Mateus 7:1,2)

“Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os


que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai
pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais
filhos do vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:44)

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão


chamados filhos de Deus.” (Mateus 5:9)

“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quan-


tas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei?
Até sete?
Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta
vezes sete.” (Mateus 18:21,22)

147
INFLUÊNCIA PRÉ-NATAL POSITIVA

É muito importante durante a gestação irradiarmos energias de


amor, bem e paz ao feto. Fazer Reiki no feto e conversar com
ele, falando sobre coisas boas, dizendo que ele é muito bem
vindo e visualizando o feto envolto em luz, vida e amor também
é muito bom. Isso pode parecer pouca coisa, mas vai aos pou-
cos purificando as energias do espírito e vai fazendo com que
ele se harmonize com a nova encarnação e com os pais.

O feto tem as energias muito abertas e está bastante sensível


às influências de seus pais e do ambiente. O espírito que vai
futuramente animar o feto já começa a se ligar gradativamente
a ele. Ele sente e até ouve tudo o que é dito. O sentimento da
mãe está ligado ao sentimento dele e pode influencia-lo posi-
tiva ou negativamente. Por isso é tão importante realizar esse
experimento e passa-lo para outras pessoas.

Esse experimento é tão importante que é possível dizer que,


se todas as pessoas no mundo fizessem isso, o mundo iria co-
meçar a melhorar muito para a próxima geração… Faça esse
experimento durante a gravidez. Passe ele para as grávidas. O
feto sente tudo o que fazemos. Uma influência pré-natal posi-
tiva pode fazer toda a diferença durante a sua encarnação. Ir-
radie energias de amor, paz, bem, harmonia ao feto… isso vai
ajuda-lo muito. É na gestação que inicia nosso contato com o
espírito do nosso filho e é justamente o momento em que mais
podemos fazer diferença na formação dele.

148
COMO AJUDAR UMA PESSOA

Primeiro de tudo, é preciso ouvir a pessoa… A escuta é essen-


cial como primeira medida prática para ajudar uma pessoa.
Dessa forma, ela vai desabafando e colocando pra fora todos
os sentimentos e depois se sente mais leve. Deixe-a falar o
quanto quiser e apenas escute a pessoa.

Ainda dentro da questão da escuta, é preciso cuidado com uma


coisa: se na hora em que você der um retorno, a pessoa não
te ouve, então é muito provável que ela somente queria alguém
para despejar seu lixo emocional, para depois se sentir melhor.
A pessoa pode não estar muito interessada em resolver, mas
apenas em descarregar. Se for esse o caso, aponte isso para
a pessoa como uma possibilidade e mostre a ela que mais do
que descarregar, ela precisa encontrar as causas do problema.

É importante nunca dizer o que a pessoa deve fazer, cabe a


própria pessoa sempre decidir. Podemos orientar, tentar des-
vendar as causas do seu sofrimento, apontara um possível ca-
minho, mas jamais devemos dizer “faça isso” ou “faça aquilo”.
Deixe sempre a pessoa tomar a decisão que ela precisa.

É muito importante para todos que tentam ajudar uma pessoa


mostrar um pouco de empatia e se colocar o mais próximo dela
possível. Por isso você pode, em algum momento do diálogo,
contar a ela um grande sofrimento que você passou, a fim de
demonstrar empatia e mostrar que todos sofrem, que ela não
é diferente de todas as pessoas. O sofrimento é coletivo e co-
mum a toda humanidade. Assim, dividimos nossos sofrimentos
uns com os outros e isso ajuda a aliviar as nossas cargas.

É essencial não julgar jamais a pessoa. Mostre que você não


está conversando com ela para julga-la, condena-la, apontar
seus erros, critica-la, mostrar que está errada, etc. É mais re-
comendável procurar compreender do que tirar conclusões so-
bre a pessoa. Conclua menos e escute mais…

É importante sempre colocar nossas falas em forma de pergun-


tas. Por exemplo, ao invés de dizer: “você está se preocupando
muito”. É melhor indagar: “será que você não está se preocu-
pando muito?”. Isso ajuda a pessoa a refletir sobre ela mesma.

149
É bom também evitar dizer coisas do tipo: “vai dar tudo certo”.
Não podemos saber se vai dar certo como a pessoa supõe que
dê. Ou dizer: “fica assim não”. Qual o problema de a pessoa
ficar triste? É melhor vivenciar a tristeza do que ficar fingindo
que está tudo bem ou ficar prendendo o sofrimento. É impor-
tante enfatizar com a pessoa que ela aprenda a lidar com a
realidade e pare de criar ilusões.

É muito importante mostrar a pessoa que ela deve parar de


cultivar idealizações de como a vida deve ser e começar a olhar
para a vida como ela é, sendo feliz agora, ao invés de ficar
esperando alguma coisa acontecer lá na frente para só então
ela conseguir ser feliz. Muitas vezes nosso sofrimento tem
como causa o desejo de tentar mudar as coisas e as pessoas.
Quando não conseguimos mudar e fazer a realidade se adap-
tar ao nosso ideal, começamos a sofrer. É preciso aceitar as
coisas como são e não ficar sofrendo por não ser a vida como
desejamos.

Sempre mostrar a pessoa que ela não precisa ficar carregando


o peso que ela sustenta. Por exemplo, uma mãe se preocupa
com o futuro do filho. É aconselhável expor a essa mãe que ela
deve soltar essa preocupação, pois as inquietações e apreen-
sões em nada acrescentam a ela, só geram infelicidade e tiram
sua paz. Devemos dizer sempre para a pessoa soltar o peso,
desprender-se de tudo, e, claro, seguir em frente… sem jamais
ficar presa ao passado.

Mostrar a pessoa que não podemos forçar alguém a ser ou fa-


zer algo que julgamos o certo, mas que devemos sempre res-
peitar o livre arbítrio da pessoa. De nada adianta forçar alguém
a tomar algum caminho, pois isso seria algo artificial e a pessoa
só vai seguir pelo trajeto indicado por nós se a forçamos a isso
e não por ela mesma. Isso não acrescenta nada a pessoa e só
vai gerar conflitos por tentarmos interferir no caminho natural
de cada um.

Procure sempre usar a linguagem da pessoa e suas crenças


para falar com ela. Por exemplo, a pessoa diz que só Jesus
salva e por isso ela não deve tomar uma determinada medica-
ção. Você pode perguntar: “mas será que Jesus não está
usando essa medicação e esse médico para te ajudar a melho-
rar?” Não importa se Jesus está ou não usando a medicina, o

150
que importa é que a pessoa acredita em Jesus e, por isso, é
bom abordar os temas dentro das crenças que ela toma como
verdade. Assim, é sempre bom adaptar nosso discurso ao da
pessoa, pois a receptividade será maior.

Muitas vezes as pessoas que sofrem ficam remoendo situa-


ções que não tem solução. Então a saída é sempre deixar de
ficar se importando com aquilo e procurar se despreocupar, re-
tirar o poder que aquela situação tem sobre a pessoa. Isso con-
siste em simplesmente parar de dar relevância e força ao pro-
blema. Muitas vezes sofremos por situações que não tem so-
lução… então, para que sofrer? Por exemplo, uma mulher sofre
porque seu filho não lhe dá atenção e não liga pra ela… Algu-
mas pessoas poderiam dizer equivocadamente: “calma, ele vai
ligar um dia” ou “ele vai se arrepender”. Frases como essa só
vão reforçar o problema. O mais adequado seria levar o pro-
blema para outra direção e dizer a ela: “Sim, seu filho não te dá
atenção… ele é assim, ele não vai mudar, não tem o que fazer.
O que você pode fazer? Você já fez o que podia… Já conver-
sou com ele. Se ele não mudou, de que adianta ficar remoendo
isso? Deixa isso de lado e vai viver a sua vida”. Esse tipo de
conselho cabe num leque imenso de problemas e reclama-
ções… e frequentemente pode ajudar as pessoas a se liberta-
rem do seu sofrimento quando elas param de dar poder ao pro-
blema e simplesmente o deixam de lado.

É recomendável sempre lembrar a pessoa que tudo passa, que


um dia tudo isso que ela experimenta terá um fim e que, en-
quanto não passa, é bom viver a experiência da melhor ma-
neira possível, de forma amorosa, alegre e tranquila, pois as-
sim vamos aos poucos nos libertando do sofrimento.

É importante mostrar a pessoa que ela deve parar de ficar cri-


ando expectativas e esperando as coisas acontecerem. Quem
espera algo acontecer para ficar bem, deixa de viver o hoje es-
perando sempre um amanhã “melhor”, mas o melhor é sempre
viver o hoje e ser feliz agora.

151
O VAZIO DA RIQUEZA MATERIAL

Precisamos de uma vez por todas dissociar a ideia de “viver


bem” com o dinheiro. Uma vida boa, tranquila, onde vivemos
felizes, livres e em paz nada tem a ver com a riqueza material.

Conheço muitas pessoas que são ricas e mesmo assim são


profundamente infelizes. Boa parte dos ricos que eu conheço
hoje vivem à base de antidepressivos. Muitos escondem sua
condição, para não denegrir sua imagem. Mas é certo que
mesmo com todo o dinheiro que possuem, eles não conse-
guem ser felizes e menos ainda ter paz em suas vidas.

Muitos ricos vivem preocupados com o dinheiro que já pos-


suem. Mesmo tendo muito, ainda não estão satisfeitos e que-
rem sempre ganhar mais. Essa é uma característica do ser hu-
mano: quanto mais tem, mais quer. Nunca está satisfeito…
sempre falta alguma coisa. E nessa falta, vem um vazio que
eles não conseguem preencher com nada desse mundo. E
quando se veem incapazes de preencher o vazio, tentam con-
quistar mais coisas do mundo a fim de aplacar o vazio, mas
obviamente isso só aumenta o buraco em nosso peito.

Pessoas ricas ainda tem muitas preocupações com o dinheiro.


Muitas são escravas dos próprios negócios. Mesmo com a vida
ganha, não conseguem se desligar dos seus afazeres, de suas
obrigações e ficam preocupadas em não perder o dinheiro que
já tem. Certa vez Gandhi ganhou uma pedra preciosa e no dia
seguinte a devolveu. Ele contou que não conseguia dormir pen-
sando em um dia perder aquela pedra maravilhosa. A riqueza
material é assim… ela não nos dá paz, pois sempre existe o
medo relacionado com a perda de tudo o que se conquistou e
a perda não é tão difícil assim de ocorrer durante a vida. Veja
o exemplo de Eike Batista, um bilionário que perdeu quase toda
a sua fortuna. É certo que todos aqueles que cultivam as rique-
zas materiais um dia perderão tudo o que possuem, e quanto
mais apegados são as suas riquezas, mais sentir-se-ão infeli-
zes sem elas após a morte, no plano espiritual.

Pessoas ricas, que sentem já ter adquirido tudo na vida, ficam


insatisfeitas porque pautaram sua vida em ter coisas, em con-
quistar o mundo… mas como disse Jesus: de que adianta al-

152
guém conquistar o mundo inteiro se com isso ele perde sua
alma? Que pode alguém negociar pela sua alma?

Quantos artistas, cantores, atores, riquíssimos, bem sucedi-


dos, amados por todos, que tem seu ego sempre em destaque,
entram no mundo das drogas? Quantos se tornam viciados por
não conseguirem cultivar a alegria de viver em meio a tantas
riquezas, tanta glória e tanta exaltação do seu ego? Quantos
exemplos como esse não vemos todos os dias? Os exemplos
são muitos… Grace Kelly era o modelo de perfeição de nossa
sociedade, rica, linda poderosa, mas profundamente infeliz.
Marilyn Monroe é outro exemplo emblemático: uma mulher ex-
tremamente desejada, mas que em poucos momentos de sua
vida pôde ter paz. Vale a pena viver assim? Ou é melhor culti-
var a simplicidade, a espontaneidade, a naturalidade? Não é
melhor cultivar a riqueza interior em primeiro lugar?

Recentemente o youtuber humorista Whinderson Nunes confi-


denciou que está com depressão e não tem mais vontade de
viver. Whinderson é um dos jovens mais ricos, mais amados e
mais famosos de sua geração. Outro que enfrenta o mesmo
mal é o youtuber Felipe Neto, que também fez um vídeo
abrindo a todos sobre sua depressão e as dificuldades emoci-
onais que passa e já passou. Estes são os dois jovens mais
famosos de sua geração no Brasil. Ambos são muito bem su-
cedidos, amados, elogiados e obviamente, são riquíssimos.
São jovens muito antenados nesse mundo tecnológico e digital.
Mas apesar de terem “tudo” do bom e do melhor no âmbito ma-
terial, não conseguem escapar da depressão. Tudo isso só nos
prova que dinheiro, sucesso, fama, elogios, prosperidade e
abundância material nada tem a ver com a alegria de viver e
com o bem-estar no mundo.

Existe um certo romantismo na riqueza material. Todos so-


nham com uma vida de luxo e benesses. Mas a grande verdade
é que, no momento em que você conquista as riquezas, elas
deixam de ter a importância que tinham antes quando você não
as possuía. Sim, as riquezas materiais costumam ser sobreva-
lorizadas justamente porque a maioria não as possui… não co-
nhece seus encantos e claro, suas armadilhas. Acreditam que
a riqueza material é o ápice da existência humana quando na
verdade, assim que alguém a conquista, ela já não tem o
mesmo valor. Uma pessoa rica, após um tempo, já não apro-

153
veita mais sua fortuna como antes, pois se acostumou com
ela… acostumou-se em ter tudo.

Nesse ponto entra outra cilada da riqueza: no momento em que


você sente que tem tudo, sua vida perde o sentido. Não há
mais o que melhorar, não há mais como crescer, não temos
mais o que nos superar. Geralmente os ricos pensam em su-
peração pretendendo aumentar seus lucros e ganhar mais.
Mas será que esse aumento de lucro será aproveitado de al-
guma forma por eles? Não… o dinheiro ficará no banco e nunca
será usado. Nunca iremos utilizar aquele dinheiro simples-
mente porque o ser humano precisa de muito pouco para suas
necessidades básicas, e mais do que isso, é desperdício de
vida e de recursos que poderiam ser repartidos com outros.
Quando Jesus encontrou o jovem rico, não lhe disse que deve-
ria maximizar seus lucros, investir seu capital, trabalhar para se
tornar ainda mais rico. Não… Jesus disse: Doa teus bens aos
pobres e segue-me, e terás um tesouro no reino de Deus.

Sendo assim, muitos se acomodam na riqueza, mergulham em


seus prazeres e sua vida passa a ser totalmente vazia. Existe
uma máxima no Esoterismo que diz assim: quando a vida está
cheia por fora, ela está vazia por dentro. Quanto mais obtemos
coisas materiais e nos importamos com isso, menos damos va-
lor ao nosso interior, e o resultado disso é um atormentador
vazio. Vamos quebrar essa ilusão de que a felicidade tem rela-
ção com a riqueza, de que o bem-estar só pode ser
conquistado com bens terrenos, de que a paz só virá com
estabilidade material. Não existe estabilidade possível nesse
mundo… o dinheiro jamais poderá nos proporcionar uma
segurança, uma estabilidade. Qualquer conquista desse tipo
será apenas temporária, e pode durar menos do que supomos.
Por isso que Jesus disse para acumularmos tesouros no céu e
não na Terra, pois estes nunca são perdidos.

154
ABRINDO NOSSOS CAMINHOS

Eu sempre costumo falar isso, mas a maioria não acredita, ou


prefere não acreditar…

O fechamento de caminhos no mundo é igualmente a abertura


de caminhos para o plano do espírito.

O que se fecha no mundo, se abre no espiritual.


Aquele que perde no reino da matéria, ganha no reino dos
céus… e aquele que ganha no reino da matéria, perde no reino
dos céus.

Quando tudo está bloqueado em nível de mundo, isso significa


que devemos parar de insistir no apego aos caminhos do
mundo e começar a ascender ao espiritual.

Em O Livro dos Espíritos se diz que “Aquele que ganha


como homem, perde como Espírito”.

Há uma máxima no Sufismo que diz “Quando o homem chora


pelo que perdeu, o espírito se ri pelo que encontrou”.

Essa consciência nos dá a chance de ver o fechamento dos


caminhos do mundo como a abertura de um novo caminho para
a realidade do espírito, de nossa essência.

Isso significa que quando Deus fecha os caminhos da Terra,


ele automaticamente abre os caminhos do céu, da realização
espiritual e da felicidade eterna.

Como diz a máxima: “Aquele que perde o telhado, ganha as


estrelas”. Você perde a proteção que você tinha, mas ganha
uma visão além do limite, uma percepção sem fronteiras… pois
o que te protege, também te aprisiona e te limita.

Como seria possível continuar percorrendo bem os caminhos


do mundo sem deixar de lado os caminhos espirituais?

Em algum momento o mundo limitado e transitório tem que se


fechar para nós, para que possamos aspirar àquilo que é
eterno e sem fronteiras.

155
Quando tudo está bloqueado, direita, esquerda, para trás e
para frente… sobra apenas o caminhar para cima, para o alto…

Para a VIDA MAIOR DA ALMA…

Essa é a verdadeira abertura de caminhos.

156
A HISTÓRIA DOS TRÊS ESPÍRITOS INFELIZES

(Baseado em casos reais)

Um homem teve uma briga com outro homem e este o matou.


Ele desencarnou, saiu do corpo e foi ao plano espiritual. Um
espírito de luz veio recebe-lo e começou a conversar com ele.
O recém-desencarnado estava com raiva e disse: “Aquele ho-
mem me matou. Eu agora vou lá destruir a vida dele”. O espírito
de luz disse: “Meu filho, tudo isso já passou. Observe a si
mesmo nesse momento e perceba que você não está morto. A
morte não existe. Você já iria desencarnar de qualquer jeito,
pois era chegada a sua hora. Ninguém tirou a sua vida, pois
você é espírito e sua vida é eterna”. O homem ouviu o espírito
de luz, mas não deu atenção e continuou dizendo que ele não
tinha direito de fazer o que fez, que iria se vingar, iria destruir
ele e sua família, que iria fechar seus caminhos, etc. O homem
largou o espírito de luz e foi embora dizendo que estava com
ódio e “faria ele pagar”. A partir desse momento, não conseguiu
mais ter paz…

Uma mulher era excessivamente apegada ao dinheiro e ao


conforto material. Queria ganhar muito e ficar cada vez mais
rica. Seu objetivo era acumular mais e mais bens e patrimônio.
Sofreu um acidente e desencarnou. Chegou ao plano espiritual
e foi recebida pelo mesmo espírito de luz, que explicou sobre
a morte, dizendo que ela havia deixado o plano da matéria e
agora estava em outra vida. A mulher disse: “Eu agora preciso
ver onde vou morar aqui no plano espiritual, pois quero ganhar
muito dinheiro para ter uma mansão e muito conforto”. O espí-
rito de luz disse: “Minha filha, aqui no plano espiritual não existe
dinheiro, não existem casas, não existe conforto, não existe o
ganhar alguma coisa. Aqui existe a paz e a felicidade no infi-
nito”. A mulher ignorou o espírito e continuou dizendo que que-
ria ir a um local luxuoso, queria o melhor hotel, queria a cama
mais confortável, queria as melhores roupas, as melhores ma-
quiagens, etc. O espírito de luz disse que lá não existia forma
física, então não havia maquiagens. Lembrou que ela não tinha
mais um corpo de matéria. Mas a mulher não quis saber… foi
embora e ficou sofrendo por não poder conquistar o que ela
queria. A partir desse momento, não conseguiu mais ter paz…

157
Uma mulher vivia pelo seu filho. Ela fazia de tudo por ele, se
sacrificava tentando preserva-lo, se anulava completamente: o
motivo de sua vida era o filho. Essa mulher teve uma doença
grave e desencarnou em pouco tempo. Mais uma vez, o
mesmo espírito de luz veio falar com ela e explicar sobre o
plano espiritual. Mas a moça não conseguia se concentrar no
que o espírito falava e já queria saber como estava seu filho;
queria vê-lo, queria cuidar dele, estar com ele, etc. O espírito
de luz disse: “Minha irmã, seu filho é um espírito como você.
Ele vai viver as experiências que precisa no plano da matéria,
para sua própria evolução. Sua missão com ele já passou.
Agora ele precisa aprender a se virar sozinho, sem você resol-
vendo tudo por ele. Nesse momento você precisa viver sua vida
aqui no plano do espírito”. A mulher mais uma vez não deu ou-
vidos e foi embora. Ela voltou a Terra e ficou tentando cuidar
do filho, mas acabou o prejudicando e se tornou sua obsessora.
A partir desse momento, não conseguiu mais ter paz…

Quando desencarnamos e não conseguimos nos libertar das


coisas da Terra, não conseguimos viver livremente no plano
espiritual e continuamos preocupados com os assuntos mun-
danos. Passamos a viver inquietos, angustiados, nervosos,
apegados, com remorso e com outras formas de prisão ao que
já passou. Por isso, se durante nossa vida ficamos presos a
certas questões, apegados a dinheiro, a pessoas ou a situa-
ções vividas, podemos sofrer muito no plano espiritual por não
conseguirmos nos desligar. Ficaremos como o homem que
continuou com raiva do seu assassino ter tirado sua vida
mesmo sabendo que a vida sempre continua; ou ficaremos
como a mulher que, mesmo perdendo tudo, ainda sentia falta
dos confortos e do dinheiro do plano material e sofria por não
tê-los mais, ou ficaremos como a mulher que se anulava pelo
filho resolvendo tudo por ele, e após a morte, não conseguia se
desconectar dele para viver no plano espiritual e seguir em
frente.

Não faça como esses espíritos infelizes… Viva de forma livre,


sem amarras, aqui no plano da matéria. Caso contrário, você
será infeliz e não terá paz no plano espiritual.

158
PROTEÇÃO CONTRA O MAL

A maioria das pessoas que fazem oração a Deus pedem


proteção contra o mal.
Muitas pedem também para que o negativo se afaste delas.
No entanto, o que precisamos compreender é o seguinte:
Tudo no cosmos infinito é regido pela lei da afinidade.
Atraímos para nós mesmos aquilo que pensamos, sentimos e
fazemos.
Uma pessoa que pensa, sente e age no mal, vai atrair o mal
para si mesma.
Uma pessoa que tem o mal dentro de si jamais poderia atrair
o bem. Aquele que vibra no ódio, como poderia atrair o amor?
Aquele que vibra na guerra, como poderia atrair a paz?
Nesse caso, se cada pessoa atrai o que vibra dentro de si,
como Deus poderia nos proteger do mal que nós mesmos
geramos em nosso interior?
Aquele que fica julgando as pessoas, tendo pensamentos
egoístas, desprezando os outros, quer ganhar a todo custo,
não faz nada pelo bem coletivo, quer sempre levar vantagem,
etc, como essa pessoa poderá atrair o bem para sua vida?
De que adianta pedir proteção a Deus contra o mal se esse
mal é gerado em nós e é atraído pelo que guardamos em
nosso íntimo?
Será que Deus poderia nos proteger contra nós mesmos?
Ou será que Deus permite que cada pessoa colha o mal que
ela mesmo semeou? Que cada pessoa encontre o mal
externo que ela criou internamente?
Se o aluno não estudou para uma prova porque ficou de
vadiagem, em bares, bebendo, jogando videogame, na rua
conversando, Deus pode protege-lo para que faça uma boa
prova na escola?
Ou é melhor que ele tenha um péssimo rendimento e repita
de ano para que aprenda a estudar e se esforçar?
O mesmo ocorre com o ser humano: como pode Deus nos
proteger se precisamos nos deparar com toda negatividade
que conservamos em nosso âmago?
Dessa forma, o mal externo é atraído pelo mal interno, pelo
mal que mora dentro de nós.
Assim sendo, é inútil pedir proteção a Deus, pois Deus jamais
poderia nos proteger de nossas próprias criações.
Se uma pessoa fica atirando espinhos nos outros, Deus
deveria recolher esses espinhos para que a pessoa que os

159
jogou não se espete? Ou Deus deve permitir que a pessoa se
fure com os próprios espinhos que feriu os outros?
Aquele que só pensa negativo poderia ser protegido por Deus
da própria negatividade que ele cria com seus pensamentos?
Obviamente que não… isso não seria proteção, seria apenas
uma forma de adiar a resolução do problema. A pessoa
precisa olhar para sua criação e experimentar o mal que ela
mesmo criou, para assim, aprender a pintar sua vida de cores
elevadas e não de cores obscuras.
É comum mães pedirem proteção para seus filhos. Mas será
que essa proteção é possível?
Se o filho, por exemplo, anda com más companhias é por que
se sente atraído por pessoas negativas.
Será que por sentir essa atração pelo negativo, ele mesmo
não tem o negativo dentro de si?
E se tem o negativo dentro de si, não seria melhor deixar ele
experimentar as consequências dessa negatividade para que
ele possa aprender certas lições da vida e avançar em
espírito?
Não se pode proteger alguém das suas próprias afinidades…
elas geram uma vibração que atraem exatamente aquilo que
somos.
Como a lei de Deus é perfeita, cada pessoa vai atrair
exteriormente aquilo que é interiormente e, assim,
experimentar as circunstâncias da vida como se fossem um
espelho do que se passa em nosso interior.
Vendo no exterior o reflexo do que temos no interior. Somente
assim conseguimos nos conhecer e superar nossas
negatividades e limites.
Muitas vezes não adianta dizer a uma moça: “não saia com
esse homem, ele vai te fazer mal”.
Se a mulher se sentiu atraída por ele, pode ser que necessite
“quebrar a cara” para só depois aprender a lição. Não adianta
ficar insistindo para que ela termine com o homem que lhe faz
mal: somente quando esse mal chegar e fizer ela sofrer, é
que virá o aprendizado que ela tanto precisa.
Dessa forma, não há proteção possível, pois tudo o que
chega até nós um dia foi criado dentro de nós, sendo atraído
pela ímã interno das impurezas de nosso ser.

160
MORRER EM PAZ

Uma das coisas mais importantes que você pode fazer nessa
vida é se preparar para morrer em paz. Sim, morrer em paz é
muito, mas muito mais importante do que você pensa.

A pessoa que não morre em paz leva todas as preocupações


para o plano espiritual e, assim, fica sofrendo, fica mal, fica
atormentada, fica carente, fica vazia. Morrer em paz é um dos
maiores benefícios que você pode outorgar a você mesmo,
pois carregar pesos emocionais após a morte pode muitas ve-
zes ser um sofrimento terrível.

Como então morrer em paz? A primeira coisa é compreender


que a morte pode chegar a qualquer momento. Como diz a sa-
bedoria popular: para morrer, basta estar vivo. Aquele que fica
vivendo como se fosse morrer bem velhinho, num leito de
morte, após mais de 100 anos, se engana imensamente. Este
se engana, pois a morte é uma incógnita. Não sabemos quando
a foice da morte virá ceifar nossas existências. Por isso, com-
preender que a morte pode bater a nossa porta a qualquer mo-
mento é o primeiro passo para morrer em paz e também viver
em paz no plano espiritual, em um novo recomeço.

A segunda decisão para se viver em paz é parar de criar ex-


pectativas sobre a vida. Você tem algo que sinta que precise
fazer amanhã? Quem fica dependente do amanhã, não conse-
gue viver hoje e, por isso, não consegue morrer em paz. Não
morre em paz porque acredita que deixou algo a ser feito. A
expectativa de viver, de fazer, de experimentar, de realizar pro-
jetos, de viajar, de conhecer, de possuir, de ganhar dinheiro,
etc, tudo isso nos amarra sobremaneira à existência material.
Ficar planejando nossos passos, criando expectativas, ansioso
por fazer e acontecer, prometer experimentar coisas, desejar
casar, querer ter filhos, em suma, esperar de toda forma o ama-
nhã para fazer algo, é entregar nossa vida à maré das circuns-
tâncias e pedir para ser surpreendido pelo senhor da morte.

A pessoa que cria a ansiedade pelo amanhã, quando chega ao


plano espiritual, fica sentindo que algo está lhe faltando, que
deixou pendências, brechas. Ela fica ansiando pelas experiên-
cias que não ocorreram, e assim, vai ao plano espiritual com
um buraco dentro de si, como se estivesse carente de algo que

161
era para ser, mas não foi. Por exemplo, uma pessoa que deseja
viajar pela Europa, mas desencarna antes da viagem. Assim
que perde o corpo, ela continua ansiando por essa viagem; ela
fica imaginando como teria sido, fica presa a expectativa de
viajar, de conhecer os lugares que não conheceu… e essa ân-
sia pela experiência, essa expectativa de fazer o que não, vai
atormenta-la por muito tempo. Ela não conseguirá ficar bem no
plano espiritual pensando naquilo que deixou de fazer no plano
terreno.

Outro ponto para se morrer em paz é a resolução de todas as


nossas pendências humanas. Você tem alguma pendência
com alguém? Você ainda conserva alguma mágoa? Tem ódio
de algo? Deixou de dizer algo que gostaria para alguém? O
momento de fazer todas estas coisas é aqui na Terra, depois
da morte não dá mais tempo. Por exemplo, dois irmãos
brigaram durante anos e anos. Um tem mágoa do outro. Caso
eles não resolvam essa pendência durante a encarnação, após
a morte um deles pode ficar preso a Terra e preso a mágoa
que tinha do irmão. Assim, ele pode ficar anos e anos ao lado
do irmão tentando prejudica-lo, ou tentando mostrar ao irmão
os erros que ele cometeu, e assim, se torna seu obsessor.

Outro exemplo extremamente comum: a mãe desencarna e


fica presa na Terra tentando “ajudar” o filho a ser “alguém na
vida”. Essa mãe acredita piamente que o espírito encarnado do
filho precisa dela, caso contrário, ele ficará perdido e desorien-
tado no mundo. Assim, caso ela morra preocupada com o filho,
ela pode se tornar seu obsessor. Por isso, antes do desen-
carne, essa mãe precisa entregar seu filho a Deus e libertar-se
de qualquer tipo de preocupação com ele. Estamos falando de
relações humanas, mas essas preocupações ou pendências
podem se dar em qualquer área. Por exemplo, uma pessoa
muito preocupada com a política do seu país pode desencarnar
e ficar preocupada com o futuro da nação, com os políticos
“corruptos” que a estão governando. Essa pessoa precisa com-
preender que tudo tem um propósito e os políticos ditos “cor-
ruptos” estão no poder devido ao karma do povo. Por isso, não
há com o que se preocupar, pois o povo vai viver exatamente
o que ele precisa viver, assim como cada espírito encarnado
vai viver as provas de que necessita para fazer sua evolução.

162
Algumas pessoas podem dizer: “Quando eu morrer, não im-
porta mais, pois tudo já acabou mesmo”. Não é verdade. Esse
pensamento é semelhante a viver a adolescência como se a
fase adulta não fosse existir. Um dia a adolescência acaba e
precisamos nos concentrar nos desafios da fase adulta, no tra-
balho, nos filhos, no casamento, nas exigências sociais, etc.
Quem vive a adolescência como se a fase adulta não fosse
nunca chegar, sem estudar e se dedicar a ficar bem quando
adulto, pode não conseguir viver bem depois. O mesmo ocorre
aqui na Terra, com aquele que não se prepara para a morte.

Outras perguntas importantes que você precisa se fazer: Você


tem medo de deixar suas coisas aqui na Terra? Tem medo de
deixar seus parentes, seus filhos, seu marido, seus pais, seus
irmãos? Consegue deixar seus desejos aqui na Terra? Conse-
gue se libertar deles? Tem alguma paixão? Você está espe-
rando algo? Consegue abrir mão de tudo, para morrer em paz?
Sim, é imprescindível abrir mão de tudo, de todo apego, de to-
das as preocupações, de todos os desejos, de toda a sede de
vida, para que tenhamos a chance de morrer em paz. Na ver-
dade, morrer em paz é uma das experiências mais sublimes e
elevadas que os espíritos podem ter acesso na Terra. Morrer
em paz é a certeza de uma vida de paz no plano espiritual e
talvez do desabrochar das sementes da paz e da felicidade da-
qui para frente, durante toda a eternidade. Aquele que deixa
suas expectativas na Terra, chega ao plano espiritual e sente
um imenso vazio, uma sensação de que algo lhe está faltando
e isso lhe corrói por dentro, isso nos atormenta e nos deixa
entristecidos até a próxima existência.

Por isso, siga as diretrizes dessa mensagem… e a partir de


agora, liberte-se de tudo, para que você possa viver a maravi-
lhosa experiência espiritual de morrer em paz.

163
LUTAR CONTRA

O ser humano está a todo momento lutando contra tudo.


Ele luta contra as coisas, luta contra as pessoas, luta contra
as situações e luta contra a si mesmo.
No trânsito, ele luta para chegar logo em casa ou ao seu
objetivo.
Luta também contra alguém que está indo devagar na sua
frente, contra alguém que lhe fechou ou contra alguém que
dirige mal.
Se alguém diz algo que ele não gosta, logo começa uma luta
interna. Ele começa a imaginar como pode devolver a ofensa
proferida.
Lutamos a todo momento para ganhar mais, para ter uma
vida mais estável, mais confortável. Lutamos para ter
sucesso, para ter prazer, para ganhar algo. Lutamos também
para não perder, para conquistar, para sermos amados.
Quando somos pais, lutamos para nosso filho receber a
melhor educação, as melhores coisas e ter boas condições na
vida.
Guerreamos com tudo e todos, a todo momento. Lutamos até
mesmo quando estamos na rua e nos sentimos mal com a
agitação ao redor de nós. Lutamos para sair do espaço
público cheio o mais rápido possível.
“Não gostei do que ele fez”, é uma forma de lutar contra.
“Não quero isso, quero aquilo” é outra forma de estar em
conflito com a realidade.
“Ele é mal, ele é grosseiro, ele é arrogante”, é outra forma de
lutar contra o outro em pensamento, com os julgamentos e as
conclusões.
Nunca aceitamos as coisas como elas são, mas estamos
sempre lutando, guerreando e nos destruindo para moldar o
mundo da forma como nós desejamos que ele seja.
Será que essa luta constante é mesmo necessária? Será que
esse conflito não nos faz sofrer?
Os sábios orientais ensinam que nossa paz e felicidade
começam no exato momento em que deixamos de lutar
contra.
Toda luta é sinônimo de sofrimento. Quem vive lutando contra
tudo e todos, vive sofrendo pelo resultado da luta.
Viver lutando contra a realidade nos destrói, nos corrói, nos
desgasta, ficamos cansados, abalados e enfraquecidos. Toda
batalha é uma oposição entre nós e a realidade.

164
Lutar contra é uma forma de arrogância, de prepotência, de
tentar forçar uma situação, de desejar que o mundo cumpra
nossos desejos e aspirações. É uma forma de impor à
realidade nosso jeito, nosso modo de pensar e sentir. Ó
mundo jamais será como nós gostaríamos que ele fosse.
Assim que o ser humano estabelece o que é bom e mau,
como algo deve ser e como não deve ser, o certo e o errado,
o que ele gosta e o que não gosta, a batalha se inicia.
A partir da criação de todos estes opostos, a luta vai
transcorrer por toda a sua existência terrena.
Mas quando transcendemos os opostos e deixamos tudo fluir,
não há mais luta, há apenas uma harmonia com todo o
universo.
A sincronia, o equilíbrio, a simetria, a cadência e a sintonia
com o ritmo da vida começa no momento em que a luta
termina. A doce melodia da vida começa a tocar
harmonicamente em nosso interior.
Deixar de lutar não é uma atitude passiva diante da vida, ao
contrário: quem está em harmonia com o cosmos, não fica
tentando bloquear o fluxo das águas de um rio, mas aproveita
a força da água para chegar mais rapidamente a outra
margem.
Como o bambu que se dobra para cá e para lá durante o forte
vento, está bastante ativo em sua flexibilidade.
Ao contrário da árvore rígida que “luta contra”, opondo-se a
corrente de ar, e se mantém onde está. Esta se quebra
facilmente diante da força da tempestade.
Eis a diferença entre uma pessoa que luta contra, rígida em
seus desejos e crenças… e uma pessoa que é flexível,
versátil, móvel e sabe se adaptar. Quem está mais ativa?
O homem que se desespera e luta contra o mar revolto fica
cansado e afunda rapidamente. Mas aquele que se acalma e
não fica lutando contra o mar, esse flutua nas águas do
oceano da existência.
Por isso, quem vive lutando contra tudo acaba por perecer e
definhar, sozinho e infeliz, no imenso campo de batalha da
vida. Quem passa a vida lutando, morre infeliz com o
resultado de tanta guerra.
Pare de lutar nesse momento… deixe de lado o confronto
perpétuo contra as coisas. Desapegue-se do desejo de impor,
de forçar, de instituir, de ditar as coisas, de estabelecer como
algo deve ser.
A vida não precisa ser um eterno campo de batalha. Ela pode

165
ser simples e maravilhosamente harmoniosa.
Você precisa apenas deixar tudo fluir e se colocar em
sincronia com vida universal.

166
QUEM PODE TE FAZER MAL?

Quem pode nos fazer mal?


Somos espírito…
Nossa vida real não está nesse mundo.
Pessoas podem ferir sua carne, seu corpo físico… mas seu
espírito é perene, ele não é afetado por nada desse mundo.
O que é a matéria física e corpórea em relação ao eterno que
reside em nós?
Quem pode agredir o invulnerável?
Quem pode fazer mal ao que não é deste mundo?
Quem pode matar o eterno?
Quem pode destruir o inespacial?
Quem pode nos fazer perder algo se o espírito nada pode ter,
mas apenas pode ser?
Quem pode ferir te ferir se você não é o corpo composto de
matéria?
Quem pode obscurecer o que é plena luz?
Quem pode poluir ou macular o que é pureza infinita?
O corpo físico é o pó que retorna ao pó…
O espírito passa pelo mundo… mas não é afetado por nada
desse mundo.
Podemos agredir uma ideia com socos e chutes?
Podemos dar pauladas no pensamento?
Não… da mesma forma, ninguém pode alcançar o
inalcançável.
Ninguém pode atingir o inatingível. Ninguém pode destruir o
indestrutível. Ninguém pode limitar aquilo que é ilimitado.
Existe o conhecido, o desconhecido e o incognoscível.
O espírito é o incognoscível… Ninguém pode conhece-lo, pois
ele está além dos limites de nossa mente. Paradoxalmente,
ninguém pode desconhece-lo, pois ele se encontra em todos
os lugares.
Quando alguém te bate, está batendo no corpo, não em você.
Quando alguém fere seus sentimentos, está ferindo seus
sentimentos, não a você.
Quando alguém te ofende, está ofendendo seu ego, não a
você.
Você não é o corpo, nem as emoções e nem a mente ou o
ego.
Você é espírito, é essência, é centelha divina peregrinando
pelos caminhos desse mundo.
“Ajuntai tesouros no céu (no plano do espírito), onde as traças

167
não consomem e onde os ladrões não arrombam e roubam”,
disse Jesus.
“Eu não sou desse mundo”, disse Jesus.
Nenhum de nós é desse mundo, pois somos espírito.
O que pode, então, nos afetar aqui? Nada…

168
VITÓRIA OU DERROTA

Quando uma pessoa estabelece que ela quer ganhar, vencer,


conquistar… automaticamente ele delimita aquilo que seria a
perda, a derrota e a não conquista. No momento que ela cria a
necessidade da vitória, ela cria a possibilidade da derrota.

Mas aquele que não se preocupa em ganhar ou perder…


aquele que não se preocupa em ter ou não ter… aquele que é
indiferente a conquista ou a não conquista… esse não ganha
nem perde… esse está sempre contente com o que tem e o
que é… esse nada é capaz de abalar ou desarmonizar.

Aquele que se regozija na vitória, ficará entristecido com a der-


rota. Aquele que deseja ganhar, vai sempre ficar desanimado
quando perder. Aquele que faz questão de conquistar, sentir-
se-á vazio e derrotado quando a conquista não vem. Ninguém
deve criar a necessidade do ganho, da conquista, da vitória, do
sucesso, pois quando a derrota vier, quando a infâmia nos as-
saltar, quando a perda se impor, a infelicidade será nossa com-
panheira e não sairá do nosso lado.

Para viver sempre em paz, não se preocupe em ganhar, em


conquistar, em vencer, em ser bem sucedido. Na vida não
existe nem a vitória nem a derrota, não existe nem o ganhar
nem o perder, pois ninguém vence de ninguém e ninguém ga-
nha nem perde nada. Todas estas coisas são meras aparên-
cias desse mundo de ilusão… posto que nada é permanente e
tudo se esvai um dia.

Por isso, é melhor ficar bem em qualquer posição, sem desejar


ou repudiar algo. Essa é a fórmula do bem viver.

169
AJUDAR UMA PESSOA

É imenso o número de pessoas que perdem suas vidas ten-


tando “ajudar” as outras. Isso ocorre muito frequentemente em
família, principalmente na relação mãe e filho. Não é raro ver
pais destruindo suas vidas na tentativa de ajudar o filho que,
muitas vezes, não quer ajuda.

Vamos propor algumas reflexões sobre o tópico de “ajudar o


outro”. Esperamos sinceramente que essas reflexões possam
nos permitir realizar a verdadeira ajuda, o amparo essencial ao
outro e não a falsa ajuda, que é baseada em jogos psicológi-
cos, dependências, autoritarismos e carências.

Em primeiro lugar, vamos pensar no seguinte: a tentativa sis-


temática, insistente, obstinada e por vezes até obsessiva de
ajudar o outro pode sinalizar, na verdade, uma tentativa incons-
ciente de forçar e moldar o outro da maneira como nós acredi-
tamos que ele deve ser. Esse é um erro frequente que as pes-
soas cometem em suas relações pessoais, principalmente den-
tro do seio família.

Vamos refletir nesse ponto: se o outro ainda não mudou, será


mesmo que ele deseja mudar? Se ele não deseja mudar, será
que devemos ficar insistindo tanto nessa mudança? Mais do
que uma perda de tempo, essa teimosia em tentar modificar o
outro pode ser uma forma de imposição, de afirmação de uma
ideia, de uma crença. Pode ser também uma forma de autori-
tarismo. Além disso, pode qualificar uma forma de dependência
emocional do outro. Uma pessoa pode sentir que, por exemplo,
caso seu filho não esteja bem, ela também não consegue ficar
bem ou em paz. Isso sinaliza claramente uma dependência
emocional que só nos conduz ao sofrimento. É preciso se liber-
tar dessa subordinação para existir uma chance de ajuda. A
parcialidade emocional pode nos cegar para a real necessi-
dade do outro e para a melhor forma de amparo possível a ser
prestado.

Em segundo lugar, a crença de que temos o poder de mudar o


outro pode caracterizar uma certa prepotência, um auto-procla-
mação de poder que em verdade não possuímos. Temos
mesmo o poder de mudar a vida, as vontades e o pensar do
outro? Ou será que esse poder deve ser colocado na própria

170
pessoa? A melhor forma de ajudar uma pessoa é ajuda-la a se
ajudar… é ajuda-la a ser independente de nós, livre e autô-
noma em relação a nossa ajuda. Ficar sempre ajudando uma
pessoa indica que criamos uma forma de dependência, ou
seja, o outro se tornou dependente de nós. Por outro lado, acre-
ditar que temos o poder de mudar alguém pode ser uma forma
de onipotência que, em essência, é um equívoco que só atra-
palha o outro e a nós mesmos. Além disso, tentar ajudar o outro
a todo custo pode ser um sinal de que não confiamos na capa-
cidade natural do outro de ajudar a si mesmo.

Outro ponto que merece reflexão é o seguinte: será que mudar


é mesmo o melhor para essa pessoa? Ou ainda, sabemos
mesmo o que é o melhor para outra pessoa? Aliás, é possível
se questionar: a pessoa deve mudar do que para que? Do es-
tado atual para qual estado? Ele deve se tornar como? Amo-
rosa, gentil, delicada? Qual é o ideal que devemos perseguir
em cada caso? Será que não desejamos que a pessoa mude
visando atender as nossas expectativas? Muitas vezes conser-
vamos uma crença do que seja o “ideal de vida” para todos,
com certos padrões inflexíveis de como as pessoas deveriam
se comportar, ou do que é uma vida boa, uma vida digna, uma
vida positiva, etc. É bem possível que esse ideal não se en-
caixe na visão do outro. Por isso questionamos: sabemos
mesmo o que é o melhor para o outro?

Além disso, será que a pessoa não precisa de mais tempo para
realizar essa mudança? Cada pessoa tem seu tempo, tem seu
ritmo, tem sua forma de caminhar, que é muito próprio dela, é
individual, é personalíssima, faz parte da sua forma de ser, es-
tar e agir no mundo… Ficar forçando uma mudança pode atra-
sar ainda mais o processo de transformação que a pessoa já
iria realizar naturalmente, por si mesma. Por isso, é sempre
bom se ter em mente que o desejo de acelerar esse processo
pode atrasa-lo ainda mais, pois quando tiramos o espaço de
uma pessoa, é muito comum ela se tornar agressiva, ficar ner-
vosa e revoltada. Esquecemos que cada qual tem seu cami-
nho… e uma hora ou outra a pessoa pode encontrar seu rumo
por si mesma.

Dessa forma, será que o melhor não é a pessoa tomar a atitude


por si mesma e se transformar? Pessoas que criam todas as
condições para o outro mudar e ficam insistindo nessa ajuda

171
podem estar tirando do outro uma valiosíssima oportunidade
dele mesmo tomar uma atitude, tomar iniciativa e se ajudar por
si mesmo. A melhor maneira de uma pessoa se desenvolver,
crescer, evoluir, se melhorar, se aperfeiçoar é por conta pró-
pria… é ela mesma tomando as rédeas de sua vida, sem que
fique dependente de suportes e amparos externos. Qualquer
ajuda que oferecemos em demasia ao outro é, muitas vezes,
retirar a mão da pessoa da direção de sua vida. Como ela vai
aprender a comandar, governar ou administrar a si mesma se
nós estamos sempre um passo a frente fazendo o que lhe
cabe?

Outra indagação procedente é a seguinte: será que a pessoa


não precisa errar por mais tempo para, dessa forma, aprender
lições mais preciosas com seus erros? Tentar retirar uma pes-
soa a todo custo de um sofrimento pode impedi-la de viver cer-
tas experiências que podem ser absolutamente necessárias ao
seu desenvolvimento. Dizem que se ajudamos a lagarta a rom-
per o casulo, a matamos… se ajudarmos o pintinho a quebrar
o ovo, também o matamos. É assim em toda natureza e é as-
sim também com os seres humanos. Cada pessoa precisa
romper sozinha seu próprio casulo; precisa quebrar a “casca
grossa” de suas imperfeições e limites e, assim, sair por si
mesma da prisão mental e emocional que ela mesmo se colo-
cou. Muitas vezes a pessoa precisa “quebrar a cara” para só
então aprender a acordar para a realidade. Desejar de todas
as formas a libertação do outro e fazer de tudo para evitar seu
sofrimento pode encerra-la ainda mais na prisão que ela se en-
contra, atrapalha-la e até matar seu espírito de iniciativa pró-
pria. Pare nesse momento e faça também essa reflexão: será
que empenhar-se em remover o outro do sofrimento de todas
as formas não é, na realidade, você mesmo que não consegue
lidar com seu sofrimento, com sua dor e com as naturais e mui-
tas vezes necessárias adversidades e barreiras da vida?

Por outro lado, muitas pessoas que ajudam as outras depois


ficam esperando, até mesmo inconscientemente, uma retribui-
ção pelo auxílio prestado. Não é raro ouvir frases do tipo: “Mas
eu ajudei tantas pessoas e, quando mais precisei, ninguém me
ajudou”. Essa frase denota uma certa expectativa de ajudar
para ser ajudado, de fazer algo bom com o outro para depois o
outro fazer algo de bom conosco quando necessitamos de am-
paro. A maioria das pessoas que vejo pensarem dessa forma

172
veem suas expectativas de retribuição frustradas no futuro.
Não podemos pensar dessa forma, pois o ser humano precisa
aprender a ajudar sem esperar nada em troca, sem retribuição
e até mesmo sem colher nenhum fruto do auxílio prestado.

É certo que só podemos ajudar quem deseja ser ajudado. Es-


forçar-se por ajudar de todas as formas pode ser um jeito de
impor, de coagir e até de sufocar o outro. Podemos estar impe-
dindo seu próprio desenvolvimento, que pode ocorrer natural-
mente no tempo certo. A melhor forma de ajudar é mostrar o
caminho, é orientar, é apontar para onde a pessoa deve ir… e
somente quando a pessoa pede ajuda ou se encontra disposta
a ajudar a si mesma. No entanto, se a pessoa vai seguir ou não
nossa orientação é algo que depende exclusivamente da von-
tade individual dela mesma.

173
MOTIVOS DA CRISE FINANCEIRA

Muitas pessoas perguntam quais são os motivos das provas da


vida financeira. Por que tive que passar por esse desemprego?
Por que preciso viver essa falta total de dinheiro e recursos?
Por que não consigo nem sequer me sustentar ou colocar um
prato de comida na mesa dos meus filhos? A maioria quer re-
solver seu problema financeiro, mas somente alguns poucos
querem de fato compreender o porquê de passar por tudo isso.

Vamos elencar abaixo alguns dos motivos pelos quais cada es-
pírito encarnado precisa viver a prova da crise financeira.

Desapego

O desapego é fundamental para nossa evolução. Uma pessoa


apegada não pode jamais ser feliz, pois no momento em que
ela perde seu objeto de apego, o sofrimento emerge com toda
força. Quanto maior o apego, maior o sofrimento. Apego é o
mesmo que depender, se viciar, o mesmo que criar uma ne-
cessidade de algo para viver. Como o espírito nada pode obter
para si, pois ele não pertence a esse mundo, qualquer prisão a
algum objeto de apego pode atrasar sua evolução e faze-lo
mergulhar mais e mais nas ilusões materiais, aumentando so-
bremaneira seu sofrimento. Obviamente que o dinheiro e as
posses estimulam nosso apego a elas. Por esse motivo, a crise
financeira vem com o propósito de possibilitar o desprendi-
mento de todos os seus apegos e, assim, vivermos livres de
qualquer aprisionamento emocional ou sensório a esse mundo.
A falta de dinheiro nos ajuda e, mais do que isso, nos obriga a
a decisão do livramento em relação a subjugação do espírito
às falsas propriedades deste mundo.

A libertação da ilusão da posse

A provação da crise financeira nos ajuda também a compreen-


der que as posses da vida material nada mais são do que me-
ras ilusões. Nada podemos possuir nesse mundo, pois somos
espíritos eternos vivendo uma existência física e nossa morada
verdadeira não é na matéria, mas nos planos eternos da es-
sência. Na vida mundana somos meros utilizadores provisórios
de objetos e coisas, e por isso, não podemos acreditar que de-
temos a posse de algo. A abundância de dinheiro e a prosperi-

174
dade material facilmente nos induzem a cair na armadilha da
ilusão da posse, considerando que podemos, sim, obter a mo-
nopólio sobre qualquer coisa, basta ter dinheiro para comprar.
Por isso, é necessário que todos os espíritos que vêm a esse
mundo vivam, seja numa encarnação ou em outra, a provação
da perda financeira, da escassez, da indigência, da privação
total de recursos. Assim compreendemos que nada podemos
possuir. Essa é uma oportunidade valiosa para que cada espí-
rito encarnado comece a dar mais atenção ao seu espírito
eterno do que a uma mera posse material.

Desejo de ganhar

O desejo de ganhar é outro aspecto importante que devemos


nos libertar com a prova das crises financeiras. O ser humano
quer sempre ganhar a todo custo, nunca quer perder nada. Mas
é certo que não há como manter o apetite pela obtenção mate-
rial e ao mesmo tempo perseguir o ideal do despertar espiritual.
Como disse Jesus, “Não se pode servir a Deus e a mamom”.
Por isso, ou desejamos ganhar no mundo, ou aspiramos a
bem-aventurança dos planos do espírito. Essa é uma escolha
que todos devem fazer… afinal, o que vale mais em nossa
vida? As crises financeiras podem vir com a missão de extirpar
completamente do nosso interior o desejo de ganhar sempre,
seja o que for. Quando perdemos tudo, começamos a desper-
tar para algo que vai além do ganhar, do vencer, do apoderar-
se de tudo. Começamos a valorizar mais o ser do que o ter…
mais o nosso interior do que o nosso exterior. É certo também
que, quando ganhamos alguma coisa, quase sempre alguém
perde outra coisa. Se eu ganho um emprego, alguém está per-
dendo aquele emprego; se eu ganho 100 milhões na loteria,
milhões de pessoas perderam seu dinheirinho na aposta; se eu
conquisto uma vaga num concurso público, milhares de pes-
soas perderam aquela vaga; se eu ganho uma competição de
natação ou de qualquer esporte, dezenas de competidores per-
deram. Quando você fica feliz pela sua vitória, é preciso lem-
brar que existem muitos que ficaram tristes com suas derrotas.
A competição é, em si mesma, uma chaga da humanidade e
uma das causas do sofrimento humano. Pessoas que vivem
crises financeiras aprendem a ser mais generosas, mais des-
prendidas, mais clementes, mais indulgentes e mais tolerantes.
Aprendem a pensar mais no outro e não apenas em si mesmas.
Dizem que os pobres se ajudam muito mais do que os ricos,

175
porque os pobres sabem o que é viver na penúria e, por isso,
adquirem maior empatia e se colocam mais no lugar de quem
passa necessidade como eles.

Desejo pelo sucesso e fama

As riquezas materiais também nos proporcionam algo que é


mais subjetivo, que está no nível do engrandecimento de nossa
imagem pessoal. Essa exaltação da personalidade é conhe-
cida como “sucesso”. Para nossa sociedade atual, quem tem
dinheiro é, sem dúvida, alguém muito bem-sucedido na vida,
alguém que possui boa fama, boa imagem… uma visão posi-
tiva para a maioria das pessoas. O sucesso cria uma disposi-
ção do outro nos tratar muito bem, nos agradar, nos dar sua
atenção plena e minuciosa, ou nos tratar com muito respeito e
admiração. A quase totalidade dos seres humanos querem ser
ou parecer afortunados, exitosos… para com isso serem admi-
rados e adorados. Algumas celebridades são vistas tal como
seres que se encontram num patamar acima dos humanos co-
muns. São os ídolos do nosso tempo, com muitos seguidores
e adoradores cegos. O dinheiro muitas vezes cria uma atmos-
fera de respeito e submissão. Para isto, basta prestar atenção
em como as pessoas tratam um bilionário e um mendigo. O
mendigo é um “invisível da sociedade”, ninguém nota sua pre-
sença. Quando vem um desses invisíveis e nos pedem di-
nheiro, a grande maioria passa direto e sequer olha para ele; o
ignora e despreza totalmente. Já o milionário que vem falar co-
nosco, damos completa atenção – tratando com zelo e devota-
mento – muitas vezes pensando nos benefícios que esse mili-
onário pode nos proporcionar. Por isso, a prova da crise finan-
ceira nos acomete com a finalidade de nos inspirar ao despren-
dimento de tudo isso, principalmente ao desejo pelo sucesso e
pela boa fama. A pessoa que experimenta uma crise de recur-
sos materiais precisa se desapegar do desejo de uma boa ima-
gem e da admiração que o dinheiro pode proporcionar. Assim,
ela dá um passo em sua caminhada evolutiva como espírito
que é.

Poder controlar outras pessoas

O dinheiro quase sempre nos confere o controle sobre as coi-


sas e as pessoas. Um milionário pode contratar centenas de
pessoas. E se ele diz: “faça isto!” A pessoa faz sem questiona-

176
mento, principalmente se for pobre, pois teme perder seu em-
prego e viver na pobreza. O dinheiro proporciona controle so-
bre outros; faz com que os outros trabalhem para suprir minhas
necessidades, nos dando tudo o que precisamos e muito mais
do que precisamos. Aquele que vive uma crise financeira perde
completamente a possibilidade desse controle, pois no mundo
humano é o dinheiro que dita as regras de como as coisas de-
vem ser. As crises financeiras nos permitem enxergar essa
conjuntura e caminhar para o desprendimento do controle e da
subjugação do outro. A libertação do desejo de controle sobre
o outro é uma das chaves para nosso desenvolvimento espiri-
tual e é algo que as crises financeiras podem nos permitir rea-
lizar.

Poder comprar o que quiser

Vivemos hoje numa sociedade essencialmente consumista. Já


não são mais as artes, a cultura, as tradições, a filosofia e a
espiritualidade que estão no ponto central de nossas vidas,
mas sim o consumo. Basta caminhar pelas ruas das grandes
metrópoles para constatar o farto comércio que se encontra em
todos os lugares. Assim, a prática do consumismo se tornou
um estilo de vida, um modo de ser e estar no mundo. Existem
inclusive pessoas que são viciadas no consumismo: são aque-
las que têm a chamada “compulsão ao consumo”. O ato de
consumir lhes gera um prazer imenso, que se torna um ritual,
além de uma afirmação de seu ego e de sua presença no
mundo. De uma forma geral, quanto mais infeliz, frustrada e
vazia é uma pessoa, mais ela se atira nesse universo consu-
mista na tentativa de preencher um pouco do vazio que existe
em seu peito. As crises financeiras nos concedem a chance de
libertação do desejo de comprar, nos permitem sair desse ciclo
infindável de vazio, compras para preencher esse vazio, mais
vazio, mais compras para novamente tentar fechar o buraco
interior, e assim sucessivamente. A privação das riquezas ma-
teriais nos coloca numa posição de valorizar mais o que temos,
ser feliz com o que já possuímos, mesmo que seja pouquís-
simo, ao invés de permanecer fechado nesse ciclo de consu-
mismo e infelicidade. Somente quando alguém consegue ser
feliz com o que tem, ao invés de ficar sempre desejando mais
e mais… é que essa pessoa tem a sagrada oportunidade de
ser feliz e ter paz.

177
Desprendimento do egoísmo

As tradições espirituais costumam dizer que o egoísmo é uma


das principais chagas da humanidade e a origem de todo sofri-
mento humano. O egoísmo nos faz pensar apenas em nós
mesmos, em nossas necessidades, e assim, nos tornamos me-
ros “sugadores” da seiva da vida, sem dar nada em troca. O
egoísmo visa seus próprios interesses e desconsidera comple-
tamente o interesse da coletividade. Não importa se existem
1000 pessoas numa cidade que desejam plantar e viver da
terra, eu quero ser rico e para isso preciso manter minha fa-
zenda imensa, de 500 hectares, e não reparti-la com ninguém.
O egoísmo nos faz ganhar algo, enquanto muitos outros estão
perdendo às nossas custas; às custas de manter o egoísta
sempre numa posição social de privilégios e abundância. As
crises financeiras podem levar uma pessoa a perder tudo, a
viver na rua da amargura, a passar por privações que visem
ensina-lo a dar e a não mais reter para si, a repartir e a não
acumular, a cooperar e não mais a competir; nos ensinam a
distribuir e não a conquistar apenas para si mesmos. A falta de
dinheiro nos ensina a pensar no próximo e não apenas em nós
mesmos. Além disso, quanto mais pensamos apenas em nós
e em nosso interesse pessoal, mais sozinhos estamos.

178
EXEMPLOS DE KARMA

Nessa oportunidade vamos entender a lei do karma ou lei de


causa e efeito em exemplos curtos e simples de serem assimi-
lados. Algumas pessoas acreditam que o karma é como um
boomerangue: se matei, serei morto… se cortei o braço de al-
guém, na outra vida vão cortar meu braço.

Não é assim… O karma funciona como uma sintonia com pes-


soas e situações semelhantes ao que nós somos. Se vibramos
X, vamos atrair pessoas e situações X para nós. Vejamos al-
guns exemplos…

Você se acha melhor do que os outros… assim, sempre encon-


trará alguém que se ache melhor do que você.

Você julga os outros com facilidade…. assim, você sempre en-


contrará alguém que te julgará com a mesma facilidade.
Você puxa o tapete de uma pessoa na sua empresa… futura-
mente você encontrará alguém que vai lhe puxar o tapete.

Você desvia verbas da saúde em sua cidade… No futuro, você


encontrará alguém que vai surrupiar o seu direito à saúde e
isso pode ocorrer de diversas formas.

Você gosta de esnobar os outros. No futuro você encontrará


alguém que também gosta de esnobar os outros e esse alguém
pode te esnobar.

Se você critica os outros usando critérios bem rígidos de con-


duta… você sempre encontrará alguém que vai te criticar com
a mesma rigidez que você impôs a outros.

Se uma pessoa te pede ajuda num momento crucial e você


despreza essa pessoa… no futuro você poderá precisar de
ajuda e vai atrair ao seu caminho uma pessoa que também vai
te desprezar num momento crucial.

Quando supervalorizamos a beleza… vamos encontrar pes-


soas que olhem para nós apenas pela nossa beleza e, depois
de aproveitar nossa beleza, nosso corpo, elas nos descartam.
Quando fazemos de nós mesmos um objeto a ser apreciado,
vamos atrair pessoas que nos verão apenas como um objeto.

179
Quando damos muita ênfase na boa forma do corpo para atrair
os outros, a vida colocará em nosso caminho pessoas que nos
apreciam apenas como um corpo bonito… apenas na aparên-
cia, que nos usam e depois vão embora.

Você costuma ser autoritário com as pessoas… Mais pra frente


a inteligência da vida vai colocar uma pessoa autoritária no seu
caminho que seja muito parecida com você… Pode-se dizer
que você encontrará o seu próprio reflexo em outra pessoa com
o mesmo autoritarismo que você. Quando nosso autoritarismo
se encontra com o autoritarismo do outro, nos vemos na con-
dição de entrar em conflito com o outro e gerar sofrimento para
nós, ou de enxergarmos a nós mesmos no outro e, assim, nos
libertarmos do nosso próprio autoritarismo.

Você costuma brincar com o sentimento dos outros e se sente


o máximo quando faz isso…. No futuro a vida mandará alguém
que vai brincar com o seu sentimento e vai se achar o máximo
por fazer isso.

Você foi funcionário púbico numa prefeitura e desviou dinheiro


que iria para a merenda das crianças… Em outra vida você
pode nascer numa condição onde alguém tome sua comida di-
versas vezes, da mesma forma que você fez.

Você é uma pessoa egoísta e quer tudo para si… mais pra
frente você vai esbarrar com pessoas com um egoísmo seme-
lhante ao seu… e essas pessoas podem fazer você sentir os
efeitos negativos que o egoísmo do outro produz nas pessoas.

Tudo aquilo que somos, expresso em pensamentos, sentimen-


tos e ações, vai atrair o seu semelhante em pessoas e circuns-
tâncias. Observe que essas pessoas serão o reflexo daquilo
que somos. Sendo elas o nosso reflexo… temos a oportuni-
dade de nos ver, tal como num espelho, e assim, nos conhecer
e nos modificar…

Egoísmo atrai egoísmo… arrogância atrai arrogância… mal-


dade atrai mais maldades. Aquele que vive apenas baseado no
interesse pessoal vai encontrar pessoas que, ao lidar com
você, te enxergarão apenas como um objeto que serve para a
satisfação do interesse pessoal dele.

180
Dessa forma, de tanto que vemos a nós mesmos refletidos em
outras pessoas… acabamos por nos enxergar, nos conhece-
mos. Vamos amadurecendo e evoluindo com os espelhos que
a vida coloca a nossa frente, refletidos nos outros e nas expe-
riências do mundo.

181
O SER DESPERTA

Um homem chegou para um mestre espiritual muito sábio e


disse:

– Mestre, meu irmão está muito doente. Seu corpo está se en-
fraquecendo aos poucos. Ele já perdeu tudo por não estar tra-
balhando. Já está perdendo sua consciência e tudo em sua
vida está decaindo. Por que ele vive esse mal e esse sofri-
mento?

– Mal? perguntou o mestre – Que mal é esse que ele está vi-
vendo? Tudo na vida segue uma marcha pura e perfeita…

– Como assim mestre? perguntou o homem.

– Preste atenção… nisso que vou lhe dizer.

– Quando o corpo vai aos poucos enfraquecendo… o espírito


vai aos poucos se fortalecendo.

Enquanto a consciência objetiva do ser humano vai se dissi-


pando… a consciência espiritual vai aos poucos despertando.

Enquanto a pessoa vai perdendo várias coisas… o espírito vai


começando a ganhar várias coisas.

Enquanto tudo vai decaindo exteriormente… o espírito vai se


reerguendo interiormente.

Enquanto o corpo material vai aos poucos perecendo e mor-


rendo… o espírito vai aos poucos renascendo das cinzas do
corpo material, que gradualmente ele vai se libertando.

Vemos uma pessoa sendo consumida pela doença e pensa-


mos que seu tempo está chegando ao fim. Mas quando o
tempo da pessoa vai aos poucos se esvaindo, o tempo do es-
pírito vai aos poucos chegando.

Uma pessoa que se encontra em seu leito de morte pode não


desconfiar… mas ela está sendo gestada, no útero vivo da in-
teligência universal, para nascer como espírito do outro lado da
existência universal.

182
Qual pode ser, então, o motivo do sofrimento? O que se diminui
na Terra, vai aumentando no céu. Não foi Jesus que disse
isso? Os humildes serão exaltados e quem se exalta, será hu-
milhado. O menor no reino da Terra será o maior no reino dos
céus. Contemplamos o mar e a linha do horizonte e nossos
olhos físicos nos fazem acreditar que nada há além… Mas
aquele que pega um barco e ultrapassa a linha do horizonte,
pode chegar em novas terras, numa nova forma de vida… Por
isso, quando os apegos do mundo vão terminando para nós, o
espírito vai florescendo em todo seu esplendor.

Aquele que vai se perdendo no mundo, vai se encontrando no


plano da alma. É assim que o ser desperta…

183
CONFIE NA VIDA

Confie na vida… Se eu pudesse te dar um grande conselho,


seria esse. Ninguém pode ser feliz de verdade e viver plena-
mente sem confiar na sabedoria da vida. Reflita sobre isso…

Não fique temeroso pelo que pode lhe acontecer de ruim. A


vida sempre se renova, se refaz, se resgata e tudo ocorre sem-
pre no tempo certo. Nada ocorre por acaso, tudo tem um pro-
pósito maior e nada acontece fora da ordem cósmica inteli-
gente e perfeita da existência universal.

Sim, confie na vida… Confie na vida da mesma forma que a


semente se entrega ao risco de cair da árvore e ficar parada na
Terra até ser tragada pelo solo. Ela fica sozinha e esquecida
debaixo da terra. Mas quando menos se espera, ela morre
como semente e nasce como uma bela plantinha, que desa-
brocha numa nova forma e para uma nova e bela vida.

Sim, confie na vida… Confie na vida da mesma forma que uma


gotinha sai do rio para um imenso lago e do lago para o mar.
Ela não sabe qual será seu destino num quase infinito oceano,
mas ela confia que existe a lua, um astro que apesar de estar
situado fora do planeta, influencia as marés e as organiza em
correntes altas e baixas e tudo se encaixa perfeitamente numa
harmonia universal.

Sim, confie na vida… Confie na vida da mesma forma que o


pássaro se atira no vazio profundo do alto de um precipício. O
pássaro confia que a vida lhe proporciona o ar e esse ar sus-
tenta suas asas em deslumbrantes voos que o permitem des-
locar-se por vezes a imensas distâncias.

Sim, confie na vida… Confie na vida da mesma forma que os


animais dormem a noite com a certeza de que o sol nascerá no
dia seguinte. Ninguém duvida que depois de uma longa madru-
gada, o sol nunca deixará de nascer, abrindo caminho para o
espetáculo sagrado do amanhecer da vida e do despontar de
um novo dia, com novas oportunidades, novos caminhos e uma
nova vida para todos. Lembrando que o sol brilha para justo e
injustos e não esquece ninguém, como disse Jesus.

184
Sim, confie na vida… pois tudo se ajeita, tudo se reorganiza,
tudo se destrói e reconstrói, tudo nasce, morre e renasce…
Confie na vida sem sombra de dúvida e desperte toda a fé. Não
tenha medo de se arriscar… de seguir em frente… não deseje
permanecer estagnado e preso em um mesmo local com medo
do que virá daqui para frente. Tudo vem e vai… tudo segue um
ritmo que é ordenado e perfeito.

Sim, confie na vida… Desprenda-se de todas as preocupa-


ções… A vida nunca nos decepciona. O que causa frustração
é a nossa expectativa de como as coisas deveriam ser. Mas a
vida é o que é… e nesse vai e vem da vida, tudo se equilibra
naturalmente e nada fica de fora. Só podemos ter paz profunda
quando confiamos plenamente na perfeição da vida.

185
A VIDA É EFÊMERA

Essa vida material que estamos vivendo é muito rápida para


nos consumir tanto. Ela é demasiado superficial e ilusória para
nos cobrar tanta atenção e nos gerar tanto medo, tanto apego,
tanto desespero, tanta ansiedade… e tanto sofrimento.

Uma hora estamos aqui… vivemos os cenários passageiros do


mundo e nos regozijamos deles; na hora seguinte não estamos
mais aqui. A maioria das pessoas passa quase toda a sua vida
brigando por coisas tão bobas, tão pequenas, que nos tiram
tanta energia, que nos consomem, que nos enfraquecem, e
que trazem um peso imenso e totalmente desnecessário em
nossa vida. Quem dá muito valor as coisas pequenas do
mundo fica cansado, insatisfeito, carente e vazio.

Brigamos na batida do carro; brigamos para passar no con-


curso; brigamos para fazer nossa ideia e crença prevalecer e
isso nos chateia, nos irrita, nos perturba… Brigamos porque al-
guém nos criticou, nos caluniou, nos enganou, feriu nossa
“honra”. Brigamos por política, por religião, pelo copo ter virado,
por alguém não fazer o que queremos. Tudo isso é apenas o
nosso ego reclamando… nada disso é real, são ínfimas quime-
ras que podem custar muito caro com a perda de nossa tran-
quilidade interior.

Nosso marido briga conosco e isso nos faz cair na tristeza…


perdemos dinheiro e isso nos atormenta… Nosso filho segue
por um “mau caminho” e nos preocupamos tanto, nos inquieta-
mos, nos impressionamos, ficamos aflitos e perdemos nosso
sono. Quantas coisas tiram sua harmonia, sua alegria de viver?
Quantas vezes você se deixou levar pelas preocupações va-
zias e deixou de sentir a plenitude da vida?

Como diz o poeta: “Hoje o tempo voa, escorre pelas mãos…”


Cada vez mais o tempo corre de forma acelerada. Perdemos
tanto tempo e tanta vitalidade com bobagens, com coisas in-
significantes, que ficamos deprimidos e solitários. Em apenas
um diminuto instante tudo isso aqui pode acabar. Podemos
construir um suntuoso castelo na vida humana e ele desmoro-
nar pouco tempo depois. Construímos carreiras de suposto
“sucesso”, sem desconfiar que o maior sucesso é a felicidade.
Construímos todas as condições para nossa “vitória”, sem ima-

186
ginar que a maior vitória que o ser humano pode alcançar é a
paz de espírito. Construímos uma imagem impecável, que se
dilui no momento seguinte quando a verdade vem à tona… e
ela sempre, sempre vem à tona.

Todos os problemas que você tinha na infância, agora não exis-


tem mais. A briga com o coleguinha na escola já passou… O
tombo que você levou e te machucou, já passou… a importân-
cia que você deu a prova que você foi mal, já passou… Da
mesma forma, todos os problemas que agora você enfrenta, e
que você considera terríveis, estão passando e vão passar…
vão sumir, vão desaparecer… e você compreenderá o quanto
se focou em futilidades que não tinham a menor importância. A
causa do sofrimento é cada pessoa acreditar que o sofrimento
de agora, o problema, a barreira, o transtorno, o conflito parece
tão grande, parece tão devorador, que nunca vai passar, nunca
vai acabar, nunca será resolvido… Vivemos tão intensamente
o probleminha pequeno que ele parece não ter fim… Ficamos
tão presos e conferimos um tamanho tão grande ao problema
que ele parece tomar toda nossa vida, daqui para frente… e
sentimos que ele nunca vai acabar. É como a teia de aranha,
quanto mais tememos e nos preocupamos tentando sair dela a
todo custo, mais ela nos envolve e domina.

Para que você está vivendo sua vida? Você medita sobre seu
destino futuro, você olha lá longe, bem longe, além do hori-
zonte? Ou você só consegue enxergar o chão áspero, sujo e
limitado à sua frente? Você consegue ver além das circunstân-
cias imediatas de sua vida, ou você se agarra a primeira âncora
ilusória de salvação que aparece? Você fica perdendo sua vida
tentando ser alguém que não é, ou você se aceita e busca a
verdade? Você vive embriagado pelas imagens e seduções do
mundo, ou já percebeu que tudo isso é apenas uma miragem
que some no instante seguinte da sua vida?

Imagine que um homem vive quase 100 anos. Mas quando ele
tinha 19 anos, algo lhe ocorreu de muito grave, um trauma
forte, que o atormenta. Esse homem não consegue esquecer
isso e tudo o que ele faz está subordinado a esse aconteci-
mento. O tempo passa, os anos seguem, ele faz 30, 40, 50, 60
anos… e continua preocupado, magoado e aprisionado a esse
evento de 19 anos. Ele deixa de sentir a vida, de sentir o mo-
mento presente e fica parado, estacionado e enlaçado pelo que

187
já foi. Assim somos nós em relação a vida. Há também aquele
homem que fica ansioso por algo acontecer em seu futuro. Os
anos passam, as décadas se esvaem e ele continua desejando
que algo “bom” aconteça, que sua vida siga um roteiro ideal
que ele almeja. Sua existência vai se passando e ele não a
vive, esperando algo diferente acontecer. Ficamos tão presos
a coisas banais, retrógradas, passageiras, fúteis e sem sen-
tido… e depois nos irritamos porque estamos presos a elas.
Cada pessoa entra e se fecha voluntariamente numa cela e de-
pois reclama da falta de espaço na prisão que ela mesma criou
para si.

A vida passa… tudo passa… Não somos a mesma pessoa que


fomos e nem seremos a mesma pessoa que somos agora.
Tudo muda a todo instante e nada é para sempre. A vida se
esvai num segundo… O que fazemos agora, não faremos no
futuro; o que criamos agora vai se desconstruir em breve; o que
possuímos agora daqui a pouco vai ser perdido. Se as coisas
são assim tão incertas, para que dar tanta importância a uma
vida tão fugaz, tão frívola? Para que se irritar com coisas tão
pequenas, tão desnecessárias, tão ignóbeis? Para que viver
esperando obter uma falsa segurança e estabilidade que nunca
chegará? Quem segue assim, está se enganando… O que ve-
mos são apenas aparências, imagens que evaporam de uma
hora para outra, num piscar de olhos, quando menos espera-
mos… e a única coisa que fica é a sensação de tempo perdido,
da vida perdida e da perda de nós mesmos.

Ficamos tão vidrados nas coisas passageiras que sequer olha-


mos para nós mesmos, para nosso interior… Você pode acre-
ditar que suas ações são muito importantes agora, mas no fu-
turo vê e sente a irrelevância delas. Você pode achar que está
construindo algo fantástico, de muito valor… Mas o ser humano
é como a criança que constrói seu castelinho de areia na praia
e que, após alguns minutos, ele é tragado pelas ondas do mar
que vem e vão, num ritmo eterno.

O mesmo ocorre com tudo em nossa vida. O castelinho de


areia dos nossos sonhos e de nossas esperanças de sucesso,
segurança, estabilidade e satisfação no mundo são demolidos
pelas ondas das transformações infindáveis que vem e vão,
num ritmo infinito e incessante… e tudo se dissipa continua-
mente de tempos em tempos. Aquele que se agarra no passa-

188
geiro fica sempre sofrendo com as perdas. Mas aquele que se
harmoniza com o fluxo incessante da existência, esse se liberta
e nada mais o abala… Ele vive feliz e em comunhão com a
essência da vida.

189
SOLTE O PESO QUE VOCÊ CARREGA

Quais são os pesos que você anda carregando em sua vida?


Medo, preocupações, tensão, irritação, ansiedade, desejos in-
satisfeitos, mágoas, ódio, culpa, sonhos frustrados, autoco-
branças, etc?

Tudo isso gera um enorme peso sobre seus ombros. Isso toma
toda sua vida. Você passa a não ser mais você mesmo, mas
passa a se identificar com o problema… você passa a ser o
próprio problema.

Você quer caminhar pela estrada da vida, mas os pesos que


você carrega não permitem que você siga. Eles te deixam
preso e paralisado. Você vai ficando cada vez mais e mais can-
sado, deprimido e infeliz…

E se eu te disser que você não precisa ficar carregando isso?


E se você soubesse que pode soltar todo esse peso e caminhar
livre, totalmente livre pelo mundo?

E se eu te disser que, quanto mais desses pesos você solta,


mais feliz você vai ser? E que quanto mais desses pesos você
carrega, menos feliz e menos paz você vai ter?

E se eu ainda te disser que, se você soltar todo o peso… a


felicidade brotará natural e espontaneamente em sua vida, sem
nenhum esforço de sua parte? A paz e a felicidade virão como
a flor do campo que brota naturalmente com as chuvas da pri-
mavera… sem qualquer trabalho nosso.

Sim, você pode soltar tudo, agora mesmo, todos esses pesos
que há anos ou décadas você vem carregando… Medos,
culpas, ódio, autoexigências, mágoas, preocupações,
ansiedades, desejos frustrados, etc.

Vejo pessoas pedindo que Jesus ou Deus amenize o peso que


carregam, para que elas consigam um livramento de tudo isso.
No entanto, quem escolheu carregar todos esses pesos foram
elas mesmas. Conduzir os fardos ao longo da vida é uma de-
cisão da própria pessoa, faz parte do seu livre arbítrio. E como
poderia Deus liberar a pessoa de uma carga que ela mesma

190
escolheu carregar? Não, Deus não pode retirar o peso dos nos-
sos ombros. Somente nós podemos fazer isso.

Os espíritos de luz ficam a todo momento nos dando essa ins-


trução. Eles vivem dizendo: “Livre-se desse fardo, você não
precisa carregar o peso dessa decepção em suas costas”; ou
então “Solte essa mágoa, isso destrói sua vida”; ou ainda “Li-
bere o peso das autocobranças, isso está te deixando comba-
lido”. Mas as pessoas não ouvem os anjos do senhor e insistem
em levar todo seu sofrimento nas costas, por anos, décadas ou
mesmo a vida inteira.

Por outro lado, é comum se dizer que é dificílimo soltar todo


esse carregamento que levamos. No entanto, se é tão difícil
carregar esses pesos, por que não os soltamos? Se uma pes-
soa tem energia para conduzir essa carga por décadas, por que
ela não teria energia, condições ou capacidade de simples-
mente soltar a carga? Não é difícil soltar… difícil é transportar
essa acumulação de tormentos mentais e emocionais por tanto
tempo. Quem consegue carregar tudo, consegue também sol-
tar tudo.

Por que as pessoas se sentem para baixo? É simples… Porque


elas ficam carregando um imenso peso que as dobra, as
aproxima do chão e as põem mais e mais pra baixo. Conforme
o tempo vai passando, vai se tornando mais difícil carregar
tanto peso e cada vez mais as pessoas vão ficando para baixo,
até que a carga que levam se torna tão pesada que elas prati-
camente não conseguem mais caminhar, de tão pesadas e
cansadas que se encontram.

Por que as pessoas se sentem deprimidas? Porque elas sen-


tem que precisam de um esforço imenso para caminhar, para
fazer suas atividades, pois há um grande fardo que elas carre-
gam voluntariamente. Para que elas se sentem presas, sem
conseguir sair do lugar? Por que elas se sentem desanimadas,
paralisadas, esgotadas? Tudo isso tem uma mesma explica-
ção: a bagagem superpesada que elas escolheram conduzir
em sua consciência e em suas emoções. Carregar todo esse
fardo não é algo natural… Natural é ser livre… Portanto, para
que ficar carregando todo esse peso? O que você ganha com
isso? Nada…

191
Se você for soltando tudo isso pelo caminho, seu caminhar será
mais rápido, será muito mais leve. Você sentirá uma leveza
maravilhosa, um livramento, um alívio impossível de descrever
em palavras. Terá muito mais energia, pois levar toda essa
carga suga sua energia te deixa cansado e esgotado. Você vai
se libertar de tudo… a paz e a felicidade estarão presentes a
todo momento. Nada mais vai te abalar… Pode passar um ca-
minhão sobre você; a pior tempestade pode se abater… e você
não será afetado por mais nada.

Sim… basta que você solte suas cargas, se desprenda delas.


E você pode fazer isso agora, nesse momento…

Quais cargas que você está carregando? Identifique-as… e de-


pois solte tudo, agora mesmo… em nome de sua paz e de sua
felicidade.

Solte tudo… liberte-se… e seja feliz.

192
QUAL O MELHOR LUGAR DO MUNDO?

O melhor lugar do mundo é aquele no qual que estamos agora.


Este é o nosso lugar e de mais ninguém. Nossa casa é a me-
lhor casa… Ela nos foi dada por Deus, para que possamos nela
viver em paz e harmonia. Nosso lar é apenas nosso. O lar onde
sua alma pode encontrar paz e felicidade. Por isso, faça do seu
lar o paraíso na Terra. Ame a todos que nele estão.

Faça o bem aqueles que compartilham do seu espaço. Não


deixe que ele se desarmonize por questões menores, por futi-
lidades, disputas de ego e brigas que nada acrescentam.
Nossa família é a melhor família. Nosso emprego é o melhor
emprego. Nossa rua é a melhor rua. Nosso corpo material é o
melhor instrumento do nosso viver. O planeta Terra é o melhor
mundo para nosso desenvolvimento espiritual, para nossa edu-
cação rumo a eternidade. Este é um mundo abençoado, um
mundo bem-aventurado, uma maravilhosa escola de Deus.

Não existe melhor lugar neste mundo do que o lugar onde você
está. Esse é o lugar por excelência, o único lugar, o mais adap-
tado a você, o que melhor irá lhe proporcionar experiências
produtivas e crescimento interior. Seu lugar não precisa ser
rico, precisa ser feliz. Não precisa ser confortável, precisa ter
paz. Não precisa ser totalmente limpo, precisa ter a harmonia
da pureza de nosso coração. Não precisa ser bem decorado,
precisa ser real, sem máscaras e verdadeiro.

Não fique desejando estar em outro lugar. Não fique sofrendo


por estar onde está. O espaço do outro não é melhor do que o
seu espaço. A vida do outro não é melhor do que a sua vida. O
que o outro tem não é melhor do que aquilo que você tem. Sua
vida é a melhor porque é sua e apenas sua. De que adianta
ficar querendo viver no lugar do outro e não viver no seu lugar?
Não é melhor fazer do seu espaço um local bom e elevado de
se viver, ao invés de ficar desejando outros lugares?

Ninguém pode viver por você e você não pode viver por nin-
guém. Ninguém pode ocupar o seu espaço no mundo. Nin-
guém pode preencher o trabalho do seu espírito na Terra. Suas
tarefas são únicas e elas ajudam a manter o equilíbrio da exis-
tência. Você se encontra, nesse momento, no melhor lugar que
poderia estar. Se Deus te colocou neste pequeno espaço da

193
vida universal, neste planeta, neste país, nesta terra e nesta
família, vivendo estas experiências, é porque você não poderia
estar em outro lugar. Você tem que estar aí e desenvolver o
máximo do seu potencial aí, nesse espaço, nesse lugar, nessa
família, nesse trabalho, nessa existência.

Caso seu espaço de vida não esteja bom, ajude a melhora-lo.


Trabalhe para enriquecer seu lugar no mundo com amor, luz,
paz e felicidade. Você não pode mudar o mundo, não pode al-
terar outros lugares, mas você pode mudar o seu lugar, pode
melhorar o seu mundo, pode fazer do seu espaço de vida um
local feliz, harmonioso, pleno e vivo. Seu espaço vital é, sem
dúvida, o mais adaptado para você viver, crescer e ser feliz.
Caso seja necessário outro espaço no universo infinito para
você, Deus te retira do seu espaço atual e te coloca em outro
melhor. Mas se Deus te mantem aí, esse é o lugar perfeito para
você. É nessa terra que você precisa semear a luz.

Não rejeite o espaço de vida que Deus te deu. Não recuse seu
lugar no mundo. Viva nele da melhor forma possível. Ame e
espalhe a paz nessa terra, nessa região. Ela é sagrada e você
pode consagra-la a Deus como forma de agradecimento. Deus
te deu a terra e as ferramentas, mas só você pode semear,
adubar, regar, cuidar e depois colher os frutos do seu trabalho
e de suas escolhas. Não deseje a terra ou a semeadura do seu
irmão, faça o melhor com seu quinhão de Terra.

Portanto, seja feliz onde você está, pois, assim, você será feliz
em qualquer lugar.

194
A VERDADEIRA CARÊNCIA

Vejo algumas pessoas pedindo a Deus para acolher e proteger


os moradores de rua do frio intenso que está fazendo em algu-
mas partes do Brasil.

Fico me perguntando se o frio da rua é pior do que a frio da


indiferença e da desumanidade daqueles que não sabem
amar. Esse frio ou frieza interior é muito pior e faz muito mais
mal as pessoas do que as piores borrascas de neve.

Vejo outras pessoas pedindo a Deus para proteger as pessoas


carentes, jogadas nas ruas sem ter o que comer, o que vestir
e onde morar.

Mas para mim a pior carência é daqueles que tem tudo do bom
e do melhor, tem carro do ano, tem comida boa na mesa, tem
casa enorme, e mesmo assim são carentes, vazios e infelizes
com tudo. Essa é a carência que, por mais que se tente, nada
pode preencher.

Outros pedem orações para os deficientes visuais, os deficien-


tes físicos, aqueles que não tem perna, não tem braços ou são
cadeirantes. No entanto, não há pior deficiência do que aquela
que se encontra no caráter do ser humano. O cego pode não
enxergar visualmente, mas pior é aquele que vê, mas nada en-
xerga. Ele tem visão física, mas se fez cego para a verdade.

Aquele que não tem perna pode ir mais longe do que aquele
que desistiu de caminhar. Aquele que não tem braço pode fa-
zer mais do que aquele que desistiu de produzir. O cadeirante
pode viver mais do que aquele que desistiu de viver. A pior de-
ficiência é a ignorância voluntária, é o ódio ferrenho e irrefletido;
a pior deficiência é, ainda, a falta de visão interior.

Podemos dar comida ao esfomeado e ele fica saciado. Pode-


mos dar roupa aos mendigos e eles ficam vestidos. Podemos
dar abrigo aos sem-teto e eles ficam abrigados. Podemos aju-
dar o cadeirante a atravessar a rua e caminhar. Mas nada pode
preencher o interior vazio daqueles que são carentes de alma,
que vivem mendigando a luz quando se colocaram na escuri-
dão… Um coração sem amor e paz interna nada pode trazer
de felicidade.

195
A carência, o frio material e as deficiências físicas são fáceis
de resolver, podemos dar um jeito. Por pior que sejam, não pe-
netram o espírito daquele que cultiva a retidão, justiça, a soli-
dariedade, o amor e a paz.

No entanto, a carência espiritual, a frieza interior, a deficiência


moral e a pobreza de espírito, essas nada pode mudar, nada
pode preencher, não há ganho mundano que possa completar.

Esses sim, mais do que os outros, precisam de preces. Esse


sim são os mais pobres dos pobres. A pobreza interior é a pior
de todas as formas de carência. Não há como salvar alguém
que não salva a si mesmo do abismo profundo da soberba, da
avareza e do mais solitário egocentrismo.

196
AS SEMENTES DO MAL

Conta uma lenda antiga que um demônio queria semear a dis-


córdia e o mal em todo o mundo. Ele recolhia e jogava no quin-
tal de cada pessoa as sementes da desunião, do ódio, do de-
sânimo, do orgulho, do egoísmo, etc.

O demônio foi a casa de Fátima e jogou duas sementes de ódio


em seu quintal. Essas sementes cresceram rapidamente e se
tornaram árvores que deram muitos frutos malignos, com do-
enças, depressão e infelicidade para Fátima. O demônio fez o
mesmo com Carmem, com Lúcia, com Pedro, com Antônio,
com Tiago e outros. Jogou apenas duas sementes de egoísmo,
orgulho, vaidade, ódio, luxúria, etc, no quintal deles. As semen-
tes cresceram, foram regadas e adubadas pelos donos do
quintal e, assim, se tornaram árvores daninhas imensas que
destruíram seus lares e suas vidas.

O demônio foi então ao quintal de Sebastião, um homem hu-


milde, puro, sábio e feliz. O demônio jogou duas sementes de
tudo o que é ruim em sua terra. O tempo passou e as sementes
não nasceram, mas começaram a apodrecer e acabaram mor-
rendo. O demônio não desistiu e jogou 20 sementes dos piores
defeitos e emoções negativas humanas. Mas o tempo passou
e mais uma vez as sementes não nasceram, vindo a apodrecer
e a morrer em seguida.

O demônio ficou irado com isso. Resolveu então jogar mais de


duas mil sementes no quintal de Sebastião. Foi um momento
difícil na vida do homem, onde ele teve perdas, doenças e mui-
tas dificuldades. Algumas sementes de ódio, desânimo e re-
volta começaram a nascer. Mas como Sebastião não regou e
nem alimentou as sementes, mais uma vez elas foram apodre-
cendo e morreram logo depois. O demônio então desistiu de
Sebastião e foi embora para sempre.

Não importa quanto mal chegue até nós. Não importa quantas
provações venhamos a sofrer em nossas vidas. As sementes
das negatividades só poderão brotar e crescer em nosso “quin-
tal interior” se dermos adubo a elas, se as regamos, se as ali-
mentamos de alguma forma. As sementes do mal crescem
apenas nos terrenos que são férteis para o mal. Na terra da-

197
queles que se recusam a alimentar as influências nefastas,
nada de negativo pode crescer e multiplicar.

O demônio pode jogar quantas sementes ruins ele quiser em


nosso quintal, se nosso terreno interior não for fértil as influên-
cias negativas, nada de ruim pode nascer dentro de nós.

Você está a alimentando as sementes da negatividade fazendo


com que elas cresçam e se multipliquem em você?

198
O CAMINHO PARA O INFINITO

Há um ditado popular, de muita sabedoria, que diz o seguinte:

“Quando uma porta se fecha.. uma janela sempre se abre.”

Muitas pessoas tomam conhecimento desse ditado, mas não


compreendem exatamente seu real significado.

A porta simboliza os caminhos do mundo… A janela é a repre-


sentação da abertura de nossa compreensão interior, as jane-
las de nossa alma, do nosso ser espiritual essencial.

Isso significa que, quando o mundo se fecha para você, a vida


espiritual se abre, em todo seu esplendor, para que você possa
iniciar sua jornada além do mundo, além do reino humano.

Quando perdemos materialmente, emocionalmente ou psicolo-


gicamente, abrimos caminho para ganhar espiritualmente. Es-
tamos, assim, no caminho do Reino de Deus, o que Jesus pro-
meteu aos justos, humildes e puros de coração.

Mas a maioria ainda está presa aos ganhos materiais, as pos-


ses, aos sentimentos, aos apegos, a família, aos negócios, as
crenças, aos dogmas, as verdades prontas, aos desejos, a lu-
xúria… e quer deixar o espiritual para depois, para bem depois,
talvez para a próxima vida… quem sabe.

Mas Deus fecha as portas do mundo para que deixemos a per-


sonalização, o orgulho, a vaidade e o egoísmo um pouco de
lado e iniciemos nossa vida pelo espírito que somos em essên-
cia.

Os caminhos do mundo são interditados para que possamos


pegar outra estrada, mais profunda, mais sutil, menos material,
menos emocional, menos mental e, claro, mais espiritual.

Se os caminhos terrenos não estivessem fechados, como as


pessoas sentiriam necessidade de buscar a estrada que fica
além… a estrada da vida universal? Como chegar ao ilimitado
sem soltar o limite pequenininho de nossos desejos?

199
Se as pessoas não começassem a perder tudo na vida humana
com o fechamento de caminhos, como elas poderiam se incli-
nar e mudar de direção rumo a vida espiritual?

Quem está confortável, estável, seguro e fincado em sua base


no mundo humano limitado, não tem qualquer estímulo que o
obrigue a aspirar àquilo que é eterno e universal. O que pode
ser mais importante ao universitário do que conseguir seu di-
ploma e se formar? Da mesma forma, o que pode ser mais im-
portante para a alma do que alcançar sua própria essência
junto com Deus?

Os caminhos mundanos precisam estar todos fechados, inter-


rompidos, cheios de entraves, para que as pessoas possam
olhar menos para baixo e mais para o alto, para Deus, para o
infinito e eterno…

Como vamos contemplar o ilimitado se nossos caminhos no


mundo estão sólidos e prazerosos? É preciso perder o inferior
para que possamos ganhar o superior… é preciso perder o li-
mitado para aspirar ao sem limites, ao sem fronteiras.

Nos caminhos do mundo, não há felicidade real. Buscaremos


pelos quatro cantos do mundo sem sucesso…

Mas assim que iniciarmos nossa jornada rumo ao eterno, os


primeiros lampejos da verdadeira felicidade já começarão a
nos iluminar…

200
É MORRENDO QUE SE VIVE

Todo mundo quer ir para o céu, para o paraíso…


Mas ninguém quer morrer para poder nascer lá…
Como diz São Francisco de Assis:
É morrendo que se vive para a vida eterna.
Mas esse morrer não se trata de morrer materialmente,
descartar o corpo físico.
Essa é a morte do ego, da personalidade, das verdades
humanas, dos desejos, da sede de vida, das paixões, das
preocupações, de se fazer a vida humana a base de nossa
vida.
É morrendo que se renasce… Quem não quer morrer,
tampouco poderá renascer no paraíso.
O paraíso só pode vir depois da morte do ego, da morte do
apego, da morte das crenças, regras e da morte dos sonhos
humanos.
Como viver a realidade se não paramos de sonhar com as
esperanças do mundo?
O que são os sonhos e as esperanças do mundo senão
ilusões dentro de ilusões onde mergulhamos mais e mais num
sono profundo que embota nossa alma?
Para que desejar conquistas mundanas se a alma já possui
todas as coisas?
O que pode o espírito perder, se ele é eterno e infinito?
Por que chorar a morte de pessoas, se a morte nos ajuda a
nascer num outro nível de realidade?
Para que se preocupar com a ilusória estabilidade do mundo
se essa estabilidade nos aprisiona e nos limita?
Quando perdemos a estabilidade e a suposta segurança
fincada nos pilares do mundo… abrimos nossa vida para o
espiritual, que é imortal e eternamente feliz.
Por que se preocupar com a perda… se toda perda é sempre
um ganho em outro nível?
Por que se preocupar com a morte, se é morrendo que se
vive para a vida eterna?
Preferimos a vida passageira à vida eterna?
Preferimos as dores do mundo em detrimento da harmonia
celeste dos planos universais?
Não tema a morte… menos ainda a morte do ego. Ela é um
portal para a renovação da vida, para a eternidade da vida e
da felicidade infinita.

201
Não tente evitar a morte do mundo, pois quando o mundo
morre, o espírito renasce.

202
AS CERTEZAS HUMANAS

Como eu posso ter certeza sobre a existência da vida espiri-


tual?

Para que servem as certezas humanas? O que são as certezas


humanas senão bolhas que nascem no oceano após o atrito da
água e estouram alguns segundos depois sem deixar qualquer
vestígio? O que são as certezas senão gaivotas que cruzam o
céu das praias e logo depois vão embora?

A única certeza que podemos ter nesta vida é de que não exis-
tem certezas, existem apenas estados de consciência passa-
geiros que vem e vão, começam e terminam… Mas vamos pen-
sar… Para que precisamos de certezas? A resposta está no
desejo de controle. Desejamos ter as certezas para que pos-
samos controlar tudo, prever tudo, saber de antemão o que vai
ocorrer para obtermos um domínio sobre alguma coisa. Mas
alguém já pensou no motivo de querermos controlar tudo? A
razão do desejo pelo controle de tudo é muito simples…

O ser humano sente que não controla quase nada em sua vida.
Falamos com mais detalhes sobre a ilusão do controle humano
no texto: “O que podemos controlar nessa vida?” Como o ser
humano não tem quase nenhum controle de nada, obviamente
ele quer controlar para poder se preservar das adversidades
da vida. Daí vem o desejo pelas certezas, pela infalibilidade de
sua razão e de suas ações. Ele quer o controle para poder con-
servar intacto seu ego, sua persona, aquilo que ele pensa que
é, seus valores, suas supostas verdades, suas crenças, suas
regras, seu modo de pensar e viver…

Mas será que o correto é mesmo tentar de todas as formas a


autoconservação, a autopreservação daquilo que o ser hu-
mano sente que é? A natureza do mundo é a da transitorie-
dade… tudo muda… tudo é impermanente e não podemos ter
segurança de nada, até porque tudo um dia vai acabar com a
morte. Alguém já pensou que o sentido da vida pode não ser o
de obter segurança no mundo, nas coisas objetivas e exterio-
res… mas sim aceitar a transitoriedade das coisas, suas osci-
lações e se entregar a essa insegurança, a essa impermanên-
cia confiando que nela existe um sentido que tudo organiza e
tudo põe no lugar?

203
Talvez o desejo pelo controle seja um mal do ser humano, e
seja justamente uma das coisas que provoca nosso sofrimento.
Talvez a aceitação do não controle, da insegurança básica da
vida, seja justamente aquilo que nos dá a verdadeira segu-
rança. Não a segurança exterior, mas a segurança interior.
Aceitar e se harmonizar com a impermanência pode nos ajudar
a obter a segurança interior, a estabilidade de nossa alma, de
nosso psiquismo, de nossos processos espirituais. Essa pode
ser a melhor “certeza” a que podemos ter acesso.

204
DEUS TE DÁ AS PROVAS

“Eu podia ter evitado o sofrimento dela”, dizem alguns.


“Eu não devia estar passando por esse problema”, dizem
outros.
“Eu não queria estar passando por essa doença”.
Diante dessas declarações, cabe uma reflexão.
Todos concordam que Deus é perfeição…
Então, se Deus é perfeição, vocês acreditam mesmo que
Deus permitiria que uma pessoa vivesse uma experiência da
qual não precisa viver?
Não, isso seria impossível, sem sentido, sem lógica.
Se Deus é infinitamente perfeito, Ele jamais permitiria que
uma pessoa experimentasse algo de que não precisa.
Isso significa que se a pessoa está vivendo um problema, é
justamente esse problema que ela precisa viver, nem mais
nem menos.
A matemática divina é perfeita. As pessoas costumam
acreditar que o que acontece na Terra, dentro do mundo
humano, não tem relação nenhuma com Deus e com a
perfeição divina.
Esse é um grande erro. Se Deus é onipresente, está em
todos os lugares. Se está em todos os lugares, Deus está
também no problema e na solução. Deus está na doença e na
cura. Deus está na experiência desagradável que é uma
prova para nossa elevação espiritual.
Portanto, nada poderia ser diferente do que foi ou do que é…
Tudo transcorre como deveria transcorrer… Não existe
injustiça no cosmos infinito. Deus está em tudo e tudo o que
acontece é uma manifestação da perfeição divina.
Acaso Deus poderia ser uma consciência distante, separada
e totalmente alienada do que ocorre na Terra com os seres?
Esse Deus divorciado da humanidade, distante, que vive lá
longe no céu, ou fora do universo, que não tem nada a ver
com o mundo e a vida de cada pessoa… Esse Deus não
existe. Se esse Deus existisse, ele não seria Deus, pois se
Deus é infinito, ele não tem limites… se ele não tem limites,
ele precisa necessariamente estar em todos os lugares e em
todos os tempos. Aqui e agora, para sempre…
Deus está em nossas provas, em todas as experiências que
vivemos… Nada escapa da anuência e da presença divina.

205
Acaso acreditamos que Deus não sabe o que ocorre
conosco? Claro que sabe… ele sabe tudo de todos… e tudo
de tudo.
Se você atravessa uma provação, é disso que você precisa…
e foi Deus que te colocou ali.
Se Deus te colocou ali, é porque essa experiência é a melhor
para te libertar e te elevar.
Nada é por acaso… tudo tem um porquê.
Vamos agradecer as provas… e vive-las intensamente, sem
fugir delas, pois é Deus que está te dando as provas para que
você possa se purificar.

206
ENSINAMENTOS PARA A VIDA

Cremos que o que oferecemos nessa vida é aquilo que passa-


mos a merecer. O que damos é o que vamos receber. O amor
doado é o amor que retornará a nós. E todo o ódio destilado é
o ódio que volverá a nossa vida, mais cedo ou mais tarde.
Quem atira pedras nos outros, tropeça nestas mesmas pedras
no caminho de volta. Por isso, semeie na vida aquilo que você
deseja colher no futuro. Só faça aquilo que você deseja para
você. Não acredite que você pode viver nas brigas e confusões
e depois conquistar a paz interior.

Felicidade não é aquilo que nós acumulamos, felicidade é


aquilo que nós compartilhamos. De que adianta ter muitos brin-
quedos, se não temos com quem brincar? De que adianta ter
as melhores cervejas, se não temos com quem beber? De que
adianta jantar no restaurante mais caro, se comemos sozi-
nhos? Feliz é aquele que compartilha o que tem com todos.

A dor tem uma função em nossa vida. Ela nos obriga a sair do
lugar, a vencer o comodismo, a tomar uma atitude, a olhar para
nós mesmos. Aquele que está muito confortável e satisfeito
num lugar só vai sair dele se algo o incomoda, se a dor nas
costas o obriga ao movimento de sair da cama.

Nada nessa vida é por acaso. Tudo que experimentamos tem


um propósito. Não acredite em sorte ou azar. A existência hu-
mana é criada por causas e condições. Aquilo que acontece,
tinha que acontecer. Aquilo que vem, era para vir… se uma
pessoa vai embora, era para ela ir. Nada é fortuito e sem sen-
tido. Todas as coisas obedecem a uma ordem superior que, em
essência, é perfeição.

Ninguém perde nada nessa vida, pelo simples motivo de que


ninguém pode possuir coisa alguma. Como diz a máxima: “toda
sensação de perda vem de uma falsa sensação de posse”.
Tudo o que acreditamos possuir é apenas um empréstimo de
Deus, um instrumento que a inteligência da vida nos proporci-
ona para ser utilizado da melhor forma possível, sempre em
busca do desenvolvimento de nossa alma.

207
Tudo o que vem, um dia vai embora. Nada é permanente nessa
vida. Se hoje eu ganho um carro, amanhã perderei esse carro;
se hoje eu adquiro uma casa, amanhã perderei essa casa. É
assim com as coisas e é assim com as pessoas. Todos que
chegam em nossa vida, um dia vão embora. O mundo humano
é assim. Tudo o que teve um início, um dia terá um fim… Tudo
um dia acaba e pode ser antes do que esperamos. Por isso,
não acredite em nada que seja permanente, pois tudo vem e
vai, tal como as ondas do mar que crescem, quebram na areia
da praia e depois retornam ao infinito oceano.

O mal é tão necessário ao equilíbrio do universo quanto o bem,


assim como a luz não existe sem a escuridão, ou como o alto
não existe sem o baixo. O dia precisa da noite para o sol poder
nascer no dia seguinte, revelando o espetáculo do alvorecer.

A existência universal é um eterno fluxo. Assim como o rio flui


com perfeição em direção ao mar, assim também os seres hu-
manos devem permitir que sua vida flua, sem desvios, sem bu-
racos, sem comportas que detenham o incessante fluxo da
vida. Aquele que pretende criar obstáculos ao perene fluxo das
transformações observa suas barreiras serem destruídas pela
irresistível força da eterna transitoriedade.

Procure sempre olhar para a vida como ela é e não como você
gostaria que fosse. Aceite sempre as pessoas pelo que elas
são, e não pelo ideal que você criou. Viva e deixe viver, tal
como as coisas são, sem pretender forçar ou modificar coisa
alguma. Observe a existência ao invés de criar idealizações. A
verdade é o que é, assim como a vida não pode ser aquilo que
esperamos que ela seja. Olhe as coisas sem querer que sejam
diferentes; escute a natureza e a vida. Contemple a eterna ben-
ção e frescor do estar presente, a graça desse simples mo-
mento.

Muitas vezes precisamos passar pelo pior para poder chegar


ao melhor. Precisamos mergulhar na escuridão para alcançar
a luz. Precisamos chorar a madrugada inteira para viver e lou-
var a alegria calorosa do suave amanhecer. Precisamos atra-
vessar a densa e fétida lama para chegar ao lago de águas
puras e cristalinas. Aquele que chega ao fundo do poço, per-
cebe que o único caminho possível é o da subida. Aquele que

208
chega no ponto mais escuro do túnel sempre vislumbra a luz
no final do túnel. O momento mais difícil de nossa vida é aquele
em que tudo começa a melhorar. Precisamos viver intensa-
mente o mal para entender a preciosidade do bem. Precisamos
experimentar profundamente o sofrimento da prisão para ser-
mos capazes de nos libertarmos dela. Precisamos, dessa
forma, mergulhar na escuridão para alcançar a luz.

Na vida é necessário sempre seguir em frente. Ficar parado no


meio do caminho, olhando para trás e remoendo coisas que já
se foram, nada nos trará de positivo. Não importa o tamanho
da decepção, não importa a dimensão do erro cometido; não
importa o quanto sofremos. Siga em frente… Quando segui-
mos em frente, colocamos em movimento as energias da vida
e tudo volta a fluir.

Quando a vida não acontece como desejamos ou como espe-


ramos, ficamos atormentados com preocupações. Mas o que
pode ser mais importante para o ser humano do que sua paz
de espírito? É mais importante se preocupar com o relaciona-
mento, com o dinheiro, com os filhos, com o patrimônio, com o
emprego, com estar certo, com impor nossa vontade, com o
sentimento de posse, preso aos sofrimentos… ou nossa paz
vale infinitamente mais do que tudo isso? Não devemos trocar
nossa paz por qualquer outra coisa. Nada nesse mundo vale
as preocupações que tiram nossa paz interior. Não troque sua
paz por coisa alguma… A paz é inestimável, não tem preço e
nada pode substitui-la. De que vale a maior realização do
mundo se com ela perdemos nossa paz? Nem o maior e mais
belo diamante do mundo vale a nossa paz.

Todo fim é sempre um novo começo. Toda morte é sempre um


novo nascimento. Sempre que uma coisa acaba, outra coisa
começa. Quando acreditamos que algo está chegando ao seu
fim, pensamos que vai acabar para sempre e nunca mais vol-
tar, uma outra coisa se inicia. Geralmente estamos cegos ao
surgimento do novo, pois estamos excessivamente presos ao
que já passou. Toda perda sempre oferece a chance de um
novo ganho… ganho este que nem sempre é como desejamos,
mas está lá aparente ou esperando ser descoberto. Assim
como o fim da noite traz um novo amanhecer e o fim de um ano
faz nascer outro ano com novas possibilidades, assim a vida
sempre se renova, se refaz, se recria num ritmo constante e

209
inexorável. Aquilo que acreditamos ser o fim de nossa vida,
nada mais é do que um novo começo, repleto de novas opor-
tunidades e esperanças. Quando as pessoas pensam que sua
vida acabou ou morreu, esse é o melhor momento para abrir
novos caminhos e deixar sua vida renascer.

Todas as coisas na vida sempre caminham e concorrem para


o bem. O bem maior da vida é o destino inexorável de todos os
seres. Mas o que consideramos como bem, nem sempre é o
bem real. Aquilo que taxamos como negativo numa época de
nossa vida pode se transformar em algo positivo numa época
seguinte. Como a demissão do emprego que depois nos traz
uma oportunidade melhor, ou como a crítica que nos conduz a
reflexão ou ainda como a perda do material que nos auxilia
numa postura de maior desapego. O que é bom para alguns
pode ser ruim para outros e vice-versa. Bem e mal são concei-
tos limitados e relativos que formulamos em nossa mente com
base naquilo que é agradável ou desagradável. Mas a verdade
que dói, mas nos liberta é muito mais importante do que a men-
tira que consola e que nos acomoda e cega.

Feliz é aquele que não precisa de nada para estar com a felici-
dade. Aquele que é feliz por causa dos filhos, por causa da
esposa, por causa do emprego, por causa do dinheiro, por
causa dos amigos, etc, esse não encontrou a felicidade real.
Se você precisa de uma coisa apenas para ser feliz, então você
não é feliz, pois caso perca essa coisa, também perde sua fe-
licidade. Por isso, a felicidade só é genuína, verdadeira e per-
manente quando ela não tem razão de ser, quando nada a ali-
menta, quando nada que é externo pode aumentar ou diminuir
nossa felicidade.

Não menospreze as coisas simples da vida. É na simplicidade


onde reside a paz, a verdade e o amor. Uma vida simples é
uma vida completa, repleta de bênçãos que estão em todos os
lugares. Para uma pessoa comum, andar no meio da rua em
direção ao trabalho pode ser algo estressante e cansativo. Mas
para o doente acamado em estado terminal, ou para o cadei-
rante, o ato de andar é uma benção, uma dádiva celeste que
faz jorrar em seu peito uma imensa alegria de viver. Por isso,
viva de forma simples, sem sofisticações e complexidades. A
complexidade é um peso desnecessário que insistimos em car-
regar. Feliz e em paz está aquele que consegue viver com as

210
coisas simples… A simplicidade sempre nos traz leveza e liber-
dade.

O mundo é aquilo que você pensa que é ou será o que fazemos


dele. Podemos plantar as sementes de um paraíso na Terra ou
os infortúnios de um inferno, só depende de nós.

Antes de descobrir se existe vida após a morte, é necessário


averiguar se existe vida antes da morte. Antes de descobrir se
existe vida extraterrestre em outros planetas, é preciso verificar
se existe mesmo vida aqui a Terra. O ser humano deseja des-
vendar os segredos do cosmos, mas nada faz para descobrir
os segredos do seu cosmos interior. As pessoas estão ao
mesmo tempo tão próximas e tão longe de si mesmas. Querem
conhecer o mundo, mas fazem de tudo para não conhecer a si
mesmas. O templo de Delphos na Grécia antiga di-
zia: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deu-
ses”. Essa é a forma de conhecimento mais valiosa que existe.

Toda vez que você sonha com o que você não tem, você se
torna infeliz com o que você tem. Quanto mais você pensa em
ganhar algo novo, mais fica insatisfeito com o antigo. Cada vez
que você almeja uma condição melhor na vida, você deixa de
fazer o melhor com a condição em que você se encontra.
Quanto mais você quer sair de um lugar para ser feliz, mais
infeliz você se torna no lugar em que você está. Cada vez que
você deseja que alguém mude e se torne diferente, menos
você aceita aquela pessoa como ela é e menos você passa a
ser feliz com ela. Toda vez que você se propõe a conquistar
mais e mais, menos você valoriza aquilo que já conquistou. To-
dos aqueles que vivem buscando algo a mais na vida, sempre
perdem a alegria de viver em sua realidade atual.

Todos os problemas em nossa vida estão relacionados com a


forma como nós reagimos ao problema e não com o problema
em si. Os seres humanos seriam muito mais felizes se pudes-
sem compreender essa verdade. Não são as circunstâncias
que nos afetam, mas a forma como nós reagimos a elas. O que
faz a diferença é como você se posiciona, como você encara a
situação. A adversidade em si mesma não tem nenhum poder:
você é que dá poder, e por isso, ela passa a ter o poder que
você conferiu. Uma pessoa que se deixa atingir, por exemplo,
com uma ofensa, uma briga, uma perda, uma doença, não está

211
se abalando pelo poder inerente a nenhuma destas coisas,
mas sim pela sensibilidade que ela mesma possui a tudo isso.
Não existe nenhum poder no mundo capaz de nos colocar para
baixo se a pessoa simplesmente não aceita esse poder ex-
terno.

Uma pessoa que se eleva ao nível da fonte da vida, não pode


experimentar a morte. Uma pessoa que alçou voo ao nível da
eternidade, não pode ser arrastada pela passagem do tempo.
Uma pessoa que ascendeu ao nível da criação, não pode per-
der coisa alguma e pode ter acesso a tudo… nada mais lhe
falta. Da mesma forma, uma pessoa que viajou até a nascente
de um rio, não pode jamais experimentar a sede ou a ausência
da água. Mas quando estamos afastados da essência de todas
as coisas… tudo sempre nos falta. Sentimos fome, sede, ca-
rência, dependências, vícios, etc. Quanto mais distantes esta-
mos da nascente da essência pura da existência, mais vazios
estamos, mais miseráveis ficamos, mais esfomeados, mais ne-
cessitados, mais infelizes e desvitalizados ficamos.

Tentar se preencher com as coisas do mundo e com as pes-


soas é semelhante a beber água do mar. Você está com sede
e resolve beber a água do mar para aplacar sua sede. O que
acontece é que você fica com mais sede ainda, pois a água do
mar é salgada. Quanto mais você bebe, mais sede você fica. A
água não te preenche, não cumpre o objetivo esperado. E por
isso, você sofre cada vez mais com a sede. Assim também
acontece com as coisas do mundo. Quanto mais consumimos
as coisas, quanto mais nos apoiamos nelas, quanto mais ten-
tamos nos preencher com elas, mais vazios ficamos. Da
mesma forma, quanto mais você come, mais fome terá no dia
seguinte, seu estômago fica mais alargado e a fome é maior,
assim como maior é o “vazio” do seu estômago. Ou você passa
mal no dia seguinte, ou você fica com mais fome, querendo
sempre mais e mais e nunca está satisfeito.

Ninguém precisa pedir proteção a Deus… Pedir proteção a


Deus é querer dizer que Deus não está te protegendo. Mas
como seria possível que Deus, sendo infinito, eterno, perfeito,
soberanamente justo e bom, em algum momento não proteger
seus filhos? Se nós que somos falhos e imperfeitos buscamos
sempre proteger nossos filhos,.. Por que Deus sendo perfeito
não o faria? Isso não teria sentido. Por isso, é correto dizer que

212
Deus já está protegendo a todos, sem exceção… Deus está
ministrando ao homem a vacina que o protegerá de doenças
futuras, mas como essa vacina divina dói, acreditamos que es-
tamos desprotegidos, mas na verdade é a vacina dolorida que
justamente está imunizando nosso espírito. Deus jamais iria
deixar seus filhos desprotegidos… nós é que pedimos proteção
para coisas que não deveriam ser protegidas, como nossos an-
seios humanos, nossos desejos e nossas posses ilusórias.

Esquecer-se do próprio eu… da personalidade. Esse é o


ensinamento mais precioso. Não acreditar na realidade do
ego. Não dar forças aos papéis humanos. Não dar poder à
máscara que usamos. Não se identificar com a roupagem
temporária. Abandonar a si mesmo, por procurar, procurar e
não encontrar nada de essencial no ego, mas apenas uma
ilusão… um sonho dentro de um sonho, que um dia se
desvanece e nos damos conta de que nunca existiu. Nesse
momento, a fonte da vida universal enche o copo vazio do
ego com bênçãos infinitas, com uma felicidade indescritível e
com uma paz eterna.

Será que é o seu marido que não se importa com você, ou é


você que quer mais dele? Será que você não esta querendo
algo que o outro não pode te dar? Será que você é pobre, ou
será que você é que quer muito e espera muito da vida? Será
que a vida te frustrou, ou será que é você que espera muitas
coisas? Será que você não recebe amor, ou será que é a sua
carência falando mais alto? Será mesmo que você tem pouco,
ou será que você é que quer muito, que espera demais, que
fica alimentando desejos e mais desejos que não podem ser
satisfeitos? Será que a vida não te preenche, ou será que o
seu buraco interior, o vazio dentro de você, é que é grande de-
mais? Todos precisam parar e refletir sobre seus anseios, seus
desejos, seus sonhos… tudo isso pode ser uma apenas uma
exigência nossa. A vida nunca nos prometeu nada. O vazio in-
terno nunca será preenchido… e quanto mais esperamos, me-
nos recebemos e mais nos frustramos. Mas quanto mais você
aprende a ser feliz com esse vazio interno, mais ele será pre-
enchido por essa mesma felicidade. Essa é a única forma de
fazer esse vazio deixar de existir.

213
ENCONTRAR A ALMA GÊMEA

Vejo muitas pessoas perdendo suas vidas esperando seu amor


chegar, torcendo para sua alma gêmea vir logo… ou desejando
ardentemente casar e ter filhos. Essas pessoas acreditam que
só depois de encontrarem sua alma gêmea e casarem, elas
serão felizes.

Conheço milhares de casos de pessoas que encontraram seu


amor, casaram, ficaram muitos anos casadas, mas não são fe-
lizes. A maioria dos casamentos hoje em dia não dão certo e
não fazem as pessoas felizes. Podemos até traduzir isso em
números. Os divórcios no Brasil cresceram 160% nos últimos
dez anos, segundo pesquisas.

Por que isso ocorre? As pessoas estão com tanto medo da so-
lidão, de ficarem abandonadas, de não terem um companheiro
ou companheira, que querem casar logo para se “garantir”,
para terem estabilidade emocional, para não ficarem igual a “tia
mau amada”, porque já estão ficando velhas e precisam logo
de alguém para cuidarem delas na velhice, para evitar a solidão
e a carência… etc. Aqui também entra uma pressão da socie-
dade para que as pessoas casem, principalmente as mulheres.
Sempre aparece aquele familiar dizendo: ” E ai? Você não vai
casar?” Como se casar fosse uma obrigação de todos. Como
se uma pessoa ficasse incompleta e vazia sem um casamento.

É preciso dizer que casamento não evita a solidão… Conheço


milhares de casos de pessoas casadas há muitos anos e que,
mesmo dentro do casamento, sentem-se muito solitárias e va-
zias. O casamento esfria, ou a pessoa “muda”, se revela tal
como é… e o sonho do casamento acaba se esvaindo. Nada
acontece como prevemos inicialmente; o sonho romântico do
amor eterno se desfaz e a pessoa continua se sentindo tão so-
litária e infeliz dentro ou fora do casamento. O mais curioso é
que todo mundo sempre pensa que consigo será diferente.
“Com muitas pessoas deu errado, mas comigo vai dar certo.
Vou encontrar uma pessoa e ser feliz pelo resto da vida com
ela”. Sim, você pode ser feliz com a pessoa, mas não ser feliz

214
por causa da pessoa. Se o casamento termina e você passa a
se sentir infeliz, então você nunca foi feliz.

Existem pessoas que moram sozinhas e são felizes… e outras


estão casadas e se encontram muito infelizes e carentes.
Como eu mencionei em outro texto: solidão não é a falta do
outro; é a falta de si mesmo. Muitas pessoas ficam esperando
o outro porque não conseguem a felicidade por conta própria e
precisam que o outro traga uma alegria que elas não conse-
guem. Mas se a pessoa não é feliz sozinha, ela também não
será feliz com o outro. Isso parece um lugar-comum, mas é ex-
tremamente verdadeiro: a felicidade não vem de fora. Ou ela
nasce dentro de nós, ou não germina em lugar nenhum.

O que todos precisam compreender é que encontrar nosso


amor, nossa alma gêmea e casar… não é nenhuma garantia
de felicidade. Acreditamos que só vamos ser felizes dentro de
um casamento com a pessoa que amamos, mas muitas vezes
o casamento é justamente o que traz a infelicidade para a pes-
soa… Traz a decepção, as frustrações, traz mágoas, dores,
rancores, sensação de abandono, de vazio, de sonhos desfei-
tos, etc. No início acreditamos que o casamento é a solução de
nossa vida emocional… mas depois a própria solução do ca-
samento acaba se transformando no problema. Muitos passam
uma parte da vida desejando casar… depois passam a outra
parte da vida desejando se separar (mas não tem coragem, se
acomodam, preferem a estabilidade do casamento ao invés da
solidão, etc, etc).

Por isso, não perca sua vida esperando encontrar alguém…


Você está esperando algo que pode nunca acontecer. E
quando acontece, pode não ser como você planejou, pois ne-
nhuma alma gêmea ou nenhum casamento pode preencher
nosso vazio, pode acabar com nossa carência, pode desfazer
nossa solidão… Quem vive esperando o outro, acaba não vi-
vendo… Enquanto você espera, a vida passa… e você perde
um tempo muito precioso.

O que eu sempre costumo dizer é… Seja feliz agora. Viva


agora. Não passe a vida esperando encontrar alguém nem es-
perando casar… Quem vive esperando… sempre se decepci-
ona.

215
O VALOR DA PAZ

O que é mais importante? Incomodar-se com a casa que não


está arrumada, ou viver em paz?
Enquanto você acreditar que a casa precisa ficar sempre
arrumada, quando ela não estiver arrumada, você vai perder
sua paz.
É melhor então não se preocupar com arrumação ou
desarrumação, pois assim você preserva sua paz interior.
Que condições neste mundo podem ser mais importantes que
nossa paz?
“Eu acredito que tal coisa deve ser de um jeito”… e vou ficar
insistindo que aquilo seja do meu jeito até conseguir, pois
meu jeito é o melhor, é o certo. Mas essa insistência tira
minha paz. O que é mais importante? Insistir nisso… ou ter
sua paz de espírito?
“Mas eu terei paz quando conseguir o que quero ou quando
impor minha vontade”. Esse é um erro muito comum, que a
maioria das pessoas facilmente cai.
Ninguém terá paz quando conseguir o que quer… Nem terá
paz quando conseguir impor sua verdade e seu modo de
pensar. Só teremos paz quando não nos importarmos em ter
o que queremos ou não ter o que queremos; em impor ou não
impor.
Se um dia você não conseguir o que quer, vai perder sua
paz… Ou nunca teve paz por acreditar que a paz só se
alcança quando se consegue o que se quer.
Marília queria muito um carro. Ela só terá paz quando
conseguir o carro. Antes de conseguir o carro, não terá paz,
pois ficará pensando em conseguir o carro… e esse
pensamento lhe tirará a paz.
Caso consiga o carro, vai perder a suposta paz sempre que
bater o carro, ou sempre que qualquer perda ocorra.
Por isso, questionamos novamente: o que é mais importante?
Ter um carro ou viver em paz conosco mesmos?
Isso não significa que todos precisem dar tudo o que tem…
mas que todos devem dar mais valor a paz do que a todo o
resto. Pois tudo o que possuímos ou não possuímos não vale
nossa paz.
Se algo tira sua paz… escolha a paz. A paz é mais valiosa

216
que todos os diamantes do mundo, que todo ouro, que toda
conta bancária, que toda realização ilusória exterior.
A paz de espírito é real… todo resto são preocupações
ilusórias que nada nos acrescentam.
É mais importante ganhar uma discussão ou ter paz?
É mais importante que seu partido vença as eleições ou que
você tenha paz?
É mais importante que sua suposta verdade prevaleça ou que
você possa viver de bem consigo mesmo e em paz?
Toda preocupação tira nossa paz e é vã e sem sentido…
Em algum momento da eterna vida do nosso espírito
deveremos inevitavelmente fazer essa escolha…
Ou as preocupações… ou a minha paz.
Ou o casamento falido… ou a minha paz.
Ou a preocupação com o desemprego… ou a minha paz.
Ou ganhar uma promoção na empresa… ou a minha paz.
Ou meus filhos me tratarem bem… ou a minha paz.
Ou o medo da solidão… ou minha paz.
Será que você prefere ficar esperando que seus filhos te
tratem bem, para que só depois você possa viver em paz?
Ou é melhor não se preocupar em como os outros te tratam…
e descansar na paz de espírito agora, nesse momento?
Você prefere ficar esperando encontrar o amor da sua vida…
ou viver na paz de Deus agora?
Desejar a paz a todo custo, também tira nossa paz.
A preocupação com a paz, com a felicidade ou com qualquer
coisa boa… também nos tira a paz.
É preciso que a busca da paz também não tire nossa paz.
Tudo o que buscamos dentro das tribulações da vida humana
tem como objetivo encontrar a paz… e tudo o que nos
preocupamos, rouba nossa paz.
Mas a paz não está em lugar nenhum, em nenhuma parte…
rode os quatro cantos do mundo e não encontrará a paz. Ela
não está aqui e ali, na conquista ou na vitória; na estabilidade
ou na segurança; no afeto ou na fama. Não está em lugar
nenhum…
A paz está na decisão de soltar todas as preocupações…
todos os anseios… todos os desejos… todas as supostas
verdades… todo o medo, toda a culpa… e simplesmente viver
em paz.
Sempre que as preocupações, os medos, as culpas, os
desejos, os anseios ou as supostas verdades assaltarem sua
mente… pergunte-se: O que vale mais? Isso tudo ou minha

217
paz?
Afinal… o que pode ter mais valor nesta vida e além dela?
Viver em paz… não tem preço.
Nada… absolutamente nada… vale a nossa paz.

218
CRISES FINANCEIRAS

A dificuldade financeira é uma prova, uma experiência que nos


vem com o objetivo de nos fazer viver uma crise de transforma-
ção… uma crise que tem como finalidade nos transformar…
Fazer com que nós possamos sair do estado ordinário limitado
ascendendo a um estado sublime da VIDA MAIOR.

Se a pessoa pede para não viver essa experiência, ela está


pedindo para não se transformar, não crescer, não evoluir.

A crise financeira geralmente vem com um objetivo muito claro:


ajudar a pessoa a abrir mão daquilo que ela não consegue abrir
mão por conta própria. O ser humano é excessivamente ligado
e envolvido pelas coisas materiais. Ele quer de todas as formas
ter, possuir, ganhar, conquistar. Isso lhe dá a impressão de que
ele é melhor do que os outros por ter mais coisas; as posses,
o dinheiro e o patrimônio o fazem sentir-se acima, superior e
colocar outras pessoas trabalhando para ele.

Um dos instrumentos da existência material que mais nos dá a


falsa sensação de superioridade é a riqueza material. Esse sta-
tus de ter dinheiro enquanto outros não têm estimula nosso
egoísmo, nosso orgulho, nossa vaidade, nossa avareza. Se a
pessoa não deseja abrir mão dessa falsa sensação de superi-
oridade, a sabedoria da vida chega para nós e nos tira o que
julgamos possuir; nos faz perder o que temos, mesmo que seja
pouco.

O objetivo dessa retirada é fazer com que cada pessoa possa


refletir e se desprender do egoísmo e do orgulho. A pessoa
precisa aprender a dividir o que tem; ela precisa aprender que
não há superiores nem inferiores; ela precisa aprender que não
pertence a uma classe superior por ser mais abastada; ela pre-
cisa compreender que o dinheiro não lhe traz estabilidade, se-
gurança, paz e felicidade, pois tudo isso é uma grande ilusão.

Quantas pessoas existem, que são riquíssimas e profunda-


mente infelizes? Conheço muitos ricos que vivem à base de
antidepressivos e ansiolíticos. Tem muitas coisas exteriores,
mas não têm paz. Como disse Jesus: “De que adianta alguém

219
conquistar o mundo inteiro se com isso ela perde a sua alma?”
E quantas pessoas pobres são felizes e conseguem ter paz
mesmo com pouco. Aliás, o que é o “pouco” se precisamos
apenas do suficiente? Por que desejamos ter muitas coisas se
nossas necessidades são tão pequenas?

Desejamos ter muitas coisas para viver a sensação de tudo po-


der adquirir a hora que desejamos, para suprir nossos capri-
chos e nosso desejo de obter várias coisas. Isso nos confere
uma sensação de poder que ilusoriamente nos dá sustentação
emocional, mas na prática só reforça nossas carências. Muitas
vezes as conquistas materiais servem para abafar um pouco
do vazio interior que sentimos e esse vazio vai aumentado na
medida em que procuramos preenche-lo com coisas, status,
orgulho, etc. Tentamos compensar nossa infelicidade com-
prando coisas que nos dão uma falsa e passageira sensação
de poder no momento em que consumismos.

Tudo isso precisa ser deixado de lado, pois essa ânsia de obter
coisas, de suprir todos os nossos desejos, de acreditar que so-
mos melhores porque temos dinheiro, de acreditar que esta-
mos seguros apenas porque temos um patrimônio, tudo isso
são ilusões que causam e alimentam nossa infelicidade. Essa
é a finalidade das crises financeiras: provar para todos que o
ser é real e o ter é uma perigosa ilusão… o valor do desapego
e da liberdade em relação as posses é fundamental para uma
vida de paz e felicidade.

Por outro lado, ninguém deve se deixar afetar pelas provas fi-
nanceiras: dívidas, desemprego, falta de recursos, aluguel
atrasado, etc. Tudo isso é um incentivo, um impulso, uma crise
que nos impele ao crescimento interior e espiritual.
“Mas eu estou endividado e perdendo tudo”, dizem alguns. Mas
perdendo o que, se nada nessa vida nos pertence? O que po-
demos estar perdendo se tudo o que nos é dado na matéria é
apenas um empréstimo?

“Mas estou passando fome…”. Como é possível passar fome


se nós somos espíritos e o espírito não passa fome? Quem
passa fome é o corpo… mas todos devem compreender que
são uma essência, um ser espiritual que não é afetado pelas
calamidades e privações do mundo. Tudo isso causa dor, mas
também promove um novo nascimento…

220
Vamos lembrar que a maior dor que um ser humano pode so-
frer é a dor do parto. E o parto, com toda a imensa dor sofrida
pela mulher, é a única forma de fazer nascer uma nova vida no
mundo. A dor das provas também nos fazem sofrer muito, mas
é graças a essa provação que podemos fazer brotar uma nova
vida para nós através de uma intensa transformação interior.

Quando isso for bem compreendido e mais… quando isso for


vivenciado… estaremos libertos de tudo.

221
APRENDENDO A DEVOLVER O EMPRÉSTIMO

Rodolfo pegou um carro emprestado com seu amigo. Era um


carro bem luxuoso, com tecnologia avançada e muito confortá-
vel. Ficou um mês com o carro e estava adorando. O tempo foi
passando e Rodolfo já não conseguia mais imaginar sua vida
sem o carro, de tão bom e útil que era.

O tempo foi passando e Rodolfo estava cada vez mais acostu-


mado com o carro. No entanto, após 1 ano de empréstimo do
carro, o dono resolveu pedi-lo de volta. Rodolfo ficou arrasado
com esse pedido, pois estava muito afeiçoado ao carro, além
de ser muito proveitoso em sua vida. Rodolfo perguntou ao
dono se não poderia prolongar o empréstimo. O dono disse que
não… que realmente precisava do carro e enfatizou que preci-
sava que Rodolfo o devolvesse.

Rodolfo ficou arrasado. Pensou até mesmo em fugir com o


carro. Antes que pudesse tomar qualquer atitude, o dono bateu
na porta de sua casa e pediu o carro de volta. Rodolfo implorou
dizendo que queria ficar com ele mais tempo. O dono foi bas-
tante agressivo dizendo que ele ja havia ficado com o carro por
muito tempo. Rodolfo, muito atormentado, pegou uma faca e
disse para o homem sair dali. O homem ficou com muita raiva
e partiu pra cima de Rodolfo. Sem querer, Rodolfo enviou a
faca nele… vindo este a falecer logo depois. A polícia chegou
e Rodolfo foi preso.

Essa estória pode parecer exagerada e até sem sentido, mas


os seres humanos têm um comportamento semelhante ao de
Rodolfo com as coisas e pessoas do mundo. Todos devem
compreender que tudo nesse mundo é apenas um empréstimo
e que este empréstimo vale apenas por um tempo maior ou
menor. Mas a maioria das pessoas não deseja devolver o em-
préstimo ao verdadeiro dono, que é Deus. Por isso, assim
como Rodolfo, acabamos perdendo o bom senso, nos acostu-
mando e apegando tanto que a consequência acaba sendo
nossa prisão e a destruição de nós mesmos.

Nada é nosso no mundo. Tudo é um empréstimo de Deus. To-


das as coisas e pessoas permanecerão conosco apenas por
um tempo. Depois o verdadeiro dono, que é Deus, nos pede

222
tudo de volta… mas quase nunca estamos preparados para
devolver tudo o que utilizamos no mundo. Somos tão apegados
e dependentes dos empréstimos que morremos antes de abrir
mão deles. O resultado é algo semelhante a estória de Rodolfo.
Ficamos agressivos, somos presos e acabamos nos destru-
indo.

Temos apenas o direito de uso, mas não o direito de posse. A


posse simplesmente não existe em todo o universo. Por isso,
todos deveriam responder a seguinte pergunta: Você tem cons-
ciência que nada te pertence e que um dia terá que devolver
todas as coisas e pessoas do mundo?

223
A CRISE DE TRANSFORMAÇÃO

Em algum momento de sua existência na Terra, ou mesmo em


vários momentos diferentes ao longo de sua vida, qualquer
pessoa pode passar pelo que no Espiritualismo se denomina
de “crise de transformação”.

O que é a crise de transformação? Uma crise de transformação


ocorre quando toda nossa estabilidade material começa a ruir;
quando perdemos nossas principais referências na vida;
quando perdemos tudo de material; quando nossas principais
crenças são postas em xeque; quando tudo parece desmoro-
nar, quando sentimos um imenso vazio e caímos em fortes de-
pressões; quando perdemos a esperança de tudo e nada mais
parece nos restar. Toda crise de transformação marca uma
ruptura entre o antigo e o novo que começa a surgir. É quando
nossa velha configuração de vida começa a se quebrar, a se
romper… Perdemos nossa estabilidade, nossa segurança,
nosso chão, e tudo começa a ser sacudido, a se movimentar.
A poeira começa a se espalhar, nossas emoções começam a
vir à tona e tudo começa a se modificar. É um ponto de muta-
ção em nossa vida.

O ápice de uma crise de transformação é o momento em que


nosso ego colapsa com as diversas perdas que ocorrem, vem
uma crise em nossa identidade, em nosso sentido de mundo,
sentido de eu e tudo parece desmoronar dentro de nós. Nesse
momento ocorre algo semelhante a uma “morte” de nós mes-
mos. É como se o velho eu não servisse mais e começa a ser
descartado… Assim, um novo ser começa a brotar dentro de
nós. Essa morte, obviamente, não marca um fim absoluto,
como poderíamos supor, – pois não há fim absoluto de coisa
alguma no cosmos, mas nos abre para o começo de uma nova
vida, renascida e renovada. O ser humano quase sempre acre-
dita que o fim do seu estado atual representa seu fim total e
completo. Mas os seres estão sempre mudando de um estado
a outro, de uma condição a outra e não há aquilo que acredita-
mos ser um fim, pois como já dissemos em outra oportunidade,
todo fim é sempre um novo começo.

Toda crise de transformação representa uma mudança, uma


morte e um renascimento, mas ao mesmo tempo é um cha-

224
mado. É um chamado da vida, de Deus, da inteligência univer-
sal, como preferirmos nomear. É certo que a vida nos faz um
chamado para irmos do inferior ao superior, do menor para o
maior, do baixo para o alto, da estagnação para a atividade, um
chamado para o fim do conformismo e para o início da trans-
formação. Não poderia ser diferente, pois tudo se transforma e
nada pode permanecer estático, conformado, acomodado,
preso ou limitado para sempre.

Toda crise precede um novo despertar, novas possibilidades,


uma abertura de caminhos, uma mudança de perspectiva, uma
alteração de valores e crenças básicas arraigadas. Promove
uma reconfiguração de nossa existência e de nossa condição
mental e emocional, enfim, faz surgir uma nova visão da reali-
dade.

Os desencadeadores da crise de transformação podem ser


muitos: uma doença, a perda de um ente querido, a perda do
emprego, muitas dívidas às vezes impagáveis, um transtorno
mental, o mergulho em condições de miséria, o término de um
relacionamento, uma forte depressão, angústia, ansiedade ge-
neralizada, isso pode vir junto a certos transtornos como des-
personalização e desrealização. Qualquer coisa em nossa vida
pode ser motivo para uma crise de transformação. nesse mo-
mento, o ego entra em colapso e não conseguimos mais sentir
a estabilidade que antes era presente. Tudo parece se romper,
quebrar, se desestruturar. Nossas referências parecem se per-
der e tudo parece vago, incerto, quebradiço, líquido, vazio, sem
sentido, escuro, angustiante, sem vida, seco, frio, etc.

Um exemplo de relato Bíblico sobre uma crise de transforma-


ção ocorreu com Jó no Livro de Jó. Jó era um dos homens mais
ricos do oriente, tinha tudo o que gostava e amava. Sua vida
era perfeita. Em dado momento, Deus resolveu testar a fé de
Jó e retirou tudo o que ele tinha. Retirou sua família, sua ri-
queza, sua saúde, etc. Nesse momento, Jó começou a passar
por uma crise de transformação, onde foi severamente testado,
para ver como se comportava diante das adversidades e per-
das. A todo momento milhões de pessoas vivenciam uma crise
de transformação semelhante a de Jó. Elas veem tudo lhes
sendo retirado, coisas relacionadas ao material, ao emocional
e ao nível mental. Quando os níveis material, emocional e men-
tal entram em colapso, isso nos obriga a ir além deles, ascen-

225
dendo ao espiritual, que é onde reside eternamente nosso ver-
dadeiro ser cósmico. Saindo da tradição cristã, aquele que lê o
relato da vida de Siddharta Gautama, o Buda, poderá observar
que se trata de uma existência repleta de crises de transforma-
ção, de provas, de enfrentamentos, até que Siddharta vence
todos os obstáculos e se torna um Buda, um iluminado, aquele
que enxerga a verdade tal como ela é. Sem a crise não há a
passagem… e sem a passagem não há evolução, não há as-
censão, não há quebra da ilusão e mergulho na verdade. Nas
sociedades tribais existem os chamados ritos de passagem,
que são rituais de passagem da infância para a vida adulta.
Esse ritual de passagem é muitas vezes uma prova, uma crise
de transformação que o jovem precisa atravessar para poder
alcançar a vida adulta e estar preparado para todas as suas
exigências. Infelizmente, ao contrário de outras tradições e cul-
turas antigas, nossa sociedade ocidental materialista, ao invés
de estimular a boa vivência de uma crise de transformação, faz
o contrário: nos estimula a negar a transformação e suas impli-
cações, a negar um amadurecimento, a negar todas as crises
e sofrimentos, e simplesmente se atirar no mundo consumista
e vazio da mídia, do ego e da busca pelo dinheiro como solução
para tudo. Podemos dizer que nossa sociedade, ao contrário
de nos ajudar a seguir o fluxo natural das transformações, nos
estimula a fugir deles, a fingir que nada disso existe, a extirpa-
los e a cair nos subterfúgio vazio de uma conformidade ao con-
sumismo exacerbado que existe hoje.

A maioria das pessoas fazem uma profunda resistência a qual-


quer tipo de transformação essencial em suas vidas, pois o ser
humano teme aquilo que desconhece. O feto está confortável
no útero de sua mãe. Ele vai sendo alimentado pela sua geni-
tora e possui toda a estabilidade e segurança lá dentro. Mas
chega um momento em que ele deve deixar essa estabilidade
e sair para a vida. O nascimento não é fácil, pois é sempre
traumático. Ele deve atravessar um túnel escuro para alcançar
a luz da sala de hospital do mundo externo. O mesmo ocorre
com os espíritos que sofrem as transformações no mundo ma-
terial. Eles perdem sua estabilidade, sua segurança, sua aco-
modação e são colocados numa condição de insegurança,
onde seu chão, sua base é retirada, pois somente assim eles
aprenderão a ir além. E o que acontece quando se resiste a
essa transformação? A resistência à crise de transformação só
atrasa nosso caminho e nos gera sofrimento. No momento em

226
que a vida nos faz esse chamado, nossa vida nunca mais será
a mesma. Há muitas pessoas que se lamentam por isso e de-
sejam que sua vida retorne ao mesmo formato que era antes,
seja em sua infância, seja em sua adolescência, ou até mesmo
na fase adulta. Mas é certo que não há como voltar atrás, pois
uma vez que é detonada a crise de transformação, não há mais
retorno possível… o único caminho ou direção a se tomar é
para frente e para o alto. Nunca mais seremos os mesmos.

Imagine uma cobra que troca a sua pele e vê que a pele ficou
para trás. Ela então volta e fica parada, chorando e sofrendo,
observando sua antiga pele, seu antigo revestimento orgânico.
Ela chora acreditando que perdeu a si mesma, por ter perdido
seu invólucro descartado. Isso parece absurdo, mas é exata-
mente o que a maioria das pessoas fazem. Elas são como a
cobra que trocou de pele, ou seja, que mudou sua configuração
de vida, transformou sua roupagem, sua mentalidade, suas
crenças ou o antigo formato de sua vida. Ela então fica parali-
sada contemplando com imensa tristeza seu antigo formato de
vida que expirou seu prazo de validade. Sua “pele” antiga é
venerada como sua única identidade, sua única forma possível
de ser e existir no mundo. Nada mais falso, posto que vamos
trocando sempre de pele, ou seja, a conjuntura de nossa vida
e de nossa consciência vai sempre se alterando e nem por isso
nos perdemos de nós mesmos. Mudamos nossa roupagem,
nosso envoltório, mas nem por isso nos dispersamos no éter.

Quanto mais a pessoa tentar resistir ao fluxo das transforma-


ções, mais ela vai sofrer. Quanto mais ela tentar reaver a vida
tal como era antes, ou ficar sonhando em retomar a estabili-
dade, mais o sofrimento baterá em sua porta. Como disse Eins-
tein, uma mente que se dilatou nunca mais retorna ao seu ta-
manho normal. Não há como voltar atrás. Quanto mais briga-
mos com a situação desejando que nada mude, mais a vida vai
te empurrar para as mudanças que você precisa fazer em você
mesmo. Ficar pedindo a Deus que nos ajude a reaver o antigo
formato de nossa vida é o mesmo que pedir a Deus que inter-
rompa nossa transformação: seria como o feto pedir para re-
gressar ao útero materno, ou como o pássaro pedir um retorno
ao seu antigo ninho pois ele não quer começar a voar, ou ainda
como o jovem que deseja regressar à infância, ou como o
adulto que deseja evitar os conflitos da nova fase e retomar as
inconsequências da juventude. E quando atingimos a senes-

227
cência, homens e mulheres são incentivados pela nossa cul-
tura e mídia a permanecer na fase adulta ou mesmo retomar
os trejeitos da juventude. Inclusive, para se verificar a decadên-
cia de uma sociedade, devemos observar o valor que esta dá
aos seus anciãos. Não valorizar os membros mais velhos de
uma sociedade é como desprezar a importância da experiên-
cia, da sabedoria, do aprendizado que as diversas fases da
vida nos deixam como herança sagrada. Ao contrário de certas
culturas orientais que valorizam muito a figura do sábio ancião,
a cultura ocidental e a mídia desvalorizam a senescência e es-
timulam os idosos a se comportarem tal como jovens.

Mas por que tudo isso tem que ocorrer? A existência universal
possui muitas fases de transformação. A vida como a conhe-
cemos não é a vida total, a vida infinita. O que experimentamos
da vida é apenas uma ínfima parte do todo, um milionésimo
aspecto da existência universal. O homem precisa atravessar
inúmeros degraus na escala infinita de sua ascensão. O ser
humano passa da infância a adolescência, da adolescência a
fase adulta e desta para a velhice. O ano escolar passa do en-
sino fundamental ou ensino médio, do ensino médio à facul-
dade, da faculdade ao mercado de trabalho. Tudo em nossa
vida se organiza em fases, em ciclos que tem seu início, meio
e fim. O próprio envelhecimento é uma crise, é sempre um dei-
xar o antigo para dar lugar ao novo. Mas o novo nem sempre é
o antigo numa outra forma, o novo pode ser algo bem diferente
do que estamos acostumados. Toda a natureza funciona assim
e a evolução de nossa alma não poderia ser diferente. Não po-
demos permanecer parados num mesmo nível para sempre. É
preciso continuar caminhando, é preciso seguir em frente,
acompanhando a marcha do progresso espiritual. Por isso,
como dissemos, quando não desejamos ascender, a vida vem
tirar o nosso chão, a nossa base, para que sem a estabilidade
costumeira, nós aprendamos a voar com as “asas do espírito”.
É como se estivéssemos subindo uma escada e os degraus
mais baixos começam a se quebrar. Precisamos rapidamente
passar aos degraus mais altos para evitar a queda. No cosmos,
o único caminho possível é a subida, ou, por outro lado, a es-
tagnação no sofrimento. Cabe a cada um escolher…

Algumas pessoas podem ficar chateadas e revoltadas porque


elas mesmas estão vivendo uma crise de transformação, mas
outras pessoas do seu círculo parecem estar sempre bem no

228
mundo, com estabilidade, dinheiro e sem enfrentar grandes
problemas. No entanto, é certo que todos vão vivenciar as cri-
ses de transformação, pois elas são inexoráveis e fazem parte
da marcha incessante do progresso de nossa alma. Seria como
imaginar que um aluno pode passar de ano sem realizar algum
tipo de exame ou prova que demonstre sua capacidade para
ser aprovado no próximo ano letivo. Não… as provas existem
para nosso espírito… e são elas que nos impulsionam a seguir
ao próximo nível de desenvolvimento espiritual. Não importa
quanto tempo demore, todos, absolutamente todos serão obri-
gados a viver uma ou mais crises de transformação em suas
vidas. Se a pessoa não vive a crise na vida atual, terá que vive-
la nas próximas vidas. Não há como escapar disso.

Não devemos encarar a crise de transformação como sendo


algo ruim, mau, perverso, que vem para nos destruir. Ao con-
trário, ela vem nos libertar. Só não se liberta quem fica preso
ao comodismo, a estagnação. As transformações são como ter
que atravessar um rio… as correntes do rio nos empurram para
longe e nos afastam das margens e podem nos fazer bater em
pedras e nos machucar. Uma pessoa pode olhar para o rio e
dizer: “como você é mau, está me machucando, está impe-
dindo meu caminho, está prejudicando meu movimento, está
impedindo que eu fique estável nessa travessia”. Mas o rio não
é algo ruim em si mesmo. Ele simplesmente é o que é. Essa é
a sua natureza, que é a de fluir suas águas numa determinada
direção. Assim também são as provas que um aluno faz. A
prova é algo ruim em si mesma? Não… a prova nada mais é
do que um conjunto de perguntas, questões, que devem ser
respondidas. O aluno que faz a prova e não sabe as respostas,
pode sentir que a prova é ruim, má, negativa. O fato de não
saber responder as questões da prova pode leva-lo ao sofri-
mento. Mas na verdade não é a prova que é má… mas sim
nossa incapacidade de responder suas questões. O mesmo
ocorre com a crise de transformação. Ela não é má, ruim, per-
versa.. é apenas a manifestação do fluxo da vida nos empur-
rando para a outra margem, tal como o rio nos empurra para
uma direção. É ainda como os ventos que nos levam para uma
direção quando nosso desejo gostaria de ir a outra direção.
Esse contraste entre desejo de se permanecer parado e o em-
purrão que a vida nos dá para frente é o que cria o conflito que
gera o sofrimento.

229
As pessoas que passam por uma crise de transformação vão
da ilusão para algo mais real, mais verdadeiro e é justamente
essa a função da crise: nos transportar do limite para algo além
do limite. A quebra de limites e a entrada numa consciência
mais ampla, mais verdadeira, é o verdadeiro objetivo da crise
de transformação. Por exemplo, temos um relacionamento que
cria uma grande ilusão em nossa vida. Esse relacionamento,
obviamente, vai terminar, pois se o relacionamento cria uma
ilusão, e toda ilusão precisa ser rompida, o relacionamento,
que é parte da ilusão, precisa ter um fim. Se acreditamos numa
ideia falsa, numa crença sem base, numa teoria sem funda-
mento, isso se constitui como uma ilusão em nossa vida. Por
esse motivo, essa ideia, crença ou teoria deverá ser questio-
nada em algum momento pela realidade; ela será minada em
seus fundamentos até que possamos enxergar além dela, com-
preendendo sua insuficiência e podendo, finalmente, soltar-nos
da ilusão que ela representava em nossa vida. A descoberta
dos limites dessa ideia, crença ou teoria pode ser traumática
para muitos, pois estávamos acostumados a pensar naquela
ideia como verdadeira, como real… e ela era como um apoio
em nossas vidas. Mas quando seus limites se tornam evidentes
e não há mais como nega-los, rompemos essa ilusão – e uma
nova visão das coisas se abre – desvelando novos horizontes.
Assim, toda crise de transformação é um rompimento de limites
que criava uma ilusão em nossa vida. Por isso dissemos que
as crises são as destruições das ilusões… e essa destruição
força a transformação que nos conduzirá além dos limites an-
tes estabelecidos em nossa mente. Assim… vamos da ilusão
ao real, da ignorância à sabedoria, do profano ao sagrado, da
fragmentação à unidade, do caos ao cosmos. Como disse Je-
sus: “Tudo o que está oculto virá a ser revelado”. E também:
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

Nossa sociedade sempre busca afastar o sofrimento e fingir


que ele não existe. O ideal seria permitir que as pessoas vivam
seu sofrimento, seu luto, sua dor, suas carências, ao invés de
criar uma série de formas de preenchimentos ilusórios que nos
distanciam de nós mesmos. O sofrimento e as crises têm muito
a nos ensinar… e quando não os vivemos, ou simplesmente
procuramos esquece-los, ou fingimos que eles não existem, ou
buscamos subterfúgios quando tudo aperta, não aprendemos
com eles as profundas verdades sobre nós mesmos.

230
Quando refletimos sobre a natureza das crises de transforma-
ção percebemos que elas revelam a própria natureza do uni-
verso, do cosmos… Não poderia ser diferente, pois tudo no
cosmos muda, tudo se transforma, nada que é agora será para
sempre. A única coisa que não muda é a própria mudança. A
evolução das espécies se processou da ameba a um orga-
nismo muito mais complexo e inteligente, que é o ser humano.
O mesmo deve ocorrer com nossa alma, que vai dos patama-
res mais primitivos até alcançar os planos superiores do ser.
Vamos do ser humanizado ao ser espiritualizado, do átomo ao
arcanjo, do finito ao infinito, do tempo para a eternidade, da
escuridão para a luz, da ameba ao espírito purificado, da poça
no chão a inesgotável fonte da vida.

231
O OUTRO ME FEZ MAL

“O outro me bateu.”
“O outro me ofendeu.”
“O outro roubou meu emprego.”
“O outro me traiu.”
“O outro me enganou.”
Muitas pessoas proclamam frases como essa para se
fazerem de vítimas, para justificar certas atitudes, para
realizar vinganças, para explicar sua depressão, para definir
seu ódio ou mágoa dos outros ou simplesmente para
permanecerem na inércia diante da vida.
No entanto, todos precisam compreender que,
verdadeiramente, não importa o que os outros fazem…
O que as outras pessoas fazem conosco não tem a menor
importância para a verdade ou para nossa obra na Terra.
O que importa, de verdade, é exatamente o que nós fazemos
a partir daquilo que fizeram conosco.
Todos precisam compreender isso…
Quando chegarmos ao plano espiritual e nos depararmos com
nossa obra nessa encarnação, não vamos ser cobrados pelo
que os outros fizeram a nós…
Vamos, isso sim, ser cobrados pelo que nós fizemos a partir
de tudo o que foi criado em nossa vida.
Há uma frase do filósofo Sartre que diz assim:
“Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que
você faz com aquilo que fizeram com você.”
Na vida espiritual, essa máxima é muito verdadeira e
praticamente define quem somos, nossa maturidade
espiritual, nosso caráter e nossa vida a partir de então.
Pare de se preocupar com o outro… Deixe o outro ser o que
ele quiser. Preocupe-se, a partir de agora, com você mesmo.
Uma preocupação excessiva com as atitudes das pessoas
pode sinalizar um desejo de fuga e defesa de nós mesmos e
nossa responsabilidade.
Muitas pessoas ficam olhando muito para fora… porque não
desejam olhar para dentro.
O mal só vai continuar sendo mal se você o encarar como
mal. Só vai te destruir… se você permitir. Só vai te abalar…
se você deixar.
A verdade é que…
Quem controla o que sentimos somos nós, não é o outro.
Quem controla o que fazemos somos nós, não é o outro.

232
Quem controla o que somos e o que desejamos ser somos
nós, não é o outro.
A reação positiva diante de ações negativas também faz parte
de nossa semeadura.
Plantamos o bem com nossas ações e reações, e recebemos
o mesmo bem que foi semeado.
Nossa obra é feita a partir de como nós agimos e reagimos ao
que nos ocorreu e não a partir do que os outros fizeram
conosco.
Nossa reação as ações alheias pode anular o mal que nos
fizeram, ou pode, por outro lado, alimentar esse mesmo mal.
Por isso, compreenda que tudo depende da forma como você
reage, como você se posiciona, como você sente, como você
retribui e como você dá significado ao que lhe ocorreu.
Você pode escolher a reação agressiva ou a reação tranquila
e desprendida.
Tudo isso, só depende de você… Não depende do outro,
depende de como você encara a vida e vê o próximo.
Deixe o outro ser o que ele é e não se preocupe com a ação
dele.
Diminua a importância que as ações do outro têm em sua
vida e aumente o valor dado a sua própria reação diante do o
outro faz.
Transforme o mal em bem… Transforme o ódio em amor…
transforme a confusão em paz… e fique com o bem, o amor
em você.
Deixe que o outro fique com o mal que ele mesmo criou, se
essa for a escolha dele.
Preocupe-se em como você vai reagir, em como você vai ser
e fazer daqui em diante.
Ninguém te faz nada… pois sua vida é definida na medida
exata de como você reage ao mundo.
O mundo é o que é… não adianta ficar reclamando do mal e
nem tentando mudar o que não quer ser mudado.
Quando o ser humano parar de dar tanto valor ao que os
outros fazem e passar a olhar para suas próprias atitudes e
para a sua vida…
A felicidade e a liberdade serão muito mais simples e
presentes em sua existência.

233
COLOQUE-SE ACIMA DAS COISAS

É certo que estamos nesse mundo apenas temporariamente.


Então, para que dar tanto valor e importância aos problemas,
as coisas e as situações que vivemos?
Daqui a pouco tudo isso acaba…pode ser antes mesmo do
que pensamos.
Vamos morrer, para depois retornar à vida eterna do espírito.
Por isso, procure viver plenamente, sendo uma luz para
outras pessoas, sem se importar com conforto, sem se
apegar a nada.
Seja desprendido e livre…
Não dê importância demasiada as coisas.
Quanto tempo você já perdeu na vida dando valor a coisas
que não tinham valor?
Quanto tempo perdeu com preocupações vãs e sem sentido?
Quanto tempo você já perdeu vivendo a vida de outras
pessoas ao invés de viver a sua?
Quanto tempo já perdeu esperando alguém que não vai
voltar?
Quanto tempo você perdeu remoendo problemas que tinham
ou não solução?
Quanto tempo você perdeu sofrendo por coisas que hoje você
percebe que não tinham nenhuma importância?
Para que dar tanto poder as coisas e pessoas?
Tudo passa… estamos aqui apenas por espaço mínimo de
tempo.
Depois tudo termina e deixamos nossa vida escorrer por
nossos dedos, tentando segurar coisas que não podem ser
capturadas.
Procure se colocar acima das brigas, das ofensas, das
perdas, da morte, das confusões, do barulho.
Colocar-se acima das coisas e pessoas não é sentir-se
melhor e superior, mas ter humildade e não se deixar
envolver e amarrar pelos pequenos conflitos da existência
material.
Se uma pessoa quer impor a vontade dela, deixe ela…. a
briga dela é com ela mesma, não com você.
Se uma pessoa quer ser melhor do que você, deixe ela se
iludir que é melhor.
Se uma pessoa quer te destruir, te humilhar, te ofender, te
agredir, te enganar… não se envolva, não se deixe influenciar
por isso.

234
Esteja acima desses probleminhas humanos, dessas
pequenas contrariedades que nada acrescentam.
Para que perder energia com tudo isso?
Esteja sempre num nível além, sem se importar com as
miudezas da vida.
Nossa essência não pode ser aprisionada pelas demandas,
misérias e pelos limites desse mundo.
Somos infinitamente mais vastos, transcendentes e livres de
tudo…
Há um reservatório inesgotável de bençãos espirituais, de
felicidade e paz esperando por todos aqueles que não brigam
pelas coisas do mundo… e que tem a coragem de se
desfazer do pequeno, para aderir ao infinito e ao eterno.
Por isso, viva doando a si mesmo para a obra do infinito na
Terra.
Só isso vale a pena…

235
HOJE É O DIA

Só existe um dia…. hoje.


Todos os dias são hoje.
Não existe amanhã… nem existe ontem.
O ontem foi hoje quando era dia.
E o amanhã será hoje quando chegar.
Só é possível viver o hoje, pois só existe o hoje.
O sol nasce todos os dias… e sempre que o sol nasce é hoje.
O sol nunca nasceu no amanhã, nem nunca nascerá no
ontem.
Hoje é o único dia que existe… e o agora é o único momento
que há.
Não é o ontem que cria o hoje… é o hoje que cria o ontem.
Pois quando algo foi ontem, era sempre hoje.
O hoje foi ao longo do tempo criando o chamamos de ontem,
o que lembramos como sendo o ontem. Todas as lembranças
do que realizamos no ontem, realizamos quando era hoje.
É só o presente que cria tudo o que existe e tudo o que
conservamos na memória.
Quando pensamos no amanhã, estamos no hoje.
Quando lembramos do ontem… estamos no hoje.
Ninguém pode viver o amanhã, pois quando chega o
amanhã… já é hoje.
Ninguém pode viver o ontem, pois quando vivemos o ontem…
era hoje.
Só existe o hoje como dia a ser vivido… e só existe o agora
como momento a ser experimentado.
Você não fará nada amanhã… você só faz hoje, só pode
fazer hoje.
O amanhã, claro… será hoje.
Ninguém nunca fez nada ontem… o ontem foi hoje quando
existiu. Ninguém pode fugir do hoje.
A vida só se vive hoje…
Por isso, deixe de lado o amanhã… deixe de lado o ontem.
As pessoas vivem se preocupando com o amanhã e com o
ontem… e esquecem de viver tudo o que existe, que é o hoje.
Hoje é o único dia que existe.
Existe um conhecido ditado popular que diz assim:
“O amanhã a Deus pertence.”
No entanto, o mais correto é dizer:
O Hoje pertence a Deus… o amanhã pertence apenas às
idealizações criadas pela nossa mente.

236
O tempo de Deus é hoje. O ser humano é que dá poder ao
ontem e ao amanhã.
Deus não criou todas as coisas ontem. Deus cria e dá vida a
todo momento.
É hoje que existe a vida… é hoje que a vitalidade jorra em
você e através de você.
O hoje é cheio de vida, de oportunidades, de possibilidades,
de calor, de movimento, de novidade.
O ontem e o amanhã são mortos, são estagnados, são
vazios, são inexistentes de possibilidades e oportunidades.
Alguém já conseguiu fazer alguma coisa amanhã? Não… só
fazemos hoje, pois o que chamamos de amanhã, será o hoje.
O mesmo vale para o ontem.
É no hoje que se vive…
Há pessoas que preferem viver no ontem, lembrando sempre
do que fizeram ou do que não fizeram.
Há outras pessoas que preferem viver no amanhã, pensando
sempre no que podem fazer e no que não devem fazer.
Quem vive no ontem e no amanhã, simplesmente não vive…
Apenas vegeta e perece em ideações de certo e errado, de
bom e mau e, com isso, acaba perdendo sua vida.
A vida se constrói e se destrói no hoje, se faz ou se desfaz no
hoje, é vivida ou não é vivida no hoje.
Você só pode fazer algo hoje e você só pode experimentar
algo no agora.
Agradeça as bênçãos do hoje… viva o hoje… deixe o hoje
fluir em você.
O sol do hoje nasce agora em sua vida, bem no momento em
que você deixa de viver no ontem e deixa de viver no
amanhã.
Hoje é o grande dia. É o único dia. É o dia por excelência.
Hoje você está aqui… e você vive.
Abra as janelas de sua existência e sinta a brisa da vitalidade
do hoje fluindo em você.
Sinta a graça… sinta a animação… sinta o entusiasmo…
sinta o infinito no hoje.
E sinta, nesse momento, a alegria de viver do hoje em sua
existência.

237
NASCIMENTO E MORTE

Quando uma pessoa nasce no mundo material, ela deixa no


mundo espiritual seus amigos e irmãos de alma. Esses espíri-
tos sentem muita saudade de seu afeto que partiu numa nova
e grande jornada dentro do reino da matéria.

No entanto, o nascimento de uma criança no mundo é motivo


de imensa alegria para a maioria das pessoas. Todos parabe-
nizam a mãe e o pai de um bebê que veio ao mundo.

O mesmo ocorre na morte do corpo físico. Quando alguém que


muito amamos se despede da Terra e vai ao plano espiritual,
muitas lágrimas são derramadas, muito sofrimento é gerado…
e muita saudade fica entre parentes e amigos após a sua par-
tida.

No entanto, para as almas simpáticas que o aguardam no plano


espiritual e que integram a família espiritual daquele que re-
gressou ao lar cósmico, esta chegada é motivo de imensa ale-
gria e festa. O espírito que partiu há muitos anos ou décadas
numa jornada material agora pode rever sua família de almas,
todos os espíritos que o conhecem e o amam. Todos se ale-
gram e lhes dão as boas-vindas pelo feliz retorno à pátria espi-
ritual.

Diante destes fatos, podemos questionar:

Por que o nascimento é momento de alegria e a morte é mo-


mento de tristeza?

E por que o nascimento é momento de tristeza e saudade no


plano espiritual e morte é momento de alegria e reencontro?
Ambos são momentos diferentes, etapas distintas da grande
cadeia do ser, que vai do nascimento à morte e da vida espiri-
tual até seu retorno à vida material. Esse ciclo da alma se re-
pete incessantemente, até que o espírito vá se depurando, se
aprimorando, tomando ciência e adquirindo pureza, desenvol-
vendo a asa da sabedoria e a asa da humildade e moralidade.
Cada fase no ciclo da alma deixa algo para trás, mas ao mesmo
tempo inicia uma nova jornada de algo inédito, cheio de frescor
e novidade.

238
Se as leis naturais funcionam assim… qual o motivo da tristeza
e da alegria em estar perto ou longe daquele que partiu numa
nova peregrinação entre dois mundos?

Para aqueles que ficaram no plano espiritual o nascimento de


uma alma na matéria é, para eles, uma espécie de morte. A
morte material é igualmente um nascimento para os espíritos,
pois a alma regressou à pátria espiritual, como que nascida da
matéria que há tanto podava sua percepção e sua verdadeira
vida. Assim, todo nascimento é uma morte… e toda morte é
sempre um novo nascimento. Nada se perde, nada se desfaz,
nada se cria e todas as coisas sempre se renovam e renas-
cem… tanto nos ciclos da natureza quanto nos ciclos de nossa
alma.

Não sofra… pois que todos vivem. A vida é verdadeiramente


eterna… mas ela ocorre em ciclos onde existe o início e o fim
de novas jornadas, novos mundos, novas perspectivas que se
abrem ao espírito que caminha pela eternidade.

Vida e morte são duas faces da mesma moeda, assim como


perda e ganho, início e fim, chegada e partida, movimento e
repouso. Tudo flui e tudo se harmoniza na perfeição divina.

239
O PIOR E O MELHOR

Às vezes é preciso passar pelo pior para poder chegar ao


melhor.
É preciso viver o mal por um tempo para depois poder chegar
ao bem.
É no momento de maior duração da noite que o dia nasce em
seguida.
Quem atravessa o túnel precisa chegar na metade do túnel,
no ponto de maior escuridão, para só então ver a luz no
fundo.
Como dizem os Upanishads:
“Do irreal, conduz-me ao real.
Das trevas, conduz-me à luz.
Da morte, conduz-me à imortalidade”.
É passando pelo momento de maior desespero que nasce a
semente da esperança em cada um.
Às vezes uma coisa precisa piorar muito para só depois
começar a melhorar, a se reformar, a se desenvolver.
É preciso que a pior tempestade se manifeste sobre nós para
que somente depois venha a tranquilidade de uma maré
constante e inabalável.
É necessário atravessar a intensa correnteza do rio para se
chegar ao outro lado. Precisamos estudar exaustivamente,
fazer a prova mais difícil, a fim de ser aprovado no melhor
concurso público.
Como disse Jesus: Os últimos serão os primeiros. Os piores
no Reino da terra serão os melhores no reino dos céus.
O mestre dizia que quem passou pelo mais baixo no mundo
será o mais alto no reino do infinito.
Isso porque não existe melhora sem piora; não existe ordem
sem um caos anterior; não existe vida sem a morte; não
existe luz sem que antes seja necessário atravessar as
trevas.
“É morrendo que se vive para a vida eterna” disse São
Francisco de Assis.
Todos querem viver eternamente, mas ninguém quer morrer
para o transitório.
Todos querem viver na luz, mas não querem passar pela
escuridão.
Todos querem ganhar algo maior, mas não aceitam largar
algo menor.
Querem tudo, mas não aceitam abrir mão de nada.

240
É justamente perdendo tudo e passando a não ter nada, que
encontramos o ser pleno e universal dentro desse vazio.
Quando não sobra nada é justamente o momento em que
podemos reconstruir tudo.
No entanto, quem se prende ao pior, pode não chegar ao
melhor.
Quem fica perdido na escuridão da noite pode não ver o dia
raiar.
Quem perde e fica ligado a dor da perda não percebe o que
pode ganhar em seguida.
Não tema a escuridão… ela é sua passagem para a luz.
Não tema o mal… é o portal para chegar ao bem.
Não tema o sofrimento… é a purificação necessária para se
atingir a pureza e a plenitude do ser.

241
A EQUANIMIDADE

A melhor postura que devemos ter na vida é, sem dúvida, a


da equanimidade.
Esta é a virtude que nos ajuda a passar bem pelas
contrariedades da existência humana.
Quem é equânime consegue ser feliz tanto na tempestade e
quanto na bonança.
Consegue ter paz de espírito tanto no ganho quanto na perda.
Consegue o bem estar tanto na riqueza quanto na pobreza.
Aquele que é equânime pensa: Se ganhei, ótimo, se perdi,
ótimo também.
Se eu consegui, tudo bem, se não consegui, tudo bem
também.
Ser equânime é estar bem tanto no caos quanto na ordem.
É aquele que agradece tanto os bons e quanto os maus
momentos…
Aquele que é feliz tendo muito ou tendo pouco; é manso na
vitória e também na derrota.
Como disse Buda: “Aquele que vive em paz é feliz, pois não
sonha nem com vitória, nem com derrota”.
Esse é o sábio… aquele que se liberta das oscilações da
vida, da variação dos opostos.
Este não é afetado pela mudança das marés; pela alternância
das estações; pelo giro da roda da vida.
Dessa forma, experimentamos a tempestade sem ficar
sofrendo para ter a bonança.
Experimentamos as vacas magras sem cobiçar o retorno da
abundância e sem sofrer quando esta não vem.
O homem comum é assim: quando está no calor, ele quer o
frio… e quando está no frio, ele quer o calor.
Ele trabalha na segunda esperando a sexta feira e no
domingo fica deprimido porque está chegando segunda.
Mas quem consegue ser feliz na segunda e na sexta feira, no
calor e no frio, de um lado e do outro.
Esse não se deixa abalar pela inversão dos opostos e vive
muito melhor.
Se você só fica feliz quando a maré está alta, vai sempre
sofrer quando a maré baixar.
Se você só fica feliz em dias de sol, vai ficar sempre
deprimido em dias de chuva.
Por isso, é preciso ser indiferente às oscilações; é necessário
cultivar a neutralidade e a impassibilidade diante do balanço

242
da existência.
Ninguém está melhor por estar no claro ou não escuro, posto
que é o escuro que dá existência ao claro.
Ninguém está melhor por estar rico do que pobre, posto que é
na pobreza onde aprendemos o valor do ser ao invés do ter.
Ninguém está melhor no ganho e pior na perda, posto que é
somente na perda onde passamos a dar valor ao que tem
valor.
Aqueles que buscam sempre o melhor para si mal sabem que
o melhor é conseguir a paz mesmo quando estamos pior.
Aqueles que buscam sempre o prazer não desconfiam que
antes precisam aprender a serem felizes na dor.
Enquanto o homem buscar o bom e negar o mau; buscar a
vida e rejeitar a morte; buscar o positivo e evitar o negativo.
Ele nunca terá a paz que sempre desejou.
No entanto, quando paramos de buscar o bom e não mais
lutamos contra o mal… tudo se harmoniza naturalmente.
Quando paramos de buscar a luz e extirpar as trevas… tudo
se ilumina naturalmente.
Quando paramos de desejar apenas a vida e deixamos de
negar a morte… esse é o momento em que atingimos a
imortalidade.
Por isso não devemos desejar prosperidade a ninguém, mas
sim que a pessoa seja feliz na riqueza ou na pobreza, que
tenha alegria de viver na tempestade ou na bonança, fique
bem no emprego ou no desemprego, que cultive a paz interior
no sucesso ou no fracasso.
Quem consegue esse equilíbrio, interrompe em definitivo seu
ciclo de sofrimento e se liberta de todos os males do mundo.
Nesse estado, ele atinge a felicidade que tanto sonhou…
E esta, claro, é uma felicidade que nada nesse mundo pode
nos tirar…

243
ESTAMOS AQUI DE PASSAGEM

Estamos neste mundo apenas de passagem.


Aqui existe apenas um caminho a ser atravessado, mas
nosso real objetivo não está aqui.
A Terra é apenas isso… um local de passagem.
Um campo de experiências aonde chegamos… e depois
vamos embora.
É um pequeno trecho de uma estrada quase infinita que nos
conduzirá a um destino.
Esse destino não poderia ser outro senão a eternidade…
Como diz a máxima de sabedoria:
“Nascemos sem trazer nada, morremos sem levar nada.
E no meio brigamos por algo que não trouxemos e não
levaremos.”
Nenhuma bagagem mundana trazemos a este mundo… e
tampouco nenhuma bagagem mundana levaremos daqui.
Não somos desse mundo… Apenas estamos nesse mundo e
estamos somente passando por aqui.
No entanto, muitos se esquecem de que o mundo é um lugar
de passagem e querem se estabelecer aqui em definitivo.
Querem fazer do mundo a sua morada, fixar seus pilares na
Terra.
Esses confundem os meios com os fins. Querem fazer desse
mundo um fim, e não um meio de acesso a algo que vai
além… que é mais elevado.
A maioria das pessoas deseja construir imensos e suntuosos
castelos aqui neste mundo.
Deseja acampar aqui e permanecer eternamente.
Mas como tudo nesse mundo passa, como nada é
permanente… em breve somos obrigados a ir embora.
Precisamos vir a este local… estar aqui… manter-nos um
curto espaço de tempo… e logo depois nos despedir de tudo.
Chegamos aqui para logo depois sair…
Querer ficar nesse mundo é o mesmo que construir um
edifício de quarenta andares em cima de areia movediça.
Em breve a areia começa a ceder e o edifício de nossos
desejos e posses começa a ser tragado pela terra.
Alguns acabaram de chegar e já choram e se desesperam
com a previsão de irem embora.
Estes esquecem que há ainda um longo caminho a ser
percorrido…
Parar aqui é o mesmo que perecer, se estagnar… morrer.

244
As estradas do infinito caminho que leva a eternidade devem
ser atravessadas sem medo e sem apego.
Quem procura alicerçar no mundo sua morada definitiva está
se enganando seriamente e os frutos colhidos serão de dor,
sofrimento e amargura.
A vida humana é como uma ponte que nos leva de um ponto
a outro do caminho.
Querer cimentar aqui uma habitação perdurável é o mesmo
que construir um imenso castelo numa ponte.
Por acaso faz sentido construir um castelo numa ponte?
Não… pois a ponte é apenas um local de passagem.
O mesmo ocorre com a vida no mundo.
Trata-se apenas de um passadouro, uma trajeto, uma
estrada… e não do nosso verdadeiro objetivo

245
TUDO É PERFEIÇÃO

Tudo é perfeição. Nada está fora do lugar e tudo ocorre como


tem que acontecer.

Os espíritos superiores sempre enfatizam esse princípio. O uni-


verso não é imperfeito, como alguns afirmam. O cosmos é per-
feição e todos nós estamos dentro dessa perfeição. Não pode-
ria ser diferente… Como dissemos no texto “Deus e Perfeição”,
Deus, sendo pura perfeição, jamais poderia criar algo imper-
feito. Como seria possível o perfeito criar o imperfeito? Não é
possível… Tudo o que é gerado da perfeição é também, inega-
velmente, a perfeição. Deus, sendo perfeito, não pode fazer
algo errado… Não poderia jamais criar a imperfeição.

A perfeição não erra, não exclui, não permite injustiças, não


permite que algo ocorra que não era para ocorrer… A perfeição
só autoriza que o perfeito ocorra. Se algo está acontecendo na
sua vida, esse acontecimento é a manifestação de uma inteli-
gência infinita e perfeita para você. Nada ocorre conosco que
não deveria ocorrer, ou que deveria ser de outro modo. Por isso
dizemos que não há injustiça, pois como pode Deus, sendo
perfeito, aceitar que injustiças ocorram?

Dessa forma, tudo é absolutamente perfeito. Onde o ser hu-


mano vê algo errado, não é na verdade um erro… trata-se ape-
nas da forma equivocada e limitada com que as pessoas en-
xergam a vida. Nós somos ainda muito limitados, nossa visão
é ofuscada, embaçada, turbulenta… Por isso, não consegui-
mos ainda penetrar na essência das coisas para ver e sentir a
perfeição que existe em tudo. Cada coisa é preciosa e tem um
valor inestimável. Um grãozinho de areia no deserto é algo de
uma riqueza infinita, fonte de bençãos infinitas, pois Deus está
ali, assim como toda a perfeição cósmica está ali.

Como não podemos ver a perfeição, acreditamos que ela não


existe… e julgamos que muitas coisas em nossa vida estão er-
radas. Mas de fato nada há de errado em todo o cosmos, posto
que Deus é perfeito e não poderia nos deixar viver o que não
precisamos viver. Se algo ocorreu, é porque precisamos e me-
recemos aquela situação.

246
Tudo está perfeito… tudo ocorre com o consentimento de Deus
e Deus está ativo em todas as coisas. Deus é a essência que
move tudo e que faz com que tudo continue em seu devido
lugar. Deus é o motor primordial de toda a existência e é a
causa essencial de todas as coisas. Isso é impossível, mas se
por acaso algo saísse da ordem cósmica perfeita, todo o uni-
verso se destruiria, posto que cada coisa está ligada a todas as
outras e se um pequeno detalhe na criação desse algum erro,
por menor que seja, esse erro criaria uma reação em cadeia
que destruiria todo o universo. Mas claro que isso é impossí-
vel… pois se Deus é perfeição, como algo pode dar errado?
Como algo pode sair do lugar? Cada coisa está exatamente no
lugar que deveria estar… nada está fora de lugar nem nunca
estará. Assim, ninguém precisa temer coisa alguma, pois a per-
feição existe e é uma realidade eternamente presente na vida
de todos.

Tudo o que você fizer ao outro, está na verdade fazendo a si


próprio. Como você está conectado a tudo e tudo está conec-
tado a você, o que você faz, você faz para você mesmo. Se
você bate em alguém, está batendo em si mesmo; se você mal-
trata alguém, está maltratando a si mesmo; se você ofende al-
guém, está ofendendo a si mesmo. Além disso, se Deus é per-
feição e se Deus está em todas as coisas, o que você faz ao
outro, está fazendo também a Deus. Muitos não desconfiam
desse princípio, mas não poderia ser de outro modo. O que é
o outro senão Deus? Nada há que não seja Deus, pois Deus
está em tudo. Assim, qualquer ato que você pratique é a sua
comunicação direta com Deus.

Assim, vamos entender que tudo é perfeição… e que esse


mundo é abençoado, pois é o campo de experiências perfeito
em que todos nós devemos estar. Vamos abençoar a vida e as
pessoas, para que a vida nos abençoe de volta. Se você aben-
çoa todos os seres da criação, que são Deus, Deus também
vai abençoar você mesmo. Mas se você vira as costas para
Deus e começa a seguir em caminho individual, egoísta, pen-
sando apenas no seu bem-estar, na sua vitória, no seu su-
cesso, você se afastará de Deus e da perfeição da vida… e vai
sofrer com isso.

247
PROTEÇÃO DEMAIS ATRAPALHA

Quanto mais tentamos proteger uma pessoa… mais


desprotegida ela fica.
Quanto mais tentamos de todas as formas impedir que o mal
se abata sobre uma pessoa… mais trazemos o mal para perto
dela.
Quanto mais tentamos preservar alguém de tudo, mais
vulnerável essa pessoa fica.
Quanto mais tentamos tirar o espaço de alguém, mais
agressiva e revoltada essa pessoa fica.
O espaço do outro que ocupamos é o espaço que estava
reservado para ele crescer e se desenvolver por si mesmo.
A verdade é que não podemos proteger ninguém… pois cada
pessoa vai sempre passar pelas provas que precisa passar.
Seria como uma mãe tentar proteger o filho de não passar de
ano e, assim, deslocar-se até a escola para fazer a prova de
fim de ano pelo filho…
Nenhum professor permitiria tal atitude da mãe. Da mesma
forma, Deus também não permite que uma pessoa interfira
nas provas da outra… sempre dá algo errado.
Da mesma forma, cada espírito que vem a Terra tem certas
provações a atravessar, certas missões e tarefas a cumprir,
que não podem ser impedidas por ninguém.
Se a mãe fosse a escola e tentasse fazer a prova pelo aluno,
ela estaria impedindo que o aluno passasse de ano, que
galgasse à série seguinte
O mesmo ocorre com as almas na Terra…
Aqueles que tentam proteger o outro das provações, das
adversidades da vida, de todo tipo de expiações que essas
pessoas precisam passar, acabam boicotando a passagem
ou a ascensão dessa pessoa ao nível seguinte de sua
evolução espiritual.
Uma pessoa que desejamos proteger ara a terra, rega e
planta sementes de xuxu.
Na hora da colheita aparece alguém e troca o xuxu pela
maça, por ser a maça mais cara e mais fácil de vender.
A pergunta que se faz aqui é: se trocamos o xuxu pela maça,
como a pessoa vai aprender a plantar maça?
Na hora da colheita frustramos sua ação e não permitimos
que ela colha aquilo que semeou. Como essa pessoa poderia
aprender?
Estamos ajudando essa pessoa ou estamos mais

248
prejudicando que ajudando quando a preservamos retorno de
suas próprias escolhas?
Não adianta… em algum momento ela terá que colher o que
plantou e nada podemos fazer a esse respeito.
Acreditamos que estamos ajudando quando tentamos
preservar alguém de todas as formas, mas podemos estar
complicando mais ainda.
Não só atrapalhando a pessoa, mas dificultando nossa
própria caminhada.
Aquele que tenta pegar para si o karma do outro está
assumindo um compromisso que depois não poderá ser
cumprido.
Portanto, não se engane: essa tentativa de controle do
destino do outro vai mais prejudica-lo do que ajuda-lo, nunca
dá certo.
É preciso deixar que cada pessoa siga seu próprio caminho,
sem nossa interferência. Podemos dar um auxílio quando
necessário, mas sem carregar o outro no colo.
Cada pessoa deve seguir seu próprio caminho, andando com
suas próprias pernas e investindo seu próprio esforço na
jornada.
O resultado de pegar o outro no colo será, irremediavelmente,
um prejuízo imenso para ambos.
O peso do outro, junto com seu próprio peso, fará os dois
afundarem na lama do sofrimento.

249
PRETO VELHO FOI EXPULSO DO CENTRO ESPÍRITA

Essa é uma história verdadeira. Ela de fato aconteceu em um


centro espírita de uma pequena cidade do estado de Minas Ge-
rais, há algum tempo atrás.

Conta-se que os médiuns estavam realizando seus trabalhos


de esclarecimento e doutrinação num centro espírita do estado
de Minas Gerais. Subitamente um preto velho incorporou numa
médium e começou a falar. No momento em que os trabalha-
dores perceberam que o espírito incorporado era um preto ve-
lho, mandaram suspender a incorporação. Nesse centro não
eram aceitos pretos velhos, pois os dirigentes consideravam
que os pretos velhos são espíritos não muito evoluídos. Por
isso, ele não poderia ser admitido a orientar uma atividade de
doutrinação. O espírito foi então convidado a se retirar do cen-
tro. O preto velho fez o que eles pediram e foi embora.

Logo depois, a médium incorporou um espírito de um filósofo,


um doutor de nome difícil, provavelmente europeu, que foi
muito bem recebido por todos os presentes. O filósofo deu ins-
truções aos membros do centro, fez os trabalhos de doutrina-
ção e todos ficaram felizes e maravilhados com a intervenção
desse espírito, que consideraram um espírito muito elevado.

Os dirigentes então resolveram que já era hora de encerrar os


trabalhos. No entanto, a médium novamente começou a incor-
porar um espírito. Todos olharam com interesse aquela mani-
festação mediúnica espontânea. Um dos trabalhadores disse
que as atividades do dia já estavam terminando e perguntou
quem estava ali. O espírito respondeu que era de novo o preto
velho. O dirigente fez cara de tédio e perguntou o que ele ainda
queria ali nos trabalhos do centro. O preto velho então disse:

– Zifio… Ce suncê mi permiti, só quiria que ocês sobessem qui


o dotô que apareceu agora há poquinho era este preto velho
aqui, que agora proseia com vosmicês.

Todos ficaram espantados com a revelação… O preto velho


então começou a não mais falar como um preto velho:

– É engraçado isso, meus irmãos, pois quando eu apareci


como preto velho, fui praticamente expulso dos trabalhos de

250
vocês. Mas depois quando eu apareci no formato de um doutor,
um filósofo europeu prestigiado, que tem conhecimento acadê-
mico, com toda a pompa e com ar de autoridade, todos me tra-
taram muito bem, ouviram meus conselhos e ficaram felizes e
maravilhados com a aparição. Por que isso, meus filhos? Devo
alerta-los para esse comportamento de vocês. Prestem muita
atenção nisso, meus irmãos…

No plano espiritual, assim como em toda a realidade universal,


não existem aparências. As aparências existem apenas aqui
na Terra. Deus, em sua sabedoria infinita, oculta aos vossos
olhos as verdades do espírito camufladas pelas aparências do
mundo… para que vocês aprendam a vê-las com os olhos do
coração, com a visão da alma e possam enxergar a verdade
como ela é. No plano espiritual, meus irmãos, não existem dou-
tores, não existem classes sociais, não existem nacionalida-
des, não existem religiões, não existem raças, não existem es-
sas divisões humanas que vocês criaram em toda parte para
poderem se sentir melhores uns que os outros. No plano espi-
ritual o que vale é o que você é lá no fundo, e não o que você
tem.

Não, meus irmãos… todas essas divisões são ilusórias. No


plano espiritual o que vale é o amor, a verdade, a paz, a har-
monia interior. No plano espiritual ninguém é julgado por ser
rico ou pobre, branco ou negro, doutor ou uma pessoa simples.
Lembram-se do que disse o nazareno sobre isso meus irmãos?
O mestre disse: “Deus revela aos simples de coração aquilo
que esconde dos doutos”.

Quando cada um de vocês chegar ao plano espiritual, meus


filhos, os anjos de Deus não vão perguntar quantos títulos de
doutor vocês conquistaram, quantos bens vocês acumularam,
quanto sucesso vocês fizeram, quantos altos cargos vocês su-
biram na empresa ou quanto de boa fama vocês projetaram.
Não meus queridos filhos… os anjos vão perguntar quanta luz
você espalhou pela Terra; quanto você tocou o coração dos
outros com justiça e benevolência e o quanto a sua obra foi
pautada no amor e na paz… ou se sua passagem na Terra foi
apenas um capricho do ego, voltada apenas para seu mundi-
nho egoísta e para os prazeres da matéria.

251
Vamos tomar cuidado, meus queridos filhos, com o veneno da
hipocrisia e do preconceito. Não permitam que as aparências
do mundo roubem a sua essência. O importante, meus filhos,
é o que cada um traz em sua alma, em seu espírito. O que
importa de verdade é ser simples e verdadeiro… ser honesto e
ter caráter, ser caridoso e ter o amor de Deus no coração. Não
se deixem levar pelas aparências, todas elas estão erradas e
vemos isso muito claramente quando chegamos ao plano es-
piritual. Lá, meus filhos, não existem discriminações, todos tra-
balham por Deus e Deus é a essência regente tudo. É isso que
vocês devem buscar a partir de agora, meus queridos filhos.

O preto velho despediu-se de todos e então deixou a sala de


atendimento do centro espírita. Os trabalhadores ficaram en-
vergonhados com seu próprio comportamento, mas adquiriram
uma pérola de sabedoria que nunca mais, em toda a sua vida,
seria esquecida.

252
VALORIZE O QUE VOCÊ TEM

Não tenho tudo o que eu gostaria, mas sou feliz com aquilo
que tenho.
Não tenho a beleza física dos meus sonhos, mas sou feliz
com a aparência que Deus me deu.
Não tenho todos os amigos que eu gostaria… mas estou feliz
com os poucos e bons amigos que eu possuo.
Não tenho o emprego dos meus sonhos, mas estou satisfeito
com meu trabalho e agradeço o pouco que me sustenta.
Não tenho todas as coisas que eu gostaria, mas o que possuo
é o suficiente para viver.
Sou feliz por ter pouco e o pouco ser o suficiente.
Não tenho conhecimento sobre todas as coisas, mas procuro
me manter aberto a aprender sempre. Procuro passar minha
experiência de vida a outros para ajuda-los.
Sou como sou… sou simples… sou satisfeito com o que
tenho. Não quero ter mais do que o necessário. Não preciso
de muito para viver bem…
Valorizo aquilo que tenho, ao invés de ficar sofrendo pelo que
não tenho.
Estou satisfeito com o possuo… ao invés de ficar ansiando e
chorando pelo que não posso ter.
Quando valorizamos aquilo que temos… somos felizes e
ficamos bem.
Mas quando insistimos em desejar ter mais e mais, sofremos
pelo que não possuímos… e desvalorizamos aquilo que Deus
nos deu.
Seja, pois, feliz com tudo o que você tem. Não queira abraçar
o mundo. Não deseje mais do que o necessário.
Quem tem pouco e mesmo assim é feliz, está melhor do que
aquele que mesmo tendo muito… está vazio e infeliz.
O que pode ser mais importante do que ter a felicidade em
nossa alma?
O que tem mais valor do que ser feliz e sorrir para as coisas
simples da vida?
O que é mais essencial em nossa vida do que contemplar a
simplicidade, sentir a brisa batendo em nosso rosto e sentir a
paz profunda e uma suave leveza em nossa alma?
Aquele que vive carregando o peso dos desejos não
satisfeitos, das realizações não supridas, dos sonhos não
conquistados… esse vive aprisionado, carrancudo, vazio,
fatigado e infeliz.

253
Como diz a sabedoria popular:
“Não tenho tudo o que amo… mas amo tudo o que tenho.”
Viva de forma simples… e valorize o que você tem e o que
você é… Aprenda a retirar a alegria de viver das coisas
simples da vida.
Ao invés de ficar sofrendo pelo que você não tem…
experimente, a partir de agora, ser feliz com o que você tem.
Sinta a alegria de viver caminhando pela rua…
Sinta a alegria de viver deitando em sua cama…
Sinta a alegria de viver olhando o céu…
Sinta a alegria de viver abraçando uma pessoa…
Sinta a alegria de viver lendo um livro…
Sinta a alegria de viver sentado no banco da praça num
domingo de manhã observando as pessoas…
Sinta a alegria de viver contemplando o entardecer na
cidade…
Sinta a alegria de viver abençoando a vida e abençoando
todas as pessoas.
Quando você abençoa a vida e abençoa o que você tem… a
vida também te abençoa.
Abençoe, portanto, tudo o que você tem e o que você é…
Não se esqueça de sempre agradecer a Deus as dádivas
concedidas…
Seja feliz agora, nesse momento… independente de ter isso
ou aquilo.

254
PADRÕES QUE SE REPETEM NA VIDA

Por que existem muitas situações de nossa vida que se


repetem?
Elas não apenas se repetem, como a repetição pode nos
gerar muito sofrimento.
Nosso caminho parece estar bloqueado e quase sempre os
mesmos acontecimentos se sucedem.
Por que existe essa reedição das circunstâncias? Por que
certos padrões de experiências insistem em aparecer diante
de nós?
As circunstâncias que se repetem são sempre uma maneira
encontrada pela sabedoria infinita da vida para nos testar.
Com essa repetição, somos impelidos a despertar certas
virtudes interiores imprescindíveis ao nosso desenvolvimento
espiritual e a nossa felicidade.
As experiências que se reeditam, os padrões de vivências
que insistem em aparecer, as situações similares que
constantemente ocorrem conosco…
Todos estes cenários nos forçam a encontrar o
despojamento, a pureza e as faculdades mais profundas que
estão adormecidas da alma humana.
Aquele que se vê colocado quase sempre em situações que
demoram a passar, como filas longas, esperas infindáveis e
outras situações semelhantes que vão se sucedendo ao longo
dos anos ou décadas… esse pode estar sendo testados para
desenvolver a sua paciência.
Aquele que se vê colocado quase sempre em situações onde
é muitas vezes ofendido, vilipendiado, achincalhado ao longo
da vida… esse pode estar sendo chamado ao exercício de
sua tolerância para com os erros do próximo.
Aquele que se vê inserido quase sempre numa conjuntura de
caos, brigas e confusões que vão se repetindo… esse pode
estar sendo estimulado a despertar sua paz interior mesmo
diante da desordem.
Aquele que se encontra imerso num cenário desesperador,
onde tudo foi perdido e nada mais nos resta… esse pode
estar sendo chamado a despertar sua fé mais profunda.
Aquele que experimenta quase sempre muitas barreiras na
vida, bloqueios que se repetem e que o deixam cansado e
fatigado de tudo… esse pode estar sendo instigado a
desenvolver a sua força interior.
Aquele que frequentemente se vê em contextos de graves

255
perdas materiais, com miséria, fome, escassez, falta,
carências e privações… esse pode estar sendo forçado ao
desapego.
Aquele que se percebe convivendo com pessoas que o
agridem, que o golpeiam, que o querem atingir… esse pode
estar sendo estimulado a desenvolver sua flexibilidade e
esquivar-se dos choques.
Aquele que é atraído a relacionamentos onde é regularmente
magoado, ferido, decepcionado, desapontado… esse pode
estar sendo forçado a não guardar ressentimento e a
aprender o valor do perdão.
Assim, esse constante retorno nos permite despertar nossos
valores mais profundos; fazer aflorar os princípios primordiais
e eternos da alma.
A inteligência universal continuará repetindo essas
experiências até que você aprenda com elas e desperte seu
potencial interior espiritual.

256
JULGAR O OUTRO

Um dos maiores males que existe na sociedade humana é,


sem dúvida, a atitude de se julgar uns aos outros.
Alguns julgam as pessoas pelas aparências… Outros julgam
pela cultura… outros julgam pela cor da pele…
Há aquele que julga pela quantidade de bens e dinheiro que
possuem… esses são muito numerosos.
Há ainda aqueles que julgam pelo comportamento, pelo grau
de instrução ou pela religião…
No entanto, é certo que julgar uma pessoa é uma forma de
impor um limite que não existe.
Julgar nada mais é do que limitar. Julgar é rotular… e rotular
é definir aquilo que não pode ser definido.
O julgamento está sempre errado… posto que o julgamento
só vê uma parcela ínfima da realidade.
Todo julgamento é forma de preguiça mental, porque julgar é
muito mais fácil do que pensar e refletir sobre algo ou alguém.
Pensar dá muito trabalho, colocar-se no lugar do outro é algo
complicado e profundo. Por isso a maioria prefere ficar na
superfície e julgar, ao invés de que tentar compreender.
As pessoas sempre são muito mais do que pensamos, muito
mais do que podemos imaginar.
Como disse Dante: “Quem és tu que queres julgar, com vista
que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?”
Por isso, não julgue, não rotule, não condene jamais alguém.
O limite não está no outro, não está fora de você… o limite
está na pequenez, na miudeza ou na insuficiência de tua
própria visão.
Não conhecemos o passado dessa pessoa, suas misérias,
seus traumas, seus sofrimentos, suas angústias. Não
conhecemos as dores mais profundas de sua alma…
Por outro lado, julgamos o outro de acordo com o que somos.
Julgamos pelos nossos valores, pelos nossos traumas, pelos
nossos preconceitos, pela nossa cultura, pela nossa
educação.
Projetamos no outro nossos medos, nossas angústias e
nossas imperfeições… assim, fugimos da depuração de
nossas próprias moléstias interiores.
Assim, vemos o mal no outro para não ter que enxerga-lo em
nós mesmos.
O julgamento que você faz sobre o outro diz mais sobre você
do que sobre o julgado.

257
Já dizia Jesus: “Não julgueis para não serdes julgados, pois
com a medida com que julgares, também sereis julgados”.
A mesma regra que você usa pra julgar os outros… Deus vai
usar pra julgar você.
Somos tão exigentes com os outros e quase nada exigentes
conosco mesmos.
Aquele que julga muito os outros pode não querer olhar para
si mesmo.
Evitando a autoanálise, ele foge da resolução de suas
imperfeições.
É muito mais cômodo ver o erro fora de nós do que em nosso
interior.
Claro… podemos refletir sobre as atitudes alheias e
reconhecer o que desejamos ou não para nossa vida; o que
queremos ou não seguir.
Nada há de errado nisso…
Mas não podemos julgar o certo e o errado sobre isso… o
bem e o mal… as trevas e a luz.
Vale lembrar que não devemos julgar nem negativamente
nem positivamente.
É certo que julgar, exaltar, rotular, mesmo que seja para o
bem… também é julgar, também é rotular.
Julgamos alguém bom, decente, positivo, amoroso,
honesto…
E quando a pessoa se mostra tal como é, nos
decepcionamos, nos frustramos e sofremos com a desilusão.
Por isso, não julgue nem mesmo positivamente…
O julgamento positivo cria a expectativa… e a expectativa cria
desapontamento quando o que esperamos do outro não á
atendido.
É verdade que o julgador se coloca sempre em um patamar
acima…
E do alto de sua empáfia ele crê poder enxergar a verdade
sobre cada pessoa.
As experiências da vida, a maturidade e os tombos que
levamos sempre nos fazem cair na real e, assim, nos
tornarmos mais abertos e também mais humildes.
Afinal… quem somos nós para determinar o que cada pessoa
é ou não é? O que ela deveria fazer ou não fazer?
Somos mesmo tão especiais assim? Ou somos também
cheios de defeitos, talvez até mais do que os condenados por
nós?
“Que atire a primeira pedra aquele que não tem pecado” disse

258
Jesus.
Apontar os defeitos do outro não nos faz melhores do que
ninguém… se demonstra nossa pretensão de tudo saber.
É preciso compreender que a natureza desse mundo é
sempre de estados passageiros… e esses estados sempre
mudam.
Cada ser vive um estado agora e outro estado depois.
Dessa forma, as pessoas não são alguma coisa, mas sim elas
estão de algum jeito.
As pessoas não são isso ou aquilo… elas estão isso ou
aquilo.
Uma pessoa não é doente, ela está doente… uma pessoa
não é raivosa, ela está raivosa… assim como uma pessoa
não é desonesta… ela pode apenas estar desonesta.
Mas tudo isto é passageiro … e quem somos nós para
determinar isto?
Cada ser é um mundo… é um universo particular. O ser é
ilimitado… ninguém pode definir nada sobre ninguém.
As pessoas são infinitamente mais do que cada um de nós
supõem ou pode supor.
Nada há na Terra que seja definitivo e absoluto.
Olhe apenas para ti mesmo… e deixe o outro ser julgado pela
sua própria consciência.
Você já percorreu todo o caminho que o outro cruzou? Já
acompanhou seus passos durante todos os seus infortúnios?
Sabe tudo o que ele viveu em sua vida?
Quem lhe garante que, experimentando as mesmas
dificuldades, você não faria como ele?
Se você observar a si mesmo, de forma clara e realista, verá
que não tem qualquer moral para julgar ninguém.
Da mesma forma que você não quer ser julgado, rotulado ou
delimitado por alguém… também não deve julgar, rotular ou
delimitar os outros.
Esqueça essa mania de proferir condenações como “ele é
mau”, “ele é um monstro”, “ele é estúpido”… e olhe para ti
mesmo.
Aquele que é tão observador dos erros dos outros costuma
ser bastante cego diante dos seus próprios erros.
Abra os olhos para seu comportamento, desvele seu próprio
interior… nada te importa os outros… contemple a ti mesmo e
somente a ti.
Por isso, não julgue, não rotule, não condene, não
estigmatize, não exclua, não fique apontando o dedo para

259
outros…
Cuide apenas de ti mesmo… e supere seus próprios defeitos
e imperfeições.
O que vale na vida é a nossa transformação íntima, a busca
de nossa verdade…
É isso, e apenas isso… que devemos viver.

260
A FÁBULA DO LOBINHO DIFERENTE

Um lobo jovem não queria entrar para a alcateia, o grupo de


lobos. Seus pais sempre diziam que o lobinho precisava se in-
tegrar ao bando, pois assim ele estaria mais seguro e protegido
dos predadores, conseguiria alimento mais facilmente e,
claro… não ficaria sozinho.

No entanto, o lobinho achava tudo aquilo muito superficial e


queria algo mais do que apenas ficar competindo com outras
alcateias e ficar lutando por comida e sobrevivência… “Mas a
vida é assim”, diziam seus pais. “Para você se dar bem na vida,
tem que se ajustar ao grupo”. O lobinho, no entanto, era dife-
rente dos outros e preferia ver sua vida de uma nova forma,
sob outra perspectiva. Ele queria encontrar algo além de tudo
aquilo. “Mas você estará desprotegido fora da alcateia” disse
um dos lobos. O lobinho hesitou, mas não cedeu à pressão.
Ele decidiu seguir seu próprio caminho.

Certo dia, a alcateia estava seguindo pela floresta quando sen-


tiu que estava num solo diferente. Esse chão era gelado e pa-
recia meio escorregadio. Os lobos seguiram viagem e não per-
ceberam o grande perigo abaixo deles. Subitamente, o gelo co-
meçou a quebrar… Os lobos se desesperaram e tentaram fu-
gir, mas não houve tempo. A geleira abaixo deles se quebrou
e todos caíram na água congelante.

Por acaso o lobinho estava próximo e ouviu os gritos deles.


Imediatamente saiu correndo para salva-los. Após muito es-
forço, o lobinho conseguiu salvar alguns, mas a maioria acabou
tendo um destino trágico e morreu congelada. “Se eu estivesse
junto com a alcateia, não poderia ter salvo ninguém, e claro…
eu teria morrido”, pensou o lobinho. “Graças ao meu pensa-
mento diferente, pude salvar outros e também conseguir sobre-
viver”. Isso mostrou ao lobinho uma grande lição de vida…

Muitas pessoas desejam seguir sempre com a maioria, com o


grupo, com a “manada”, seguindo normas, códigos e compor-
tamentos estabelecidos pela sociedade. Essas pessoas creem
que estão seguindo o “certo” só porque estão com a maioria.
Elas supõem estar de acordo com uma “normalidade”, mas
essa normalidade muitas vezes não é a melhor opção. Seguir
junto com a massa pode nos dar uma sensação de segurança,

261
de proteção, mas essa segurança é ilusória. A ideia do perten-
cimento nos dá a sensação que não estamos sozinhos e que
fazemos parte de algo maior.

No entanto, seguis os padrões e códigos estabelecidos numa


sociedade, dentro de uma suposta “normalidade” não nos faz
necessariamente melhores, tampouco mais seguros. Quantas
pessoas não integram grupos e mesmo assim sentem-se sozi-
nhas, deprimidas e desamparadas de tudo? A boiada pode es-
tar unida, mas pode estar caminhando para o matadouro; o car-
dume pode estar indo direto à boca do tubarão; a matilha pode
toda ela cair de um alto desfiladeiro, assim como um grupo ou
uma sociedade pode a qualquer momento entrar em colapso.

Dessa forma, não cometa o erro de procurar de todas as for-


mas se ajustar a sociedade, mas siga seu próprio caminho.
Não deseje agir de acordo com os ditames da maioria. Cada
pessoa é diferente da outra e cada qual deve seguir seu cami-
nho. Seja você mesmo e não fique seguindo com a manada
para sentir-se seguro e evitar a solidão. Não há nada de mal
em ser diferente.

Aliás, ser diferente é ser livre… Estar preso a normas, códigos


e padrões instituídos é viver numa prisão. Mas aquele que tem
coragem de seguir seu próprio caminho, esse encontra a liber-
dade.

262
DEIXE ESTAR

Quando você estiver aqui, nesse lugar… esteja apenas aqui.


Quando você estiver ali, esteja apenas ali… e não mais onde
estava antes.
Quando se despedir de uma pessoa, se despeça dela… não
traga ela com você em seu pensamento.
E quando trouxer ela com você, não pense que ela poderia
estar em outro lugar… esteja na presença dela.
Quando passar por uma experiência… viva essa experiência.
Quando essa experiência passar, deixe ela passar… não
carregue ela com você.
Quando observar uma árvore… contemple apenas a árvore.
Não fique pensando no seu emprego, na saudade de alguém,
na economia do país, no cachorro que te mordeu, na pessoa
que te ofendeu, ou na reunião da igreja.
Esteja presente naquele local, observando a árvore e
somente a árvore… mais nada.
Quando você estiver triste… sinta essa tristeza, viva essa
tristeza, não lute contra ela.
Quando a tristeza passar, ela já passou… não fique trazendo
ela de volta.
O ser humano fica revivendo várias vezes uma situação… a
memória do evento retorna… e depois retorna… retorna… e
retorna.
Quando terminar uma coisa… termine. Quando começar uma
coisa, comece.
Não termine sem terminar, deixando o passado no seu
presente.
Se você estiver comendo uma saborosa refeição, coma essa
refeição.
Se amanhã não tiver essa refeição, deixe ela de lado. Não
fique pensando na comida. Não traga ela ao presente.
Quem fica vivendo o que já aconteceu e o que ainda pode
acontecer… esse não vive, mas morre.
Quando você encontra uma pessoa e fica com ela, fique com
ela, viva esse tempo com ela, experimente o que quiser
experimentar.
Mas quando essa pessoa for embora… deixe-a ir, deixe ela
livre, não prenda ela com você.
Não queira dar vida ao que já acabou, ao que não existe
mais, ao que já teve seu tempo com você te ensinou, se
tornou desnecessário e foi embora.

263
Da mesma forma que você deixou vir… é preciso deixar ir.
Viva o que estiver presente… o que não está mais presente,
está no passado. O que está no passado, não tem mais vida.
Se não tem mais vida, deixe morrer.
As coisas devem fluir por você e ir embora. Se você tenta
reter o que está indo… você definha.
Como diz a máxima de sabedoria: reter é perecer.
Tudo o que tentamos encaixotar, morre… e tudo o que
carregamos conosco cria um peso em nossa vida.
Para que deixar nossa vida estagnada e pesada… se
podemos torna-la fluida e livre?
Tal como o vento quando preso numa caixa se torna ar… e
deixa de ser vento.
Esteja sempre no presente. Observe o que acontece. Sinta o
agora. Só existe vida no agora, presentemente.
O que passou, já morreu… o que está aqui, é preciso viver.
No agora existe tudo… no passado não existe nada.
A vida está aqui e agora, a morte está no passado e naquilo
que não deixamos ir…

264
QUE NADA NOS ABALE

Aquele que eleva seu ser interior, sua consciência ou sua


alma ao infinito e à eternidade…
Vivencia todo caos que existe nesse mundo sem se abalar
com ele.
Nenhuma desordem, perturbação, balbúrdia, distúrbio, conflito
ou destruição chega até ele…
Esses são os sábios, que atravessam o desfiladeiro sombrio
do mundo, mas não se deixam afetar por ele.
O sábio cruza o vale da sombra e da morte, mas nada o pode
atingir, pois a luz do Senhor está com ele.
Ele vive no mundo, mas não pertence a esse mundo…
Ele percorre as estradas da vida, mas não se identifica com
nenhuma delas.
Ele pode caminhar pela mais intensa agitação, mas não se
deixa envolver por ela.
Ele atravessa a noite mais escura, mas essas sombras não
penetram em seu interior.
Ele pode descer ao mais aterrador inferno, mas nenhum
demônio pode sequer toca-lo e roubar a sua paz.
O sábio é como a garça…
A garça é uma ave de um branco muito puro.
Ela consegue passar pela lama mais fétida, sem no entanto
se deixar sujar por ela.
Ela vive no meio do barro, mas não se mancha com suas
impurezas…
Cada um de nós pode realizar esse feito, que nada tem de
extraordinário.
É possível viver no mundo, mesmo no caldeirão de uma
imensa confusão de pessoas, e nenhuma delas abalar nosso
emocional.
Aquele que tem medo de altura, atravessa a ponte estreita e o
temor que sente pode derruba-lo.
Mas aquele que não teme a queda, percorre a ponte mais alta
e consegue olhar para baixo com equilíbrio e serenidade.
O sábio está num lugar, mas ao mesmo tempo não está ali…
Ele existe no mundo, mas não pertence ao mundo…
Ele pode estar cercado pelo mais poderoso exército… e
mesmo assim nada temer.
Ele vive ali, mas não se deixa influenciar por nada de mal e
negativo.
Aquele que possui a paz, a verdade e a luz dentro de si pode

265
ser ofendido, agredido, humilhado, estapeado…
E isso em nada o comove.
Muitos podem falar mal dele, podem criar calúnias, podem
difama-lo e insulta-lo.
Mas isso não toca seu interior… nada que é externo pode
sensibilizar o seu ser interno.
É preciso não se identificar com nada, não se apegar a nada,
não passar a depender de algo ou alguém.
Aquele que não se confunde com o mundo, que não se deixa
seduzir pelas coisas, que não se aprisiona no limitado…
Ou ainda, aquele que não se permite encantar, cativar, atrair
pela ilusão de cada momento, pela passagem do tempo ou
pela força das circunstâncias.
Esse é pleno e invulnerável a qualquer mal que venha de
fora.
Aquilo que parece forte e intenso para alguns, passa pelo
sábio com a suavidade da brisa da manhã…
O sábio se eleva acima do mundo… e por isso não é afetado
pelas catástrofes mundanas.
Como o pássaro que levanta voo e observa tudo de cima,
com a perspectiva celeste…
Não pode ser comido pelo jacaré, nem se prender na areia
movediça, ou ser arrastado pela correnteza do rio.
Aquele que está em paz e tem sua consciência tranquila…
pode viver em paz onde quer que esteja vivendo.
A atualidade das coisas que começam e terminam… não
podem jamais contagiar ou destruir a realidade dos princípios
eternos.
Esteja, portanto, ligado ao infinito, numa correlação
inquebrantável…
E nada mais nesse mundo poderá burlar sua paz.

266
OS MENSAGEIROS DE DEUS

Um homem havia acabado de morrer e percebeu que se en-


contrava num lugar escuro, feio e cheio de energias negativas.
“Devo estar no inferno”, pensou ele. Nesse momento, um anjo
apareceu e confirmou suas suspeitas. O anjo explicou que ele
estava em uma das muitas zonas escuras do submundo espi-
ritual, pois ele havia cometido muitos erros em sua vida.

O homem não gostou nem um pouco dessa situação e pôs-se


a gritar com o anjo, dizendo:

“Isso não faz sentido! Nunca me foi ensinado o que eu deveria


fazer, ninguém me passou o que era certo e o que era errado.
Por que Deus age dessa forma? Por que ele não envia mensa-
geiros para nos explicar melhor o caminho que devemos se-
guir? Assim menos pessoas viriam para esse vale sombrio
após a morte!”

O anjo ouviu o homem e pacientemente disse:

– Filho da humanidade… o senhor Deus do universo nos envia


mensageiros a todo momento. Essas pessoas são como anjos
em nossa vida. Esses mensageiros nos ensinam a viver e nos
transmitem mensagens essenciais para que possamos seguir
os caminhos de Deus no mundo.
Isso é mentira! – disse o homem – Nunca em toda a minha vida
encontrei esses tais “mensageiros”!

– Sim, você os encontrou – disse o anjo. – Muitas vezes eles


vieram te dar lições preciosas sobre a vida espiritual e Deus.

– Não é verdade isso! – insistiu o homem aos gritos – Nunca


me veio nenhum desses mensageiros! Você está tentando me
enrolar!

Com olhar amoroso e acolhedor, o anjo respondeu:

– Sim meu filho… Os mensageiros se apresentaram abundan-


temente em sua vida, mas você os expurgou e não deu atenção
aos seus ensinamentos. Vou te dizer agora, nesse momento,
quais foram os principais mensageiros que Deus te enviou para
ajudar no seu despertar para a vida espiritual.

267
O primeiro mensageiro foi seu padrasto. Sim, isso mesmo…
seu padrasto. Aquele velho bêbado que embriagava-se sempre
e batia em você e em sua mãe. Seu padrasto foi um importante
mensageiro de Deus em sua vida, pois ele te deu a oportuni-
dade de aprender sobre os males de uma vida de excessos, de
vícios, de libertinagem. Boêmio como ele era, ele foi para você
o mensageiro que veio transmitir a sabedoria de uma vida co-
medida, de temperança… uma vida de sobriedade, austeri-
dade, ponderação, razoabilidade, sem qualquer excesso. Mas
infelizmente você não seguiu a sabedoria desse mensageiro e,
assim como seu padrasto, caiu numa vida de descomedimen-
tos.

O segundo mensageiro foi seu primeiro chefe. Esse mensa-


geiro de Deus te perseguia, falava coisas para te irritar e te
provocava de diversas formas. Ele veio para te mostrar o valor
da calma, da tranquilidade, do silêncio, do equilíbrio, da man-
sidão, da impassibilidade e da quietude. Quanto mais tentava
te irritar, mais ele te mostrava o valor da paz e da serenidade
que você deveria buscar em si mesmo. Infelizmente você não
ouviu a instrução desse mensageiro e depois dessas persegui-
ções tornou-se um homem nervoso e revoltado com tudo.

O terceiro mensageiro foi seu colega de trabalho. Esse mensa-


geiro vivia competindo com você, queria sempre parecer me-
lhor do que ti e por isso, sempre que podia te colocava para
baixo, tentando muitas vezes te humilhar dando golpes diretos
em seu ego. Esse mensageiro de Deus queria te mostrar o va-
lor da humildade, da modéstia, da despretensão e da simplici-
dade, para que você não caísse nas armadilhas dele e não se
sentisse diminuído diante de suas tentativas de ferir seu ego.
Infelizmente, você se deixou levar pela soberba e tentou du-
rante anos ser melhor do que ele. Você deveria tentar compre-
ender a frivolidade e a insignificância de todos aqueles jogos
de ego. Mas não permitiu e não compreendeu a mensagem da
humildade, do despojamento, da modéstia, da desafetação que
ele veio disseminar.

O quarto mensageiro foi sua primeira esposa. Esse grande


mensageiro era uma pessoa muito mesquinha, avarenta, taca-
nha, apegada, sovina. Queria sempre ganhar mais e mais e
não admitia perder. Ela gastou secretamente todo o seu di-

268
nheiro e fez com que você passasse muitas penúrias e priva-
ções após o divórcio. Esse mensageiro tentou te ensinar o va-
lor do desprendimento, da abnegação, da dádiva, do altruísmo,
do humanitarismo, da piedade, da compaixão e do desapego.
Mas infelizmente depois dessa experiência você se tornou
ainda mais egoísta e apegado a tudo.

O quinto e último mensageiro foi seu pai. Sim… esse mensa-


geiro de Deus te obrigou a cuidar dele durante anos. Ele já es-
tava velho e doente, por isso ficou numa cama e você teve de
prestar auxílio a ele em sua senilidade. Ele te ofendeu diversas
vezes, exigia tudo de você, jogada as coisas no chão e sujava
a casa. Esse foi um grande mensageiro que tentou te ensinar
duas coisas: a paciência e o amor incondicional. A paciência
por tudo o que ele te fez e que você teve que aguentar sem
reagir. E o amor incondicional porque você o amou quando es-
tava bem e com saúde, mas desgostou dele quando estava ve-
lho e doente. Esse mensageiro de Deus tentou te transmitir
duas mensagens essenciais… No entanto, mais uma vez você
recusou o ensinamento dos mensageiros. Você não apenas o
destratou sempre de forma impaciente, como foi negligente e
não prestou o socorro necessário quando ele precisou, o que
veio a provocar sua morte.

Por isso, meu filho, você veio parar aqui, nesse vale sombrio…
Foi naturalmente atraído para esse lugar por não conseguir as-
similar os ensinamentos sagrados dos mensageiros que Deus
enviou a você.

Assim como esse homem, todos nós temos vários mensagei-


ros em nossas vidas. Pare por um instante e reflita: quem são
os mensageiros que Deus enviou a ti? Você está ouvindo e
aprendendo com as mensagens que eles enviam?

Não deixe de aprender com os mensageiros de Deus… Eles


trazem as lições divinas mais preciosas para nossa vida e
nosso crescimento espiritual.

269
NINGUÉM PERDE NADA

Para que você possa ter a chance de ser feliz, entenda bem
esse princípio da vida:

“Ninguém perde nada, pelo simples fato de que ninguém pos-


sui nada.”

Toda posse de alguma coisa é ilusão. Nada podemos possuir,


por um motivo muito simples: tudo o que existe pertence a
Deus. A única coisa que nos pertence somos nós mesmos. O
restante é tudo propriedade do ser divino que a tudo permeia.
Deus é regente e o senhor de todas as coisas. Como disse
João Batista: “O homem não pode receber coisa alguma, se
não lhe for dada do céu” (João 3, 26).

Deus nos tira o material para que possamos nos abrir mais ao
espiritual e à essência da vida. Perdemos no plano inferior para
que possamos ganhar no plano superior. Nossas posses exter-
nas vão embora para que possamos acender dentro de nós
nossos valores eternos. Ninguém possui nada… nem coisas,
nem pessoas, nem ideias e muito menos certezas sobre al-
guma coisa.

É certo que tudo passa… e tudo se desfaz nesse mundo.


Quanto mais desejamos uma coisa, mais ela escapa de nós.
Quanto mais queremos obter algo, mais presos ficamos a isso
que desejamos obter e ao nosso apego. Quanto mais insisti-
mos em possuir, mais vem a sabedoria da vida e nos mostra a
realidade do despossuir, a verdade da maré sagrada da exis-
tência que traz algo e depois leve embora. A vida nos dá e logo
depois a vida nos tira. Isso ocorre para se demonstrar ao ser
vivente que nada pode ser possuído, pois tudo é obra do infinito
e o infinito não pode ser objeto de posse de ninguém. Quem
pode conquistar o eterno? Quem pode obter o infinito? Se tudo
é infinito e o infinito não pode ser objeto de posse, a posse é
algo impossível no mundo. Viemos a esse mundo conquistar
coisas para depois aprender a lição eterna de que nada pode
ser conquistado. Tudo se perde, tudo perece, tudo definha,
tudo vai, tudo acaba, tudo desmorona, tudo se transforma e
termina.

270
Por outro lado, quanto mais acreditamos ilusoriamente possuir
algo, mais esse algo nos possui. E quanto mais esse algo nos
possui, mais perdemos a nós mesmos quando esse algo vai
embora ou se extingue. Quanto maior nossa dependência di-
ante de algo… maior é o nosso sofrimento, seja pelo desejo de
conquistar algo que não temos, seja pelo medo de perder o que
já temos. Toda posse é, inevitavelmente, a causa do sofrimento
da humanidade. Por outro lado, o chamado direito de proprie-
dade de um homem só existe porque outros homens aceitam
esse direito de propriedade. Se um homem acreditasse ser o
possuidor, por exemplo, de uma terra e todos os outros homens
rejeitassem esse direito de propriedade, ele não seria dono de
nada, no máximo iria usufruir da terra por um tempo. É justa-
mente isso que somos: utilizadores de coisas que não nos per-
tencem, mas que são propriedade exclusiva do divino.

O possuir é uma ilusão dentro da ilusão. Ninguém pode dizer:


“isso é meu”, ou “isso é seu”. Não possuímos nem mesmo o
nosso corpo, que um dia se resolverá em seus componentes
fundamentais, virando pó que retorna ao pó da terra. Como diz
a sabedoria da Bíblia: “Do pó viemos e ao pó retornaremos”.

Muitos já percebemos que quanto mais nos agarramos forte-


mente a uma coisa, mais aprisionados estamos a ela, menos
vivemos nossa vida e mais infelizes nos tornamos. A posse é
a maior ilusão que a mente humana criou. E a pior ilusão de
posse, sem dúvida, é a ilusão de posse diante da verdade. Ai
daqueles que se julgam os “donos da verdade”! Acreditar que
conhecemos o modo “certo” sobre alguma coisa, é cair no en-
gano de que possuímos o juízo que permite separar o bem do
mal. Comemos do fruto do conhecimento do bem e do mal e
somos expulsos do paraíso.

Esse é, na verdade, o cerne do pecado original, que promoveu


a queda do homem. Crer-se na posse do juízo da verdade, que
determina o que deve ser bom e o que deve ser mal; o que
pode e o que não pode; ou o certo e o errado. Esse é o julga-
mento de valor sobre alguma coisa. Dizemos que isso tem va-
lor ou que isso não tem valor. Mas por que o julgamento de
valor é sempre falho? Simplesmente porque todas as coisas
têm exatamente o mesmo valor, nada é superior a nada; uma
coisa não pode jamais ser mais importante que a outra, porque
tudo foi criado por Deus e Deus é perfeito. Nada há qualquer

271
ser ou coisa bom ou mau, não há araras certas e araras erra-
das, não há plantas boas e plantas más, tudo é sempre perfeito
aos olhos do infinito e da eternidade. Por isso, o ato de julgar é
o mesmo que separar o bem do mal, determinar o certo e o
errado. Quem julga se coloca no direito de afirmar a posse da
verdade: um juízo sempre distorcido, falho e vazio.

Não acredite nas posses do mundo… Ninguém pode perder


coisa alguma, porque igualmente ninguém pode possuir coisa
alguma. O sofrimento da perda só existe por conta da ilusão da
posse. E como todos devem saber: se não há posse sobre
nada, também não pode jamais haver perda de nada. Você não
perdeu dinheiro, não perdeu seus bens, não perdeu uma pes-
soa, não perdeu um braço, não perdeu sua memória… Você
nunca perdeu qualquer coisa, porque você nunca possuiu
coisa alguma. Você é espírito e o espírito não possui nada
disso… Ele simplesmente é, sem ter coisa alguma. A posse
simplesmente não existe… O ser não pode ter… o ser só pode
ser. O ser é a essência do ser. O ter captura a essência do ser
dentro da ideia e da crença da posse. Mas como se diz em
Gênesis: O ser é o ser. Eu sou aquele que sou. E não… Eu sou
aquele que possui, ou aquele que tem.

Deixe a ilusão da posse de lado. Entregue-se a Deus e viva


com Ele. Quando você se entrega a Deus, o senhor de tudo,
você passa a compartilhar tudo com Deus, e passa a ser uno
com todas as coisas. Quem é uno com tudo não precisa obter
nada. Esse é o melhor caminho para o ser encarnado na ma-
téria.

272
O ACASO NÃO EXISTE

A verdade é que nada é por acaso. Tudo acontece por uma


razão e tudo sempre obedece a um plano maior da existência
universal.

Porque todas as experiências da vida humana acontecem por-


que precisam acontecer… Todas as dores, todos os sofrimen-
tos, todas as angústias, todas as tragédias, mortes, doenças…
alegria e tristeza… tudo o que experimentamos sempre tem
uma razão superior. Você acredita que Deus permitiria que
qualquer injustiça se abatesse contra alguém?

Não… não há injustiça… pois tudo ocorre de acordo com a lei


divina, que é eterna e perfeita.

Fatalidade, acontecimentos arbitrários, sorte e azar, eventos


fortuitos e aleatórios, tudo isso são teorias que aos poucos vão
sendo relegadas para a história do pensamento humano, como
resquícios arcaicos de uma época de ignorância onde o ser hu-
mano ainda acreditava nas ilusões do mundo.

O acaso nada mais é do que um nome dado a uma lei não


reconhecida, como diria O Caibalion. Acaso é quando olhamos
um fenômeno e não conhecemos sua causa, ou uma causa
inteligente, infinita, eterna e perfeita que tudo regula, tudo orga-
niza e tudo coloca no seu devido lugar.

Se você está nesse local, é exatamente onde você precisa


estar.
Se você vive essa vida, é justamente dessas provas que você
precisa.
Se você caiu, é porque precisava cair.
Se você perdeu, é porque precisa vivenciar a perda.
Se você sente essa dor, é porque essa for vai te purificar inte-
riormente.
Se você sente esse vazio, é porque você precisa preenche-lo
com a presença divina, com o ser eterno, com o espírito
imortal.

O cosmos é perfeição… nada falta, nada exagera, nada exclui,


nada erra, nada perece, nada acaba… Não há nada que possa
ser destruído, nada que possa ser desperdiçado, nada que seja

273
deixado de lado, nada que perca sua importância, nada que
possa retirar o nosso valor. Uma pessoa vale tanto quanto qual-
quer outra. Ninguém é melhor do que ninguém… E tudo con-
corre pelo bem de tudo. Uma coisa contribui com a harmonia
de todas as coisas e todas as coisas contribuem com o bem de
apenas uma. Cada grão de areia é tão fundamental para o cos-
mos quanto uma galáxia. Na essência do grãozinho de areia é
possível enxergar toda a essência da perfeição divina…

Existe uma harmonia universal em todas as coisas… e essa


harmonia sempre cuida de colocar tudo de volta no seu lugar.
Essa harmonia e perfeição está aqui e agora. Abra o olho do
espírito e você enxergará a perfeição em tudo.

274
AMOR E APEGO

Não podemos confundir apego com amor. Tratam-se de duas


coisas bem diferentes, sendo uma o oposto da outra.

Uma coisa é o vínculo afetivo, é o amor, é o laço familiar. Esse


laço não é positivo nem negativo. O amor é mais profundo tanto
quanto mais profundo é o nosso desprendimento em relação
àquilo que amamos. Quanto mais tentamos aprisionar ou ter a
posse sobre algo ou alguém, menos amamos.

E o que é apego? Apego é, antes de tudo, uma DEPENDÊN-


CIA. Vamos entender isso, para que não paire mais dúvidas.
Apego é quando deixamos de conviver com o outro e passa-
mos a NECESSITAR do outro; PRECISAMOS do outro para
nos preencher. Sem o outro nos sentimos vazios; sem o outro
parece que falta algo dentro de nós. Isso é apego.

Não existe apego bom. Todo apego é ruim, pois é aprisionador.


Com o apego existe uma POSSE em relação ao outro. Existe
um sentimento de que a pessoa precisa ficar conosco, de que
o outro deve sempre estar ao nosso lado. Há a sensação ilu-
sória de que o outro nos traz felicidade, nos traz alegria. O amor
pode sentir alegria com a presença do outro, mas quem ama
verdadeiramente sente-se feliz quando o outro está feliz
(mesmo que esteja longe). O apego só sente satisfação
quando o outro está perto, está dentro de nossa esfera de po-
der, e quando o outro está longe, quem tem apego sofre, sente
a perda, sente a necessidade do outro, a necessidade do outro
para nos completar.

Quem precisa do outro para se completar, obviamente, não


está completo. Algo falta dentro dessa pessoa. Ela tem alguma
carência, solidão, falta, ausência. E essa ausência sempre
busca algo que a complete. O apego, que é criado pelo ego,
vem sempre como uma necessidade de uma garantia ilusória
de que o outro estará sempre conosco. Sem essa falsa segu-
rança, a pessoa apegada fica mal, fica carente, fica sentindo
que precisa do outro para se completar, para preencher seu
vazio. A pessoa apegada diz frequentemente: “Ele é minha
vida. Ele é meu tudo. Sem ele não posso viver. Não sei como
iria seguir sem essa pessoa”.

275
O amor é o oposto. O amor é livre… O amor deixa solto…
Como diz Chico Xavier: “O amor não prende, liberta”. O amor
quer que o outro seja feliz, independentemente de estar
conosco ou não. Como diz Paulo de Tarso: “O amor tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1 Coríntios 13:7). O amor
aspira apenas à convivência entre duas pessoas que se
querem bem. É uma jornada que duas almas decidiram trilhar
juntas, uma ajudando a outra, uma dando força para a outra;
uma ensinando a outra dentro do caldeirão das adversidades
da vida humana.

Na história do Rei Salomão, há uma passagem que ficou muito


famosa pela sua sabedoria e pelo sentido profundo que car-
rega para a vida humana. Dizem que o Rei Salomão foi um dos
homens mais sábios que já existiu. Ele era filho do Rei Davi e
teria recebido o dom da sabedoria diretamente de Deus. Conta
a história que Deus apareceu para Salomão e disse: ““Pede-
me o que quiseres e dar-to-ei!”. Nesse momento, qualquer pes-
soa comum poderia pedir riquezas, muitas riquezas… Poderia
pedir saúde e vida longa; poderia pedir todas as condições ma-
teriais para obter o poder no mundo. No entanto, Salomão pe-
diu algo muito simples, ele disse: “Deus… Dá-me agora sabe-
doria e conhecimento para os governar com competência”. E
como Salomão não pediu riquezas e poder… Deus lhe deu a
sabedoria.

O Rei Salomão era um espírito muito elevado e como todo es-


pírito elevado, ele conhecia bem a verdade sobre o amor in-
condicional. Conta a história que existiam duas mulheres dis-
putando uma mesma criança, um bebê… e ninguém sabia
quem era a verdadeira mãe. Na hora do julgamento, ninguém
pôde chegar a um consenso sobre qual das duas dizia a ver-
dade, qual era a mãe da criança. Então, na Bíblia se diz que,
nesse momento, o Rei Salomão pegou a sua espada e disse
que cortaria a criança ao meio, dando um pedaço da criança
para uma e outro pedaço para outra.

Esse é um dos momentos mais bonitos e significativos de toda


a Bíblia. Nesse instante diz-se que uma das mulheres falou:
“Não, não faça isso ao meu filho! Ele pode ficar com esta mu-
lher, mas por favor não o mate”. Nesse momento, Salomão per-
cebeu que essa mulher havia tido uma atitude muito despren-
dida. Mesmo sabendo que a criança ficaria com a outra mulher,

276
para ela o mais importante é que seu filho ficasse bem, conti-
nuasse vivo, permanecesse saudável, independente de ficar
ou não junto dela. Então, o Rei Salomão declarou que a criança
deveria ser dada a esta mulher, que teve o ato de desprendi-
mento, e não a outra mulher. Essa sim era a verdadeira mãe…

O que essa história bíblica nos traz de ensinamento sobre o


amor? Ela traz à humanidade uma linda lição do amor verda-
deiro, que é o amor incondicional. O que fez a mãe autêntica?
Mesmo sabendo que seria separada do seu filho para sempre,
ela preferiu que a criança ficasse bem com outra mulher. Mui-
tos não sabem, mas essa é, de fato, a essência do amor ver-
dadeiro. Essa é a incondicionalidade do amor… que somente
visa o bem-estar do outro de forma totalmente desapegada.
Mesmo que o ser amado não fique conosco; mesmo que não
esteja junto de nós, o importante para quem ama é que a pes-
soa esteja bem, esteja feliz, esteja com saúde, esteja viva e
esteja em paz… Não importa se a pessoa vai ficar comigo ou
não… o que importa é que fique bem, mesmo longe de mim.

Não tem problema se nunca mais vamos ver ou ter contato com
o ser que amamos; o importante para quem ama incondicional-
mente é querer o bem. O amor incondicional ama sem possuir,
ama sem tentar influenciar, ama sem forçar, ama mesmo de
longe. Fazendo o bem e desejando o bem sem qualquer sen-
sação de pertencimento, sem querer guiar, sem querer estar
junto. Não importa fazer nossa vontade ou suprir nossos dese-
jos. A única coisa que importa é o bem-estar, mesmo que para
isso eu renuncie a qualquer poder sobre o ser amado. Esse
sem dúvida é o amor que nos aproxima de Deus… e que é raro
na humanidade atual. É o amor dos santos, dos anjos, dos sá-
bios e dos mestres da Terra. É o amor dos espíritos puros…
Todos aqueles que aspiram à felicidade suprema devem bus-
car dentro de si o amor incondicional, não apenas por um ou
outro ser… mas por tudo e por todos.

Assim, o amor verdadeiro é sempre incondicional. Só o amor


liberta….

277
O AMOR VERDADEIRO

Conta a lenda que um grande guru indiano estava ensinando o


povo de sua época. Um considerável número de pessoas, ho-
mens e mulheres, vinham ouvi-lo e tentar beber um pouco de
sua sabedoria. Um dos presentes disse: Mestre, fala-nos do
amor de uma pessoa para outra pessoa! O sábio respondeu:

– Está bem. Mas antes cada um de vocês vai pensar na pessoa


que mais ama no mundo e explicar por que a ama.

– Eu amo minha namorada porque ela é legal e bonita. – disse


um jovem.

– Eu amo meu marido porque ele me trata muito bem, é um


homem maravilhoso. – Disse uma senhora.

– Eu amo meu irmão porque ele é carinhoso e compreensivo


comigo. – disse uma jovem.

– Eu amo meu noivo porque ele é um homem ideal, que eu


sempre busquei. – disse uma moça.

– Eu amo minha mãe porque ela nunca me bateu – disse um


menino de doze anos.

O sábio ouviu todas as declarações e disse:

– Muito bem. Você disse que ama sua namorada porque ela é
legal e bonita. Isso quer dizer que quando ela deixar de ser
legal com você e quando ela envelhecer e perder a beleza,
você vai deixar de ama-la então?

O jovem ficou mudo. O sábio continuou questionando a todos:

– Você que ama seu marido porque ele te trata muito bem e é
maravilho. Quando se ele começar a te tratar mal e não for
mais maravilhoso aos seus olhos, você deixará de ama-lo?

– Você que disse que ama seu irmão porque ele é carinhoso.
Se um dia ele deixar de ser carinhoso, e começar a ser agres-
sivo, você vai deixar de ama-lo? E você que disse ama-lo por-
que ele é o homem ideal. Quando ele não fizer mais o que você

278
julga ser o ideal, fugir desses padrões, você vai deixar de ama-
lo?

O sábio foi perguntando uma a uma das pessoas presentes.


Todos ficaram sem fala com as perguntas do mestre. Ele então
propôs uma reflexão:

– O ser humano, na maioria das vezes, é incapaz de amar ver-


dadeiramente, mas ama pela condicionalidade. Amar pela con-
dicionalidade é estabelecer condições para amar. “Se você fi-
zer isso, eu não te amo mais. Se você me desagradar naquilo,
não tem mais meu amor”. Vamos refletir sobre isso… pois o
amor verdadeiro não existe dentro de condições; mas sim, ao
contrário, existe apenas na inexistência de qualquer condição.
Ninguém precisa de nada para amar. O amor só é verdadeiro
quando ele não requer nem necessita coisa alguma para exis-
tir. Ele simplesmente existe, ele é o que é, pois o amor é um
estado de alma para alma, de espírito para espírito, e não de
condições para condições estabelecidas.
O sábio concluiu:

– O amor divino nada pergunta, nada exige, nada pede, nada


consulta, nada demanda, nada estabelece, nada quer em
troca. Ele apenas existe… ele apenas é. E por não ter condi-
ções e limites, ele é eterno…

279
O QUE FAZER NA ESCURIDÃO?

No momento em que estamos atravessando um momento de


escuridão em nossa vida (sofrimento, perdas, desesperança,
falta de fé, angústia, depressão, etc) e os demônios de nossa
mente e emoções estão nos atormentando, o que devemos fa-
zer?

A resposta é simples: devemos apenas ficar impassíveis diante


de tudo, não nos deixar abalar por aquilo, sermos indiferentes
a tudo o que acontece. Quando conseguimos isso, os demô-
nios vão se enfraquecendo e deixam de nos atormentar.

Isso ocorre em tudo na vida. Vamos dar um exemplo para que


isso fique mais claro. Vamos imaginar um adolescente que so-
fre bullyng dos seus colegas e fica irritado com isso. Ele viven-
cia esse bullyng todos os dias, está muito irritado e já não
aguenta mais essa situação. Vamos imaginar agora que em al-
gum momento esse adolescente simplesmente começar a não
ligar mais para o bullyng, ele começa a não se deixar mais aba-
ter pelo que é dito ou feito com ele, ele começa a não demons-
trar mais nenhuma reatividade diante das investidas dos outros
adolescentes que praticam o bullyng. O que acontece nesse
momento? Os garotos vão parar de tentar escarnece-lo. O bul-
lyng simplesmente vai ter seu fim.

Mas por que isso acontece? Isso acontece porque não tem
graça sacanear uma pessoa que não se sente abalada com
aquilo. Os adolescentes que praticam o bullyng se alimentam
justamente da reatividade da pessoa, de sua irritação, de seu
desequilíbrio, de uma demonstração de emoções desarmôni-
cas, ou seja, do fato de quem sofre o bullyng dar valor, atenção
e sofrer com o próprio bullyng. No momento em que o adoles-
cente não mais oferece isso a eles, tudo perde a graça e o bul-
lyng vai cessando até parar completamente.

O mesmo ocorre com tudo na vida, inclusive com nossos pro-


blemas. Quando não mais damos valor, importância ou não
nos deixamos afetar pelos problemas ou por pessoas que nos
desejam mal… tudo isso vai perdendo a força e os problemas
vão diminuindo, diminuindo até cessar. É preciso se colocar
numa postura impassível diante das dificuldades. É preciso não

280
ligar, não dar valor, não dar importância, simplesmente não se
deixar abater por aquilo.

É preciso viver o sofrimento sem sofrer, viver a dor sem dar


importância a ela, viver a tormenta sem dar poder a ela; encarar
o problema de forma fria, sem emoções, sem acreditar que
aquilo pode nos abater. É apenas não dar poder ao que nos
acontece. Semear a equanimidade em nossa vida. Vemos a
tormenta passar por nós e apenas a observamos sem nos en-
volver com ela. Ela vem, cria o caos, e como não damos impor-
tância, ela simplesmente vai embora. Quando paramos de dar
poder e valor aos problemas, nos sentimos muito leves, soltos,
livres, espontâneos. É como se um grande peso tivesse saído
de nós. Sentimos uma liberdade e uma naturalidade impossível
de se expressar em palavras.

Essa diminuição da tormenta em nossa vida, obviamente, pode


demorar mais tempo ou menos tempo, pois ela é proporcional
a quantidade de karma que precisamos dissolver em nossa
energia. Mas essa diminuição ou cessação sempre acontece,
mais cedo ou mais tarde. Por isso, procure sempre ser impas-
sível diante do caos, do sofrimento, da dor, do desespero, de
tudo de ruim que nos acomete. Assim, a tormenta perde a sua
força e nos libertamos dela.

281
OS TRÊS SOFRIMENTOS

Dois adolescentes, muito amigos, estavam saindo da escola


juntos. Despediram-se um do outro e cada um tomou seu ca-
minho em direção a sua casa.

Assim que se afastaram, um grupo de adolescentes apareceu


na frente de um dos garotos. Eles começaram a insultá-lo e
ameaçá-lo. Não demorou muito, o grupo estava agredindo o
rapaz. Deram muitos socos, chutes, tapas e até bateram com
sua cabeça no chão. O rapaz ficou muito machucado, foi so-
corrido e levado ao hospital. Mas os ferimentos não foram gra-
ves.

Logo que terminaram as agressões, o grupo fugiu do lo-


cal. Correram por algumas ruas e viram o amigo dele cami-
nhando tranquilamente. Resolveram agredi-lo também, pelo
simples fato dele ser amigo do outro rapaz. Fizeram a mesma
coisa com ele. Também foi levado ao hospital e da mesma
forma que o amigo, sofreu apenas ferimentos leves.

O primeiro rapaz espancado começou a ficar com ódio dos


membros do grupo. Podia vê-los todos os dias na escola, e
cada vez que se encontravam, o ódio aumentava. O rapaz co-
meçou a sofrer muito, pois sentia bastante raiva, vontade de
agredi-los e até matá-los. Muitas vezes ao dia vários pensa-
mentos de vingança perpassavam sua mente. Ele já não
aguentava mais essa situação, e isso começou a gerar muita
mágoa e sofrimento no rapaz.

Num dado momento, o rapaz decidiu que não teria mais ódio
deles e tentou esquecer todo esse acontecimento. Sempre que
o ódio retornava, ele sentia-se culpado por esse sentimento,
pois não achava correto nutrir tantos sentimentos malfazejos
por outras pessoas. Começou a acreditar que não era uma pes-
soa boa e se torturava na culpa por ainda alimentar tais emo-
ções. Refletindo sobre a situação, o rapaz começou a perceber
algo. Havia um sofrimento pela agressão inicial, outro sofri-
mento pelos sentimentos que vieram e por ficar alimentando-
os, e um terceiro sofrimento por se sentir uma pessoa má e
ficar se punindo pela culpa.

282
O outro rapaz agiu bem diferente. Ele sofreu a dor das agres-
sões, mas dois dias depois do ocorrido já não sentia mais nada
pelos seus agressores. Não nutria qualquer sentimento nega-
tivo, apenas não se aproximou mais deles. Esse rapaz sofreu
apenas uma vez com as agressões, mas depois não sofreu
mais.

Essa estória traz uma preciosa lição de vida que serve para
todos. O segundo rapaz foi vítima do espancamento e sofreu
apenas uma vez. Ele sofreu a dor da agressão e nada mais. Já
o primeiro rapaz sofreu três vezes: ele sofreu a dor do espan-
camento, sofreu depois com os sentimentos de ódio e mágoa
e sofreu uma terceira vez sendo torturado pela culpa de sentir
o que estava sentindo. Aqui podemos observar que o sofri-
mento de um dos rapazes foi apenas uma vez, o do aconteci-
mento inicial. No entanto, o outro rapaz sofreu uma vez, duas
vezes e até três vezes. Seu sofrimento se estendeu por muito
tempo e foram três tipos de sofrimento diferentes.

A maioria das pessoas segue o exemplo dos três sofrimentos,


ao invés de submeter-se a apenas um sofrimento. O rapaz não
podia evitar ser agredido, mas ao invés de experimentar ape-
nas o sofrimento da agressão, ele criou outros dois sofrimentos
posteriores: o sofrimento dos sentimentos negativos e o sofri-
mento pela culpa do sofrimento. Por mais curioso que isso
possa parecer, ele não apenas sofreu pelo ocorrido, mas so-
freu pelo sofrimento do sofrimento. Criou mais duas formas de
sofrimento sem qualquer necessidade. Já o primeiro rapaz so-
freu apenas uma vez e parou de sofrer logo depois.

Quantas vezes você costuma sofrer? Você sofre apenas pelos


problemas, ou sofre pelo sofrimento? Ou ainda, sofre pelo so-
frimento do sofrimento?

Em nossa vida precisamos sempre evitar o sofrimento que vem


com o sofrimento. E mais, devemos evitar o sofrimento que
vem com o sofrimento do sofrimento. Para que sofrer três ve-
zes e ficar estendendo o sofrimento indefinidamente? A dor dos
problemas existe e muitas vezes é inevitável, mas os dois so-
frimentos adicionais que surgem depois são criações nossas e
esses, sem dúvida, podem ser evitados.

283
NOSSOS FILHOS SÃO ESPÍRITOS

Como diz a máxima de sabedoria espiritual:


“Nossos filhos não são nossos filhos.”
São apenas espíritos parceiros, irmãos espirituais numa
mesma jornada de evolução.
Vamos entender de uma vez por todas que não existem pais
e filhos.
Do ponto de vista espiritual, não há pai, mãe, filho ou
qualquer outro papel biológico.
Existem apenas espíritos que se ajudam numa mesma
caminhada espiritual.
Entenda que seus filhos não são seus filhos… são filhos de
Deus.
Deus é o único Pai de todos nós.
Um Pai eterno, que tudo vê, tudo sabe e está presente em
todos os lugares.
Um Pai eternamente vigilante, que não dorme e sempre cuida
dos seus filhos.
Somos todos filhos de Deus, filhos e filhas de um mesmo Pai
celestial.
Por acaso os filhos vêm ao mundo pela nossa inteligência e
habilidade de geração?
Ou eles são gerados a partir de nós pela sabedoria infinita da
criação divina?
Permitimos que eles sejam gerados, mas não somos nós a
causa da geração.
Também não somos nós que lhes doamos o influxo vital e
menos ainda seu espírito eterno. Tudo… absolutamente tudo
é dado por Deus.
Como filhos de Deus, nós temos o sagrado direito a maior
herança que existe em todos os tempos.
Essa herança é o cosmos infinito… que nos pertence e no
qual viveremos pela eternidade.
Dessa forma, por que se preocupar com o destino dos nossos
filhos?
Acaso esse Pai eterno e infinito, onipresente, onipotente e
onisciente, deixaria seus filhos abandonados a sua própria
sorte?
Ou Deus, sendo soberanamente justo, bom e perfeito, sabe
melhor do que nós como cuidar de seus filhos?
Julgamos saber melhor do que a perfeição divina o que é
melhor para os espíritos que chamamos filhos?

284
O pai terreno pode abandonar, pode morrer, pode se magoar,
pode falhar, pode duvidar, pode errar de inúmeras formas
com seus filhos.
Mas o Pai eterno jamais erra, jamais abandona, jamais
duvida, jamais morre e está eternamente presente.
A mãe e o pai terrenos desejam obter a posse do filho.
Proclamam aos quatro ventos: “É MEU FILHO”.
Há duas grandes ilusões nessa frase.
A primeira é “meu”. Ele não é seu, pois não há qualquer
condição de posse em relação a ele e tampouco a nenhum
espírito em todo o universo.
A segunda grande ilusão é dizer “filho”. Ele não é seu filho…
é filho de Deus, filho no universo, filho do cosmos. Não é seu
fruto… é fruto do infinito, da essência e fonte de toda a
existência universal.
Os chamados “filhos” são espíritos livres e independentes;
são almas que têm seu passado, sua história, suas
experiências e seu próprio destino.
Os pais que desejam ter a posse dos filhos e desejam
controlar seu destino deverão prestar contas diante de Deus,
o verdadeiro Pai.
Não tem problema o filho do outro ser lixeiro… contanto que
meu filho seja doutor.
Os pais declaram sempre que precisam orientar seus filhos
nas veredas da existência.
Isso é verdade. A orientação, o ensino de valores e virtudes é
importante, mas o exemplo de vida e a prática do que se
ensina é muito mais importante.
Além disso, é certo que muitas vezes os filhos ensinam muito
mais aos pais do que os pais aos filhos.
Há muitos espíritos de filhos que vêm com a missão de
ensinar e orientar o espírito de seus pais. Mesmo crianças
podem ensinar, orientar e ser um exemplo de conduta e
sabedoria muito melhor do que seus pais.
Se tanto pais como filhos podem ensinar-se mutuamente, fica
a pergunta: quem educa quem?
Um aprende com o outro e não há hierarquia educativa dos
pais em relação aos filhos.
Por que nos arrogamos o direito de dizer-lhes o que fazer, o
que pensar e como devem ser?
Aquele que acredita saber o que é melhor para os filhos se
engana imensamente, está mergulhado numa perigosa ilusão.
Os seres humanos aprendem mais com a falta do que com o

285
ganho, mais com a perda do que com a conquista.
Por isso, não se comprometa com o auxílio de tudo lhes dar e
nada deixar faltar. Nem tente preserva-los das adversidades
da vida.
Muitas vezes acreditamos estar colaborando e os estamos
prejudicando.
Deixe que eles façam sua jornada naturalmente, pois suas
experiências são inexoráveis. O que eles precisam e
merecem viver, eles vão viver, independente de nossa
vontade e proteção.
Não temos o direito de decidir por eles, de controla-los e
menos ainda de fazer deles nossa imagem e semelhança.
Alguns afirmam que devemos guia-los em sua evolução. Mas
sabemos mesmo como ajudar um espírito a evoluir? Esse
“guiar” pode ser na verdade um “moldar” o outro, segundo o
que acreditamos ser o certo.
O que julgamos ser o certo para ele, pode ser apenas uma
projeção de nossas crenças.
A maioria não sabe nem mesmo o que é melhor para si
mesmo. Não ajuda nem a si mesmo. Não resolve nem sua
própria vida.
Muitos sequer praticam aquilo que deveriam ensinar aos
filhos.
Por isso, os filhos devem ser livres para ser, fazer e pensar o
que desejarem. Eles devem semear e colher aquilo que
plantaram, pois é assim que os espíritos ascendem e se
purificam.
E lembre-se: não há o que se preocupar, pois há um Pai
perfeito cuidando deles.
Na hora da prova, o Pai acompanha seus filhos… Deus
permite que eles errem para que aprendam com as
consequências dos seus atos.
Como disse Jesus: “Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar
boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste
dará boas coisas aos que lhe pedirem”.
Nossos filhos são espíritos, eles trazem toda uma bagagem
espiritual que estamos muito longe de compreender.
Entenda isso e entregue esses espíritos nas mãos de Deus.
O Pai celestial não falha. Quem erra somos nós mesmos.

286
VISÃO ESPIRITUAL DA VIDA

Quando vemos alguém em sofrimento, nossa primeira reação


é sempre de dar conselhos que reforcem o lado mundano da
vida.
Seu pai está doente? Calma, ele vai se curar.
Sua mãe está quase morrendo? Fica tranquilo, ela vai
sobreviver.
Quando alguém está triste, nossa primeira reação é: não fica
assim não.
Quando alguém está chorando, dizemos: não chora…
Quando tudo está mal, dizemos: não se preocupe, vai dar tudo
certo.
Há de se perguntar uma coisa:
Vai dar tudo certo mesmo? O que é dar certo para essa
pessoa? Será que a vida dá certo da forma como nós julgamos
o certo?
Não chora? Mas não devemos chorar por quê? O choro é algo
natural… Ajuda a aliviar as emoções. É bom chorar e colocar
toda a carga para fora…
“Não fica triste não”. Por que alguém não deve ficar triste? Qual
o problema em vivenciar a tristeza? É melhor fingir que se está
alegre ou forçar uma falsa felicidade?
Nada disso faz sentido… Nossa sociedade prefere fugir da dor,
da perda, do errado, da doença.
Mas o melhor caminho é modificar o nosso olhar, ver tudo com
outra visão, enxergar tudo sob outra perspectiva.
A visão espiritual da vida é mais real, mais verdadeira, não é
uma fuga e é muito mais consoladora.
É melhor dizer:
Uma doença? Não se preocupe… Ela vem para te curar.
Alguém vai morrer? Ninguém morre… Quando alguém morre
na matéria, ela renasce no plano espiritual.
Você perdeu algo? A perda no mundo abre espaço para o
ganho espiritual.
Tudo está dando errado? Não… Tudo já está dando certo, mas
às vezes é preciso dar errado para aprendermos a ver o certo…
É preciso chegar o mal para o transformarmos em bem.
É necessário que venha a crise para surgir a oportunidade e a
abertura de um novo caminho.
Devemos atravessar a escuridão da madrugada para que o
áureo alvorecer floresça no dia seguinte.

287
Uma porta deve ser fechada para que outras possam ser
abertas.
A vida humana deve chegar ao fim… Para que a vida espiritual
possa começar.
Não veja mais as coisas do ponto de vista do mundo humano
e do ego.
Passe a enxergar tudo dentro de uma visão espiritual da vida.
Essa visão, certamente, não vai te decepcionar…

288
QUAL O TAMANHO DO SEU MUNDO?

Para o vírus, o universo inteiro se resume apenas a uma mi-


croscópica célula. Ele não consegue ver ou enxergar nada
além daquela célula. Por isso, para ele, o todo é a célula.

O mesmo ocorre com a bactéria. Todo o universo se resume


apenas a um tecido de um outro organismo. Para a bactéria,
não há nada que esteja fora daqueles tecidos. Sua percepção
do real é microscópica e enxerga apenas seu meio ambiente
imediato.

Para o vegetal nada existe além da terra, da chuva, do seu


meio e da luz do sol que o banha quase todos os dias.

Para o peixe de água doce, o universo inteiro é o rio onde ele


nada e faz a sua existência. De acordo com a percepção do
peixe, só existe a vida na água. Ele não consegue conceber
algo fora da água e nem conhece coisa alguma além do rio
onde vive. O universo inteiro é o rio e também a água onde ele
nada, se alimenta e convive com outros peixes.

Para a formiga que vive debaixo da terra, toda a existência


nada mais é do que caminhos e trilhas do subsolo. Para a mi-
nhoca ocorre o mesmo. A terra em que ela percorre se alimen-
tando e fazendo caminhos subterrâneos é todo o universo.
Nada existe além do subsolo e o todo, para a minhoca, é a
terra.

A onça crê que só existe a floresta, os rios e a terra. Todo o


universo se resume a floresta e aos animais que lá vivem. As
árvores e as plantas fazem parte do seu cenário de vida. Mas
nada há além da floresta e do que nela contém.

O mesmo ocorre com o gato que vive num apartamento; com


o cachorro que mora numa casa e passeia na vizinhança; as-
sim também é com todos os animais. Eles vivem para seu am-
biente imediato. Seu ecossistema é, para eles, tudo o que
existe. Em sua visão, nada há depois, simplesmente porque
eles não enxergam além das fronteiras conhecidas.

Da mesma forma que o vírus, a bactéria, a árvore e os animais,


o ser humano acredita que o universo é apenas aquilo que ele

289
capta da vida humana. Ele crê que o todo se resume a sua
família, seu trabalho, o trânsito, o dinheiro, as viagens, o co-
nhecimento, sua personalidade, etc.

Aqui podemos indagar: qual o tamanho do seu mundo? Essa é


uma pergunta que todos deveriam se fazer. A maioria acredita
que enxerga tudo, sabe tudo, que suas crenças e seu mundo
é o mais correto e mais verdadeiro.

O homem já pode entrever alguma coisa fora do seu planeta,


mas ele ainda crê que é o senhor da criação e que nada existe
além dele. O ser humano é semelhante ao vírus que supõe ser
a célula o centro do universo. Para o vírus, ele próprio é o se-
nhor da criação, pois domina a célula que é tudo o que existe.

Para o ser humano, ele domina o planeta e já vê fora do pla-


neta; ele se crê, pois, o senhor da criação. No entanto, seria
mais correto dizer que ele é o senhor de sua própria criação,
mas talvez nem isso seja verdade, posto que a ilusão que ele
criou do seu mundo é irreal e um dia vai se dissolver.

O mundo é como sua célula e nada existe além do alcance de


sua visão. Não será nosso mundo tão ínfimo diante do todo
quanto é ínfima a célula para a percepção humana?

O ser humano considera os limites de sua percepção como re-


ais e acredita que, se ele não capta, é porque não existe. Vive
aprisionado ao seu próprio egocentrismo e prepotência. Todo
ser é egocêntrico em relação aos limites de sua percepção que
ele crê ser total e universal. Ao invés de buscar ir além, o ser
humano prefere tentar controlar e se prender ao que já co-
nhece, pois assim sente-se mais seguro diante do imenso
abismo de incertezas da existência universal.

Da mesma forma que o vírus nem desconfia que há algo além


da célula, o ser humano tampouco suspeita o que pode existir
além de sua percepção. Como diz o ditado: “Para o martelo,
todas as coisas são pregos”. Para o ser humano, todas as coi-
sas são apenas o que ele percebe. Mas nossa percepção pode
ser tão pequena, tão diminuta quanto a percepção do vírus é
diante da célula. O planeta pode ser tão pequeno quanto uma
célula, ou um átomo, diante do todo, do infinito.

290
O que há depois das fronteiras conhecidas? Podemos ser nada
além do que uma poeira cósmica, tão insignificantes quanto um
vírus ou uma bactéria, mas acreditamos que detemos todo o
poder dentro dos rígidos limites do nosso parco conhecimento.

Não pare onde você está; não creia que o universo se limita a
sua percepção; pare de viver no seu mísero mundinho; não
acredite na ideia do “Se eu não vejo, não existe”. Há todo um
infinito além, esperando para ser explorado. Não se detenha
no seu ínfimo canteirinho. Continue seguindo para desvendar,
passo a passo, a escada infinita da existência universal.

291
A DOENÇA QUE CURA

Algumas pessoas oram a Deus pedindo a cura de uma pessoa


que está doente, ou oram pedindo a própria cura. Elas frequen-
tam locais que realizam tratamentos, cirurgias e curas espiritu-
ais. Pedem milagres aos santos e algumas chegam a fazer pro-
messas para se verem livres de alguma enfermidade. A maioria
não é propensa a aceitar a doença física e passa a desejar ra-
pidamente que venha a cura. O ser humano faz isso no intuito
de evitar sua dor, seu desconforto, as limitações que as doen-
ças podem trazer e, claro, evitar a morte.

O que as pessoas precisam compreender, entretanto, é um


princípio simples da espiritualidade que diz assim:

“Toda a doença do corpo vem com o objetivo da cura de nossa


alma”.

Esse princípio não é muito bem compreendido e nem mesmo


aceito pela maioria. Ele implica em dizer que as patologias que
se abatem sobre os seres humanos não ocorrem de forma ar-
bitrária e acidental, mas tem uma finalidade bem específica: a
doença exterior pode curar os males interiores.

O que na prática isso significa? Vamos dar o exemplo do ho-


mem que exagera em sua alimentação desregrada. Ele come
toda sorte de alimentos tóxicos e não liga minimamente para
isso. Sua opulência alimentar tem como objetivo faze-lo usu-
fruir dos prazeres da comida. Ele gosta de sentir os sabores e
está bastante apegado ao prazer do gosto. Como diz a frase,
ele não come para viver, mas vive para comer. Burlou a ordem
das coisas e passou a viver apenas para se alimentar. Sua prin-
cipal atividade do dia é comer um copioso churrasco, ou um
doce bastante açucarado. A sabedoria da vida pode, nesse
momento, incutir-lhe uma doença no sistema digestivo a fim de
obriga-lo a manter uma dieta rígida. Dessa forma, ele tem a
oportunidade de se libertar do apego à comida.

Muitas pessoas descontam suas frustrações e carências na ali-


mentação desequilibrada. Comem para preencher o vazio que
existe em seu interior. A provação da doença pode obrigar es-
sas pessoas ao desapego e a viverem mais em harmonia con-
sigo mesmas. No momento em que elas param de usar a co-

292
mida como subterfúgio psicológico, elas ficam com suas carên-
cias mais afloradas, e dessa forma, são forçadas a enxergarem
a si mesmas e tomarem certas providências para se curarem
interiormente.

Outro exemplo interessante que podemos citar da cura interior


que vem com a doença é do workaholic, o homem que trabalha
demasiadamente por medo de ficar sem dinheiro, ou pelo de-
sejo de querer possuir e conquistar. Mais uma vez a sabedoria
da vida pode ajuda-lo a se libertar desse desejo de posse ou
desse medo da perda por intermédio de uma enfermidade or-
gânica. Vamos supor que esse homem adquira uma doença
grave que o incapacite de trabalhar. Ele deverá ficar em casa
e não poderá mais ir ao trabalho. Por isso, não poderá mais
atender seus clientes e, pela força dos acontecimentos, ele co-
meçará a perder dinheiro. Esse homem fica assim por meses
e meses. Com o tempo a sua reserva financeira vai se extin-
guindo e ele vê se dissipar toda a ilusória segurança que o di-
nheiro proporcionava.

A sabedoria da existência universal vai agindo e retirando dele


o dinheiro e as posses, para que ele possa gradualmente se
libertar do medo de perder e do desejo de tudo conquistar. Ele
começa então a despertar para outras facetas da vida, que tem
mais valor do que o dinheiro. Ele passa a ter uma visão mais
desprendida, mais livre, mais espiritual e inicia uma jornada in-
terior. Pode começar, por exemplo, a fazer cursos de autoco-
nhecimento, a valorizar as coisas simples da vida, a não se
preocupar com as miudezas efêmeras da vida humana, etc. Ele
torna-se também mais humilde e mais espontâneo. A doença
que antes era vista como um desastre em sua vida, como algo
terrível, passa a ter outro significado. É justamente a en-
fermidade que vem desencadear seu processo de cura interior.
Ou, como diz a máxima espiritualista, a doença exterior nos
impulsiona para a cura interior.

Há muitos outros exemplos que poderiam ser citados, como


por exemplo da mulher que anseia muito pela sua independên-
cia e seu o poder. Nesse momento vem uma doença e lhe mos-
tra a sua fragilidade humana, seus limites, suas mazelas, suas
imperfeições, algo que ela nunca quis aceitar. Isso a obriga a
olhar para si mesma com outro entendimento e tentar lapidar
seu íntimo aceitando que não detém o poder total, a capaci-

293
dade total, o conhecimento total e passa a se libertar de uma
patologia interior chamada prepotência. Outro exemplo é o do
homem que é muito apegado ao seu corpo físico; fixado em
sua beleza corporal e em seus músculos. Ele adquire uma do-
ença que começa a atrofiar seu organismo e o obriga a ter uma
outra visão de si mesmo. Nesse momento, ele pode começar a
buscar uma vida mais real, com mais amor, mais compaixão,
mais desapego, e deixar de dar destaque em sua vida apenas
as formas físicas. Ele pode passar a ver uma pessoa não pela
sua beleza externa, mas pelo que ela expressa em seu íntimo.

Há muitos outros exemplos que poderiam ser citados aqui, mas


o importante é todos compreenderem o quanto as enfermida-
des orgânicas podem ser o caminho para nossa cura interior,
para uma purificação de nossa alma. A alma humana encontra-
se demasiadamente intoxicada com os venenos desse mundo.
Por isso, a doença vem como uma limpeza, uma higienização
de nossa mente e de nossas emoções. É como a desintoxica-
ção que se faz através do jejum. Quando iniciamos o jejum, a
tendência é o mal-estar, a angústia, dores pelo corpo, etc. Tudo
isso é a sabedoria da natureza iniciando o processo de desin-
toxicação, que causará desconforto pela eliminação das toxi-
nas, mas depois trará uma pureza orgânica. É importante men-
cionar também que não é a doença em si que promove essa
depuração, mas sim a forma como cada pessoa muda sua
perspectiva durante e depois da doença.

Por isso, não se esqueça dessa máxima. Ao invés de ficar


orando a Deus e pedindo uma cura que não virá, procure des-
vendar o enigma da doença. Essa doença veio para me trans-
formar. Como posso aproveitar as lições que ela veio me trans-
mitir? Torne-se aberto ao sagrado ensinamento da vida através
da doença.

As enfermidades não são desgraças fortuitas e amaldiçoadas


que vem para nos destruir… No plano do espírito, a doença é
uma benção que estabelece e sinaliza o caminho a ser percor-
rido para nossa transformação e para a purificação de nossa
alma.

294
UM HOMEM OFENDE UM SÁBIO

Um sábio hindu muito famoso estava ensinando a um grupo de


discípulos. Sem qualquer aviso, um homem aparece diante de
todos com um semblante de muita raiva. Ele aponta o dedo
para o sábio e diz em voz alta:

– Eu não gosto de você! Todos aqui te amam, mas eu te odeio.


Você é desprezível! Você é mentiroso! Além de ser feio… você
é burro! Pessoas como você apenas enganam as outras. Quer
parecer muito sábio, mas não passa de um ignorante! Você é
um sonhador insignificante!

O homem lançou estes insultos contra o sábio e depois se re-


tirou.

Os discípulos ficaram chocados com o atrevimento do homem.


O sábio viu o homem sair, olhou para os discípulos e simples-
mente disse:

– Então, como eu ia dizendo a respeito do Bhagavad Gitá…


Um dos discípulos interrompeu o sábio e perguntou:

– Mestre… Você não ouviu o que este homem falou? Ele te


ofendeu de várias formas. Você não ficou chateado quando ele
disse, por exemplo, que você era desprezível?

O sábio calmamente olhou para o discípulo e disse:

– Se eu quisesse ser grande, sim… eu teria me chateado com


o que ele falou. Mas como eu não tenho qualquer desejo de ser
grande, eu não me importo quando alguém diz que sou pe-
queno ou desprezível.

O discípulo entendeu a resposta, mas ainda não estava satis-


feito e perguntou:

– Mas mestre… ele também disse que você é burro!

– Sim… e dai? – respondeu o sábio – Se eu desejasse ser in-


teligente ou parecer inteligente, sim… eu ficaria bravo com o
que ele disse. Mas como não tenho nenhum desejo de ser in-

295
teligente e tampouco quero parecer inteligente diante de outras
pessoas… eu simplesmente não ligo para isso.

O discípulo compreendeu a ideia transmitida pelo mestre. O


sábio continuou:

– Busquem compreender essa verdade… Esse homem veio


aqui e me chamou de feio, mas eu só ficaria ofendido, bravo ou
magoado se eu quisesse ser bonito. Mas como não tenho ne-
nhuma vontade, desejo ou expectativa de ser bonito, eu não
dou a mínima para aqueles que me chamam de feio ou acham
que sou feio. O mesmo ocorre com tudo na vida. Uma pessoa
só fica triste quando dizem que ela não é boa quando ela de-
seja ser boa; só fica ofendida quando lhe chamam de ignorante
quando ela quer muito ser ou parecer inteligente; só fica irritada
quando lhe chamam de chato, quando ela quer muito ser ou
parecer legal aos olhos dos outros. Quanto mais alguém deseja
ser ou parecer algo, mais sofre por não ser esse algo ou por
dizerem que ele não é.

No entanto, aquele que não se importa em ser bonito ou feio,


grande ou pequeno, bom ou mau, sábio ou ignorante, ou qual-
quer outra coisa… esse não se ofende, não se entristece, não
se deixa abater por nada. Entendam, ó discípulos, que essa é
uma das raízes do sofrimento humano: o desejo de ser ou de
parecer algo a alguém. Aquele que se liberta disso… está
pronto para viver em paz consigo mesmo para sempre.

296
NÃO ALIMENTE O MAL

É melhor ser magoado do que magoar…


É melhor ser ofendido do que ofender…
É melhor ser agredido do que agredir…
É melhor sofrer do que fazer o outro sofrer.
Mas quando somos atacados, agredidos, maltratados, magoa-
dos
E respondemos de forma amorosa, tranquila, indiferente e li-
vre…
Não somos afetados e não ficamos com nada dentro de nós.
A mágoa vem e não fica
O sofrimento aparece e não faz moradia
A agressão passa, mas não fica…
O karma é transmutado e nos tornamos livres.
Mas se devolvemos ódio com ódio
Se atingimos com agressões aqueles que nos agridem
Se fazemos sofrer aqueles que nos impingiram sofrimento
Alimentamos o ódio, fazemos ele crescer e ele continua vivo.
Damos mais e mais combustível a ele e não permitimos que o
mal se enfraqueça e morra de fome.
Devolver na mesma moeda apenas fortalece o mal em nós.
Retribuir o mal com o mal empobrece nosso espírito.
Aquele que devolve o mal com outro mal…
Aquele que retruca o ódio com mais ódio…
Aquele que responde a escuridão jogada sobre nós com mais
escuridão atirada de volta…
Esse aumenta a escuridão dentro de si mesmo, faz crescer o
ódio em seu coração e fica com o mal para si.
Quando fazemos o mal em troca do mal, sujamos nossas
mãos, infectamos nosso interior, intoxicamos nossa vida.
Mesmo que a pessoa não perceba, essa escuridão predomina,
toma conta, invade e cresce. Então, passamos a servi-la dali
em diante.
Mas quando o bem é praticado em devolução ao mal… o bem
prevalece dentro de nós e cura nossas feridas, acalma nosso
ser e purifica nossa vida.
Quando o amor é transmitido àquele que destilou seu ódio, o
amor fica dentro de nós e o ódio permanece apenas com o ou-
tro.
Quando acendemos uma luz na escuridão que o outro jogou
sobre nós…

297
Iluminamos toda nossa vida e as trevas simplesmente deixam
de existir.
É uma questão de escolha: você prefere viver na luz ou na
escuridão?
Opte pela luz… e nela onde existe a felicidade, a liberdade e a
paz de espírito…
E faça isso devolvendo o bem, o amor, a paz a todos aqueles
que te fizeram mal.
Por isso, não faça o outro sofrer… Deixe que o sofrimento
venha e passe por você, sem reações similares.
Apenas reaja de forma amorosa, o mal em você será
purificado…
Transformando-se em bem-estar, paz, felicidade e liberdade
espiritual.

298
NÃO SE IMPORTE

Uma pessoa disse que não gosta de você


Não se importe com isso…
Alguém desferiu ofensas e agressões graves a ti.
Não dê valor a isso…
Alguém fez fofocas a teu respeito, proferiu calúnias e te
difamou em público.
Não dê atenção a isso…
Alguém te maltratou, humilhou, traiu e rejeitou.
Não se importe, não dê atenção, não dê valor…
Você perdeu o emprego, seu casamento terminou e você caiu
em depressão.
Não se deixe abater, não se importe, não dê valor a nada
disso.
Há uma máxima na vida que diz assim:
Quanto mais valor damos a um problema, maior ele se
parece.
Quanto mais nos importamos com alguma coisa, mais poder
ela rouba de nós.
Quanto mais atenção conferimos a algo negativo,
Mais nos tornamos apequenados, desvitalizados, diminuídos,
fracos, encolhidos, limitados e incapazes.
Por outro lado, mais o conflito, problema, sintoma ou bloqueio
parece colossal, gigantesco, poderoso e devorador.
Por isso, não se importe com as pequenezas desse mundo.
Não dê atenção e nem força para os conflitos.
Não se importe em ganhar ou perder, em fazer ou não fazer,
em conseguir ou não conseguir.
Nada disso vale tua paz interior…
Quanto mais você se importa, mais aprisionado você está e
mais você sofre.
Quanto mais você se importa e se envolve com um problema,
menos você consegue ver tudo com clareza.
Quanto menos você se importa, mais desligado você está do
mal. Logo, mais imparcial você se encontra e melhor pode
agir adequadamente sobre ele.
Uma pessoa que não dá tanta importância ao que lhe ocorre
deixa tudo passar…
As coisas ruins vem e vão… a tristeza chega e depois vai
embora. Todo sofrimento passa por nós, mas não fica dentro
de nós.
Quando damos demasiado valor, tudo que vem acaba ficando

299
em nosso interior. Permanece preso, retido e mal digerido.
Ficamos remoendo aquilo, processando, relembrando, e isso
nos cria mais e mais problemas; mais e mais mal estar; mais
e mais infelicidade.
Mas quando não damos valor as coisas pequenas desse
mundo, passamos a sentir uma paz e uma liberdade espiritual
impossível de ser descrita em palavras.
Assim como ninguém pode te fazer maior ou menor do que
você já é.
Somente nós podemos dar uma dimensão maior ou menor ao
nosso problema.
Por isso, siga essa máxima da vida… repita sempre esse
mantra:
“Não me importo, não dou valor, não dou atenção indevida e
não entrego meu poder.”
O sábio não se importa com o passageiro, com a natureza
ilusória desse mundo.
Ele não dá importância a nada que é efêmero, e por isso, não
sofre, não se diminui, não se enfraquece e não se perde nas
banalidades das quimeras mundanas.
Quanto mais medo você tiver dos seus monstros internos, dos
seus demônios…
Maior eles serão para você, mais espaço ocuparão em sua
vida, mais te roubarão energia e mais ainda te farão sofrer.
Pare de dar valor ao que não tem valor; pare de se importar
com o que não deve se importar…
Não se importe, fique em paz…
E permita que a vida flua livremente em ti.

300
O MAL QUE TE FIZERAM

Marília era uma pessoa muito infeliz e frustrada. Tinha um filho


que se chamava Bernardo. Muitas vezes Marília se irritava com
uma série de situações e descontava no filho. Por muitas vezes
o menino sofreu com as agressões da mãe. Desde os sete
anos de idade, apanhou muito em várias ocasiões. Acabou se
tornando uma pessoa revoltada. Bernardo cresceu e teve fi-
lhos. Por conta das surras que levava, ficou deprimido e não
conseguiu realizar o que desejava em sua vida. Assim, seguiu
o mesmo caminho de sua mãe e começou a agredir os próprios
filhos. Batia neles sem dó e seguiu esse padrão até a sua
morte. As mesmas agressões que ele sofreu de sua mãe ele
impunha aos seus próprios filhos.

Bianca era uma menina doce e delicada, que apresentava difi-


culdades escolares. Ela estudava, estudava, mas não conse-
guia obter a média suficiente para passar de ano. Uma das pro-
fessoras da escola não gostava da menina e começou a per-
segui-la. Sempre que Bianca apresentava um bloqueio na
aprendizagem, a professora ficava com má vontade e expunha
a menina diante de toda a classe. Algumas vezes a professora
dizia, na frente da menina, que todos deveriam estudar para
não ficar como a Bianca. Foram muitas perseguições e humi-
lhações. Bianca cresceu e se tornou uma pessoa deprimida e
melancólica, que não acreditava em si mesma. Estudou e con-
seguiu se tornar uma professora da rede pública. Percebeu que
existiam alguns alunos que eram tal como ela foi sua infância.
Ao invés de ajuda-los, ela começou a persegui-los e a expor
cada um deles, da mesma forma que sua professora da escola
fazia. Bianca tinha aversão do que ela foi em sua idade escolar.
Por esse motivo, ao ver um dos alunos semelhantes a ela, tinha
a mesma atitude da professora que a colocava pra baixo. Bi-
anca foi maltratada em sua infância e acabou seguindo o
mesmo comportamento com alguns de seus alunos.

Guilherme era um menino tímido e meio desajeitado. Os cole-


gas da escola viviam fazendo bullyng nele, dando vários apeli-
dos, chamando-o de torto, esquisito e burro. Guilherme cres-
ceu ouvindo essas ofensas e sofrendo um terrível bullyng de
seus colegas, que o faziam de bode expiatório e não poupavam
o garoto. Cresceu e se tornou um empresário de sucesso, po-
rém uma pessoa cheia de feridas de uma infância marcada

301
pelo bullyng. Tornou-se um homem arrogante e revoltado. Por
isso, muitas vezes tratava mal seus empregados: não pagava
direito seus salários, exigia muito deles, brigava, ameaçava,
praticava assédio moral etc. Guilherme fazia um verdadeiro
bullyng em seus funcionários, o mesmo que ele havia sofrido
em sua época de escola.

Esses casos nos mostram um padrão muito comum que algu-


mas pessoas adotam em suas vidas. Temos alguém que foi
gravemente ferido, humilhado, agredido e enganado durante
uma parte de sua vida. Em outro momento, essa pessoa acaba
reproduzindo esse mesmo comportamento. Podemos dizer
que esses indivíduos foram maltratados e depois acabam se
tornando exatamente como quem os maltratou. Eles foram mo-
lestados, atormentados e depois cuidam de molestar e ator-
mentar outras pessoas.

Por isso alertamos a todos: não se transforme no mal que fize-


ram a você. Ou, como diz a máxima, “Não se torne jamais
aquilo que te feriu”. Cuide de aprender com as más experiên-
cias, com os sofrimentos e procure não repetir esse mesmo
padrão com outras pessoas. Não é porque te maltrataram, que
você também tem que maltratar; não é porque te humilharam,
que você também deve humilhar os outros; não é porque te
bateram e te enganaram, que você deve fazer o mesmo.

Faça uma reflexão profunda e procure descobrir se você não


acabou se transformando no mal que alguém impôs a
você. Pessoas que foram agredidas, podem começar a agre-
dir; pessoas que foram destratadas, podem começar a destra-
tar; pessoas que receberam uma educação fria podem se tor-
nar pessoas frias; pessoas que foram rejeitadas podem querer
rejeitar outros; qualquer mal que alguém te fez, você pode de-
sejar fazer a outrem, mas não faça isso. É muito importante que
todos possam seguir algumas orientações na vida: quando al-
guém te fizer mal, não se torne tal como o mal que te fizeram.
Aprenda com essa experiência e faça diferente. Torne-se
aquilo que você gostaria que tivessem feito com você.

302
A PERDA NOS FAZ EVOLUIR

Muitas pessoas pedem coisas a Deus e querem sempre


ganhar, conquistar, conseguir coisas etc.
Mas para o nosso espírito, a perda ensina muito mais do que
o ganho.
A falta ensina muito mais do que a conquista.
Evoluímos mais pela ausência de algo do que pela presença
de algo.
Nos desenvolvemos muito mais quando nada temos do que
quando tudo possuímos. O não ter nos ensina muito mais do
que o ter.
O ganhar nos atrapalha… enquanto o perder nos obriga a
uma revisão interna, de valores, de moral, de crenças, uma
reinvenção de nós mesmos.
Nosso instinto materialista nos faz acreditar que precisamos
sempre ter coisas, ter pessoas, ter tudo, para estarmos
satisfeitos.
No fundo acreditamos mais nas conquistas materiais do que
nas conquistas espirituais.
Acreditamos mais nas facilidades do que no esforço pessoal.
Acreditamos mais no sucesso humano, nos títulos, na
reputação, na expansão do ego… do que na busca espiritual,
no crescimento interior, na diminuição do nosso ego e na
consequente expansão do nosso espírito.
Acreditamos mais no comodismo, no conforto e na
estabilidade material e financeira do que na busca por um
crescimento interior através das provas que Deus nos coloca
visando nossa transformação interior.
É preciso compreender que quando caímos no vazio, somos
obrigados a rever nossa vida, nossas crenças, nossa
consciência e encontrar algo que se encontra dentro de nós.
Por isso, para Deus, nos tirar algo, é o mesmo que nos dar
algo que ainda não conseguimos compreender.
A sabedoria divina nos tira o inferior para que possamos
descobrir algo superior, mais elevado e mais profundo que
existe em nosso interior.

303
O QUE OS OUTROS PENSAM DE VOCÊ

Não se preocupe com o que os outros pensam de você.


Deixe que eles pensem o que quiserem.
Não se martirize por isso.
Não podemos controlar a visão do outro sobre nós.
O que importa não é o que o outro pensa, o importante é o
que você é e o que você faz de você mesmo.
Se alguém quiser pensar, por exemplo, que você é um
fracassado, ou que você é um mau caráter, deixe ele pensar
o que quiser…
O que uma pessoa pensa sobre mim é um problema dela,
não meu…
O preconceito é dela, não meu…
A visão restrita é dela, não minha…
O julgamento apressado é dela, não meu…
A condenação é dela, não minha…
Ela julga com o pouco que sabe.
E eu, por meu lado, posso fazer o melhor com o que eu sou…
Mas se você aceita a visão limitada do outro e passa a se
rotular por ela.
O limite do outro se transfere para você.
E você passa a ser aquilo que o outro projetou em você.
Por isso, não ligue para julgamentos, eles nunca estão
corretos.
Ninguém pode adentrar em nossa essência ou na intimidade
profunda de ninguém.
As pessoas veem apenas 0,1% do que somos e julgam com
base nessa apequenada percepção.
Também não fique tentando provar nada a ninguém.
Mesmo que você prove, ainda podem existir pessoas que te
desaprovam.
Por mais que você faça, ainda existirão aqueles dizendo que
você não fez o suficiente.
As pessoas não veem o que você é. Elas tiram o que você é
pelo que elas são.
Elas projetam em você aquilo que lhes convém, com base em
suas imperfeições.
Por isso, procure ficar em paz com sua própria consciência,
ao invés de ficar de bem com a consciência dos outros.
Ninguém vive em paz pautando sua vida na opinião coletiva
sobre si mesmo.
Quando estamos de bem com nossa consciência mais

304
profunda, em nada nos afeta os pensamentos e os
julgamentos dos outros.
Quanto mais você se importa com o que os outros pensam de
você, mais você deixa de ser você mesmo.
Por outro lado, não deixe de ouvir os outros, de acolher uma
opinião daqueles que se importam com você.
Mas não se detenha ou se defina pela visão da maioria a seu
respeito.
Aceite as críticas de bom grado, sem se abalar com isso.
A verdade é que só você sabe sobre seu interior.
Portanto, faça o melhor que você pode, não para agradar os
outros, mas para superar seus limites.
Seja você mesmo e seja feliz.

305
PARA QUE PEDIR ALGO A DEUS?

A maioria das pessoas ora a Deus pedindo alguma coisa. Suas


orações sempre se focam naquilo que elas desejam obter da
vida. Cada pessoa que ora a Deus tem um desejo e sua prece
se direciona quase sempre a pedir que Deus satisfaça as nos-
sas vontades individuais. No entanto, quando paramos para
analisar a natureza de Deus, observamos o quanto o ato de
orar apenas pedindo é algo fútil e sem sentido. Para entender
esse ponto, vejamos o que todos concordam a respeito do Cri-
ador.

Deus é, para todos os efeitos, onisciente, onipresente e onipo-


tente. Isso significa que Deus tudo sabe, tudo vê, tudo alcança,
tudo pode e em tudo está presente. Não há qualquer espaço
no universo, por menor que seja, que Deus não esteja pre-
sente; não há qualquer coisa que Deus não saiba; não há qual-
quer acontecimento que Deus não possa mudar ou que já não
o tenha guiado; não há, tampouco, qualquer coisa que Deus
não tenha conhecimento. Assim, Deus sabe de tudo, pode tudo
e está presente em tudo. Se Deus é infinito, eterno e perfeito,
Ele também é onipresente, onisciente e onipotente. Quanto a
isso não há qualquer dúvida. Se Deus não tivesse esses atri-
butos, Ele simplesmente não poderia ser Deus; não seria a
causa suprema de tudo, mas seria um mero efeito da Criação.

Diante desses fatos incontestes, é possível afirmar que Deus


sabe tudo a nosso respeito. Desde o nascimento até a nossa
morte: todos os fatos, todos os nossos pensamentos, enfim,
tudo o que existe a nosso respeito Deus é 100% ciente. Deus
conhece tudo, até mesmo aquilo que desejamos ocultar de nós
mesmos. Ele sabe não apenas tudo sobre nós, mas tudo sobre
tudo, já que o Criador é onisciente.

Nesse âmbito, podemos fazer uma simples pergunta: se Deus


é onisciente e tem o conhecimento infinito sobre absolutamente
tudo em todos os níveis, por que é necessário pedir algo a
Deus? Deus, em sua infinita sabedoria, já sabe, muito antes de
nós, tudo aquilo que precisamos. Deus sabe tudo o que preci-
samos e tudo aquilo que merecemos receber. Ele sabe o que
é melhor para nós infinitamente mais do que nós mesmos. Ele
sabe de todas as nossas necessidades, sabe tudo o que nós
podemos receber e tudo o que pode nos proporcionar os me-

306
lhores frutos espirituais. Ele sabe tudo o que pode trazer paz e
felicidade verdadeira em nossas vidas e na vida do nosso es-
pírito.

Se é assim, para que pedir algo a Deus? É possível que exista


algo que Deus não saiba? Não, não é possível. Se Deus é onis-
ciente, onipresente e onipotente, Ele sabe tudo a nosso res-
peito e sabe até mesmo o que vamos pedir. É possível pedir
que Deus veja algo sobre nós que Ele pode não estar vendo?
Também não é possível. Se Ele é onipresente, já está vendo
tudo, absolutamente tudo, e não há nada que Ele não possa
enxergar a nosso respeito. Não há qualquer possibilidade de
Deus deixar de ver algo, deixar de saber algo, deixar de reco-
nhecer alguma necessidade nossa. Deus já nos dá tudo o que
precisamos, pois Ele já sabe tudo. Se Deus não visse algo a
nosso respeito, Ele não seria Deus. Esse Deus que precisa ser
informado sobre os assuntos humanos e suas necessidades
seria um Deus muito fraco, muito limitado. Ele não seria onisci-
ente, nem onipotente e nem onipresente. Não seria perfeito,
eterno e infinito. Que Deus seria esse senão um falso Deus,
um Deus imaginário que foi criado pela mente humana? Seria
um Deus ilusório criado como uma necessidade humana para
aliviar nosso sofrimento.

Diante de todas essas reflexões, qual o sentido das súplicas a


Deus? Qual o sentido de pedir coisas? Será que, em nossa
ingenuidade, acreditamos mesmo que Deus não saiba algo, e
que nós saibamos mais do que Deus aquilo que nós mesmos
precisamos receber? É como se disséssemos: Deus, eu pre-
ciso disse, você não viu o que eu preciso? Ou então: Deus,
olha eu aqui sofrendo. Você ainda não viu que eu estou so-
frendo? Ou ainda: Deus, olhe pelo meu filho. Você não perce-
beu, Deus, que meu filho precisa de ajuda? Todas essas súpli-
cas desconsideram a natureza real e infinita de Deus. Se Deus
ainda não nos curou, não nos libertou do sofrimento, não nos
deu uma casa, não nos fez ganhar dinheiro, é porque precisa-
mos justamente da falta para nos elevar espiritualmente.

Dessa forma, Deus sempre… sempre nos dá aquilo que nós


precisamos. Mas nós desejamos instruir a Deus sobre aquilo
que é melhor para nós. Nós desejamos declamar nossas pe-
quenas verdades dizendo: “Deus, olhe meu sofrimento, eu pre-
ciso de cura, eu preciso de alívio, eu preciso de dinheiro, eu

307
preciso da solução do problema do meu filho”. Orando dessa
forma, estamos negando a onisciência de Deus; estamos ne-
gando a onipotência de Deus; estamos negando a onipresença
de Deus. O Eterno já sabe que estamos sofrendo, já sabe que
estamos doentes; já sabe que nosso filho está imerso nas dro-
gas. É preciso entender que Deus não nos dá aquilo que dese-
jamos, Ele nos dá aquilo que precisamos, que necessitamos
de fato para a nossa evolução espiritual. Da mesma forma que
um pai não dá o doce que seu filho pede, mas lhe dá legumes
e verduras. De igual maneira, Deus… a consciência infinita e
eterna, não nos dá aquilo que gera prazer, conforto e estabili-
dade de nível humano e mundano. Deus, que tudo sabe e tudo
vê, sempre, sem exceção, nos concede aquilo que é mais im-
portante para o nosso desenvolvimento espiritual.

Portanto, pedir algo a Deus não tem sentido, não tem utilidade,
é algo frívolo e sem propósito. Jesus nos deixou o melhor
exemplo do que deve ser feito em situações extremas. Ele orou
a Deus e disse:

“Pai, que seja feita a Tua vontade, e não a minha”. Vamos, a


partir de agora, seguir este sagrado ensinamento do Cristo.

308
É PRECISO ABRIR MÃO

Uma mulher procurou um monge e disse que não aguentava


mais sua vida. Ela estava saturada de tudo e queria se purificar
interiormente. O monge virou-se para ela e disse:

– Já vou falar com você, mas antes segure minha bolsa aqui,
por favor.

A bolsa do monge era bem grande e pesada. A mulher ficou


revoltada e não entendeu o motivo disso. “Eu venho procurar
ajuda e ele me faz de empregada?” pensou. No entanto, resol-
veu fazer o que ele pediu. O monge disse:

– Agora vá até a cachoeira aqui ao lado e lave suas mãos, mas


sem soltar a bolsa.

A mulher, meio contrariada, caminhou até a cachoeira e tentou


lavar suas mãos. Entretanto, percebeu que não poderia fazer
isso, a não ser que soltasse a bolsa. Voltou ao mosteiro e falou
para o monge que não tinha como lavar as mãos segurando a
bolsa. O monge disse:

– Agora pegue esses papéis para mim.

A moça tentou pegar, mas por estar segurando a bolsa grande,


disse ao monge que não conseguiria pegar. O monge disse:

– Claro… Você não consegue por um motivo muito simples:


nossas mãos precisam estar vazias para que possamos lava-
las. Mãos cheias de coisas não podem ser lavadas e tampouco
são capazes de pegar outras coisas; elas só podem ficar com
o que já estão carregando.

Por isso, aqueles que desejam se purificar e se renovar em es-


pírito, precisam soltar as coisas e permanecerem vazios de
tudo. Devem soltar as cargas e estar com as mãos abertas para
a vida, a fim de se limparem e de recepcionar a renovação, o
novo nascimento. Não adianta desejar que a renovação ou a
transformação chegue em sua vida se sua mão continua agar-
rada a milhares de coisas e não solta as cargas antigas, que
você já conduz há muito tempo.

309
O ser humano quer tudo, mas não é capaz de abrir mão de
nada. Por isso, caso você esteja segurando um peso há muito
tempo, solte… Não tenha medo, solte… Solte tudo… Não fique
carregando coisas desnecessárias. Solte tudo e fique vazio,
sem nada… Na vida é essencial sempre abrir mão das coisas.
Abra mão do antigo; abra mão das cargas que você já carrega
há tempos; libere todo peso acumulado que te coloca pra baixo.
Somente quando nos esvaziamos completamente é que con-
seguimos ser livres e renovar nosso ser. Da mesma forma, so-
mente quando soltamos tudo é que nos tornamos livres para
permitir que Deus entre em nossa vida e em nosso ser.

310
A HISTÓRIA DAS QUATRO ALMAS

Era uma vez quatro almas que nasceram na matéria. A primeira


delas era um pouco mais esclarecida, e por isso, Deus lhe deu
a missão de conduzir as outras três almas pelos caminhos da
luz.

Logo após o nascimento, durante sua existência corporal, a pri-


meira alma, mais esclarecida, foi ao encontro da segunda
alma. Assim que a encontrou, pegou em sua mão e, de mãos
dadas, a foi conduzindo pela escuridão. Após um tempo, apon-
tou para ela o caminho da luz e a deixou seguir sozinha. Logo
depois, foi ao encontro da segunda alma e fez a mesma coisa:
pegou em sua mão e, de mãos dadas, a primeira alma condu-
ziu a terceira alma pela escuridão, mostrando depois o cami-
nho a ser seguido para a luz.

Assim que deixou a terceira alma, a primeira alma foi ao en-


contro da quarta e última alma que ela deveria auxiliar na vida
corpórea. Fez exatamente o mesmo das duas primeiras: pegou
em sua mão e, de mãos dadas, ambas começaram a caminhar
juntas. No entanto, a quarta alma deu dois passos e logo de-
pois parou. A primeira alma disse: “Vamos. Eu te mostrarei o
caminho”. Mas a quarta alma retrucou: “Não quero ir. Prefiro
permanecer aqui mesmo”.

A primeira alma insistiu: “Procure entender que aqui só existe


escuridão. Mas há um lugar melhor para todas nós, almas de
Deus, que é um local todo iluminado”. A quarta alma permane-
ceu irredutível e reafirmou: “Não me importo. Quero ficar aqui.”

Nesse momento, de mãos dadas, enquanto a primeira alma fa-


zia força para frente, a quarta alma fazia força para trás, e força
de uma anulava a força da outra. Acreditando saber o que é
melhor, a primeira alma, ainda de mãos dadas, tentou con-
vence-la e fez ainda mais força para que ambas seguissem,
mas a quarta alma insistiu que preferia ficar, e por isso, fez
mais força ainda para ficar onde estava. A primeira alma, mais
esclarecida, acabou ficando presa nessa situação, de mãos da-
das com a outra, tentando carrega-la e forçando seu caminhar,
mas a quarta alma não queria de jeito nenhum seguir para a
luz.

311
A vida material de ambas foi se esgotando, até que chegou ao
fim. A primeira alma acabou ficando presa ao mundo, sem con-
seguir ir para a luz. A quarta alma também permaneceu presa
à matéria, como era seu desejo. Por isso, as duas almas aca-
baram se transformando em fantasmas que perambulavam
perdidas e erráticas pelo mundo astral da Terra.

Essa é uma lição que serve para todos nós. Aquele que pega
na mão de uma pessoa e tenta leva-la ao melhor caminho,
deve entender que o outro pode não querer ser ajudado e pode
optar em permanecer estagnado onde está. Assim, quando da-
mos a mão a alguém e essa pessoa não quer seguir em frente,
o melhor é soltar sua mão e caminhar sem ela. Caso contrário,
os dois ficarão estacionados, presos e o resultado será a perda
de suas vidas.

Não jogue fora a sua vida tentando carregar os outros. Se a


pessoa que você ama não quer se melhorar, solte sua mão e
siga em frente. Não tente forçar a melhora do outro; não intente
modificar alguém que não quer mudar; não imponha o desen-
volvimento a ninguém. Respeite sua livre vontade de ficar onde
está e não se melhorar. Se a pessoa não quiser caminhar, solte
sua mão e caminhe você… Cada alma que vem a Terra é res-
ponsável apenas e tão somente pelo seu próprio destino. Nin-
guém pode forçar a caminhada daqueles que preferem ficar
inertes e estacionados em seu próprio nível.

312
TUDO VEM E VAI EMBORA

Era uma vez um menino de 6 anos que vivia numa zona rural,
um lugar muito bonito e com natureza. Seus pais trabalhavam
no campo, e por isso, ele tinha muito tempo livre.

Certo dia, caminhando pelos campos, ele notou uma flor muito
bonita. Seu primor e sua formosura o encantaram. Todos os
dias o menino retornava ao mesmo local e ficava contemplando
a flor. Certo dia, ele decidiu que levaria a flor para casa, assim
poderia observa-la sempre que quisesse, sem precisar ir em-
bora e vê-la apenas no dia seguinte. Retirou-a do solo e levou
para casa. Dois dias depois ela murchou e logo depois morreu.
O menino chorou e ficou muito triste.

O menino agora estava com 10 anos. Quando passeava pelo


campo, começou a avistar sempre um pássaro muito belo.
Esse pássaro ficava diariamente numa mesma árvore. Ele pou-
sava num de seus galhos, ficava uns 25 minutos e depois ia
embora. O menino começou a achar aquele passarinho fasci-
nante, além de ter um gracioso canto. Decidiu então que queria
obter ele para si, para que não mais fosse embora e pudesse
ficar sempre com ele. Conseguiu uma rede e jogou na direção
do pássaro, capturando-o em suas mãos. O menino olhou o
pássaro e este lhe deu uma boa bicada. Ele gritou e soltou o
pássaro, que voou rapidamente. O menino caiu em prantos e
ficou muito triste com tudo.

O menino, agora um rapaz, estava com 14 anos. Começou a


ajudar seu pai na fazenda. Em seus passeios à tardinha, ele
encontrou-se com um cachorro de rua. Um animal muito dócil
e alegre. Ele passou a brincar todos os dias com ele, que aca-
bou se tornando seu melhor amigo. O animal ficava um pouco
com ele e logo depois ia embora, caminhar pelo campo, como
sempre fazia. O menino ficava triste, pois queria permanecer
mais tempo com seu amigo. Certo dia, o menino decidiu que
era melhor levar o cachorro para casa, assim ele não poderia
mais ir embora e ficaria com ele em definitivo. Chegando em
casa, prendeu-o pelo pescoço e o deixou lá, parado, com um
olhar de triste de quem perdeu sua liberdade. Passado algum
tempo, o menino se aproximou do cachorro e este o mordeu.
O menino começou a chorar e o cachorro fugiu. O animal ficou

313
nervoso de ficar tanto tempo preso, pois estava acostumado
com a liberdade. O menino ficou bem triste com o ocorrido.

O menino cresceu e agora estava com 18 anos. Em seus pas-


seios conheceu uma menina, filha de um fazendeiro local que
acabara de comprar uma fazenda próxima. O rapaz ficou des-
lumbrado com a beleza da moça e decidiu conversar com ela.
Eles conversaram e logo estavam namorando. O tempo foi
passando e, certo dia, ela revelou que não queria mais um
compromisso sério, pois ainda era jovem. O rapaz ficou ator-
doado com aquela notícia e começou a discutir com a moça.
Não aceitava o fato de que ela poderia terminar tudo. O rapaz
então agarrou a moça e disse que ela não iria embora, que
ficaria com ele custe o que custar. A moça se desesperou, pe-
gou seu canivete no bolso e cortou o braço do rapaz. Este gri-
tou de dor e soltou a moça, que correu desesperada para bem
longe.

O rapaz caiu no chão, chorando muito e sentindo uma imensa


dor no peito. Parou por um tempo e fez uma revisão de sua
vida até aquele momento. Em várias situações, ele havia se
negado a aceitar o término de algo e, por conta de seu apego,
queria possuir esse algo para impedir que fosse embora. Após
muita reflexão, levantou-se ainda sangrando, e decidiu que, a
partir daquele momento, tudo de bom que chegasse em sua
vida ele passaria a sempre aceitar que em algum momento
aquilo iria embora. Após essa decisão, sentiu-se muito mais
leve e livre de tudo…

Cada coisa que nos chega faz sentido apenas num dado mo-
mento de nossas vidas e tem sempre um tempo de permanên-
cia conosco. Muitas vezes desejamos prolongar esse período
quando algo já acabou ou precisa ir embora. O apego a algo
ou alguém impede que aceitemos a ida do antigo e a chegada
do novo. Tudo na vida humana vem, passa um tempo conosco,
e tão logo cumpre sua missão, deve ir embora. Todas as coisas
vêm e vão… Se não permitimos que algo que veio possa ir em-
bora, ficamos presos, submetidos àquilo, enlaçados, apega-
dos, fixados e aprisionados. Dessa forma, podemos não con-
seguir continuar nossas vidas e seguir em frente. Ficamos pa-
rados no tempo e morremos um pouco dentro de nós.

314
Quando for o momento, deixe que algo se vá… É certo que
nada fica conosco para sempre. Tudo sempre vem e vai em-
bora… Por isso, desapegue-se. Viva sempre com total des-
prendimento. Aceite o eterno fluxo da vida, e somente assim,
você será mais livre e feliz.

315
VIVER E MORRER

Tudo o que vive, morre… e tudo o que morre, renasce.

O nascimento também é uma morte: a morte da condição do


útero. A infância é a morte do bebê. A adolescência é a morte
da criança… É quando chega a puberdade e outras transfor-
mações. A idade adulta é a morte da juventude, seus prazeres,
sua revolta, seus sonhos, seu despojamento. A velhice é a
morte da idade adulta. A morte do corpo físico é o fim da vida
e o início de uma outra forma de vida ainda incompreensível
para nós.

A morte não é um fim, mas sempre uma transição, seja no sen-


tido orgânico, seja no sentido emocional, seja no sentido da
ascese. Deixar o passado morrer é essencial para que o nas-
cimento possa ocorrer no presente. Há sempre uma morte e
um nascimento ocorrendo a todo momento. Cada expiração é
uma morte e cada inspiração é um nascimento que consolida
a continuidade da vida no corpo físico. Nossas células morrem
a cada segundo, fazendo outras nascerem e garantindo a per-
petuação do existir orgânico. Em sete anos todas as células do
nosso organismo já morreram e renasceram. Você já é com-
pletamente outro, apesar de ser a mesma pessoa.

A semente morre para deixar que a plantinha nasça. A lagarta


morre para fazer nascer a borboleta. Os idosos morrem para
dar lugar aos mais jovens. A primavera morre para dar lugar ao
verão; o verão dá lugar ao outono e o outono morre e logo vem
o frio do inverno. O inverno também morre, para abrir espaço
a uma nova primavera. A fruta morre e cai da árvore, para que
suas sementes façam brotar uma nova árvore. Tudo morre
para dar lugar a outra coisa. Tudo acaba para que algo possa
não acabar. O fim chega para que um novo início possa acon-
tecer. A vida se perpetua num constante morrer e renascer, fi-
nalizar e recomeçar, esgotar e renovar, perecer e novamente
brotar.

A morte de um ente querido ou alguém que muito amamos


pode também provocar uma morte interior, uma morte emocio-
nal, bastante difícil de superar. Essa morte nos obriga a rever
nossa vida e a renascer, caso se queira manter nossa saúde
mental e psíquica. A morte de um relacionamento também

316
pode nos fazer morrer um pouco por dentro. A separação é
uma morte terrível para muitos. A saída de um filho de casa é
outra forma de morrer. Essa morte interna pode ser mais ou
menos devastadora dependendo do grau de afeto, valor ou vi-
talidade que doamos ao outro, ao relacionamento ou a algum
desejo, sonho ou situação. Vivemos 30 anos com o outro, e
quando ele parte, não conseguimos mais viver. Nossa vida es-
tava tão atrelada a vida do outro que morremos um pouco
quando nosso relacionamento morre. O abandono é outra
forma de morte, quando somos rejeitados por outra pessoa. A
expectativa e a frustração é outra forma de morrer. É preciso
entender que toda morte traz sempre uma possibilidade de vida
nova… e não um fim, um encerramento de algo.

Morrer é terminar uma coisa e iniciar outra. Morrer é deixar o


passado e fazer nascer o presente, o agora, em nossa existên-
cia. Morrer é decretar o fim de uma fase de nossa vida e abrir
o coração para o surgimento do diferente, da novidade, da re-
novação, da revisão, da vida em um outro nível de sentir, pen-
sar e existir.

Se você vai morrer ou renascer depende sempre para que lado


você vai olhar. Você pode lançar os holofotes para o que foi,
para o que já morreu… e morrer junto com o que não existe
mais. Ou então você pode deixar o sol bater sobre o novo, so-
bre o espaço aberto pela morte; lançar o olhar sobre o que vem,
sobre o que se abre, sobre o inédito, sobre o desconhecido que
tanto tememos, sobre a regeneração de nós mesmos.

Você já morreu muitas vezes e renasceu em todas elas. Morre


apenas quem fica preso ao que passou. Morre quem não quer
largar o antigo… E vive aquele que sabe deixar passar o que,
em verdade, já foi. Morre aquele que não quer largar o que tem
que acabar… Morre quem não admite perder o que já não mais
se possui, ou talvez nunca tenha possuído.

Dessa forma, morra e deixe morrer… No entanto, siga o fluxo


da vida, desapegue-se, desprenda-se, solte o que já foi… E
deixe sua vida renascer.

317
UM ESPÍRITA NO UMBRAL

Um homem de 55 anos, espírita, sofreu um acidente e morreu


de repente. Ele se viu saindo do corpo e chegando a um lugar
escuro, feio, tétrico, com energias muito negativas.

Assim que começou a caminhar por aquele vale sombrio, viu


três espíritos vestidos com capa preta caminhando em sua di-
reção. Assim que chegaram, o homem perguntou:

– Que lugar é esse?

– Aqui é o que vocês espíritas chamam de umbral – disse um


dos espíritos. O homem ficou chocado com aquela informação.
Mal podia acreditar que estava no umbral. Considerou que tal-
vez estivesse ali para participar de alguma atividade socorrista
aos espíritos sofredores. O espírito negativo, que lia seus pen-
samentos, respondeu que não. Ele estava ali porque o umbral
era a zona cósmica que mais guardava sintonia com suas ener-
gias.

– Mas isso é impossível!!! – disse o espírita em desespero. –


Não posso estar no Umbral. Deve haver algum erro… Em pri-
meiro lugar eu sou espírita, faço parte dessa religião maravi-
lhosa que é considerada o consolador prometido por Jesus.
Realizo também projetos sociais de doação de sopa aos po-
bres. Ministro o passe magnético duas vezes por semana a
uma multidão de pessoas lá no centro. Também ajudo finan-
ceiramente instituições de caridade muito necessitadas, além
de dar palestras no centro para os iniciantes no Espiritismo.
Definitivamente há algo errado…

Não há nenhum erro – disse o espírito das sombras – Em seu


atual estágio de evolução, você tem que ficar aqui mesmo. É
verdade que você é espírita e faz parte desta doutrina conso-
ladora, mas intimamente você julgava pessoas de outras religi-
ões inferiores por não serem espíritas. Sim, você realizava pro-
jetos sociais dando sopa aos pobres, mas em seus pensamen-
tos sentia-se o máximo praticando a caridade e julgava que os
pobres não eram tão evoluídos por estarem amargando a po-
breza, quando na verdade muitos deles eram mais puros que
você. Sim, você ministrava o passe, mas considerava que seu
passe era mais “poderoso” e mais curador do que o passe de

318
outros passistas. Sim, você ajudava financeiramente institui-
ções de caridade, mas dentro de ti sempre dava o dinheiro es-
perando receber algo em troca e sentindo-se alguém muito “ca-
ridoso”. E finalmente… Sim, você dava palestras aos iniciantes
na doutrina, mas acreditava ter mais conhecimento que eles e
se colocava numa posição de destaque e vaidade intelectual.
Tudo isso suscitando uma das maiores chagas da humani-
dade, o “orgulho” e a “vaidade”.

O homem ficou impressionado com as revelações daquele es-


pírito. De fato, revendo suas atitudes e sua perspectiva, intima-
mente havia quase sempre um sentimento de superioridade,
de orgulho em relação aos outros, diante de tudo o que foi feito.

O espírita então olhou para dentro de si e começou a se arre-


pender de tudo aquilo, reconhecendo seu erro e sentindo-se
mais humilde. Nesse momento, ele sentiu uma luz brilhando
dentro dele e começou a se elevar. Ao perceber que estava se
elevando e deixando o umbral, avistou outros espíritos ainda
presos à condição umbralina e novamente lhe veio um orgulho
e uma sensação de superioridade em relação aos mesmos.
Após sentir isso, caiu novamente no umbral, e a queda dessa
vez foi ainda mais dolorosa. Um dos espíritos trevosos disse:

– Você caiu novamente porque, no momento em que se ele-


vava, começou a sentir uma certa superioridade em relação
aos espíritos que aqui estavam, suscitando mais uma vez uma
condição de orgulho. Além disso, “A quem muito foi dado, muito
será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pe-
dido.” (Lucas 12:48).

O homem ficou muito triste com tudo aquilo. Entrou dentro de


si mesmo e com toda a sinceridade pensou: Sim, é isso
mesmo. Eu fui uma pessoa arrogante por ser espírita e por tudo
o que eu fazia. Esse orgulho neutralizou todo o mérito de mi-
nhas ações. Mas tudo bem, eu mereço estar aqui no umbral.
Vou ficar por aqui mesmo, quem sabe eu aprendo alguma
coisa. Não me importo mais comigo e entrego minha vida a
Deus… Como disse Jesus, “Que seja feita a vontade de Deus
e não a minha”.

319
O homem caiu no chão e apenas se entregou a Deus com fé.
Nesse momento, não tinha mais nenhum sentimento de
autoimportância. Fechou os olhos e deixou tudo fluir…

Nesse momento, seu corpo começou a se tornar um corpo de


luz e, sem nem perceber, começou a se elevar novamente. As-
sim que chegou a uma zona mais elevada, abriu os olhos e,
para sua surpresa, havia se libertado do umbral. Dessa vez,
nem percebeu que estava se elevando e se libertando.

Um dos espíritos trevosos estava esperando por ele nesse


plano mais elevado. Tirou a capa preta e uma luz maravilhosa
começou a brilhar. O espírita percebeu que esse espírito não
era negativo, mas um espírito de luz que o estava ajudando
desde o início. O espírito disse:

– Tua renúncia de ti mesmo no último momento te salvou do


umbral. Que tudo isso sirva de lição para você, meu filho. Toda
essa experiência que você passou serve para os membros de
qualquer religião. E não se esqueça jamais do que disse Jesus:

“Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita.” (Mateus
6:3)

320
NOSSA BARREIRA EMOCIONAL

Essa é a estória de um menino chamado Josué. Na infância,


era um garoto muito puro e caloroso. No entanto, Josué foi
agredido pelos meninos de sua escola. Foi também maltratado
pelo seu padrasto. Sua mãe também batia nele e deixava de
castigo sem qualquer justificativa.

Na adolescência, Josué foi vítima de vários assaltos. Um dos


pivetes o cortou com caco de vidro. Josué também foi vítima
de várias injustiças, ofensas e agressões diversas.

Certo dia, já adulto, após mais um assalto, Josué já estava can-


sado de ser vítima de tantas agressões e decidiu que teria uma
casa num local isolado, com um muro enorme o protegendo.
Construiu um muro alto e volumoso, para que ninguém pu-
desse transpassa-lo e assim agredi-lo. Estava agora aliviado,
pois imaginou que, com a existência do muro, estaria mais pro-
tegido das maldades das pessoas.

Certo dia, assaltantes conseguiram pular o muro, fizeram Jo-


sué de refém e o agrediram fisicamente. No dia seguinte, Josué
estava muito revoltado com tantas injustiças e, com raiva de
todos, resolveu que se mudaria para um local isolado e cons-
truiria um muro ainda maior.

E assim fez: mudou-se para o alto de uma montanha, conse-


guiu erguer uma casa simples, mas com muros ainda maiores
e mais firmes. Josué agora estava distante do vilarejo. Ele pen-
sou “Pronto, agora aqui estarei protegido e ninguém poderá me
agredir ou fazer qualquer mal”. No entanto, em decorrência da
altura do muro, Josué não conseguia ver coisa alguma fora de
sua casa. A montanha que Josué construíra sua residência ti-
nha uma vista privilegiada, com árvores enormes, animais,
muitas flores, um rio correndo e várias espécies de pássaros.
Mas Josué perdera toda a vista das belezas naturais por conta
da altura do muro.

Aconteceu que seus amigos não vinham mais visita-lo, pois


além de terem que escalar a montanha para vê-lo, ele agora se
encontrava muito distante da cidade. Josué estava isolado de
tudo, distante e por isso começou a sentir-se muito sozinho.

321
Certo dia, Josué foi caminhar pela floresta e se deparou com
um lobo. Encarou o animal e foi saindo devagar, mas o lobo o
acompanhou e começou a persegui-lo. Josué correu muito e
conseguiu alcançar os muros da casa, entrando e salvando-se
do lobo. Muito assustado, Josué decidiu que não mais sairia
dos muros de sua residência, pois assim estaria protegido de
tudo e todos, e jamais seria ferido ou agredido novamente.

O tempo passou… Há anos Josué vivia dentro da casa, no alto


da montanha, rodeado por um enorme muro e protegido dos
males da humanidade. Mas ao mesmo tempo, estava isolado
de tudo e de todos, muito solitário, em sua residência. Um ano
se passou, e Josué sentia-se muito sozinho, muito afastado da
vida. Não fazia mais quase nada, a não ser cultivar em sua
pequena horta. Certo dia, já não tinha mais vontade de fazer
nada e caiu em profunda depressão.

Josué acordou um dia diferente e optou em mudar totalmente.


Decidiu que derrubaria aquele muro imenso, largaria a casa no
alto da montanha e retornaria para o vilarejo. Depois que retor-
nou, seus amigos o receberam com muito amor e acolhimento.
Josué então finalmente se abriu novamente para a vida e defi-
niu que nunca mais iria se fechar novamente tentando se pro-
teger das maldades do mundo.

Muitas pessoas agem tal como Josué. São agredidas, magoa-


das, ofendidas, sofrem diversos tipos de maus-tratos e, por
isso, constroem um muro emocional imenso e se isolam. Assim
acabam se tornando pessoas frias e solitárias. É preciso en-
tender que toda defesa emocional visando nossa proteção cria
um isolamento, um afastamento, uma separação que nos faz
deixar de viver e deixar de sentir a existência. Quanto mais ten-
tamos nos proteger emocionalmente de tudo, criando barreiras
emocionais diversas, mais solitários ficamos e mais infelizes
nos tornamos.

Não construa muros emocionais para se proteger do mal. Pri-


meiro porque você jamais conseguirá se resguardar de todo o
mal no mundo. Segundo porque, fazendo isso, você se afasta
de tudo e, mesmo sem reparar, você deixa de viver…

322
O VENENO DA SERPENTE

Um homem estava acampando numa floresta com sua esposa.


A mulher resolveu ficar na cabana, enquanto o homem aden-
trou na mata visando explorar melhor o local. Era uma selva
vasta e densa, com uma flora variada e muitos animais.

Em dado momento, o homem já cansado de caminhar, resol-


veu sentar-se alguns minutos embaixo de uma imensa árvore.
De repente, sentiu uma forte picada em sua perna. O homem
pulou de susto e viu uma cobra fugindo pelos arbustos. O ho-
mem olhou para o local da picada e viu que havia uma mordida
profunda em sua pele. Lembrou-se do formato da cobra e per-
cebeu que, de fato, era uma espécie venenosa.

O homem ficou preocupado, mas ao mesmo tempo lhe veio


uma intensa raiva da serpente. Decidiu que iria procura-la até
que a encontrasse, para mata-la, e depois retornaria ao acam-
pamento para tomar o antídoto. Movido por intensa raiva pelo
animal que destruiu sua viagem e pôs sua vida em risco, o ho-
mem embrenhou-se em mato bravio buscando resquícios da
serpente.

Passados 5 minutos, ele começou a sentir-se fraco e percebeu


que o veneno estava fazendo efeito muito rapidamente, mais
do que esperava. Lembrou-se então de ter lido numa enciclo-
pédia que naquela região existe uma espécie rara de serpente
cujo veneno é capaz de matar um ser humano em apenas 10
ou 15 minutos. O homem, bem enfraquecido, resolveu retornar
ao acampamento. Assim que chegou, estava quase se arras-
tando no chão e pediu a esposa o soro antiofídico. A esposa,
muito preocupada, foi velozmente procurar a substância, mas
já era tarde… O homem morreu, ali mesmo, vítima de um ve-
neno rápido e letal. A esposa caiu de joelhos e ficou muito
transtornada, chorando sobre o corpo do marido.

A maioria das pessoas que foram maltratadas por outras pen-


sam e agem tal como esse homem. Primeiro elas querem se
vingar daqueles que as fizeram mal, para somente depois de-
ter-se em cuidar do “veneno” das feridas que está dentro delas.
No entanto, é preferível cuidar das feridas interiores ao invés
de ficar se preocupando em vingar-se de nosso algoz.

323
Caso contrário, o veneno do ódio, da mágoa, do trauma, da dor
e do desconsolo pode, muito rapidamente, nos adoecer e de-
vastar nossa vida interior.

Por isso, não se importe com a “cobra” que te picou, deixe ela
de lado… Cuide apenas do “veneno” das emoções negativas
que ficaram dentro de você e que, em breve, podem matar a
sua alma.

324
QUEM É O OBSESSOR?

Muitas pessoas religiosas acreditam em espíritos malignos,


demônios e obsessores.
Essas seriam entidades espirituais que podem nos prejudicar
e sugar nossas energias.
No entanto, muitas vezes nós mesmos somos os obsessores
das outras pessoas.
Somos os obsessores quando desejamos fazer prevalecer
nossas ideias e impor nossas verdades a outrem.
Somos os obsessores quando criticamos, julgamos o
condenamos o outro sem pleno conhecimento de causa.
Somos os obsessores quando temos ciúme e queremos obter
a posse do outro.
Somos os obsessores quando batemos o pé e forçamos o
outro a seguir a nossa vontade.
Somos os obsessores quando exigimos que o outro faça por
nós algo que nos cabe fazer.
Somos os obsessores quando desejamos vencer uma
discussão, instituir nossas verdades e firmar nosso ponto de
vista.
Somos os obsessores quando burlamos o livre arbítrio alheio
e o fazemos trilhar o caminho que nós julgamos correto.
Somos os obsessores quando tentamos ajudar sem nos
preocupar no que é melhor para o outro, mas sim seguindo
apenas o que nós acreditamos ser o melhor.
Somos os obsessores quando desejamos comprar o afeto
das pessoas com presentes, regalias, benesses e mimos,
esperando sempre algo em troca.
Somos os obsessores quando não permitimos que o outro
cresça, se desenvolva, para não se tornar melhor do que nós.
Somos os obsessores quando fazemos tudo pelo outro e não
permitimos que ele faça, erre e aprenda sozinho.
Somos os obsessores quando vomitamos um longo falatório
desordenado e fútil acreditando que o outro tem obrigação de
nos ouvir.
Somos os obsessores quando não damos espaço para o
outro, o prendemos, o sufocamos, podamos seus
movimentos, cobramos, oprimimos, sem permitir sua
independência.
Somos os obsessores quando acreditamos que o outro deve
corresponder aos nossos padrões, nossos modelos, nossa

325
religião, nossos costumes, nossas crenças e nosso ideal de
ser.
Somos os obsessores quando geramos milhares de conflitos,
discórdias e desunião, quando criamos confusão, intrigas,
fofocas e distorcemos a realidade para prejudicar o outro.
Somos os obsessores quando dissemos uma coisa ao outro e
fazemos outra, enganando, omitindo e dissimulando.
Somos os obsessores quando vivemos reclamando e
acreditamos que o outro tem obrigação de aguentar nossas
lamúrias.
Somos os obsessores quando elogiamos para manipular,
louvamos para enganar, enchemos o ego do outro para
confundi-lo a fazer o que queremos.
Somos os obsessores quando fazemos do outro a nossa vida
e depois ficamos magoados quando ele se afasta deixando
um buraco em nosso peito, um vazio existencial e uma
profunda infelicidade.
Procure a vida em ti mesmo. Não seja mais um obsessor do
outro.
Não dependa de ninguém para ser feliz. Não fique sugando
as pessoas.
Não acredite que o obsessor é sempre o outro…
Há sempre algo de obsessor em nós mesmos.

326
CAIR E LEVANTAR

Pior do que cair é não querer levantar


Pior do que a derrota, é desistir.
Pior do que não ver, é não querer enxergar.
Pior do que sofrer, é render-se ao sofrimento.
Pior do que se decepcionar, é viver com mágoa.
Pior do que perder, é não tentar melhorar.
Pior do que errar, é não aprender com o erro.
Pior do que algo chegar ao fim, é não querer recomeçar.
Pior do que não dar certo, é achar que tudo deu errado.
O problema não é algo dar errado, não é sofrer, não é perder
Não é pecar, não é afundar…
O problema grave e real existe apenas quando alguém sofre
tudo isso e desiste de viver.
Não importa o que aconteceu, o quanto você se frustrou, o
quanto você sentiu dor…
Não importa quanto tempo você ficou no chão.
O que importa de verdade é você levantar
E continuar caminhando…
A vida não acaba quando você sofre,
Mas sim quando você se abandona, se entrega, se rende…
A vida acaba mesmo quando você desiste de continuar.

327
ACEITAR A VIDA

Felicidade não é ter tudo o que desejamos e gostamos.


Felicidade é viver na adversidade, na desordem, no caos, e
mesmo assim ser feliz.
Perfeição não é um modelo ideal de ser e estar no mundo.
Perfeição é encontrar a felicidade e o amor mesmo dentro da
imperfeição.
Coragem não é a ausência de medo.
Coragem é aceitar o temor e enfrentar cada situação mesmo
sob a influência do medo.
Paz não é inexistência da guerra ou a derrota sobre os
conflitos.
Paz é o estado de tranquilidade interior mesmo diante da
mais dura batalha.
Aprender não é adquirir mais e mais conhecimento e
experiência.
Aprender é despojar-se de todo o suposto saber e desobstruir
nossa consciência.
Equilíbrio não é estabilidade de condições fixas e garantidas.
Equilíbrio é caminhar mesmo sob o predomínio do caos e
resistir a mais vigorosa tempestade.
Fé não é acreditar que Deus vai nos favorecer e suprir nossas
vontades e necessidades.
Fé é a convicção íntima de que, mesmo na derrota, tudo é
regido pela harmonia e perfeição divina.
Viver não é passar a existência evitando o sofrimento e a
morte.
Viver é aceitar a morte, a dor, a falibilidade humana, a
incerteza e ainda assim estar bem.
Quem vive bem aceita a vida, aceita as pessoas e aceita a si
mesmo tal como é.
Ninguém pode ser feliz buscando o primor, forçando uma
mudança, perseguindo condições impecáveis.
Viver implica em aceitar, acolher, permitir, entregar-se…
Ser espontâneo, soltar-se e admitir o real tal como ele é.
Aceitar a vida em sua inteireza e não lutar contra o mundo…
Esse é o caminho da paz e da felicidade.

328
PARA UMA VIDA FELIZ

As pessoas não precisam de coisa alguma para serem felizes.


Basta se harmonizar com a vida, os seres e as coisas.
No momento de despertar, agradeça a Deus o novo amanhe-
cer que surge com o sol dispersando a escuridão da madru-
gada.
É um novo dia que desponta, trazendo nova oportunidade de
fazer tudo diferente, uma nova vida, um recomeço.
Sem pressa, tranquilo e em paz, dê bom dia às pessoas que
você ama.
Abençoe todas as pessoas que passam pelo seu caminho.
Veja a vida em tudo. Considere que todos os seres são de uma
inteligência e sabedoria infinita.
Responda de forma amorosa a todos aqueles que te causarem
mal; reaja com paciência a todos os apressados e ansiosos;
não ignore as pessoas e aprenda a arte de ouvir o outro.
Não fale desordenadamente, vomitando as palavras. Mas entre
dentro de você e procure se entender melhor.
Visualize o bem em todas as coisas. Procure ver a paz em todo
esse maravilhoso mundo de Deus.
Não responda ofensa com ofensa, mas ofereça uma flor para
aqueles que te agredirem.
Pense o bem daqueles que falam mal de ti. Não se envolva em
intrigas, fofocas ou maledicências. Não fale o que você não
sabe ou não viveu.
Duvide sempre das impressões que lhe vem à mente. Não cul-
tive certezas sobre nada. O sábio duvida, o ignorante é cheio
de certezas e cheio de si mesmo.
Não fique impondo suas verdades aos outros; não imponha
uma noção de certo e errado; não queira mudar ninguém;
aceite cada pessoa em sua forma de ser e aceite a vida como
ela é.
Observe cada coisa que existe no mundo como uma expressão
do ser eterno. As coisas não são como percebemos, mas como
são. Cada ser e objeto tem um espírito em seu interior. Procure
ver a essência em tudo. Tudo é espírito, tudo é essência.
Não se importe com o bom e o ruim. Nada é totalmente bom
nem totalmente ruim. Há muito de bom no ruim e muito de ruim
no bom. Bem e mal são medidas humanas e sempre são rela-
tivas.

329
Tudo muda o tempo todo. Não queira que algo permaneça tal
como é. Um dia tudo se vai e nada será como antes. Siga com
o rio; siga com as correntes da vida. Quem pára no meio do rio,
é arrastado pelas águas.
Tudo que sobe desce e tudo que desce, pode depois subir. Não
olhe para outros com ar de superioridade. Se hoje estás por
cima, amanhã estarás por baixo. E se hoje você está por baixo,
amanhã poderá estar por cima. Mas o em cima e o embaixo
são apenas medidas humanas que não tem qualquer realidade
no plano espiritual. Se não existe em cima e embaixo, para
onde podemos cair? Se não existe alto e baixo, quem poderá
subir?
Não fique buscando o sucesso. Sucesso além de passageiro,
é sempre relativo. O maior sucesso é viver em paz e ser feliz.
As pessoas trocam sua felicidade por qualquer dinheiro.
Entregamos nossa felicidade ao outro e depois reclamamos
que o outro não nos faz feliz ou tira nossa felicidade. Entrega-
mos nossa felicidade as coisas e as pessoas para que, se algo
der errado, tenhamos a quem culpar pela nossa infelicidade.
As pessoas dão sua vida aos outros e depois reclamam que os
outros jogaram sua vida fora. Não deixe de ser você mesmo
para se adaptar ao outro e não deixe de ouvir o que o outro
pensa de você. Muitas vezes o outro é a voz do cosmos nos
dizendo as verdades que precisamos ouvir sobre nós mesmos.
Não culpe a ninguém pela sua desgraça. Cada um é respon-
sável pela sua vida e não há nada que o outro possa fazer para
nos derrubar. Cada um se queda sozinho.
Responda a ódio com amor; a agressão com ternura; a raiva
com tranquilidade; a mentira com a verdade; a escuridão com
a luz. Não brigue com ninguém. Não guerreie com o outro. Não
há vencedores e perdedores, jamais. O vencedor é quem não
luta para vencer. O vencedor é aquele que renunciou a glória
da vitória e se libertou do medo da derrota.
Não queira ser melhor do que ninguém. Não há superiores nem
inferiores. Todos os seres são filhos do cosmos, filhos da vida,
herdeiros do infinito… Ninguém está acima de ninguém e nin-
guém está abaixo de quem quer que seja.
Não se apegue a nada e nem a ninguém. Quem só tem olhos
para uma coisa, perde a visão de todo o resto.
Aceite-se como você é. As pessoas não mudam, não se tornam
diferentes. Elas apenas aceitam quem são e, assim, se liber-
tam de suas prisões emocionais e psíquicas. Deixe de lado
essa mania de querer acertar a todo custo, de querer ser bem-

330
visto, de projetar uma imagem positiva. Quem vive de imagem
afunda na própria imagem. O homem nasceu, construiu uma
imagem e ficou preso a ela. Liberte-se da imagem de si mesmo.
Transcenda a si mesmo, vá além de seu ego. Não há outra
forma de ser feliz.
Não tenha medo do vazio, da falta ou do nada. O vazio é liber-
dade, é o espaço da criação e da renovação. É no vazio que
tudo começa, pois antes de algo ser alguma coisa, ela era coisa
alguma. Quem não é nada, pode ser tudo, e quem acredita ser
tudo, nada é.
No final das contas, nada sabemos, não nos conhecemos. So-
mos uma partícula, um grão de areia num infinito deserto. So-
mos um pé de grama num campo verde sem fim… Mas nasce-
mos no infinito, vivemos no infinito e somos o próprio infinito, o
ilimitado. No infinito, nada nos falta, tudo se completa, tudo é
para sempre…

331
A VIDA PASSA

Há mais de 100 anos, um sábio estava ensinando a uma mul-


tidão quando um homem fez a seguinte pergunta:

– Mestre, o que é a vida?

O sábio olhou para ele e respondeu:

“Vida é aquilo que passa enquanto estamos presos ao pas-


sado… aos nossos apegos, nossos traumas e nossas lembran-
ças tristes.

Vida é aquilo que passa quando estamos preocupados com o


futuro… Preocupados com o que pode acontecer e com o que
devemos fazer no momento vindouro.

Vida é aquilo que passa quando estamos preocupados em ga-


nhar dinheiro, em comprar uma casa, em não perder dinheiro,
em adquirir mais bens, em acumular mais e mais ou em ser
uma pessoa de “sucesso”.

Vida é aquilo que passa quando estamos pensando no que


nossos filhos estão fazendo, onde eles estão, com quem estão
e que horas vão voltar para casa.

Vida é aquilo que passa quando estamos sonhando com o que


não temos, com o que nos falta, com o que desejamos e não
possuímos.

Vida é aquilo que passa quando você está magoado com al-
guém, sentindo raiva, ressentimento e desejando que o outro
fique mal por você também estar mal.

Vida é aquilo que passa quando estamos sempre insatisfeitos,


reclamando, carrancudos, fechados e infelizes, ao invés de
aceitar a vida e as pessoas como elas são.

Vida é aquilo que passa quando você faz de tudo para conse-
guir a felicidade e não a conquista… e o que você precisava
não era buscar a felicidade, mas simplesmente ser feliz.

332
Vida é aquilo que passa quando você fica perdendo tempo pre-
ocupado com a vida do outro, querendo viver a vida do outro,
e não cuida de sua própria vida.”

A multidão ouviu atentamente o sábio. Este completou:

“Não deixe sua vida ficar passando enquanto tudo isso acon-
tece. A vida é apenas viver, sem estar no passado ou no futuro,
sem ficar se preocupando sempre com os outros, sem ficar
frustrado com o que perdemos ou não temos, sem ficar preso
a qualquer sentimento negativo. Por isso, independentemente
de qualquer coisa, seja feliz. Viver o agora, o momento
presente, é o mais importante… Senão sua vida passa, você a
perde… e tudo se esvai de repente e termina, sem que você se
dê conta.”

333
DEIXE TUDO FLUIR

Quando ocorre um acidente numa rua, a passagem fica inter-


ditada e isso pode gerar um engarrafamento.

Quando um rio é represado, forma-se um bolsão de água retida


que transborda por todos os lados e afeta a vida no entorno,
além de secar as paragens próximas.

Quando nosso sangue acumula toxinas, as veias ficam entupi-


das e o sangue não flui conduzindo certos nutrientes. Isso pode
gerar patologias cardiovasculares e debilitar o organismo.

Quando muitas pessoas passam por uma via curta, essa mul-
tidão pode impedir o trânsito de outras, gerando uma concen-
tração de pessoas que pode prejudicar cada um desses indiví-
duos.

Quando uma pessoa retém suas emoções e não permite que


elas se expressem, cria uma repressão que vai estourar em
algum momento no futuro. Quem retêm perde o controle e
causa danos a si mesmo.

Aquele que prende uma pessoa e não permite que ela se ex-
presse, está aos poucos aniquilando seu espírito de vida.
Quem prende a si mesmo em um ou mais aspectos está come-
tendo um gradual suicídio interior.

“Tudo flui”, dizem os sábios. Todas as coisas precisam da flui-


dez para continuarem existindo. No fluxo a vida continua e
completa seu ciclo.

Tudo em nossa vida deve sempre fluir. Quando algum aspecto


de nossa existência perde sua fluidez, acumulamos coisas des-
necessárias e impedimos que tudo corra naturalmente.

Tudo aquilo que acumulamos, ou que bloqueamos, ou que não


desejamos abrir mão, obstrui o movimento, fecha a passagem,
interrompe a expressão da vida.

Libere de sua vida todas as acumulações desnecessárias.


Deixe tudo fluir… Permita que a vida siga seu curso natural.

334
Quem impede o fluxo da vida, seja físico, emocional ou cole-
tivo, bloqueia o transcorrer natural que insufla o sopro vital.

Quem se bloqueia pode ficar doente. O próprio bloqueio já é a


doença. Quem abre suas energias e deixa tudo fluir, se cura.
O fluxo é a cura.

Aquele que se detém demais numa situação, numa pessoa, em


algum período do passado ou numa visão de mundo, fica pa-
ralisado, se engessa e quando bate o vento inexorável das
transformações, vai sendo aos poucos destruído.

Não represe o córrego sagrado de sua vida. Refrear é lutar


contra. Bloquear é perecer.

Deixe sempre tudo fluir… Fluxo é liberdade.

335
BUSCAR DEUS SOMENTE NA DOR

De vez em quando vejo uma pessoa dizer:

Por que Deus somente nos ensina pela dor? Não seria mais
fácil aprender pela felicidade, pela satisfação, pela alegria, pelo
amor?

A resposta a essa pergunta é bem simples. Sim, seria muito


melhor que o ser humano pudesse aprender pe\la felicidade,
pelo amor, pela bondade, mas não é isso que as pessoas fa-
zem. Todos podem observar isso em abundância na vida hu-
mana. Pare um pouco e lembre nesse instante dos momentos
da vida de outras pessoas e da sua própria vida em que você
estava feliz, em que tudo corria bem, em que nada te faltava,
em que você estava satisfeito, alegre, com seus desejos satis-
feitos, ou seja, bastante confortável na vida.

Qual é a postura de quase todas as pessoas quando estão


muito bem? A tendência é cada um ficar estagnado; é perma-
necer como se está, é não sair do lugar. Vamos refletir: se um
lugar está bom, confortável e atende aos nossos desejos, que-
remos sair deste lugar? Não… Desejamos permanecer nessa
condição o maior tempo possível. Quando nos encontramos
em condições favoráveis, não pensamos em nossa melhora,
não pensamos em ir além, não pensamos em crescer, em evo-
luir, em nos desenvolver, em nos libertar, em buscar alternati-
vas, em olhar para nós mesmos e nos descobrir…

Por exemplo, aquele jovem rico que tem tudo, tem uma namo-
rada linda, faz muitas viagens, come tudo o que gosta, vive
uma vida muito confortável, tem muita energia para sair e curtir.
Esse jovem vai desejar buscar Deus, ou vai mergulhar num
mundo materialista, superficial, ilusório, de conforto e satisfa-
ção dos desejos passageiros? Mas quando esse jovem come-
çar a envelhecer, o que vai ocorrer? Ele vai aos poucos per-
dendo toda a sua energia, pode começar a ter várias doenças,
se tornará mais dependente dos outros, não poderá mais sair,
viajar, não será mais atraente para as mulheres, seus falsos
amigos podem abandona-lo, sua família pode não procura-lo
como antes, ele pode ficar carente e vazio… Pode ainda ser
rico, mas já não poderá mais usufruir o dinheiro e seus praze-
res como antes. Nesse momento, em que ele começa a perder

336
tudo, ele poderá começar a pensar em Deus e a entender que
a vida não é apenas a busca pelo prazer, festas, viagens, tec-
nologias, sexo, etc. Quando nos deparamos com a inevitabili-
dade da morte, com a degeneração do corpo físico e com a
carência, a falta e o vazio, nossa perspectiva começa a mudar
e passamos a buscar algo que seja imortal, essencial.

Alguém faz esforço em observar a si mesmo, em se autoco-


nhecer, quando tudo está bem? Alguém pensa em buscar a
Deus quando o mundo nos provê todas as necessidades ma-
teriais? Quantas pessoas buscam a Deus na bonança? Quase
ninguém… Mas quantas pessoas buscam a Deus durante uma
forte tempestade? Quantas pessoas pensam que precisam se
melhorar quando estão de férias, fazendo sua viagem favorita,
com muito dinheiro no bolso? Mas e quando perdemos tudo,
não temos mais dinheiro, nossos parentes e amigos morreram
ou nos deixaram?

Nesse momento lembramos que existe um Deus, que a vida


não é apenas dinheiro, viagens, sexo, comida, festas, redes
sociais, conforto, etc. Nesse momento, começamos a sentir ne-
cessidade de buscar algo que o mundo não pode e nunca pôde
nos oferecer… A verdade é que o ser humano só busca Deus
quando a dor lateja, quando ele perde alguém que amava,
quando não tem mais dinheiro, quando não vê mais saída, ou
seja, quando o mundo já não pode mais lhe oferecer aquilo que
ele deseja. Como diz a máxima: “Deus não é um guarda-chuva
para nos lembrarmos dele apenas quando o tempo está ruim”.

Muitas pessoas só passam a se preocupar verdadeiramente


com sua saúde após passarem por uma grave doença. Depois
que vem a dor da enfermidade, elas fazem uma reflexão e de-
cidem que, daqui em diante, elas devem fazer exercícios, ter
uma alimentação mais saudável, cultivar hábitos positivos, ter
bons pensamentos, etc. O ser humano só busca se melhorar
com o dor… São poucos os que seguem o caminho do amor
quando estão bem e confortáveis no mundo. Por isso os mes-
tres costumam dizer que o ser humano precisa perder o mundo
para encontrar a Deus e a si mesmo. O mundo abafa nossa
essência espiritual e precisamos recupera-la, pois a vida ver-
dadeira só existe em nossa natureza essencial, mas profunda
e divina.

337
É preciso que a inteligência da vida nos tire todas as vestimen-
tas ilusórias, todas as aparências, todos os confortos passagei-
ros, todos os desejos, todas as posses… É preciso que tudo
isso seja tirado para que uma pessoa passe a buscar a si
mesmo e sua essência. Como disse Jesus: “Toda a pessoa
que bebe desta água, voltará a ter sede. Mas aquele que beber
da água que eu dou nunca mais terá sede. A água que eu dou
se tornará numa fonte de água viva dentro dele. Ela lhe dará a
vida eterna”. (João 4:13-14) Jesus quis dizer que quem vive
bebendo o líquido das miragens do mundo sempre terá sede,
pois as benesses mundanas são uma ilusão, uma aparência,
um sonho, uma fantasia. Mas quem bebe da essência da vida,
que é real e eterna, nunca mais sentirá qualquer falta, qualquer
carência, qualquer tristeza, qualquer vazio.

Essa é a resposta do motivo de Deus não nos ensinar pela fe-


licidade, mas pela falta, pela perda, pela dor, pela destruição,
pelo caos. Os momentos em que tudo nos é favorável, tende-
mos a ficar paralisados e não buscar nosso desenvolvimento…
não nos libertar deste mundo instável, de aparência, de ilusão.
Mas quando perdemos tudo que é exterior, começamos a olhar
para o nosso interior e buscar a essência divina dentro de nós
mesmos.

338
NOSSOS APEGOS

Um homem chegou para um guru espiritual e perguntou:

– Mestre, por que Deus nos tira as pessoas e coisas que ama-
mos?

– Por causa do nosso apego as pessoas e coisas. – respondeu


o guru. – O apego nos prejudica muito… e por isso, Deus nos
solta dos nossos apegos para que possamos nos tornar mais
livres.

– Pode explicar um pouco melhor mestre?

– Claro… – respondeu o guru. – Imagine que você tem um filho


que passa o dia inteiro em casa, sem sair, sem fazer mais
nada, apenas brincando com um ursinho de pelúcia. O menino
se recusa a brincar com outros brinquedos… Recusa-se a sair,
a fazer amizades e fica apenas em sua casa, em seu mundinho
particular, viciado em seu ursinho, quase sem vida fora do seu
brinquedo favorito.

Agora me diga, o que um pai sensato faria neste caso? O pai


pode conversar com o filho, mostrar a ele a rua, outros meni-
nos, outras coisas para fazer e toda a liberdade que ele terá
caso largue seu ursinho e saia de casa. Caso o menino ainda
assim se recuse a largar seu ursinho e continue vivendo ape-
nas em sua simbiose com o ursinho, não resta outra alterna-
tiva… É preciso que o pai tire o ursinho do filho para que o
menino passe a sair, interagir com outras crianças e finalmente
retomar a sua liberdade.

O mesmo Deus faz com os seres humanos. Os seres humanos


são como esse menino, apegado que está ao seu brinquedo e
vivendo em simbiose com ele, privado de sua liberdade espiri-
tual e vivendo num mundo de ilusões por conta de seus ape-
gos. Dessa forma, Deus nos mostra toda a liberdade espiritual
que temos caso abandonemos nossos apegos terrestres. Ele
nos mostra as maravilhas que a vida na eternidade pode nos
conceder, com suas infinitas possibilidades, numa felicidade in-
descritível. Mas como na maioria das vezes os seres humanos
se recusam a seguir o caminho espiritual no rumo da liberdade
cósmica, Deus nos faz perder nossos objetos de apegos, vícios

339
ou dependências emocionais para que possamos, finalmente,
nos tornar livres, desimpedidos, desprendidos de tudo, sem de-
positar nossa carga afetiva em apenas uma pessoa ou em uma
coisa.

Quando Deus nos tira dos nossos apegos, nos tornamos mais
livres para pensar, viver, amar e despertar para o infinito que
somos em essência.

340
O CONSOLO APÓS A MORTE

É fato que o ser humano tem muita dificuldade de aceitar a


morte. Muitas pessoas me mandam mensagens pedindo um
consolo, uma palavra ou mesmo uma psicografia de um ente
querido ou amigo já falecido. O sofrimento dessas pessoas
pela “perda” de alguém que muito amam parece não ter fim.
Por esse motivo, decidi escrever alguns dos principais pontos
a respeito da vida após a morte. Essas informações podem aju-
dar algumas pessoas a enfrentarem com fé e resignação a pas-
sagem de pessoas muito queridas.

O primeiro ponto que todos devem entender para se consola-


rem com a partida de uma pessoa que amamos é a verdade de
que a morte, absolutamente, não existe. É preciso que todos
saibam que a morte é apenas uma passagem, uma transição
de um estado a outro de existência. A morte nada mais é do
que a perda do corpo físico. Descartamos o invólucro carnal e
passamos a existir apenas numa dimensão mais sutil de reali-
dade. Aquilo que somos lá no fundo e que não depende do
corpo físico para existir se conserva e vai ao plano espiritual. A
morte é apenas uma mudança de vibração. Costumo comparar
a morte a uma espécie de viagem que nossos entes queridos
e amigos fizeram. Uma viagem para um lugar distante que nós
ainda não podemos ir. Um dia, é certo que vamos encontrar as
pessoas falecidas que muito amamos e ninguém deve duvidar
disso. Por mais que as impressões materiais possam nos fazer
crer que a vida se encerra com a morte, é certo que a vida
continua sempre, em muitos níveis, fases, planos e estados da
existência universal.

O segundo ponto fala da ausência de sentido caso a morte


fosse o fim de tudo. Isso significa que se a alma humana se
encerrasse definitivamente com a morte, a vida não teria ne-
nhum sentido. Imagine que vivemos apenas um segundo da
eternidade e morremos, para nunca mais voltar, nunca mais
existir. Qual seria o sentido da vida se assim fosse? Seria me-
lhor que abraçássemos logo esse fim absoluto, que seria nosso
destino inexorável, do que permanecer na Terra apenas para
gozar nossa condição material. Portanto, se acreditamos que a
vida tem um sentido, jamais podemos aceitar a ideia do fim ab-
soluto do ser. Por outro lado, se a morte representasse a extin-
ção completa de nosso ser, de nossa vida, do nosso eu, essa

341
morte seria o único fim absoluto de alguma coisa em toda a
natureza e universo. Isso porque nada que é natural morre de
fato, mas ocorre apenas uma mudança de forma. A flor que
morre renasce como adubo da terra; a semente que morre no
solo nasce como planta; a lagarta morre como lagarta e nasce
a borboleta. Como diz Lavoisier, “Nada se perde, tudo se trans-
forma”. Tudo aquilo que morre, renasce em outra forma. Essa
é uma lei natural que também vale para a alma humana. O es-
pírito também morre como forma para depois aderir a outra
forma. Como dissemos em um de nossos escritos, morremos
no plano físico, para renascer no plano espiritual, da mesma
forma que o sol “morre” no horizonte num ponto da Terra e
“nasce” no outro lado do mundo. Portanto, não há morte… há
sempre continuidade da vida.

O terceiro ponto nos informa que a morte existe no nascimento


e o nascimento existe na morte e que ambos são parte de um
mesmo ciclo da alma. Da mesma forma que a morte de uma
pessoa é motivo de lágrimas e saudade para aqueles que per-
manecem no plano físico, aqueles que permanecem no plano
espiritual também sofrem e sentem saudades de nós quando
nascemos no plano físico. O contrário também ocorre: quando
uma alma nasce na Terra, ela é recebida com alegria e festa.
Da mesma forma, quando a alma morre no plano físico, ela é
recebida com alegria e festa no plano espiritual. Portanto, as-
sim como não há motivo para tristeza quando uma alma nasce,
também não há motivo para tristeza quando ela morre, pois
muitos espíritos que a amam ficam muito felizes com sua che-
gada ao plano espiritual. Aqui reside outro aspecto importante
da morte… Sempre acontece da alma que acabou de desen-
carnar ser recebida no plano espiritual pelos seus entes queri-
dos espirituais, que o recebem com todo o amor e carinho. As
pesquisas com “experiências de quase morte” confirmam de
forma clara esse ponto. Esses espíritos foram pessoas que a
alma amou, ama e conviveu ao longo de sua existência terrena
e ao longo de muitas vidas passadas. Por esse motivo, não há
qualquer razão para sofrimento, posto que, quando desencar-
namos, as pessoas que desencarnaram antes de nós estarão
lá para nos receber e regozijar-se com nossa chegada à pátria
espiritual. Pessoas que acreditamos termos “perdido” aparece-
rão nesse sublime momento de nossa chegada ao plano espi-
ritual e nos receberão com todo o amor e carinho.

342
O quarto ponto fala sobre a possibilidade de a alma ficar presa
a Terra e nos fazer muito mal. Já falamos sobre isso em outro
texto, portanto, não nos alongaremos nesse assunto. O que as
pessoas precisam saber é que não devem ficar prendendo
mentalmente um espírito junto delas, pois nesse caso, ela pode
se tornar o que no espiritualismo se chama de um “espírito
preso a Terra” e gerar muito mal aos encarnados e a si próprio.
É muito comum que uma alma recém desencarnada fique
presa a nós por conta de nosso apego. Quando isso ocorre, ela
pode sugar nossas energias, assim como nos transmitir toda a
sua tristeza, confusão e até fazer com que fiquemos doentes e
deprimidos. É necessário permitir que a alma ascenda ao plano
espiritual e não fique aprisionada na matéria. Portanto, uma
forma eficaz de diminuir nossa dor é permitir a partida do espí-
rito que pode ter ficado preso a Terra. Em outro texto de nossa
autoria ensinamos uma técnica que permite ao encarnado en-
caminhar o recém desencarnado ao plano espiritual. O nome
da técnica é “Encaminhando Espíritos”. Ela pode ser encon-
trada no blog de Hugo Lapa. Pessoas que realizaram essa téc-
nica relataram sentirem-se aliviadas e mais tranquilas após sua
realização. Isso se deve ao fato que o desencarnado já não
está mais conosco, nos transmitindo sua tristeza e pesar.

O quinto ponto, e muito importante, é que a morte nos ajuda a


dissolver os apegos que temos diante de algumas pessoas. Se
uma pessoa não consegue viver a sua vida após a morte de
outra pessoa, significa que ela se apoiava emocionalmente no
outro, o outro era seu sustento psicológico, seu alimento emo-
cional, e ninguém pode ficar dependente assim de outra pes-
soa. Por exemplo, quando um filho morre e uma mãe não con-
segue dar continuidade a sua vida, significa que essa mãe era
totalmente dependente do seu filho no sentido emocional. Ela
estava presa a esse apego e essa dependência emocional do
filho. Mas o desenvolvimento espiritual pressupõe o fim de to-
dos os apegos, o fim de qualquer dependência emocional.
Pressupõe que sejamos capazes de viver sem nos apoiar no
outro, sem descontar no outro nossas carências, sem usar o
outro como nosso alimento emocional. Por isso, Deus leva mo-
mentaneamente as pessoas que amamos a fim de nos libertar
desse apego ao outro. Não vamos confundir amor com apego.
O amor mais puro, real, não é apegado, não nos faz estar vici-
ados no outro, necessitando de sua presença conosco. O amor
incondicional é aquele que existe mesmo quando a pessoa

343
amada está longe e, mesmo sentindo saudade, aceitamos de
bom grado essa condição, pois não estamos presos ao outro.
Portanto, conseguem lidar melhor com a morte aqueles que
não cultivam nenhum apego. Ao contrário, aqueles que estão
muito apegados, praticamente não conseguem mais seguirem
suas vidas sem o outro. É preciso amar sem posses, sem se
anular pelo outro, sem fazer do outro nossa vida. Dessa forma,
a passagem se torna muito menos dolorosa e não nos preju-
dica.

O sexto ponto nos mostra que nenhuma vida pode ser inter-
rompida antes da hora, como as ilusões do mundo podem nos
fazer supor. Vejo muitas mães dizendo que “perderam” seu fi-
lho “antes da hora” e que ele ainda tinha muito para viver nessa
vida não fosse a causa de sua morte, como um homicídio, um
acidente de carro, uma doença que o acometeu, dentre outras
causas de sua morte. Queremos declarar aqui a verdade de
que ninguém morre antes da hora. Em primeiro lugar, é certo
que não há interrupção da vida, posto que a vida sempre con-
tinua e jamais se extingue. Em segundo lugar, essa “interrup-
ção” não foi algo que ocorreu ao acaso, por acidente ou pela
força das circunstâncias, mas precisava acontecer. Isso porque
quando uma alma desencarna, sua missão na Terra já se com-
pletou. Mesmo quando uma pessoa é assassinada, ela só de-
sencarnou porque sua hora chegou, caso contrário, o assas-
sino não conseguiria seu intento e algo daria errado. Uma alma
só deixa a Terra quando não precisa mais ficar aqui, pois já
passou por todas as provas e expiações que necessitava e já
cumpriu sua missão. Portanto, mesmo um jovem de 15 anos
que foi assassinado, não teve sua vida interrompida pelo as-
sassino. Ele foi embora porque Deus permitiu que ele se liber-
tasse da matéria após o término de sua missão e das provas
que precisava suportar para evoluir espiritualmente. Seu tempo
terrestre se esgotou e nada mais havia para ele fazer na Terra.
Esse é um ponto bem difícil das pessoas compreenderem, mas
é verdadeiro e também consolador. Aqueles que tomam cons-
ciência de que as pessoas apenas desencarnam quando ter-
minaram suas tarefas terrenas para a vida presente, são mais
resignadas e não cultivam dúvida ou raiva de certos aconteci-
mentos que consideramos como a causa da morte. Por outro
lado, mesmo pessoas mais jovens, até crianças nos primeiros
anos, têm uma missão a cumprir e são úteis ao desenvolvi-
mento espiritual de uma família e em alguns casos até mesmo

344
da coletividade. É o caso de crianças em tenra idade que são
violentadas e assassinadas. As almas que passam por essas
tragédias, que tocam a sociedade, podem ser espíritos missio-
nários que vêm nos ensinar a importância do amor, do perdão
e vem sensibilizar a todos de que é urgente uma transformação
em nível global.

O sétimo ponto e um dos mais importantes é o fato de que a


morte nos mostra o quanto esse mundo é transitório, efêmero
e ilusório. O ser humano sempre procurou negar a morte, pelo
simples fato de que ele é muito apegado ao mundo e seus pra-
zeres. Acreditamos que nós vamos viver eternamente nesse
mundo, que o outro vai ficar conosco até a velhice e acabamos
esquecendo da imprevisibilidade da morte. Temos a ilusão de
que a morte ocorre com os outros, mas nunca conosco. Que-
remos acreditar que vamos viver 100 anos e que nossa família
nunca vai morrer. Essa crença inconsciente vem do irremediá-
vel apego que temos diante do mundo das formas, da matéria
e dos prazeres. A morte é um instrumento que Deus se serve
para ir dissolvendo aos poucos dentro de nós esse apego a
matéria e as ilusões do mundo. Por outro lado, a morte nos dá
uma noção de que não há tempo a perder, de que tudo que
devemos realizar, precisamos fazer imediatamente, sem des-
vios e sem atraso. Portanto, a morte serve para nos mostrar
que essa vida aqui é somente uma passagem e que estamos
apenas temporariamente revestidos de matéria. De outro
modo, uma pessoa que amamos pode ir embora a qualquer
momento e isso é que nos move a dar-lhe o devido valor, a
perdoar, a aproveitar sua estada conosco e trata-la com amor
e carinho. Ninguém deve permitir que a raiva, as disputas de
ego, a soberba, as contrariedades, as rixas pequenas e os pro-
blemas passageiros sejam causas de brigas, pois o outro pode
ir embora mais rápido do que esperamos e a culpa de te-lo
maltratado e não lhe dar valor pode nos torturar por anos.

O oitavo ponto nos deixa claro o quanto a vida mundana, que


tanto valorizamos, é insignificante, estéril e sem valor. As men-
sagens dos espíritos sempre afirmam a verdade de que a vida
na matéria é passageira e pequena diante da imensidão, da
glória, da harmonia e da felicidade da vida espiritual. A maioria
das pessoas se digladia e morre pelas migalhas do mundo pe-
recível. Trocamos facilmente nossa felicidade pelo dinheiro e
pelos bens materiais deste mundo. Passamos a vida tensos e

345
angustiados para manter nosso sustento financeiro sempre
com medo de tudo perder. Ao desencarnar percebemos a ima-
turidade de tais atos; nos damos conta do caráter ínfimo, tran-
sitório e irrisório de tudo isso. Os espíritos dizem que brigamos
por coisas sem nenhuma importância; nos matamos pelas so-
bras dos ossos debaixo da mesa; perdemos nossa vida alimen-
tando o ilusório ao invés de valorizar o eterno ser espiritual que
somos. Tudo isso para depois nada receber; vivemos para tudo
conquistar apenas para nos dar conta que depois vamos tudo
perder. Sofremos pelas perdas como uma criança chora e se
esperneia ao perder sua bola, e quando chega a idade adulta,
admite que a perda da bola foi um episódio absolutamente sem
valor. Os espíritos descrevem a eterna luz da vida, o infinito sol
espiritual que sustenta todas as almas, assim como o sol brilha
e dá vida a tudo o que existe na Terra. Mesmo a mais luxuosa
mansão, o carro mais sofisticado, as festas mais badaladas, o
vinho mais antigo e saboroso, a refeição mais opulenta, as vi-
agens mais refinadas, tudo isso é irrelevante, ilusório, miserá-
vel, vazio e sem alma perto da felicidade suprema da vida cós-
mica. Essa vida de bênçãos infinitas nos aguarda, mas para
sentirmos essa inexplicável paz é preciso enfrentar com fé e
resignação as lutas da vida humana; é preciso não guerrear
contra aqueles que querem a batalha; é preciso acalmar nosso
coração diante da mais estrondosa tempestade; é preciso en-
tregar nossa vida a um plano maior que tudo organiza; é pre-
ciso abençoar as mazelas, os sofrimentos e as dores enca-
rando-as como provas do infinito para nos elevar. É preciso
despertar o amor mesmo por aqueles que nos perseguem, nos
caluniam, nos maltratam e nos agridem; é preciso neutralizar o
ódio com o amor; o conflito com a paz de espírito; as pragas
com a bem-aventurança; não se importar de estar nos últimos
lugares, de ser o marginalizado, o oprimido, o rejeitado, pois os
últimos sempre serão os primeiros; o mais baixo sobre a Terra
será o mais elevado no reino do infinito.

346
O ERRO DO OUTRO

Não se importe com a hipocrisia, os fingimentos, as farsas, a


arrogância e os erros de outras pessoas.

Sempre vejo algumas pessoas reclamando dos erros de outros


em grupos espirituais, centros, templos, em suas famílias, na
escola na empresa, etc. Reclamam que as pessoas falam uma
coisa e fazem outra; que as pessoas são dissimuladas e não
dizem o que pensam; que nos sorriem de manhã e puxam
nosso tapete a tarde; que falam mal dos outros pelas costas;
que criam intrigas e confusões por coisas pequenas. Mas nin-
guém deve ficar se preocupando com o que o outro faz ou
deixa de fazer de errado. Em nossa passagem pela Terra, a
única coisa que realmente importa é o que nós mesmos faze-
mos.

Que pode nos importar o que o outro faz de bom ou mau? Se


uma pessoa faz o mal, ela sofrerá as consequências do mal
que esteja praticando. Isso fará parte do patrimônio espiritual
dessa pessoa, será a sua colheita mais cedo ou mais tarde.
Por isso, ninguém deve ficar nervoso, revoltado, incomodado
ou querendo “dizer umas verdades” ao outro. Se fizermos isso,
o erro passa a ser nosso também e não apenas do outro. Fa-
culte a cada pessoa o direito que ela tem de errar e aprender
sozinha com seus erros. Como diz Chico Xavier “Aos outros
dou o direito de ser como são; a mim dou o dever de ser cada
dia melhor”.

Quando tentamos apontar os erros de alguém e o outro não


quer ouvir, ele poderá se voltar contra nós, além da possibili-
dade de se criar conflitos e confusões desnecessárias. Vamos
permitir que o outro seja o que ele quer ser; que ele possa se-
guir o caminho que escolheu; que ele possa viver as experiên-
cias que determinou para si, mesmo que isso seja errado, seja
hipocrisia e mesmo que isso nos afete de alguma forma. O cho-
que de retorno ocorrerá na hora certa e fará essa pessoa
aprender com os erros do passado.

Portanto, deixe o outro errar o quanto quiser e não se irrite com


as faltas alheias. O que tem valor nessa vida é o que fazemos
diante da humanidade e diante de Deus. Deus conhece nossa
vida, nossos atos e conhece profundamente nosso irmão em

347
erro. Se o outro quer insistir em suas incorreções e enganos,
quem somos nós para corrigi-lo? Isso é um problema dele, é a
escolha que sua alma fez e que o conduzirá a um caminho tor-
tuoso, que ele viverá ou talvez já viva essa tortura em sua cons-
ciência. Além disso, sempre há a possibilidade de olharmos
mais para os erros dos outros a fim de não enxergar os nossos
próprios erros.

Dessa forma, não permita que as faltas do outro afetem seu


trabalho na grande jornada humana. Como diz Madre Tereza
de Calcutá “No fim das contas, tudo é entre você e Deus e não
entre você e os outros”. Cumpra as tarefas que lhe cabem sem
olhar para o lado, pois no final das contas, o que interessa é o
que nós plantamos… E nada nos acrescenta ficar observando
a colheita de nosso irmão.

348
DEUS E PERFEIÇÃO

Deus é perfeito, disso ninguém duvida. Todas as pessoas que


creem em Deus sabem que seria uma impossibilidade lógica
imaginar Deus sendo imperfeito. Se Deus fosse imperfeito,
simplesmente não poderia ser Deus. Deus e a perfeição são
duas ideias que se confundem e uma não poderia existir sem
a outra. Se algo é perfeito, está com Deus, e se imaginamos
algo como sendo Deus, esse algo só pode ser perfeito.

Se Deus é perfeito, Ele deve necessariamente ser eterno e in-


finito. É certo que Deus, sendo a própria essência do cosmos,
não pode ter qualquer tipo de limite. Se por um momento ima-
ginamos apenas um limite para Deus, já não estamos imagi-
nando Deus, mas outra coisa. A perfeição deve ser infinita e
eterna, e sendo assim, não pode ter qualquer limitação. Deus,
sendo perfeito, não pode aceitar, pela lógica, qualquer forma
de limite. O divino, portanto, é perfeito e absolutamente
ilimitado, sem quaisquer fronteira, divisão ou demarcação.
Nesse sentido, Deus é um, não pode ser dois, três ou mais.
Para ser Deus é necessário ser uma unidade, apenas um, pois
a unidade não admite divisões.

Diante desses fatos, que são lógicos em si mesmos, admitindo


que Deus é perfeito e por isso, ilimitado, precisamos reconhe-
cer também que Deus está em tudo. Essa ideia pode surpre-
ender algumas pessoas, mas reconhecemos que não pode ser
de outra maneira. Vamos entender isso… Se Deus é perfeito e
ilimitado, não pode ter qualquer limite. Se não tem um limite,
ele se estende a tudo, está em tudo, participa de tudo, faz tudo
e principalmente… é tudo. Diz-se corretamente que Deus é
onisciente, onipotente e onipresente, ou seja, tudo sabe, tudo
pode e em tudo está presente. Isso não significa que Deus seja
tudo, mas que Deus não pode estar ausente de qualquer coisa,
posto que é ilimitado.

Aqui há uma diferença sutil, mas real: Deus está na rocha, mas
Ele não é apenas a rocha; Deus está na água, mas Ele não é
apenas a água; Deus está na planta, mas Ele não é apenas a
planta; Deus está no universo, mas ele não é apenas o uni-
verso; e também, Deus está no ser humano, mas ele não se
limita ao ser humano, Ele é algo mais, infinito, eterno, supremo
e absoluto. Portanto, se Deus é infinito, não tem limites… Se

349
não tem limites se estende a tudo e está em tudo… Se está em
tudo, está também dentro de nós. Vale dizer que, não apenas
Deus está dentro de nós como é evidente dizer que nós e o
divino somos um. Assim como o galho faz parte da árvore, nós
estamos ligados a Deus. Mas ao contrário do galho que pode
ser quebrado ou cair por si mesmo, nós estamos conectados a
Deus de forma indissociável, posto que não há qualquer limite
entre nós e Deus.

Dizem que Deus criou todas as coisas e isso nos parece cor-
reto. Como já vimos, Deus é perfeito, e também, é o eterno
criador de tudo. Se Deus é perfeito e criou todas as coisas: as
estrelas, os planetas, as nebulosas, os seres, o tempo, o es-
paço, o movimento, etc, tudo o que foi criado também é per-
feito. Essa ideia pode igualmente parecer estranha a alguns. É
possível perguntar: como pode tudo ser perfeito se todas as
coisas nos parecem desordenadas, caóticas e muitas vezes
sem sentido? Vamos pensar sobre isso por um momento…
Como já vimos, Deus só pode ser Deus se for perfeito, quanto
a isso não há dúvida. Todos admitem que Deus é o criador de
tudo, e isso também nos parece correto. Mas se Deus é infini-
tamente perfeito, como seria possível que o perfeito criasse o
imperfeito? Será que a perfeição, sendo perfeição, poderia ge-
rar a imperfeição? O imperfeito só gera o imperfeito, assim
como o perfeito só pode gerar o perfeito. Se algo é perfeito,
como pode do perfeito nascer aquilo que conhecemos como
imperfeição? Aliás, se não conhecemos a perfeição, como po-
demos saber o que é a imperfeição?

No momento em que paramos e refletirmos com calma nessa


questão, concluímos que a ideia “perfeição gera imperfeição” é
uma impossibilidade lógica, posto que a perfeição só pode criar
a perfeição. No caso da perfeição criar a imperfeição, não seria
possível admitir que a perfeição é mesmo perfeição.. pois teria
de haver algum tipo de falha ou limite que produziu o que cha-
mamos de imperfeito. Mas isso é impossível, pois o perfeito
não tem erros, não tem limites, não pode ter qualquer distorção.
Perfeito é perfeito. Assim, só podemos concluir que do perfeito
só o perfeito pode surgir. Portanto, a criação divina por inteira,
em todos os seus aspectos, nada mais é do que perfeição, tal
como a perfeição divina que a engendra.

350
Tendo em vista que tudo é perfeição, como acabamos de ver,
é preciso também assumir que nada pode estar separado de
Deus, pois como já vimos Deus não pode ter qualquer limite.
Se Deus não tem limite, também é verdadeiro o axioma que
prega a existência de todas as coisas dentro de Deus e não
fora. Essa é outra ideia que pode causar espanto em muitos,
pois na ilusão de nossa mente, estamos “fora de Deus”. Acre-
ditamos que Deus é um ser cósmico que existe “fora do uni-
verso” e nós, aqui na matéria, estamos muito distantes de
Deus, mas isso não é correto. A verdade é que tudo o que
existe, todas os seres e coisas do universo, como já dissemos,
estão dentro de Deus e são parte Dele.

Algumas pessoas podem dizer “Mas eu não me sinto dentro de


Deus: eu sofro, eu fico triste, eu caio e me sinto só”. A resposta
a essa questão é simples: existe um processo chamado de ilu-
são da separatividade. Temos a ilusão de estar fora de Deus,
mas em essência, nunca estivemos ausentes do seio divino,
estivemos, estamos e sempre estaremos dentro da vida univer-
sal, que é Deus. O que acontece é que somos inconscientes
de nós mesmos e de nossa natureza divina e por isso não nos
sentimos parte de Deus. Alguns podem dizer que isso seria en-
tão uma separação, um limite e que Deus não pode ter um li-
mite, e que por isso nós somos imperfeitos. Isso também não
é verdadeiro. O limite que existe entre nós e Deus é apenas
criado por nós mesmos. Em outras palavras, é o limite que jul-
gamos existir que nos dá a sensação da separação, mas não
há nem nunca houve essa divisão. Qual é o limite entre a areia
e o mar? Qual é o limite entre o céu e a terra? Qual o limite
entre uma cor e outra cor no arco íris? Não há qualquer limite
em tudo, a não ser aqueles que julgamos existir, que acredita-
mos estarem ali. Em essência, todas as coisas estão interliga-
das e tudo faz parte de tudo. Quem procura o limite, jamais o
encontrará, posto que ele é apenas um produto da fragmenta-
ção de nossa mente e de nossa inconsciência. Dessa forma,
somos seres inconscientes de Deus e da perfeição, e por esse
motivo vemos limites onde não existem. No entanto, em essên-
cia, tudo é perfeição, inclusive nós mesmos.

Ja vimos que tudo é perfeição, que estamos dentro de Deus e


que nós mesmos somos perfeitos, embora cultivemos limites
que simplesmente não existem. Agora vamos afirmar que, se
tudo é perfeição, qual seria o motivo de nosso sofrimento? Se

351
tudo é Deus e Deus está em tudo, qual o motivo de nossas
mágoas, de nossas dores, de nossa solidão? Qual o motivo de
nossas preocupações conosco e com outras pessoas? Se tudo
é perfeição, verdade, harmonia, essência e Deus está em tudo,
por que devo me preocupar com uma pessoa que me magoou?
Por que devo sofrer pelo filho que me abandonou? Por que
devo me preocupar com minha pobreza material? Por que devo
ter medo da morte? Será que Deus em sua perfeição nos dei-
xaria perdidos no cosmos? Deus nos largaria jogados no uni-
verso a nossa própria sorte? Deus permitiria uma situação que
julgamos ruim se ela não fosse necessária para a tomada de
consciência de nossa perfeição interior? Se tudo é perfeito,
qual a causa do sofrimento? Se Deus está em tudo, onde está
o mal? Como diz o ditado “Se Deus é por nós, quem será contra
nós?”. Se estamos em Deus, o que pode nos afetar? Se somos
Deus, somos infinitos, envolvidos eternamente na essência
cósmica universal.

Tudo é perfeição… tudo está absolutamente perfeito… Nada


está fora do lugar. Todas as coisas têm um propósito que nossa
inconsciência espiritual não consegue compreender. Quem
toma consciência dessas verdades e as aplica na vida, se apro-
xima da consciência divina, e se liberta de qualquer sofrimento.

352
SER E ESSÊNCIA

Nesse momento…
Pare de se distrair com o exterior
E volte sua atenção para seu interior.
Deixe de lado a televisão, o trânsito, os problemas, as preocu-
pações, o estresse…
Largue todas as ilusões efêmeras desse mundo…
E fique sozinho… apenas consigo mesmo.
Nesse momento… pare…
Pare por um instante… pare tudo… Não faça mais nada…
E procure apenas sentir a si mesmo.
Sinta a tensão em seu corpo, sinta suas angústias, seu vazio,
sua tristeza, seu desespero, seu cansaço…
Sinta tudo e apenas deixe fluir…
Não bloqueie mais o sentimento, não interrompa o
pensamento, não resista ao que ocorre dentro de você…
Apenas deixe acontecer… e solte tudo.
Solte… deixe estar… deixe acontecer… e continue sentindo a
si mesmo.
Não prenda a corrente… deixe ela fluir livremente…
Não apresse nada… tudo segue no tempo devido…
Não tente controlar coisa alguma… Ninguém controla nada…
Não se preocupe em fazer ou não fazer… em ser ou não
ser… Não espere resultados…
Nesse momento… você com você mesmo… em seu interior…
você é livre…
Sim… livre de tudo… nada há que possa te fazer mal… nada
te afeta… nada te oprime… nada ha para perder…
Você está aqui e agora… não está longe… não está no
passado nem no futuro… está aqui… presente em si mesmo.
O pensamento vem e vai… deixe ele ir e vir… deixe a roda da
vida continuar a girar… mas não se mova com ela… apenas
observe seu movimento… e sinta a liberdade do seu
espírito…
O espírito é puro… ele não pode ser maculado. Ele é paz…
nada pode abala-lo.
Nesse espaço interior… o além de dentro… a profundeza de
sua alma… é o seu lugar no cosmos…
Deixe ser o que é… não seja isso ou aquilo… seja apenas o
que é o ser… O ser ja é por si mesmo…
Entregue-se com toda a confiança ao ser que é… Coloque-se
com toda a fé nas mãos de Deus…

353
Quem está aqui… no além interior… não precisa de nada…
Vê com os olhos internos… escuta a voz interior… sabe com
a sabedoria da vida…
O ser é eterno… ele não tem tempo. O ser é infinito, ele não
tem fim… O ser é tudo… e ao mesmo tempo nada…
Em teu ser existe uma essência… não é possível sentir a
essência… pois nós somos a essência… nós somos o ser
essencial… o ser que é… O ser que é apenas e
simplesmente o ser…
Ser… Ser…. Ser…. Aqui tudo é plenitude…

354
DO MUNDO CAMINHAMOS PARA DEUS

A dúvida é o caminho da sabedoria. Aquele que duvida de tudo,


até mesmo da própria dúvida, chega a certeza de que nada
sabe, e nesse momento… se inicia a sabedoria.

Através da mentira pode-se chegar a verdade. De tanto que


vivemos a mentira em toda a nossa vida; de tanto que a mentira
nos sufoca, nos ilude, nos engana, nos sabota, começamos a
abrir os olhos, ainda que de forma tímida, para entrever a ver-
dade.

Por meio do tempo seguimos um trajeto rumo à eternidade. O


tempo passa, tudo acontece, os fenômenos fluem, as situações
mudam, tudo se forma e perece, tudo vai e vem, tudo começa
e termina, as coisas existem e deixam de existir. Nesse ciclo
infindável da temporalidade, começamos a sentir um pouco da
inefável natureza da eternidade.

Vivendo intensamente a prisão da carne iniciamos nossa jor-


nada rumo à liberdade. O cativeiro terrestre nos prende, nos
oprime, nos aperta, nos esmaga, nos escraviza. Sentindo o
cárcere dos desejos e dos sofrimentos do mundo vamos aos
poucos nos soltando, nos elevando e, sem embargo, vamos
atingindo a leveza da libertação espiritual.

Mergulhados nas trevas começamos a peregrinar em direção


à luz. No túnel escuro e aterrador do vale de lágrimas do
mundo, tudo parece perdido, estranho, vazio, sem sentido.
Nesse momento, diante da tamanha escuridão, vislumbramos
a luz que nos guia pelas vias da plenitude. Quanto maior a es-
curidão desse mundo, mais brilhante será a luminosidade. Das
densas trevas começamos a enxergar a luz.

Perdidos pelos labirintos do mundo é que acabamos por nos


encontrar. O ser precisa antes se perder para só depois se en-
contrar. Quem não se perde, não pode se achar. Perdendo-se
dentro das estradas limitadas da existência humana é que a
alma começa a encontrar-se no infinito sem caminhos.

Viajando por todos os lugares chegamos a lugar nenhum.


Nesse lugar sem lugar descobrimos que não se caminha para
fora, mas sim para dentro de nós mesmos. Percorremos o

355
mundo, peregrinamos pelo cosmos para descobrir que não sa-
ímos do lugar, não saímos de dentro de nós. A única viagem
possível é aquela que vai para o interior, para a essência de
nosso ser.

Seguindo pelas ilusões e miragens do mundo alcançamos a


plena realidade. É percorrendo a ilusão que se chega ao real;
é pelo esgotamento da miragem que se vê a realidade. Preci-
samos cair mil vezes nos sonhos, nos devaneios do mundo,
nas aparências que ludibriam, envolvidos pelas quimeras e fic-
ções da existência para só depois descobrir o verdadeiro, o es-
sencial, o real. De tanto cair no poço fundo e vazio da ilusão
acordamos finalmente para a realidade.

É por intermédio da morte no mundo que atingimos o renasci-


mento no ser. Morremos muitas vezes para aprender a não
mais morrer. Precisamos passar milhares ou milhões de vezes
pela morte para entender que nossa essência não morre. Vive-
mos, morremos, nosso corpo se degrada, e aos poucos vamos
renascendo, morrendo para deixar de morrer, decaindo na
existência para deixar de perecer. Assim, gradualmente, va-
mos alcançando a verdadeira vida… vamos atingindo a imor-
talidade.

356
PAZ DE ESPÍRITO

Um homem foi procurar um monge e lhe perguntou o que se


pode fazer para ter paz. O monge apenas disse:

– Esteja sempre exatamente onde você está.

O homem não compreendeu a frase do monge. “Eu não sem-


pre estou onde estou?” indagou-se. Aquilo que não fez sentido
para ele.

Voltou para casa e ficou refletindo sobre aquela misteriosa


frase, que parecia mais ser um enigma. Depois de muito refle-
tir, lembrou que precisava, no dia seguinte, ir à escola de seus
filhos, pois um dos meninos havia brigado com seu colega. Fi-
cou preocupado se ele seria expulso ou não. Foi então deitar-
se, pois o dia seguinte prometia ser bem estafante. Fechou os
olhos e lembrou-se de sua recente separação conjugal e em
como sua ex-mulher o havia maltratado. Ficou pensando nisso
por 20 minutos e logo depois lembrou-se da apresentação que
deveria fazer na empresa na próxima semana e sentiu-se bas-
tante ansioso.

Acordou no dia seguinte já preocupado com a hora do trabalho.


Lembrou-se do filho que estava na escola e tentou decidir, bas-
tante tenso, como poderia ser liberado da empresa para falar
com a diretora da escola. Saiu de casa e lembrou que as contas
do mês não estavam ainda todas quitadas. Ficou muito inqui-
eto, pensando no que fazer para que um dinheiro extra pu-
desse entrar e resolver essa dívida. Lembrou-se dos anos an-
teriores onde o dinheiro não foi suficiente para arcar com as
despesas mensais e isso o deixou deveras apreensivo. Come-
çou a sentir uma pequena dor no estômago. Essa dor já o
acompanhara há alguns anos e sempre vinha em momentos
de angústia e incerteza sobre seu futuro e com as mágoas de
passado. Começou então a pensar que se tivesse estudado
mais em sua juventude, nada disso precisaria estar aconte-
cendo. “Perdi muito tempo com bebida, mulheres, falsos ami-
gos e futilidades que nada me acrescentaram”, refletiu. Lem-
brou-se das decepções amorosas que o levaram a uma vida
de gastança e carência e que o afastou dos estudos. “Como
será meu futuro daqui pra frente se eu não melhorar?” pensou.

357
Chegado o fim de semana, mais uma vez o homem foi ao tem-
plo falar com o monge, dizendo que o ensinamento recebido
ainda não tinha feito sentido para ele. O monge pediu então
para o homem meditar em tudo o que havia feito durante a se-
mana. O homem começou então a lembrar… e lhe veio um in-
sight, uma luz. A todo momento, o homem estava ou preocu-
pado com o futuro, ou preso ao passado; ou estava na escola
dos filhos, ou preso a decepções e a perda do tempo do seu
passado. Em nenhum momento ele estava no lugar onde es-
tava, ali mesmo, dentro de si, observando-se e sentindo-se. Ele
estava sempre em outros lugares, mas nunca no lugar onde
ele se encontrava. Sua mente estava em todo lugar, menos
com ele.

“Agora entendi essa máxima” disse o homem.

O monge reafirmou:

“Para ter paz de espírito em nossa vida, esteja sempre exata-


mente no lugar onde você está, pois ou estamos onde estamos,
ou nos perdemos em muitos lugares e acabamos não estando
em lugar nenhum.”

358
O APEGO

Quanto mais você se apega a uma pessoa, mais você sofre


com sua perda.
Quanto mais você se apega a algum bem, mais você sente
falta quando o perde.
Quanto mais você se apega a sua aparência, mais você sofre
com o envelhecimento.
Quanto mais você se apega a algum objeto, mais vazio você
fica quando isso vai embora.
Quanto mais você se apega a um dogma, mais você sofre por
descobrir que essa suposta verdade era falsa.
Quanto mais você se apega a uma situação, mais você deixa
de viver outras situações que poderiam ser proveitosas.
Quanto mais você se apega a um sentimento (como a raiva
ou a mágoa), mais você vai repeti-lo dentro de ti e mais essa
emoção te domina.
Quando uma situação nos proporciona um prazer repetido,
Isso pode gerar um apego que funciona como alicerce
psicológico em nossa vida.
Aquele que se apega facilmente, faz sua vida depender do
objeto de seu apego.
Apego é o caminho mais fácil: gera conforto, estabilidade e
nos dá uma base… algo para nos segurar.
Mas trata-se de uma base falsa, pois tudo o que existe, um
dia chegará ao fim… posto que nada se mantém
eternamente.
Aquele que não imagina sua vida sem algo ou alguém, está
seguindo rumo à infelicidade.
Nos apegamos a pessoas, a coisas, a situações, a ideias e
até a emoções.
Mas o maior apego é sobre nós mesmos.
Não queremos morrer, não queremos nos perder, não
queremos ser esquecidos.
Alimentamos o máximo nosso ego para sentir que
continuaremos existindo.
Tudo aquilo com que nos apegamos, ficamos com medo de
perder.
E o medo paralisa nossa vida, nos atrasa, nos prende e nos
desequilibra.
O apego é um dos maiores inimigos do ser humano… ele
sempre nos escraviza e nos submete.
O apegado diz: “Não posso viver sem isso”, “Não posso viver

359
sem aquilo”.
Quando nos apegamos, precisamos sempre de mais e mais e
nunca estamos satisfeitos.
Quem se apega a uma pessoa, quer sua presença a todo
momento e não consegue mais viver sem ela.
Quem se apega quer, de alguma forma, suprir uma carência
ou uma ausência dentro de si mesmo.
Mas é inútil, pois nossos apegos nunca poderão nos
preencher.
A fé na vida é, com efeito, o oposto do apego.
Quem tem fé, não se apega a nada, não precisa de coisa
alguma para se completar emocionalmente.
Aquele que coloca muitas coisas ao redor de uma lâmpada,
acaba abafando seu brilho.
Libere totalmente sua lâmpada, sua chama interior, de tudo
que a abafa.
Assim sua essência brilhará livremente.
Renuncie a todos os seus apegos, deixe de lado tudo aquilo
que te prende… Não há outro nome… isso se chama
liberdade.
Aquele que vive desprendido de tudo, sem dependências,
sem vícios, necessitando do mínimo possível…
Esse é muito mais feliz.

360
O TEMPO DE DEUS

A plantinha começa existindo apenas como uma semente…


Cresce… e após um tempo, começa a dar seus frutos.
A Terra demora 365 dias para dar um volta ao redor do sol.
A gestação de uma criança dura nove meses e depois, um
novo ser vem ao mundo.
A Terra demorou bilhões de anos até estar pronta a abrigar a
vida.
O ser humano nasce, cresce, se reproduz e muitos anos
depois, morre de velhice,
Completando, assim, o ciclo de sua vida humana.
Há sempre um período, um tempo, uma duração para tudo
em nossa vida.
Como diz a Bíblia:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o
propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e
tempo de arrancar o que se plantou.”
Há uma máxima que diz: A natureza não dá saltos;
Tudo ocorre no momento que tem que ocorrer,
Dentro das condições que foram aos poucos sendo lapidadas
pela sabedoria do tempo.
Alguém puxaria uma plantinha do solo para ela crescer mais
rápido?
Alguém quebra um ovo para que o pintinho nasça mais veloz?
Ninguém deve apressar o rio, ele simplesmente flui como tem
que ser.
Ninguém apressa uma criança a se tornar adulta. No tempo
certo, ela será…
Ninguém pode obrigar o sol a se pôr ao meio dia.
Ele volverá ao horizonte no tempo certo…
Colocamos um pé após o outro para poder caminhar,
Caso contrário… caímos no chão.
Da mesma forma que a natureza possui um tempo para cada
coisa,
Tudo em nossa vida tem um tempo para acontecer.
Querer apressar certas coisas, ou prolonga-las
demasiadamente,
Pode causar algum dano, ou fazer com que nada aconteça.
A lebre saiu correndo na frente, se cansou e parou para
descansar. A tartaruga seguiu caminhando num ritmo lento,
porém constante.

361
Assim, ela ultrapassou a lebre e venceu e corrida.
De nada adianta querer fazer tudo muito rápido, ou muito
devagar. A ansiedade de tudo resolver e a preguiça de nada
fazer são duas grandes inimigas do ser humano.
Tenha paciência para colher os frutos maduros do tempo…
Cada coisa tem a sua hora; cada pessoa tem seu momento.
Deixe sua vida fluir no tempo do infinito; sem pressa, sem
ansiedade.
Somos luz em estado de formação; somos anjos em
treinamento na Terra.
O ser humano nasceu, mas ainda não se completou.
Tudo se realiza no tempo que precisa.
Espere com paciência o tempo de Deus…
E não o seu tempo humano.

362
NÃO SE IDENTIFIQUE

Eu tenho um corpo físico, mas eu não sou esse corpo.


Eu tenho emoções, mas eu não sou nenhuma dessas
emoções.
Eu tenho uma personalidade, mas eu não sou essa
personalidade.
Eu tenho uma mente, mas eu não sou essa mente.
Eu vivo determinadas situações e acontecimentos no mundo,
mas eu não posso me identificar com eles.
Eu tenho um carro, mas esse carro não me pertence de fato.
Eu gosto de comer arroz, mas quem gosta é o corpo físico.
Eu gosto de viajar, mas quem viaja é o corpo, a mente e as
emoções, não o espírito.
Você pode ter um corpo, mas não se identifique com ele.
Você pode ter emoções, mas não se deixe escravizar por
elas.
Você pode ter prazer, mas não fique aprisionado nele.
Você pode correr, mas não tenha pressa.
Você pode ajudar, mas não fique preocupado em ajudar.
Você pode possuir, mas não fique apegado ao que você
possui.
Você pode ter dinheiro, mas não permita que o dinheiro tenha
você.
Você pode buscar conhecimento, mas saiba que ele é
limitado e que, no final das contas, você nada sabe.
Você pode cultivar crenças, mas não sofra quando elas forem
destruídas pelo real.
Você pode viver bem, mas não fique triste quando começar a
viver mal.
Você pode buscar a paz, mas não perca a paz quando não
conseguir ter a paz que é do seu desejo.
Você pode buscar ser bom, mas não se martirize quando não
conseguir ser tão bom quanto acredita que deve ser.
Você pode ter sucesso, mas saiba que ele um dia terá um fim.
Não viva por isso ou aquilo, apenas viva.
Não faça esperando resultados, apenas faça ou deixe de
fazer.
Não queira recompensas, pois elas sempre vão te frustrar no
final.
Não se identifique com as coisas do mundo.
Não pense “eu sou isto”, “eu sou aquilo”.
No momento em que você pensa “eu sou isso”, você deixa de

363
ser tudo e passa a se limitar.
No momento em que você tem, você deixa de ser.
No momento em que você pensa que é, você não é mais.
Então, apenas deixe toda a vida fluir através de você… e não
se apegue a coisa alguma.
Seja o espírito em Deus… e Deus no espírito.
“Eu e o Pai somos Um” (Jesus)

364
VIVA PELO ESPÍRITO

O espírito é o ser eterno… o ego é passageiro.


O espírito é luz… o ego é a sombra.
O espírito existe, é real, é essência… o ego é falso, é ilusório,
é apenas uma aparência.
O ego é uma onda que vem e vai… O espírito é como o mar.
Enquanto o ego diz: quero que seja feita a minha vontade.
O espírito diz: entrego, tenho fé e agradeço ao divino.
Enquanto o ego diz: quero te possuir.
O espírito diz: quero que sejas feliz.
Enquanto o ego diz: quero ter.
O espírito diz: quero ser.
Enquanto o ego diz: sou mais eu,
O espírito diz: estou em harmonia com a vida universal.
Enquanto o ego diz: quero impor minha verdade.
O espírito diz: eu busco a verdade.
Enquanto o ego diz: não quero sentir.
O espírito diz: permito que a existência flua através de mim.
Enquanto o ego diz: vou vencer o outro.
O espírito diz: vou vencer a mim mesmo e as minhas
imperfeições.
Enquanto o ego diz: eu sei de tudo.
O espírito diz: minha mente é limitada e por isso tenho muito
o que aprender.
Enquanto o ego diz: sou melhor do que você.
O espírito diz: somos filhos do universo e não há superior ou
inferior.
Enquanto o ego diz: preciso correr para atingir objetivos.
O espírito diz: sou feliz com o que tenho.
Enquanto o ego diz: tenho pressa para realizar.
O espírito diz: tenho paciência.
Enquanto o ego diz: vivo no passado e no futuro.
O espírito diz: vivo no eterno presente, a fonte da vida.
Enquanto o ego diz: o diferente é estranho e mau.
O espírito diz: é na diferença que reside a diversidade e a
riqueza.
Enquanto o ego diz: a culpa é sua.
O espírito diz: a responsabilidade é minha.
Enquanto o ego diz: eu julgo mesmo sem conhecer.
O espírito diz: procuro compreender sem julgar.
Enquanto o ego diz: busco a vida no exterior.
O espírito diz: eu encontro em meu interior.

365
Os sábios de todas as épocas sempre disseram:
O ego é a morte… o espírito é a vida.
O ego é a imagem… o espírito é a essência.
Não viva pelo ego…
Viva pelo espírito.

366
AMOR INCONDICIONAL

O amor verdadeiro, o único que existe, é o amor


incondicional.
Amor incondicional é aquele que não depende de nenhuma
condição para existir.
Este é o amor dos santos, dos sábios, dos avatares, do Cristo
e de Deus.
É o amor de Deus e o amor que nos aproxima de Deus.
Quando o amor depende de condições externas, ele pode ser
tudo… menos amor.
Quem ama por alguma condição, verá seu suposto amor
acabar,
Pois todas as condições externas um dia perecerão…
Ninguém pode amar uma pessoa e querer que ela mude ou
que ela seja diferente do que ela é.
Pois se você quer que ela mude, já não ama a pessoa, pois a
pessoa é do jeito que é.
Se você acredita que ama uma pessoa, mas só a ama se ela
fizer o que você quer, isso não é amor, é egoísmo.
Só existe amor quando há aceitação plena do que a pessoa
é.
O amor verdadeiro, que é sempre incondicional,
Não se importa com forma, com condições, com situações
agradáveis ou desagradáveis.
O amor não cobra nada, não exige, não quer algo.
Quem cobra mudanças de alguém que crê amar, não ama a
pessoa em si,
Ama apenas a idealização criada de como a pessoa deve ser.
Se você quer que alguém corresponda ao seu desejo,
Você não ama a pessoa, você ama o seu desejo; você ama o
que existe de seu no outro.
Quando você ama e quer que o outro se encaixe em seus
padrões,
Você não ama o outro, você ama a si mesmo no outro.
Amor incondicional também não é sacrificar-se pelo outro e
sofrer, pois quem ama não sofre por não esperar nada do
amor.
Entenda que: quem ama, nada espera…
E por isso, não sofre esperando por recompensas que podem
não vir.
Quem ama, não quer possuir o outro, nem tirar sua liberdade,
Pois é na liberdade que o ser amado mais expressa quem ele

367
é.
E quem diz “Eu te amo, mas somente se você me amar.”
Esse já não ama, mas quer uma troca.
O amor não pode ser regulado por barganhas…
Pois esperar qualquer benefício pelo amor, não é amor, é
ganho pessoal,
É para o ego… e não para a alma.
Por outro lado, se você ama alguém e despreza a si mesmo.
Isso não é amor, é submissão.
Pois não se pode amar o outro e não gostar de si mesmo.
O amor incondicional quer ver sempre o outro feliz,
O amor ilusório quer que o outro nos faça felizes.
A paixão pode ou não dar certo,
O amor incondicional já deu certo desde sempre.
O amor recebe quando dá…
E dá quando recebe.
O amor apenas dá e nada espera receber.
Ele apenas sente e não pede explicação.
Ele apenas é… sem nenhuma preocupação.
O amor não é do ser humano, mas do espírito imortal.
Se um dia você tiver dúvida sobre como agir,
Não tenha receio, apenas ame…

368
A JOIA DA CARIDADE

Alberto era um homem muito bondoso. Estava andando pela


rua, quando viu um mendigo passando fome. Alberto então
sentiu seu coração se aquecer de compaixão pelo ser humano
que estava ali, a sua frente, em estado de completa necessi-
dade e decidiu lhe dar uma joia que ganhara de seu falecido
pai, que valia muito dinheiro.

O mendigo ficou muito tocado pela atitude daquele homem e


pensou: “Este homem nem me conhece e me deu uma joia de
extremo valor sentimental”. Quando o mendigo foi numa joa-
lheria trocar a joia por dinheiro, soube que o dono da joalheria
tinha uma doença muito grave, e não tinha dinheiro para pagar
a cirurgia e o tratamento médico. O mendigo compadeceu-se
do homem e, num ato de desapego, deu a joia ao joalheiro, que
em troca lhe deu comida por duas semanas.

O joalheiro pegou a joia e sentiu muita compaixão, pureza e


desapego. Após um tempo fez exames de saúde e percebeu
que havia se curado completamente da doença. Decidiu então
dar a joia a alguém necessitado.

Cada pessoa que recebia a joia se sentia tocada com aquela


atitude de pureza e benevolência, e sentia-se inspirada a fazer
o mesmo a outra pessoa: a doar aquela joia que parecia ter se
tornado um símbolo de fé e desapego.

Muitas pessoas receberam e doaram a joia. Certo dia, Alberto,


o dono original da joia, estava andando pela rua e foi atrope-
lado por um carro. Muitas pessoas foram socorre-lo. Um ho-
mem em particular percebeu a dor de Alberto e sentiu compai-
xão por ele. Colocou a mão no bolso, tirou algo e deixou em
sua mão. Alberto fez um esforço e ficou muito surpreso ao con-
templar, na palma de sua mão, a joia de seu pai que há mais
de 1 ano havia dado a um mendigo na rua. “Isso te ajudará a
pagar todo o serviço médico após o acidente”, disse o estranho.
Após tanto tempo, a joia dada havia agora retornado a ele
mesmo, justamente na hora em que mais precisava. Alberto
começou a chorar e pensou: “Como são perfeitos os planos de
Deus”.

369
No momento em que doamos algo, com o necessário despren-
dimento, criamos uma corrente de bem e luz que beneficia a
outras pessoas. No entanto, após um tempo, essa ação acaba
sempre retornando a nós das mais variadas formas. Ninguém
deve ter medo de dar ou doar-se ao próximo, pois nossos es-
forços sempre tocam as pessoas e criam um mundo melhor
que beneficia a todos, inclusive a nós mesmos.

370
LEI DA AFINIDADE

Uma das leis mais importantes do universo é a lei da


afinidade ou sintonia.
Essa verdade foi expressa no esoterismo na frase
“Semelhante atrai semelhante”.
Buscamos as pessoas, os lugares e as atividades que
correspondem a nossas afinidades, desejos, vibrações e
aspirações.
Cada pessoa está no local que se sente atraída, sintonizada e
satisfeita. Ninguém nos envia para um ou outro local, mas
cada alma naturalmente vai para o lugar que sente afinidade.
Se quiser conhecer a si mesmo, pergunte-se quais são suas
afinidades e com que você se sintoniza.
Quando sentimos afinidade por uma pessoa, há alguma coisa
em nós que é semelhante a algo que existe nessa pessoa. Há
uma ressonância de modos de ser, personalidade e vibração.
Por outro lado, quando uma pessoa sente repulsa pela outra,
uma antipatia gratuita, uma ojeriza pelo comportamento e
personalidade, pode haver algo semelhante em você.
Aqueles que buscam o negativo, possuem algo dentro de si
que se sente atraído pelo negativo.
Nesse âmbito, não existe o certo e o errado, o bom e o mau,
existe apenas aquilo que uma pessoa atrai ou repele dentro
de suas afinidades.
Não acredite ser necessariamente mau ou errado aquilo que
não está de acordo com sua sintonia.
Aquele que assiste programas sensacionalistas na TV que só
promovem a violência, deve se perguntar porque a violência o
atrai. Talvez essa mesma violência esteja de alguma forma
presente dentro dele.
Uma mulher que só se relaciona com homens cafajestes, que
a maltratam, deve refletir no motivo de se sentir atraída por
esse tipo de homem. O que ela está buscando nesse modelo
masculino?
Não culpe um grupo de jovens por terem levado seu filho às
drogas, mas antes se pergunte porque ele sentiu afinidade
com esse grupo e permitiu que o levassem as drogas. Que
recompensa ele estava buscando?
Se você gosta de estilos musicais pesados, com letras
banais, de sexualidade exacerbada, essa é a sua vibração, ao
menos em algum nível do seu ser.
Mas se você gosta de musicais mais tranquilas, com letras

371
edificantes, de sonoridade profunda, com instrumentos mais
refinados, há algo em você que busca ou já está em
conformidade com essa vibração.
É como um rádio: quem com sua vibração só sintoniza
frequências AM, recebe o som todo distorcido; e quem
sintoniza com FM, já recebe o som mais puro e claro.
Renascemos nos abismos infernais mais profundos, ou nos
mais elevados paraísos celestiais graças aos nossos desejos
que criam as afinidades e sintonias.
Cada ser gera uma vibração, que se encontra em ressonância
com aquilo que atrai ou repele. E tudo o que atraímos ou
repelimos gera emoções e cria experiências de vida que
trazem lições e amadurecimento espiritual.
Dentro dessa perspectiva, faz sentido pedir a proteção de
Deus para nós mesmos e nossa família?
“Deus, proteja meu filho de todo mal”, dizem alguns.
No entanto, as pessoas precisam entender algo que em
essência é bem simples:
O que existe em nosso interior atrai aquilo que existe no
exterior. O mal externo é atraído pelo mal interno.
Assim como o amor atrai amor e o ódio atrai mais ódio.
Uma pessoa que odeia ser ofendida vai sempre atrair
pessoas que a ofendam.
Uma pessoa que não gosta de ser criticada vai sempre atrair
pessoas que a critiquem.
A escuridão que existe dentro de nós traz a escuridão de fora
de nós criando as circunstâncias de nossa vida.
Essa atração permite que experimentemos essas situações
quantas vezes foram necessárias até que finalmente
possamos nos libertar de tudo isso.
Dessa forma, precisamos questionar: existe proteção possível
para as imperfeições que existem dentro de nós?
Uma pessoa vai sempre atrair as situações, pessoas e coisas
que precisa vivenciar, para seu próprio desenvolvimento.
Atraindo certas circunstâncias externas ela pode enxergar
mais claramente certos processos e conteúdos internos.
O que vem de fora acaba sendo o espelho que reflete com
exatidão aquilo que precisamos ver e transformar dentro de
nós.
Assim, é possível questionar: não seria absurdo crer que
Deus pode nos proteger de nós mesmos?
Não seria mais correto dizer que é preciso permitir que cada
pessoa contemple a si mesma no espelho da vida?

372
Dessa forma, não adianta pedir que Deus afaste o mal
externo se não transmutamos o mal que existe dentro de
nós… Posto que um sempre vai ser atraído pelo outro.
A raiz do mal é o egoísmo, é a ganância, é o apego, é a
vaidade…
Transcenda o mal dentro de você para que o mal externo não
seja mais atraído até você…
Sim… não adianta proibir uma pessoa de encontrar-se com o
objeto de sua afinidade, pois cada um precisa experimentar
tudo o que existe de positivo e negativo em sua sintonia e
vibração, pois é assim que evoluímos.
Dessa forma, para mudar seu destino, mude sua sintonia;
para mudar sua sintonia, encontre suas afinidades; para
mudar suas afinidades, reconheça seus mais profundos
desejos e aspirações, inclusive aqueles que você quer ocultar
de si mesmo.
Não reprima sua vibração, apenas mude sua afinidade, como
se muda de sintonia AM para FM na rádio.
Sintonize com o amor, a paz e bem, e você expressará o
amor, a paz e o bem em sua vida.

373
A POLÍTICA NACIONAL

A política nacional é o resultado do karma dos habitantes do


país. É apenas um efeito de nossas ações, sentimentos e pen-
samentos em nível coletivo.

Se a política está ruim, isso é uma consequência dos nossos


próprios atos, que tem como causa nossas atitudes, nossa
mentalidade.

Isso abrange nossa própria pequena corrupção diária em atitu-


des como estacionar em vaga de deficiente, furar fila, andar
além do limite de velocidade, sonegar impostos, comprar DVD
pirata, baixar windows pirata, colocar som alto perturbando a
vida de outros, dentre muitas outras formas de corrupção que
cada um de nós praticamos, e que forma um karma coletivo
que influencia na política da nação.

A grande verdade é que a política nada mais é do que o efeito


da mentalidade de um povo… A política é o reflexo de nossos
próprios atos diários… É o efeito de nossas escolhas, de nossa
cultura, de nossa mentalidade, de nossas falhas de caráter e
de nossos desejos.

O brasileiro reclama da política, mas boa parte da população


faria a mesma coisa se estivesse no poder. Quando pararmos
de dirigir além do limite de velocidade; quando pararmos de
oferecer suborno ao policial que nos para numa blitz; quando
não mais sonegarmos impostos; quando não mais estacionar-
mos em vagas de deficiente; quando não mais embolsarmos o
troco a mais que recebermos, ou seja, quando pararmos com
nossas pequenas corrupções diárias, aí sim teremos um presi-
dente decente, um governador sério, um deputado honesto, um
prefeito preocupado com o povo, etc. Como diz muito acerta-
damente o grande filósofo francês Joseph-Marie de Maistre:
“Cada povo tem o governo que merece”.

Precisamos colocar a mão na consciência e parar de culpar os


outros pelos nossos problemas. Atribuir culpas do nosso fra-
casso enquanto nação é muito cômodo. Todos preferem ver o
erro no outro ao invés de mudar nossos hábitos e olhar para
nossas próprias falhas. Enquanto estivermos envolvidos no
lema “Levar vantagem em tudo”, ou na atitude de “Puxar a ca-

374
deira do outro para que eu sente nela” ou mesmo na desculpa
de “Todo mundo faz, por que eu não poderia fazer também?”
continuaremos estagnados, rebaixados, degradados e presos
numa corrupção que se estende indefinidamente, sem pers-
pectiva de melhora.

A solução começa dentro de nós, em nossa reforma íntima…


Quando fizermos isso, haverá sem dúvida uma influência posi-
tiva no exterior, que ajudará na melhora da política nacional.
Cada pessoa que evolui em espírito influencia no meio em que
vive e isso se reflete em nosso país e em todo o planeta.

Cuidemos da nossa transformação interior, e o resultado será


expresso em toda a sociedade.

375
PREOCUPAÇÕES

Quando estiver seguindo pela estrada da vida.


Procura evitar toda preocupação…
Preocupação é ocupar-se antes da hora, é pré-ocupar-se.
É se concentrar ou se deter em algo que ainda não ocorreu.
As preocupações te prendem no passado ou no futuro.
Estamos aqui e ali, perdidos no tempo ou no espaço, mas
nunca no momento presente.
Não duvide da máxima:
Se algo ainda não deu errado, não há motivo para
preocupação; e se algo já deu errado, nada há mais o que se
preocupar.
Ansiedade, inquietação, cansaço ou agitação mental: a
preocupação é fonte dos mais variados problemas,
Desde insônia até dores de cabeça, assim como doenças e
depressão.
Acorda para a verdade… A preocupação só te gera tensão,
E a tensão quase sempre te deixa paralisado e inconsciente
de si mesmo.
Atenta para o fato de que nenhuma preocupação resolve um
problema,
Pois a própria preocupação já é um problema.
O que resolve é a ação… e não a pré-ocupação.
Antecipamos um sofrimento que pode nunca acontecer, e
criamos um sofrimento até então inexistente.
Enquanto nos preocupamos, o tempo passa, a vida segue, as
coisas acontecem, e nossa vida para.
Pior é quando nos preocupamos em não nos preocupar, ou
quando sofremos por não querer sofrer.
A pessoa preocupada já vive no próprio sofrimento que
deseja a todo custo evitar.
Você pode acreditar que tem mil motivos para suas
preocupações, mas toda preocupação é vã e sem sentido.
A mente preocupada viaja em diversos pensamentos de
perigo… Cria situações, agita emoções, erra nas decisões e
não enxerga soluções.
A pessoa preocupada tenta controlar as variáveis mais
improváveis para que tudo saia como ela espera.
No fundo, ela quer ter o domínio daquilo que é impossível de
se controlar.
Se você ainda não aprendeu que na vida nada se controla,
então permanecerá como a eterna vítima das preocupações.

376
A mente sempre pode inventar mais e mais preocupações,
mesmo que sem base na realidade,
Todas criações baseadas em supostos riscos de cada
aspecto da sua vida.
Quem se preocupa, não precisa de motivo, basta sua própria
insegurança, medo e falsa expectativa.
Nada na vida humana é certo, tudo é imprevisível. Por isso,
quem se preocupa está iludido pela falsa certeza de um
caminho ideal que se supõe direto e linear.
A pessoa preocupada sempre entrega sua vida na mão das
probabilidades.
Para ela, qualquer coisa pode dar errado, portanto, sempre há
algo a se evitar.
E de evitação em evitação, vamos perdendo nossa vida e
morrendo dentro dos possíveis perigos da existência.
Mas o maior perigo de todos já está ocorrendo: passar pela
vida com medo da própria vida, perdendo a nós mesmos
num sem-número de formulações pessimistas.
Não se preocupe… Não se deixe afundar no mar revolto das
preocupações.
Viva de acordo com o acontecimento, e não de acordo com o
que pode acontecer.
Você pode se ocupar, mas não perca sua vida
se preocupando.

377
VIDA SIMPLES

Viver com simplicidade é o caminho para ser feliz


Ser simples é sorrir diante as ondas do mar, é beber da água
do rio, é cantar com a chuva, é sujar-se na lama, é perder a
hora, é aceitar o mistério da vida.
Uma vida simples é uma vida espontânea, natural, onde
deixamos tudo fluir.
Na simplicidade nada nos preocupa, nada nos faz perder,
nada nos irrita, tudo segue em harmonia, tudo acontece
desembaraçadamente.
Ser simples é olhar o mundo e a natureza com os olhos das
crianças, com doçura, inocência e vitalidade.
O homem que vive de extravagâncias e intemperanças torna-
se um escravo do próprio peso que carrega para sustentar
seus excessos e seu orgulho.
Simplicidade é o instante que não cabe em mil palavras.
Quem pode explicar a beleza do pôr do sol?
Os homens se debruçam sobre seus problemas em mil
preocupações; enquanto isso, as folhas caem, a relva cresce,
o vento sopra, o rio flui, o pássaro canta…
Quem consegue sentir a alegria de um simples momento? Da
visão da lua? Do estrondo do trovão? Da beleza do raio que
corta o céu? Ou numa nuvem cinza num dia chuvoso?
Ser simples é viver despojado de tudo o que nos prende, de
todos os fardos que carregamos. É desatar todos os nós.
Ser simples é contentar-se com a menor obra da criação e
dela retirar a alegria do momento.
Simplicidade é viver no presente sem desejar estar aqui ou
ali, no passado ou no futuro, com isso ou aquilo.
O homem superficial olha e não vê, faz e não sente; o homem
simples não vê, mas enxerga, não faz, mas sente.
O homem simples é feliz mesmo sem nada possuir; o homem
superficial mesmo tudo possuindo, não consegue ser feliz.
É na ausência de tudo que enxergamos melhor a nós
mesmos e a vida; é com pouca ou nenhuma bagagem que
caminhamos mais rápido…
Ver a beleza no feio; ver a profundidade no vazio; ver a fé na
dúvida; ver a alegria na tristeza; entender sem que ninguém
precise explicar: assim é virtude da simplicidade.
O homem simples percebe o diferente, o novo, o belo mesmo
na mais repetitiva rotina; o homem superficial vê tudo igual,
chato e monótono, mesmo nas mais surpreendentes

378
novidades.
Quem gosta de discursos rebuscados, de difícil compreensão
só expõe sua soberba.
Mas aqueles que conseguem esclarecer com simplicidade,
esses foram mais fundo no coração da vida.
A simplicidade aceita tudo como é, ao invés de sofrer pelo
que não é.
Simplicidade é liberdade, é desapego; é mergulhar de
cabeça; é dizer não ao medo; é soltar o que está preso e
acolher a vida como ela é.
Seja simples… seja feliz… viva em paz… apenas viva…

379
AS APARÊNCIAS DO MUNDO

Se você ainda não percebeu isso,


Um dia você despertará para essa verdade.
Tudo nessa vida é apenas uma aparência, nada é real.
As aparências revestem o nosso mundo e lhe emprestam um
caráter ilusório.
E o mais grave é que as pessoas gostam de viver das
aparências.
Isso ocorre porque a maioria não aceita encarar a realidade.
A aparência é a fuga do enfrentamento dos problemas que
podem nos levar a verdade.
Como muitos já descobriram, as pessoas preferem a mentira
confortável do que a verdade reveladora.
No entanto, você nunca pode se resolver enquanto não optar
em soltar o véu das aparências,
E começar a entrever a verdade sobre si mesmo e sobre o
mundo.
A verdade pode ser chocante, dolorosa, aguda, penetrante,
desagradável,
Mas não duvide disso:
A mentira que consola sempre dói muito mais a longo prazo
do que a verdade.
A verdade pode doer a princípio, mas ela possui um caráter
libertador.
“Conhecereis a verdade e ela vos libertará” disse Jesus.
Quais são as verdades em sua vida que você se recusa a
enxergar?
Duvide de tudo, pois estamos num mundo onde todos
dissimulam tudo o que podem.
Mas um dia, por mais que demore,
As mentiras sempre são descobertas, as aparências sempre
se quebram, a casca que encobria a verdade sempre se
rompe.
O que está subliminar sempre virá à tona, trazendo o real que
não desejamos ver.
O real sempre se impõe, justamente por ser o real.
Não adianta fechar os olhos, a vida o obrigará a abri-los, seja
pelo amor, seja pela dor.
Minta hoje, e amanhã você será descoberto.
Quem quer parecer diferente do que é sempre revela, em
alguns sinais, suas reais intenções.
Seja o mais autêntico possível, seja você mesmo, pois quem

380
é o que é, torna-se livre de tudo.
Quem não vive de mentiras é muito mais feliz, é mais
espontâneo, mais livre, mais tranquilo.
Uma mentira pode custar sua paz interior por toda a vida,
Mas a verdade pode te dar a paz que você sempre buscou.
Um dia as ilusões serão todas destruídas, por que então não
desfazer-se delas agora?
Toda ilusão tem um prazo de validade, que mais cedo ou
mais tarde revelará seu intento.
Ninguém precisa defender a verdade, ela se impõe por si
mesma.
Seria como defender o sol das nuvens de chuva. Por mais
densa que seja a nuvem, o sol sempre volta a brilhar.
Há uma essência por detrás de todas as aparências, assim
como há um autor por detrás de toda a obra.
A essência é sempre una e indivisível, embora infindáveis
sejam suas formas de se manifestar.
É como um conjunto de lâmpadas de diferentes cores,
formas, tamanhos e intensidades.
Todas são diferentes e expressam a luz de maneiras
diversas,
Mas cada um delas está ligada a uma corrente elétrica que
vem de uma mesma fonte.
Da mesma forma, tudo no cosmos se expressa em diferentes
formas, mas há apenas uma essência divina.
Na verdade a essência da vida nunca esteve oculta, ela está
aberta para qualquer um que deseje aprecia-la.
Mas é preciso ter “olhos para ver e ouvidos para ouvir”.
Não se deixe enganar pelas ilusões do momento, pelas
sombras que encobrem a essência.
Viva com a verdade, com a essência da vida, e tua liberdade
durará para sempre.

381
UM DIA VOCÊ VAI MORRER

Vou te contar uma coisa muito importante.


Preste bastante atenção no que vou lhe dizer.
Você pode ter se esquecido disso,
Mas um dia, inevitavelmente, você vai morrer…
Muitas pessoas vivem como se a morte nunca fosse chegar,
Como se sua vida fosse eterna, como se tudo a sua volta
fosse sempre permanecer intocado.
Mas não, um dia tudo vai embora e você vai morrer.
Um dia você perderá seu corpo físico e tudo de material que
você tem.
Um dia suas posses serão tragadas pela terra, seus animais
perecerão,
Sua casa cairá, seus móveis serão destruídos, seus familiares
vão embora,
Seus dogmas religiosos vão a falência, suas crenças o
abandonarão,
Seu canteirinho não será mais seu: tudo o que um dia fez
parte de ti desaparecerá.
Assim vemos o quanto tudo é passageiro, tudo é fugaz e
supérfluo nesse mundo.
Quando chegar o momento derradeiro, quando você se
despedir deste mundo,
Você vai se perguntar três coisas:
O que eu fiz de bom? O que posso levar daqui? Quem sou eu
lá no fundo?
Que respostas você daria? Fez algo de bom? Deixou uma
boa obra?
O que vai levar da vida humana que seja imperecível?
E quem é você lá no mais fundo e essencial de si mesmo?
Não viva como se nunca fosse morrer.
Aceite que a morte vem para todos, e que tudo o que você é
nesse mundo um dia acaba.
Aceite a morte como parte da vida, e não perca seu tempo
com futilidades.
Entenda que esse mundo é de aparências e um dia o véu
cairá.
Entenda que os sonhos, os desejos, os anseios humanos, as
ilusões, as lutas desse mundo,
A correria, a pressa, a tensão, as disputas, tudo isso perde o
sentido.
Lutamos tanto para tudo um dia se esgotar.

382
Para que tudo isso? Vale a pena o desespero de querer tudo
para si?
Quem vive apenas por si mesmo, sofre muito na hora da
morte e depois dela.
O sofrimento se instala quando conferimos um valor de
permanência a algo que nunca foi real.
Mas lembre-se: quanto menos buscamos o ilusório e mais
bem fizemos no mundo,
Mais paz teremos no plano espiritual.
Por outro lado, quanto mais você busca tudo somente para si
mesmo, mais você morre a cada dia.
Quem vive pelo bem, pelo amor, pela paz, por Deus, esse
morre bem para o humano,
E renasce no eterno que foi, é e sempre será…

383
O VALOR DO VAZIO

Para receber algo novo, esvazie-se do antigo.


Para pegar algo diferente, suas mãos precisam estar livres.
Para conhecer alguém novo, é necessário não estar preso a
relacionamentos passados.
Para receber pessoas em sua casa, é preciso que sua porta
não esteja congestionada.
Para caminhar livremente, retire tudo que é velho de tua
estrada.
Para conhecer mais e melhor, esvazie sua mente de todas as
ideias e crenças obsoletas.
Para expressar livremente o amor, abdique de todas as
mágoas, ciúmes, ressentimentos e culpas passadas.
Solte tudo o que você possui, libere sua consciência de todos
os resíduos antigos, esvazie-se de qualquer roupagem
passada.
O diferente, o novo, o inabitual, o inesperado só surgem
quando nos libertamos do que já passou.
Abra mão do que já se foi, do que teve sua época mas está
defasado, pois só assim a renovação virá.
A flauta só toca no espaço vazio, o rio só flui sem barragens e
destroços, um caminho só pode ser percorrido quando o
encontramos vazio de obstáculos.
Esvazie-se do supérfluo para dar lugar ao essencial.
O vazio é o espaço da receptividade e da criação. Não se
pode criar onde algo já existe.
É necessário desconstruir o antigo, abrir espaço ao vazio e
depois construir o novo.
Não deseje sempre abarrotar sua vida com milhares de
coisas.
Pois isso pode ser uma tentativa de evitar o vazio.
Ninguém pode preencher seu vazio sem antes aceita-lo
dentro de si.
Mas é no vazio onde tudo se faz, se cria e se desenvolve.
Aceite o vazio sem medo… acolha a ausência sem apego.
É no vazio que encontramos a verdadeira liberdade;
É no vazio que enxergamos melhor a vida e a nós mesmos.
E quando nada mais te sobrar; quando você abrir mão de
tudo, se desprender de tudo,
E tua vida cair num profundo e pleno vazio,
Entregue-se com fé, pois aí estará tudo… aí estará Deus.

384
VOCÊ É ESPÍRITO

Há uma grande verdade na vida:


“Meu Reino não é deste mundo”, disse Jesus.
Assim como nenhum de nós é deste mundo, ou pertencemos
a ele.
Estamos aqui apenas de passagem…
É como cruzar uma ponte, caminhar por uma estrada,
percorrer uma via.
Este mundo nada é mais do que um acesso, um passadouro,
uma viagem de um ponto a outro.
Dizem os sábios “Não fixe aqui sua morada. Não se prenda
nesse mundo. Não se apegue. Não pare aqui!”
Acaso um viajante deseja permanecer eternamente na
estrada que o leva ao objetivo?
Ou ele se conduz pela via que o permitirá culminar em seu
propósito?
Encantado pelas belezas do caminho, o homem se perde nas
veredas da matéria.
Distraído que está pelas seduções e dores do mundo, ele se
perde em caminhos tortuosos e ilusórios,
E esquece-se de sua natureza essencial, de seu espírito, do
divino que nele habita.
Procure lembrar-te de que não és matéria, mas espírito;
Não és emoção, mas espírito, não és personalidade, mas
espírito.
Você cruza o vale do mundo, mas não pertence a ele; passa
pela matéria, mas não é matéria.
Você veste a roupagem humana, mas não é humano; sente
emoções, mas não é nenhuma emoção.
Convive com pessoas, mas elas não te pertencem; vive na
Terra, mas não é da Terra.
Você sente os prazeres do mundo, mas nada levará daqui;
Possui muitas coisas, mas tudo um dia se desfaz.
Tua origem não é a Terra, mas o cosmos, o infinito, a
eternidade.
Você vive no mundo para se preparar para a jornada
sempiterna do espírito…
O que é do mundo, deixe no mundo; o que é do espírito, você
pode levar.
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Traga o espírito para o mundo, mas não tente levar coisas do
mundo para a esfera da essência.

385
Você é o herdeiro do cosmos, não brigue pelas migalhas
desse mundo transitório. Não lute pelo copinho de água
diante de um inesgotável oceano.
Um dia tudo perece, tudo se desgasta, tudo se deteriora, tudo
morre,
Mas o espírito não tem começo nem sequer terá fim.
Você não é humano… Você é espírito. Tudo o que você faz é
o espírito que habita em ti que age e realiza.
Tudo o que você tem é apenas um instrumento que deve ser
usado para o crescimento e o despertar do espírito que você
é.
Não pense que sua personalidade tem o poder, que suas
capacidades humanas te trazem tudo,
Que tua mente pode tudo revelar, que teu pensamento pode
tudo alcançar.
É o espírito que tudo dá e tudo tira; ele que vive em você e
não você que vive com ele.
Você não tem uma alma, não tem um espírito, você é espírito.
Você não vive no tempo… Você vive na eternidade.
Você não vive no espaço… Você vive no infinito.
Você é o espírito da vida habitando momentaneamente um
corpo enquanto se prepara para a vida eterna.
Que é pura paz, puro amor, pura felicidade, onde nada se
esgota, nada deixa faltar e tudo é o que é.

386
PERDAS DA VIDA

Se você perdeu algo, não era seu de verdade.


Se esse algo for mesmo para você, não se preocupe, pois ele
vai retornar.
Nada do que não é nosso fica conosco.
E nada do que nos pertence pode ir embora.
Se nunca mais voltou, não chore, pois não era para você.
Mas se era para você, não chore também, pois o regresso é
certo.
Tudo o que vai embora, nunca nos pertenceu;
E se nos pertence, não importa o quanto demore,
Um dia é restituído.
Ninguém deve chorar pela ilusão destruída,
Mas antes agradecer pela verdade desvelada.
Assim como a banana jogada na terra se torna adubo,
O erro cometido se transforma no adubo da experiência e
sabedoria.
Não se preocupe com as perdas da vida.
Pois é certo que jamais há perda,
Mas sim renovação, recomeço, um novo advento.
Quando perdemos uma coisa, ganhamos outra.
A vida é um contínuo abrir mão do que se possui por algo
maior.
Somente sofre aquele que não admite perder agora para
ganhar depois.
Como a lagarta que perde sua roupagem rastejante,
Para sair do casulo e abrir suas belas asas em encantadores
voos extáticos.
Somente ganha de verdade, quem conquista em espírito.
O que é do corpo, perece; o que é do espírito, permanece.
A matéria se degrada, o sentimento se esvai, mas o espírito é
perene…
Você pode perder uma coisa, pode perder dinheiro, pode
perder uma pessoa, pode perder sua saúde,
Só não pode mesmo, jamais, perder a si mesmo, quem você
é em essência.
Muitas pessoas preferem ganhar no mundo às custas de
desistirem de si mesmas..
Perdem tempo trabalhando para ganhar dinheiro e desistem
de buscar quem eles são.
A pior perda é quando deixamos a vida nos levar
E nos tornamos robôs ou marionetes das circunstâncias.

387
Por outro lado, como dizem os mestres:
“Toda sensação de perda vem de uma falsa sensação de
posse”.
Acreditamos que somos capazes de possuir algo ou alguém,
E dessa posse ilusória, julgamos que algo foi perdido.
Mas a verdade é que não podemos possuir coisa alguma
nesse mundo.
Nada se possui, portanto, nada pode ser perdido…
Não temos um espírito, somos um espírito, uma essência.
Dessa forma, podemos perder o que temos, mas jamais o que
somos.

388
O PÁSSARO NA GAIOLA

Era uma vez um passarinho que viveu 6 meses numa gaiola.


Esse pássaro estava ansioso em retomar a sua liberdade.
Certo dia, seu dono abriu a gaiola e, num momento de des-
cuido, o pássaro conseguiu escapar. Ele queria muito a liber-
dade e a conseguiu.

Havia outro pássaro que permaneceu quase 2 anos numa gai-


ola. Esse pássaro também queria fugir e voltar a ser livre, mas
como já estava um pouco acostumado à prisão, não tinha tanta
disposição em escapar quanto o outro pássaro.

Havia também um terceiro pássaro que estava aprisionado


numa gaiola. Ao contrário dos outros dois pássaros, ele estava
preso há 10 anos. Seu dono abria a gaiola frequentemente,
mas o pássaro não fugia. Ele estava tão acostumado com a
vida da prisão que nem lembrava mais de como era a liber-
dade. Como viveu a vida inteira no cativeiro, mesmo com a
porta totalmente aberta por muito tempo diante dele, não era
capaz de fugir, pois já não tinha consciência de que estava
preso. Para ele, todo o cosmos era aquela gaiola.

O mesmo ocorre com os seres humanos. Estamos há tanto


tempo e tão acostumados a viver presos, que esquecemos da
liberdade verdadeira. Não mais buscamos nos libertar do cati-
veiro do mundo e do corpo físico, pois não sabemos que esta-
mos presos; estamos há tanto tempo aprisionados, que nem
sequer vemos ou sentimos mais o cárcere. Para nós, a prisão
é algo natural e nada há além dela.

É necessário que o ser humano se liberte dos condicionamen-


tos do mundo, das crenças limitantes e dos desejos que cer-
ceiam a liberdade de nossa alma. Somente quando superar-
mos os nossos limites e os limites do mundo é que poderemos
lembrar da infinita liberdade espiritual a que todos os seres po-
dem ter acesso. Poderemos sair da gaiola do mundo e “voar”
livremente pelo infinito espiritual, como os pássaros voam livres
pelo céu físico. Seremos totalmente libertos de tudo. Vamos
começar a permitir que flua em nosso ser uma felicidade plena
e inesgotável.

389
O QUE É O SUCESSO?

As pessoas costumam ter uma visão muito equivocada sobre


o sucesso.
Sucesso não é ter os melhores cargos, os melhores salários,
ser reconhecido, ter status e boa reputação.
Sucesso é conseguir retirar a alegria de viver nas coisas
simples da vida.
Sucesso é poder deitar no travesseiro a noite sem
preocupações e com a consciência tranquila.
Sucesso é viver sem mágoas, sem travas, sem repressões,
sem raiva e sem ressentimentos.
Sucesso é não ficar toda hora se cobrando, não ficar se
exigindo, não buscar uma perfeição inatingível, mas aceitar
nossos erros humanos.
Sucesso é olhar para si mesmo no espelho se aceitando e se
amando do jeito que você é.
Sucesso é não ficar querendo sempre mais do que se pode
usar, mas estar satisfeito com o que é nosso. É viver bem
com o que se tem.
Sucesso é não viver tenso, vazio, carrancudo, ansioso,
inquieto, apreensivo, mas viver, isso sim, despojado, natural,
espontâneo e livre.
Sucesso é não apenas fazer o que gosta, mas principalmente
gostar do que faz.
Sucesso não é aprender a vencer sempre, mas
principalmente aprender a perder, a enfrentar a derrota, a
frustração e a depressão.
Sucesso é não ficar ruminando os fúteis infortúnios da vida,
mas ver sempre uma lição ou aprendizado na mais dura
dificuldade, tratando a crise como oportunidade de
transformação.
Sucesso é não ter de ficar manipulando outras pessoas com
jogos psicólogos, mas ter a coragem de dizer a verdade e
expor nossos sentimentos sem medo e sem culpa.
Sucesso é quando podemos ser quem somos, sem desejar
impressionar outros, sem projetar uma falsa imagem, sem
tentar causar sempre uma boa impressão, sem achar que o
outro tem que gostar de nós para que, somente assim,
possamos nos amar.
Sucesso é um estado de espírito em que somos livres para
viver, desimpedidos para sentir e libertos para ser.

390
ESPERAR O OUTRO

Não acredite que o outro pode preencher o vazio que há dentro


de ti. Isso só você pode fazer.
Não projete no outro as suas carências, pois você vai se
frustrar. A carência não se resolve com o outro, mas com a
autoaceitação.
Não transfira ao outro os seus desejos, acreditando que você
só poderá se satisfazer a partir de alguém. Somente você pode
usufruir dos seus desejos.
Não acredite que o outro deve seguir o caminho que você
seguiu. Cada pessoa faz a sua própria história baseado em
suas escolhas.
Não queira que o outro faça algo por você. É melhor que você
mesmo realize, pois assim a alegria é maior.
Não espere que o outro vá corresponder às suas aspirações e
vontades. Cada pessoa é diferente e ninguém é o modelo de
perfeição que você construiu.
Seja feliz independente do outro. Não espere que o outro seja
feliz para você ser feliz. Não acredite que a infelicidade do outro
pode impedir sua felicidade.
Não viva como se o outro fosse capaz de te completar.
Ninguém completa ninguém, e ninguém pode tirar algo de ti.
Ou você é inteiro por si mesmo, ou continuará eternamente
esperando o outro para preencher um buraco que, certamente,
jamais será preenchido.

391
NÍVEL DE CONSCIÊNCIA

Aceite cada pessoa dentro do nível de consciência em que ela


está.

Cada pessoa que vive no planeta Terra encontra-se dentro de


uma fase específica de evolução espiritual.

Alguns estão mais adiantados, outros nem tanto. Alguns estão


mais atrasados, outros ainda muito atrasados.

Cada um vive num nível, numa fase, numa etapa de uma


grande escada espiritual. Alguns estão em degraus mais
acima, outros em degraus mais abaixo.

Exigir que o outro se comporte além de seu grau ou nível de


experiências é como querer que um bebê faça uma conta ma-
temática, ou como uma criança entre para a faculdade; ou
como um adolescente tenha as mesmas preocupações de um
adulto.

Não se pode exigir que o outro seja mais adiantado do que ele
é. Ele tem um tempo para crescer, para viver e aprender…

Quando você aceita cada espírito dentro do nível em que ele


se encontra, você vive em paz. Mas se você não aceita e vive
se opondo, criando conflitos com o nível do outro, você não
vive em paz. Viver em paz pressupõe aceitação e respeito ao
nível ou estado de elevação espiritual das outras almas.
Deus dá a cada ser a oportunidade e a liberdade de ser e estar
dentro do nível em que se encontra.

Se você tem mais consciência, tente auxiliar os irmãos mais


atrasados. Mas se você fica vendo todos como atrasados e
você como mais adiantado, o orgulho já demonstra que você
pode não ser tudo isso que você supõe.

392
MATERIALISMO ESPIRITUAL

Aqueles que fazem caridade dando comida aos pobres e por


isso sentem-se superiores aos outros, esses se rebaixam ainda
mais.

Aqueles que divulgam ensinamentos espirituais, mas em sua


vida prática fazem o oposto do que ensinam, estão piores do
que os humildes que, sem conhecimento teórico, fazem o bem.

Aqueles que vão a igreja toda semana, seguem os preceitos


de sua fé, mas julgam seus irmãos, rotulam e os condenam
sem os conhecer bem, esses têm ainda muito o que aprender.

Aqueles que praticam técnicas de meditação profunda, e por


isso seu ego fica inflado, sua meditação só serve como passa-
tempo sem valor.

Aqueles que colocam vestimentas ritualísticas em sua organi-


zação religiosa ou esotérica e com isso desejam impressionar
os outros para se envaidecer, já se perderam seriamente no
caminho espiritual.

Aqueles que pensam em cuidar da alma para melhorarem sua


condição física; ou aqueles que criam mentalmente realizações
mundanas para que elas se expressem em forma de benefícios
materiais; ou aqueles que usam de diversas formas o espiritual
para ganhar algo do mundo; esses colherão os frutos amargos
da decepção.

Aqueles que são escolhidos como dirigentes, líderes ou instru-


tores de seu templo e passam a usar esse cargo para exercer
seu poder, impor seu jeito e não respeitam a pluralidade de
modos de ser, esses são falsos líderes.

Aqueles que decidem engajar-se num projeto social, viram ve-


getarianos ou fazem campanhas humanitárias apenas para so-
mar em seu currículo, para esbanjar ou para sentirem-se na
vanguarda de sua época, esses estão ainda mais atrasados.

Aqueles que fazem yoga pensando apenas na firmeza muscu-


lar, na beleza física e em demonstrar a todos o quanto são for-

393
tes e esbeltos, esses estão caindo no terrível abismo do auto-
engano.

Se você quer ser espiritual, mas não quer sacrificar um centí-


metro de seus gostos e interesses humanos, mude de cami-
nho.

Se você quer ser espiritual, mas não quer permitir a transfor-


mação íntima, largue o espiritual e volte para o mundo.

Se você quer ser espiritual, mas intenta manter seus desejos,


seu ego e sua personalidade, está certamente se iludindo.
Se você faz todas essas coisas, consciente ou inconsciente-
mente, pare e reflita sobre suas atitudes.

Você pode estar caindo na lama do chamado materialismo es-


piritual.

Materialismo espiritual é a utilização de aspectos da vida espi-


ritual apenas para embelezar e alimentar seu ego.

A vida espiritual autêntica jamais pode aceitar demonstrações


vãs, hipocrisia, fanatismo, egocentrismo, vaidade, ganância e
soberba.

Quem segue o verdadeiro caminho espiritual deve aceitar de


bom grado o sacrifício de si mesmo em prol da vida coletiva e
divina.

Permita que o universo seja sua morada e não seu corpo.

Permita que sua consciência interior o conduza e não seus de-


sejos.

Permita que Deus guie sua vida e não seu ego.

Seja espírito… e não uma mera personalidade.

394
VALE DOS ARREPENDIDOS

Um espírito estava prestes a nascer no mundo material. Um


anjo que o estava instruindo decidiu conduzi-lo a um vale no
submundo do plano espiritual onde dezenas de milhares de es-
píritos se mantinham presos. Muitos não sabem, mas as almas
que vivem nos mundos espirituais sempre se ligam uns aos ou-
tros pela afinidade de suas vibrações e de sua natureza.

O espírito e o anjo chegaram a um vale desconhecido de mui-


tos, conhecido como o “Vale dos espíritos arrependidos”, para
onde vão as almas daqueles que viveram vidas superficiais,
cometeram erros e não aproveitaram a sua encarnação. Am-
bos foram conversando com alguns desses espíritos. Um deles
disse:

“Desperdicei minha vida com a bebida, a boemia, bares, fute-


bol, churrascos e com falsos amigos. Todos eram meus “ami-
gos” quando eu estava bem, bebia e contava muitas piadas nos
botecos da vida, mas depois que contraí uma doença, todos se
afastaram. No leito de morte vi que desperdicei minha vida com
frivolidades e depois que cheguei ao plano espiritual tive uma
forte sensação de tempo perdido…”

Outro espírito de uma mulher, ainda chorosa, nos disse:

“Sim, desperdicei minha encarnação tentando ajudar meu filho


a ser alguém na vida. Eu não percebi que fazia isso porque me
sentia carente e sozinha. No fundo queria que ele ficasse co-
migo e não desejava sua liberdade e independência. Eu era
dependente dele e por isso achava que o estava ajudando, mas
só o prejudiquei. Eu o mimei muito e depois ele não conseguia
ser independente. No meu leito de morte ele nem apareceu. Eu
vivia também para outras pessoas e elas nunca me deram ne-
nhum valor. Podia ter feito tantas coisas na vida, estudado, tra-
balhado, me dedicado a vida espiritual, mas perdi toda uma en-
carnação vivendo em função de outras pessoas.”

Uma outra alma, que parecia muito triste, disse:

“Sim, eu desperdicei minha vida mergulhando no trabalho e vi-


vendo apenas para conquistar bens materiais. Meu objetivo na
vida eram os melhores cargos, os melhores salários, ganhar

395
mais e mais dinheiro, status e uma posição de destaque. Vai-
dade das vaidades, tudo isso era apenas vaidade, como diz
Salomão na Bíblia. Perdi 70 anos da minha vida com boba-
gens, futilidades e remoendo coisas supérfluas. Como gostaria
de ter uma outra chance e cuidar mais de mim mesmo, ajudar
outras pessoas, amar mais, dar valor as coisas simples da vida,
me ligar no espírito eterno que sou, ter vivido mais a vida espi-
ritual, e não as ilusões do mundo material. Aqui no plano do
espírito, nada podemos trazer da matéria.”

Uma alma que parecia um pouco agitada e até irada dizia:

“Aquele líder religioso me enganou! Ele me prometeu um para-


íso no céu se eu desse o dízimo, se seguisse os dogmas da
religião, se eu fosse casto e reto, e estou aqui, nesse vale som-
brio, amargando todas as consequências de um vazio interior
pela total perda de tempo. Gostaria de voltar a vida e mudar de
postura, não acreditar cegamente em líderes religiosos, ter fé
apenas em Deus, amar e não cultivar dogmas ou verdades
prontas e acabadas. Poderia ter exercido a verdadeira espiritu-
alidade, mas perdi tempo, muito tempo e fui um hipócrita. Não
praticava o que eu mesmo pregava. Mas pensando bem, no
fundo ninguém me enganou, eu mesmo que me deixei enga-
nar, pois acreditar em dogmas e no fundamentalismo era algo
muito mais cômodo do que me desenvolver espiritualmente e
me tornar uma pessoa melhor, mais humilde e mais amorosa.”

Outros espíritos diziam:

“Eu desperdicei minha vida com sexualidade descontrolada”;

“Já eu desperdicei minha vida com intelecto agudo e muito co-


nhecimento teórico, mas sem prática e sem experiência direta”;

“Eu fiz algo muito comum: desperdicei minha vida me julgando


sempre superior a outras pessoas, e não compreendi que esse
sentimento de superioridade nada mais era do que uma forma
de abafar a imensa insegurança e inferioridade que eu sentia.”

E assim, muitos relatos nos foram passados pelos espíritos


presos ao “Vale dos Arrependidos”, almas que desperdiçaram
a oportunidade que Deus lhes deu de evoluir espiritualmente
se detendo em questões banais, transitórias e sem nenhuma

396
importância para a verdadeira vida, que é a vida do espírito
imortal que somos.

Você, que ainda está encarnado e vivendo a sua vida, não faça
como esses espíritos, que jogaram suas vidas fora le-
vando existências superficiais, sem alma, sem profundidade,
sem se perguntarem quem são e o que estão fazendo aqui.
Almas que vivem apenas pelo corpo e pelas aparências do
mundo, e não pelo espírito e pela verdade.

Você tem tempo de mudar, não desperdice essa sagrada opor-


tunidade de desenvolvimento espiritual que Deus te deu… que
é a vida.

397
QUEM DÁ RECEBE

Se você tem dez pães e os distribui aos pobres, os pães vão


acabar.
Mas se você dá carinho a pessoas pobres, o seu carinho
aumenta e você ainda o recebe de volta.
Se você tem dinheiro e dá esse dinheiro a alguém, o dinheiro
não será mais seu.
Mas se você oferecer sua companhia e calor humano, a pessoa
ganha sua presença, você compartilha da presença do outro e
ninguém perde nada.
Se você dá um livro a uma pessoa, você fica sem o livro.
Mas quando você transmite conhecimento ao outro, você não
perde o conhecimento que adquiriu e ainda consegue
multiplicá-lo.
Se você dá um colchão a um pobre, você fica com um colchão
a menos.
Mas se você lhe dá conforto, transmite o bem a alguém,
a chama da solidariedade brilha mais forte em seu peito e nada
é perdido.
Se você faz um investimento financeiro numa residência e
instala luz elétrica, você perde todo esse valor.
Mas se você simplesmente transmite a luz espiritual a essa
pessoa, a luz acende outras luzes, que podem acender outras
luzes e tudo passa a ficar iluminado.
Se você faz uma oferta material, você acaba perdendo aquilo
que deu.
Mas quando damos amor, carinho, respeito, paz, calor
humano, conhecimento, ensinamentos espirituais, sempre
saímos com nosso estoque aumentado, pois o amor, a paz e o
bem se espalham e todos saem ganhando.
Muitas vezes há uma grande necessidade de suporte material
à pessoas necessitadas.
Mas não se esqueça que as virtudes, o amor, a bondade, a
paz…
Sempre aumentam quando os damos, intensificam-se quando
os transmitimos, tornam-se maiores quando são ofertados;
tanto em nós quanto em outras pessoas.
Assim, cuide em distribua o amor, a ternura e a fraternidade
para todos.
São dons divinos que, ao contrário da matéria que é perecível,
nunca são perdidos. Ao contrário, eles aumentam quando são
dados.

398
OS TRÊS OBSESSORES

Um homem chegou a um centro espírita muito desconfiado de


que estava com vários obsessores. Ele contou sua história
para o médium do centro. Revelou sua crença de que os ob-
sessores haviam convencido sua esposa a terminar com ele.
Revelou que os obsessores estavam travando sua vida e que
ele não conseguia mais seguir em frente pois estava sentindo
muito medo. Revelou também que não queria mudar, pois sua
vida estava confortável do jeito que estava, e que os obsesso-
res estavam fazendo de tudo para desestabiliza-lo.

O médium resolveu iniciar os trabalhos. Fechou os olhos e fi-


cou alguns minutos concentrado para fazer a desobsessão.
Depois abriu os olhos, olhou para o homem e disse:

– De fato, há três obsessores com você, mas eles são muito


poderosos e não posso tira-los.

O homem ficou com medo e pensou que estava arruinado, pois


se nem o médium conseguia tira-los, sua vida seria arrasada
pelos espíritos negativos. “Quem são esses obsessores?” per-
guntou o homem. O médium respondeu:

– São três os seus obsessores:

– O primeiro obsessor é o apego. Sim, o apego que você tem


em relação a sua esposa. Ela já terminou com você e mesmo
assim você fica insistindo num casamento que já deu claros
sinais de término. O apego é um grande obsessor, um dos mai-
ores dos seres humanos.

– O segundo obsessor é o medo. Esse é um obsessor fortís-


simo, pois paralisa nossa vida e não nos deixa caminhar. É ou-
tro grande obsessor do ser humano.

– O terceiro obsessor que está em você é a acomodação. Sim,


a acomodação vem da preguiça ou de uma fuga dos proble-
mas, e a acomodação nos faz estagnar, parar e até mesmo
morrer por dentro. Uma pessoa acomodada costuma abdicar
de suas forças para lutar e fica presa dentro do próprio confor-
mismo que criou.

399
– Esses são os seus três obsessores. Eles não são espíritos e
não havia nenhum desencarnado com você. Esses e outros
obsessores vivem no coração do ser humano, e somente ele
pode dissolve-los para sempre. Se vier algum espírito sombrio,
ele só poderá agir em você ativando alguns desses obsessores
internos. Por isso que eu disse que nada posso fazer para re-
move-los, pois somente você é capaz de gerar essa transfor-
mação em ti mesmo.

Quais são seus maiores obsessores? Não importa quais se-


jam. Você pode vence-los através da libertação e do despertar
espiritual.

400
ORGULHO NOS FAZ PERDER

Você entra num debate e percebe que seu opositor está certo,
mas por orgulho não dá o braço a torcer, e assim, perde uma
grande chance de aprender.

Você quer voltar a falar com seu amigo, com sua ex ou com
algum parente, mas por causa de uma briga, ambos ficam es-
perando o outro tomar a iniciativa da reconciliação. Os dois per-
dem um ao outro por conta do orgulho.

Uma pessoa simples e humilde descreve sua vida e suas ex-


periências, mas por você se sentir superior a ela, não lhe dá
ouvidos. O orgulho te faz perder uma grande chance de ouvir
bons ensinamentos de vida.

Quando alguém nos diz que estamos errados e por orgulho nos
recusamos a admitir o erro, perdemos uma grande oportuni-
dade de aprender com nossas falhas.

Quando uma pessoa faz um comentário sobre alguma atitude


incoerente nossa que precisa ser modificada, e não aceitamos
nem refletir a respeito por puro orgulho, estamos perdendo
uma boa ocasião para o autoconhecimento.

Uma pessoa que perde uma competição, e coloca a culpa em


algo externo por orgulho, está perdendo um bom momento
para avaliar seus próprios erros e melhora-los para competi-
ções futuras.

Um homem precisa realizar um trabalho que será apresentado


a várias pessoas, mas por orgulho de querer parecer bom, in-
teligente e capaz acaba se cobrando tanto em fazer algo impe-
cável que não consegue concluir o trabalho. O orgulho estag-
nou sua produtividade.

O orgulho entrava nossa vida, nos traz derrotas e perdas na


vida a todo instante.

Não permita que o orgulho te cerceie, te cegue, de iluda ou faça


você se perder.

Pare e pense: O que o orgulho já trouxe de positivo a sua vida?

401
Quem se sente superior aos outros, cessa seu aprendizado e
se fecha para a vida.

Quantas vezes você já perdeu coisas que realmente valem a


pena pela passional soberba?

Não permita mais que sua vida seja devastada pelo orgulho.
A humildade é o melhor caminho para a felicidade e a paz.

402
QUANDO VOCÊ PERDER

Quando você perder seus brinquedos, você poderá brincar


com tudo.

Quando você não tiver mais uma casa, sua residência será o
lar planetário.

Quando você perder seu quintal, você terá o quintal do mundo


com todas as matas e florestas.

Quando você não tiver mais irmãos, todos os seres humanos


serão seus irmãos.

Quando você não tiver mais luz elétrica, o sol será sua luz.

Quando a luz de sua vida física se apagar, você terá a luz do


seu espírito.

Quando você não amar apenas uma ou outra pessoa, você


passará a amar todas as pessoas e todos os seres viventes.

Quando você não tiver mais isso ou aquilo, você terá todas as
coisas.

Quando seu mundo for destruído, você ainda terá o mundo


real para ser seu.

Quando a luz de sua vida física se apagar, você ainda terá a


luz do seu espírito.

Quando você perder a si mesmo, você será tudo em Deus.

403
INÍCIO E FIM

Um bebê de 1 ano e meio parou de mamar no peito da mãe.


Ele achou que nunca mais iria se alimentar novamente e que a
comida havia chegado ao fim, até que sua mãe começou a lhe
dar uma papinha.

O bebê cresceu e se tornou um menino. Esse menino perdeu


sua bola e achou que nunca mais iria ter outra bola. Até que
seu pai apareceu com um presente, que era uma bola nova.

O menino cresceu e virou adolescente. Ele começou a namo-


rar, apaixonou-se e a moça terminou o namoro. Ele acreditou
que nunca mais iria se apaixonar e encontrar outra pessoa.
Mas após 2 anos encontrou uma moça, se apaixonou e ficaram
juntos.

O adolescente virou agora um adulto. O homem viu sua em-


presa ir a falência e acreditou que nunca mais conseguiria mon-
tar outra empresa. Após cinco anos de luta e esforço, ele con-
seguiu juntar dinheiro e abriu outro negócio.

O homem agora estava bem velho. Estava prestes a morrer e


começou a acreditar que nunca mais viveria, que havia che-
gado o seu fim. Passado um tempo, ele finalmente faleceu…

Quando se deu conta, percebeu que estava se elevando do


seu próprio corpo. Viu-se como um ser espiritual luminoso e
constatou que continuaria vivendo. Morreu para o plano físico,
mas renasceu para o plano espiritual. Descobriu que ele
mesmo não tinha um fim…

A existência universal é um constante morrer e renascer.


Quando acreditamos que algo chegou ao seu fim, um novo co-
meço surge, num outro nível e dentro de uma nova etapa, onde
se abre uma nova perspectiva de existência. Não acredite na
perpetuação eterna de algo, ou mesmo no fim, pois o que cha-
mamos de fim é sempre um novo começo…

404
RESPEITO

Respeito é tratar o outro com a atenção que ele merece.


É considerar que ele é um ser humano e tem o direito de
guiar sua própria vida.
O outro tem livre arbítrio e devemos permitir que ele conduza
sua vida como melhor lhe aprouver.
Respeito é dar espaço para que o outro caminhe na direção
que ele quer, e não pela via que nós julgamos mais
adequado.
Respeitar é deixar a vida fluir, sem ficar interferindo na
vontade do outro. Respeito é fazer ao outro exatamente
aquilo que esperamos que o outro faça conosco.
Respeito é se colocar no lugar do outro e tentar enxergar um
pouco a vida pela sua perspectiva.
Quem respeita não se sente superior a outras pessoas a
ponto de decidir o que elas devem fazer.
Respeitar é não invadir o espaço do outro, não cercear sua
liberdade, não lhe ditar regras que vão contra seus valores.
Respeitar é não impor, é não forçar, mas conceder liberdade
às escolhas pessoais.
Respeitar é não invadir aquilo que não nos pertence ou não
nos compete.
O respeito mútuo entre duas ou mais pessoas deixa a vida
mais leve, menos opressora.
Respeito é saber que todas as pessoas caem, todas erram,
todas fraquejam, todas tem limites, e por isso todos devemos
tratar com consideração e atenção cada pessoa dentro de
sua estrada.
Respeito é tratar com naturalidade as diferenças, sem nos
chocar com elas.
Respeito é reconhecer que todos somos diferentes e que é na
diferença onde reside o nosso desenvolvimento e
amadurecimento.
Portanto, vamos entender regras simples e perenes da
convivência humana:
Respeite para ser respeitado…
Ame para ser amado…
Faça o bem para se sentir bem…
O bem traz o bem, o mal traz o mal…
Cada um no seu canto, sem tentar mudar, impor, obrigar,
constranger, decretar ou mover o outro e o mundo dentro da
nossa visão.

405
Quando cada pessoa pratica a semeadura do respeito, tudo
fica mais fluido, belo e tranquilo.
Respeito… é a pedra angular da sociedade humana e da
espiritualização da humanidade.

406
MIMAR OS FILHOS

Queria falar uma coisa relacionada a super proteção dos pais


em relação aos filhos. Esse é um tópico muito delicado, pois
muitos pais, mesmo sabendo dos danos que os filhos podem
sofrer com os mimos, ainda assim incorrem nesse erro tão
grave.

O filho que recebe durante boa parte da vida a superproteção,


os mimos, é colocado numa cúpula de vidro e é sempre pre-
servado do enfrentamento das adversidades do mundo desen-
volve sérios problemas em conseguir se virar e se assumir no
futuro. Vejo muito no consultório, no Facebook e pessoas que
me contam milhares de casos por e-mail de filhos que têm
imensa dificuldade de seguir na vida por conta de terem sido
mimados quando eram crianças e adolescentes pelos pais.

Vejo muitos casos de pessoas que tiveram superproteção na


infância e adolescência e ao completar 17, 18, 19 ou 20 anos,
e não conseguem iniciar sua vida. Quando conseguem, tem
sérios problemas em se adaptar ao mundo do trabalho e das
responsabilidades. Muitas vezes tornam-se pessoas sem limi-
tes, com pouca noção de regras de convivência. Podem ter
também problemas de relacionamento, pois internalizaram a
ideia de que o outro sempre deve fazer tudo para ele, sempre
se acham com a razão, e acreditam que o mundo deve servi-
lo. Tornam-se pessoas egocentradas, preocupando-se na mai-
oria das vezes apenas com suas necessidades básicas e ime-
diatas. Ao primeiro sinal de dificuldade, não conseguem seguir
em frente e ficam bloqueadas. A primeira crise na vida parece
tão grave que os paralisa. Alguns chegam a culpar os pais e a
sociedade pelos seus problemas. Podem também se vitimizar
sistematicamente, e não assumir a responsabilidade sobre si
mesmos. As marcas da superproteção tendem a continuar pelo
restante de suas vidas, e são raros os casos de pessoas que
conseguem se libertar dessa situação sem reflexos.

Já cansei de ver pais sentindo uma culpa profunda por obser-


varem seus filhos na idade adulta totalmente dependentes,
sem iniciativa, acomodados e até acreditando que todos devem
servi-lo. Crianças mimadas serão jovens e adultos sem limites,
sem noção do outro, sem senso social e coletivo. Muitos dos
dramas pessoais vividos por jovens e adultos tem sua origem

407
nos mimos e na superproteção. Até mesmo casos de violência
praticados por jovens são um reflexo de uma educação voltada
para mimos, paparicos e vontades sempre satisfeitas. A ver-
dade que esses pais não querem enxergar é que filhos mima-
dos estarão muito menos preparados para enfrentar os desa-
fios da vida, ao passo que a criança cujos pais deram alguma
responsabilidade, não foram protegidos e tiveram que se virar
sozinhos desde cedo se tornam indivíduos mais maduros, mais
aptos, mais compassivos, mais corajosos, mais humildes, mais
respeitadores e claro, mais felizes. Os pais precisam dar opor-
tunidade aos filhos se desenvolverem. A maioria dos pais mima
os filhos por uma carência pessoal, um apego, algo que os pais
sentem que lhes falta, e querem tentar encontrar isso nos fi-
lhos… Mas isso nunca acontece… a carência permanece e os
filhos são imensamente prejudicados pelas nossas carências,
nosso apego e nosso vazio.

A questão dos mimos é muito séria, mais do que a maioria das


pessoas pensa. O pai ou a mãe que superprotege seus filhos
não tem ideia do mal que está lhe causando. Vejo algumas
pessoas dizendo que não conseguem ser diferentes, não con-
seguem não mimar, pois amam muito seus filhos. É preciso en-
fatizar que os mimos nada tem a ver com amor e sim com
apego. Quando superprotegemos ou fazemos todas as vonta-
des do nosso filho, colocando-o numa cúpula de vidro, não o
estamos ajudando em nada, ao contrário, estamos prejudi-
cando eles seriamente. Os filhos só amadurecem enfrentando
sozinhos as adversidades da vida. Se os pais dão mimos, fa-
zem as vontades, não os corrigem, não os educam, não im-
põem limites e os superprotegem, as crianças crescerão sem
noção de limites, sem senso do outro; crescerão cheios de si
mesmos, cheios de vontades, sem percepção do próximo e
sem respeito pelo semelhante. Eles pensarão sempre primeiro
em si mesmos e terão dificuldade de se colocar no lugar do
outro.

Amar não é de forma alguma fazer todas as vontades do filho,


mas sim prepara-lo para a vida. Quem ama, educa; quem ama,
ensina; quem ama, corrige; quem ama, ensina os valores bási-
cos da vida humana; quem ama, ensina o respeito pelo pró-
ximo; quem ama, ensina o respeito pela sociedade; quem ama,
ensina que o ter não é mais importante que o ser. Ou como diz
a máxima: quem ama ensina o valor das coisas e não o seu

408
preço. Quem ama ensina que o dinheiro é um instrumento do
viver, e não a finalidade principal da vida. Quem ama ensina
principalmente a solidariedade e não o egoísmo. É importante
deixar que os filhos façam as coisas sozinho, assim como é
imprescindível dar-lhe alguma responsabilidade; mostrar a ele
que a vida não segue nossa vontade; que para viver a vida é
preciso ter esforço; é preciso passar por provações; é preciso
aprender a fazer sozinho; é preciso aprender a lidar com as
frustrações, com as derrotas, com as perdas e com as decep-
ções. Amadurecer é atravessar as dificuldades com humildade,
com a mente e o coração abertos e sem se deixar afetar por
elas. Se os pais aparecem na hora da dificuldade e resolvem
os problemas dos filhos, ou fazem tudo por eles, os pais não
permitem que a frustração os tome; não permitem que o filho
perca; não permitem que ele sofra as consequências dos seus
atos e sinta na pele o efeito de suas escolhas. Dessa forma,
não estamos criando uma pessoa para a vida, estamos criando
monstrinhos, tiranos, pessoas egoístas, abusadas e sem ne-
nhuma base para enfrentar a vida.

Não fique superprotegendo seus filhos. Você pode ter a im-


pressão que o está ajudando, mas cada mimo que você o dá,
cada vez que você tira sua mão da tomada evitando que tome
um choque; cada vez que você o retira de uma situação dolo-
rosa que iria lhe fornecer aprendizado de vida; cada vez que
você não impõe limites a ele; cada vez que você não o ensina
o senso de sociedade, de coletivo, e só o ensina o individua-
lismo do conquistar apenas para si mesmo; cada vez que você
dá tudo que ele pede e não o frustra com o que ele não pode
obter; cada vez que você deixa sua carência falar mais alto e
tenta comprar o afeto dele com presentes; cada vez que você
faz todos esses mimos diversos, você pode não perceber, mas
você está prejudicando imensamente seu filho, impedindo que
ele se desenvolva por si mesmo e encare a vida como ela é.
Olhando para o passado e vendo tudo o que você como pai ou
mãe fez, você vê claramente seus erros e pensa que tudo po-
deria ser diferente se você tivesse um maior desprendimento.
Mas agora você, que é mãe ainda de filhos pequenos já sabe,
pode evitar de cometer esse erro.

É tudo bem simples: se você não ensina e o protege, a vida vai


ensinar. É melhor que ele aprenda com você, no laboratório do
lar, onde ainda existe chance de errar e aprender. No entanto,

409
quando ele é impedido de aprender por causa da sua proteção
excessiva, a vida vai ensiná-lo, de uma forma ou de outra. E
todos sabemos, a vida não ensina com o mesmo amor. Por-
tanto, ensine-o a ser independente e a respeitar as pessoas.
Deixe ele se virar, ele é um espírito livre e independente. Ele
tem capacidade de conseguir vencer todos os obstáculos que
surgem, mas se você não permitir que ele os vença, tudo será
imensamente mais difícil para ele e para pessoas de sua con-
vivência.

410
O VAZIO INTERIOR

Era uma vez uma mulher que havia perdido muitas coisas em
sua vida. Ela perdera praticamente tudo o que possuía no pas-
sado, inclusive pessoas, situações, sonhos, etc. O sentimento
destas perdas era algo que a assolava a todo momento. Tudo
isso fez surgir uma espécie de buraco em seu peito, um vazio
interior que parecia não ceder por nada.

Os anos passaram… e ela foi tentando cuidar de sua vida. No


entanto, o vazio em seu interior ainda permanecia dentro dela.
Por esse motivo, ela começou a tomar algumas atitudes numa
tentativa de se sentir melhor. Ela fazia de tudo para conquistar
muitas coisas, e esse comportamento visava preencher o vazio
que ainda existia dentro dela. Quanto mais ela sentia esse va-
zio em momentos de desespero, mais ela tentava obter muitas
coisas, ganhar o máximo possível, ter milhares de bens, relaci-
onar-se com muitas pessoas, criar sonhos e ilusões diversas.

No entanto, ela começou a sentir algo inusitado. Por mais que


ela se esforçasse para adquirir muitas coisas visando compen-
sar as perdas do passado, o vazio que existia dentro dela não
desaparecia, mas continuava como sempre esteve. Ela adqui-
ria mais e mais, e o buraco interior parecia não ser preenchido
por nada. Por mais que tentasse abafar o sentimento de perda
com ganhos diversos e com a obtenção de pertences, isso não
parecia funcionar. A sensação de posse até a fazia sentir bem
por um tempo, mas logo o vazio retornava com a mesma inten-
sidade.

A moça então entendeu uma lição muito importante da vida. O


vazio que temos dentro de nós, que pode vir ou não de perdas
passadas, jamais será resolvido por ganhos posteriores. E isso
ocorre por um motivo muito simples: o vazio não vem da perda
de algo, e tampouco o preenchimento vem do ganho. O vazio
que sentimos só pode ser sanado com a retomada do nosso
ser verdadeiro, nosso eu real, nossa essência mais profunda.
É necessário ser o que somos no mais profundo e íntimo de
nós mesmos, pois somente com o despertar daquilo que so-
mos de verdade é que viveremos sem a presença do vazio in-
terior.

411
Esse vazio nada mais é do que a falta de nós mesmos, a falta
do nosso ser interior.

412
COMO ENCARAR OS PROBLEMAS DA VIDA

Os seres humanos enfrentam problemas a todo momento. A


vida humana parece ser uma eterna resolução de problemas.
As problemáticas humanas encontram-se tão arraigadas em
nossa existência que para muitos é impossível conceber a arte
de viver sem que elas estejam presentes. Nessa oportunidade
vamos descrever suscintamente alguns aspectos da natureza
dos problemas humanos para que cada pessoa, em sua rotina,
possa melhor lidar com eles:

Todo problema tem solução

Esse é o aspecto mais importante que todos devem entender


sobre os problemas humanos. A verdade é que todo problema
sempre tem uma solução, pois não podemos jamais conceber
um problema onde não exista uma solução. Seria como imagi-
nar uma porta sem maçaneta. Para que serviria uma porta sem
uma maçaneta? Seria uma porta que jamais poderia ser
aberta, e isso inviabilizaria sua própria existência e função de
porta. Há uma frase que diz “Ninguém faz cadeados sem
chave. Do mesmo modo, Deus não te dá problemas sem solu-
ção.” Algumas pessoas dizem: Tudo tem solução, só a morte
que não tem solução. Mas esse pensamento é um equívoco.
De fato, a morte não tem solução, mas ela não tem solução
pelo simples fato dela não ser um problema. A morte, que seria
o fim derradeiro da existência, é apenas uma passagem para
uma nova forma de vida. A morte no corpo físico é um renasci-
mento no plano espiritual, assim como o sol que “morre” no ho-
rizonte, mas sempre renasce do outro lado do mundo. Assim
como o dia segue a noite, um problema sempre tem uma solu-
ção. Para cada lágrima há sempre um conforto, para cada do-
ença há sempre uma cura, para cada perda há sempre um ga-
nho, assim como para cada problema há sempre uma solução,
mesmo que não a enxerguemos. A solução pode não ser exa-
tamente o que desejamos ou esperamos, mas ela existe.

Nenhum problema é inútil

Assim como tudo em nossa vida tem uma função, todos os pro-
blemas sempre nos trazem algo. O problema é como uma caixa
com um código. Quando descobrimos seu código e abrimos a
caixa, ela sempre nos traz um aprendizado importante para

413
nossa vida. Por exemplo, uma mulher cujos namorados sem-
pre a deixam no início do relacionamento. Ela não entende o
motivo desse padrão. Mas refletindo sobre sua vida e seu com-
portamento, ela descobre que desde o início de seus relacio-
namentos ela tinha uma forte postura de cobrança em relação
aos namorados. Isso os sufocava e eles a deixavam. Esse pro-
blema a ajudou a enxergar que os términos vinham dessa co-
brança e a cobrança tinha origem numa carência que ela tinha
dentro de si. Depois ela pode descobrir que essa carência tinha
como causa a indiferença de seus pais em relação a ela
mesma. A moça decide então que precisa vencer essa carên-
cia para que possa enfrentar esse problema e não mais atuar
com cobranças excessivas. Isso significa que o problema que
ela enfrentou acabou sendo a chave para lhe revelar algo de
negativo que existia dentro de si. Assim, o problema a ajudou
a enxergar melhor a si mesma e a se tornar uma pessoa mais
evoluída. Há um ditado popular que diz “Quando Deus fecha
uma porta, ele abre uma janela”. Os problemas nunca são inú-
teis, eles sempre têm um propósito para nossa vida. Eles nos
ensinam algo, principalmente a sermos pessoas melhores. São
também como cargas pesadas que levamos, que nos obrigam
ao exercício diário e nos fazem mais fortes. O ato de desvendar
um problema contribui em nosso autoconhecimento. Nossa re-
ação diante de uma forte tempestade diz muito sobre quem so-
mos e nos ajuda a nos conhecer. Passamos a conhecer nossos
ser mais íntimo dependendo de como nos posicionamos diante
da tormenta, pois enquanto uns saem correndo amedrontados,
outros se tranquilizam e buscam uma solução. Portanto, os
problemas da vida são nossos maiores professores, eles nos
ensinam muito sobre a vida e principalmente sobre nós mes-
mos. Por isso, todo problema tem sempre um significado pro-
fundo em nossa vida.

Criar um Problema

Isso é muito comum de acontecer. Muito daquilo que nós con-


sideramos um problema é na verdade um problema falso, um
problema que nós mesmos criamos. Problemas podem ser cri-
ados pela nossa excessiva sensibilidade, pelas nossas feridas
internas, pelas nossas crenças, por uma moral intransigente ou
pela generalização de situações. Existem várias formas de
criar problemas. Por exemplo, um homem, após um relaciona-
mento fracassado, internaliza uma crença de que nenhuma

414
mulher presta. Passa muito tempo e ele evita relacionamentos
por conta dessa crença. Anos se passam e ele sente-se sozi-
nho, carente e infeliz, pois não consegue mais se relacionar.
Nesse caso não é um problema real, mas um problema falso,
que ele mesmo criou com base numa crença igualmente criada
e alimentada por si mesmo. Ele poderia ter outros relaciona-
mentos que fossem satisfatórios, mas sua crença o impedia de
conhecer outras pessoas e assim ele mesmo criou seu pro-
blema e seu consequente sofrimento. Esse tipo de situação é
mais comum do que a maioria pensa. Boa parte dos nossos
problemas somos nós mesmos que criamos.

A solução é mais simples do que pensamos

No caso de existir um problema real e não um problema falso


ou imaginário, a solução de um problema é quase sempre mais
simples do que supomos. O ser humano tem a tendência de
sempre engrandecer um problema, seja por simples medo ou
por alguma predisposição inconsciente. No entanto, ao se de-
bruçar em sua solução, muitas vezes ele constata que trata-se
de algo mais simples do que se previa inicialmente. O problema
sempre parece mais grave quando olhado de longe, ou quando
fugimos dele. A própria fuga de um problema pode aumentar
seu tamanho, pois quando o evitamos, ele parece crescer em
tamanho e periculosidade. Mas quando nos aproximamos do
problema visando resolve-lo de forma franca e aberta, a solu-
ção quase sempre se desenrola de um jeito mais tranquilo do
que nos parecia a princípio. Sempre que você se deparar com
um problema procure refletir se você não está complicando
algo que em essência é simples.

Nossa sensibilidade aumenta o problema

Esse é outro aspecto importante. Nossa sensibilidade diante


de um problema, assim como nossas tendências inconscientes
baseadas em experiências prévias negativas quase sempre
transforma algo menor em algo maior, e nos induz a não reso-
lução do problema. Uma pessoa mais sensível sempre verá um
perigo adicional onde não existe. É como tocar numa ferida em
nossa pele. Se uma pessoa toca numa pele sem qualquer fe-
rida, não há dor, mas se essa pessoa toca com a mesma in-
tensidade numa pele onde há uma ferida mais ou menos pro-
funda, a dor será maior ou menor dependendo da profundidade

415
da ferida. A influência do problema sobre nós também depende
da profundidade de nossas feridas interiores. Quanto maior
nossa sensibilidade apoiada nas feridas do passado, maior
será o tamanho do problema na ótica da pessoa.

Sofrendo por antecipação

Esse é outro aspecto muito comum no trato com os problemas.


A maioria das pessoas quando toma ciência de um problema,
já começa a sofrer por antecipação, antes mesmo dos efeitos
do problema se abaterem sobre ela. Algumas vezes nem sa-
bemos se o problema é real ou vai se concretizar e já começa-
mos a sofrer. Nesse caso, criamos um problema antes do pro-
blema se instalar. A própria antecipação do sofrimento já se
torna um problema em si mesmo, um problema adicional que
não existia até então, mas que pode causar efeitos até mais
devastadores do que o problema em si. Por exemplo, uma sus-
peita de doença no coração. A pessoa já começa a sofrer
mesmo antes de saber se ela tem mesmo um problema no co-
ração. Já começa a chorar, a ficar deprimida, a não querer sair
de casa, a faltar no trabalho, a sentir angústia, etc. Ela nem
sabe ainda se sua doença tem cura, mas ela já começa seu
sofrimento antecipado que, como dissemos, muitas vezes é
pior do que o sofrimento do próprio problema.

Um problema que esconde outro

Isso também ocorre muitas vezes. Quando não queremos acei-


tar a existência de um problema, criamos outro que serve como
proteção para não resolvermos o problema maior. Esse é o
caso de casais que brigam por pequenas coisas, detalhes sem
importância, para não terem que mexer na “caixa preta” do re-
lacionamento que oculta o real problema. Muitas pessoas pre-
ferem mergulhar em problemas pequenos para deixarem o pro-
blema grande intocado. Algumas sentem-se irritadas pelo pro-
blema maior, mas ao invés de encara-lo, tentam resolver o pro-
blema menor acreditando que ele é a real ameaça. É preciso
não se enganar com relação ao problema maior, a fim de não
ficarmos perdendo tempo com os problemas menores e sem
muita importância.

“O que não tem remédio, remediado está”

416
Esse provérbio popular é muito importante e merece ser citado
aqui. Todo problema tem solução, mas se por acaso existir al-
gum problema insolúvel, não há o que fazer a respeito, e nesse
caso, ele já está solucionado. Não há o que se preocupar com
problemas insolúveis, pois nesse caso a única coisa que resta
fazer é aceitar as coisas como são. Não há motivo para preo-
cupações, para sofrimentos, para dores, para desespero. Se
não há solução, o que fazer? Nada pode ser feito, portanto, já
está solucionado. Quando você perceber um problema que
aparentemente não tem solução, é assim que as coisas devem
ser, consequentemente, apenas aceite, e não haverá mais um
problema.

Acostumar-se com um problema

Aquela situação problemática vivida durante anos ou mesmo


décadas pode criar em nós um certo costume, ou mesmo uma
zona de conforto que nos impede de seguir em frente. As cir-
cunstâncias do problema nos afetaram por tanto tempo que
não conseguimos mais nos enxergar sem ele, é como se o pro-
blema já fizesse parte de nossa identidade, do nosso modo de
ser. Algumas pessoas podem até mesmo se recusar a resolve-
lo para não saírem da zona de conforto a que estão acostuma-
das, que é cômoda, segura e onde há ganhos secundários. Co-
nheci uma pessoa rica que sofria há mais de 15 anos com o
transtorno do pânico. Ela começou a fazer uma terapia e logo
iniciou um processo de melhora. Porém, quando sentiu que es-
tava melhorando e que a partir de sua reabilitação deveria pas-
sar a cuidar de si mesma, e não mais receber o amparo dos
pais e dos enfermeiros que a assistiam, ela claramente hesitou,
largou a terapia e não quis assumir a si mesma. Isso ocorre
com muitas pessoas que passaram anos mergulhadas num
problema e que não conseguem mais ver como seria sua vida
sem ele. Essa reformulação de vida sem aquele problema pode
ser um passo difícil que muitos se recusam a dar.

417
MEU INIMIGO

Atenção, você que se julga meu inimigo…

Eu não sou inimigo de ninguém. Para mim, eu não tenho inimi-


gos. Mas se você não gosta de mim e por isso quer me preju-
dicar, considerando-se meu inimigo, tenho uma coisa a lhe di-
zer.

Você não é meu inimigo de verdade. Preste atenção nisso, pois


seu maior inimigo é o seu desejo de me prejudicar para poder
se sentir melhor consigo mesmo. Seu maior inimigo é o ódio
que você carrega dentro de si quando vê o outro bem e você
mal.

Seu maior inimigo é seu sentimento de superioridade que vem


de um complexo de inferioridade que você precisa compensar
tentando se ver melhor do que os outros. Sim, seu maior ini-
migo está dentro de você mesmo, não sou eu, não são outras
pessoas, mas é você… É seu desejo por uma posição de des-
taque, é sua vaidade, é sua mania de não aceitar seus erros, é
sua eterna negativa de não aceitar sua própria imperfeição.

Esse é o seu verdadeiro inimigo, não eu e não os outros. Re-


flita, meu amigo, que não existe inimigo externo a você…
Mesmo que você pense no meu mal e queira me destruir, isso
não te fará meu inimigo… Pois aqueles que querem destruir os
outros só vão conseguir a sua própria destruição. Não tenha
inimigos… Não veja o mal externamente a você. O único mal
verdadeiro é aquele que reside oculto no coração humano, na
inveja, na arrogância, no desejo de poder, na ira e na defesa
de se autoconhecer.

Você aí, que pensa em me destruir, reflita por um instante…


Nada em tua vida vai valer a pena enquanto você conservar
essa raiva dentro de si e tomar o outro como inimigo… Você
pensa em destruir o outro, mas na verdade você está se auto-
destruindo. Quando você coloca as dinamites da raiva, da má-
goa e da vingança para implodir o prédio alheio, na verdade
isso acabará implodindo seu próprio prédio. Preste bastante
atenção, pois o inimigo de verdade é o ego, é o desejo de viver
as aparências, é o orgulho, o egoísmo e a vaidade…

418
Por isso eu digo, meu amigo, que eu não tenho inimigos…
Meus únicos inimigos estão dentro de mim. Esses sim, eu pre-
ciso vencer…

419
VIVER FUGINDO

Os seres humanos, de uma forma geral, vivem fugindo de tudo.


Entram em relacionamentos de cabeça e ficam cheios de
cobranças e exigências do outro para fugir um pouco da
carência.

Tornam-se verdadeiros viciados em trabalho para não sentir a


insegurança e a instabilidade da vida. Vivem fugindo da tristeza
e da depressão comendo muito, fazendo sexo com várias
pessoas, bebendo, fumando e se viciando em muitas coisas.

Correm sempre para chegarem o mais rápido possível em tudo


o que é lugar apenas para não sentirem o momento presente…

Não olharem para a natureza…

Não entrarem em contato consigo mesmos…

Vivem correndo para nunca chegarem a lugar nenhum…

Estamos sempre andando, em movimento, ansiosos,


cansados, angustiados, desejando, buscando sempre algo que
parece que está fora, e não dentro de nós.

Se parássemos por um momento, talvez fôssemos capazes de


sentir a nós mesmos.

Seríamos capazes de sentir quem somos, sentir as coisas a


nossa volta, olhar para as pessoas, sentir o que se esconde
além do mundo, ouvir nossa voz interior, escutar um pouco a
nós mesmos, observar nossos passos, nossa correria, nosso
barulho interno e externo…

Ver o vazio e encontrar um sentido.

Aquele que para, senta e olha para si mesmo, se enxerga, se


reconhece, se aceita e quando faz isso, não precisa mais
fugir…

Não passe a vida fugindo de si mesmo.


Olhe para você, escute a sua voz interior, entre em contato com
o espírito universal e eterno que você é.

420
SER FELIZ

Uma pessoa que não consegue ser feliz por si mesma,


Não será feliz dependendo de algo ou alguém.
Se você não é feliz sem ter amigos, não será feliz com seus
amigos.
Se você não é feliz sozinho(a), você não será feliz namorando
ou casado(a).
Se você não é feliz desempregado(a), você não será feliz
empregado(a).
Se você não é feliz sendo pobre, você tampouco será feliz
sendo rico(a).
Se você não é feliz fazendo o que não gosta, também não será
feliz fazendo o que gosta.
Se você não é feliz durante a tempestade, também não será
feliz quando vier a calmaria.
Se você não consegue ser feliz sem amor, você não será feliz
amando ou sendo amado.
Se você não consegue sua felicidade na insegurança, na
dúvida e na incerteza, tampouco será feliz sem isso.
Se você não é feliz na madrugada, não será no amanhecer; se
não é feliz no inverno, não será no verão; se não é feliz sem
precisar de nada, não será feliz tendo tudo.
Isso significa que, se a pessoa não é feliz por si mesma, ela
jamais será feliz com algo que a preenche artificialmente.
Em suma, se a pessoa não é feliz de dentro para fora, ela não
será feliz de fora para dentro.
Enquanto as pessoas não entenderem essa verdade,
continuarão infelizes buscando em coisas externas, algo que
só pode ser conseguido internamente.
Não se engane, não se iluda: tudo na vida que não for
conseguido de dentro para fora, não nos pertence
verdadeiramente, não é nosso, não faz parte de nós, e um dia
vamos perder.
Mas o que for conseguido de dentro para fora, não duvide, é
nosso para sempre…

421
DEUS ESTÁ EM NOSSO PRÓXIMO

Deus se manifesta diante de nós através do nosso próximo.


E nos concede preciosas lições de desenvolvimento interior.

Quantas vezes Deus nos enviou um aprendizado que saiu da


boca de um desafeto mostrando claramente os pontos em que
devemos nos modificar.

Diversas vezes Deus falou através dos brutos e arrogantes,


que nos deixam vermelhos de cólera, para que possamos iden-
tificar a extensão e a natureza de nossa raiva.

Em várias ocasiões Deus se disfarça daquele que machuca-


mos e nos arrependemos, para com isso aprendamos lições
importantes de respeito ao próximo.

Deus se transveste das crianças abandonadas, que com seus


olhares tímidos nos observam, para testar nosso acolhimento
e amor à humanidade.

Deus se faz presente no homem que nos deixa esperando


muito tempo para testar nossa paciência e perseverança.

Deus fala através dos grosseiros e estúpidos, que nos abordam


com a marca de sua impolidez, e assim testam nosso melindre
e nos ajudam a desenvolver nossa humildade.

Deus está presente em cônjuge, companheiro ou namorado


que muito amamos, a fim de verificar se nas brigas comuns do
dia a dia vamos deixar prevalecer o amor ou a irritação.

Deus está presente no filho mimado e mandão, para ver se va-


mos ceder a tentação de tudo lhe dar e resolver, ou se vamos
impor a disciplina necessária ao seu amadurecimento e a sua
independência futura.

Deus está presente no chefe rude e autoritário a que somos


obrigados a conviver, a fim de pôr à prova o mesmo autorita-
rismo e rudeza que cultivamos em nosso íntimo.

Deus está sempre presente naqueles que amamos, para


aprendermos a tornar esse amor incondicional, e naqueles que

422
odiamos, para aprendermos o dom de perdoar e aceitar o ou-
tro.

Deus está em tudo, mas está principalmente naqueles que con-


vivemos.
Esses vem contribuir com nossa caminhada humana e nosso
aperfeiçoamento espiritual.

Ninguém pode amar a Deus e não amar o próximo.

O próximo não precisa estar com Deus, mas Deus, sem ne-
nhuma dúvida, está no próximo.

423
FELICIDADE E PAZ

A maioria das pessoas acredita firmemente que para se ter


uma vida de paz e felicidade é necessário dinheiro, sucesso e
patrimônio, assim como se faz necessário reunir certas condi-
ções de beleza física, atividade sexual regular e satisfação dos
principais prazeres materiais. No entanto, hoje em dia algumas
pesquisas recentes em neurociência vêm na contramão dessa
crença popular, e fazem esse questionamento em dois casos
particulares. Estas são pesquisas realizadas com dois indiví-
duos que levam uma vida bastante simples, com poucos recur-
sos e quase nenhum dinheiro. Estamos falando de Matthieu
Ricard, monge budista e de Dadi Janki, uma yoguini indiana.

Matthieu Ricard recebeu formação ocidental e é filho de um re-


nomado filósofo francês. Quando não é convidado para pales-
trar em diversos lugares do mundo, Matthieu vive no monasté-
rio Shechen, no bairro tibetano Bouda, onde tem a rotina típica
de um monge budista. Ele não tem quase nenhuma posse ou
dinheiro, a não ser aquele que recebe como rendimento de al-
guns dos seus livros. Mesmo assim, Ricard doa boa parte do
lucro para obras de caridade. Sua vida é extremamente sim-
ples, ele quase nada possui, mas interiormente ele possui a
plenitude e a felicidade sem medidas.

Muitas pessoas têm a ilusão de acreditar que a felicidade está


sempre ligada ao usufruto dos prazeres materiais, a condições
externas estáveis e confortáveis, assim como a muito dinheiro
e patrimônio. Mas a vida de Matthieu Ricard prova exatamente
o contrário. Ele é feliz sem necessitar de quase nada para viver.

Mas como saber se Matthieu é mesmo feliz? Quem faz essa


afirmação sobre sua felicidade não é o autor deste texto, mas
sim os pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Es-
tados Unidos, que fizeram um mapeamento da atividade cere-
bral de Matthieu em meditação e descobriram que o monge
produz uma alta quantidade de ondas gama, associadas à feli-
cidade, que jamais foram vistas na neurociência mundial. Esse
fato sugere que Matthieu é possivelmente um dos homens ou
o homem mais feliz do mundo. Apesar disso, é um monge que
vive num mosteiro em condições muito simples.

424
Outra personalidade espiritual que também se caracteriza não
apenas pela felicidade, como pela estabilidade e tranquilidade
mental é a yoguini Dadi Janki. Janki realizou uma série de exa-
mes científicos para medir sua atividade cerebral. O Instituto
de Pesquisa Médica e Científica da Universidade do Texas
constatou que Janki possui a “mente mais estável do mundo”.

Os cientistas verificaram, após vários testes de mapeamento


cerebral, que as ondas mentais de Janki não se alteram nem
mesmo quando ela é submetida às condições mais desespe-
radoras. Os pesquisadores ficaram impressionados com a es-
tabilidade e paz mental que Dadi Janki apresentou nos testes.
Eles concluíram que sua paz interior era imperturbável e que
nada no mundo material poderia tirar a paz e tranquilidade da
yoguini.

Este homem e essa mulher têm muitas coisas em comum, mas


a principal é que ambos levam uma vida muito simples e são
adeptos de práticas espirituais meditativas. Eles falam do
amor, da paz e da fraternidade entre os homens. Quase não
tem posses, não ocupam altos cargos em empresas, não são
pessoas de sucesso, nem celebridades que aparecem em ca-
pas de revistas de moda. Eles não são bonitos, não fizeram
cirurgias plásticas, não colocaram silicone, não veem televisão,
não bebem, não fumam e nem tem vida sexual ativa.

No entanto, Matthieu foi considerado o homem mais feliz do


mundo, enquanto Dadi Janki foi considerada a mente mais
estável do mundo e provavelmente a pessoa que atingiu a
maior expressão da paz interior já conhecida na neurociência.
Ambos ensinam que a felicidade não pode ser encontrada em
condições exteriores do mundo, e que o caminho da felicidade
e da paz é, em geral, cuidar do espírito e não precisar de quase
nada para se viver.

425
TUDO TEM UM FIM

Ninguém deve jamais perder de vista um princípio muito impor-


tante da vida: tudo aquilo que temos, um dia vamos necessari-
amente perder.

Sim, muitas pessoas acreditam, ou querem acreditar que tudo


o que possuem é eterno, inclusive elas mesmas no sentido de
sua personalidade terrena, mas obviamente essa é uma ideia
falsa que nada mais é do que uma projeção de nosso desejo.

Sabemos inclusive que essa não é uma ideia popular e muito


aceita, inclusive temos consciência que este post não será
muito compartilhado justamente por isso. Mas não se pode ne-
gar que tudo o que existe na vida humana tem sempre um co-
meço e um fim. Ganhamos algo e depois necessariamente va-
mos perder esse algo. Isso ocorre porque todas as coisas do
universo são passageiras, e a única coisa imutável é a própria
mudança.

E qual o sentido prático disso em nossas vidas? Devemos sem-


pre ter consciência que tudo na vida tem um prazo de validade,
nada é eterno, tudo começa e termina, tudo se manifesta e de-
pois deixa de se manifestar, nascemos, vivemos e morremos,
para depois renascer e continuar nossa caminhada rumo ao
infinito.

Portanto, você pode até imaginar e desejar uma casa, mas não
se apegue a essa casa, pois um dia você vai perde-la; você
pode desejar um carro, mas não se apegue ao carro, pois um
dia você vai perde-lo; você pode desejar se casar, mas nunca
esqueça que o casamento um dia vai acabar, e tudo isso pode
acabar até mesmo antes do que você supõe. Tudo no mundo
um dia vai ter um fim. Não devemos cultivar nenhum tipo de
dependência de algo que o mundo nos oferece.

Mas então em que se apoiar? Apoie-se na única coisa real: no


ser espiritual que você é desde o princípio dos tempos até a
eternidade. Você nunca foi um ser humano, mas apenas um
espírito que temporariamente precisa de experiências no
mundo material para desenvolver e purificar seu espírito. O es-
pírito eterno e imortal que você é nunca será perdido. Podem
destruir todo o seu corpo, mas o espírito é perene…

426
Podem te atacar, te caluniar, destruir toda a sua vida, tirar tudo
o que você tem, mas o espírito que você é e a sua essência
jamais serão sequer tocados por tudo isso… O espírito daquele
que encontrou sua essência é totalmente inabalável… Ele não
se deixa abater por coisa alguma.

Então, ao invés de passar a vida tentando conquistar apenas


bens terrenos, busque a sua essência, pois ela é a única coisa
que você levará daqui para frente.

427
SABEDORIA E IGNORÂNCIA

Prefira sempre a investigação ao invés da acomodação do


conhecimento.
Prefira sempre aprofundar-se num tema do que aceita-lo de
pronto.
Prefira sempre a pesquisa ao invés da adoção de uma verdade
pronta.
Prefira sempre o questionamento de uma ideia do que absorver
tudo sem inquirir.
Prefira sempre a dúvida ao invés da certeza.
Prefira sempre debater ideias, e não debater pessoas.
Prefira sempre a reflexão ao invés da dogmatização.
Prefira sempre observar atentamente do que sequer ver e
passar a acreditar que já se sabe.
Prefira sempre rever seu próprio conhecimento do que aceita-
lo como parte de sua identidade.
Prefira sempre ouvir os outros do que falar desmedidamente.
Prefira sempre aprender ao invés de ensinar.
Prefira sempre calar a voz do falatório da mente e adentrar na
voz do teu íntimo.
Prefira sempre o conhecimento simples que faz a síntese de
uma verdade do que exposições longas e complexas.
Prefira sempre ouvir o humilde; fuja o quanto puder daqueles
que ostentam presunçosamente tudo saber.
Prefira sempre a sabedoria; nunca se deixe levar pela
alienação e pela ignorância.
Prefira sempre estar errado, aceitar e aprender, do que ficar
insistindo no erro por puro orgulho.
É sempre melhor admitir que há algo que não sabemos que
ficar arrogando do nosso escasso conhecimento.

428
PENSAMENTOS

Não fique desejando o fracasso de alguém.


Querer que o outro caia, tropece ou tenha alguma perda é tão
somente uma prova de sua insegurança e de uma mágoa que
você sente. Ao invés de ficar desejando que as coisas deem
errado para outra pessoa, passe a cuidar de sua vida, preste
atenção em suas atitudes, em seu caminho, em suas emoções.
Não fique invejando o sucesso do outro; olhe apenas para o
que você pode melhorar em sua vida.
Aqueles que ficam prestando atenção na vida dos outros aca-
bam perdendo a própria vida. O outro se dar mal não é garantia
que você esteja bem, ao contrário: se você deseja o mal de
alguém significa apenas que o mal está em você. Por isso, você
precisa fazer de tudo para se libertar desse mal que te faz que-
rer mal a outras pessoas. Pare de se comparar com os outros;
compare, isso sim, o seu eu do passado com seu eu do pre-
sente e veja o quanto você pode ter melhorado.
Olhe para si mesmo e tudo ficará claro… Olhe e fique se pren-
dendo na vida dos outros e tudo ficará escurecido.
-
Não acredite em sorte, azar ou acaso. O acaso simplesmente
não existe. Não há nada em nossa vida que aconteça por um
simples acaso. O acaso é apenas um nome dado a algo que
ainda não compreendemos seu propósito.
Dessa forma, tudo tem um propósito maior, que ainda não con-
seguimos captar com nossas limitadas faculdades de percep-
ção espiritual. Da mesma forma que a criança não consegue
ver um sentido em tudo o que seus pais fazem visando sua boa
educação, os seres humanos também não conseguem ver
ainda um sentido em tudo o que nosso Pai Celestial faz para
nos educar para a eternidade.
Portanto, sempre que você se deparar com um problema de
grande dificuldade, lembre-se: tudo tem um propósito superior
que eu ainda não compreendo, mas que é o melhor para meu
crescimento espiritual.
-
Não fuja dos seus problemas ou de enfrentar algo ruim dentro
de si mesmo, pois essa fuga é sempre temporária. Você só es-
tará adiando o inevitável…
Mais cedo ou mais tarde você terá que se deparar com tudo
aquilo que você ainda foge. Sendo assim, é melhor enfrentar

429
logo nossos problemas, pois quanto mais rápido você resolver,
menor será o sofrimento.

Não faça de outra pessoa a sua razão de viver.
Colocar no outro a nossa vida é fazer um contrato com a infeli-
cidade. Se um dia o outro morrer, nos deixar ou nos ferir de
alguma forma, o sofrimento será muito mais intenso. Não fique
dependente de ninguém. A dependência é o caminho do sofri-
mento.
Portanto, não faça do outro a sua razão de viver. O sentido de
sua vida é você mesmo, sua obra, seu exemplo, suas virtudes
e seu contato com o infinito e sua essência mais profunda.

Não fique se preocupando com tudo. Além das preocupações
te deixarem tenso, elas são inúteis, não servem para nada.
Quem se preocupa acaba sempre vivendo no futuro ao invés
de viver no presente. A pessoa vive num estado permanente
de tensão antecipando o que pode dar errado.
É melhor viver apenas no presente, pois não controlamos o que
vai acontecer no futuro. Por mais que você se preocupe, isso
não é garantia de que algo dê certo, pelo contrário: a preocu-
pação pode aumentar as chances de algo dar errado.
Viva com serenidade e entregue tudo nas mãos de Deus.

Procure entender que tudo no cosmos infinito se dá por vibra-
ções, afinidades e simpatias.
Se algum sofrimento lhe acomete nesse momento, é porque
você o criou de alguma forma em seu passado e o atraiu por
seus pensamentos e sentimentos. Não há coisa alguma que
nos ocorra que não tenha nossa participação ativa e soberana.
Se alguém vem te ofender, significa que você ofendeu no pas-
sado ou tem a necessidade de ser ofendido para deixar de se
incomodar com isso. Se você só tem chefes autoritários, o seu
próprio autoritarismo pode estar sendo colocado em xeque e
precisa ser revisto. Se você tem namoros fracassados, observe
bem que tipo de pessoa você está atraindo com as suas afini-
dades.
Você sempre atrai aquilo que tem de forma latente dentro de
si, e tudo aquilo que possuímos dentro de nós cria as circuns-
tâncias exteriores futuras e define o cenário que vamos viver
daqui para frente. Nosso mundo interior se projeta e cria nosso
mundo exterior e as circunstâncias que viveremos como uma
provação.

430
Portanto, mude seus pensamentos, sentimentos e ações, e
mudará a sua vida. Por outro lado, não se apegue aquilo que
você produz, pois você sempre estará, inevitavelmente, preso
àquilo que você vibra. Sua obra é sua criação e também sua
prisão neste mundo.

Quando uma pessoa te faz uma confissão, te conta um se-
gredo, ou confia a você uma grande dificuldade que ela está
passando, tome muito cuidado para não usar essa informação
depois contra a pessoa.
Não são poucas as pessoas que fazem isso, até mesmo in-
conscientemente. Algumas vezes usamos a dificuldade do ou-
tro para nos sentirmos superiores. É muito comum ver pessoas
que não sabem lidar com o sofrimento alheio e ainda jogam na
cara da pessoa suas dificuldades em horas de raiva.
Como exemplo temos um casal de namorados que, quando bri-
gam, um joga na cara do outro as fraquezas, as limitações e
problemas pessoais que um dia lhes foram confiados. Somente
pessoas com alma apequenada podem se prestar a uma ati-
tude tão baixa…
Se um dia você já cometeu esse erro, não tem problema… O
que passou, passou… Mas não volte a fazer isso. O que lhe foi
confidenciado em um momento de desespero não deve ser ob-
jeto de sentimentos de superioridade e nem deve ser guardado
para se auferir alguma vantagem do outro no futuro. Vamos
respeitar as pessoas em suas fraquezas, sem nos valer disso
para ataca-las, e assim obter falsos ganhos psicológicos.

Não fique desejando ter muitas coisas na vida.
As pessoas mais felizes são aquelas que precisam de poucas
coisas para viver. Essas são pessoas simples, que não preci-
sam de muito e que são felizes pelo que tem, ao invés de serem
infelizes pelo que as falta. Quanto mais desejamos as coisas
do mundo, mais nos frustramos quando não conseguimos su-
prir nossos desejos.
Por outro lado, cuidado para não ficar criando necessidades
falsas e ilusórias. Muitas pessoas acreditam que precisam de
muitas coisas para viver, mas a verdade é que temos muito
mais coisas do que precisamos, consumimos mais do que pre-
cisamos, enfim, acreditamos que necessitamos de muito, mas
isso é ilusório. Parece que queremos tudo em excesso, prova-
velmente para preencher um pouco o vazio interior que perma-
nece dentro de nós pela carência existencial e pela ausência

431
de vida espiritual. Não adianta tentar, ninguém consegue pre-
encher seu vazio interior com os excessos da vida moderna.
Se você ainda não descobriu, um dia vai descobrir… A felici-
dade não tem a ver com sofisticação, requinte, etc… mas com
simplicidade…
E não se esqueça, a todo excesso segue-se sempre um re-
cesso. Quanto mais você tenta se preencher com o supérfluo,
mais você sentirá a falta, o vazio… Uma ausência dentro de si
que nunca será preenchida por nada que seja exterior.
Viva o espírito eterno que você é. Faça o bem. Tenha ética,
moral e virtudes. Preencha seu coração com amor e paz. Ajude
seu próximo e a coletividade. Essa é a única forma de preen-
cher nosso interior.

Não reclame que você está vivendo alguma situação de sua
vida que lhe parece muito difícil, dura e pesada.
O Cosmos tudo registra, tudo memoriza, e nada deixar passar.
Se uma determinada provação é muito, mas muito difícil, isso
significa que nosso mérito será aumentado caso nós consiga-
mos vencer essa dificuldade. Uma coisa é certa: quanto maior
a dificuldade, maior o nosso mérito em superar tudo.
Por outro lado, quanto maior a dificuldade e maior o esforço
dispendido em supera-la, maior será também a nossa alegria,
o nosso regozijo e a nossa plenitude em vencer a prova.
Quanto mais difícil, mais ficamos felizes depois pela superação
de tudo. O ganho interior é sempre proporcional a dificuldade
da provação.
Portanto, se você está atravessando uma situação tão difícil
que mais lhe parece um verdadeiro inferno na Terra, não se
preocupe…. Isso significa que, quando tudo passar, você terá
um paraíso em sua vida espiritual.

Existe a lei do amor e do perdão, quanto a isso não há dúvida.
Mas existe também a lei da justiça e a lei de causa e efeito, que
nos ajuda a evoluir espiritualmente.
Se nosso filho nos bate e nós o perdoamos, e não o corrigimos,
como ele iria aprender a não mais nos bater? É necessário en-
sina-lo o correto fazendo ele sentir o efeito de seus atos.
O mesmo Deus faz por nós… Se Deus sempre nos perdoasse
e não permitisse que fôssemos colocados em locais e situa-
ções que nos permitissem sentir as consequências de nossos
atos, jamais iríamos aprender.

432
Por isso existem essas duas leis, a do amor e do perdão, e a
lei da justiça e de causa e efeito. Ambas são importantes em
nosso desenvolvimento espiritual.

Algumas pessoas podem acreditar que, após tantos sofrimen-
tos e tristezas, elas estão abandonadas pelo universo e por
Deus. Mas isso não existe, pois ninguém nunca fica abando-
nado em todo o cosmos…
A vida é como uma aula de natação… O professor precisa, em
algum momento, nos deixar sozinhos na água para que possa-
mos aprender a nadar. O mesmo ocorre nas provas da vida.
Deus nos deixa sozinhos, aparentemente “abandonados”, para
que aprendamos a viver e crescer espiritualmente.
Quando alguém se sentir triste e abandonado por Deus, lembre
sempre da aula de natação cósmica. Deus nos solta nas águas
caóticas da vida cósmica do mundo material, para que possa-
mos aprender a não afundar e a navegar por nós mesmos.

Quando você ama de verdade você quer a liberdade do ser
amado.
E isso acontece por um motivo muito simples: quando uma pes-
soa está livre, ela pode expressar mais abertamente aquilo que
ela é, seus gostos, seu modo de ser, sua personalidade e seu
eu mais profundo. Quem ama de verdade deseja ver o outro
expressar todo o seu potencial, e para que isso ocorra, é ne-
cessário que a pessoa amada esteja totalmente livre para ma-
nifestar quem ela é em essência.
Quem prende o outro dentro de suas próprias crenças, precon-
ceitos e limites, não permite que o ser amado se expresse tal
como é. E tirando o espaço que ela tem, além dela ficar mais
agressiva e em choque com você, ela não vai expressar na to-
talidade todo o seu real. E quando amamos de verdade, nunca
amamos pela metade, amamos sempre por inteiro. Amamos,
isso sim, o ser integral que aquela pessoa representa em sua
essência. Quem prende não ama, pois não permite que a pes-
soa seja exatamente o que amamos nela. Não acredite nesse
mito de que quem ama tem ciúme, isso é uma ideia criada por
aqueles que desejam dominar o outro.
Portanto, se você ama de verdade, você necessariamente vai
desejar que o outro seja livre. Por acaso alguém pode amar
uma flor e impedir que ela cresça e desabroche naturalmente,
tal como é de sua natureza? Por esse motivo, ame sem pri-
sões, sem restrições, sem imposição de limites. Quem ama

433
verdadeiramente está mais próximo de Deus e da essência da
vida.

Não procure ser o “salvador” de outras pessoas.
Não tente jamais ficar ajudando as pessoas em excesso, pois
dessa forma, você pode tirar a capacidade delas se virarem
sozinhas. Isso é muito comum na relação de mãe e filho.
Quando a mãe passa a superproteger seu filho, ela não permite
que ele se desenvolva, que cresça e aprenda com seus pró-
prios erros. Quem tenta ser o salvador e ajudar a tudo e a todos
de qualquer forma, com uma ajuda não solicitada, acaba por
se preocupar mais com o bem estar dos outros do que com o
próprio, e vive mais a vida alheia do que a sua própria vida.
Pessoas salvadoras, que ajudam exageradamente os outros e
ficam vivendo mais a vida dos outros, muitas vezes querem fu-
gir dos próprios problemas. Eles ajudam exageradamente os
outros para não terem que ajudar a si próprios. Eles podem
também achar sua vida muito sem graça, e por isso passam a
se envolver demasiadamente na vida e nos problemas de ou-
tros, sejam familiares ou amigos. Tudo o que ela faz tentando
ajudar os outros ela não faz tentando ajudar a si mesma. Não
adianta tentar ajudar aqueles que não querem ajuda, e nem
acreditar que o nosso ideal de melhora é o que a pessoa pre-
cisa. Algumas pessoas precisam de coisas diferentes do que
pensamos, mas queremos ajudar sempre com a nossa visão
pessoal do que seja o melhor para o outro.
Portanto, não tente resolver a vida de ninguém ou segurar o
outro no colo tirando-o dos obstáculos de vida que ele precisa
atravessar. Somente cada pessoa pode resolver-se e saber o
que é melhor para si mesma.

Não fique a todo momento querendo agradar os outros.
Quem fica se preocupando em ser aceito pela sociedade, pelos
seus familiares, pelos seus amigos ou pelas pessoas em geral
acaba por se tornar apenas uma imagem do que o outro espera
que seja. Mas você não pode e não deve ser apenas uma ima-
gem que o outro projeta em você. É necessário buscar quem
somos lá no fundo, mesmo que isso desagrade algumas pes-
soas.
Quando alguém te ama de verdade, vai te aceitar do jeito que
você é; e quem não te ama pode receber todos os agrados
possíveis, que não te amará por isso. Portanto, pare com esse
vício de tentar agradar os outros. As pessoas não vão te dar

434
mais carinho ou mais afeto em decorrência desse agrados;
você não receberá a admiração alheia pela tua bela atuação
teatral em ser o que não é. Não se transforme naquilo que os
outros esperam que você seja, pois assim você perderá a si
mesmo tentando ser uma imagem projetada do outro, e o outro
não te dará aquilo que você mais quer: o seu amor e admira-
ção.
Não deseje conquistar os outros pelo que você não é… Apenas
seja o que é, e quem te amar, vai te aceitar de qualquer forma.

Você não será feliz fazendo tudo o que gosta.
É bem simples entender essa verdade. Ninguém consegue fi-
car todo o tempo fazendo apenas aquilo que gosta. No mundo
material, é impossível uma satisfação perene e total. Por esse
motivo, fazer tudo o que se gosta é sempre uma ilusão, pois
quanto mais desejamos fazer o que gostamos, mais nos de-
cepcionamos pelas frustrações naturais do caminho e pela imi-
nência de perdas subsequentes.
Por isso, não oriente sua vida buscando fazer tudo o que você
gosta, pois sempre haverá decepções. Cuide para que você,
isso sim, goste de tudo o que você faz.
Passe a encarar de forma positiva seu trabalho, suas ativida-
des, a utilidade de suas atribuições. Entenda que você tem uma
missão e precisa desempenha-la no mundo para seu cresci-
mento espiritual. Ser feliz com o que se faz, independente do
que seja, é o verdadeiro caminho da felicidade. Fazer apenas
o que se gosta é impossível, mas podemos sempre gostar do
que fazemos e sermos felizes.

Goste de si mesmo e se aceite.
Uma pessoa que não se gosta sempre procura fazer com que
os outros gostem dela, para que somente assim ela passe a
gostar de si mesma. No entanto, fazendo isso, nós passamos
a nos moldar para ser o que o outro espera de nós, e abando-
namos a nós mesmos e quem somos em essência.
A autoestima é principalmente aceitar-se pelo que somos, e
não fazer de tudo para que os outros gostem de nós. Quem faz
tudo para ser amado, não se ama, pois se se amasse de ver-
dade, não teria necessidade de buscar tanto o amor alheio.
Amar-se não é gostar do que temos externamente, de nossa
beleza, de nossas posses e nem de nosso comportamento,
pois um dia a beleza acaba, as posses de vão, o dinheiro se
esvai. É necessário nos amar e nos aceitar pelo que somos lá

435
no fundo, mas muitas pessoas não cuidam do que são em sua
essência mais profunda.
Portanto, ame-se e aceite-se, e não fique se moldando para
que o outro goste de você apenas porque você não se gosta.
Aceite-se como você é, assim você não precisará ficar mendi-
gando as migalhas de afeto que outras pessoas te dão.

“O sol brilha para todos” diz a máxima.
Mas se meu espelho estiver sujo, cheio de pó, ele não
refletirá a luz do sol.
Cuida para que teu espelho esteja limpo.
Assim o sol que brilha para tudo e todos, e que brilha para
sempre, brilhará sobre você e você refletirá a luz do sol.
Refletindo a luz do sol, você não será mais apenas um
espelho.
Você será o próprio sol.
Sua luz brilhará assim como brilha a luz do sol.
Purifique seu interior.
E seu sol interno brilhará refletindo a Deus.

O princípio mais sagrado da religião é o sacrifício de si mesmo
em prol de viver com Deus. Essa é a postura que todo religioso
deve ter. Tornar-se vazio para que Deus possa preenche-
lo. Uma mangueira só faz a água fluir quando ela é vazia por
dentro. O mesmo deve fazer o homem de fé: ele deve esvaziar-
se de toda personalidade, de todo o ego, para que o espírito
divino possa fluir por seu intermédio. Assim ele se tornará um
instrumento do divino na matéria.

Se todas as pessoas que sofrem começassem a fazer o bem,
ninguém mais sofreria. Fazer o bem nos faz bem, nos eleva e
nos diminui consideravelmente nosso sofrimento.
O problema é que, em seu egoísmo, a maioria fica presa a seu
sofrimento, pensando apenas em si mesmo e em quanto está
sofrendo. Ficam apegadas ao seu pequeno ego e concentra-
das unicamente em sua dor. O sofrimento deveria ser um estí-
mulo para superarmos a nós mesmos e começarmos a olhar a
nossa volta. Por isso, quando saímos um pouco de nós mes-
mos, começamos a ser úteis a humanidade, realizar projetos
no bem, ajudando outras pessoas, lidando diariamente com o
sofrimento alheio e tomando para si a responsabilidade de cu-
rar as pessoas… rapidamente melhoramos.

436
Quando ajudamos a curar os outros, curamos a nós mesmos.
Quando ajudamos a aliviar o sofrimento de desconhecidos, ali-
viamos nosso próprio sofrimento. Quando ouvimos uma pes-
soa e a ajudamos a descarregar suas emoções, ajudamos a
equilibrar nossas próprias emoções.
Quando estiver sofrendo, saia de si mesmo e vá contribuir com
a obra de Deus no mundo… Torne-se um anjo do plano divino
na Terra. Seu sofrimento vai diminuir muito, ou mesmo chegar
ao fim.

Há pessoas que passam a vida inteira buscando realizar seu
sonho e sentem que só serão felizes depois que seu sonho for
realizado. Se o sonho não se concretizar, elas não conseguem
ser felizes.
Há outras pessoas, uma pequena minoria, que ao invés de pas-
sar a vida perseguindo sonhos decidem que vão ser felizes
agora, vivendo não de sonhos, mas vivendo a realidade do
agora.
Qual dos dois grupos você pertence?
Acredite… estar dentro do segundo grupo é muito, muito me-
lhor.
É muito mais sábio e mais gratificante viver feliz na realidade
do agora, ao invés de projetar sonhos futuros de felicidade que
podem nunca se realizar.

O objetivo da evolução dos espíritos é amar todas as pessoas,
todos os seres, todos os espíritos, tudo o que existe… e não
apenas um ou outro espírito.
O espírito evolui amando a todos. Quanto mais abrangente é o
seu amor, mais elevado ele se torna, mais luz acende dentro
dele, mais ele se torna feliz e mais próximo ele está de Deus.
Quanto mais restrito é o amor do espírito, mais ele sofre e mais
preso ele fica. Imagine um homem que ama apenas uma mu-
lher. Se essa mulher deixa-lo, decepciona-lo ou morrer, ele vai
sofrer imensamente, vai cair num abismo profundo de sofri-
mento e depressão.
Mas se esse homem ama todas as pessoas, se ele ama e quer
bem a todos os seres, como ele poderia sofrer? Como seria
possível ele se decepcionar? Como ele poderia perder o ser
amado, se ele ama tudo? Ninguém pode perder tudo… Mas se
fizermos de uma ou outra pessoa tudo em nossa vida, se per-
dermos essa pessoa, perdemos tudo. No entanto, se amamos
tudo… não há o que perder… e assim sendo, nunca sofremos.

437
Quem ama tudo e todos, vive eternamente feliz… e em paz. Ao
passo que aquele que ama apenas um ou outro, sempre pode
perder, sempre pode se decepcionar, sempre pode ser aban-
donado… e sempre pode ver seu amor morrer.
No amor universal nada pode ser perdido… pois se amamos
tudo, amamos a Deus, e se amamos a Deus, é impossível per-
der ou sofrer, pois Deus é tudo.
O amor humano é egoísta… mas o amor espiritual é univer-
sal… e por isso, é eterno e infinitamente feliz.

Quando você vive uma situação boa, agradável, que é seu so-
nho, esteja certo de que um dia isso vai acabar… e pode aca-
bar antes do que você supõe. Caso você se prenda aos praze-
res desse sonho, você terá grande dificuldade quando tudo
acabar… e um dia é certo que vai acabar. Quanto mais você
se fixa nessas condições ideais, mais você sofre quando tudo
isso termina. Por esse motivo, é preciso compreender que na
vida tudo transcorre como um rio, onde as águas de um minuto
não são as mesmas dos minutos seguintes. Tudo sempre vai
terminar um dia… e se você ficar prisioneiro desse sonho que
já foi, sua consciência ficará trancada naquele espaço tempo
que se findou. Você vai sofrer muito não apenas quando aca-
bar, mas também nos anos seguintes. Por isso, saiba que, se
um dia você realizar algum grande sonho e estiver vivendo uma
situação ideal e muito desejada, não se esqueça que ela com
certeza vai terminar, vai se finalizar, vai se extinguir completa-
mente… e quando isso passar, largue tudo com total despren-
dimento, para que sua vida não fique paralisada naquele ponto
do tempo.
…..
Todos os seres humanos sentem um vazio imenso dentro de
si. Esse vazio vem da ausência de nossa natureza eterna, que
foi perdida com o tempo… O ser humano não encara esse va-
zio, pois usa todas as coisas do mundo e pessoas para tentar
preencher esse vazio. Ele quer tudo porque sente que tudo lhe
falta. Ao longo de suas encarnações ele tenta encontrar nas
coisas e nas pessoas o seu preenchimento interno, a parte que
lhe falta, ou fechar esse buraco em seu peito. Mas para que o
ser humano possa ser pleno e feliz , ele precisa se deparar com
esse vazio, e assim, buscar seu ser eterno. Para encarar esse
vazio, ele precisa perder tudo o que ele acha que possui nesse
mundo, tanto coisas quanto pessoas, quanto conceito e ideias,
quanto a si mesmo. Somente quando ser humano não tem

438
mais nada com que se preencher ele percebe que somente o
ser eterno e infinito, que reside dentro dele e é uma partícula
divina… somente isso pode preenche-lo completamente.
….
A melhor forma de resolver um problema é não mais se impor-
tando com ele.
Quando você tiver um problema, mas não mais tratar ele como
um problema… imediatamente ele deixará de ser um pro-
blema. Por isso, ninguém deve ficar se preocupando em resol-
ver todos os problemas. Se um problema não tem solução, en-
tão a solução é deixar de ver no problema, um problema.
Damos tanto poder aos problemas que eles se transformam no
tamanho que nós cedemos a eles. Eles se tornam do tamanho
de nossas angústias, de nossas fragilidades, de nossa peque-
nez. Mas se não dermos poder ao problema, ele não nos afeta
e até deixa de ser um problema. Um problema só é verdadei-
ramente um problema quando nos afeta, nos tira do sério e nos
faz sofrer. Como algo poderia ser um problema se não nos faz
sofrer? Tanto é assim que pessoas diferentes veem um pro-
blema em coisas diferentes. Por isso, a melhor forma de solu-
cionar todos os problema é simplesmente não se importando
com eles, não dando valor a eles, não conferindo poder a eles.
Deixe de ver um problema no problema… e nunca mais você
terá problemas em sua vida.
….
Como viver na insegurança? Reconhecendo que tudo na vida
é inseguro, que é existência humana é pura insegurança. Nada
é totalmente seguro e estável. A única forma que obter segu-
rança é tomando consciência da insegurança básica da vida
humana e se tornando seguro internamente mesmo diante da
maior insegurança. Não há outra forma.
Não adianta tentar controlar as circunstâncias externas para
poder se sentir seguro. O ser humano pode até conseguir esse
controle por um tempo, mas logo vem a corrente inexorável da
vida e tira tudo do lugar, traz o caos para nossa vida, nos faz
perder e tudo se desorganizar… Então ficamos inseguros por-
que não conseguimos mais controlar as coisas como deseja-
mos. Mas a segurança não vem do controle externo, mas sim
de viver bem e tranquilo mesmo diante da insegurança básica
da existência.

Agradeçam a Deus quando vocês perderem algo que muito es-
timam, pois toda posse algo sobre, sejam coisas, pessoas, car-

439
gos, status, ideias, sentimentos, etc… é igualmente uma pri-
são. Provavelmente as pessoas não compreendem o quanto
as coisas que ganhamos nos aprisionam, pois elas nos geram
contentamento, satisfação, sensação de poder…No entanto,
cada coisa que temos é uma grande prisão mental para nós.
Como a prisão é algumas vezes agradável, não sentimos tanto
mal estar… mas quando perdemos, sentimos o quanto a cela
é algo ruim, sentimos o quanto estamos aprisionados, encar-
cerados naquilo que ganhamos ou que julgamos obter. Nos
agarramos fortemente a cela da nossa prisão, pois acreditamos
que é a única coisa que temos… mas ao sair da prisão, perce-
bemos o quanto perdemos por permanecer presos em tudo
aquilo que acreditamos ser nosso… Sendo a maior prisão,
nossa identidade, nosso corpo e nosso ego.
Por isso, agradeçam as perdas, pois quando perdemos algo
que temos uma ligação muito estreita, podemos não nos dar
conta, mas isso é uma imensa libertação…

As pessoas costumam acreditar que o céu é um lugar que se
situa lá no alto… acima das nuvens, muito belo, cheio de luz,
onde anjos tocam trombetas, Jesus está sentado num trono de
ouro, etc… Mas a realidade é que o céu não é um lugar e tam-
pouco tem uma forma. O céu não é um lugar que você vai após
a morte… mas um estado de espírito que você pode experi-
mentar agora, nesse momento, ainda durante a sua vida… não
precisa esperar morrer para ir ao céu. Você pode ir ao céu
agora… basta uma certa disposição de consciência e uma pu-
reza de alma.

Vira e mexe vejo pessoas fazendo a seguinte pergunta: Por
que Deus nos dá as coisas e depois Deus nos tira as coisas?
A resposta é simples… Deus dá e Deus tira justamente para
que possamos aprender a não nos apegarmos as coisas… e a
sermos felizes sem precisar de algo. Sim, Deus vai continuar
dando e tirando… para que cada um de nós aprenda a viver
sem se apoiar em algo ou alguém. Somente com a libertação
de todos os apegos poderemos experimentar a verdadeira feli-
cidade. Se não fosse pela nossa libertação, qual seria o motivo
de Deus dar de um lado e tirar do outro?

Deus dá numa hora e tira na hora… não porque Ele seja um


carrasco, mas justamente porque Ele quer nos libertar do sofri-
mento do todo tipo de apego. Você vai continuar recebendo

440
muitas coisas e logo depois perdendo essas mesmas coisas…
ganhando, perdendo, sofrendo… até aprender a não mais so-
frer pela perda, ou regozijar-se com o ganho.
Liberte-se de tudo… e cultive o desapego em sua vida.

441
PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS DA VIDA

Vejamos alguns dos mais importantes princípios espirituais da


vida:

O primeiro princípio espiritual da vida nos revela que tudo o que


existe faz parte de Deus, está dentro de Deus, vive com Deus
e principalmente é Deus. Todas as coisas possuem uma natu-
reza divina que reside latente dentro de si mesmas. Do ser
mais inferior ao mais superior, da bactéria ao sol, da molécula
ao anjo, dentro de toda a escada da evolução universal, tudo
faz parte da perfeição divina. Estamos ainda inconscientes
dessa divindade que carregamos nos recônditos mais profun-
dos de nós mesmos, mas essa essência existe, ela está lá, es-
perando a hora de se manifestar em toda a sua pureza e pleni-
tude. Saber que a perfeição reside latente em nosso ser é um
alento que devemos levar para sempre.

O segundo princípio nos informa que tudo faz parte de tudo.


Temos o todo dentro de nós mesmos, somos formados pelo
mesmo material cósmico das estrelas, das galáxias, dos uni-
versos visíveis e invisíveis. Toda a composição universal está
presente em nós. Somos um todo em miniatura. Somos uma
partícula de todo o universo e temos todo o universo dentro de
nós. O espírito que somos é infinito e eterno.

O terceiro princípio espiritual da vida nos mostra que todas as


coisas têm um propósito, uma finalidade, um ideal mais pro-
fundo a ser alcançado que nem sempre percebemos em nossa
limitada visão. Qualquer sofrimento, qualquer situação difícil,
dores, provações, tudo isso tem um sentido mais profundo que
ainda somos incapazes de compreender mais profundamente.
Despertar a consciência de que tudo na vida tem um sentido,
um significado divino, um propósito superior nos assegura uma
vida de fé, de confiança total nos planos de Deus. Uma criança
não entende por que faz certas coisas, como se alimentar, se
vestir, tomar remédios etc. Mas quando crescer e se tornar
adulta, entenderá tudo o que seus pais fizeram com ela. Assim
também são os planos de Deus para seus filhos humanos,
onde tudo sempre tem um sentido, e nada ocorre por acaso.

O quarto princípio da vida nos faz compreender que tudo está


interligado. Não estamos separados uns dos outros. Há um fio

442
da vida, um tecido cósmico que une todos os seres do universo,
formando uma unidade inquebrantável. É como se todos os se-
res do universo fossem como pedras preciosas num infinito co-
lar divino. Todas as pedras do colar, que é o espírito de cada
ser, está ligado a todas as outras pedras preciosas por um fio
inconsútil. Esse fio passa pelo centro eterno e espiritual de
cada um de nós e nos conecta a tudo e todos igualmente. Não
há um só ser ou coisa em todo o cosmos que esteja separado
de tudo e não esteja ligado a todos por esse colar divino. Esse
princípio nos leva a uma consideração muito verdadeira. Se eu
não estou separado de você, não posso te agredir, pois estarei
agredindo a mim mesmo; não posso te ofender, pois estarei
ofendendo a todos; não posso te matar, pois estarei matando
a mim mesmo e também um plano maior da Criação. Vivemos
numa infinita multiplicidade cujo elo é uma unidade essencial.

O quinto princípio fala da verdade das transformações do cos-


mos. Tudo no universo muda, se transforma, se move e vibra.
Nada está parado, estagnado ou preso. Tudo corre, tudo flui,
todas as coisas existem numa torrente de vibrações que nunca
se esgota. Por esse motivo, ninguém deve paralisar ou imobili-
zar sua vida, pois a corrente sempre nos leva querendo ou não.
Devemos sempre acompanhar o eterno fluir da existência e se-
guir em frente, mesmo diante do maior sofrimento. Quem para,
perece. Quem flui com a corrente cósmica, vive e renasce.

O sexto princípio nos fala da consciência de que tudo está em


seu devido lugar; tudo é sagrado e em tudo existe uma ordem,
mesmo na aparente desordem. Os gregos chamavam esse
princípio de “cosmos”, a harmonia universal, a ordem da vida.
Não há coisa alguma que esteja fora do seu lugar. Todos os
seres e coisas estão exata e matematicamente onde deveriam
estar. Havendo outro lugar melhor para você em todo o uni-
verso, a inteligência divina trata de retira-lo de onde você esti-
ver e coloca-lo em outro local. Você vive a vida que tem que
viver; você faz o que tem que fazer; o que te acontece é exata-
mente o que você precisa e merece dentro de tudo o que você
criou ao longo da eternidade. Portanto, não acredite que as coi-
sas estão erradas para você, pois tudo está exatamente como
deveria estar. Não existem erros, tudo está absolutamente cor-
reto e perfeito.

443
O sétimo princípio fala sobre as aparências que revestem as
essências. Cada ser e coisa que existe no cosmos possui uma
aparência que esconde a sua essência real, aquilo que ela é
de verdade. As aparências encobrem o mundo real, a verdade
que reside em tudo. Nossos sentidos nos enganam. Eles criam
formas, imagens, sonhos, quimeras e dissimulações. A mente
nos ludibria criando exterioridades e expressões diversas. O
ser humano vê a aparência e acredita que ela seja a realidade,
mas não é. É preciso ver além das aparências, e buscar a es-
sência mais profunda de todas as coisas. Somente indo além
do véu, da túnica, do manto ilusório da existência é que pode-
remos ver as coisas como realmente são. Não somos uma apa-
rência humana num mundo de aparências, somos uma essên-
cia infinita que reside no seio do infinito.

444
HOJE EM DIA

Hoje em dia temos a tecnologia de veículos muito velozes que


percorrem imensas distâncias, mas parece que estamos cada
vez mais distantes uns dos outros.
Hoje em dia vivemos na era digital, onde podemos nos
conectar com muitas pessoas. No entanto, nunca fomos tão
solitários.
Hoje em dia temos muitas possibilidades de entretenimento
na TV e internet, mas vivemos numa contínua tristeza e
melancolia.
Hoje em dia nossas redes sociais digitais têm milhares de
conhecidos, mas temos a impressão de que nos faltam
aqueles amigos de verdade.
Hoje em dia temos uma variedade imensa de alimentos nos
supermercados, mas nunca ingerimos tantos alimentos
tóxicos.
Hoje em dia passeamos em shoppings consumindo milhares
de produtos numa multiplicidade de lojas, mas nunca
sentimos que tanta coisa nos falta.
Hoje em dia somos bombardeados por uma infinidade de
informações midiáticas, mas nunca estivemos tão perdidos e
desorientados.
Hoje em dia existem milhares de medicamentos a nossa
disposição em cada farmácia, mas nunca estivemos tão
doentes e debilitados.
Hoje em dia há uma intensa proliferação de cultos e novas
religiões, mas estamos a cada dia perdendo mais e mais a
nossa verdadeira fé .
Hoje em dia tivemos dezenas ou centenas de eleições
democráticas como nunca na história, mas os políticos
parecem não nos representar.
Hoje em dia existe um sem-número de clubes, associações,
organizações e grupos humanos, mas nunca fomos tão
carentes e vazios.
Hoje em dia existe uma vasta diversidade de ideologias,
correntes, filosofias e modos de pensar, mas nunca estivemos
tão incertos de tudo.
Hoje em dia contamos com aparelhos de alta tecnologia em
segurança, com abundância de radares, câmeras e alarmes,
mas nos sentimos cada vez mais inseguros em sociedade.

445
A modernidade pode ter nos trazido conforto, facilidades e
conveniências materiais, mas talvez tenhamos perdido o
essencial.
Vamos resgatar tudo aquilo que ficou perdido pelo caminho
materialista que trilhamos, os nossos valores mais
fundamentais:
Nossa humanidade, a nossa alegria, a nossa naturalidade, a
nossa simplicidade, a nossa espontaneidade, a nossa ternura,
a nossa fé, o nosso amor e nossa paz de espírito. Sem o
essencial, a vida não faz sentido.

446
OS ERROS DA VIDA

O erro é algo intrínseco ao ser humano.


Faz parte de sua natureza e de suas experiências.
O erro serve como fonte de aprendizado.
Quem erra menos, aprende menos, quem erra mais, pode
aprender mais.
Não passe a vida evitando os erros, pois eles são a maior
fonte de sabedoria.
Quem passa a vida com medo de errar, não vive.
Quem não se importa em cometer erros, vive com mais
intensidade.
Aquele que não erra comumente nada fez de significativo, de
importante.
Repetimos nossos erros até transforma-los em aprendizado.
Não aprender com os erros do passado nos faz repeti-los no
futuro.
Reeditamos o erro no futuro quando não o assimilamos no
passado.
O erro é parte do aprendizado da vida, ninguém pode
aprender sem errar.
A vida é o grande professor, e nossos erros criam os
caminhos do acerto.
O erro é o caminho doloroso e necessário para a descoberta
da verdade.
O problema não está em errar, mas em persistir no erro sem
aprender suas lições.
Os tolos sentem culpa pelo erro, os sábios veem no erro uma
oportunidade de crescimento.
O maior erro que se pode cometer é passar a vida evitando o
erro.
Erra quem faz, mas erra ainda mais quem deixa de fazer por
medo de errar.
Não tentar pode ser um erro maior do que tentar e não
conseguir.
Aceite seus erros, você é humano…
Não tente ser um super homem, um modelo de perfeição.
Buscar a perfeição contribui para a evitação neurótica do ato
de errar.
E tentar não errar nunca te deixa ainda mais vulnerável aos
erros.
Não te preocupe com os erros dos outros, mas volte a
atenção para os teus próprios.

447
Não critique os erros alheios, pois a crítica do erro é um erro
ainda maior.
Fale menos dos erros dos outros, e aceita os teus próprios
erros.
Nada no mundo está totalmente errado e menos ainda está
totalmente certo.
O certo sempre contém algo de errado, e o errado sempre
está certo em algo.
Aprenda não apenas com teus erros, mas também com os
erros dos outros.
Caso alguém erre com você, aprenda a não cometer o
mesmo erro em outras pessoas.
A experiência do erro alheio também ajuda na orientação do
nosso caminho.
Portanto, não tenha medo de errar, mas sim de nada fazer.
Aceite seus erros como parte da vida, pois é com erros
sucessivos que vida vai se revelando.

448
O PODER

Uma das coisas mais difíceis da vida é lidar com o poder.


Muitos dizem que o poder corrompe, o poder degrada.
Mas o poder apenas mostra como cada pessoa é.
As pessoas não mudam quando ganham poder,
Elas apenas têm espaço de manifestar quem sempre foram.
Todo poder mundano é passageiro, efêmero e ilusório.
O verdadeiro poder é apenas um: o poder sobre si mesmo.
O único poder que você pode ter na vida é o de controlar a si
mesmo.
Mas quando você concede esse poder a pessoas ou coisas,
Esse poder conferido passa a te controlar, e até, por vezes, a
te subjugar.
Entenda que o outro só tem o poder que a ele é doado.
Quando isso ocorre, a pessoa que recebeu seu poder passa a
ter domínio sobre ti.
Mas tudo isso é sugestão, é ilusão, posto que você acreditou
no poder externo,
E acreditando no poder que vem do exterior, deu seu poder
ao outro e perdeu o seu.
Pegue seu poder de volta, retome aquilo que lhe pertence,
Assim, o poder do outro sobre ti se anula, se perde, se esvai.
Mesmo quando dominam seu corpo, sua mente pode
permanecer intacta a qualquer influência.
Quem adquire poder externo, nunca está satisfeito,
É necessário sempre mais e mais para se suprir.
O poder externo é apenas um sonho, um devaneio
passageiro.
Pois o único poder real é aquele que habita dentro de ti.
Ninguém tem poder de impedir uma tempestade,
Mas sim de resistir bravamente quando chega a tormenta.
O maior poder do mundo não é o de quebrar, romper, impor
nossa força.
Mas sim de construir, unir, agregar e amar.
Uma ideia pode ter mais poder que mil exércitos.
O maior poder do ser humano não reside em sua
personalidade,
Mas na disposição de superar a si mesmo, seus hábitos
arraigados, seus limites, sua consciência.
Poder tem aquele que mesmo nas maiores adversidades,
continua caminhando.
Aquele que tem força, mas desiste de caminhar, não tem o

449
verdadeiro poder.
O poder está em perseverar, em enfrentar as tormentas, em
continuar seguindo em meio ao caos.
A flexibilidade e a adaptação às circunstâncias também são
fontes de poder.
O poder de vencer os outros é ilusório;
O poder de vencer a si mesmo é real.
O grande poder está em resistir ao golpe, e não se abalar
com nada.
O que mais te tira o poder? Tudo aquilo que você acredita ser
definitivo, indiscutível e fechado.
A pessoa que crê num dogma imutável, perde seu poder de ir
além.
A pessoa que crê na infalibilidade de algo ou alguém, perde
seu poder ao menor sinal de falha.
A pessoa que coloca sua vida nas mãos de outro, perde
igualmente seu poder.
A pessoa que se sente vazia quando não faz algo, perde seu
poder ao fazer esse algo.
Aquilo que não te dá espaço para ir além, te tira o poder.
Qualquer crença de necessidade te tira o poder.
Quanto mais precisamos de algo, menos poder temos.
Quanto mais fragmentado ou dividido você estiver, menos
poder tem.
Quanto mais unido for dentro de si, mais poder terá.
O poder vem da união, e essa união também se faz reunindo
as partes divididas dentro de si.
Se um lado teu quer uma coisa e outro quer outra, você está
dividido.
Junte suas partes perdidas e esteja reunindo para ti mesmo.
Recupere seu poder, nada externo a ti deve ter mais poder do
que teu interior.
Somente resgatando seu poder, você será íntegro e forte.

450
O FALATÓRIO PESSOAL

Para ter mais tranquilidade em sua vida,


Aquieta o falatório desordenado de boca e mente.
Expresse-se com serenidade e paz, sem pressa e ansiedade.
Reflita sempre naquilo que se propõe a dizer.
Quem fala muito, costuma escutar bem pouco, e quem escuta
pouco, costuma falar muito.
Quem só fala e não escuta, perde a noção do real,
E passa a viver no mundo dos próprios pensamentos.
Já parou para pensar que o outro pode não estar interessado
em seu discurso aleatório?
Muitos ouvem apenas por educação, outros já se imaginam
bem longe do falador.
Para que ficar jogando conversa fora falando amenidades de
forma impensada?
Não há qualquer ganho prático e pessoal na falação
desmedida.
As palavras têm poder criador, elas geram energia quando
proferidas.
Por isso, não perca sua vitalidade falando mais do que
deveria.
Que prazer pode existir na fala descontínua e irrefletida?
Falar sem pensar é apenas soltar palavras ao vento,
Que se perdem e se esvaem em sua própria ausência de
significado.
Exprimir-se sem ponderação é aderir ao impulso das
emoções,
Que afetam nossa reflexão e tornam nossas ideias supérfluas
e pueris.
Quem fala muito, costuma falar muito de si mesmo.
Comenta suas preferências, seus gostos, sua forma de ser e
agir: tudo gira ao seu redor.
O frívolo prazer de expressar seus pensamentos na mesma
hora que eles vêm,
Sem pensar, sem dosar, sem entender o sentido e a
profundidade do que se diz,
É notadamente um gradual aniquilamento da substância
profunda de nossa vida.
Já tentou perceber se o outro está interessado em tua
tagarelice?
Na maioria das vezes, quem fala muito não recebe a atenção
do outro.

451
E muitas vezes nem se importa com isso.
Para o falador compulsivo, o importante é atirar palavras ao
vento,
Mesmo que o tema não interesse aos demais.
Fala menos, reflete mais; siga tua vida com mais reflexão e
com menos vozearia.
Quem fala muito, medita pouco na essência do próprio
pensamento.
Não permita que sua essência seja capturada pelo discurso
vazio que é proferido por ti.

452
O VÉU DA ILUSÃO

Quando todos seus amigos te deixarem por você ter perdido


tudo, não se desespere. Agora você sabe quem é seu amigo
de verdade.

Quando toda sua força humana se encerrar, não se desespere.


Busque sua força espiritual que nunca se esgota.

Quando toda a inteligência humana não der conta de resolver


um problema, não se desespere. Busque sua inteligência
emocional e sua intuição espiritual.

Quando você descobrir todas as mentiras e falsidades que


inventaram, não se desespere. Agora você está muito mais
próximo da verdade.

Quando todas as concepções sobre Deus não derem conta de


explicar o plano divino, não se desespere. Esse é o momento
de você encontrar Deus dentro de você.

Quando todos os caminhos que você percorreu estiverem


bloqueados, não se desespere. Agora é a hora certa de você
criar seu próprio caminho.

Quando toda a crença religiosa não conseguir te ajudar, não se


desespere. Esse é o momento de despertar sua verdadeira fé
e apoiar-se em Deus sem dogmas.

Quando a doença te abater e você ficar parado numa maca de


hospital, não se desespere. Esse é o momento de você ficar
um pouco consigo mesmo, refletir sobre sua vida e se conhecer
melhor.

Quando toda a ilusão do mundo se quebrar e se esvair, não se


desespere. Agora você poderá encontrar aquilo que é real além
de qualquer véu de miragens mundanas.

Quando você perder tudo e nada mais te sobrar, não se


desespere. Esse é o momento em que você pode encontrar a
si mesmo.

453
Sempre que o manto das fantasias e dos sonhos da vida
mundana se romper, você tem uma chance de enxergar e viver
a realidade tal como ela é.

Então, quando você perder algo e não souber mais o que


encontrar, procure refletir se não é a vida te ajudando a romper
todos os véus que cegam tua visão.

454
DESTINO E ESCOLHA

Você não pode evitar de ter limites, mas pode criar as


condições para supera-los.

Você não pode evitar a tempestade, mas pode se abrigar


quando a chuva vem.

Você não pode evitar que alguém te agrida, mas pode buscar
a tranquilidade quando isso ocorre.

Você não pode evitar uma ou outra queda durante a vida,


mas pode se levantar sempre que cai.

Você não pode evitar a passagem do tempo, mas pode se


adaptar a uma nova época.

Você não pode evitar o envelhecimento, mas pode adquirir a


sabedoria das experiências de vida.

Você não pode evitar que seus filhos cresçam, mas pode
prepara-los para a vida.

Você não pode evitar que outros te julguem, mas pode


conduzir sua vida sem se preocupar e sem sofrer com a visão
dos outros sobre você.

Você não pode evitar que outros falem mal de você, mas
pode não dar importância e seguir em frente.

Você não pode evitar de errar, mas pode aceitar suas


imperfeições e aprender com seus erros para que eles não
mais se repitam no futuro.

Você não pode evitar que uma ou outra coisa dê errado, mas
pode buscar consertar tudo o que você considera incorreto.

Você não pode evitar que existam muros no caminho, mas


pode pula-los ou contorna-los para continuar no caminho.

Você não pode evitar de, por vezes, seguir caminhos falsos,
mas pode avistar e mudar de direção escolhendo novos
caminhos.

455
Você não pode evitar que as pessoas morram, mas pode
aceitar a morte como parte da vida.

Você não pode evitar de morrer, mas pode, com toda certeza,
escolher viver.

E por fim… Você não pode evitar as turbulências da vida, mas


pode escolher cultivar a paz de espírito.

Como diz a máxima: o que uma pessoa te faz, é o karma


dela; a forma como você reage, é o seu karma.

Não importa o que te aconteceu, o que importa é o que você


faz a partir do que aconteceu.

Não são as circunstâncias da vida que nos fazem mal, mas


sim a forma como nos posicionamos a elas.

Você não controla o que te acontece, mas pode controlar o


que fazer a respeito.

Escolha, portanto, viver em paz… viver em plena paz de


espírito.

456
O PAPEL DE SALVADOR

É muito comum de se encontrar, nos dias de hoje, pessoas que


sofrem do terrível vício do papel de “salvadoras”. Muitas vezes,
o papel de salvador bloqueia nossa vida de tal maneira que o
resultado acaba sendo a depressão. Salvador é todo aquele
que quer ajudar os outros em excesso. É aquele que se oferece
ou se doa demasiadamente a outros, e a partir desse compor-
tamento surge uma série de problemas. Vamos entender me-
lhor neste artigo no que consiste o papel de salvador e o que
cada pessoa pode fazer para se libertar dessa tendência. Ex-
plicaremos tudo em tópicos curtos para que as ideias se tornem
mais acessíveis e objetivas.

Em primeiro lugar, o “salvador” é todo aquele que vive mais a


vida dos outros do que a sua própria vida. Ele se preocupa mais
com o que acontece com outras pessoas do que consigo pró-
prio. Ele pensa muito na vida dos filhos, na vida dos pais, na
vida dos irmãos, na vida dos familiares e na vida alheia do que
em suas próprias questões. Não apenas pensa mais na vida
de outrem, como busca agir de forma a auxiliar, instruir, bene-
ficiar ou amparar os outros em muitas situações diferentes.
Com esse comportamento, o salvador passa a ser apenas um
espectador da própria vida, fica apenas assistindo sua existên-
cia passar diante dos seus olhos, e não mais participa dos prin-
cipais eventos, posto que passou a viver apenas pelos outros.

A maternidade sempre foi um terreno fértil para a expressão do


papel de salvador. É muito comum ver mães reclamando dos
filhos, alegando que se sacrificaram por eles, e que depois os
filhos não reconheceram os esforços feitos. Quantas mães
passam a viver apenas para ajudar seus filhos? Quantas mães
procuram sempre evitar a todo custo que seu filho se prejudi-
que pelos seus próprios atos? Quantas mães visam superpro-
teger os filhos e coloca-los numa redoma de vidro? Quantas
mães buscam fazer pelos filhos aquilo que cabem apenas a
eles próprios? Esse comportamento atrasa a vida de ambos,
bloqueia o desenvolvimento do filho e torna a mãe insatisfeita
com a sua vida.

Aqui podemos adiantar que os salvadores sempre esperam por


um reconhecimento que não pode nunca preencher a lacuna
que eles mesmos deixaram em suas vidas. Esse vazio foi cri-

457
ado pela perda das melhores partes de nossas vidas que se
esvaíram enquanto estávamos mais preocupados em viver a
vida dos outros. É certo que, quem vive a vida do outro acaba
perdendo a sua própria vida, e a consequência dessa escolha
não poderia ser outra senão a frustração e um sentimento de
perda de si mesmo. O salvador não vive com os outros, ele vive
em função dos outros. Toda a sua vida se encaminha, se orga-
niza e se programa para a resolução dos conflitos alheios.

O salvador sempre presta essa ajuda de forma bastante exa-


gerada, e muitas vezes é uma assistência não solicitada. To-
dos deveriam ter consciência de que só é possível amparar
uma pessoa quando esta reconhece que tem um problema e
quando pede nossa ajuda. Quando alguém não sabe que tem
um problema, ou mesmo não quer melhorar, de nada adianta
insistirmos no auxílio a essa pessoa. Só é possível resolver
algo quando há a percepção de um problema. Se a pessoa não
reconhece o que tem como um problema, talvez a melhor saída
seja permitir que ele sinta na pele as consequências de seus
atos. Por outro lado, ninguém pode ajudar eficazmente uma
pessoa quando esta se nega a fazer algo por si mesma. O sal-
vador é “especialista” em se meter na vida dos outros e encon-
trar brechas para impor sua visão das coisas. Como o salvador
perdeu o controle de sua própria vida, ele deseja conquistar o
controle da vida dos outros.

Outra característica do salvador é suas constantes tentativas


de resolver a vida de alguém de tal forma que a pessoa não
precise fazer nada ou quase nada para se melhorar. O salvador
cultiva a crença de que é possível uma pessoa solucionar os
problemas da outra, mas obviamente essa ideia é totalmente
falsa. Ninguém pode fazer pelo outro aquilo que só cabe a ele
fazer. E aqui entra outra característica do salvador: o desejo de
que outras pessoas fiquem dependentes dele. Muitas vezes a
ajuda prestada pelo salvador visa preparar o terreno para que
seja criada uma relação de dependência entre salvador e a
pessoa “salva”. A atitude de salvador acaba sendo, para algu-
mas pessoas, uma forma de se conquistar poder, ou de instituir
uma relação de ordem e mando. “Eu te ajudo, mas você deve
fazer o que eu quero”.

Um dos artifícios muito utilizados pelo salvador é o jogo da


culpa. Em alguns casos, o salvador fica ressaltando ao outro “o

458
quanto o ajudou”; “o quanto ele melhorou”; “o quanto ele se
sacrificou por ele”; “o quanto ele precisa dele”; e obviamente “o
quanto ele lhe deve por isso”. O salvador deseja atenção, afeto,
carinho, além de outros ganhos psicológicos. Muitas vezes o
salvador pode alegar que “não quer nada em troca”, mas isso
pode ser mais um artifício, até mesmo inconsciente, para ser
reconhecido pelos outros pelo seu desprendimento, e assim,
quando o salvador precisar, alguém também possa vir em seu
auxílio e também se “sacrifique” por ele. Fica claro que o sal-
vador faz para o outro sempre esperando algo em troca. Ele
fica sempre na expectativa de algo que as pessoas nunca vão
lhe dar, o reconhecimento de sua bondade. Essa sensação de
ser taxado como uma pessoa “boa” alimenta seu ego, e ao me-
nos por alguns instantes ele se sente alguém importante, que
fez a diferença na vida de outros. O sentimento de autoimpor-
tância pode ser uma forma de compensar uma vida bastante
desinteressante, sem graça e cheia de decepções. O salvador
pode não se sentir relevante ou interessante, e por isso ele ne-
cessita que os outros digam que ele foi importante na vida de-
les para que, somente assim, ele possa sentir seu valor.

Um fato que precisa ser exposto aqui é uma faceta preponde-


rante da dinâmica psicológica de algumas pessoas que vestem
a capa do salvador. É certo que, muitas vezes, uma pessoa
que apresenta uma bondade um pouco exagerada pode conter
dentro de si ao menos alguns resquícios de uma raiva repri-
mida. No entanto, o salvador repele essa raiva e a vê como
algo terrível e vergonhoso. Ele pode se enxergar como sendo
“bom demais” para conter aquela raiva. Por esse motivo, para
que essa raiva ou mágoa não se sobressaia, ele se dedica a
provar a si mesmo que é bom, e nesse sentido, precisa de to-
das as formas demonstrar a si mesmo e a outros o quanto é
bondoso, altruísta, caridoso e solidário.

A insegurança e a falta de autoestima do salvador muitas vezes


podem leva-lo a tentar compensar tudo isso com a percepção
de que é alguém muito benevolente. Nesse processo, ele pode
tentar compensar a baixa estima com um complexo de superi-
oridade. Essa inclusive é uma característica muito comum de
pessoas arrogantes e soberbas. Muitas delas, lá no fundo de si
mesmas, são pessoas inseguras, frustradas e cheias de fra-
quezas, que visam ocultar esses atributos sob a capa da so-
berba, com a crença do “eu sou melhor do que você” ou princi-

459
palmente “Ele não é tão bom como parece”. Nesse sentido, o
salvador também possui um complexo de superioridade, mas
como ele encara como bastante difícil sentir-se melhor pela via
do mérito pessoal, ele tenta sentir-se superior pela via de uma
suposta benignidade. Ele pensa “sou melhor porque sou uma
pessoa boa e ajudo os demais”.

O salvador quase sempre vê os outros como ingratos, posto


que ele sempre acredita que merecia mais elogios e mais re-
conhecimentos pelo seu trabalho em prol de alguém. Como
muitas vezes os outros não o reconhecem, ele fica sempre com
a impressão de que o outro não agradeceu o suficiente, ou que
o outro pensa apenas em si mesmo. O salvador sempre acre-
dita que o outro é muito egoísta e autocentrado para reconhe-
cer os bons feitos praticados por ele. Nesse sentido, o salvador
vive sempre frustrado, pois ele faz algo visando o reconheci-
mento, o agradecimento, e o status de “bom”.

O salvador ajuda os outros também para tentar moldar o outro


a sua vontade de como o outro deve ser, mas faz isso sempre
exalando o agradável perfume das melhores intenções do
mundo. O salvador tenta fazer o outro acreditar que suas inten-
ções são puras e cristalinas, e caso ele cometa algum erro, isso
não tem valor, pois sua intenção era boa e isso que importa.
Com essa atitude, o salvador procura algumas vezes se isentar
de qualquer responsabilidade no auxílio prestado.

O papel de salvador é muito frequentemente encontrado em


religiosos fanatizados por suas crenças. Alguns fiéis podem se
comportar como verdadeiros salvadores no trato com outras
pessoas a fim de seguir a risca seus dogmas religiosos. O sal-
vador religioso acredita que, caso ele seja uma pessoa boa e
caridosa, seu lugar estará bem guardado no céu, ou ele con-
quistará um bom karma para na próxima vida evitar o sofri-
mento desta. Algumas vezes os salvadores religiosos fazem
uma negociata com Deus pensando, até mesmo de forma in-
consciente “Deus, eu ajudei fulano de tal, agora você me ajude
em tal situação”.

Existem muitos salvadores em diversas profissões, principal-


mente nas profissões relacionadas a saúde e ao bem-estar hu-
mano. Médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais,
terapeutas, etc, são muitas vezes vítimas de sua própria neu-

460
rose salvacionista. Estes podem acreditar que precisam de to-
das as formas salvar, curar e ajudar outras pessoas, e sofrem
quando não conseguem seu intento. Aqui também existe um
sentimento de superioridade inconsciente que nos convence
de que só seremos bons profissionais se conseguirmos ajudar
todas as pessoas em todas as condições, o que obviamente é
fantasioso e irreal. Esse instinto salvacionista das profissões
acomete principalmente jovens recém-formados que querem
mostrar serviço e se firmar como profissionais bem-sucedidos
e com boa reputação.

É muito comum também encontrarmos homens que querem


salvar mulheres e assim obterem benefícios juntos a elas, e
também mulheres que acreditam serem capazes de ajudar os
homens, principalmente maridos ou namorados cujo relaciona-
mento não vai bem. A esposa pode fantasiar-se salvando o ma-
rido de algum mal que ele possua, e assim evita enxergar que
o problema não está no marido em si, mas sim no relaciona-
mento de ambos ou mesmo nela. Querer salvar o outro pode
indicar uma covardia em não admitir que nosso casamento
acabou e em tomar a decisão devida com o divórcio, ou o fim
do namoro. Muitas mulheres se enganam de que os parceiros
podem ser salvos para evitar um término indesejado o qual elas
por medo tentam de todas as formas evitar.

Fica claro que o papel de salvador é um completo atraso de


vida. Nele se confunde altruísmo com covardia, caridade com
desejo de superioridade, auxílio com mimo e superproteção,
prestar a ajuda necessária com “resolver” a vida da pessoa. O
salvador fica encarcerado no desejo de evitar sua própria vida
tomando parte na vida dos outros, e assim perde aquilo que é
essencial: ele mesmo.

461
A VAIDADE

Em tua passagem pelo mundo, não cultives jamais a vaidade.


A vaidade empobrece teu espírito com preocupações vãs
O vaidoso quer ser admirado pelos outros,
Ele valoriza mais a visão coletiva de si do que a sua própria.
A vaidade é apenas uma imagem que alguém quer transmitir
para ser apreciado e estimado.
Que forma fútil de se conquistar o amor!
O vaidoso vive pela imagem, e não pelo que guarda em seu
âmago.
Quer sempre fazer parecer, e dessa forma, ele se isenta de
simplesmente ser.
É o predomínio da imagem sobre a essência.
Em algum momento, terás que se perguntar:
Quero plantar imagens e colher decepções, ou quero plantar
a essência e colher realidades?
O vaidoso vê a vaidade em todos os vaidosos, mas nunca vê
a sua própria.
É mais fácil enxergar no outro do que em si mesmo.
Vaidade e amor próprio são frequentemente e erroneamente
confundidos,
Posto que o vaidoso quer sempre modificar algo em si,
E aquele que cultiva o amor próprio se aceita e se ama.
O vaidoso busca o progresso sem ter méritos,
O humilde entende que o progresso é um resultado natural do
mérito e do esforço.
O vaidoso quer estar sempre por cima, e despreza aqueles
que ele vê por baixo.
Aqueles que o ameaçam, por mérito próprio, ele procura
rebaixar e desdenhar.
O vaidoso quer ser apreciado e considerado, e se irrita
quando outros se vangloriam em seu lugar.
“Eu deveria ser exaltado, e não ele”, pensa ele.
A vaidade vive de rótulos, de formas, de imagens,
É como degustar a casca da banana e jogar o restante fora.
Quem vive de imagens, não vive de verdade;
Preocupa-se mais com a visão de outros sobre sua vida, do
que com sua vida em si mesma.
A roupagem dá boa impressão inicial, mas o que será
mostrado com o tempo?
Pessoas vaidosas falam muito, mas ouvem pouco;
Interessam-se demasiado por suas experiências, mas pouco

462
valor dão as experiências alheias.
Mal sabe o vaidoso que o mesmo desprezo que ele tem pelos
outros, outros têm por ele e por sua vaidade.
Regozija-se em enaltecer seus feitos, mas é cego em
reconhecer os feitos de outrem.
Purifica tua mente e teu coração de toda a vaidade, pois a
imagem é tão efêmera quanto as ondulações de um rio.
Compreende que ninguém controla sua própria imagem, e
outros vão pensar o que quiserem de ti.
O povo é volúvel e paradoxal, cada hora pensa uma coisa.
Desista de cultivar tua imagem perante outros, o amor do
público só vem naturalmente de um coração puro.
Desapega-se, dessa forma, do desejo de conservar uma
imagem impecável.
Além de ser impossível de mante-la, gastarás toda a tua vida
perseguindo uma sombra,
Acende, portanto, uma luz, que ilumina e traz verdade a tua
vida.

463
COMPARAÇÕES

Não te compares aos outros.


Não entre jamais no jogo da comparação.
Acaso a rosa vermelha vive a sonhar com a brancura
imaculada da rosa branca?
Ou a margarida do campo sofre invejando a fragrância do
lírio?
A comparação é a mãe de muitos sofrimentos
desnecessários.
Quem se compara com aos demais, vive sofrendo por aquilo
que lhe parece faltar.
Desejamos ter o que o outro tem; fazer o que o outro faz; ser
o que o outro é.
Mas cada pessoa é única nas profundezas de uma singular
individualidade,
E nisso reside a riqueza e a beleza da vida.
Como seria a sociedade humana se todos seguissem uma
criação de modelo ideal?
Onde estaria a diversidade se todos se guiassem pela
propaganda do igual?
Não compare duas crianças, colocando a outra para baixo,
Dizendo “fulano é bom, e você está sendo mau”.
Preserve suas crianças do cruel jogo da comparação.
Sociedades mais avançadas entenderão o grosseiro erro de
comparar duas crianças,
Pois cada qual tem suas qualidades, suas virtudes, seu papel
e sua missão.
Seria como comparar o jacaré com a cobra,
Cada um tem seu papel na imensa cadeia do ciclo da vida.
Toda comparação visa um modelo ideal que, em essência, é
falho.
Posto que serve apenas para uma época, um padrão e
algumas circunstâncias.
A comparação fará parecer que uns são superiores ou
inferiores a outros,
Mas você não é superior e nem inferior a ninguém.
Cada pessoa vive etapas distintas dentro das experiências
que escolheu para si mesma.
Quando te comparas a outros, desconheces suas feridas,
suas mágoas, suas fraquezas,
A comparação se faz apenas pela superfície das coisas,
Que retrata apenas um fragmento do real.

464
Tens certeza de que alguém que parece bem, está mesmo
bem?
És capaz de penetrar nos meandros mais secretos do
coração humano?
Quem tu julgas no ápice da felicidade humana, pode
atravessar tormentas que nem fazes ideia.
Não desmereças o que você tem e o que você é.
Não dê tanto poder as aparências do outro, e nem retire o
poder de ti.
Tampouco fique desejando a queda do outro para te sentires
melhor.
Avança-te a ti mesmo mesmo, no caminho do
desenvolvimento, independente das aparências externas de
sucesso.
Não olhe para os lados, não se deixe desviar do teu caminho
focando-se em vias alheias.
Cada percurso é único em valor e profundidade.
Podes fraquejar na corrida da vida se vês todos a tua frente,
E podes sentir-se exageradamente confiante e perder a
corrida se vês outros atrás de ti.
Não olhe para os lados, pois ninguém veio ao mundo para
vencer outros,
Mas sim para vencer nossos próprios limites; para vencer a
nós mesmos e ir além.
Deixa de lado, portanto, o jogo da comparação,
Pois somente assim percorrerás a senda da vida com
equilíbrio e paz.

465
A POBREZA

Alguns acreditam que ser pobre é viver destituído de bens,


serviços e necessidades fundamentais.
Quanto menos dinheiro se tem, mais pobre se é, pensam
alguns.
Mas pobreza não consiste na ausência de capital, de salário ou
de patrimônio.
A pobreza existe e se instala quando necessitamos de muitas
coisas para viver.
O pobre pode ser pobre por precisar de muito, por muito
desejar e por criar muitas dependências.
O rico pode igualmente ser pobre, pois mesmo tendo muito,
ainda quer mais e mais, e sente que tem pouco.
Se tens muito e sente que tens pouco, serás pobre.
Se possuis o necessário e sentes que tem muito, serás rico.
Há muitos pobres mais ricos que os ricos.
E muitos ricos mais pobres que muitos pobres.
Pois a pobreza é desejar além do que a vida pode te dar.
A pobreza é um estado de espírito, e não a ausência de bens
e dinheiro.
É pobre todo aquele que, tendo muito, está sempre insatisfeito.
E é rico aquele que, tendo pouco, está sempre satisfeito.
Quem considera pouco o suficiente vive sempre na infelicidade
e insatisfação.
Quem considera o suficiente com satisfação, pode viver
tranquilo e feliz.
Nada te satisfará se não estiveres satisfeito e em paz contigo
mesmo.
As satisfações e prazeres humanos duram bem pouco,
O júbilo espiritual e a paz interior podem durar uma eternidade.
O rico que quer muito além do que possui, nada possui.
Vive mendigando mesmo dentro de um monumental palácio.
A maior riqueza é interior, é aquela que nada externo pode
acrescentar ou diminuir.
O maior tesouro é aquele que não pode ser destruído,
Aquele que está eternamente guardado no mais impenetrável
cofre do mundo: nosso coração.
De que nos adianta esmolar as migalhas deste mundo de
ilusão e transitoriedade?
Contenta-te com o que tens, sede feliz com o que já possuis,
Alegra-te com a gratuidade da vida, que nada cobra e nada
deixa faltar.

466
Quanto maior a tua ambição com o supérfluo, mais pobre
serás.
Quanto maior a tua felicidade com o necessário, mais rico
serás.
Muitas pessoas veem a riqueza e a pobreza de forma
distorcida.
Você sabe o que é ser rico?
É certo que o rico não é aquele que tem muito.
Rico é aquele que, mesmo sem ter, consegue dar do pouco
que tem.
Você sabe o que é ser pobre?
É certo que o pobre não é aquele que pouco ou nada possui.
Mas sim aquele que, mesmo tendo muito, retém tudo apenas
para si mesmo.
O rico de verdade sente-se feliz em dar.
O pobre de verdade não dá nada, e por isso é infeliz e vazio.
Quanto mais pensamos apenas em nós mesmos, mais pobres
seremos.
Quanto mais nos desprendemos do egoísmo e da avareza,
mais ricos seremos.
A maior riqueza é tudo aquilo que dinheiro nenhum no mundo
pode comprar
E que tu não venderias por coisa alguma.
Nossa família, nossos amigos, nossos amores, nossa paz,
nossas virtudes e nosso caminho espiritual.
Qualquer um pode ser tão rico quanto sua alegria espontânea
de viver
E tão pobre quanto sua carência, sua mágoa, e seus
intermináveis desejos materiais.
A solidão num imenso palácio pode ser maior do que a solidão
num pequeno casebre.
Atenta para a verdade: nunca teu vazio interior será preenchido
por ganhos mundanos.
Preferes ser o mendigo de tudo o que você não possui?
Ou o rei de tudo o que ganhaste com trabalho duro e honesto?
Cultive a paz, a graça, a verdade e o amor,
Estes são os maiores tesouros que terás acesso.

467
CRIAR EXPECTATIVAS

Não espere nada de ninguém…


Nem fique criando expectativas sobre a vida.
A expectativa é o primeiro passo para o sofrimento.
Quem fica esperando algo, não vive,
E quem vive, não fica esperando.
Quanto mais você espera de alguém,
Mais se decepciona quando o outro não corresponde.
A frustração é sempre proporcional as nossas expectativas.
A vida nunca te prometeu nada, ela apenas é o que é.
Somos nós que projetamos nela sonhos e ilusões,
Que desde que foram criadas, já estão fadadas ao fracasso.
Quem fica esperando retribuição, sofre mais por não ser
retribuído.
Quem fica esperando atenção, sofre mais por não ganhar a
atenção.
Quem fica esperando afeto, sofre mais por não receber o
afeto esperado.
Criamos um ideal de como as coisas devem ser,
E ficamos sempre na expectativa de que esse ideal se
concretize.
Mas todo ideal é sempre destituído de realidade
Criar expectativas é abster-se do real e viver na ilusão.
O ideal é, por definição, inalcançável.
Nunca uma coisa estará exatamente como nós esperamos,
A realidade estará sempre ao menos levemente diferente do
ideal.
O tolo cria muitas expectativas,
O homem comum ainda espera ao menos um pouco da vida.
Mas o sábio, nada espera, e por isso, nunca se decepciona.
Quem vive sem nada esperar ganha a cada segundo.
Quem vive esperando perde a cada segundo.
Quem não cria ideais e nada espera, vive melhor.
“Não espero nada, o que vier é lucro.”,
Este é o melhor lema para nossas vidas.
Esse se satisfaz com pouco, e esse pouco se torna suficiente.
Quem não cria expectativas, não cai em desilusões,
Vive sem esperar pelos frutos de suas ações, e assim, está
satisfeito.

468
A ARTE DE VIVER

Um professor muito sábio e sensato começou a ministrar sua


aula numa escola pública. Ele lecionava para adolescentes de
14 e 15 anos. Antes de iniciar, ele disse que hoje realizaria uma
atividade diferente, mas que não poderia ainda ser revelada
aos alunos.

Logo após iniciada a aula, um dos alunos chegou 20 minutos


atrasado. O professor virou-se, viu o aluno sentando na car-
teira e perguntou com firmeza:

– Por que você chegou atrasado? Quero uma boa explicação!


– O aluno respondeu:

– Foi o trânsito professor. Estava todo engarrafado.

Outro aluno chegou meia horas depois do início da aula, o pro-


fessor fez a mesma pergunta. O aluno disse:

– Eu moro muito longe professor. É difícil chegar na hora.


Mais um rapaz chegou 40 minutos depois do início da aula. O
professor, de novo, fez a mesma pergunta. O jovem respon-
deu:

– Tinha um bloqueio policial por onde o ônibus veio professor.


E isso atrasou a viagem.

O último aluno havia chegado 50 minutos depois de iniciada a


aula. O professor, dessa vez, foi mais firme ainda na pergunta
do porquê ele ter se atrasado. O jovem ficou encabulado, olhou
para baixo, pensou por um instante e disse com toda a sinceri-
dade:

– Desculpe professor, foi culpa minha. Eu dormi tarde e não


consegui acordar hoje, por isso me atrasei.

O professor ouviu o aluno e disse:

– Parabéns!

O aluno e toda a classe ficaram sem entender. O professor ex-


plicou.

469
– Essa era a atividade surpresa que faria hoje com vocês. Es-
tou dando os parabéns a esse rapaz, pois de todos que chega-
ram atrasados, ele foi o único que admitiu a própria responsa-
bilidade pelos seus atos. Ele confidenciou a todos que dormiu
tarde e por isso não conseguiu acordar. Ele não jogou a culpa
no trânsito, no bloqueio policial ou na distância de onde mora.
Não deu nenhuma desculpa para se livrar. Ele trouxe a respon-
sabilidade para si e admitiu seu erro.

Os alunos ficaram calados e perplexos com a discurso do pro-


fessor. Ele concluiu:

– Prestem bastante atenção nisso que vos ensino agora, pois


admitir os próprios erros e não ficar culpabilizando as pessoas,
as circunstâncias ou o mundo é o primeiro passo para o desen-
volvimento e o amadurecimento do ser humano. Quem culpa-
biliza algo ou alguém tem tudo para se dar mal na vida, mas
quem não atribui culpas e traz a responsabilidade para si tem
tudo para se sair melhor na arte de viver.

Reflexão: Você costuma atribuir culpas a algo ou alguém pelos


seus erros, ou traz a responsabilidade para si?

470
QUEM TUDO QUER

Quem quer tudo conquistar, acaba por perder tudo.


Quem quer dominar, acaba por ser o dominado.
Quem quer levar vantagem, acaba perdendo todas as
vantagens.
Quem quer as coisas somente para si, acaba por perder uma
a uma.
Quem quer subir no topo do mundo, acaba caindo no mais
profundo abismo.
Quem quer chegar mais rápido, acaba por se perder no
caminho.
Quem quer ser melhor em tudo, acaba por ser o pior no
essencial.
Quem quer passar a perna no outro, acaba por levar um
grande tombo.
Quem quer vencer uma discussão de todas as formas, acaba
por perder a razão e a percepção.
Quem quer fazer tudo apenas do seu jeito, acaba por fazer
tudo errado.
Quem quer de todas as formas estar sempre satisfeito, acaba
por viver na insatisfação.
Quem quer passar uma imagem positiva sempre, acaba por
viver frustrado e incompreendido.
Quem quer agradar a todos todo o tempo, acaba por viver
mais para os outros do que para si mesmo.
Quem quer construir castelos e barreiras inquebrantáveis
neste mundo, acaba por ver sua vida desmoronar.
Quem quer viver sempre na previsibilidade, acaba por se
chocar mais facilmente com o imprevisto.
Há um ditado da sabedoria popular que diz:
“Quem tudo quer… tudo perde.”
O próprio desejo de nos conduzir a ter tudo, a tudo possuir,
tudo abarcar, a tudo saber, a tudo abraçar… é suficiente para
nos reduzir a nada.
Como disse Jesus: “De que adianta uma pessoa ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8, 36)
Aqueles que conquistam um império no mundo exterior, serão
os próprios vassalos do mundo interior. Erga um imenso
castelo para sua morada e te tornarás nada mais do que o
escravo dele.
Quem quer ter tudo, acaba não sendo nada.
Quem vive pelo ter… morre dentro do ser.

471
Na vida, precisamos abandonar a ideia de onipotência, de
poder, de mando, de conquistas totais.
Ninguém pode ser completo, necessário, absoluto e irrestrito.
Entender nossos próprios limites, aceitar a vida, viver na
realidade e buscar o melhoramento interior é, com efeito, o
melhor caminho que o ser humano pode trilhar neste mundo.

472
MELHOR FORMA DE VIVER

Qual a melhor forma de viver?


Esvaziar-se de preocupações vãs,
Não remoer pequenas contrariedades,
Não dar valor a coisas passageiras
Não cultivar bloqueios de nenhum tipo
Não ter ideias fixas e crenças imutáveis
Ao invés de crer em algo, buscar a experiência de algo.
Deixar a vida fluir em nós, sem limites e sem barreiras.
Entregar-se para a vida e confiar na harmonia de tudo.
Não crer em sorte, azar e acaso
Não dizer ao outro o que ele deve fazer
Não fechar os olhos e ouvidos as opiniões alheias
Viver sempre o caminho do meio, sem excessos nem
recessos
Aceitar nossos limites e assim aprender a supera-los
Não deixar as emoções nos controlarem
Não se permitir envolver nas ilusões do momento.
Respeitar o outro como você quer ser respeitado.
Colocar-se sempre no lugar do outro antes de qualquer
decisão.
Ouvir a vida, a natureza, as pessoas e o cosmos.
Entender que nossa visão do mundo exterior é muitas vezes
um reflexo do nosso estado interior.
Viver vazio para que a essência da vida possa brotar em
nosso interior
Não desejar muitas coisas, não depender de nada, não ficar
impondo nossa vontade.
Aceitar o fluxo ou o ritmo da vida e harmonizar-se com ele,
sem pressa nem preguiça.
Valorizar a ordem, a disciplina, o esforço pessoal e a
superação de nós mesmos.
Entender que competições não provam que somos melhores,
mas apenas reforçam nosso ego.
Não confundir jamais vaidade com autoestima.
Compreender que o egoísmo é uma das principais causas
dos nossos problemas.
Desfocar nossa mente apenas dos nossos problemas, e abrir
nossa consciência para um contexto universal de existência.
Ser menos individualista e mais coletivista; ser menos
competitivo e mais comunitário.
Aceitar que nossa razão tem limites e que nem sempre ela

473
pode dar a palavra final sobre algum conhecimento.
Aceitar a vida como ela é e as pessoas como elas são.
Não passar a vida enganando a si mesmo, pois esse é o
primeiro passo da infelicidade.
Entender que enxergar a realidade pode ser doído no início,
mas depois é extremamente libertador.
Busque o passado apenas como referência para o presente,
sem se prender ao passado e sem ignorar as lições
aprendidas.
Entenda que ninguém te ensina nada, você é que aprende.
Humildade é a principal virtude a que você deve aspirar, pois
os males do mundo tem como base o orgulho, a vaidade e o
egoísmo.

474
NÃO SOU NADA

Um menino de 12 anos tinha voltado da escola aos prantos.


Seus pais estavam viajando e seu avô ficou cuidando dele. O
avô viu que o menino estava chorando e foi falar com ele, per-
guntando:

– Aconteceu alguma coisa?

-Tive uma briga na escola – disse o menino meio choroso – e


um dos garotos fez pouco de mim, dizendo que eu não sou
nada.

O avô pensou por um tempo de cabeça baixa. Depois olhou


para o neto e disse:

– Que bom que você é nada!

O menino olhou para o avô e disse para ele parar de brinca-


deira, pois o assunto era sério.

– Eu estou falando sério! – Disse o avô enfaticamente. – Preste


atenção no que vou lhe dizer agora:

– Muitas pessoas não compreendem isso, mas o nada, ou o


vazio, está presente em tudo que existe em nosso mundo, e
podemos até mesmo dizer que o mundo não é mundo se não
fosse o nada, ou o vazio. Observe que um copo de água só
tem utilidade graças ao espaço de vazio, ou de nada que existe
dentro dele, e se ele não tivesse esse espaço vazio, não pode-
ria nele caber todas as coisas, nem água, nem coisa alguma.
Graças ao espaço vazio de dentro de uma casa que as pes-
soas podem morar nela. Uma residência não seria útil se não
possuísse um espaço com nada dentro onde pudesse caber
tudo. Uma flauta só toca graças ao espaço de “nada”, de vazio
que existe no seu interior. Inclusive se em nossa casa estivesse
lotado de milhares de coisas, não teríamos espaço nem para
nos mexer, ou seja, não teríamos qualquer liberdade. É justa-
mente o nada ou o vazio que nos permite a liberdade de movi-
mento e de ser. É possível construir uma casa num terreno
cheio de rochas, por exemplo, ou temos antes de retirar tudo e
criar um espaço vazio para depois construir a nova residência?
Uma folha em branco é o melhor ambiente para a criação de

475
um desenho, ao passo que uma folha já desenhada tolhe nossa
liberdade de criação. O nada ou vazio é o espaço que permite
a criação e a existência de algo. A existência universal e tudo
o que contém no cosmos existe dentro de um espaço, que é
vazio, e por ser vazio, pode nele caber tudo.

Um copo cheio não cabe mais qualquer líquido, mas um copo


vazio pode conter qualquer tipo de líquido. Com os seres hu-
manos ocorre a mesma coisa: não ser nada implica na liber-
dade de ser o que quisermos. Pode-se mesmo dizer que se
você não é nada, então você pode ser qualquer coisa. Você
tem infinitas possibilidades de ser o que quiser. Azar daqueles
que são alguma coisa, pois estes que são algo só são esse
algo e mais nada. Você não… Você tem um universo de pos-
sibilidades de ser, enquanto eles só têm uma possibilidade. O
nada é um infinito reservatório de possibilidades e criação,
além de ser um pré-requisito para a liberdade.

O menino parou de chorar e ficou surpreso com as explicações


do avô. O senhor concluiu:

Então, quando alguém disser que você é nada, ou que você é


vazio por dentro, agradeça a essa pessoa, pois mesmo sem
saber, esse é um grande elogio.

476
EU SOU UNIVERSAL

As pessoas não precisam obter nada para serem perfeitas,


pois essa perfeição já faz parte delas, e já é de sua natureza.
Por essa razão, tome consciência de que:

Você não precisa aprender tudo, pois você já é tudo.

Você não tem uma vida, você é a vida.

Você não vive no infinito, você é o infinito.

Você não vive dentro da eternidade, você é a eternidade, você


é eterno.

Você não possui a sabedoria, você é a própria sabedoria.

Você não tem inteligência, você é a inteligência universal.

Você não tem um espírito, você é espírito.

Você não tem uma essência dentro de si, você é a essência da


vida.

Você não vive dentro de Deus, você é Deus em manifestação…

Você não tem uma luz, você é luz em desenvolvimento na


Terra.

Você não está dentro do universo, você é universal.

Você não precisa de nada, pois você já é tudo dentro da infinita


e eterna essência da vida.

477
CONSUMISMO

A sociedade atual é consumista por excelência. Há muito dei-


xamos de ser uma sociedade baseada na filosofia, nas artes,
na religião ou em qualquer faceta de nossa cultura. Hoje em
dia somos essencialmente consumidores. Consumimos de
tudo, de forma irrefletida, movidos pelo marketing, pela influên-
cia de celebridades ou para abafarmos um pouco de nosso va-
zio e solidão. O consumismo é uma das maiores doenças do
século XX e do século XXI, uma enfermidade que degrada
nossa essência naquilo que ela tem de mais precioso: ser o
que somos, e não aquilo que temos.

Decidi expor alguns dos mais evidentes aspectos do consu-


mismo em nossa sociedade, a fim de tornar mais claro o que
está por detrás dessa febre moderna de consumo desenfreado:

1 – O primeiro aspecto é o seguinte: pessoas que consomem


em excesso frequentemente confundem o ser com o ter. É pos-
sível que, para os consumistas, o ter se sobreponha ao ser, a
ponto de se considerar nossas posses como fazendo parte de
nós mesmos. O que temos passa a ser igual ao que somos:
“Se tenho isso, sou isso. Se não tenho, não sou” pensam os
consumistas. O grande problema de atrelar o ser com o ter é o
fato de que tudo em nossa vida um dia nos será tirado, pois
todas as coisas passam por constantes transformações. Aque-
les que confundem o ser com o ter sofrem muito quando algo
que eles têm lhes é tirado. Eles sentem um vazio bem grande
quando perdem algo que possuíam, parecendo que suas pos-
ses faziam parte deles mesmos. É necessário entender que o
ser não se confunde com o ter e que não somos aquilo que
temos, somos apenas o que somos, nossa história e nossa es-
sência. Somos tão somente aquilo que somos, mais nada.

2 – O segundo aspecto do consumismo é aquele que revela o


consumo usado para abafar a carência e o vazio interior. Uma
pessoa pode se sentir muito carente por conta de seus desejos
frustrados e de suas expectativas não alcançadas. Por isso, ela
pode ter a impressão de que o consumo ajuda a amenizar essa
carência e abafa um pouco o vazio que existe dentro dela. Isso
ocorre porque as pessoas acreditam que “Ter muitas coisas
exteriores nos ajuda a esquecermos que nos faltam muitas coi-
sas interiores”. Desejamos suprir uma carência interna com

478
coisas externas, a fim de parecer que pouco nos falta, quando
na realidade muita coisa falta dentro de nós. A ausência de
amor, de carinho, de compreensão ou atenção pode nos levar
a acreditar que o consumo supre essa ausência. Por outro lado,
pessoas que consomem podem sentir prazer no ritual da com-
pra, onde muitas vezes o vendedor fica atrás de nós, nos ouve,
nos dá atenção e até conversa conosco. O prazer de poder
comprar, de sentir a realização do ato da compra também é
estimulante para muitos. “Não consigo muitas coisas em minha
vida, mas ao menos comprar eu consigo” pensam de forma in-
consciente algumas pessoas. É preciso olhar com calma e
atenção para nossos anseios interiores, pois não existe coisa
alguma passível de consumo que nos ajude a suprir as carên-
cias que carregamos dentro de nós.

3 – O terceiro aspecto do consumo está em sentir-se parte de


um grupo a fim de amenizar um pouco a solidão. O consumo
nos leva a imaginar que estamos seguindo junto com a cor-
rente, e que somos parte de algo maior, como uma identidade
coletiva. O ato de fazer parte de uma comunidade nos dá uma
falsa sensação de segurança, pois acreditamos que somos
parte de um conjunto onde tudo parece estar bem. É muito
comum uma pessoa consumir o mesmo produto de uma cele-
bridade, que aparece nas capas das revistas como alguém de
sucesso, de destaque, num sonho efêmero de fama numa vida
de ilusões midiáticas. Os padrões e modelos de comporta-
mento sugeridos pelas revistas, pela televisão e por filmes são
imitados por muitos que não pretendem assumir suas diferen-
ças perante o meio social, sentindo que é mais fácil seguir junto
com a manada do que ousar a abertura de novos caminhos. É
necessário assumir as nossas imperfeições e aceita-las, para
que nossa vida não seja decidida por padrões sociais que anu-
lam nossa identidade e criatividade.

4 – O quarto aspecto do consumismo se baseia na criação de


necessidades falsas. Isso significa tão somente acreditar que
precisamos de uma coisa, quando na realidade não precisa-
mos. A maioria das pessoas possuem muito mais coisas do
que de fato precisam. Temos mais roupas do que precisamos,
comemos mais do que precisamos, saímos mais do que preci-
samos, temos mais objetos do que precisamos, nos enfeitamos
muito mais do que precisamos, consumimos mais remédios do
que precisamos. Há até mesmo mulheres que fazem plásticas

479
de modificação corporal sem a menor necessidade. Tudo isso
nos leva a ter cada vez mais uma vida de superficialidades,
onde nos envolvemos demasiadamente com coisas e situa-
ções que absolutamente não são necessárias a nossa vida. Em
nome de nossa felicidade precisamos aprender a separar as
necessidades reais das necessidades imaginárias e criadas
pela mídia e por desejos inconscientes supérfluos.

5 – O quinto aspecto do consumismo nos informa algo muito


sutil, mas não menos real: o significado de certas coisas que
compramos é simbólico, e não literal. Isso significa que muitas
vezes não compramos um produto apenas pelo produto, mas
sim por algo que esse produto parece agregar a nossa perso-
nalidade. Por exemplo: em algumas propagandas de sabão em
pó aparece uma dona de casa muito feliz e independente, que
esnoba seu marido demonstrando que não precisa dele. No
fundo o que essa propaganda quer vender a pessoa não é ape-
nas o produto, mas um falso benefício psicológico. Muitas mu-
lheres de hoje anseiam em não depender dos seus maridos, e
quando uma dona de casa vê uma propaganda onde está as-
sociado o sabão em pó com a independência, fica registrado
em seu inconsciente que aquele sabão em pó não trará apenas
uma melhor limpeza de sua roupa, mas trará também indepen-
dência, liberdade, autoestima, e outros benefícios subjetivos.
Outro exemplo são propagandas de cerveja onde homens feios
aparecem com mulheres lindas. O teor da propaganda não é
apenas vender a cerveja por ser gostosa, mas sim vender a
ideia de que mesmo homens feios, caso entrem no mundo da
boemia, são capazes de ter mulheres lindas como a da propa-
ganda. Isso significa que as propagandas não vendem apenas
o produto, elas vendem também ilusórios benefícios psicológi-
cos de um público que anseia por eles. Para algumas pessoas,
o significado simbólico daquilo que compramos muitas vezes
conta mais do que os benefícios do produto em si. É preciso
entender que nenhum produto pode oferecer aquilo que preci-
samos resolver dentro de nós, em nossa vida diária. Uma dona
de casa não será mais independente por ter comprado um sa-
bão em pó; ela deve buscar essa independência por si mesma,
sem as ilusões que a propaganda leva a crer.

Há mais aspectos que poderiam ser citados, mas esses cinco


já resumem boa parte do que cada pessoa precisa saber para
não se deixar manipular pelo mundo do consumismo. Entenda

480
que você pode ser feliz por você mesmo, sem precisar de coisa
alguma.

481
UM OBSESSOR NO CENTRO ESPÍRITA

Num centro espírita famoso e muito frequentado, senhor Rai-


mundo estava iniciando os trabalhos de desobsessão. Seu Ra-
imundo, como bom doutrinador espírita há mais de 30 anos,
fez uma prece de abertura e pediu a Jesus que ajudasse a li-
bertar todos os irmãos que viessem a sala de desobsessão do
sofrimento que atravessavam.

Raimundo viu o médium incorporar um espírito que dizia estar


no umbral, sofrendo muito por conta da raiva e mágoa que sen-
tia de um desafeto. Senhor Raimundo iniciou então os procedi-
mentos da desobsessão clássica e disse que o espírito deveria
perdoar o desafeto, pois a lei do amor é a nossa salvação.

O espírito incorporado, com olhar penetrante, disse:

– E por que devo confiar em você?

– Ora meu irmãozinho – disse Seu Raimundo – Estamos aqui


num centro espírita, onde os ensinamentos de Jesus são pra-
ticados. Nós aqui ajudamos todos os espíritos sofredores e ne-
cessitados.

– E você também ajuda a si mesmo, ou só pensa em ajudar os


outros? Perguntou o espírito. Seu Raimundo ficou surpreso
com pergunta, mas como doutrinador experiente sabia que não
podia cair nas artimanhas dos obsessores, e disse:

– Irmão… não estamos aqui para falar de mim. Você está no


umbral e precisa de ajuda. Você não quer sair do umbral?

– Sim, eu quero. – disse o obsessor – Eu só fico me pergun-


tando como existem tantas pessoas vivendo no nível ou no es-
tado umbralino e não percebem, mesmo estando encarnados.
Pois afinal, como o senhor mesmo ensina em suas palestras
aqui no centro, o umbral é um estado de consciência e não um
lugar ou espaço físico. Alguns espíritos vivem no umbral por-
que não conseguem se desprender da raiva e mágoa que sen-
tem de um desafeto. Mas o senhor, seu Raimundo, perdoa to-
das as pessoas? Não sente também raiva e mágoa de alguém?
Senhor Raimundo estava ficando irritado com o obsessor. Es-
tava pensando numa resposta, mas o espírito completou:

482
– Não é verdade que o senhor também sente raiva e mágoa da
sua ex-esposa, que te traiu com um dos seus amigos há apro-
ximadamente 10 anos? Não é verdade que até hoje você não
consegue perdoa-los?

Senhor Raimundo ficou assustado com aquelas colocações.


“Como o espírito poderia saber disso?” pensou. Começou a
sentir raiva do obsessor, e não muito confiante, disse:

– Não vou entrar na sua cilada. Você como obsessor experi-


ente deve atacar as pessoas em seus pontos fracos. Portanto,
saiba que…

– Eu sou um obsessor, senhor Raimundo? – perguntou o espí-


rito interrompendo seu Raimundo. – Eu me pergunto se todos
nós não somos um pouco obsessores das pessoas que dize-
mos amar, mas que no fundo as tentamos controlar e ganhar
seu afeto a força. Não é verdade que você tem sido quase um
obsessor da sua filha adolescente? Quantas vezes por dia
você liga pra ela perguntando onde ela está? Quantas vezes
você proibiu os namoros dela? Quantas vezes você tolheu a
liberdade da sua menina por conta dos próprios medos e incer-
tezas que guarda em seu íntimo? Você pode estar sendo um
grande obsessor encarnado dela e nem perceber…

Seu Raimundo ficou atônito com aquelas revelações. Aquele


espírito parecia saber tudo a seu respeito, e estava ali desnu-
dando seus defeitos um a um. Seu Raimundo ainda não queria
dar o braço a torcer e ficou com mais raiva. Resolveu fazer uma
oração, dizendo:

– Senhor Jesus, peço que sua equipe conduza esse irmãozi-


nho perturbado a um local de tratamento no plano espiritual. O
espírito disse:

– Por que me chamas de irmãozinho, se nesse momento você


quer, na verdade, pular no meu pescoço? De que adianta fazer
uma oração a Jesus com toda essa raiva que quase transborda
de você? Não, Jesus não vai te atender nesse momento…
Você precisa, Seu Raimundo, parar de fugir dos seus proble-
mas e emoções, olhar para as impurezas do seu ser, e parar
de achar que é o outro sempre o sofredor e você é o “salvador”.

483
Na verdade, todos nós precisamos de ajuda, todos somos so-
fredores em maior ou menor grau. E orientar o outro a praticar
aquilo que nós mesmos não realizamos em nossa vida é, nada
mais nada menos, do que hipocrisia. É da hipocrisia que o ser
humano precisa se libertar… Ensinar aquilo que pratica, ou
apenas praticar, sem precisar orientar os outros a fazer aquilo
que nós mesmos não fazemos. Quando se vive a vida espiri-
tual, nem precisamos ficar ensinando-a a outros, nossos atos
já demonstram os princípios que desejamos transmitir…

Seu Raimundo sentiu uma imensa vontade de chorar e desa-


bou em prantos… O espírito incorporado veio falar com ele.
Colocou as mãos em seu ombro e disse:

– Calma meu irmão. Você precisava dessa terapia de choque


para poder enxergar a si mesmo e parar de ver os defeitos ape-
nas nos outros. Precisava também parar de se ver como o “sal-
vador” e os outros como “sofredores”, pois isso nada mais é do
que uma forma de orgulho e soberba; é uma forma de se sentir
superior e de ver os outros como inferiores. Chore, coloque
tudo isso que você sente para fora, faça uma revisão desses
pontos que eu te apresentei, e a partir de agora você poderá
se tornar um verdadeiro ser humano, renovado, e pronto para
ajudar ao próximo, realizando a verdadeira caridade… E dessa
vez, sem hipocrisia.

Seu Raimundo, após alguns minutos de choro intenso, olhou


para o espírito e perguntou:

– Mas afinal… quem é você?

O espírito olhou para seu Raimundo com todo o amor e carinho


e disse:

– Meu filho, você não pediu a Jesus, em sua prece de abertura


dos trabalhos, que libertasse os espíritos dessa sala do sofri-
mento? Então meu filho, Jesus me pediu que viesse aqui e
mostrasse tudo isso a você, para que você pudesse ver a si
mesmo, saísse do “umbral” de sua mente, e se libertasse de
tudo aquilo que te causa sofrimento. Sou um enviado de Jesus,
e a partir de agora, você será um novo homem…

484
Seu Raimundo chorou ainda mais. Agradeceu imensamente a
Deus e a Jesus aquela sagrada lição de autoconhecimento…
Depois desse episódio, tornou-se uma pessoa muito melhor…

485
A ORAÇÃO DE DEUS

Um homem estava orando a Deus fervorosamente dizendo:

– Deus, escute o meu pedido. Faça com que o meu chefe, ó


Deus, me dê uma promoção, preciso ter um salário melhor.
Faça também com que minha esposa me dê mais atenção e
me trate bem. Faça com que meu filho, ó Deus, estude e con-
siga aquela bolsa de estudos para a faculdade. Ajude-me tam-
bém na doença do meu pai, que já está bem velhinho e o ajude
a sobreviver meu Deus. Faça também, ó Deus, que eu seja
uma pessoa mais feliz.

Do outro lado do cosmos, Deus, o Senhor de tudo o que existe,


ouviu a oração do seu filho… Ele também está, nesse mesmo
momento, fazendo uma oração a este mesmo filho. Deus diz:

– Meu filho, escute você este meu pedido. Ao invés de querer


sempre que Eu te escute, procure você escutar mais a Mim, a
natureza, as pessoas e a vida. Ao invés de ficar sempre orando
para que eu te dê tudo, entenda que existem coisas que iriam
mais te prejudicar do que te beneficiar caso você as conse-
guisse. Entenda que crescemos interiormente mais com a falta
do que com as conquistas mundanas, e que o mais importante
não é o que se ganha, mas o que se ganha interiormente
quando há algo que se perde exteriormente.

Quanto ao seu chefe, ó meu filho, procure não ser uma pessoa
tão arrogante diante do seu chefe, e pare de ficar disputando
com ele. Aprenda a lição da humildade, e assim, você poderá
conseguir coisas muito mais importantes em sua vida do que
tão somente uma promoção.

Quanto a sua esposa, ó meu filho, de nada adianta me pedir


que ela te trate bem se você não dá atenção a ela e a relega a
um segundo plano. Afinal, fui eu mesmo que coloquei vocês
dois juntos para que, nessa convivência, um ajude o outro a
enxergar os seus próprios defeitos, e num auxílio mútuo de
amor incondicional, vocês possam crescer conjuntamente
como seres humanos.

Quanto ao seu menino, ó meu filho amado, não mime ele como
você vem fazendo. Pare de descontar nele a sua carência

486
dando tudo o que ele lhe pede para receber o pouco do carinho
que ele lhe dá. Ao contrário, ensine-o o valor do esforço pes-
soal e pare de paparica-lo e de dar milhares de benesses, pois
assim ele terá mais espaço para crescer por si mesmo. Se eu
que sou Deus não dou tudo o que vocês pedem, para ajudar
vocês a se desenvolverem, tampouco vocês, seres humanos,
devem dar tudo a seus filhos terrenos, pelo mesmo motivo.

Quanto a seu pai, ó meu filho, entenda que ele já cumpriu sua
missão na Terra. Entenda que você precisa se desapegar dele
e permitir que ele possa partir ao plano espiritual e retornar ao
seu lar cósmico. A morte do seu pai é um exercício de desa-
pego que eu coloco diante de você, e que também ajudará em
seu melhoramento espiritual.

Quanto a ser feliz, ó meu filho, por favor entenda de uma vez
por todas que nem mesmo eu, o Senhor de toda a Criação,
posso fazer isso por vocês, caso contrário, como vocês iriam
aprender e se melhorar se eu tudo lhes concedesse? Entenda,
meu filho, que nada é por acaso, que tudo ocorre por um pro-
pósito superior, e que não adianta me pedir coisas que, caso
eu lhes desse, iriam prejudicar vocês. Se há algo que vocês
não receberam, é porque é exatamente isso que vocês preci-
sam, nem mais nem menos. Não creia que vou te proteger re-
tirando-o das provas ou amenizando esta ou aquela situação
de sofrimento, pois muitas vezes você está mais protegido pas-
sando pela provação do que se eu a evitasse. Entenda, princi-
palmente, que tudo na vida são provas que visam aperfeiçoar
e purificar o seu espírito.

Por outro lado, meu filho, entenda que a verdadeira felicidade


não depende de coisa alguma, e que para ser feliz é necessário
ser feliz por si mesmo, sem que qualquer coisa possa te tirar
essa felicidade ou mesmo te dar essa felicidade. Reflita, ó meu
filho, nestas palavras e receba meu amor incondicional. Esta é
a minha oração para ti.

487
A CHUVA DIVINA

Há uma lenda muito antiga que conta uma estória importante.


Deus, o Senhor supremo do universo, residia acima de imen-
sas nuvens. Ele enviava à Terra bênçãos celestes em forma de
chuva cósmica. De vez em quando caía um grande temporal e
toda a humanidade se apressava em tentar receber a água sa-
grada que caía do céu.

Nessa época, a terra era muito seca, e assim que chovia, o solo
sugava toda a água enviada por Deus. Por isso, as pessoas
levavam copos para poder receber a água divina e bebe-la.

O curioso é a forma como as pessoas recebiam a chuva de


Deus. Alguns levavam copos bem pequenininhos, onde quase
não cabia a água da chuva. Outros levavam copos um pouqui-
nho maiores, e podiam beber melhor. Outros ainda levavam
copos grandes, bebiam a água e matavam sua sede. Outros,
no entanto, construíram grandes baldes, largas bacias para
que em tempos de seca jamais faltasse a água celeste.

Aqueles que levavam apenas um minúsculo copinho diante da


chuva de Deus, acabavam ficando com muita sede depois. Os
que traziam copos maiores, ficavam com menos sede. Aqueles
que traziam bacias maiores, conseguiam armazenar a água, e
não tinham mais sede, pois possuíam água à vontade.

Pessoas que levavam copos diminutos quase sempre reclama-


vam que Deus não lhes dava nada, que eles eram injustiçados
e que o plano divino os havia esquecido. Os sábios anciãos,
cujas bacias eram enormes, alertavam essas pessoas de que
Deus não os havia esquecido e que não existia qualquer injus-
tiça, mas que tudo dependia do tamanho do copo que eles usa-
vam para armazenar a água. Um copo pequeno guardaria me-
nos o líquido divino e um copo maior, obviamente, recolheria
uma maior quantidade das dádivas divinas. Mas parece que
poucos ouviam e compreendiam esse princípio. O resultado
era a sede de coisas materiais e uma sensação de falta, de
tristeza e de vazio.

Pare e reflita qual o tamanho do copo que você está utilizando


para receber a água divina. Não adianta reclamar da ausência
de sentido em sua vida, pois é necessário abrir-se por inteiro

488
para receber as dádivas divinas. Não é Deus que não está pre-
sente, o seu copinho é que pode ser muito pequeno.

489
A FÁBULA DO PINTINHO E DO OVO

Uma galinha morava numa linda fazenda, junto com os pinti-


nhos. Um dos seus filhos, o pintinho mais novo, era muito con-
fiante, gostava de provocar seus irmãos, desafiava os outros
animais e era meio desajuizado.

Certo dia, sua mãe, a galinha, pôs vários ovos. Depois reuniu
todos os pintinhos e disse:

– Vocês não devem mexer nesses ovos, pois deles vão nascer
lindos pintinhos, como vocês. Deixem que eles choquem e com
o tempo, eles vão nascer.

Passados vários dias, já estava chegando o tempo do novo


nascimento. Os ovos já davam alguns sinais de que estavam
quase chocando, e próximos de nascer. O pintinho desajuizado
também era bastante ansioso. Ele observava seus futuros ir-
mãos no ovo e pensou:

– Bom, talvez não seja preciso esperar que eles nasçam sozi-
nhos. Eu posso ir até os ovos e quebra-los. Assim eu os ajudo
a nascerem mais rápido.

O pintinho foi até os ovos e quebrou o primeiro. Ele acreditava


que estaria ajudando seus irmãos a nascerem, mas para sua
surpresa, após quebrar o primeiro ovo, ele viu um feto de pinti-
nho morto lá dentro. A galinha ouvindo algo estranho foi ver o
que estava acontecendo, e descobriu o que ocorreu. Ela brigou
feio com o pintinho desajuizado e disse:

– Veja bem, tudo na vida tem um tempo próprio para acontecer.


Muitas vezes acreditamos que estamos ajudando o outro a
romper a sua casca, mas o estamos matando. Isso ocorre por-
que, quando se rompe a casca de fora para dentro, o resultado
é a morte. Mas quando se rompe a casca de dentro para fora,
o resultado é um novo nascimento.

Nesse momento, um dos ovos começou a romper. A galinha e


todos os pintinhos foram ver. Com muito esforço, o ovo foi que-
brado de dentro para fora, e o resultado foi o nascimento.

490
O pintinho desajuizado olhou admirado e percebeu claramente
a verdade de que somente se pode quebrar a casca e se nas-
cer de dentro para fora.

Na vida humana ocorre o mesmo. Quando forçamos alguém a


romper seus limites de fora para dentro, quebrando a “casca”
de suas imperfeições, o resultado pode ser a morte dessa pes-
soa, a morte interior por termos forçado alguém a ir além do
que era possível a ela. Mas quando a própria pessoa encontra
força dentro de si e rompe seus limites, como o pintinho rompe
sua casca, o resultado é sempre um novo nascimento.

491
EU ESTOU CERTO

Uma das coisas mais importantes para o ser humano é


demonstrar que ele está certo.
O ser humano quer provar que ele tem razão; que ele sabe
mais; que ele é mais esperto.
Numa conversa comum, numa discussão teórica, ao ver
televisão, ler jornais, ou simplesmente pensar sobre uma
questão.
O que desejamos é estar certos e demonstrar de alguma
forma que o outro está errado.
Nosso mundo gira em torno dos nossos pensamentos, das
nossas crenças, do nosso conhecimento.
Quando alguém diz que estamos errados, nos apressamos
em negar o erro e ansiamos declarar que: “Eu estou certo”.
Nossa insegurança se ativa, nos sentimos ameaçados, nos
sentimos rebaixados e isso provoca um sentimento de
inferioridade.
Uns sempre querendo estar com a razão, e os outros
querendo eles estarem com a razão. Uns tentando tomar do
outro o precioso ouro da razão. Um roubando do outro a
sagrada razão. Um digladiando contra o outro para obter a tão
desejada razão. Mas esse ouro nada mais é do que um ouro
de tolo.
Discussões teóricas intermináveis, com argumentos
distorcidos, artifícios persuasivos, estratégias de
convencimento: forçamos o máximo para rebaixar o outro ao
erro e nos sentirmos por cima, verdadeiros donos da razão
que almejamos ser.
Acreditamos na ilusão de que existe uma razão a ser
defendida, e acreditamos, além disso, na ilusão de que somos
os donos dela.
Ninguém pode ser dono de algo que não pode pertencer a
ninguém, simplesmente por ser a razão uma criação humana.
Se num dado momento nos convencermos de que estamos
certos e que sabemos uma coisa, logo depois essa coisa já
mudou, e não sabemos mais tanto assim sobre ela quanto
imaginamos.
O conhecimento sobre algo depende da época, das
circunstâncias, do consenso e do nível de entendimento das
pessoas que o percebem. Depende também do que eu quero
acreditar ou do que eu não quero acreditar.
Algumas pessoas veem algo e enxergam a verdade que o

492
outro vê; outros veem a mesma coisa e não conseguem ver o
que o outro percebe e nem enxergar a verdade que o outro
consegue captar.
Você pode explicar pormenorizadamente, em detalhes, por
horas e horas, e uma pessoa não compreender nada: entrar
por um ouvido e sair pelo outro; enquanto outros nem
precisam de qualquer explicação e já percebem rápida e
profundamente.
Certo e errado são apenas posições momentâneas, e que
dependem dos observadores externos. Para uns estamos
certos, e para outros estamos errados.
Mas que confirmação queremos de ter razão ou não ter
razão?
A maior confirmação que desejamos é o outro afirmar que
estamos certos, ou admitir nossa razão, ou se esquivar e
deixar de lado, confirmando, assim, a exatidão de nossa
opinião.
Mas a palavra do outro sobre nossa razão é a certeza da
razão?
Não, não pode ser. A confirmação do outro é apenas a visão
do outro, não é a razão em si.
E o que é uma opinião senão uma opinião? O que é uma
percepção, senão tão somente uma mera percepção?
Liberte-se do desejo de estar certo perante outros, e liberte-se
do medo de estar errado diante de alguém.
O outro não está mais certo que você, e você não está mais
errado do que outros. Você nunca obterá a certeza ou a
incerteza de coisa alguma.
E caso alguém confirme sua certeza, o que fará você com
ela? Isso te fará feliz? Serás melhor? Serás grande?
A energia que colocamos em estar certos, isso sim, nos
desgasta, nos rebaixa e nos degrada. Perdemos tempo e
vitalidade tentando provar algo para nós mesmos, na ilusão
do: “Eu sei mais do que ele”.
A única forma de nos sentirmos melhor, não é tomando a
razão dos outros, mas sim nos libertando da necessidade de
ter razão. Libertando-nos do desejo de ter razão e do medo
de não ter razão.
Liberte-se do desejo pela razão, por estar certo, por saber
mais, e isso te fará mais tranquilo e feliz.

493
A PORTA DA VERDADE

Um homem era apaixonado por uma mulher há muitos anos,


mas ela não parecia corresponder. Há tempos ele vinha espe-
rando por ela, guardando alguma esperança dela acordar e
perceber o quanto ele era um homem bom. A moça já havia
demonstrado algumas vezes que não o queria, mas ele ainda
mantinha uma chama acesa.

Seus amigos diziam que ele estava se enganando, e que para


o seu bem, largasse essa ilusão que o estava prejudicando e
fazendo sofrer. No entanto, apesar de sentir uma forte dor no
peito, ele admitia que tinha medo de encarar a verdade, pois
saber que não havia chance de uma união era por demais do-
loroso para ele.

Certo dia, após chorar por horas a fio, o homem estava muito
deprimido, e resolveu fazer uma oração a Deus pedindo uma
ajuda sobre seu caso.

Ele adormeceu e começou a sonhar… Sonhou que estava


numa sala ampla e toda branca. Olhou em volta e viu um anjo
ao lado de duas portas. Na porta da esquerda estava escrito
“Verdade” e na porta da direita estava escrito “Ilusão”. O anjo
olhou para o homem e disse:

– Escolha uma das portas e veja por si mesmo qual das duas
portas é a melhor.

O homem então escolheu primeiro a porta da verdade. Abriu a


maçaneta e começou a caminhar num local estranho. Subita-
mente, sentiu uma dor muito forte, quase insuportável. Caiu no
chão e ficou se contorcendo de dor. Alguns minutos depois, a
dor foi diminuindo, diminuindo, até que após mais um tempo,
passou completamente. O homem agora sentia-se bem e em
paz.

Saiu pela porta da verdade e entrou agora na porta onde estava


escrito “Ilusão”. Adentrou na porta e saiu num local aberto que
parecia muito bonito, como nos filmes de ficção. Subitamente,
começou a sentir uma dor, não tão forte quanto a dor da porta
da verdade, mas uma dor que latejava e doía mais profunda-
mente. O homem pensou que, da mesma forma que a dor da

494
porta da verdade passou, a dor da porta da ilusão também iria
passar, mas não foi o que ocorreu. Passaram-se minutos, ho-
ras, e um dia inteiro, e a dor permanecia exatamente a mesma,
com oscilações em maior ou menor grau. Passou-se o equiva-
lente a vários dias, e a dor continuou, não passava de jeito ne-
nhum.

O homem resolveu então sair da porta da ilusão e foi falar com


o anjo. “Por favor anjo, me explique o que isso significa” disse
o homem. O anjo respondeu:

– É simples. Isso se aplica ao que está ocorrendo entre você e


essa moça. A porta da verdade é aquela onde todas as pes-
soas encaram a verdade de frente, sem cultivar ilusões. A dor
da descoberta da verdade é muito forte e devastadora, mas
depois de um tempo passa… Mas a dor da porta da ilusão é
um pouco mais leve, mas não importa quanto tempo passe, ela
continua latejando dentro de nós e acaba sendo muito, mas
muito pior do que a porta da verdade. Encare a verdade que
essa moça não quer nada com você, e quando você fizer isso,
vai sofrer uma vez só, e depois vai passar… ao contrário de
continuar cultivando ilusões.

O homem compreendeu, e agradeceu ao anjo pelo ensina-


mento.

A verdade pode inicialmente doer muito, mas depois tudo


passa. No entanto, quem cultiva ilusões permanece com uma
dor que jamais passa, pelo simples motivo de que a própria
ilusão é a grande causa do sofrimento humano.

495
A VIDA NOS ENSINA

Maria Eduarda era uma pessoa orgulhosa e trabalhava como


faxineira em um restaurante. Ela detestava o trabalho que fa-
zia, pois acreditava que era algo menor, inferior, mas não tinha
escolha, pois precisava do dinheiro para se sustentar. Ela tinha
que engolir seu orgulho e aprender a ser humilde. A vida estava
lhe ensinando a virtude da humildade.

Jonathan era um rapaz muito preguiçoso. Não gostava de tra-


balhar e nem de estudar. Seus pais tiveram uma crise finan-
ceira e começaram a perder tudo o que tinham. Jonathan es-
tava agora numa encruzilhada, pois precisava tomar uma ati-
tude e arranjar um emprego, assim como iniciar seus estudos.
A vida estava lhe ensinando o valor do esforço e a sair do con-
formismo.

Elaine era uma pessoa muito nervosa, irritada e não admitia


receber ordens. Trabalhava em um banco quando certo dia
houve uma mudança na equipe. O novo chefe era um homem
autoritário e começou a pegar no pé de Elaine. A moça, muito
irritada, não podia responder nem brigar com ele, caso contrá-
rio seria demitida. Por isso foi obrigada a se controlar e a rele-
var certas atitudes do chefe. A vida estava lhe ensinando a ser
uma pessoa menos nervosa e mais tranquila.

Augusto era um homem muito organizado, muito certinho e ti-


nha horror a desorganização. Tinha crenças muito rígidas e era
bastante conservador. Certo dia, conheceu e se apaixonou por
uma mulher que era o oposto dele. A moça era liberal, não li-
gava para organização e não cultivava as mesmas crenças que
ele. Augusto detestava esse jeito da moça, mas a amava muito,
e por isso, foi obrigado a conviver com as diferenças e teve que
se tornar uma pessoa mais aberta. A vida estava lhe ensinando
o respeito as diferentes visões de mundo e comportamentos,
abrindo sua mente.

A vida sempre nos coloca em situações que nos obrigarão a


rever nossos comportamentos, valores e crenças e a nos tor-
narmos pessoas melhores. Não reclame ou fique brigando com
as circunstâncias, mas procure decifrar sua mensagem. Nada
disso é ruim, mal ou negativo, mas é apenas a força e a inteli-

496
gência da vida tentando te ensinar algumas lições de sabedo-
ria.

E você, que está passando por algum sofrimento, reflita… O


que a vida está querendo te ensinar?

497
PERGUNTAS PARA A VIDA

Qualquer pessoa, seja homem ou mulher, de qualquer profis-


são, de qualquer religião e de qualquer classe social deve res-
ponder para si mesmo algumas perguntas básicas sobre a
vida, se um dia quiser viver em paz interior.

Responda essas doze perguntas com toda a sinceridade, e


veja qual é o resultado:

São as suas coisas e bens que te possuem ou você possui as


suas coisas e os seus bens?

Você dá mais valor às aparências, à forma, à apresentação, ao


exterior, ou dá mais valor à essência?

Você cria necessidades ilusórias de coisas que não precisa, ou


consegue viver bem apenas com o necessário?

Você cria muitas expectativas sobre as pessoas e a vida, ou


não espera que a vida ou as pessoas correspondam ao que
você deseja?

Você acredita que é vítima das circunstâncias, da sorte ou do


azar, ou entende que é responsável pela sua vida?

Você faz o bem esperando ganhar algo em troca, ou o bem


realizado já é o ganho que você esperava?

Você deseja impor as suas verdades a outros, ou aceita as ver-


dades dos outros com respeito?

Você sacrifica sua vida interior visando algumas conquistas


mundanas, ou sacrifica algumas conquistas mundanas visando
paz na sua vida interior?

Você reclama do que tem achando que a vida tem obrigação


de lhe dar mais, ou agradece o que a vida te deu e procura
fazer o melhor com o que tem?

Você foge de si mesmo e do enfrentamento de suas imperfei-


ções, ou aceita mergulhar em seu interior para resolver suas
más inclinações?

498
Você se acha melhor do que a média das pessoas, ou tem hu-
mildade e aceita trabalhar a si mesmo para se tornar alguém
melhor para si mesmo e para os outros?

Você ainda acredita que suas maiores conquistas são exterio-


res, ou já entendeu que suas maiores conquistas são interio-
res?

Analise bem essas doze perguntas. Se você estiver mais incli-


nado à primeira parte da pergunta, reveja profundamente a sua
vida. Por outro lado, se você estiver mais afeito a segunda
parte das perguntas, então continue assim, pois você está no
caminho certo para a paz interior.

499
A VERDADEIRA LIBERDADE

Há dois séculos, havia um homem que ficara preso por 10


anos. Nesse tempo ele foi submetido a condições muito degra-
dantes de vida, sem uma cama, sem comida decente e sem as
mínimas condições de higiene. Podia ver o mundo lá fora ape-
nas por uma pequena fresta no muro de pedra, que dava para
um imenso oceano com uma pequena praia ao lado da prisão.
Esse homem havia sido preso injustamente e tinha verdadeiro
ódio pelos responsáveis por sua prisão.

Finalmente chegou o grande dia! Ele foi libertado e voltou pra


casa. O tempo foi passando e ele não conseguia esquecer todo
o martírio passado na prisão. Lembrou-se de como foi traído
por antigos colegas que o acusaram injustamente e provoca-
ram sua prisão. Não conseguia libertar-se da pesada mágoa
que oprimia a cada dia seu coração. A todo o momento lem-
brava-se das condições subumanas que viveu na prisão e co-
meçava a chorar. Já não conseguia sair de casa e perdera o
gosto pela vida. Caiu em profunda depressão…

Depois de quase um ano nessa situação, sentiu que precisava


voltar na prisão, não sabia o porquê. Lá chegando, pediu para
rever seu cárcere, o que foi concedido pelos guardas. Encon-
trou na mesma cela que ficara por longos dez anos um homem
sentado no chão, com semblante de tranquilidade e até esbo-
çando um certo sorriso ao vê-lo. O homem muito estranhou o
humor do preso, pois como era possível alguém encarcerado
naquelas condições estar com relativo bom humor?

Falou com ele e o preso lhe contou sua história, que por sinal
era muito parecida com a história do homem. O preso também
fora traído por amigos próximos e por sua esposa, que o entre-
gara as autoridades. O homem não se conteve e perguntou
como era possível depois de ter passado por tudo isso, estando
preso naquele lugar horrível, ele sentir-se mais ou menos bem.
O homem respondeu:

– Não penso no tempo que perdi aqui; penso em tudo o que


vou ganhar após minha libertação, que será daqui há 1 ano. O
tempo que passei aqui preso acabou servindo para me fazer
valorizar a vida e a liberdade. Por isso, quando fecho os olhos
a noite, me imagino nadando nesse maravilhoso oceano, cor-

500
rendo por essa praia, saindo para pescar, e me vejo com de
infinitas possibilidades. Decidi perdoar a todos que me fizeram
mal, pois afinal eu também tenho muitos erros. Não guardo
mais mágoa em meu coração e escolhi ser feliz e aceitar as
pessoas como elas são e a vida como ela é. Na verdade, nunca
me senti tão eu mesmo e, para ser sincero, hoje me sinto li-
vre…

Podemos estar presos na mais fechada masmorra e mesmo


assim nos sentirmos livres; assim como podemos estar livres
no mais aberto oceano e mesmo assim nos sentirmos presos
por mágoas, culpas, ódios e traumas passados.

A verdadeira liberdade está na mente; está dentro de cada um.


Quebre os muros da prisão do passado. Não há nada que te
prenda a não ser você mesmo.

501
O PODER PESSOAL

Há alguns séculos, um homem foi procurar o conselho de um


sábio para saber como deveria se comportar diante de sua co-
munidade. Sua mulher o havia traído, e por conta disso o ho-
mem estava sendo vítima de todo tipo de chacota, de deboches
e escárnio por parte do povo. Ele quase não podia mais sair de
casa que todos caçoavam dele. Contou ao mestre o seu caso
e este lhe disse:

– Você precisa resgatar o seu “poder pessoal”. Dessa forma,


ninguém mais vai menosprezar você.

O homem encheu-se de energia, e voltou ao vilarejo. Assim


que chegou, ouviu alguns homens debochando dele e lem-
brando da traição. O homem lembrou-se do conselho do sábio,
tomou coragem e sentiu seu próprio poder. Foi até os homens
e ordenou que se calassem imediatamente, dizendo que ele
não iria mais tolerar nenhum tipo de zombaria. Os homens não
gostaram nem um pouco dessa atitude, e atacaram o homem,
agredindo-o violentamente.

Todo machucado, o homem voltou à presença do sábio e con-


tou o ocorrido. O sábio disse que o homem ainda não estava
de posse de seu poder pessoal e deu algumas instruções adi-
cionais.

No dia seguinte, o homem voltou ao vilarejo, e dessa vez com


um brilho de serenidade nos olhos. Sentou no bar e, sem muita
demora, logo se iniciaram as brincadeiras, as ironias e todo tipo
de gozação. O homem tomou sua bebida tranquilamente e,
após uma hora, saiu dali. Caminhando na rua, algumas pes-
soas gritavam frases lembrando a traição, mas o homem pare-
cia impassível diante de tudo aquilo.

O tempo foi passando… Por mais que os habitantes da comu-


nidade tentassem desestabilizar o homem evocando a traição
de sua esposa, ele parecia não se deixar irritar. Após alguns
meses, ninguém mais falou qualquer coisa escarnecendo o ho-
mem, e ele deixou de ser o centro das atenções.

Voltou então à companhia do sábio e contou tudo o que acon-


teceu. O sábio assentiu com a cabeça e disse:

502
-Sim, muitos acreditam que o poder pessoal tem a ver com a
força exterior, com a imposição de nossa vontade, com subju-
gar, constranger ou obrigar algo ou alguém. Mas não… Esse
poder é passageiro, ilusório e sujeito às condições do meio.

– O resgate do poder pessoal não é ser forte ou poderoso di-


ante dos outros, mas sim ser forte interiormente, resistindo a
pior tempestade, para que nada nos abale e possamos viver
na paz interior.

503
O RÁDIO DA MENTE HUMANA

Nossa mente é como um rádio…. Você vai receber as frequên-


cias mais ou menos claras e elevadas dependendo no que
você vai sintonizar.

Se você sintoniza nas ondas AM, você receberá o som com


chiados, ruídos, barulho, confusão dos estados de mente e das
zonas espirituais inferiores….

Se você sintonizar na FM, as frequências mais elevadas, pode


ouvir o som claro, nítido, puro, sem chiados e sem interferên-
cias de nenhum tipo. Pode ouvir a “música clássica” do plano
espiritual e sentir a pureza do cosmos.

Aquele que sintoniza as frequências AM, de ódio, mágoas,


culpa, desespero, tristezas, apego, vícios, críticas, julgamen-
tos, desejos, paixões, medos etc… Esse está sintonizando com
as frequências mais baixas e está abrindo sua mente para
captar apenas chiados, apenas barulhos caóticos, interferên-
cias, confusão mental e infelicidade.

No entanto, aquele que se liberta dos desejos, dos apetites


mundanos, das autocobranças, da culpa, dos medos, da von-
tade de ganhar, da busca pelo elogio e da fama, das exigências
por estabilidade material, conforto e segurança humana, esse
consegue elevar sua consciência as frequências mais elevadas
e liberta seu ser de todo sofrimento das sintonias inferiores.

Portanto, sintonize bem a sua mente. Nossa mente é uma


grande antena que capta as vibrações mais baixas ou mais ele-
vadas do cósmico. Tudo se faz por sintonia e afinidade.
Sintonize com o plano espiritual elevado, e sua vida será pura
como a água mais cristalina da fonte.

504
ENSINAMENTOS DE VIDA

Qual a maior realização? O encontro consigo mesmo.


Qual a melhor forma de aprender? Com os próprios erros.
Qual a melhor orientação de certo e errado? A consciência.
Qual a maior virtude? A humildade.
Qual a melhor forma de tratar o outro? Deixando-o livre para
escolher sua própria vida e suas respectivas consequências.
Qual o sentido da vida? A própria vida.
Qual o maior inimigo? O ego (o egoísmo, o orgulho e a
vaidade).
Qual a melhor conduta? Amar a Deus sobre todas as coisas e
ao próximo como a ti mesmo.
Qual a maior mentira? Acreditar no transitório e na ilusão e
mesmo assim ser feliz.
Qual o maior erro? Abandonar a si mesmo em prol do mundo.
Qual o melhor relacionamento? Aquele que é recíproco.
Qual o melhor caminho? Aquele que te faz melhor.
Qual o melhor momento? O presente.
Qual a melhor forma de sentir a vida? A simplicidade.
Qual o maior atraso de vida? Enganar a si mesmo.
Qual a maior liberdade? Necessitar do mínimo para viver.
Qual o maior desafio? Aprender a amar incondicionalmente
Qual a melhor forma de viver em sociedade? O respeito às
diferenças.
Qual a melhor forma de evoluir espiritualmente? A renúncia de
si mesmo.
Qual o maior patrimônio? A paz interior.

505
SIGA EM FRENTE

Numa pequena cidade do interior, havia um padeiro, o dono da


padaria, que diziam ser um homem singular. Todos que entra-
vam em sua padaria podiam ler a seguinte inscrição numa
placa afixada na parede:

“A vida é feita de duas escolhas principais. Escolha sempre se-


guir em frente.”

Certo dia, um viajante passou pela rua da padaria e resolveu


comprar pão. Entrou no estabelecimento, viu a placa e não en-
tendeu direito seu conteúdo. O padeiro olhou para o forasteiro
e perguntou se ele queria comprar algo. O viajante disse que
havia ficado intrigado com a inscrição da placa e pediu ao pa-
deiro que explicasse seu significado. O padeiro respondeu:

– Meu caro, isso é simplesmente a vida…

Na vida humana temos sempre duas opções em tudo…

Ou ficamos remoendo as mágoas e dores, ou perdoamos tudo


e seguimos em frente.

Ou ficamos nos sentindo culpados pelos nossos erros, ou


aprendemos com eles e seguimos em frente.

Ou deixamos o medo nos paralisar, ou enfrentamos o medo e


seguimos em frente.

Ou caímos e ficamos no chão machucados, ou nos levantamos


e seguimos em frente.

Ou lamentamos as perdas do passado ou tentamos renovar


nossa vida no presente e seguimos em frente.

Ou nos acomodamos ao estado atual, ou agimos para mudar


as coisas e seguimos em frente.

Ou ficamos reclamando das desgraças da vida, ou assumimos


a responsabilidade de nossa vida e seguimos em frente.
Ou esperamos algo do outro e nos decepcionamos, ou passa-
mos a confiar em nós mesmos e seguimos em frente.

506
Ou vamos morrendo e definhando um pouco a cada dia, ou
vamos morrendo e renascendo um pouco a cada dia.
Tudo isso se resume em:

Ou viver esperando a morte, ou não esperar nada e viver a


vida.

O viajante ficou maravilhado com as explicações. O padeiro


concluiu:

Você, que está viajando, alguma vez ficou parado no mesmo


lugar indefinidamente? Não, pois isso atrasaria a sua viagem e
seria contraproducente. O ser humano é também um viajante
do cosmos, e não pode jamais ficar parado… É necessário
sempre seguir em frente, não importa o que aconteça. Então a
vida é sempre uma questão de ou ficar parado em algo, ou li-
bertar-se e seguir em frente. Essas são as duas escolhas do
espírito humano.

O que você tem escolhido até hoje? Não importa o que você
escolheu até agora. Siga em frente… O que importa é o que
você vai escolher a partir de agora.

507
A LUTA PELA ENERGIA

(Baseado em fatos reais)

Certa vez um homem estava meditando em seu aposento com


o objetivo de encontrar a paz dentro de si. De repente, ele per-
cebeu que sua alma estava saindo do seu corpo. Começou a
se ver chegando numa região espiritual muito pesada, onde
predominavam os instintos mais degradados dos seres huma-
nos. O chão era quebrado e seco, o céu era laranja escuro e o
ar parecia estar carregado de uma densa camada de poeira.

O homem foi então caminhando pela superfície dessa zona ca-


ótica e se deparou com uma placa onde se lia as palavras “Luta
pela Energia”. Não entendeu o que aquilo quis dizer, mas des-
confiou que precisava seguir em frente para receber alguma
mensagem sobre sua busca pela paz. Cruzou então o local
onde se situava a placa seguindo em frente.

Inesperadamente, apareceu em seu lado direito a cena de um


homem e uma mulher discutindo. No entanto, não era uma dis-
cussão comum, pois em determinado momento ele viu que a
energia da mulher estava sendo sugada pelo homem, e em ou-
tro momento, a energia do homem estava sendo sugada pela
mulher. Dentro daquela discussão, parecia que o objetivo de
ambos era um roubar a energia do outro, mesmo que disso eles
não tivessem consciência.

O homem continuou caminhando e viu agora uma cena de vá-


rias pessoas debatendo umas com as outras, sobre diversos
assuntos, e novamente viu uns roubando a energia dos outros
conforme iam se dando bem no debate.

Voltando a caminhar, o homem viu diversas cenas, onde pes-


soas tentavam tirar vantagem das outras, e a energia era rou-
bada; pessoas tentando controlar outras, e a energia era su-
gada de quem se deixava controlar; pessoas manipulando ou-
tras, enganando, dissimulando etc, e a energia das vítimas
passava aos manipuladores.

O homem viu também cenas de pessoas orgulhosas tentando


rebaixar outras e com isso extraindo a energia de quem se sen-
tia por baixo do orgulhoso. Logo depois percebeu esse mesmo

508
processo em empresas, organizações etc, onde os superiores
hierárquicos extorquiam os subordinados e com isso lhes rou-
bavam as energias. Viu o mesmo em religiões, onde falsos pro-
fetas roubavam a energia dos fiéis.

Pôde ver também esse mesmo processo na família, onde pais


e mães roubavam energia dos filhos em brigas, tentativa de
controle, humilhações, jogo de culpas, chantagens, ciúmes,
etc, e os filhos depois se vingavam fazendo algo parecido; e o
mesmo ocorria entre irmãos e outros membros de uma família.
Depois disso o homem observou que tudo foi aumentando e
tomando proporções planetárias, e pôde ver claramente o
quanto a vida humana se baseia muitas vezes no roubo das
energias entre pessoas, onde uns se sentem mais fortes, e ou-
tros se enfraquecem. O homem então percebeu a presença de
alguém:

– Não se preocupe com isso – disse uma voz suave ao seu


lado – O mundo material tem como característica a chamada
“luta pela energia”, onde algumas pessoas sempre tentam su-
gar a energia de outras para se sentirem mais fortes, tentando
subjugar aqueles que se sentem mais fracos.

Ninguém deve ficar sugando a energia dos outros para se sen-


tir bem. Não manipule o outro para se sentir por cima. Não obri-
gue ninguém a nada. Não engane a ninguém para conseguir
algo do outro. Não lute contra alguém tentando obter algo
dessa pessoa. Não procure controlar o outro para que sua von-
tade prevaleça. Tudo isso é uma forma de sugar, subjugar e
extrair a energia do outro e rouba-la para que você se sinta
bem, forte e poderoso. Isso te prejudica e prejudica outras pes-
soas.

Não podemos ficar nos apoiando na energia dos outros, pois


assim jamais conseguiremos encontrar a luz divina dentro de
nós. Devemos apenas procurar nos sentirmos fortes e bem
pela essência divina em nosso interior, e não pelo furto ou ex-
tração de energias. Leve isso para a sua vida, e a paz interior
será uma realidade.

509
SER FELIZ EM UM RELACIONAMENTO

Rosana era uma jovem de 30 anos que não dava certo em ne-
nhum relacionamento. Já havia namorado várias vezes, mas
algo sempre dava errado e o relacionamento terminava. O má-
ximo que ela conseguia ficar com um homem era 8 meses, pois
depois desse tempo seus parceiros sempre terminavam o na-
moro.

O motivo que lhe davam do término era quase sempre o


mesmo: Rosana “sufocava” os homens e eles não aguentavam
tanta pressão. A jovem não conseguia entender por que fazia
isso. Por outro lado, ela tinha a mania de nunca ficar sozinha,
e sempre que terminava um relacionamento, já passava logo a
outro.

Certo dia, após sua última decepção amorosa, a jovem decidiu


que não queria mais namorar ninguém, e resolveu tomar cora-
gem e ficar um tempo sozinha. Logo na primeira semana, co-
meçou a se sentir angustiada; sentiu um vazio muito grande,
como se algo dentro dela não admitisse a solidão. Passadas
duas semanas, a solidão doía muito, cada vez mais. Após um
mês, estava quase insuportável a angústia de sentir-se sozi-
nha. Parecia que ela era a pior pessoa do mundo por não estar
namorando.

O tempo passou… Ela ficou 2 meses, 3 meses, 4 meses sozi-


nha, e aos poucos a angústia e o vazio começaram a diminuir.
Após 5 meses ela já não sentia mais aquele mal-estar de antes
em momentos de solidão. Somente após ter assumido seu pro-
blema e ter ficado solteira por um tempo, Rosana aprendera
algo muito valioso em sua vida: a ficar sozinha bem, sem ne-
cessitar de alguém para lhe dar sempre afeto ou sem necessi-
tar de alguém que lhe desse algum tipo de suporte emocional.
Ela havia buscado esse suporte dentro dela mesma, e agora já
não sentia mais a ânsia de ter que ficar com alguém para suprir
alguma carência ou algo que faltava em si mesma.

Em suas reflexões, ela conseguiu entender o motivo dos seus


relacionamentos não darem certo e chegou a seguinte conclu-
são, algo simples, mas que muitas pessoas ainda precisam
descobrir:

510
“Somente quando uma pessoa não depende do outro e conse-
gue ser feliz sozinha… é que ela pode ser feliz em um relacio-
namento e até mesmo em sua vida.”

511
A LENDA DA FLOR AZUL (Provação e Missão humana)

Há uma lenda muito antiga, que vem de tempos imemoriais, e


que se perdeu dos anais da história conhecida. É uma lenda
muito bela, que conta a estória de um menino de sete anos de
idade que se chamava “Archen”.

Havia uma serpente muito perigosa que passeava pela região


onde Archen morava. Essa serpente se chamava “Daimonia”,
muito conhecida por sua cor de um tom azul escuro. Muitas
pessoas haviam sido picadas e mortas por essa cobra. Seu ve-
neno era perigosíssimo, e dizem que era capaz de matar uma
pessoa em apenas 3 minutos. Archen, no entanto, era um me-
nino muito puro e abençoado pelos deuses. Por isso ele foi es-
colhido para uma missão que ajudaria todo o povo de sua re-
gião.

Certo dia, Archen estava brincando numa estrada de terra, num


lugar de muita natureza. Sua mãe estava sentada a uns 50 me-
tros do filho apreciando as belezas naturais. Archen andava
pela estrada, olhando os pássaros, quando de repente Daimo-
nia, a perigosa serpente apareceu ali. Archen não percebeu a
presença da serpente, e assim que a viu, ela pulou rapida-
mente na perna do menino, picando-o, sem que ele pudesse
esboçar qualquer reação. O menino sentiu a força da picada e
a dor latejante. Começou então a chorar muito… A lenda conta
que suas lágrimas caíram sobre o local da picada e depois der-
ramaram no solo. Como o veneno agia rapidamente, em 3 mi-
nutos o menino já estava morto. Foi encontrado pela mãe so-
mente uma hora depois.

A lenda pode parecer muito triste, mas ela tem um final feliz.
Archen foi enterrado no mesmo lugar onde a serpente o havia
picado. A estória termina dizendo que no exato local onde Ar-
chen foi enterrado, nasceu e desabrochou uma belíssima flor
azul, várias delas. Ao contrário da pele da serpente, a colora-
ção da flor não era de um azul escuro, mas de um azul muito
claro e límpido. Dizem que essa flor continha o precioso antí-
doto que por muitos séculos protegeu o povo da letal picada da
Serpente Daimonia. Assim, Archen teria cumprido a sua mis-
são e conseguido salvar a vida de milhares e milhares de pes-
soas de várias gerações seguintes, pois seu sofrimento fez
com que brotasse do solo uma sagrada flor que continha o an-

512
tídoto para o mal que há muito assolava os habitantes daquela
região.

Essa estória simples contém um significado muito profundo,


que serve para a vida de qualquer pessoa. Ela revela o sentido
do sofrimento e da missão que se segue a partir da cura, reno-
vação ou purificação que o sofrimento nos traz, assim como o
possível início de uma caminhada que semeará o mundo com
algum benefício espiritual, caso a pessoa permita o renasci-
mento. Essa lenda encontra correspondência em outras len-
das, como a lenda da flor de lótus, que da lama faz nascer a
flor com o branco mais puro da natureza, e também a lenda do
curador ferido, que se fere e desse ferimento nasce a cura para
o mal.

Vemos muito exemplos na vida humana de como um grande


sofrimento, uma ferida interior, uma doença, ou qualquer outra
adversidade ou provação pode se transformar num caminho,
numa missão ou na realização de um trabalho do bem que se
espalhe pelo mundo. Em Psicologia, esse processo se dá
quando alguém consegue transformar o seu maior complexo
num arquétipo, ou seja, num “modelo” que servirá de caminho
para que outras pessoas sigam seus passos e tomem um rumo
na vida. Vamos citar alguns exemplos:

Pessoas que sofreram graves doenças podem se transformar


em médicos, enfermeiros e curadores, e iniciarem a missão de
ajudar a curar outras pessoas. Pessoas que sofreram graves
acidentes, tiveram grandes perdas, podem iniciar campanhas,
ações ou projetos de lei que visem melhorar as condições que
provocaram os acidentes, como os acidentes de trânsito. Pes-
soas que passaram por depressões gravíssimas ou outros
transtornos psíquicos se tornam grandes terapeutas, psicólo-
gos ou ajudadores. Pessoas que viveram a extrema pobreza
criam ou se engajam em projetos sociais diversos. Pessoas
que foram injustiçadas e passam a lutar por justiça. Pessoas
que foram abandonadas na infância e lutam por iniciativas con-
tra o abandono, por adoção ou projetos a favor das crianças.
Pessoas que transformam um grande medo numa coragem
inspiradora; uma grande angústia no consolo; um grande ódio
num sublime amor; uma grande desesperança numa inabalá-
vel fé ou esperança na vida, que vem iluminar os passos de
outras pessoas.

513
Seria possível estender essa lista indefinidamente, citando
muitos exemplos de como é possível transformar um sofri-
mento numa missão em favor do coletivo, ou como transformar
um complexo, uma ferida interior, num arquétipo, ou modelo de
conduta e modo de ser que pode curar ou ser o guia de deze-
nas, centenas ou milhares de pessoas. Numa analogia com as
cores, Archen transformou o azul escuro da pele da serpente
no azul claro da flor. Outros podem transformar o vermelho es-
curo no vermelho claro; o amarelo escuro no amarelo claro; o
verde escuro no verde claro, dentre outros exemplos, e isso
depende da “cor” da “serpente” que te “picou” e feriu. Muitas
vezes, quanto maior o sofrimento, maior o poder de transfor-
mação quando a pessoa consegue se purificar através da pro-
vação, e consegue transformar a provação numa missão.

Você também pode transformar sua doença numa cura; seu


sofrimento ou provação numa missão, seu complexo num ar-
quétipo, modelo ou exemplo de vida. Basta fazer como Archen,
morrer para seu eu inferior e deixar a flor azul nascer do solo
do túmulo onde você enterrou o “velho homem”.

Transforme a serpente que te picou na flor que desabrocha,


esparge seu perfume, e que será o antídoto ou a luz para ou-
tras pessoas.

514
LIBERTE-SE DA PRISÃO

Aprende a possuir as coisas sem que elas te possuam.

Aprende a controlar a raiva para que ela não te controle e não


te faça cometer muitos erros.

Aprende a saborear a comida, controlar a gula e a consumir


comedidamente para que isso não te consuma.

Aprende a usufruir do desejo sexual, para que não te torne


um escravo do sexo.

Aprende a dar liberdade ao outro para não te prender no


desejo possessivo de controlar alguém.

Aprende a contentar-te com o que tens, ao invés de sofrer


sempre pelo que ainda não possuis.

Aprende a ser o que você é, sem tentar te prender na ilusão


de fingir algo que não faz parte de ti.

Aprende a ser humilde para ser livre, para que a máscara do


orgulho não te cegue, e assim te prenda.

Aprende a ser bom para ser forte, pois a maldade te


enfraquece e te joga no poço fundo da solidão.

Aprende a pensar no coletivo para ser feliz, pois o egoísmo te


prende na solidão e na frustração.

Aprende a amar sem esperar nada em troca, pois assim você


será amado e será mais feliz.

515
A PEDRA QUE ME JOGARAM

Havia um jovem de 22 anos que tinha diversos problemas. Ele


era tímido, tinha dificuldade de relacionamentos e vivia com
medo de tudo. Era filho de pais separados, que decidiram se
divorciar quando o jovem tinha 4 anos de idade.

Mas havia um problema… Toda vez que a mãe lembrava o filho


da importância dele tomar uma atitude e se libertar desses in-
fortúnios, o jovem sempre colocava a culpa em seu pai. Ele
dizia que, em sua infância, seu pai o havia traumatizado, pois
sempre repetia que ele não prestava; que ele era incapaz, que
os outros garotos eram melhores que ele, dentre outros absur-
dos.

A mãe concordava com o rapaz que seu pai era uma pessoa
difícil, mas enfatizava sempre a necessidade do filho se libertar
destes traumas e seguir em frente com sua vida. Mas o filho se
recusava alegando que os traumas estavam muito arraigados
dentro dele, e que a culpa era toda de seu pai. Esse discurso
do jovem já se perpetuara por anos e anos, sempre colocando
a responsabilidade de seus bloqueios em seu pai.

Certo dia, o filho estava dirigindo o carro e a mãe estava no


banco ao lado. O jovem estava mais uma vez insistindo na ideia
de que o seu pai era o culpado por todas as travas de relacio-
namento e medos que ele carregava na vida. De repente, al-
guém jogou uma pedra que caiu dentro do carro, pois o vidro
do veículo estava aberto, e quase acertou sua mãe. Ambos
tomaram um susto, mas nenhum prejuízo sofreram. A pedra
ficou no chão próximo dos pés da mãe.

O filho, dirigindo, pediu que a mãe jogasse a pedra para fora


do carro. A mãe disse que não conseguia fazer isso. O filho,
surpreso, perguntou por que ela não conseguia jogar a pedra
para fora do carro. A mãe disse:

– A culpa é de quem jogou a pedra, e eu fiquei traumatizada


com essa situação. Agora estou imóvel e não consigo jogar a
pedra para fora.

O filho não entendeu o motivo de mãe não conseguir jogar a


pedra fora, pois bastava se inclinar, pegar a pedra e tira-la do

516
carro. O filho disse que não estava entendendo e pediu para a
mãe explicar. A mãe respondeu:

– Isso lhe parece absurdo, mas é exatamente o que você faz.


Você joga a culpa no outro de ter jogado a pedra em seu carro.
Mas não importa se alguém jogou a pedra, quem mantém a
pedra ou qualquer coisa que jogarem dentro do veículo somos
nós mesmos. Não podemos agora mesmo retirar a pedra ati-
rada? Da mesma forma, uma pessoa não precisa ficar com o
lixo emocional que outra jogou nela, basta retirar o peso desse
lixo e seguir em frente. Não podemos evitar que outros ta-
quem pedras em nosso carro ou em nossa vida, mas podemos
nos desfazer de todas as pedras que nos jogaram.

O rapaz havia compreendido a fala da mãe. A mãe completou:

– Portanto, nunca esqueça disso: o que o outro faz com você


é de responsabilidade dele. Você manter isso dentro de você é
responsabilidade sua.

517
PROVAÇÕES DA VIDA

Deus nos tira o casaco para ver se nós aprendemos a resistir


ao frio.
Deus coloca uma estrada longa para ver se aprendemos a
caminhar.
Deus nos faz ficar cegos para ver se conseguimos enxergar
além das aparências.
Deus nos faz cair para ver se aprendemos a levantar.
Deus nos afasta das pessoas para ver se aprendemos a
valorizar o outro.
Deus nos coloca limites para ver se somos capazes de
supera-los.
Deus coloca barreiras em nossa frente para ver se somos
capazes de transpô-las.
Deus nos faz perder para ver se somos capazes de nos
desapegar.
Deus nos joga na escuridão para ver se somos capazes de
acender a luz.
Deus nos tira o chão para ver se somos capazes de voar.
Deus nos faz morrer para ver se, finalmente, nós somos
capazes de renascer.
Todas as circunstâncias da vida são provações que
necessitamos passar.
É como o aluno que faz uma prova…
A prova serve para testar seus conhecimentos,
Mas na vida as provações servem para testar o ser humano e
sua fé.
Avaliar, verificar e nos ajudar a viver na plenitude de nossa
ética, do nosso caráter, do nosso desprendimento, de nossa
fé e do nosso amor.
Quando Deus te tirar o chão, não reclame… Aprenda a voar.
Voe pelos espaços sagrados do despertar espiritual no seio
do infinito…

518
O ESPÍRITO DO MAL

Francisco era um rapaz de 30 anos e estava prestes a cometer


suicídio. Toda a sua vida estava bloqueada e nada dava certo.
A única coisa que o impedia de tirar a própria vida era a curio-
sidade em entender um sonho repetido que há quase dois anos
o assolava.

Nesse sonho, toda vez que Francisco estava próximo de reali-


zar algo, como conseguir um emprego, reaproximar-se de pa-
rentes e amigos, melhorar as condições do seu casamento,
dentre outras atitudes que poderiam dar um salto de qualidade
em sua vida, um homem aparecia no sonho e atrapalhava tudo.
Francisco começou a perceber que ele sempre falhava
quando, no dia anterior, sonhava com esse homem. O rapaz
estava convencido que esse homem era uma espécie de espí-
rito maligno ou demônio que o odiava e queria destruir sua vida.

Já cansado de ver sua vida desmoronando e o homem apare-


cendo repetidamente em seus sonhos e sempre o prejudi-
cando, Francisco resolveu procurar um vidente especialista em
interpretação de sonhos místicos, que diziam acertar tudo so-
bre a pessoa. O rapaz marcou o encontro, apresentou-se ao
vidente e contou sua situação. O vidente fechou os olhos, ficou
alguns minutos no que parecia ser um “transe”, retornou e
disse:

– Meu caro, quero que você feche os olhos. Esse homem inva-
sor do seu sonho, que o está prejudicando, quer falar com você
agora.

Francisco fechou os olhos e viu um campo aberto. Um minuto


depois começou a ver o homem de longe. O homem veio então
caminhando na direção de Francisco. O rapaz ficou com muito
medo e pensou em desistir, mas o vidente insistiu que ele de-
veria enfrentar esse medo para que tudo ficasse bem. Quando
o homem estava quase chegando, Francisco tomou um susto,
e ficou estarrecido com sua visão. Mal podia acreditar na iden-
tidade desse homem. Para sua imensa surpresa, o homem era
ele mesmo…

Francisco abriu os olhos e perguntou ao vidente o que aquilo


significava. O vidente disse:

519
– É simples. Durante todo esse tempo você mesmo estava boi-
cotando a sua vida. Nossa mente e nossa sombra interior são
os únicos que podem nos favorecer e nos prejudicar. Ninguém
tem poder sobre nossa vida. Você é a única pessoa que pode
fazer mal a si mesmo, mais ninguém pode. Você é seu grande
inimigo e ao mesmo tempo seu maior amigo. Ninguém pode te
bloquear ou te libertar a não ser você mesmo.

520
A VENDA NOS OLHOS

Uma adolescente e seu avô eram muito próximos. Eles sempre


conversavam sobre todos os assuntos, e o diálogo era sempre
muito aberto e sem restrições. Eram não apenas neta e avô,
mas também bons amigos.

Certo dia, a adolescente veio contar ao avô sobre o término de


seu primeiro namoro. Em prantos ela mal conseguia formular
as frases, tentando explicar ao avô o motivo do seu namorado
ter dito que não queria mais nada com ela, pois havia traído ela
e ficado outra pessoa. A menina estava inconsolável. Já o avô,
um homem equilibrado, fazia algumas ponderações importan-
tes, dizendo:

– Minha querida, pense bem, ao menos vocês tiveram um na-


moro rápido, foram apenas 7 meses juntos. Já pensou se fos-
sem anos e anos de relacionamentos que descambasse numa
traição? É sempre melhor descobrir logo quem é o outro do que
ficar se iludindo.

Mas a menina parecia não ouvir os apontamentos do avô e di-


zia que ela havia sido enganada por ele. Ela começou a relatar
todas as promessas que o namorado havia feito, todas as pa-
lavras bonitas que ele proferia a ela, todos os afagos, todos os
presentes, e outras coisas que indicavam que ele gostava dela.

– Ele me enganou vô! Dizia ela repetidamente ao avô.

O senhor continuava a consolando, mas depois de muito


tempo, ele percebeu que a neta não estava nem ouvindo o que
ele dizia, e ficava apenas repetindo que ele a havia enganado.
O avô sentiu que deveria ser mais direto com a neta e disse:

– Pare um pouco de falar querida, e me responda uma coisa.


Foi ele que te enganou, ou foi você que fechou os olhos para
quem ele era?

A menina ficou muda, não sabia o que dizer. O avô prosseguiu:

– Querida, há um grande ensinamento na vida que vou te pas-


sar agora. Guarde isso com você, pois te protegerá de muitos
infortúnios. Na maioria das vezes, ninguém nos engana num

521
relacionamento, nós é que fechamos os olhos para quem a
pessoa é de verdade. As pessoas gostam de cultivar ilusões, e
por isso querem enxergar apenas as promessas de amor
eterno, de estabilidade, de afeto, e de muitas outras coisas que
o outro nos diz. Mas verdadeiramente somos nós que fecha-
mos os olhos e optamos em não vislumbrar o outro dentro da
realidade. Portanto, jamais vende seu olhar e, por mais doce
que alguém pareça, não dê as costas para a realidade.

“Na maioria das vezes, ninguém nos engana em um relaciona-


mento, nós é que fechamos nossos olhos.”

522
SER E ESTAR

Um homem tinha uma história de vida muito sofrida. Foi mal-


tratado pelo pai, abusado pelo tio, sua mãe o abandonou, e
desde bem jovem ele já começara a trabalhar como marce-
neiro. O serviço era duro e muito desgastante. Por conta de
todos estes acontecimentos, ele sentia uma tristeza que quase
sempre o acompanhava.

Certo dia, o homem já não aguentava mais essa tristeza que


persistia em seus sentimentos e não lhe dava trégua. Foi então
passear na cidade onde morava. Sentou num banco, e nele
estava um senhor. De repente, o senhor puxou conversa com
ele e iniciou-se um diálogo leve. O homem, que continuava
sentindo a tristeza recorrente, sentiu que podia se abrir com o
senhor, e disse:

– Na verdade, sou uma pessoa triste, disse ele.


O senhor, que parecia ser um homem sábio e vivido, disse:

– Não, você não é uma pessoa triste…

O homem surpreendeu-se com essa afirmação. “Como ele po-


deria saber o que sou e o que não sou? Ele nem me conhece”,
pensou. O senhor então continuou a falar:

– Eu também não sou um senhor… Sim, é isso mesmo, e tam-


bém não sou um professor, como eu havia te falado agora. E
você não é um marceneiro e também não é um jovem…

O homem estava cada vez mais confuso. O senhor disse:

– Preste atenção… Eu não sou um senhor, eu ESTOU senhor.


Você não é um marceneiro, você está marceneiro. Você não é
jovem, você está jovem, da mesma forma que eu não sou um
professor, nem um pai, nem sou deste país, nem nada disso.
Eu estou essas coisas, eu não sou essas coisas.
O homem agora começava a compreender. O senhor conti-
nuou:

– Ninguém é alguma coisa, todos nós estamos. A vida humana


é apenas uma passagem, um processo. Nós incorporamos de-
terminadas posições sociais, papéis, funções e modos de estar

523
no mundo. Tudo na vida é um estado, ou seja, é sempre “estar
alguma coisa” e nunca “ser alguma coisa”. Portanto, você ja-
mais pode admitir que é uma pessoa triste, você apenas está
triste momentaneamente, mas isso um dia, mais cedo ou mais
tarde, vai passar, assim como tudo passa… e você verá como
você apenas “estava algo”, e não “era algo”.

O homem ouvia atentamente. O senhor concluiu:

– Tudo que existe nesse mundo é da natureza dos estados,


nunca da natureza do ser. O único que não é da ordem do estar
é Deus. Deus é da ordem do ser, pois ele é eternamente. Ele
é o ser que nunca deixará de ser. Deus não conhece estados,
ele simplesmente é. Quando nós, seres humanos, compreen-
dermos a diferença entre estar e ser, que nada é, e que tudo
está, entenderemos que vamos vivendo diversos estados até
chegar ao ser essencial que somos no infinito, pois em última
instância, somos como Deus, que não está, mas simplesmente
é…

524
A CASA VAZIA

Um homem procurou um grande mestre para lhe fazer uma


pergunta, visando melhorar a si mesmo. Ele disse:

– Mestre, gostaria de me tornar uma pessoa equilibrada, que


não se abala com coisa alguma. O que posso fazer para atin-
gir esse estado em que nada me abala?

O mestre respondeu:

– Antes de te responder, quero te pedir uma coisa. Vá até a


minha casa, que fica no alto dessa montanha, pegue tudo o
que estiver dentro dela, e traga para cá.

O homem não entendeu o pedido do mestre, mas fez o que ele


pediu. Subiu no alto da montanha e entrou na casa do mestre.

Assim que cruzou a porta de entrada, viu que a residência do


mestre estava totalmente vazia. Não havia móveis, roupas,
artigos de limpeza, de higiene, livros, nem coisa alguma. Havia
apenas o espaço vazio.

O homem então desceu a montanha e foi falar com o mestre,


dizendo:

– Senhor, fui até a sua casa, mas não havia nada lá dentro. Por
isso não pude retirar nada de sua casa, como me pediu. Mas
não entendo…

O mestre disse:

– Preste atenção: Assim é o homem equilibrado, que não se


abala com nada. Ele não deve possuir coisa alguma que possa
lhe ser retirado, suprimido, roubado ou destruído pelos homens
ou pelo tempo. O homem equilibrado não deve se identificar
com coisa alguma, pois no momento em que se identifica, ele
passa a pertencer àquilo, e isso pode lhe ser tirado. Se ele se
identifica como um homem de negócios, ele pode deixar de ser;
se ele se identifica com sua riqueza, pode perder sua fortuna;
se ele se identifica com sua intelectualidade, pode ficar velho e
esquecer tudo o que aprendeu; se ele se enxerga como um
homem bom, pode sofrer quando cometer um erro e descobrir

525
que não era tão bom como se julgava. Mas o homem que não
se identifica com coisa alguma, apenas com Deus, ele é vazio
de identidades, tal como a casa vazia onde nada pode ser ti-
rado ou destruído. Da mesma forma que não se pode roubar
uma casa que nada contém, ninguém pode desequilibrar ou
abalar um homem que com nada se identifica. Ninguém pode
tirar a paz de alguém cuja paz em coisa alguma se sustenta.

526
O JARDINEIRO CÓSMICO

Era uma vez uma plantinha muito bela, que vivia num suntuoso
e vasto jardim muito florido. Ela estava sempre feliz, pois o jar-
dineiro dedicava muita atenção a ela, cultivando, regando e cui-
dando de várias formas.

Certo dia, uma grande tempestade se abateu sobre o jardim. A


plantinha foi arrastada pelo vento, seus galhos ficaram como
trapos e quase que seu tronco foi quebrado.

No dia seguinte, o jardineiro começou a cuidar do jardim, como


costumava fazer. Assim que ele chegou na plantinha, ao invés
de cuidar dela, como sempre fazia, ele começou a cortar seus
galhos. A plantinha tomou um susto, e sentiu todo seu corpo
vegetal doer muito. Perdeu várias partes de si mesma, e ficou
muito triste com tudo isso.

Ela pensou: “Mas como o jardineiro pôde fazer isso comigo?


Eu que sou uma das plantas mais belas e vigorosas do imenso
jardim. Ele me abandonou depois dessa terrível tempestade e
agora quer se livrar de nós.”

O tempo passou, e novos galhos começaram a nascer no lugar


dos que foram cortados. Ela cresceu mais, ficou mais robusta
e estava até mais bonita.

Passados alguns meses, outra feroz tempestade desabou so-


bre o jardim, trazendo ventos fortíssimos, parecidos com a ou-
tra vez. No entanto, dessa vez a plantinha pouco se vergou.
Sentiu a intensidade do vento, mas parecia que estava mais
forte, e manteve-se firme enraizada no chão resistindo brava-
mente à fúria da tormenta. Após o susto, ela ficou bem.

Uma árvore, que residia próximo ao jardim, disse a plantinha:

– Minha querida, o jardineiro não cortou seus galhos por que te


abandonou, ou por que não se importava com você. Há uma
lição que nós, árvores mais antigas, aprendemos após tantas
tormentas. Toda planta, quando é podada, se torna mais forte
e mais resistente. Por esse motivo o jardineiro podou várias de
vocês, retirando os galhos já envelhecidos e usados, permi-
tindo nascer novos galhos, renovados e resistentes.

527
A plantinha chorou, e agradeceu muito ao jardineiro pela
ajuda…

Assim também ocorre com Deus e os seres humanos. Deus, o


Jardineiro Cósmico, poda nosso emocional, retirando dele os
pedaços envelhecidos das lembranças acumuladas, obrigando
o homem a se desprender do lixo emocional do seu passado.
O homem, assim como a plantinha, ao ser podado por Deus,
se renova e se torna mais forte e mais experiente. Assim ele
não sofre tanto quando as mais terríveis intempéries o atingem.
É preciso entender bem essa verdade: não existem erros nos
planos de Deus.

528
A CEGUEIRA DO EGOÍSMO

Uma mulher já estava há quase dois anos internada no hospital


por causa de uma grave doença. Ela era frequentemente visi-
tada pelos seus dois filhos, um mais novo e outro mais velho.

No horário de visita do hospital, os filhos estavam conversando


com a mãe. De repente, a mãe começa a se sentir muito mal.
Ela fica ofegante e desmaia. Os filhos chamam os enfermeiros
que lhes atendem prontamente. A mãe é levada, mas não re-
siste e vai à óbito.

O médico veio dar a notícia da morte da mãe. Um dos filhos, o


mais novo, começa a chorar descontroladamente, dizendo:

– Meu Deus, por que levou a minha mãe? Eu a amava tanto!


Por que me faz ter essa dor senhor, por quê?

O outro filho, chorando, também começou a orar, mas o fez em


voz baixa, dizendo:

– Senhor, apesar da minha dor, eu te agradeço ter levado a


minha mãe, pois há mais de um ano ela estava sofrendo mui-
tíssimo aqui neste hospital com sua doença. Suas dores eram
muito intensas e sofridas, e foi melhor ela ter se libertado do
jugo desta moléstia e ter sido acolhida nos braços do divino.
Tenho certeza que ela teve uma vida muito longa e cumpriu
sua missão.

Precisamos sempre tomar cuidado para que o nosso egoísmo


não seja como uma venda em nossos olhos e nos impeça de
ver o que é melhor para o outro. O primeiro filho estava pen-
sando apenas nele e na saudade que teria de sua mãe. Ele
pensava apenas na dor da separação, mas não na dor da mãe
sofrendo no hospital. O segundo pensou em primeiro lugar no
sofrimento da mãe no hospital, e mesmo com a tristeza diante
da morte de uma pessoa tão querida e amada, agradeceu o
alívio da dor de sua mãe.

Não permita que o egoísmo te faça ver sempre as suas neces-


sidades, as suas dores, e não o bem-estar do outro.

529
FUNDO DO POÇO

Uma mulher estava passeando com seu filho pequeno. O me-


nino corria e brincava pelos campos verdes das pradarias. A
mãe olha um pássaro voando, e subitamente ouve um grito de
desespero do seu filho, que caiu num poço fundo e escuro. A
mãe corre até o poço e vê o menino lá embaixo, preso e um
pouco machucado.

Ela se desespera, fica nervosa e grita “Calma filho, vou aí te


buscar!”. Ela se atira no poço, cai lá embaixo, se machuca toda,
e fere ainda mais seu filho. Ela tenta subir, mas com o peso do
filho, não consegue subir pela corda. Ambos, mãe e filho, fica-
ram lá por dias e dias. Gritavam, mas ninguém podia ouvi-los,
e acabaram definhando e morrendo de inanição.

Dois anos depois desse incidente, outra mulher também estava


brincando com seu filho no mesmo local. Pela ironia do destino,
o filho dela também caiu lá embaixo e gritou pela sua mãe. A
mulher viu seu filho lá, no fundo do poço, todo ferido, mas pro-
curou ficar calma e refletir na melhor solução. Ao contrário da
outra mãe, ela não se jogou ou desceu ao fundo do poço para
salvar o filho. Ela pensou, pegou a corda ao lado do poço, jogou
ao menino, e disse alto: “Filho, amarre essa corda em volta de
sua barriga, que eu vou te puxar daí”.

O filho atou a corda em si mesmo, e bem devagar a mãe foi


lentamente puxando o filho. Demorou um pouco, mas ele con-
seguiu subir com alguns ferimentos, mas são e salvo.

Quando uma pessoa que muito amamos se encontra no fundo


do poço, ou seja, numa situação complicada, degradante, de
sofrimento, vivendo uma grande tribulação, dor e muito ferida,
não devemos nos desesperar e descer ao fundo do poço junto
com ela. Unir-se a ela na dor, no sofrimento, e passar a sentir
o que ela sente, nos envolvendo com a mesma dificuldade, só
fará com que afundemos no poço escuro em sua companhia,
mas efetivamente não nos permitirá ajuda-la.

A primeira mãe desceu ao fundo do poço com o filho, e por isso


não conseguiu mais sair de lá. Já a segunda mãe, manteve
distância do fundo do poço, não desceu de sua posição para
juntar-se ao filho, sofrendo com ele, mas do ponto mais alto

530
onde estava, ela pôde lançar uma corda, e ajuda-lo a subir do
“poço do sofrimento” onde ele estava preso.

Isso vale não apenas para pais e filhos, mas para qualquer re-
lação humana. Quando nos envolvemos nos problemas do ou-
tro, e nos deixamos contaminar, sofrendo com a pessoa e por
causa da pessoa, ficaremos mal. Antes era apenas uma pes-
soa no fundo do poço, mas depois viraram duas. A melhor ati-
tude é permanecer onde estamos, em nosso lugar, e sem des-
cer ao fundo do poço com a pessoa, e ajuda-la a sair de lá.
Quem se mantém onde está e não vai ao fundo do poço com a
pessoa, tem melhores condições de prestar ajuda, se de fato a
pessoa quiser ser ajudada.

Seja empático com o outro, compreenda a visão dele dentro do


contexto em que vive, mas não sofra junto com ele.

531
NOSSAS PREOCUPAÇÕES

Um homem morreu e foi ao plano espiritual. Lá chegando, foi


recebido por um anjo de luz. O recém-chegado perguntou:

– O que houve comigo?

– Você passou pelo limiar da vida e da morte, pela transição,


– disse o anjo – Em outras palavras, você morreu…

– Mas espere um momento… – perguntou o recém-falecido –


Eu não vivi quase nada do que eu queria viver na vida. Como
eu já morri?

– Você deveria ter feito tudo enquanto estava vivo. Agora não
dá mais tempo. – disse o anjo.

– Mas eu sinto como se não tivesse vivido nada. Eu morri com


45 anos, era muito novo ainda para morrer.
O anjo de luz respondeu:

– Você podia ter vivido mais a vida, o momento presente. Mas


você estava sempre envolvido por inúmeras preocupações.
Preocupava-se com filhos, trabalho, dinheiro, segurança, mu-
lher, traição, fofocas, dívidas, diversão, cursos, etc, etc. Estava
sempre ocupado com o passado e com o futuro. Ocupava-se
antecipadamente com tudo o que aconteceu e com o que po-
deria acontecer, mas esqueceu do essencial: viver o momento
presente e apenas ser o que se é.

O homem viu diante dos seus olhos um panorama total de sua


vida, com uma revisão de todas as suas experiências terrenas.
Ele percebeu que, ao longo de quase 45 anos de vida, ele viveu
apenas preocupações. Apenas nos seus primeiros anos de
vida, até os 7 ou 8 anos, ele viveu mais plenamente. De fato,
estava sempre retido no passado, ou projetando-se para o fu-
turo; estava sempre vivendo uma memória do passado, ou uma
expectativa de futuro; estava sempre vivendo pré-ocupações,
ou seja, ocupando-se com algo que já aconteceu ou que pode-
ria ocorrer; estava sempre se cobrando, ou cobrando os outros;
estava sempre evitando os erros e buscando a todo custo acer-
tar; estava sempre tentando projetar uma imagem positiva ao
outro, ao invés de apenas ser o que ele é. Então sua vida foi

532
passando, passando… e ele deixou cada momento escorrer de
suas mãos, esvair-se completamente num mar de preocupa-
ções. Agora que sua vida tinha acabado, ele percebeu que as
preocupações o impediram de viver. Sentiu como é horrível a
sensação de tempo perdido…

“Meu Deus”, pensou o homem, “É tudo tão simples… Ao invés


de ficar se preparando para viver, bastava simplesmente eu ter
vivido…”

533
FORÇA INTERIOR

Há alguns séculos, um escravo trabalhava para um grande


feudo. Seu trabalho consistia basicamente em carregar gran-
des quantidades de mantimentos de um ponto a outro. Era um
trabalho muito desgastante, que o consumia demais.

Certo dia, já exausto de carregar sempre mantimentos tão pe-


sados, ele abaixou os sacos e ajoelhou-se… Orou fervorosa-
mente a Deus pedindo que seu fardo fosse diminuído.

Nesse momento, um anjo desceu do céu e o saudou. Ele ficou


muito feliz com a presença do anjo e disse:

– Ser angelical, por favor me ajude a conduzir essa carga diária


tornando-a mais leve, para que eu possa realizar meu trabalho
com menos esforço.

O anjo respondeu:

– Dar-te-ei uma benção muito melhor. Eu te ofereço mais força


para que você consiga superar seus limites e atingir sua meta
diária de trabalho. Assim a carga que você conduz lhe parecerá
menos pesada. Se Deus diminuísse o peso de sua cruz, a pró-
xima dificuldade que você fosse enfrentar lhe causaria o
mesmo problema, e você sentiria novamente o peso do seu
fardo. Por isso, é melhor você se tornar mais forte, pois sendo
assim todo fardo lhe parecerá mais leve. Cada adversidade da
vida nos obriga a extrair forças de nosso interior, e esse é um
dos objetivos das provas que Deus nos proporciona. Portanto,
ao invés de pedir uma carga mais leve, peça sempre mais força
para carrega-la. Esse é um pedido que agrada a Deus, pois o
objetivo de todas as provas da vida humana é tornar os seres
mais fortes internamente, superando seus limites, e, com isso,
torna-los mais sábios.

O homem entrou dentro dele mesmo e começou a sentir uma


força interior brotando do âmago do seu ser. Ele pegou nova-
mente a carga, e sentiu que agora o peso parecia mais leve.
Isso o permitiu conduzir os mantimentos de forma mais eficaz
até o seu objetivo.

534
SABER VIVER

Um homem chega para um sábio e diz:

– Mestre, fui muito maltratado por uma pessoa que passou pela
minha vida. Ela me enganou, me traiu, me criticou e tentou me
humilhar de todas as formas. Por que tive que passar por isso?

O sábio respondeu:

– Quando uma pessoa passa pela nossa vida e nos engana,


isso pode ser uma mensagem de Deus te mostrando como
você não deve ser.

Quando uma pessoa passa pela nossa vida e nos trai, isso
pode ser uma mensagem de Deus te mostrando como você
não deve ser.

Quando uma pessoa passa pela nossa vida e nos faz muito
mal, isso pode ser uma mensagem de Deus te mostrando
como você não deve ser.

Quando uma pessoa passa pela nossa vida e tenta nos humi-
lhar, isso pode ser uma mensagem de Deus te mostrando
como você não deve ser.

Quando uma pessoa passa pela nossa vida e nos ataca,


critica ou calunia, isso pode ser uma mensagem de Deus te
mostrando como você não deve ser.

Deus sempre usa certas pessoas para mostrar aos seres hu-
manos o exemplo que não deve ser seguido. A partir do mo-
mento que vem alguém e nos engana, critica, calunia, trai,
rouba, ou faz qualquer tipo de mal, nós sentimos isso intensa-
mente, e essa é uma forma de Deus gravar dentro de nós que
esse é o comportamento que não devemos seguir com nossos
semelhantes.

Portanto, Deus nos manda pessoas ainda muito imperfeitas


que têm como missão nos ensinar o que não queremos para a
nossa vida, como não devemos tratar os outros, e como não
devemos ser. Essas pessoas, mesmo nos fazendo muito mal,
acabam nos orientando para o caminho correto, para a melhor

535
estrada a ser seguida. Tudo isso tem como objetivo que não
façamos aos outros aquilo que já foi feito de ruim a nós, e que
nos gerou dor, desespero e sofrimento. Sejamos então o exem-
plo de bem viver que desejamos para nós e para todos.

536
NINGUÉM GOSTA DE MIM

Um homem procurou um sábio e perguntou:

– Senhor… Procurei-te para tentar resolver uma questão deli-


cada. Parece que apenas poucas pessoas gostam de mim. Já
estou começando a me achar uma pessoa desprezível, pois
quase ninguém me dá afeto. O que posso fazer para reverter
essa situação?

O sábio olhou para o homem e disse:

– É simples, basta você mesmo se amar…

– Eu me amar senhor? Mas o que eu me amar fará com que as


pessoas gostem de mim?

O sábio respondeu:

– Quando você se amar, você não vai mais se importar mini-


mamente com o fato de ninguém gostar de você. Mas no mo-
mento em que você começar a se amar, não de forma vaidosa
ou narcisista, mas aceitando-se tal como é, as pessoas vão co-
meçar a gostar mais de você.

O homem ouvia atentamente as palavras do sábio. O sábio


concluiu:

E lembre-se: justamente porque você não se gosta é que você


deseja que todos gostem de você. Na sua mente, se todos pas-
sassem a gostar de ti, você iria conseguir se amar, mas isso é
falso, é ilusório. Primeiro porque nunca você vai conseguir que
todos gostem de você. Segundo, mesmo que você consiga que
um número considerável de pessoas goste de você, isso não
fará você amar a si mesmo. A única forma de você preencher
esse vazio é você passar a se amar e se aceitar. Ame-se e
aceite-se como você é, sem se importar com o afeto de outros,
pois assim, não resta dúvida, você será muito mais feliz.

O homem agradeceu ao sábio e, a partir daquele dia, passou


a se amar e se aceitar tal como é.

537
OBRIGADO PROFESSOR

Um homem foi conversar com um mestre para entender um


fato estranho. O homem pediu uma explicação ao mestre, di-
zendo:

– Mestre, existe uma pessoa do meu convívio que sempre me


tira do sério. Essa pessoa consegue provocar o que há de pior
dentro de mim. Como devo proceder diante disso?

O mestre olhou para o homem e respondeu:

– Você deve dizer, “obrigado professor”.

O homem ficou sem entender nada e perguntou:

– Como assim tenho que dizer “obrigado professor”?

O mestre respondeu:

– Sim… Uma pessoa que consegue provocar aquilo que existe


de pior dentro de ti é alguém que contribui no seu autoconhe-
cimento. Ele desperta algo que estava lá no fundo, oculto em
seu interior, mas que você tentava camuflar. Essa pessoa to-
cou na sua ferida e você pôde conhece-la. Ele te ajuda a reco-
nhecer e trabalhar dentro de si esse seu lado sombrio. Essa
pessoa te dá a oportunidade de reconhecer seu lado obscuro
e se melhorar a partir disso.

Por esse motivo dizemos que, na realidade, pessoas que to-


cam em nossas feridas são como nossos professores da vida.
Eles nos ajudam a perceber e a melhorar algo que, sem eles,
você não era capaz de enxergar. Portanto, na próxima vez que
o vir e que ele novamente despertar o que há de mais negativo
em você, agradeça as lições que ele vem trazer, pois essa pes-
soa acaba te ajudando a revelar e tratar o que reside numa
esfera profunda de sua consciência.

“Nosso maior inimigo é nosso maior mestre.” (Ensinamento do


Budismo Tibetano)

538
FÉ EM DEUS

Numa palestra sobre os ensinamentos de Jesus, o pales-


trante resolveu falar um pouco de fé em Deus. Ele perguntou
a multidão que o ouvia como cada pessoa expressava sua fé
em Deus.

“Eu tenho fé em Deus que meu filho vai vencer na vida”, disse
uma mãe.

“Eu tenho fé em Deus que minha esposa vai se curar de uma


doença”, disse outro homem.

“Eu tenho fé em Deus que vou passar na faculdade, e Deus


vai me ajudar a passar”, disse um jovem.

“Eu tenho fé e Deus vai me trazer um bom marido para que


eu possa me casar”, disse uma jovem.

Cada pessoa foi descrevendo sua fé em Deus e como o di-


vino se manifestaria em sua vida na forma de bênçãos.

Um senhor de idade, bem velhinho, foi a última pessoa a se


pronunciar sobre sua fé em Deus. Todos o observaram e ele
disse:

“Eu não passei na faculdade, não consegui uma casa própria,


não me curei de uma doença que tenho há anos e perdi duas
esposas, ambas faleceram após 10 anos de casamento. Deus
seja louvado por eu não ter conseguido nenhuma destas
coisas, pois tenho fé que os planos de Deus são melhores do
que os meus planos e minhas vontades.”

O palestrante, após ouviu estas palavras do senhor, disse:

“Todos precisam entender que Deus não é nosso servo, ou


aquele que deve fazer todas as nossas vontades humanas,
como muitos acreditam. E digo a vocês que esse homem, ele
sim, demonstrou a verdadeira fé em Deus, pois a despeito de
todos os dissabores de sua existência, ele agradece e louva a
Deus por tudo isso, pois sabe, e isso é verdade, que os
planos de Deus são melhores do que os nossos planos
humanos.”

539
Sempre que você não ganhar algo de Deus, diga: “obrigado
meu Deus, pois seus planos são melhores do que os meus”.
Essa é a verdadeira fé.

540
LIÇÃO DE VIDA

Um homem procura um grande sábio e lhe conta sua história.


Ele diz que existe um homem que inventou várias mentiras a
seu respeito.

Ele pergunta ao sábio o que deve ser feito com uma pessoa
que dá falso testemunho. O sábio responde:

– É simples: deve-se vencer a mentira com a verdade.


O homem ouve as palavras do sábio e resolve perguntar outras
coisas:

– E quando esse homem tem ódio de você?

O sábio responde:

– Deve-se vencer o ódio com amor.

O homem volta a perguntar.

– E quando essa mesma pessoa age de forma injusta com


você?

O sábio responde:

– A mesma coisa: deve-se combater a injustiça com a justiça;


Deve-se combater a mentira com a verdade;
A única forma de combater o ódio é com amor;
É preciso combater a violência com a paz;
A raiva com a tranquilidade;
E finalmente… Deve-se neutralizar o mal com o bem.
O homem ouvia atentamente. O sábio completou:

– Não há outra forma de combater as mazelas do mundo. Não


adianta opor violência com mais violência, ou mentiras com
mais mentiras, ou ódio com mais ódio. O fogo só alimenta o
fogo. É preciso dar amor àqueles que nos odeiam; ser verda-
deiros com aqueles que mentem a nosso respeito; ser pacíficos
com aqueles que nos são violentos, e seremos muito mais feli-
zes quando fizermos o bem àqueles que nos fazem mal. Reflita
sobre isso, pois esta é uma das mais sagradas lições dos sá-
bios e da vida.

541
ATAQUE ESPIRITUAL

Um homem estava passando por uma fase de muito sofri-


mento. Chorava quase o dia inteiro…

Certa vez, estava tentando dormir a noite, e começou a se sen-


tir muito mal. Começou a perceber que havia dezenas de espí-
ritos sombrios que o atacavam e o transmitiam muitas energias
negativas.

Muitos pensamentos ruins, de morte, destruição e sofrimento


começaram a atravessar sua mente. Lembrou-se de terríveis
traumas da infância, e tudo isso parecia se intensificar em for-
tes emoções negativas.

O homem começou então a mandar aquelas entidades em-


bora, com muita firmeza, dizendo:

– Vão embora daqui! Aqui não é o lugar de vocês!

Começou também a ofender aquelas entidades, e sentir ódio


de todas elas. Quanto mais ele se opunha a elas com um tom
emocional de raiva, mais elas o atacavam e sugavam a sua
energia. O homem começou a sentir-se meio tonto, de tão mal
que estava passando. Começou a ter pensamentos suicidas e
pensou seriamente em pegar uma faca e dar cabo de sua vida.

No meio do caos e da confusão mental de trevas que ele se


encontrava, lhe veio um pensamento bem leve. Ele resolveu
seguir este conselho que lhe chegou.

Iniciou então uma oração, com muita fé, dirigida a Deus. Colo-
cou todo o seu coração, mente e alma naquela prece e sintoni-
zou com Deus. Entregou-se ao plano divino naquele instante.
Proferiu também as palavras “Ainda que eu ande pelo vale da
sombra e da morte, não temerei nenhum mal, pois estas co-
migo Senhor”. Fez várias preces com muita fé e se colocou nas
mãos de Deus.

Depois de um tempo, sentiu que todo o clima do ambiente co-


meçou a mudar. Estava mais tranquilo, fisicamente também se
sentia melhor, a tontura passou, as emoções ruins foram alivi-
adas, e começou a sentir-se bem e relaxado. Percebeu que os

542
espíritos foram se retirando, até que deixaram totalmente sua
residência.

O homem então viu que toda aquela situação havia passado,


e agradeceu a Deus pela mensagem que havia recebido antes
de iniciar a oração.

A mensagem dizia:

“Não brigue com a escuridão. Acenda uma luz… e todas as


trevas se dissipam.”

543
ATRAVESSANDO O VALE DO SOFRIMENTO

Quando você estiver passando por um grave sofrimento, não


hesite em chorar…

Chore, chore o quanto for necessário, e coloque tudo de ruim


para fora. Não tenha vergonha. Chorar não te faz fraco, ao con-
trário: permitir que o sentimento flua te faz mais forte. Aqueles
que prendem o choro não conseguem lidar com suas emoções,
e essas os controlam. Portanto, chore, sem receio…

Libere toda a emoção retida. Solte tudo que esteja preso dentro
de você. Visualize uma fumacinha negra saindo do seu peito.
Desprenda-se.

Depois de chorar e de liberar todo o sentimento reprimido e


engasgado, ore….

Faça uma oração, depois faça outra, e outra… Ore até sentir
que sua energia vai se elevando, se elevando… até você se
sentir envolvido de energias boas, energias calorosas, que te
acolhem… até você sentir paz… até você sentir que suas emo-
ções negativas vão sendo purificadas. Ore um Pai Nosso, uma
Ave Maria, e faça uma oração sincera, de coração, colocando
todo o seu ser naquela prece.

Não ore pedindo apenas… Ore simplesmente para se sentir


mais próximo do Senhor, para se harmonizar com Deus. Sinta
o calor divino esquentando seu peito. Entregue-se à oração e
a Deus com toda a confiança. Não importa como seja Deus
para você, coloque-se nas mãos de Deus e tenha fé.

Depois disso, perdoe as ofensas; perdoe as calúnias, perdoe o


mal que qualquer pessoa tenha te feito. O perdão é purificador
e libertador. Perdoe, pois você também não é perfeito, e pode
errar. Perdoe e entenda que cada pessoa tem um nível de de-
senvolvimento. Faça como Jesus e diga “Pai, perdoe-os, pois
eles não sabem o que fazem”. Perdoe 7 vezes 70 vezes.
Emane vibrações de amor, paz e bem àqueles que por ventura
te fizeram mal. Você se sentirá muito, muito melhor…

Depois disso, não peça a Deus que diminua o peso de sua


cruz, peça mais força para conseguir conduzir sua cruz para

544
onde ela tiver que ir. Deus jamais te daria uma cruz mais pe-
sada do que você pode carregar. Por isso confie em Deus. Se
nem os homens fazem cadeados sem chaves, Deus, que é a
inteligência infinita de todo o universo, jamais te colocaria den-
tro de um problema que não tivesse solução.

Nesse ponto, entregue seu problema a Deus. Faça isso da se-


guinte forma: Visualize seu problema, dê uma forma a ele, qual-
quer uma. Depois que seu problema tiver sido formatado, jogue
para bem alto e veja ele se integrar ao infinito, ao plano divino.
Pense mais ou menos assim: “Deus, nesse momento, eu en-
trego esse meu problema a Ti. Rogo que me dê sabedoria e
me conceda os sinais necessários para que eu atravesse com
resignação e fé esta dura provação.”

Abra sua mente. O sofrimento deve nos ajudar a abrir os olhos


para novas possibilidades. Sempre que perdemos uma coisa,
ganhamos outra. Todo fim é sempre um novo começo. Quando
descemos ao fundo do poço, não há mais para onde cair, esse
então é o momento em que tudo começa a melhorar. Portanto,
amplie sua visão e veja aquilo que, até agora, você não conse-
guiu ver. A solução do seu problema pode ser mais simples do
que você imagina. E lembre-se que aquilo que não tem remé-
dio, remediado está.

Não perca a fé e siga em frente. A única coisa que você não


pode fazer ao enfrentar o vale de lágrimas da existência mun-
dana é deixar de caminhar. Continue sua peregrinação neste
mundo de espinhos e trevas… Olhe para frente e siga. Quem
para, perece. Quem continua caminhando, mesmo sujo com a
mais densa lama, e mantém sua fé, faz brotar uma chama sa-
grada em seu interior e se liberta do sofrimento.

Jamais se esqueça: não há mal que sempre dure…. Um dia,


mesmo que demore, tudo isso irá se encerrar, e o que sobra é
apenas uma pequena lembrança. Quando você despertar
desse profundo sonho de muitas ilusões será recebido nos pla-
nos superiores, de braços abertos, comemorando o grande su-
cesso do cumprimento de sua missão na Terra…

545
A PESSOA MAIS IMPORTANTE

Um mestre reuniu várias pessoas que desejavam ser seus dis-


cípulos e lhes disse:

– Antes de aceitar alguns de vocês como discípulo, quero que


vocês me respondam uma coisa. Quem é a pessoa mais im-
portante na sua vida?

Uma mulher disse:

“Meu filho é a pessoa mais importante na minha vida.”

“Meu namorado é a pessoa mais importante na minha vida.”


Disse uma jovem.

“Minha mãe é a pessoa mais importante na minha vida.” Disse


um rapaz.

Uma a uma, cada pessoa foi dizendo quem era a pessoa mais
importante de sua vida.

Sobrou apenas um senhor, já mais idoso, que ficou para o final.


O mestre então perguntou:

– E o senhor? Quem é a pessoa mais importante da sua vida?

– Eu mesmo, disse o homem. – Eu sou a pessoa mais impor-


tante da minha vida.

O mestre tomou a palavra.

– Dentre todos que estão desejando ser meus discípulos, esse


senhor foi o único que respondeu essa questão da forma mais
correta.

– Entenda uma coisa… continuou o mestre se dirigindo a todos.


– Você é a pessoa mais importante da sua vida, e isso não tem
a ver com egoísmo. Muitas pessoas vivem em função de outras
ou vivem para as outras. Alguns chegam a apenas existir para
ficarem com as outras, e até servirem as outras. Por mais que
possamos ajudar os outros, família, amigos ou conhecidos; por
mais que possamos ser desprendidos de nós mesmos e dos

546
nossos interesses pessoais, a pessoa mais importante conti-
nua sendo nós mesmos. Quem vive a vida dos outros acaba
esquecendo de si mesmo, e não vive a própria vida como de-
veria. Estamos aqui neste mundo para aprender a amar a to-
dos, e o amor consiste em conviver com as pessoas que ama-
mos, e não em “vivermos para elas” ou “em função delas”.
Aprendam essa verdade da vida.

547
NINGUÉM NOS AFETA

Um homem procurou um sábio e lhe fez uma pergunta.


– Mestre, o que fazer com uma pessoa que nos coloca pra
baixo?

– Nada… Disse o mestre.

– Nada? Perguntou o homem. – Então devemos permitir que a


outra pessoa nos coloque para baixo?

– Não, pois ninguém nunca te coloca pra baixo. Você é que se


sente pra baixo.

O homem ficou admirado com a resposta. O mestre continuou.

– Ninguém nos coloca pra baixo, nós é que nos sentimos pra
baixo ou inferiorizados.
Ninguém nos humilha, nós é que nos sentimos humilhados.
Ninguém nos persegue, nós é que nos sentimos perseguidos.
Ninguém nos ofende, nós é que nos sentimos ofendidos.
Ninguém nos expõe, nós é que nos sentimos expostos.
Ninguém tem o poder de nos fazer mal, nós é que ficamos mal
com o que os outros fazem.

Seja tão flexível a ponto de dobrar diante do mal que alguém


te fez, e tão firme a ponto de continuar bem assentado na terra.

O sábio não se deixa abalar por nada, pois ele sabe que nin-
guém pode verdadeiramente afeta-lo. Ele é sereno na tempes-
tade e sereno na bonança. Ninguém tem qualquer poder sobre
você se você não quiser dar esse poder a alguém.

548
A RODA DA VIDA

Um pai estava passeando tranquilamente com seu filho de


carro.

De repente, o menino de 14 anos atira um pedaço de plástico


em um mendigo, e começa a rir muito com o susto do morador
de rua.

O pai repreende o menino, dizendo:

– Filho, você não deve jogar coisas nos outros. Isso não é
certo.

– O rapaz não deu atenção ao pai e ficou rindo escondido.


O pai parou em frente a um parque de diversões, mostrou um
brinquedo para o rapaz e disse:

– Meu filho, o nome desse brinquedo é roda gigante, mas bem


que ele poderia se chamar roda da vida.

O rapaz ficou sem entender. O pai explicou:

– Sabe meu filho, a vida é muito parecida com uma roda gi-
gante. Assim que entramos nela, iniciamos um ciclo de subidas
e descidas e passamos a oscilar o tempo inteiro.

Em certos momentos estamos por cima, e em outros momen-


tos estamos por baixo.

Vemos pessoas lá no alto da roda, enquanto estamos por


baixo. Mas tão logo a roda da vida começar a girar, começamos
a subir, e aqueles que estavam em cima começam inevitavel-
mente a descer. Por isso, quem está por cima numa fase da
vida pode estar por baixo em outra fase e quem está por baixo
num certo período pode estar por cima em outro momento da
vida.

Quando estamos no topo, podemos nos sentir superiores e jo-


gar coisas nas pessoas que estão por baixo. Mas rapidamente
a roda gira e passamos de cima à baixo, algumas vezes em
pouquíssimo tempo. Neste caso, a vítima do abuso das pes-
soas que estão em cima passa a ser nós mesmos.

549
Quem está por cima e menospreza quem está por baixo nem
imagina que em pouco tempo começará a descer. E quem fica
por baixo e vive sofrendo pela sua condição nem imagina que
em breve começará a subir e se encontrará em cima. A roda
da vida nunca deixa de girar e, por isso, não devemos acreditar
que nossa posição é permanente, que estaremos sempre por
cima, e que nossa condição nunca vai mudar. Vai mudar sim…
e pode ser antes do que pensamos, pois a vida nunca pára
num só local.

Num momento de nossa vida podemos estar vivendo muito


bem e no outro estarmos muito mal; podemos estar felizes um
dia e muito infelizes no dia seguinte; é possível alguém estar
repleto de amizades numa época e sozinho, abandonado e ca-
rente em outra época; ocupar alto cargo numa grande empresa
e depois perdermos o emprego e nos endividarmos; estar bas-
tante estáveis numa época e totalmente inseguros em outra;
podemos também estar plenos de saúde e vitalidade numa
época e completamente debilitados pela doença em outra. Por
isso, não acredite na posição em que você se encontra, pois
ela é sempre, sempre passageira.

Jamais acredite que você está na parte de baixo da vida para


sempre. Tampouco acredite que você estará sempre por cima.
A roda da vida sempre vai nos colocar em todas as posições,
a fim de enxergarmos todos os ângulos possíveis da existência
universal, e assim vamos experimentando e aprendendo com
cada lugar da grande roda da existência em que nos encontra-
mos

Por isso, meu filho, saiba que você não deve jamais maltratar
aqueles que estão momentaneamente por baixo, pois um dia
você será a pessoa que se encontrará na parte de baixo e al-
guém pode fazer o mesmo com você. Não se esqueça: a roda
da vida não para de girar, e um dia, vamos sempre mudar
nosso lugar. Quem está por cima… vai decair e quem está por
baixo… vai ascender.

550
O GRANDE OCEANO

Dois peixinhos estavam nadando no mar. Um deles perguntou


ao outro:

– Você acredita nesse tal de “Grande Oceano” que alguns pei-


xes anciãos afirmam existir?

– Não! – Respondeu o outro peixinho. – Se esse oceano exis-


tisse mesmo, ele já teria aparecido para nós. Todos os peixes
poderiam enxerga-lo e senti-lo.

O outro peixinho parou para pensar, e considerou que essa


ideia parecia sensata. Acreditar em algo que não se pode ver
nem tocar parece estranho. No entanto, ainda não estava con-
vencido.

– Não sei. Respondeu o outro peixinho. – Mas é possível que


algo exista e não seja passível de ser captado pelos sentidos.

– Se não pode ser detectado pelos sentidos, ser visto, ouvido


ou tocado, como podemos saber se ele existe? – Questionou
o outro peixe.

– É, talvez esse oceano, que os anciãos nos falam, talvez não


exista mesmo. – Respondeu.

Um peixinho mais velho estava passando por ali, e ouviu uma


parte do diálogo. Ele se aproximou dos dois e disse:

– Meus amigos, pude ouvir a conversa de vocês, e posso vos


assegurar que o tal oceano existe.

Os dois peixinhos ficaram surpresos com a confiança do peixe


mais velho. O mais cético disse:

– Então me diga, já que acredita nesse tal de grande oceano,


onde ele está?

O peixe respondeu:

– Ele não está num lugar específico. Ele está em todos os lu-
gares, está presente em tudo.

551
– Como algo pode estar em todos os lugares? Esse oceano
estaria aqui agora? Desafiou o peixe cético.

O peixe mais velho respondeu:

– Sim, respondeu o peixe mais velho. – Ele está aqui e agora.


O grande oceano, de onde todos nós procedemos, está aqui,
bem na nossa frente. Ele a tudo permeia. O oceano nos en-
volve, nos nutre e nele temos a nossa existência. Você o vê a
todo momento, o ouve a todo instante e o sente em cada coisa
que faz, mas como ele está em tudo, você não o percebe dire-
tamente. Estando ele em todos os lugares, não podemos toca-
lo, ouvi-lo ou senti-lo, pois tudo o que vemos, ouvimos ou sen-
timos, faz parte dele e está dentro dele, pois ele está em tudo.
Ele faz parte de nós e nós fazemos parte dele.

552
NASCER DE NOVO

Certa vez, sonhei que estava num campo gramado muito ex-
tenso, num dia nublado, fresco e com uma brisa bem leve e
acolhedora. Estava sentado debaixo de uma grande árvore.

O sonho parecia bem real. Olhei para o lado, e incrível, percebi


que Jesus estava sentado sob a mesma árvore que eu, obser-
vando a paisagem, com olhar sereno e profundo.

“O que Jesus estaria fazendo do meu lado?” Pensei. Resolvi


falar com ele e disse:

– Senhor, deu-me a honra de sua presença. Por que resolveu


falar comigo nestas belas paragens esverdeadas?

O senhor olhou-me com muito carinho, e disse:

– Você sempre quis entender o motivo do sofrimento humano.


Então estou aqui para te fazer essa revelação.
Não tinha vontade de falar coisa alguma, apenas de ouvir
Nosso Senhor, Jesus, que estava ali, me dando um precioso
ensinamento.

– Sim mestre. Por favor, explique-me sobre o sofrimento hu-


mano.

Subitamente, apareceu diante de nossos olhos uma mulher


dando à luz a uma criança. Olhei aquela cena e não compre-
endi. Jesus disse:

– O que te revelarei agora desejo que seja passado a toda a


humanidade. Lembra-te do que foi dito: “Para entrar no Reino
dos Céus é necessário nascer de novo”. Pois bem. O sofri-
mento é como uma mulher dando a luz. O parto é o momento
mais doloroso na vida de uma mulher, e é igualmente o único
que permite o nascimento. Dessa forma, o sofrimento é como
um parto. Sofremos muito, chegamos ao limite da dor suportá-
vel ao ser humano, mas o resultado disso, quando sabemos
aproveitar, é um novo nascimento. Se não permitimos o nasci-
mento do ser interior que jaz latente no âmago de cada um, a
dor pode se perpetuar. Mas se deixarmos o novo nascimento
ocorrer, o sofrimento cessa. No caso da dor e do sofrimento, o

553
efeito não é o nascimento de outra pessoa, mas de um novo
eu, da morte do “velho homem” e do nascimento do “novo ho-
mem”, renascido, renovado e divino. Esse é o significado pro-
fundo do sofrimento.

Agradeci imensamente a Jesus, e despertei para um novo


dia…

“Jesus respondeu, e disse-lhe: Em verdade, em verdade te


digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino
de Deus.” (João 3: 3)

554
LIÇÕES DO SOFRIMENTO

Quando você estiver atravessando um profundo sofrimento,


procure lembrar de oito princípios básicos da vida:

1 – Não há mal que dure para sempre. Qualquer dor, ou sofri-


mento que você esteja passando é necessariamente passa-
geiro. Por mais que demore e por mais que o sofrimento pareça
eterno, um dia ele sempre terá um fim.

2 – Você não é a única pessoa a sofrer no mundo. Nosso so-


frimento sempre parece maior, pois estamos sentindo-o direta-
mente, em nós mesmos. Mas basta olhar para o lado e ver o
quanto cada pessoa no mundo sofre de igual forma, ou até
mais gravemente que nós.

3 – Pense que, se o sofrimento fosse menor, ele poderia não


ser suficiente para provocar um movimento em você e te tirar
do conformismo. No momento em que o sofrimento se torna
insuportável, esse limite nos força a tomar uma atitude e a bus-
car um desenvolvimento. Se alguma parte do seu organismo
não começasse a doer fortemente, você não saberia que ele
precisa de cuidados, e não buscaria a cura. Da mesma forma,
quando há uma enfermidade da alma precisando de purifica-
ção interior, é necessário que a dor nos tire da inação e nos
mostre o caminho. Logo, não reclame da dor, tome-a como a
base de sua transformação e do seu desapego das coisas fú-
teis e efêmeras.

4 – Tal como uma criança grita e se debate quando toma uma


vacina, nós também reclamamos e esperneamos quando Deus
nos coloca diante das vacinas doloridas da vida. Da mesma
forma que a vacina irá imunizar a criança e evitar doenças fu-
turas, assim também o sofrimento advindo das adversidades
da vida tem o poder de imunizar nosso espírito e nos libertar
das futuras doenças da alma.

5 – Uma grande lição do sofrimento é que só aprendemos uma


coisa quando a realizamos e sentimos. É como o aluno de na-
tação e seu professor. Por mais que o professor explique a te-
oria da natação, num dado momento o aluno precisará mergu-
lhar na água e se virar sozinho para conseguir nadar. É certo
que, em algum momento o professor precisa jogar a pessoa na

555
água, e deixa-la sozinha, para que ela aprenda a nadar pelos
seus próprios meios e recursos, sem depender mais de nin-
guém. Em essência, Deus faz isso para que cada pessoa
cresça por si mesma e se torne independente, pois é assim que
evoluímos espiritualmente. Por esse motivo, Deus nos coloca
num mundo de sofrimento para que, sem nenhuma ajuda nos
momentos difíceis, possamos aprender as sagradas lições da
vida.

6 – Saiba que, se os sofrimentos da vida fossem simples de


serem vencidos, o mérito espiritual seria igualmente simples, e
pouco traria de benefícios espirituais para nosso espírito.
Quanto maior o sofrimento, maior o mérito em supera-lo, e con-
sequentemente, maior a conquista espiritual. Portanto, não re-
clame do sofrimento, agradeça a Deus a oportunidade de atra-
vessar uma provação.

7 – Os sofrimentos da vida mundana podem ser comparados


aos sofrimentos que passamos na infância. Quando somos cri-
anças, as pequenas tribulações de briguinhas com colegas, lu-
tas por brinquedos, ciúmes dos irmãos, gozações dos meninos,
tudo isso parece terrível. Naquela fase esses probleminhas pa-
recem imensos, mas após nosso crescimento e amadureci-
mento volvemos o olhar novamente à infância e nos damos
conta do quão irrisórios e insignificantes eram esses proble-
mas. Os adultos podem até deixar de lado pequenas rixas in-
fantis por descobrirem o seu caráter banal. O que acontece na
infância com a visão da fase adulta, é semelhante ao que
ocorre na visão do espírito no plano espiritual em relação aos
sofrimentos do mundo. Percebemos a sua natureza transitória
e sua total irrelevância diante da eternidade da vida espiritual.

8 – E por fim, não se esqueça: Deus nos dá a cruz do sofri-


mento na medida em que podemos carrega-la. Se Deus desse
uma cruz mais pesada do que alguém poderia conduzi-la, ele
seria um Deus injusto. Como Deus é a inteligência perfeita e
infinita, Ele te conhece muito melhor do que ti mesmo, e sabe
que você é capaz de carregar uma pesada cruz. Logo, não re-
clame da injustiça do sofrimento, tome para si a sua cruz, pois
ela foi esculpida pelo carpinteiro cósmico, que conhece tuas
forças e sabe que você é capaz de passar pelos labirintos tor-
tuosos da vida e conseguir a sagrada purificação interior.

556
O SILÊNCIO INTERIOR

Um homem vai até uma praia onde um sábio costumava passar


as tardes observando a imensidão do mar.

O homem fez várias perguntas, mas o mestre sempre respon-


dia com outras perguntas, ou com enigmas. Após várias tenta-
tivas, o homem perguntou:

– Mestre, por que o senhor raramente responde a uma per-


gunta objetivamente?

– Ouça… disse o mestre.

O homem tentou ouvir, mas nada podia escutar, apenas o ba-


rulho das ondas do mar.

– Ouvir o que mestre?

– O silêncio… respondeu o mestre.

– E é possível ouvir o silêncio? perguntou intrigado o homem.


O mestre respondeu:

– Sim meu jovem, e você precisa compreender o valor do si-


lêncio. No silêncio todas as respostas estão contidas. No baru-
lho e na confusão dificilmente se encontra a sabedoria, mas na
maioria das vezes, apenas dúvidas e incertezas.

– Como assim mestre? perguntou o homem.

– Observe este grandioso oceano… – disse o mestre – As pes-


soas são como esse mar. Quanto mais próximo da superfície
se encontram, mais barulho fazem. Quanto mais profundas,
menos confusão e agitação elas apresentam. A grande maioria
das pessoas está no nível da superfície, onde se agitam e onde
há balbúrdia, estresse, oscilação, oposição, inquietação e con-
fusão. Observe as ondas… Elas nascem no oceano sem fim,
crescem, começam a cair sobre si mesmas, batem fortemente
na areia e depois recuam para o oceano de onde vieram.

O homem ouvia atentamente as palavras do sábio. Este conti-


nua:

557
– As ondas são a imagem perfeita do mundo físico, com seus
contrários que geram conflito entre as partes, que vem e vão,
que nascem e morrem, que sobem e descem, ou seja, onde
sempre há opostos, e, consequentemente, barulho, confusão,
e também impermanência. Já o silêncio é como a profundidade
desse mar, é o local de paz e traquilidade onde não há barulho,
não há oposição, e onde podemos ver o fundo imperturbável
de todas as coisas, e o mais importante: a sua essência.

558
A RAZÃO DA DOR

Um homem foi acometido por um terrível sofrimento.


Orou fervorosamente a Deus pedindo que sua dor fosse ame-
nizada.

Um anjo apareceu e disse:

– O que deseja meu filho?

O homem ficou muito feliz de ver o anjo. Aproveitou aquela su-


blime presença e perguntou:

– Não aguento mais tanto sofrimento. Por que a dor precisa ser
tão intensa?

O anjo respondeu:

– Se a dor fosse menor, ela não seria suficiente para você to-
mar uma atitude e se transformar.

Muitas vezes a dor vem ao nosso encontro para que possamos


sair do comodismo e nos transformar. Sem a dor o ser humano
permaneceria sempre no mesmo lugar, sem um estímulo para
ir além. A dor tem sempre um propósito maior, que é o pro-
gresso incessante de nossa alma. A dor nos tira da zona de
conforto e nos provoca a buscar algo diferente.

A dor nos obriga a caminhar. Nos força a rever nossos concei-


tos. Nos impulsiona ao progresso. Nos ajuda a abandonar nos-
sas crenças e a buscar o novo. Nos faz ir além dos nossos
limites. Nos proporciona a reflexão necessária. Nos impele a
deixar de lado os preconceitos, a abrir a nossa mente e a olhar
para nós mesmos.

Toda dor e todo sofrimento têm como objetivo divino a purifica-


ção do nosso espírito.

559
A ESTRADA DA VIDA

Certa vez eu tive um sonho muito revelador…

Sonhei que estava num vale lamacento meio escuro e de uma


extensão que os olhos eram incapazes de abarcar. Neste vale
eu vi atravessarem dezenas de milhares de almas, cada uma
delas caminhando por cima de uma lama de cor marrom-es-
cura. O local era meio lúgubre, obscuro, tétrico.

Comecei a caminhar por toda a sua extensão, por horas e ho-


ras a fio. Vi as almas peregrinando pelo vale e cada uma le-
vando consigo alguma bagagem, uma espécie de sacola com
alguns dizeres. Vi pessoas carregando um saco escrito “cren-
ças”; outras estava escrito “carreira”; em outras se podia ler “fi-
lhos” ou “esposa” ou “pais”; algumas continham a palavra “co-
mida”, “bebida” ou “vícios”; cada qual carregava um saco,
maior ou menor, onde continha a imagem de seus apegos. Os
sacos mais pesados que pude ver estavam escrito “medos”;
outros estava escrito “mágoas”; nos sacos maiores e mais pe-
sados estava escrito “orgulho”, “egoísmo” e vi vários escrito
“vaidade”. Tudo isso que essas almas carregavam lhes criava
uma carga maior ou menor, com mais peso ou menos peso.

O drama que elas viviam era ter que atravessar todo aquele
lodo com sacos ou bagagens tão pesadas, e conseguir seguir
em frente. Pude notar almas cruzando a lama que começavam
a afundar; outras, que carregavam sacos mais pesados, sub-
mergiam ainda mais; havia algumas almas que, de tanto fardo
que levavam consigo, já não podiam sequer prosseguir, e aca-
bavam afundado até o pescoço, incapazes de se mover. Mas
mesmo essas almas que estavam no fundo da lama não solta-
vam o saco pesado que conduziam pelo vale. Quanto mais pe-
sado era o saco, mais a alma afundava e mais presa ficava.

Continuei caminhando e vi almas nas mais diversas situações.


Vi também miríades de focos de luzes que desciam do céu e
se aproximavam das almas no fundo da lama, pedindo que lar-
gassem o saco, para que ficassem mais leves e pudessem ser
resgatadas. Muitas delas, mesmo presas até o pescoço, se re-
cusavam a soltar sua carga pesada. “Você ficará presa até sol-
tar seu peso” disse um foco de luz. “Não quero soltar” disse a
alma cujo saco estava escrito “orgulho” e que estava total-

560
mente envolvida pela lama e incapaz de se mexer. Mesmo es-
tagnada e presa, elas se agarravam fortemente ao seu objeto
de apego e ficavam lá, paradas, afundando.

Algumas almas tentaram construir casas, palácios e fixar mo-


radia definitiva. No momento em que terminavam suas cons-
truções, sua residência começava a afundar, e elas passavam
a sofrer pelo sentimento de perda. Algumas eram tomadas pela
lama junto com suas criações. Outras ficavam com medo de
andar e afundar, mas, por incrível que pareça, mesmo paradas
elas afundavam lentamente. Quem não seguisse em frente,
naufragava inevitavelmente no excruciante lamaçal.

Caminhei mais e mais, por dias ou até semanas, e vi também


umas poucas almas que não levavam coisa alguma consigo.
Essas andavam bem mais rapidamente, deixavam as outras
para trás, e nessa condição, não afundavam. Observei outras
almas que levaram seus sacos por muito tempo, mas num certo
momento se cansaram de carregar tamanho peso e soltaram
tudo pelo caminho, conseguindo assim sair da lama e avançar
mais rapidamente. Pude perceber que essas almas mais des-
prendidas começavam a chegar num local onde existia mais
luz, um espaço infinito, com grama verde, muitas flores, pássa-
ros cantando, uma brisa suave e impregnado de muita paz e
alegria.

Continuei andando e ouvi uma voz suave, nem masculina nem


feminina, dizendo: “Este é o nosso mundo…”

Fiquei espantado com aquela revelação. “Por que seria o


nosso mundo?” perguntei.

O ser luminoso me respondeu:

“As almas que aqui caminham erráticas pelos firmamentos efê-


meros, movediços e oscilantes do mundo material, não adqui-
riram a compreensão de que o mundo físico é instável e sujeito
a transformações constantes. A inexorável transformação do
universo composto de matéria captura as almas que nele se
apegam e as prende até que elas decidam soltar toda a carga
ilusória acumulada.”

561
Isso parecia fazer todo o sentido. Perguntei aquele ser de luz
que lição se podia tirar de tudo aquilo, e ele respondeu:

– Em pouco tempo você vai acordar deste sonho, mas lembre-


se desse ensinamento: a vida é uma travessia, não tente mon-
tar acampamento nem conduzir cargas pesadas, pois você se
prenderá e sofrerá. Apenas cruze o vale do mundo, todo ele.
Não fixe, neste local transitório, a sua morada.

562
MEDO DA SOLIDÃO

Era uma vez uma jovem chamada Priscila.

Priscila era um pouco diferente das outras adolescentes da sua


idade. Gostava de coisas diferentes, como poesia, pintura e li-
teratura antiga. Gostava de vestir-se num estilo clássico, e ti-
nha aversão a qualquer traço de moda contemporânea. Tinha
pensamentos e ideologias que destoavam de sua geração. Por
esse motivo, as adolescentes de sua idade a isolavam, e ela
acabava por se sentir um pouco sozinha.

Certo dia, Priscila conheceu um rapaz que passou a gostar,


mas o rapaz a rejeitou, dizendo que ela tinha um jeito muito
estranho de ser. Nesse dia, Priscila chorou muito, e decidiu que
agora iria se ajustar a sociedade. Entrou de cabeça no mundo
do consumismo e decidiu que não queria mais ficar sozinha.
Passou a comprar roupas, utensílios, tudo que é tipo de coisas
que pessoas de sua idade usavam.

Depois de 1 mês vestindo-se e usando coisas que eram co-


muns a média dos adolescentes, Priscila começou a ser mais
notada, e logo se entrosou com a turma da escola e do clube.
Teve que se adaptar a conversas, passeios, e compras que
não a agradavam, mas pelo menos, ela estava, pela primeira
vez em sua vida, sendo percebida como alguém normal e
sendo respeitada como ser humano.

O tempo passou, e Priscila sentia-se triste. Estava contente de


ter se juntado a outras meninas, mas sentia um vazio que não
sabia explicar. Era um sem número de roupas, revistas da
moda, programas de TV, boates, músicas, etc, que ela veio a
aderi, mas nada disso a satisfazia. Priscila parou, e procurou
entrar dentro de si e tentar descobrir como estava se sentindo.
Percebeu que essa tentativa de se adaptar ao meio atual a fi-
zera mais triste e solitária do que em tempos anteriores. Sentia-
se um objeto que tentava ser humana, e não um ser humano
que utilizava objetos. A condição de ter havia sobrepujado a
condição de ser. Tudo que ela consumira havia apagado, sufo-
cado, distorcido seu interior num mar de futilidades.

563
Priscila chorou, chorou, e se arrependeu de um dia ter rene-
gado a sua essência em detrimento de ajustar-se ao gosto da
média de suas colegas. Após profunda reflexão, ela pensou:

“Mudei meu modo de ser e tentei me ajustar a sociedade para


ser aceita, tudo isso por medo da solidão. Mas depois de pas-
sar por tudo isso percebo que a maior solidão está em renun-
ciar aquilo que somos e viver num mundo de aparências. Na
tentativa de fugir da solidão e se encaixar dentro de algo que
não somos, nos sentimos ainda mais solitários, pois abdicamos
de quem somos. Jamais abrirei mão do que sou por medo da
solidão e da não aceitação. A verdadeira solidão está em abrir
mão daquilo que temos lá no fundo, lá dentro de nós, a nossa
real essência.”

Priscila jogou fora tudo que tinha adquirido nesse período de


tentativas frustradas de adaptação, e voltou a ser como era an-
tes. Mais uma vez ela podia sentir sua própria essência, e
agora, não sentia mais qualquer resquício de vazio e a solidão.

564
PARTÍCULA DE DEUS

Um cientista muito famoso anunciou na mídia que havia encon-


trado a chamada “Partícula de Deus”, que era o ponto inicial de
toda a criação divina, a origem primordial e a essência de toda
a vida universal.

Muitas pessoas ficaram curiosas para saber como era a partí-


cula de Deus. “Se é a essência da vida, deveria ser algo muito
especial e revelar todos os segredos do cosmos”, pensaram
alguns.

O cientista montou então uma cabine na rua para mostrar a


todos a partícula de Deus. Nessa cabine, segundo ele, havia
um aparelho super sofisticado que permitia a visão da partícula
de Deus num super microscópio. Uma grande multidão se aglo-
merou na porta esperando ver a tal partícula. Muitos religiosos,
cientistas, artistas e todo tipo de gente estava interessada em
conhece-la.

Uma a uma, as pessoas foram entrando. No entanto, todos que


entraram e saíram após verem a partícula de Deus ficaram
muito espantados com a revelação. O que estaria ali, naquela
cabine, de tão incrível?

Seu José, muito religioso, estava ansioso para ver a partícula


de Deus. Esperou quase 2 hora na fila, e finalmente conseguiu
entrar na cabine. Assim que cruzou a porta, viu um espelho
com sua própria imagem refletida, e uma placa em cima do es-
pelho com a frase:

“Você é a partícula de Deus, o alfa e ômega da criação. Você


é deus vivendo uma experiência humana. Uma chama divina
arde eternamente em seu interior. Deus, em sua perfeição, fez
a melhor coisa que poderia existir: você.”

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme


a nossa semelhança.” (Gênesis 1, 26)

“Vós sois deuses” (Salmo 82, 6)

“Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Vós sois


deuses?” (João 10, 34)

565
ISSO PASSA

Aquela humilhação que você sofreu na escola. Isso passa…


Aquele relacionamento que não deu certo e te machucou
muito. Isso passa…
Aquela dor que tanto te incomoda e que atrapalha a sua vida.
Isso vai passar…
Aquele erro que você não se perdoa por ter cometido. Isso
um dia acaba…
Aquela pessoa que te traiu, te enganou e te iludiu. Isso
também vai passar…
Aquele medo que você tem de ser abandonado e ficar
solitário o resto da vida. Isso passará em breve…
Aquela tristeza, depressão, mágoa, angústia e vazio. Tudo
isso vai passar…
Aquela pessoa que te agrediu na frente dos outros. Isso
também passa…
Aquele troco no ônibus que você brigou, se irritou e ficou com
raiva. Isso vai deixar de existir…
Aquele processo na justiça que demorou anos e você perdeu
injustamente. Isso vai passar…
A perda dos seus familiares, das pessoas que você ama, e a
saudade de reencontra-los. Isso também passará…
Para que se preocupar se tudo isso passa?
Assim como as nuvens se dispersam…
Assim como rio corre…
Assim como as flores nascem e perecem, abrem e fecham…
Assim como a primavera sucede o inverno; como as frutas
caem…
Assim como as marés sobem e descem, como o vento sopra,
isso passa…
Da mesma forma que a gaivota cruza o céu e vai embora…
Por mais que demore, tudo isso certamente passará…
Não há qualquer coisa no mundo que dure para sempre.
Você pode até sentir que uma dor é eterna; pode até sentir
que o sofrimento não acaba; pode acreditar que a angústia é
inesgotável, ou que o vazio do seu coração vai te destruir…
Mas não vai… pois tudo isso, sem exceção, vai passar…
Se tudo é passageiro, para que ter medo?
Para que se desesperar?
Para que cair no solo e sofrer?
Um sopro de Deus abala nossas certezas; uma simples
intempérie pode redesenhar nossa vida.

566
Vamos de cima a baixo… e de baixo para cima, na eterna
roda da existência universal. Uma hora estamos por baixo e
outra hora estamos por cima. Não escarneça quem está
embaixo e nem veja com adoração quem está em cima, pois
o alto e o baixo também passarão.
Tanto os bons momentos e quanto os maus momentos
também vão passar…
Os injustos estarão arrependidos…
Os coxos vão caminhar…
Os cegos vão enxergar…
Os dementes vão aprender…
Os surdos vão passar a ouvir…
Os doentes vão se curar…
Os orgulhosos serão rebaixados e os humildes serão
elevados.
Todo limite será ultrapassado e todos os sofrimentos vão se
extinguir.
A construção será erguida e depois será destruída…
O bebê nasce e o idoso morre…
O trem passa e a paisagem se modifica…
A roda da existência sempre vai girar… e tudo… tudo
mesmo… vai passar…
Não se trata de uma opinião, de uma suposição, de uma
crença. Essa é a lei eterna da vida e essa lei não passa…
No mundo nada fica… nada permanece como foi… tudo vai e
vem… Todas as coisas mudam e tudo se faz e desfaz…
Mas o espírito da vida, a fonte de tudo, a ordem cósmica, a
harmonia universal, o ritmo da eternidade, a essência do
infinito… Isso ficará para sempre.
Isso não passa… O infinito e a eternidade jamais passarão…
Assim como nossa essência primordial… Não passará…

567
NOSSO MAIOR INIMIGO

Um guerreiro iria enfrentar um monstro grandioso, um dragão


enorme e muito poderoso.

Assim que se colocou diante do dragão, tremia de medo e


quase não podia mexer-se de tanto pavor.

O Dragão soltou fogo pela boca e quase acertou no guerreiro,


queimando tudo a sua volta.

O medo aumentou, e foi paralisando ainda mais o guerreiro.

Quando o guerreiro percebeu que iria morrer e que não tinha


mais nada a perder, pensou: De que adianta ter medo? Já vou
morrer mesmo, ao menos eu enfrento esse monstro e quem
sabe, posso vence-lo.

Enchendo-se de coragem, bem mais tranquilo, o guerreiro per-


cebeu que os movimentos do dragão se repetiam, e se torna-
ram previsíveis. Atento a esses movimentos, o guerreiro atirou
sua espada, que foi cravada no peito do dragão. Este caiu no
chão e morreu.

O guerreiro fez uma reflexão:

“Quando os monstros interiores são derrotados, os monstros


exteriores perdem seu poder e vão caindo por si mesmos, um
a um. De todo modo, haveria mesmo essa diferença toda entre
ambos?”

568
A BARREIRA INVISÍVEL

Num passado remoto, havia uma civilização que era muito feliz.
Viviam numa região de muitos recursos e quase nada lhes fal-
tava.

Certo dia, um homem estava caminhando para fora dos limites


da cidade, quando esbarrou em algo. Foi um golpe forte na ca-
beça e isso o cegou. Voltou para a cidade e contou que havia
esbarrado em algo estranho e que esse algo o havia cegado.
Um líder religioso disse que poderia ser uma maldição dos deu-
ses, que talvez tivessem colocado uma barreira invisível para
que os habitantes daquela sociedade não saíssem da região.
Todos ficaram com medo e começaram a evitar o lugar. Com o
passar do tempo, as pessoas foram ficando com mais medo e
nenhuma mais se atreveu a enfrentar as barreiras invisíveis
que haviam cegado o homem.

O tempo foi passando e os homens deixaram de caçar e de


colher, pois tinham medo de se defrontarem com as barreiras
maléficas ao redor da cidade. Isso foi gerando fome e deses-
pero. Todos estavam famintos, assustados e deprimidos. Per-
deram sua liberdade e não sabiam como fazer para transpor as
muralhas invisíveis, pois ninguém se atrevia a se aproximar de-
las.

Certo dia, um sábio viajante chegou a cidade. Todos ficaram


assustadíssimos com a presença do sábio. Como ele poderia
ter conseguido transpor as barreiras dos deuses? Perguntaram
então ao sábio como ele fez, ele respondeu:

– Vamos até o local ver onde estão esses limites maléficos.


Ninguém quis ir, a não ser um jovem de 14 anos, muito cora-
joso, que acompanhou o sábio.

Eles foram até o local e não havia qualquer barreira invisível.


Assim que retornaram, o jovem disse que todos poderiam ir ao
local sem nenhum problema, pois a barreira invisível nada mais
era do que um mito criado no passado, e que não possuía qual-
quer fundamento no real.

569
Todos foram até os supostos limites, e não puderam encontrar
qualquer sinal de barreira invisível que há tanto os atormen-
tava. O sábio então dirigiu-se a todos e disse:

– Que isso sirva de lição a todos. A maior barreira que existe é


aquela que não enxergamos e que cultivamos em nossas men-
tes. E para se libertar desses limites, é necessário ir até eles e
transpassa-los.

570
AS CINCO REGRAS DA RAIVA

Vamos explicar cinco regras simples a respeito da raiva. Pro-


cure meditar nesses cinco aspectos para evitar que a raiva te
domine:

A primeira regra é bem simples e ela diz o seguinte: “a raiva


bloqueia teu raciocínio”. Isso significa que os momentos em
que explodimos de raiva são os piores para se tomar decisões,
posto que as fortes emoções restringem nossa razão e nosso
pensamento. Sempre que você fica com raiva e explode em
intenso fervor emocional, você pode fazer escolhas que depois
farão você se arrepender, e que podem até te prejudicar. Mui-
tas vezes, tomados que estamos pela fúria, escolhemos, dize-
mos ou fazemos coisas que depois, na tranquilidade, pensa-
mos “se estivesse calmo, não faria aquilo”. A trajetória de uma
vida inteira pode ser modificada e destruída em apenas alguns
minutos de ira.

A segunda regra diz o seguinte: “Quem está nervoso muitas


vezes deseja que outros fiquem como ele”, ou seja, todos aque-
les que estão num estado de tensão, nervosismo e que vivem
nas trevas da raiva e irritação compulsiva desejam que outras
pessoas compartilhem do mesmo sentimento e descontrole.
Quem está na escuridão quer que todos estejam na escuridão,
pois assim eles sentem que há muitas pessoas como ele, e não
se sente tão mal caso fossem os únicos. Apagar a luz dos ou-
tros é a melhor maneira de não enxergar sua própria escuridão.
Em outras palavras, quem está na lama, quase sempre quer
trazer os outros para a lama, pois assim eles têm “companhia”.
O raivoso deseja ter alguém com quem compartilhar sua raiva,
pois a raiva sozinha perde seu “combustível”, e muito frequen-
temente se transforma em depressão. Toda raiva não compar-
tilha com outros acaba tornando o raivoso depressivo, com
sentimentos de carência e vazio.

A terceira regra é a seguinte: “Não dê poder a quem não tem”.


Quando você se deixa levar pelos berros e deixa a raiva te do-
minar, você está dando poder àquela pessoa e permitindo a ela
te desestabilizar. Mas esse poder de desorganização emocio-
nal é a própria pessoa que confere ao outro. No momento em
que você pára de dar poder a quem não tem poder, você não

571
mais se envolve pelas ofensas e agressões alheias e passa a
ser mais neutro e menos vulnerável.

A quarta regra diz algo muito importante: “A raiva prejudica a


nós mesmos, e não ao outro”. Há uma máxima de sabedoria
que diz o seguinte: “Ficar com raiva de outrem é o mesmo que
tomar veneno e esperar que o outro morra”. O maior prejudi-
cado com os acessos de raiva ou com a raiva prolongada so-
mos nós mesmos. A ira pode gerar doenças emocionais e até
físicas, em casos extremos, pode instalar quadros depressivos
numa pessoa. A raiva contida é ainda mais prejudicial, pois vai
aos poucos minando as nossas estruturas psicológicas. Por-
tanto, tua raiva não prejudica o outro, ela afeta, em primeiro
lugar, o próprio raivoso.

E por fim, a quinta regra também é simples, mas pode parecer


difícil de ser aplicada para algumas pessoas: “Não responda a
uma ofensa, apenas silencie”. Quando, por exemplo, algum pa-
rente está envolto pela ira e começa a agredir a todos, a melhor
resposta é o silêncio. Por que o silêncio? Pois é apenas no si-
lêncio que aquela pessoa conseguirá ouvir a si mesma. Ela
passará a ouvir seus próprios gritos, suas ofensas, suas agres-
sões e terá a chance de se perceber, se sentir e se tocar do
mal que está emanando. A quinta regra diz: apenas silencie e
deixe a pessoa ouvir a si mesma. No momento em que não
correspondemos a raiva, a pessoa perde sua energia, fica so-
zinha e passa a perceber a si mesma, e assim, ela pode enxer-
gar-se como é. Dessa forma, a chance dela se ver e procurar
se modificar é bem maior.

572
O QUE É ESPIRITUALIDADE?

Espiritualidade não é uma religião, não é uma doutrina, não é


o sacerdócio, não é uma crença e nem uma opinião.

Espiritualidade é um modo de vida, é um estado de espírito, é


uma abertura mental, é uma aspiração à transcendência.

Espiritualidade é sentir arder uma chama interior que ilumina


nosso caminho no caos e nas trevas que vivemos no mundo.

Espiritualidade é a confiança expressa nas palavras “Ainda que


eu ande pelo vale da sombra e da morte, nada temerei.”

Espiritualidade é entender que somos como crianças tomando


uma vacina, que machuca muito na hora, negamos, gritamos e
esperneamos, mas que depois imuniza nosso espírito.

Espiritualidade é ir além, é a consciência de que a vida não se


encerra na morte, de que é preciso haver continuidade dentro
da descontinuidade. De que tudo que começa, termina; tudo
que nasce, morre; tudo que vai, volta. De que para cada pro-
blema há uma solução, para cada lágrima derramada há sem-
pre um consolo e para cada perda há sempre um ganho.

Espiritualidade é reconhecer um propósito em todas as coisas,


e recusar a existência da sorte, do azar e do acaso. É ter paci-
ência e confiar que, um dia, o significado de tudo será desven-
dado.

Espiritualidade é dar de si mesmo, é renunciar ao pequeno


para obter algo maior, é abdicar de nossas pequenas posses
para ganhar tudo o que sempre nos pertenceu. É fazer das flo-
restas do mundo nosso jardim, é fazer do céu o nosso teto, é
fazer dos mares e rios a nossa piscina, é fazer da Terra a nossa
casa. É cuidar do tudo, de cada ser e coisa, e não apenas de
nossos escassos bens terrenos.

Espiritualidade é ver por dentro, é não se deixar levar pelas


aparências, é reconhecer o essencial em cada mínimo aspecto
da vida, é satisfazer-se com pouco para obter muito, é rasgar
o véu da ilusão e desejar entender o mistério da vida.

573
Espiritualidade é pedir pouco e agradecer muito. É dar muito e
nada pedir em troca. É fazer sem esperar retribuições. É per-
doar, é arrepender-se, é refazer, é renovar, é reaprender a ver
o mundo e a si mesmo.

Espiritualidade é fazer do seu professor o lírio do campo, as


árvores ao vento, a tempestade nebulosa, o orvalho numa flor,
a borboleta esvoaçando, o rio fluindo, os pássaros cantando. É
aprender com a mais insignificante criatura.

Espiritualidade é deixar o humano morrer para o divino nascer.


É trazer o céu para a Terra. É viver na Terra o céu que deseja-
mos após a morte. É debruçar-se no inferno resgatando as al-
mas perdidas e errantes. É ser uma luz no meio da escuridão.

Espiritualidade é dormir quando se tem sono, é comer quando


se tem fome, é olhar a montanha e ver a montanha, é molhar
as mãos no rio e sentir o frescor das águas, é ver aquilo que
está ali, é não intelectualizar tudo, é sentir a essência das coi-
sas e mergulhar na essência da vida.

Espiritualidade é estender a mão aos que sofrem, é dar con-


forto aos que choram, é dar abrigo aos sem teto, é dar conse-
lhos aqueles que se perderam, é esclarecer aqueles que têm
dúvidas, é dar de si mesmo em prol de todos, é fazer o bem
pelo bem, é morrer pela verdade para renascer na plenitude.

Espiritualidade é dispensar as palavras e os discursos fúteis e


navegar nas paragens do silêncio interior. É aprender a ouvir a
vida, a ouvir a si mesmo, a diminuir a corrente dos pensamen-
tos, é tranquilizar o turbilhão das emoções, é fazer circular as
energias, é deixar tudo fluir.

Espiritualidade é viver na simplicidade, naturalidade e na es-


pontaneidade. É libertar-se de tudo o que é passageiro, pere-
cível, transitório. É mergulhar na vida sem medo, sem travas,
sem amarras, sem correntes, sem bloqueios. É viver, e apenas
viver, sentindo a vida como ela é. É não precisar de nada, não
depender de coisa alguma, não se deixar influenciar pelas ma-
rés agitadas da confusão.

Espiritualidade é libertação, é humildade, é fé, é amor e é es-


perança.

574
O QUE TE FAZ FELIZ?

Um mestre oriental estava reunido com um grupo de pessoas,


que vinham vê-lo a fim de receber um pouco de sua sabedoria.
O mestre sempre ouvia as perguntas das pessoas e procurava
responde-las de acordo com o nível de entendimento de cada
um.

Uma das pessoas virou-se para o mestre e perguntou:

– Mestre, o que é a felicidade?

– Antes de responder essa pergunta – disse o mestre – vou


fazer uma pergunta a todos. O que te faz feliz?

– Meus filhos são a minha felicidade, disse uma moça.

– Minha estabilidade financeira me dá tranquilidade, e conse-


quentemente, me faz feliz, disse um comerciante.

– Minha esposa, disse um homem que amava muito sua mu-


lher.

– Penso que serei feliz quando encontrar meu grande amor,


disse um jovem.

E cada uma das pessoas foi dizendo aquilo que a fazia feliz.
Por último, sobrou um senhor mais idoso, dos seus mais de
sessenta anos. O mestre perguntou:

– Só falta o senhor responder a pergunta. O que te faz feliz?

O senhor parou, pensou um pouco, olhou para o céu, e respon-


deu:

– Nada…

Todos ficaram surpresos com a resposta, o homem completou.

– Nada me faz feliz. Não consigo encontrar alguma coisa que


me traga felicidade. Eu simplesmente sou feliz.
Todos olharam uns para os outros e se deu um silêncio no am-
biente. O mestre disse:

575
– Prestem atenção no que esse homem acabou de dizer, pois
dentre todos aqui, ele é o único que encontrou a felicidade ver-
dadeira. Só há felicidade ou realização quando esse senti-
mento não está ligado a coisa alguma, não depende de nada e
não precisa de nada. Quando nossa felicidade está vinculada
a algo, ela será sempre incompleta e sujeita a terminar a qual-
quer momento. Se você disser, meus filhos me fazem feliz, ou
sou feliz por este ou aquele motivo, caso você venha a perder
isto, sua felicidade se esgota, se perde, e você não mais a terá.
Mas quando nossa felicidade não depende de coisa alguma,
ela vem apenas de dentro de nós, sem nenhuma explicação e
causa. Essa é a felicidade mais pura e real.

576
NOSSO POSICIONAMENTO NA VIDA

Um homem estava muito triste com sua situação atual. Sua


vida estava cada vez mais difícil. Não sabia mais o que fazer e
pensou em desistir.

De repente, presenciou um acidente de carro. Dois carros coli-


diram de forma brutal. Um dos motoristas saiu do carro e disse:

“Ai meu Deus, que droga! Que inferno de vida! Perdi meu carro
nessa batida! Como a vida é injusta! Que raiva de tudo!”

Outro motorista, que sofreu o mesmo acidente na colisão, com


os mesmos danos ao seu veículo, saiu do carro e disse:

“Graças a Deus estou vivo! Abençoado seja esse dia em que


minha vida foi salva. Consegui sobreviver a um acidente fatal.
Estou feliz e aliviado.”

O homem viu aquela cena e agradeceu a Deus pela resposta,


pensando:

“Claro, agora eu compreendi. O primeiro motorista sofreu o


mesmo acidente e reagiu negativamente, amaldiçoou tudo e
ficou raivoso. O segundo, ao contrário, agradeceu ter sobrevi-
vido e abençoou a existência. Tudo na vida depende da forma
como nos posicionamos diante das circunstâncias. Boa parte
dos problemas que enfrentamos tem a ver com a forma como
nós o encaramos. O que importa não são as situações em si
mesmas. O que faz a diferença é a forma como nós reagimos
ao que nos ocorre”.

Não importa o que te aconteça na vida, o importante é o que


você faz com isso.

577
FAZER O BEM

Praticar o bem não é fazer tudo pelo outro.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos contrariar uma


pessoa e deixar que ele faça algo sozinha.

Para fazer o bem, algumas vezes precisamos deixar que a


pessoa caminhe por si mesma.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos saber dizer não na


hora certa, e não nos submetermos aos caprichos do outro.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos deixar nossos filhos


errarem sozinhos, pois só pela dura experiência do erro
cometido é que virá o aprendizado e o amadurecimento.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos não responder uma


pergunta, mas estimular uma reflexão e deixar que o outro
chegue a resposta sozinho.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos mostrar a verdade


ao outro, por mais doloroso que seja para ela.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos dizer a pessoa que


ela está sendo invasiva e impor alguns limites.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos terminar uma


relação que já está desgastada e dissolver antigas raízes de
apego ao outro.

Para fazer o bem, algumas vezes devemos elucidar


comportamentos inoportunos que o outro insiste em praticar.

Para fazer o bem, algumas vezes é necessário retirar regalias,


privilégios e confortos, para provocar um movimento que levará
a pessoa sair do comodismo.

Fazer o bem é dar com amor, mas o amor também pressupõe


retirar algo para que a pessoa aprenda a conquistar sozinha.

578
ONDE FOI QUE EU ERREI?

É bem curioso isso. As pessoas mergulham num mundo mate-


rialista, consumista, ilusório, sem amor, sem vida, sem contato
com a natureza…

Os relacionamentos são superficiais, não há afeto, não há re-


ciprocidade, somente se usa o outro, se mente ao outro, se
tenta controlar o outro.

As pessoas valem mais pelas palavras que proferem, do que


pelas atitudes que têm; valem mais pela imagem que projetam,
do que pela sua essência, valem mais pelo que possuem do
que pelo que são. Preferem ouvir músicas altíssimas para não
ouvir a si mesmos e os anseios mais íntimos do seu coração.

Depois de envolver-se intensamente nesse mundo materialista


e vazio, sentem-se insatisfeitas, ficam doentes, e vão se entu-
pir de remédios alopáticos e antidepressivos, que não vão re-
solver o problema, mas apenas criar uma falsa sensação de
saúde e uma ilusória sensação de alegria.

E depois de tudo isso, ainda querem ser felizes… Acham que


a felicidade será encontrada no próximo jogo de futebol de do-
mingo, no churrasco do fim de semana, nas novelas, em reality
shows e em outras futilidades efêmeras. Consolam-se no
mundo da mídia e do entretenimento acreditando que é possí-
vel fugir do real…

E depois ainda perguntam: onde foi que eu errei?

A resposta é muito clara:

Você errou em valorizar as coisas banais, transitórias e vazias


ao invés daquilo que é real. Você errou em optar pela ilusão
consoladora ao invés da verdade impactante. Você errou ao
tratar o ser humano como algo a ser manipulado, e não como
um parceiro evolutivo. Você errou em acreditar na arrogância
ao invés de acreditar na humildade. Você errou em buscar no
passageiro algo da ordem do eterno. Você errou em trocar o
amor pela ilusão.

Mas não se preocupe, ainda dá tempo de consertar tudo isso.

579
Como?

Escolha a verdade, e não a ilusão. Escolha o amor, e não a


indiferença. Escolha a humildade, e deixe de lado a soberba.
Escolha relacionamentos profundos e amorosos, e não meras
conveniências humanas. Escolha viver de acordo com sua na-
tureza, e não a renegando o tempo inteiro.

Escolha… finalmente… ser você mesmo e despertar a essên-


cia que sempre esteve presente em ti.

580
TUDO ESTÁ DANDO CERTO

Uma moça, chamada Caroline, jovem e muito religiosa estava


fazendo as primeiras escolhas em sua vida. Decidiu que queria
ser médica e optou em cursar medicina. Porém, no primeiro
vestibular, não alcançou nota suficiente para passar. No ano
seguinte prestou mais uma vez, e de novo não obteve sucesso.
Estudou muito e tentou pelo terceiro ano consecutivo, e mais
uma vez não conseguiu ser aprovada na universidade.

Após três decepções em três anos seguidos ela orou fervoro-


samente a Deus e perguntou por que ela não conseguia passar
na universidade e qual era o motivo de suas tentativas frustra-
das. Ficou em oração por um tempo e veio em sua mente uma
voz angelical que disse:

– “Está dando certo…”.

Caroline ouviu a voz, mas não deu importância, já que obvia-


mente o vestibular não tinha dado certo, pois ela não passou
em medicina, que era seu sonho. No ano seguinte tentou Di-
reito e conseguiu ser aprovada, porém com certa tristeza.

Quando estava cursando Direito, leu num cartaz da faculdade


uma excelente oportunidade de estágio, num dos escritórios de
advocacia mais conceituados do Brasil. Passou por uma entre-
vista de emprego e foi muito elogiada pelo entrevistador. Mas
na prova teórica necessária para a aprovação não teve o
mesmo sucesso e foi reprovada. Assim que chegou em casa,
a noite, orou mais uma vez aos anjos e perguntou por que o
estágio também tinha dado errado, assim como a medicina.
“Por que quase tudo dá errado?”, perguntou ela em oração.
Subitamente ouviu a mesma voz angelical dizendo

– “Está dando certo…”.

Mais uma vez não deu importância à voz, posto que, obvia-
mente, ela tinha perdido uma grande oportunidade de estágio.

Caroline morava num apartamento com sua mãe. Havia termi-


nado a faculdade quando, num ataque cardíaco fulminante,
sua mãe morreu e a deixou sozinha neste mundo. Caroline se
desesperou muitíssimo, pois era bastante apegada a sua mãe.

581
Desenvolveu um quadro depressivo após a perda e precisou
de alguns meses até se recuperar. Numa de suas crises de
desespero, fez uma prece dirigida aos anjos do Senhor e mais
uma vez perguntou:

– Por que Senhor? Por que tudo em minha vida dá errado?


Mais uma vez, a mesma voz angelical, muito bela, ressoou
dentro de sua mente, mas agora lhe veio também à imagem de
um anjo, que disse:

– “Está dando certo…”.

Caroline já começava a ficar brava com a voz. “Nada está


dando certo, que droga!”, disse ela em voz alta. “Tudo em mi-
nha vida está dando errado! Não entendo por que Deus faz isto
comigo!”

Após a morte de sua mãe, Caroline, que já era viciada em tra-


balho, começou a ficar ainda mais mergulhada nos afazeres do
escritório em que começou a trabalhar. Já estava por demais
estressada e cansada de tanto trabalho, e por isso acabou fi-
cando muito doente e foi conduzida a UTI de um hospital com
um quadro bem grave. Ficou mais de dois meses internada,
sem poder trabalhar, e ficou pensando sobre a sua vida até
aquele momento. Sua sensação era de ter perdido tudo e estar
à beira de um surto. Mais uma vez orou ardentemente e pediu
uma explicação a Deus e aos anjos.

– Deus, por favor, me ajude. Perdi tudo e estou aqui neste leito
de hospital inválida. Qual o sentido de tudo isso? Por que tudo
dá errado para mim?

Caroline ficou tão nervosa com essa situação que acabou


tendo um ataque cardíaco. Percebeu seu corpo muito leve e
começou a levitar acima do leito hospitalar. Viu a equipe mé-
dica tentando reanima-la, mas sem sucesso. De repente já não
estava mais no hospital, mas numa espécie de cosmos espiri-
tual infinito, além do tempo e do espaço, numa região de luz e
amor. Nesse momento, uma voz suave disse:

– “Está dando certo…”.

582
Caroline reconheceu aquela voz. Era a mesma voz que, ao
longo de várias fases de sua vida até aquele momento, havia
sempre lhe incentivado com a afirmativa de que tudo estava
dando certo. Logo depois um anjo apareceu. Caroline então
resolveu aproveitar aquela situação de “quase-morte” e per-
guntou ao anjo.

– Ao longo de minha vida sempre ouvi sua voz dizendo que


tudo estava dando certo. Mas eu não passei em medicina, perdi
o estágio que tanto queria para minha carreira em Direito, mi-
nha mãe, que era a pessoa que eu mais amava morreu, fiquei
depressiva e agora estou aqui, morta, após uma grave enfer-
midade. Como é possível acreditar que minha vida deu certo?

O anjo, com olhar amoroso, respondeu:

– Caroline, em todos os momentos difíceis de sua vida eu lhe


disse que as coisas estavam dando certo, e de fato estavam.
Você não passou na faculdade de medicina por que não seria
feliz como médica, não era esse o seu dom. Você seria mais
produtiva, feliz e cumpriria muito mais a sua missão sendo ad-
vogada. Você não passou no “prestigiado estágio”, pois seria
estuprada no escritório nos primeiros dias de trabalho, o estu-
prador ficaria impune e isso provocaria feridas psicológicas que
você dificilmente superaria. A morte de sua mãe serviu para
você se libertar do apego que tinha dela, e para você aprender
a se virar sozinha, como você conseguiu depois. A doença que
te levou a interrupção do seu trabalho veio para que você pu-
desse parar um pouco com sua rotina super corrida e estres-
sante e refletisse um pouco sobre você mesma, caso contrário,
algo pior poderia ocorrer. Tudo isso serviu de aprendizado, li-
ções que você jamais irá perder. Por isso eu sempre lhe trans-
mitia o pensamento de que “Está dando certo”. De um ponto
de vista humano limitado, tudo estava dando errado, mas de
um ponto de vista infinito, dentro do seu desenvolvimento espi-
ritual, tudo estava dando certo. Muitas vezes as pessoas pe-
dem a solução dos seus problemas e acreditam que sua vida
está toda errada. E na maioria das vezes, está tudo dando
certo, mas o ser humano não percebe isso. Os anjos ficam re-
petindo “está dando certo… está dando certo…” e as pessoas
não acreditam. Agora volte a Terra, pois ainda não chegou a
sua hora. Você vai retornar e passar a viver uma existência
muito melhor.

583
NOVE ORIENTAÇÕES SOBRE OS FALSOS PROFETAS

Seguem nove orientações gerais que todas as pessoas preci-


sam conhecer para não caírem nas garras dos falsos profetas,
falsos mestres, falsos gurus ou falsos líderes religiosos.

A primeira orientação, que ninguém deve jamais perder de


vista, é o fato de que o único mestre a que devemos seguir com
toda nossa dedicação é o nosso mestre interior. O mestre ex-
terno nada mais é do que um canal para a expressão do seu
mestre interno. O mestre externo funciona tal como um espelho
que visa refletir a sabedoria que já existe latente em teu próprio
interior.

A segunda orientação, e talvez a mais importante, é procurar


perceber se o mestre ou líder religioso coloca sua própria per-
sonalidade em destaque. Os falsos profetas sempre colocam
seu ego acima da sabedoria da mensagem que propagam. O
mestre autêntico expõe sempre o ensinamento em primeiro
plano, e seu ego fica sempre em segundo plano, ou quase não
aparece. Os falsos mestres sempre desejam o culto ao ego e
à imagem de si mesmos.

A terceira orientação diz respeito a imposição de dogmas e ao


livre pensamento. Um falso mestre sempre dirá que você deve
aceitar as verdades que ele ensina de forma integral e sem es-
paço para questionamento. Seu livre pensamento não é res-
peitado, e você precisará adotar a fé cega, sem que possa re-
fletir sobre o dogma imposto. Pode ocorrer do falso profeta ou
falso líder religioso começar a boicotar, de forma velada, o
adepto mais questionador, e assim ir isolando-o do grupo. Cui-
dado com cultos, locais, religiões ou grupos espirituais que não
abrem terreno ao livre pensar.

A quarta orientação diz respeito ao ensinamento e sua prática.


Os falsos mestres sempre ensinam uma coisa, mas na prati-
cam fazem outra coisa. Seus atos não correspondem aos seus
ensinamentos. Eles pregam grandes verdades, mas quase não
as praticam. Um mestre autêntico ensina mais pelo exemplo,
pela sua história de vida, do que meramente por palavras. Uma
vida de pureza e virtudes é o melhor tratado de sabedoria que
uma pessoa pode “escrever” e deixar registrado para as gera-
ções futuras.

584
A quinta orientação aborda sobre o respeito ao livre arbítrio do
fiel ou seguidor. Um falso profeta, sempre que puder, dirá ao
fiel o que ele deve fazer em sua vida. Um mestre autêntico ape-
nas orienta e deixa o seguidor refletir e ele mesmo escolher
como agir. Os falsos profetas gostam muito de controlar os se-
guidores, e uma das melhores formas para isso é sempre dizer
a eles o que fazer e como se comportar. Mas a escolha do se-
guidor deve sempre ser respeitada, pois o fiel é quem deverá
colher os frutos das boas ou más ações que praticar. Embora
possam receber orientações e recomendações, cabe apenas a
própria pessoa decidir quais serão suas ações no mundo.

A sexta orientação diz respeito à dependência e a independên-


cia. Os falsos profetas desejam sempre que seus seguidores
dependam dele. Nenhum mestre deve criar uma relação de de-
pendência entre ele e seu seguidor. O mestre verdadeiro de-
seja que o fiel se torne independente do próprio mestre, e num
futuro breve possa guiar sozinho a sua vida e seu caminho es-
piritual. Um motorista jamais aprenderia a dirigir se o professor
sempre guiasse o veículo. O mestre ajuda o discípulo para que
futuramente o discípulo não mais precise de ajuda. Apenas os
falsos mestres querem manter seus discípulos dependentes
dele, pois essa é uma excelente forma de dominação.

A sétima orientação versa sobre a ilusão da exclusividade de


um conhecimento. Os falsos profetas sempre dirão aos segui-
dores que eles (os supostos mestres) são os únicos detentores
de uma verdade, e que apenas eles ou a doutrina que eles pre-
gam podem conduzir os fiéis à verdade ou a Deus. Desconfie
sempre dos falsos profetas que afirmam serem os únicos ca-
nais de um conhecimento, e que aquela sabedoria é exclusivi-
dade de uma pessoa ou um grupo.

A oitava orientação fala sobre a responsabilidade e a culpabili-


zação. Os falsos profetas quase sempre colocam a culpa do
sofrimento do fiel em algo externo a ele, sejam demônios, enti-
dades, família, sociedade, etc. O mestre verdadeiro sempre co-
loca a responsabilidade de tudo o que ocorre com o seguidor
nele mesmo. Em última instância, somos responsáveis pelo
céu ou o inferno que vivemos, que nada mais é do que uma
criação nossa. É verdade que existem milhares de influências
neste mundo, mas a forma como nós encaramos ou enfrenta-

585
mos as adversidades dependem de nós mesmos. Portanto,
tudo o que nos acontece tem a nossa participação ativa,
mesmo que não tenhamos consciência das causas. Estas são
as orientações gerais para não se deixar levar pelos falsos pro-
fetas. Quem medita nestes pontos, dificilmente será enganado.

A nona orientação fala sobre o ganho externo ou interno.


Quando você estiver em dúvida se um guru, líder religioso,
mestre é bom ou não, preste atenção no discurso dele sobre
os ganhos exteriores ou os ganhos interiores. Claro que obter
algum ganho no mundo não é necessariamente ruim, mas pro-
cure observar se o discurso dele e sua prática são voltadas
mais ao ganho mundano ou ao ganho interior. Se os ensina-
mentos dele te direcionam mais a ganhar coisas externamente,
talvez a melhor coisa a fazer é deixa-lo de lado e seguir outro
caminho. Pois o objetivo da vida espiritual não é o ganho exte-
rior, as conquistas materiais, os sonhos que nos tragam reali-
zações mundanas. Mas se os ensinamentos dele te direcionam
a ganhos interiores, como felicidade, paz, amor, harmonia,
equilíbrio, humildade, desprendimento, bem estar, etc, dê mais
valor a ele e saiba que você pode segui-lo com mais confiança.

586
LUZ E TREVAS

Uma mulher estava bastante abalada com seus problemas atu-


ais. Encontrava-se depressiva, tomava medicamentos e não
via mais saída para a sua situação. O suicídio era uma opção
desde muito tempo, mas nunca teve coragem de tirar sua vida.

Certo dia, resolveu procurar um guru oriental que muitos ti-


nham como um verdadeiro mestre. Foi então visitar o guru no
mosteiro onde ele vivia. Assim que encontrou o mestre, contou
sua situação e pediu:

– Querido guru, por favor, me dê uma orientação sobre a minha


vida. A única coisa que vejo é escuridão.

– Encontre-me amanhã de manhã no alto desta colina. Quero


te mostrar uma coisa, disse o mestre.

A mulher esperou até o dia seguinte, e assim que o dia raiou,


foi encontrar com o mestre ansiosa pela resposta.
Logo que chegou no alto da colina, observou o mestre em
frente a um túnel escuro.

– Peço que entre por este túnel, até a parte mais escura do
mesmo. Mas não pare de caminhar. Aconteça o que acontecer,
continue caminhando.

A mulher, sem entender nada, confiou e fez o que o mestre


pediu. Adentrou no interior do túnel, que ainda estava ilumi-
nado pelos raios de sol. Conforme ela foi penetrando na parte
interna do túnel, percebeu que a luz estava começando a se
enfraquecer. Entrou ainda mais fundo, e quase não mais con-
seguia se ver ou ver qualquer coisa lá dentro. Começou então
a sentir medo. Não sabia o que continha ali no interior do túnel.
Talvez um bicho viesse atacá-la, ou poderia topar numa pedra,
cair e machucar-se. Começou a suar e tremer descontrolada-
mente. Imaginou-se sendo atacada por animais, sendo picada
por cobras ou aranhas, etc. Pensou também se tudo aquilo não
passou de uma armadilha do suposto sábio para estupra-la. Na
escuridão, na hora do temor, sua imaginação foi bem longe.
Inevitavelmente comparou a situação atual de sua vida com
aquela escuridão tenebrosa. Porém, reuniu os últimos resquí-
cios de coragem, e lembrou-se das palavras do sábio que a

587
havia orientado a não parar no caminho, a seguir em frente,
caminhando, independente de qualquer coisa. Então fez isto,
continuou percorrendo o túnel, mesmo sem nada enxergar. An-
dou alguns quilômetros e começou a ver uma pequena brecha
de luz a frente. Continuou mantendo o mesmo passo. A luz foi
aumentando, e logo se revelou como sendo a saída do túnel.
Voltou a enxergar-se e a ver tudo, e finalmente saiu do túnel.

Assim que saiu, deparou-se com o guru, com um sorriso no


rosto.

– Mestre, disse ela, não compreendi por que tive que atraves-
sar este túnel. Por que me fizeste passar por essa escuridão?

O mestre respondeu:

– Para que pudesse ter contato com a luz no final do túnel.


Observe que você iniciou sua jornada dentro do túnel, chegou
a região mais escura de sua travessia e assim que você cruzou
a metade do caminho, viu um ponto luminoso mostrando a sa-
ída. Você quase desistiu de caminhar, paralisada pelo medo e
por outras travas emocionais. Isso é o que costuma acontecer
com a maioria das pessoas quando se deparam com a escuri-
dão. Elas param ali, ficam imobilizadas e até entorpecidas por
conta do medo e da cegueira da escuridão, das névoas da ig-
norância. Nossa mente começa a viajar e imaginamos muito
mais problemas e perigos do que de fato existem. A escuridão
faz a mente ver riscos e sofrimentos onde nada existe. Mas
quando se insiste em seguir a trajetória com firmeza, sem de-
sistir, mesmo na escuridão, saímos da região central do túnel
e vislumbramos a luz que sempre, e afirmo, sempre… brilha do
outro lado. Jamais se esqueça desta lei natural da vida: quando
chegamos ao ponto mais escuro do túnel, estamos iniciando o
caminho da saída. O mesmo ocorre em nossa vida: assim que
chegamos ao ápice da escuridão, caso continuemos cami-
nhando, um pequeno facho de luz é avistado, e se persistimos,
encontraremos certamente a luz que dissipa as trevas.

588
A ESCOLHA CERTA

Um homem estava se contorcendo para resolver uma questão.


Não sabia o que escolher em sua vida. Estava em dúvida se
continuava investindo em seu trabalho atual, que lhe rendia
pouco, ou se tentava outra carreira. À noite, orou fervorosa-
mente a Deus e pediu que os anjos iluminassem seu caminho
para que pudesse tomar boas decisões.

Após adormecer começou a ter um sonho que lhe parecia bem


real. Involuntariamente viajou para uma região celeste e se deu
conta de que estava na presença de um anjo com uma luz ma-
ravilhosamente bela e amorosa. O anjo disse:

– Suas preces foram atendidas. Você orou a Deus pedindo que


lhe ajudasse a fazer boas escolhas. Mas precisas saber que na
vida há uma escolha fundamental, que ajuda decisivamente em
todas as outras, e é isso que procurarei te mostrar agora, com
a sua permissão. Aceitas submeter-se a uma prova a fim de
verificar se estas pronto para uma escolha muito importante?

O homem ainda estava um pouco mexido com tudo aquilo. No


entanto, sentiu um halo de amor e paz que emanava do anjo,
confiou nele e decidiu aceitar o desafio proposto.

– Pois bem, disse o anjo. Que a prova comece!

Tão logo o anjo terminou de proferir estas palavras, abriu-se a


frente do homem uma estrada de terra. O homem entendeu
que deveria seguir por aquele caminho e ver o que acontecia.

De repente, ele se depara com uma bifurcação no caminho,


parecida com um Y.

Ambos os caminhos parecem não levar a lugar algum e se per-


dem no infinito. Ele começa então a seguir por uma das estra-
das. Nesse caminho, ele percebe que as pessoas vêm ao seu
auxílio, tudo lhe parece mais agradável e as coisas lhe são ofe-
recidas de forma mais sedutora, sem que seja necessário um
maior esforço da parte dele.

Ele começa então a percorrer o outro caminho. Ao contrário do


caminho anterior, neste outro tudo lhe parece mais difícil, ele

589
precisa se esforçar para conseguir as coisas, as pessoas já não
vêm em seu auxílio e não há qualquer facilidade. No entanto,
neste caminho ele enxerga as coisas de forma mais nítida e
clara, e tem uma forte impressão de ser mais ele mesmo. Ainda
neste caminho, não há tentações, as coisas são mais difíceis e
exigem uma atitude firme da parte dele.

Ao se deparar com o fim dos dois caminhos, nada parece existir


ali, não há coisa alguma. Ele então vê as duas opções e sente
que precisa tomar logo uma decisão, uma escolha definitiva por
um dos caminhos.

Por que não seguir o caminho que lhe pareceu mais fácil, já
que nada parece existir no final das estradas? Por outro lado,
no outro caminho, apesar de tudo ser mais difícil inicialmente,
ele consegue ser mais ele mesmo e perceber as coisas com
mais clareza. Então, qual dos dois escolher? O caminho mais
cômodo, ou o caminho mais árduo, porém onde tudo é mais
claro externa e internamente?

O homem finalmente decide seguir pelo caminho menos cô-


modo, onde tudo é inicialmente mais difícil, mas tudo lhe pa-
rece mais claro e verdadeiro. Assim que dá o primeiro passo
no caminho escolhido, ele se vê novamente no início da jor-
nada, e novamente na presença do anjo. O anjo então diz:

– Você obteve sucesso nesta prova! Escolheste o caminho


real, que leva mais rápida e diretamente a meta suprema. O
caminho onde tudo era fácil, cômodo, em que todos vinham ao
seu auxílio, é o caminho daqueles que cedem as tentações da
vida, escolhem o caminho de maior conforto, onde tudo é con-
solador, estável, mas tudo é ilusório e não há esforço pessoal.
O outro caminho, ao contrário, tudo é árduo, pesado, difícil de
início, mas ao mesmo tempo é mais claro e estamos mais lúci-
dos a respeito das coisas. No primeiro caminho, tudo é mais
fácil de início, mas depois se torna mais difícil. O outro cami-
nho; a estrada real, é o contrário; tudo é mais pesado e exige
grande esforço, mas depois se torna mais fácil. É muito comum
se cair na tentação de seguir o primeiro caminho, do como-
dismo e da ilusão. Esse é o caminho que uma boa parcela da
humanidade opta em seguir.

590
O homem ouve tudo com muita atenção e percebe que está
descobrindo uma grande verdade ali, naquele momento. O
anjo continua.

– O primeiro caminho, que tu não escolheste, é o caminho da-


quele que, por exemplo, prefere passar por cima dos outros,
angariar facilidades, fazer negociatas; ser indicado a um cargo
ao invés de merecê-lo; colar na prova ao invés de estudar;
comprar o diploma ao invés de seguir numa faculdade séria;
permanecer num casamento que já terminou porque é mais cô-
modo para ela e os filhos; ou a mulher que se arranja com um
homem rico que lhe dará todo conforto material; ou a mulher
obesa que precisa fazer dieta pela sua saúde, mas pensa que
mais um docinho na festa “não fará diferença”; ou como o fu-
mante que precisa largar o vício, mas pensa sempre em termi-
nar o “último maço”; ou como o político que desvia verba ao
invés de lutar por justiça social; ou o advogado que defende
clientes comprovadamente culpados a fim de torná-los inocen-
tes; ou o pobre que envereda pelo caminho do crime, do tráfico
de drogas e ganha muito dinheiro inicialmente, mas depois é
assassinado ou passa o resto da vida estressado e infeliz; ou
ainda o funcionário que percebe patentes ilícitos em sua em-
presa e lhe é pedido que “feche os olhos” para tudo isso, pois
seu salário é alto e ele consegue ter uma vida material bem
estável. Aqui está a resposta que pediste às tuas indecisões
sobre qual caminho seguir. Uma das escolhas mais importan-
tes, se não for a mais importante, é esta que fizeste. Todas as
outras são um resultado dessa escolha fundamental na vida
dos seres humanos.

591
O REFLEXO DE SI MESMO

Uma mãe e um filho adolescente moravam juntos, mas não se


davam bem. Viviam brigando pelos menores motivos. A mãe
dizia que o filho era preguiçoso, não queria estudar, e não fazia
nada direito. O filho acusava a mãe de ser ausente e de várias
outras coisas. Com o tempo as brigas foram se intensificando
cada vez mais, até que estava se tornando quase insuportável
a convivência de ambos. O filho ofendia a mãe, e a mãe, ner-
vosa, acabava também por ofende-lo, e ambos chegavam a fi-
car dias sem se falar.

A mãe começou a sentir-se cada vez pior. Sentia uma angústia


imensa tomando conta de si. Cogitou enviar o filho para ser
criado com a irmã, mas sentiu que isso não daria certo. Após
uma semana de longas e profundas brigas, a mãe fez uma fer-
vorosa oração pedindo a Deus que lhe desse uma explicação
sobre a razão de tantas brigas. “Senhor, me diga, por que não
consigo conviver bem com meu filho?” falou em oração.

Era noite, a mãe resolveu deitar-se, pois teria um dia de traba-


lho bastante árduo assim que acordasse. Quando o sol estava
começando a nascer, meia hora antes de acordar para ir ao
trabalho, sentiu-se leve e começou a sonhar. Estava no meio
de um campo de trigo imenso, e subitamente apareceu um anjo
luminoso que se aproximava dela.

– Por favor, venha comigo. Quero mostrar-lhe algo relacionado


ao seu filho, disse o anjo.

A mãe, entendendo que Deus havia captado suas súplicas, não


pensou duas vezes e foi junto com o anjo.

Chegaram num local meio escuro e pesado. Havia um espelho


bem bonito e grande no centro.

– Veja sua imagem neste espelho, disse o anjo.

A mulher aproximou-se do espelho, esperando ver sua própria


imagem refletida, mas viu a imagem de seu filho no lugar. To-
mou um grande susto e derramou muitas lágrimas. Então per-
guntou ao anjo:

592
– Mas o que isso significa? Por que estou vendo a imagem do
meu filho refletida neste espelho, ao invés de minha própria
imagem? Perguntou.

O anjo respondeu:

– Essa é a resposta para as brigas e confusões entre você e


seu filho. Vocês são muito parecidos em tendências e compor-
tamentos, e seus defeitos são quase os mesmos. Quando você
briga com seu filho, está vendo nele o próprio reflexo de todos
os defeitos que você procura ocultar de si mesma. O mesmo
ocorre com ele. Um é o reflexo do outro, vocês compartilham
de quase os mesmos defeitos e os dois atacam-se pelo defeito
que ambos possuem. Mas Deus, em sua infinita sabedoria, co-
locou duas pessoas tão semelhantes juntas, para que pudes-
sem, em parceira, ver a si mesmas uma na outra, e dessa
forma, reconhecerem seus defeitos e ajudarem-se mutua-
mente a resolver suas principais imperfeições. Não brigue com
seu filho pelas mesmas deficiências e falhas que guardas em
teu interior. Resolva tuas más inclinações, as brigas cessarão
e vocês poderão voltar a viver em paz.

593
A CHAMA SAGRADA

Os anjos, arcanjos e querubins mais elevados na escala angé-


lica estavam começando a ficar preocupados com a situação
trágica do nosso mundo. A humanidade passava por muitas
guerras, fome, doenças, sofrimento, desespero e vazio espiri-
tual. Foi então que decidiram recrutar anjos iniciantes para dar
conta de realizar todo o trabalho do plano divino na Terra. Mas
antes de estrear suas tarefas nas plêiades angélicas do bem,
os anjos nascentes deveriam passar por uma prova a fim de
demonstrarem suas capacidades.

Analogamente aos estudos humanos, uma espécie de prova


final para poder cursar a série seguinte.

Um dos anjos iniciantes deveria então atravessar uma prova-


ção, uma iniciação ao reino angélico, que o faria galgar ao sta-
tus de Anjo do Senhor. Ele estava ansioso por se tornar logo
um anjo e começar sua jornada no bem, mas antes precisava
provar a sua glória e sabedoria. Após o início da provação, vá-
rios arcanjos, serafins e querubins se reuniram e invocaram o
gênio do fogo, que trazia a chama sagrada para o aspirante a
anjo. Os anjos pediram ao aspirante que colocasse suas mãos
em forma de concha e estivesse pronto para receber o fogo
divino.

Nesse momento, o Gênio do fogo concedeu uma parcela do


fogo sagrado ao aspirante, sem que a chama do gênio se apa-
gasse. O gênio foi embora e os anjos disseram: “Esta chama
representa a luz da sabedoria, que ilumina as trevas e dá alento
a vida espiritual das almas. Agora vá seguindo o teu caminho
e faça o uso desta chama sagrada, desta luz divina como você
achar melhor”.

O aspirante a anjo viu uma estrada se abrindo a sua frente e


foi seguindo por um caminho bastante escuro. Esse caminho
representava boa parte da atmosfera espiritual do nosso
mundo; um clima escuro, pesado e hostil. Mesmo percorrendo
esse caminho de trevas, ele sentia-se bem e orientado, pois
enxergava tudo a sua volta com clareza e lucidez graças a
chama que carregava em suas mãos. Foi então percorrendo
por estradas e vales, e no caminho começaram a aparecer vá-
rias pessoas necessitadas, carentes e em sofrimento, lhe pe-

594
dindo um pouco da luz da chama. Conforme as pessoas iam
passando e pedindo luz, ele ia dando um pouquinho da chama
sagrada a cada alma carente. Foi prosseguindo e mais e mais
pessoas vinham a ele e pediam um pouco da chama em suas
mãos.

No entanto, o anjo observou que, após algum tempo, quanto


mais dava o fogo sagrado que iluminava seu caminho, mais a
chama ia diminuindo de tamanho. O anjo aspirante deu mais
algumas porções de luz e agora caminhava apenas com uma
pequena faísca, e quase não podia ver o caminho. As trevas
começavam a tomar conta de tudo, e ele sentiu um certo temor.
Então iniciou-se um diálogo interno “Devo dar a última faísca
de luz que ainda possuo? Não seria melhor guardar essa por-
ção luminosa para que eu também não mergulhe nessa escu-
ridão aterradora?”. Com a possibilidade de perder sua última
partícula do fogo, que o aquecia e iluminava nas densas trevas
que percorria, ele começou a cogitar ficar com a faísca, mas
ainda estava em dúvida.

Este dilema foi sufocando o aspirante conforme ele seguia sua


jornada. De repente, surgiu uma velha senhora a sua frente, e
lhe pediu a luz que sobrara. O anjo titubeou, refletiu, lembrou-
se dos ensinamentos espirituais, e num ato de sacrifício e de-
sapego, deu sua última parcela do fogo, o último ponto lumi-
noso que restara. Ficou então em escuridão total.

Eis que, dentro de si mesmo, começou a brilhar uma chama, a


mesma chama sagrada que havia recebido do gênio do fogo
na presença dos anjos. Sentiu uma espécie de calor sutil em
seu peito, e notou que o fogo, que antes estava em sua mão,
começara a nascer de dentro dele; seu próprio interior era
agora a fonte da chama sagrada. Nesse momento, tudo a sua
volta começou a ficar maravilhosamente iluminado e aquecido.

Percebeu então que, ao seu redor, estava rodeado de um coro


repleto de centenas de anjos que acompanhavam todos os
seus passos, do início ao fim desta jornada. O aspirante enten-
deu que os anjos jamais o abandonaram, mas estiveram ali o
tempo todo, zelando por ele e observando suas reações diante
do desafio imposto. O Anjo do Senhor proferiu as seguintes pa-
lavras:

595
– Venceste a prova do egoísmo e entregaste tudo o que lhe
restava da chama sagrada da sabedoria para quem lhe pediu,
mesmo tendo a impressão que ficaria sem ela. Se o egoísmo
tivesse vencido, cairias neste vale escuro e ficarias sem luz, tal
é o estado de boa parte da humanidade. Confiaste em Deus e
provaste a ti mesmo que quem se entrega completamente no
caminho do bem, jamais fica desassistido e sem luz. A chama
sagrada, que antes era exterior a ti, agora arde em teu próprio
interior, pois demonstraste a superação diante do egoísmo que
impera em quase toda a humanidade. Observe que todos nós,
anjos, arcanjos e todas as hostes celestiais, possuímos uma
chama sagrada em nosso coração. Da mesma forma que uma
vela, ao acender outra vela, não perde a sua chama, também
os seres humanos e os anjos, quando transmitimos nossa luz,
não a perdemos, ao contrário – a luz só se expande. Vamos
acendendo a luz de cada pessoa com eles. Quanto mais da-
mos sabedoria e amor, mais eles se intensificam. A sabedoria
e o amor são diferentes das coisas materiais. Quando damos
um objeto a alguém, ficamos sem ele. Mas quando doamos
amor e sabedoria, não os perdemos. Agora possuis algo que
nenhum ladrão pode roubar; que ninguém pode destruir; que
as correntezas do tempo não degradam. Podem levar tudo de
ti, até mesmo tua vida física, mas a sabedoria e o amor, jamais
pode ser perdida. Cuida apenas, como disse Jesus, em não
dar pérolas aos porcos. Mas distribua tua luz entre todos, sem-
pre dentro de capacidade individual de cada pessoa em aco-
lhê-la. Agora finalmente és um anjo na Terra.

596
O REMÉDIO AMARGO

Uma mulher estava passando por grandes sofrimentos em sua


vida. Estava cheia de dívidas, seu marido a abandonou, seus
filhos brigaram com ela, e havia o risco de perder a sua casa.
Já não aguentava mais aquela situação, e começou a se ques-
tionar o motivo de tamanho sofrimento. Pensou em desistir de
tudo e tirar sua própria vida.

A noite, em meio a muitas lágrimas derramadas, orou a Deus


pedindo que interrompesse tanto sofrimento, pois ela não que-
ria passar por tudo aquilo. Fez uma prece declarando: “Deus,
por favor, Não consigo aguentar tanto sofrimento, tantas difi-
culdades em minha vida. O Senhor é todo poderoso. Suplico
que retire este peso dos meus ombros”.

Após a oração, a mulher deitou-se e adormeceu. Começo a


sonhar que um anjo vinha em sua presença e lhe dizia as se-
guintes palavras: “Sou o anjo que Deus enviou para te acudir
nesse momento. Por favor venha comigo”.

No sonho, a mulher foi seguindo o anjo e percebeu que ambos


iam regressando ao seu próprio passado. Começou a rever vá-
rias fases de sua vida, e finalmente parou numa cena em que
ela obrigava seu filho a tomar um remédio. O anjo aproximou-
se e disse: “A resposta as tuas angústias está dentro de ti. Tu
mesmo usou este método para ajudar teus filhos”.

A mulher olhou a cena e viu que, num passado não muito dis-
tante, quando seus dois filhos ainda eram crianças, ela os obri-
gou a tomar um remédio bastante amargo. Um dos seus filhos
estava doente, e o médico havia receitado aquele medica-
mento afirmando que, caso o menino não o tomasse, poderia
ficar ainda mais doente. Mas, ao contrário, se ele tomasse a
medicação, iria melhorar em pouco tempo. A mãe então levou
o remédio para o filho. O menino recusou-se a tomar a medi-
cação, dizendo que o gosto era muito amargo, e que ele não
queria sentir aquilo. A mãe então disse que ele deveria tomar
de qualquer forma, caso contrário iria castigá-lo severamente.
O filho chorou, esperneou, gritou, fez muitas cenas, mas final-
mente tomou o medicamento. Alguns dias depois estava cu-
rado de sua enfermidade.

597
O anjo, que acompanhava tudo, perguntou a mulher:

– Você deixaria de dar este medicamento a seu filho por que


ele pediu, alegando que não queria sentir o gosto ruim do re-
médio?

– De jeito nenhum! Respondeu a mãe. Se o medicamento é


necessário, e se vai cura-lo, ele precisa tomar, não importa a
sua vontade. Pois naquele momento ele era uma criança, e não
podia entender o que se passava e a importância da medica-
ção.

O anjo respondeu:

– O mesmo ocorre entre você e Deus. Deus é seu pai ou mãe,


e a humanidade inteira são Seus filhos. Os seres humanos são
como crianças que não compreendem ainda os benefícios do
remédio amargo dos sofrimentos e provações da vida. Da
mesma forma que tu obrigas teu filho a tomar uma medicação
que é para o bem dele, Deus também nos coloca em circuns-
tâncias que nos são indesejadas, mas que são imprescindíveis
para a cura do nosso espírito. Também para ti, os sofrimentos
são remédios muito amargos, e te revoltas e te recusas a sentir
tamanho dissabor. Procure compreender que, da mesma forma
que teu filho precisou do medicamento para se curar, teu espí-
rito precisa atravessar estas tribulações para se purificar.

598
O OUTRO LADO DA VIDA

Um discípulo procurou seu mestre e perguntou:

– Mestre, como posso saber se existe mesmo vida após a


morte?

O Mestre olhou para ele e respondeu:

– Encontre-me novamente após o sol se pôr.

O discípulo, meio contrariado, esperou algumas horas, ansioso


pela resposta.

Logo que o sol se pôs, o discípulo voltou à presença do mestre.


Assim que o discípulo apareceu, o mestre afirmou:

– Você percebeu o que houve? O sol morreu…

O discípulo ficou sem entender nada. Julgou que se tratava de


uma brincadeira do mestre.

– Como assim mestre? Perguntou o discípulo. O sol não mor-


reu, ele apenas se pôs no horizonte.
O mestre disse:

– Exatamente. O mesmo ocorre com todos nós após a morte.


Se confiássemos apenas em nossa visão física, nos pareceria
que o sol deixou de existir atrás da montanha. Mas no instante
em que ele “morreu” no horizonte para nós, ele nasceu do outro
lado do mundo, e se tornou visível para outras pessoas. O
mesmo princípio rege a nossa alma. Após a morte do corpo,
nossa alma parece desaparecer aos nossos olhos, mas ela
nasce no plano espiritual. A chama do espírito não se apaga,
ela apenas passa a brilhar no outro lado da vida.

599
UM HOMEM NUM LEITO DE HOSPITAL

Estava na rotina de minha vida,


Trabalhando e vivendo normalmente.
Agora estou aqui, nesta cama de hospital,
Esperando, deitado, a morte iminente.

Tinha tudo, casa, comida e lazer,


Mas o essencial, escapou-me por inteiro,
Em poucos momentos da minha existência,
Lembrei-me que tudo era passageiro.

Agora a angústia vem para ficar,


E quero minha vida de volta,
Às vezes me pego a chorar,
Remoendo-me na revolta.

Sei que não aproveitei a vida,


Da forma como gostaria,
Se pudesse voltar no tempo,
Até na árvore eu subiria.

Queria fazer tanto e nada fiz,


Fingindo-me de sério e correto,
Mas acredite, não aproveitar a vida,
Só te deixa incompleto.

Quero rolar na grama,


Mergulhar no rio,
Sujar-me na lama,
E aceitar o desafio.

Quero ficar com meus pais,


Curtir a família e a natureza,
E agora estou paralisado,
Preso num leito de tristeza.

Não entendi como a vida é simples,


Para quem não se prende ao superficial.
Se soubesse o quanto era feliz,
Quando cultivava meu quintal,

600
E contemplava com naturalidade,
O alvorecer matinal.
Agora tudo mudou,
E não posso sequer me mexer,

Apenas movimentos com a boca,


Eu posso levemente fazer.
Mas espere, ainda posso falar…
Mexer a boca devagar,

Quero aproveitar esse momento,


E falar de sentimento.
Posso dizer a meus entes queridos,
O quanto sempre os amei,

Pois durante toda a minha vida,


O amor eu nunca declarei.
Sinto-me estranho, estou com frio,
E me sentindo leve…

Agora percebo, estou morto,


E tive uma existência breve.
Nem sequer pude falar,
À minha família o quanto os amei,

Perdi mais esta oportunidade,


Algo que, em minha vida, nunca tentei.
Vejo minha vida passar num segundo,
Tudo um desperdício, nada foi profundo,

Agora compreendo claramente como as coisas são,


O que vale, de verdade, é a pureza de intenção.
Minha fé foi uma mentira,
Uma máscara social,

Devia ter sido eu mesmo,


Bastava apenas ser natural.
Agora vejo claramente,
Que a vida não se desperdiça,
Perdi tudo de mais precioso,
Mergulhando no fútil e na cobiça.

601
Deixo, portanto, essa mensagem a você,
Que ainda está vivo e consciente,
Não esqueça de valorizar as coisas pequenas,
Pois a vida é um presente.

Viva e deixe viver…


Sem se preocupar com a aparência,
Acredite, quando tudo perecer,
Só lhe resta a consciência.

Valorize as coisas simples,


Isso sim tem importância,
Não deseje os prazeres quiméricos,
De quem vive na extravagância.
Não inveje uma pessoa,
Que vive na ignorância,

Mas também não a condene,


Cultive a tolerância.
Com o avançar da idade,
É essencial a humildade.
Esqueça a ganância,
Tudo isso é arrogância.
Deixe de lado a vaidade,
E cultive a caridade.

Se alguém te agredir,
Ofereça uma flor,
Algumas pessoas desconhecem,
O benefício que traz o amor.

Assim, construa uma obra que sobreviva,


E esteja pautada no bem,
Para que a semente cresça em cada um,
Agora, e no futuro também.

602
MINHAS COISAS

Eu tenho um grandioso jardim, o maior do mundo.


Muito belo e exuberante.
Mas como são inúmeras flores, árvores e plantas,
Eu as deixo, quietinhas, nas florestas do mundo.
Eu tenho uma incontável coleção de estrelas,
Mas como elas brilham muito, e para todos verem,
Eu as deixo lá em cima,
Bem no alto, distribuídas pelo cosmos.
Eu tenho uma imensa coleção de conchas,
Mas como elas são muitas,
Eu as guardo em todas as praias.
Eu tenho também uma multidão de passarinhos,
Muito belos e cantantes,
Mas sem prendê-los numa gaiola,
Deixo que voem e cantem, nos céus e na natureza.
O pôr do sol, de tão belo,
Eu o deixo lá no crepúsculo, num lugar elevado,
Assim estará em todos os lugares.
Cada ser e coisa que possuímos,
Deixa de ser aquilo que é.
Para que então prende-los numa redoma,
Se a todos tudo pertence?
O homem tem ânsia de possuir,
E acaba tudo perdendo.
Para que todos vejam nossos pertences,
Deixe-os em seu local de origem…
Eles fazem mais sentido de onde vieram,
Do que amarrados e sufocados em tuas posses,
E esmagados pelos teus desejos mesquinhos.
Não tenha, seja…
Seja as conchas, os pássaros, as árvores, as estrelas.
Só assim elas serão tuas para sempre.
Tenha uma casa pequena, ou mesmo grande,
E perderás a morada do mundo.
Tenha um modesto jardim em teu recanto,
E perderás o jardim planetário,
De imensas e deslumbrantes florestas.
Tu pertences ao que te pertence,
Pertença, pois, a tudo o que existe.
Assim tudo será teu, quando do todo, fores parte.
E quando fores parte do todo,

603
Não serás parte, serás o todo.
Só é teu de verdade,
Aquilo que deixas livre.
Nada podes levar só para ti,
Pois o todo, a todos pertence.
Não se pode negar uma grande verdade:
Tudo é parte do todo…
Assim como o todo é parte de tudo.

604
MALEDICÊNCIA

Jamais fales mal de outra pessoa,


Nem em sua presença, e tampouco em sua ausência;
A maledicência sempre se vira contra o acusador.
Quando sua língua ferida ataca alguém,
O veneno pode regressar a ti.
Maldizendo outrem,
Abres espaço para que também o maldigam.
Quando falas mal dos outros,
As pessoas indagam a si mesmas:
“Acaso estaria ele também criticando a mim?”
Guarda para ti mesmo tuas impressões sobre as pessoas.
Não condenes aquilo que desconheces…
Por acaso contemplas todos os infortúnios,
Daqueles a quem destilas tuas calúnias?
Podes abranger a história completa de alguém,
Ou a dura e complexa educação a que foi submetido?
Consegues afirmar, com toda a convicção,
Que deste mesmo prato não comerás?
Tendes a certeza de que, em igual circunstância,
Não farias a mesma coisa?
Não desperdices tuas energias com outros…
Ressalta suas qualidades, e não seus defeitos.
Porém, sê sincero com os demais,
Mas não invadas um terreno subjetivo que desconheces.
Preocupa-te apenas com os teus defeitos e carências.
No final das contas, tua consciência será teu guia,
E também o teu único juiz.
Deixa que a vida se encarregue dos males dos outros.
Se alguém te feriu ou atormentou,
Ele já vive na tormenta.
Não penses que seu sofrimento
É maior que do teu detrator.
Por detrás de uma ação dirigida contra ti,
Podes encontrar alguém instável e infeliz.
Atente bem para uma coisa:
Todo cuidado para não ver nos outros,
Aspectos que não deseja admitir em ti mesmo.
Reconheça a tua sombra como sendo apenas tua,
Antes que ela se exteriorize no próximo.
Cuida primeiro dos seus problemas;
Só assim poderás ajudar teus pares.

605
Purifica, antes de tudo, teu próprio interior,
Pois somente dessa forma serás feliz,
Sem a necessidade de rebaixar teu irmão.
Não queira sentir-se por cima,
Colocando os outros para baixo.
Não torça pela infelicidade alheia
A fim de não reconhecer,
O lamaçal escuro do teu íntimo.
Avança, mesmo que devagar, com tuas próprias pernas,
Sem invejar o sucesso alheio.
Cada passo dado é terreno seguro,
Na grande trajetória da tua existência.
Eleva-te, com coragem, a patamares superiores…
Assim estará liberto do orgulho que te degrada.

606
A ETERNA AURORA

Ao longo de tua existência física,


Busca apenas o que é essencial.
O movimento da vida, o vai e vem contínuo;
Distrai os sentidos e burla a mente.
Coloca a tua consciência numa região além,
Que não pode ser tocada pelas correntezas da ilusão.
Lembra-te que só os desapegados conquistam o real,
E permita que a vida flua livremente em ti.
Aproxima um objeto ante teu olhar,
E logo ele bloqueará tua visão.
Mas também não olhes com ansiedade para o sol,
Pois teus olhos ficarão escurecidos!
Onde antes construías edifícios,
Nada há além de uma passagem…
Que vos conduzirá de um ponto a outro do teu caminhar.
O destino é tecido pela livre escolha,
Mas onde se planta maçã, não colherás outra fruta.
Cada aspecto da vida é um portal aberto,
Para um manancial infinito de liberdade e completude;
A consciência deve se abrir e o coração deve estar em paz.
Não creias no homem vaidoso e egoísta,
Ele deseja algo que a vida nunca o dará.
O arrogante se nutre do vácuo,
E persegue as bolhas que se formam e estouram em suas
mãos.
Sê humilde, diante da imensidão insondável da existência,
A natureza sempre terá algo a lhe ocultar e revelar.
Para e contempla as coisas simples,
É na simplicidade onde Deus é sentido,
E no silêncio ele se faz presente.
O homem que se embrenha na pressa e na luta,
Vai encontrar apenas estresse e conflitos.
Procura ter o mínimo de necessidades,
Não te incrementes com o supérfluo.
Seja você mesmo, somente você,
E a alegria virá com naturalidade.
O sábio aprende com todas as coisas,
Por mais insignificantes que possam parecer.
O pequeno tem a sua grandeza,
E o simples uma profundidade que só o sábio enxerga.
Jamais forces uma atitude que não é tua,

607
Nem te identifiques com uma máscara;
A vida se encarrega se desnudar,
O que um dia alguém dissimulou.
Não cultives preocupações…
Preocupar-te gera tensões que criam inconsciência.
Concentra-te na tua vida, não te compares a outros.
Cada pessoa conhece o céu e o inferno de ser o que é.
Ninguém menospreza a rosa vermelha,
Em detrimento da rosa branca.
Cada flor é bela da sua forma,
Com sua cor e seu perfume.
Não te deixes ludibriar pela aparente estabilidade humana,
Só Deus conhece os recônditos mais escuros da alma
humana.
Por detrás da capa do sucesso,
Pode estar oculta uma escuridão interior.
O amor incondicional é o porto seguro,
Dentro das marés turbulentas,
Desse oceano de miragens mundanas.
Molha as mãos na água, sinta a brisa,
Ouça o canto dos pássaros e rola na grama.
A inocência nos aproxima de Deus.
Não fiques vendo o mal em tudo,
Atenta apenas para as sombras do teu íntimo.
Não há ninguém tão bom que não precise dos demais,
E ninguém tão ruim que não possa ser útil.
Não tentes controlar o mundo,
Nem faça outros a sua imagem e semelhança.
Quem quer conquistar as coisas,
Acaba sendo conquistado por elas.
Jamais esqueças: todo fim é sempre um novo começo…
E cada dia pode ser um novo amanhecer de nossa existência:
O primeiro dia do resto de nossas vidas.
Mas não deixes jamais de cultivar a esperança.
Sem esperança, morremos em vida.
Ser feliz não é uma meta, mas uma escolha.
Continues a grande jornada da vida com fé.
E por maior que sejam os sofrimentos e as tormentas,
Eles nada representam, diante da Eterna Aurora…
Que a todos aguarda.

608
O PLANO DAS TREVAS

Certa vez, o senhor das trevas chamou toda a hierarquia infer-


nal a fim de traçar os planos para implantar o mal em toda a
humanidade. Outras reuniões como essa já haviam ocorrido
em tempos passados, mas agora, com o advento de novos
tempos, há necessidade de uma nova organização das trevas
para atualizar seus planos contra a humanidade.

Então, os demônios de alta patente se reuniram e, atenta-


mente, ouviram as instruções de seu chefe.

“Invoquei a presença de todos aqui com o objetivo de transmitir


as diretrizes gerais para os novos tempos, a fim de se fazer do
planeta Terra, na atualidade, um mundo cada vez mais sofrido,
onde o mal predomine finalmente.”

Cada um de vocês deve ouvir atentamente as instruções que


serão passadas agora, pois delas depende todo o sucesso de
nosso trabalho.

“Para subjugar os seres humanos e fazer delas verdadeiros es-


cravos, os principais pontos que todos devem se esforçar para
implementar no mundo são os seguintes:

Em primeiro lugar, vamos estimular ao máximo nos seres hu-


manos o orgulho e o egoísmo. Esses dois pilares devem ser a
chave da submissão da humanidade. O orgulho, a soberba, a
arrogância e a prepotência são os principais ingredientes de
nossas realizações, pois farão com que cada ser humano se
sinta melhor do que os outros; quanto mais existirem pessoas
que se acreditam superiores, mais essa falsa percepção terá o
poder de gerar divisões, disputas e conflitos. A soberba e a ar-
rogância fomentarão o preconceito, a discriminação e a luta pe-
los direitos de uns se sobressaindo diante dos direitos de ou-
tros. Do orgulho brotará o sentimento de egoísmo, que fará
com que os seres humanos busquem as coisas apenas para si
mesmos, esquecendo que fazem parte de uma coletividade e
dela dependem. Estimulando o individualismo ao invés do co-
letivismo; a competição ao invés da cooperação. Vamos influ-
enciá-los a acreditar que podem levar uma vida totalmente iso-
lada do restante, e mesmo assim serem felizes. Faremos com
que a busca de benefícios apenas em proveito próprio seja o

609
pivô de todas as relações humanas, e como consequência, os
seres humanos estarão sempre brigando entre si por pequenas
migalhas e farão de tudo para passar por cima uns dos outros.
Dessa forma, estabeleceremos a competitividade, a violência,
as distinções de classe social, dentre outras mazelas. Isso pro-
moverá uma grande distância entre as pessoas e produzirá in-
divíduos solitários e carentes.”

“Muito bom senhor” respondeu um dos demônios. “Esse é sem-


pre um bom plano”.

“Sim, mas não é só isso” – respondeu o Senhor do Submundo


– “Há ainda mais ações a serem implantadas para nosso su-
cesso total.”

“Em segundo lugar, vamos implantar nas mentes humanas o


pecado da vaidade. Vocês devem fazer com as pessoas sejam
vaidosas a todo custo. Façam com que elas dêem mais aten-
ção ao exterior do que ao interior. Se conseguirem isso, elas
verão apenas a imagem que se encontra na superfície e serão
cada vez menos capazes de enxergar além e ver aquilo que
jaz oculto no interior de cada um. Isso contribuirá para a criação
de pessoas mais voltadas às aparências do mundo e menos
capazes de enxergar as coisas como elas realmente são. Va-
mos também confundir as pessoas e fazê-las acreditar que vai-
dade e autoestima são a mesma coisa; assim uma pessoa que
cuida excessivamente de sua aparência terá a impressão que
gosta de si mesma, que se ama, quando a verdade é o contrá-
rio disso. Quanto mais uma pessoa é exageradamente ligada
a sua aparência, mais defeitos ela vê em si mesma, menos ela
se aceita e consequentemente, menos ela se ama. Vamos pro-
mover a indústria da moda, dos cosméticos e das revistas de
beleza para que as mulheres se sintam cada vez mais desa-
justadas e se voltem menos para as coisas que interessam –
como o amor, o conhecimento, a paz, a sabedoria – e se voltem
mais para o supérfluo e aquilo que é passageiro.”

Os demônios ouviam com atenção e curiosos sobre as próxi-


mas instruções do mestre das trevas.

“Em terceiro lugar, vamos promover ações principalmente no


plano monetário, no mundo do dinheiro. Vamos estimular a co-
biça, o sentimento de posse, e divulgar a ideia de que o ser

610
humano mais realizado é aquele que possui mais sucesso pro-
fissional, mais bens, mais dinheiro guardado. Vamos confundir
a mente das pessoas e fazê-las acreditar que o dinheiro é tudo
na vida, e que todo o resto é secundário. Levando uma vida
toda voltada à sobrevivência e à aquisição de bens materiais,
não sobrará tempo para a família, para o encontro consigo
mesmo, para leituras e para o conhecimento, para a reflexão,
a oração e a meditação. Vamos fazer do dinheiro o píncaro da
realização pessoal, assim não sobrará tempo para o que real-
mente é importante. O dinheiro não deve ser apenas um ins-
trumento do viver, deve ser, isso sim, o fim da vida, seu objetivo
primordial, a meta derradeira de todos os seres humanos.
Quanto mais os seres humanos buscarem no dinheiro a reali-
zação, mais eles ficarão frustrados por não a encontrarem; fi-
carão tristes, deprimidos, solitários, carentes e vulneráveis. Fe-
charão os olhos para tudo e todos e se dedicarão, quase com
exclusividade, ao sucesso do mundo da acumulação de capital.
Eles ganharão mais e mais dinheiro, mas ainda assim não es-
tarão satisfeitos, e vão buscar mais e mais, e nem vão descon-
fiar que o dinheiro nunca poderá preencher o espaço interior
vazio do seu coração. Por outro lado, vamos fazer as pessoas
serem consumidoras por excelência: toda a vida humana deve
estar voltada ao consumo, mesmo que os bens consumidos
sejam desnecessários. Faremos da compra algo ritualizado,
que gera prazer e contentamento pessoal, assim as pessoas
vão buscar fora de si algo que só poderia ser conquistado den-
tro. Vamos enganá-los com a ideia de que o dinheiro pode com-
prar tudo. Precisamos agir no mundo de tal modo que, aqueles
que não têm dinheiro, vão sofrer pela sua ausência; e aqueles
que têm dinheiro, vão sofrer pela possibilidade de perdê-lo.
Tanto um como outro serão nossos escravos e não encontra-
rão a verdadeira realização: a realização espiritual”.

Os demônios apreciaram muito a explanação, e estavam se-


dentos de novas instruções.

“Além desses três aspectos” – continuou o senhor da escuridão


– “há outros dois que devemos investir com todas as nossas
forças, a ciência e a religião:

“Com relação à ciência, devemos tomar todas as medidas para


que ela se torne materialista, tecnicista e voltada apenas aos
interesses econômicos. A ciência precisa ser apenas técnica,

611
sem alma, e tudo que se faça nela deve responder a interesses
de grandes empresas; os cientistas devem estar sempre sub-
jugados a grupos econômicos, para que suas ações não sejam
livres e independentes. Isso ajudará a fazer com que a pes-
quisa científica seja controlada por grupos pequenos, que se-
rão os detentores do direcionamento que será dado a trajetória
da ciência. Expurguem completamente do campo científico
qualquer debate sobre os limites éticos do conhecimento e dis-
seminem a ideia de que, para o conhecimento humano, não há
barreiras éticas e humanas. Faremos as pessoas dependerem
completamente da tecnologia, a ponto de fazer com que uma
ruptura no sistema seja a causa de um colapso geral. Assim,
cada vez mais as pessoas vão acreditar que dependem da tec-
nologia e estão subordinadas a ela. Por outro lado, façam de
tudo para que a ciência se torne dogmática, assim como a reli-
gião, e que haja uma constante disputa entre ambas, mesmo
que em essência tanto a ciência como a religião seja duas fa-
ces de uma mesma moeda. Vamos estimular nos cientistas a
preservação conservadora dos conhecimentos: fazer ela mais
dogmática e menos investigativa, um verdadeiro depósito de
certezas. Façam com que os cientistas não percebam que o
conhecimento científico sempre possui um prazo de validade.
É preciso traçar com firmeza e de forma bastante definida os
limites que separam a ciência da religião, e que essa linha limí-
trofe se torne praticamente intransponível, pois com essas bar-
reiras, os conflitos entre ambas vão desgastar, minar e atrasar
o desenvolvimento de uma e outra, fazendo com que o ser hu-
mano precise escolher entre uma das duas e que sua consci-
ência fique dicotomizada, totalmente dividida e em permanente
conflito. De toda forma, é importante também descartar com-
pletamente qualquer intercâmbio entre essas duas formas de
conhecimento, e rechaçar com veemência as novas pesquisas
que ajudem a aproximar uma da outra. Os cientistas só devem
acreditar naquilo que veem e acreditar que nada exista fora da
ciência. Além disso, façam de tudo para deixar a consciência
totalmente de fora da pesquisa científica, e estimulem ao má-
ximo os cientistas a buscarem reduzir a realidade a um mero
aglomerado de átomos inertes e sem vida. Façamos principal-
mente a ciência acreditar no acaso; acreditar que tudo surgiu
do nada e para o nada retornará; façamos os cientistas acredi-
tarem que a vida não tem um significado e que cada modelo
científico é definitivo, e que deve resistir ao máximo à prova do
tempo, mesmo que existam muitas evidências em contrário.”

612
“O segundo aspecto é a religião. Desde o primórdio dos tempos
nós atuamos nas religiões, mas agora precisamos nos manter
firmes nessa empreitada, pois a religião, caso seja transfor-
mada, tem o poder de mudar muitas coisas. A primeira e prin-
cipal ação a ser reforçada nas religiões é, como vocês já sa-
bem, estimular o fundamentalismo, o fanatismo e o dogma-
tismo. Os fiéis de um credo, qualquer que seja ele, devem acre-
ditar piamente que apenas a sua religião é verdadeira e que
todas as outras são falsas. Façam com que eles leiam os livros
sagrados e os interpretem sempre ao pé da letra; façam com
que eles não percebam a sabedoria oculta por detrás dos sím-
bolos; deixe que eles acreditem que não há um significado sim-
bólico nos ensinamentos, e que há apenas uma verdade literal,
que deve ser conservada imutável a todo custo. Tornem todos
eles submetidos sempre a uma hierarquia sacerdotal, que de-
verá lançar as bases do que se deve acreditar e do que não se
deve acreditar. Assim, ninguém poderá promover mudança
numa religião, pois tudo emanará da cúpula sacerdotal.”

“Façam também com que eles pensem que apenas alguns lí-
deres têm o contato com Deus e que apenas eles podem servir
de intermediários. Não permitam, em hipótese alguma, que os
seres humanos descubram que eles não precisam de um inter-
mediário entre o ser e o divino, e que a verdade pode ser al-
cançada pelo amor, pela sabedoria, pela compaixão e pela ca-
ridade. Procurem extirpar completamente dos cultos o silêncio,
a oração e a meditação. Façam os rituais e as reuniões religi-
osas parecerem cada vez mais um show, com gritarias, baru-
lho, orações repetidas e sem alma. Cuidem para que os líderes
religiosos sejam adorados, que seu ego seja cultuado e que
eles sejam encarados como semideuses na Terra. A persona-
lidade dos líderes deve prevalecer sobre o conhecimento que
eles propagam. Algo muito importante, e que não pode faltar
nas religiões: a ideia do medo e do pecado. Façam com que as
religiões amedrontem as pessoas, com noções de céu e in-
ferno, e influenciem-nas a acreditarem que, uma vez no erro,
não há redenção possível nem possibilidade de corrigir suas
faltas. Não permitam, de modo algum, que surjam aqui e ali
ideias de universalismo religioso, de ecumenismo e integração
entre as várias crenças: as religiões devem competir umas com
as outras pelos seus fiéis, e estes devem ser coagidos psicolo-
gicamente a permanecer toda a vida pertencentes a uma

613
mesma denominação, sem nenhum questionamento. Façam
com que o amor pareça uma coisa piegas, sentimentalista e
sonhadora; façam com que a compaixão seja confundida com
fraqueza; que a humildade seja considerada submissão; esti-
mulem os adeptos a julgarem outras pessoas em nome da fé,
e a separarem totalmente a teoria da prática, ou seja, a não
incorporarem em suas vidas os mais elevados princípios mo-
rais de sua religião. Além de todas estas, há algumas ações
menores, porém não menos importantes: façam os fiéis aco-
modados e anestesiados diante do mundo; façam os líderes
religiosos controlar a vida dos membros; façam os fiéis deba-
terem sempre os mesmos temas e ficarem girando em círculos,
sem saírem do lugar; estimulem ideias do tipo: ‘nós’ contra
‘eles’; façam com que eles se sintam pequenos e fracos diante
do líder e da grandeza da religião; façam com que os membros
se fechem mais dentro de si mesmos e se alienem do meio;
promovam uma adoração desmedida da figura do mestre em
detrimento do estudo e da prática dos seus ensinamentos ori-
ginais. Com essas medidas, as religiões continuarão servindo
aos nossos propósitos.”

Os demônios, muito interessados, anotavam tudo e procura-


vam assimilar cada aspecto citado, para que seu trabalho junto
à humanidade fosse mais eficiente.

“Há agora alguns outros elementos em que devemos inves-


tir…” – disse o príncipe das sombras – “e eles são de extrema
importância na modernidade”.

“Quanto à televisão, vamos fazer com que ela sirva aos nossos
propósitos. Ao invés de ser um veículo de educação e civili-
dade, faremos com que se torne um amontoado de propagan-
das bastante sedutoras. Mesmo que as pessoas não precisem
dos produtos anunciados, vamos criar nelas a necessidade de
obtê-los, para pensarem que necessitam de muitas coisas para
serem felizes. Faremos com que seja promovida a vaidade, a
sexualidade desregrada, a cobiça, a alienação, a soberba e a
arrogância. Vamos promover uma inversão de valores, e fazer
com que as pessoas se atenham ao superficial. Quanto mais
elas se detiverem nas imagens sedutoras da telinha, mais elas
esquecerão de encontrar a sabedoria dentro de si mesmas. Va-
lorizem o mundo do entretenimento; coloquem homens e mu-
lheres sem roupa e sensuais, para despertar os instintos mais

614
primitivos; tratem as mulheres como objetos na TV e nas revis-
tas, e mostrem-nas apenas como um corpo bonito, porém sem
essência, vazio por dentro. Façam uma imprensa tendenciosa,
que não represente as diferentes forças sociais, mas que ape-
nas preservem os interesses dos poderosos do mundo. Usem
a arma da informação para manipularem a vontade as mentes
das pessoas, e o melhor de tudo, façam com que elas pensem
que as opiniões são delas mesmas, que as ideias apresenta-
das nasceram de seu pensamento, assim elas dificilmente per-
ceberão que estão sendo manipuladas. Elas irão acreditar fir-
memente que as ideias surgiram em suas mentes, e assim ja-
mais vão questionar algo que, segundo creem, teria sido gerido
e processado pelo seu pensamento (mas que em realidade não
foi). Os homens jamais podem se defender de algo que não
conhecem e não percebem. Se eles não perceberem que estão
sendo manipulados, não serão capazes de resistir à nossa do-
minação. E não se esqueçam: veiculem na TV a todo momento
cenas de violência, para que os atos criminosos fiquem bem
assentados no inconsciente coletivo, pois dessa forma, a vio-
lência se tornará corriqueira, comum e natural, pois, assim
sendo, quase não será questionada seriamente com ações
concretas. Só mostrem o negativo pela TV, ocultem ações po-
sitivas e humanistas, para que as pessoas acreditem que o
mundo é essencialmente mau e que não há esperança de ser
diferente.”

“Quanto à música, vamos retirar seu caráter de elevação da


consciência humana, de contato com as emoções, do dina-
mismo imaginativo e criativo e de conscientização social. As
músicas devem, assim como a TV, estimular a alienação e a
degradação sexual. Em vez de conservar viva a tradição de um
povo, com sua identidade, ela deve, ao contrário, fazer o ser
humano esquecer suas origens. Um povo sem memória é
muito mais propenso a repetir os erros do passado, reeditando
antigas mazelas, sem aprender com elas. A música atual deve
ser cada vez mais barulhenta, pois assim o ser humano se tor-
nará incapaz de ouvir a natureza e a si mesmo.”

“Quanto ao meio ambiente, façamos com que eles destruam a


natureza, para que, dessa forma, eles destruam a si mesmos.
Vamos nos empenhar para que o ser humano acredite ser o
senhor da natureza; vamos estimular ações de conquista, e
não de integração com o meio natural. O homem deve se impor

615
no meio ambiente, as ruas, as calçadas, o lixo, as casas, todas
devem ser construídas de modo que representem a sobreposi-
ção do homem diante da natureza, como se ele fosse seu do-
mador. Não deixem que eles percebam que são parte da natu-
reza, que são filhos da terra, e que a ela devem a sua sobrevi-
vência. Não permitam, em hipótese alguma, que o ser humano
encontre o elo que o une, de forma indissociável, ao seu lar
natural, pois se assim o fizer, ele terá mais força, vitalidade e
saúde. Estimulem ações do homem contra seus irmãos meno-
res, os animais, e façam-nos acreditar que os animais só exis-
tem para servi-lo, e não para conviver com ele. Façamos tam-
bém com que os homens se tornem cada vez mais intoxicados.
Ao invés de usarem produtos naturais, que eles usem apenas
produtos industrializados, modificados quimicamente, pois um
homem intoxicado é muito mais vulnerável a nossa dominação
do que um homem de vida natural e sadio. Estimulem a procura
de remédios alopáticos que visem apenas abafar os sintomas
de uma doença, para que sua causa permaneça desconhecida
e não seja tratada. Tirem os medicamentos naturais de seu al-
cance, para que eles vivam menos de ações preventivas, e
cada vez mais intoxicados com químicas que acomodem sua
consciência. Estimulem o uso do álcool e das drogas, lícitas ou
ilícitas: criem o hábito de se recorrer aos entorpecentes ao me-
nor sinal de sofrimento, pois assim eles estarão mais distantes
da resolução de seus conflitos internos. Façam com que os se-
res humanos vivam uma verdadeira era da intoxicação, pois
assim eles estarão muito mais propensos a doenças, a trans-
tornos mentais e menos dedicados a causas humanitárias e de
transformação social e espiritual.”

“Para finalizar, devemos combater com força dois sentimentos


humanos: a fé e a esperança.”

“Para desmerecer a fé, devemos sempre associá-la as religi-


ões. Mesmo sendo a fé uma convicção íntima de uma realidade
transcendente, precisamos influenciar as pessoas de que a fé
é sinônimo de crença cega, de fanatismo e de conformismo
com dogmas religiosos. Neguem a todo custo que a fé seja o
sentimento íntimo de uma realidade divina, um farol que guia a
um porto seguro, e preguem com toda a ênfase que todas as
formas de fé são idênticas, assim as pessoas não poderão dis-
tinguir a fé genuína, que nasce de uma aproximação do ser

616
com o cosmos, e a fé fundamentalista, que está subordinada a
um conjunto de credos.”

“E finalmente, a esperança. Temos que trabalhar ao máximo


para apagar a palavra esperança dos corações humanos. As
pessoas precisam acreditar que não existe esperança de um
futuro melhor, que nada vai mudar, que tudo sempre foi do jeito
que é, e que qualquer coisa que se faça para transformar a
realidade atual é pura perda de tempo, pois não trará nenhum
resultado.”

Quando os demônios já começavam a deixar o local de reu-


nião, o chefe das trevas gritou-lhes:

“Não se esqueçam: tirem a esperança deles… e façam com


que acreditem que não são capazes de transformar o mundo
através da transformação íntima. Isso é muito importante: não
permitam, em hipótese alguma, que eles percebam que são
capazes de transformar a realidade atual.”

617
MEDO DE FANTASMAS

Era uma vez um menino que morava sozinho com sua mãe.
Nessa casa havia um quarto que vivia trancado e ninguém ja-
mais entrara ali.

Certo dia, temendo que seu filho entrasse no aposento e fi-


zesse alguma travessura, a mãe resolveu contar-lhe uma his-
tória inusitada:

– “Filho, você jamais deve entrar naquele quarto.”

– “Por que mãe?” Retrucou o filho.

– “Por que há um fantasma trancado lá dentro. Se você abrir a


porta e entrar, o fantasma vai aparecer para você e te perse-
guir.”

O menino ficou aterrorizado com o alerta feito pela mãe. Con-


fiou nela e não se atreveu a abrir aquela porta.

Conforme o tempo ia passando, a imagem do fantasma preso


no quarto não saia da cabeça do menino. Passava noites acor-
dado com receio de que o fantasma escapasse e fosse as-
sustá-lo à noite. O menino estava cada vez mais amedrontado.
Dormia e tinha pesadelos sendo perseguido pelo fantasma.
Chegou a passar noites em claro cogitando um possível ata-
que. Isso foi se repetindo durante os meses e anos seguintes.
Mesmo sem adentrar no quarto desconhecido, era como se o
fantasma já o estivesse perseguindo.

Um dia, já tendo atingido uma idade um pouco mais avançada,


cansou de ficar naquela situação incômoda. Reuniu toda sua
coragem e decidiu que iria ver o fantasma no quarto.

– “É melhor ver logo como é esse fantasma, assim eu sei com


quem estou lidando.” Pensou.

Abriu a porta de seu quarto, caminhou pelo corredor e sentiu


um medo indescritível nesse momento. Finalmente, postou-se
diante do temido aposento. Colocou a mão na maçaneta e
abriu a porta. Não estava trancada! Quando a porta se abriu,

618
observou o quarto vazio, procurou tudo e não encontrou ne-
nhum sinal do fantasma que há tanto tempo o assustava.

A partir desse dia, nunca mais teve pesadelos ou medo do fan-


tasma.

Encare seu medo de frente, pois quando você fizer isto, o “fan-
tasma” deixará de te perseguir.

619
AH SE EU SOUBESSE

Quando chegamos ao plano espiritual, a maioria dos espíritos


pensa algo muito parecido:

– Ah se eu soubesse…

Se eu soubesse que a vida real não era na matéria… se eu


soubesse que a realidade não é de sofrimento, mas de paz e
liberdade… se eu soubesse que nada que existia na matéria é
permanente, que lá é tudo passageiro, eu não teria brigado no
trânsito, batido nos meus filhos, me apegado a tantas coisas
efêmeras…

Ah se eu soubesse…. teria ajudado muito mais gente, teria me


enriquecido com amor e luz, teria deixado de lado esses pro-
blemas pequenininhos, teria feito caridade aos necessitados,
teria deixado o amor fluir, teria me atirado no bem sem ne-
nhuma preocupação, teria sido mais humilde, teria vivido em
paz…

Ah se eu soubesse… teria passado mais tempo com aqueles


que amo, teria me preocupado menos, teria tido mais paciên-
cia, teria me soltado mais, me desprendido mais, teria vivido
mais livre, de forma mais espontânea, mais natural, teria visto
o lado bom de tudo, teria valorizado as coisas simples da vida.

Ah se eu soubesse… se soubesse que a vida na Terra vai e


vem, que tudo se esvai, que nada é permanente, que não
existe algo fixo, imutável. Se eu soubesse que tudo começa e
termina, que os relacionamentos começam e terminam, que a
dor lateja e depois vem o alívio.

Ah se eu soubesse… se soubesse que os arrogantes sobem,


ficam no topo e caem por si mesmos; caem pelo seu próprio
castelo de cartas da ilusão que criaram. Se eu soubesse que
os ricos podem se tornar pobres de espírito, e que os pobres
podem ser muito ricos de espírito. Se soubesse que as diferen-
ças sociais se extinguem, que na morte todos somos filhos do
universo, que a fome é saciada, que a sede é aliviada, que a
violência só traz mais violência, que os injustiçados são com-
pensados, que os perdidos sempre se encontram, e quem está
demasiadamente seguro de si acaba se perdendo.

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Ah se eu soubesse… que a vida espiritual é a vida real, que as
mágoas corroem o espírito, que a cobiça gera insatisfação, que
a lisonja só cria humilhação, que a preguiça gera estagnação.
Se eu soubesse que o medo é sempre maior do que a mente
engendrou eu teria me arriscado mais, teria ousado, teria tido
a coragem de ser o que eu sou, teria retirado essa máscara
que encobria minha verdade, teria desatado o compromisso
com o logro, com a burla, teria assumido minha integridade
sem divisões, sem fragmentos.

Ah se eu soubesse… não teria cortejado o sucesso, não teria


me atirado ao poço fundo, vazio e solitário da avidez, não teria
me enganado de que, ao atingir o topo, a descida é o único
caminho. Se eu soubesse que o mundo é uma doce miragem
eu rejeitaria a pueril busca pela sensualidade. Largaria com
afinco os prazeres e vícios da juventude. Se soubesse que tudo
muda e nada se encerra, teria posto de lado as moléstias da
nostalgia.

Ah se eu soubesse, teria menos pressa, olharia mais para a


vida, veria mais o nascer do dia, comeria com calma o pão de
cada manhã, teria plantado uma árvore, corrido no jardim, dei-
tado no chão e rolado na grama. Teria mergulhado e me per-
dido no tempo, solto em reflexões sobre os mistérios da vida.
Teria me desimpedido de autocobranças, teria me aceitado
como sou e aceitado o milagre da vida como ele é.

Ah se eu soubesse… que o mar espiritual é infinito de bençãos,


não teria digladiado por um copo de água ao lado do grandioso
oceano da plenitude. Teria deixado todas as quimeras de lado,
e vivido mais a vida, a existência, o cosmos, a liberdade, o
eterno presente e a eterna aurora.

Ah se eu soubesse… teria renunciado aos hábitos arraigados,


as discussões estéreis, a especulação teórica. Se eu sou-
besse, teria permanecido mais na natureza, observando os
pássaros, molhando as mãos no rio, sentindo o vento, me
aquecendo ao sol da manhã, sujado as mãos na lama e sentido
o frescor da chuva. Se eu soubesse que sou um ser em desen-
volvimento na essência inesgotável e eterna da vida, teria sido
infinitamente mais livre e feliz.

621
ANTIGAMENTE

Antigamente, eu ficava bem preocupado com o que os outros


pensavam de mim. Hoje tenho consciência que sou uma pes-
soa digna e honesta, e sei que as pessoas vão pensar o que
quiserem, e isso em nada afeta meu modo de ser e quem eu
sou em essência.

Antigamente, eu queria provar algo aos outros. Hoje descobri


que, na verdade, sentia uma grande insegurança, e por isso
tentava demonstrar algo, não às pessoas, mas a mim mesmo.
Hoje vejo claramente que, quando se tem confiança naquilo
que somos, não precisamos provar coisa alguma.

Antigamente, eu fazia de tudo para os outros gostarem de mim.


Hoje sei que as pessoas precisam sentir afeição por quem eu
sou, e não por quem eu pareço ser. Sei também que pessoas
que mendigam o afeto das outras quase nunca conseguem o
que desejam. Por ansiarem tão vorazmente o amor e a admi-
ração dos outros, elas passam a ser aquilo que os outros es-
peram que elas sejam, e assim, caem num abismo profundo de
um eu fantasioso e irreal.

Antigamente, eu acreditava que poderia esconder meus pro-


blemas não pensando neles e me concentrando nas questões
objetivas do mundo. Hoje sei que por mais que se tente, não
se pode fugir das emoções profundas que estão armazenadas
dentro de nós. Podemos tentar burlar, dissimular, distorcer, etc,
mas a verdade é a verdade. Ela não se modifica por nossa von-
tade. Hoje sei que, somente encarando de frente aquilo que
nos assola é que se pode dissolver os nós profundos das feri-
das interiores e seguir em frente.

Antigamente, eu achava que o mundo deveria corresponder


aos meus anseios e necessidades. Achava que os outros ti-
nham que me servir e sempre lutava pelos “meus direitos”. Hoje
vejo que cumprir meus deveres é muito mais importante e
digno, e que de nada adianta tentar modificar o mundo e as
pessoas; ninguém se curvará as minhas pretensões de como
o mundo deve ser. O mundo é o que é. Não quero mais que as
pessoas sejam da forma que eu acho que devem ser, eu me
esforço por aceitar, sem me acomodar, à realidade que se

622
apresenta. Hoje busco apenas melhorar a mim mesmo e ajudar
a quem necessita.

Antigamente, eu pensava que podia viver uma vida superficial


e mesmo assim ser feliz. Vivia vendo novelas, bebendo, fu-
mando, jogando conversa fora, fazendo sexo sem amor. Hoje
vejo que, para ser feliz é necessário olhar a vida como ela é,
além do véu aparente que encobre a existência. Não é possível
cortejar a ilusão e ser feliz. Ou se vê a realidade para ser feliz,
ou se vive uma vida de quimeras e devaneios que só poderá
trazer a solidão e a infelicidade.

Antigamente, eu queria ajudar as pessoas a todo custo. Via-


me como uma espécie de salvador que poderia socorrer muitas
pessoas com minhas capacidades. Hoje sei que cada pessoa
tem total poder de lidar com seus contratempos e dissabores,
e negar isto é recusar-se a crer no potencial espiritual que cada
pessoa tem de crescer a partir de seus próprios percalços ,
conflitos e limites. Compreendi que, por superestimar minhas
habilidades, acreditei que poderia “salvar” as pessoas. Mas en-
tendi que só as próprias pessoas se salvam, e que o máximo
que podemos fazer é indicar o caminho e dar um suporte
quando necessário. Por outro lado, de nada adianta ajudar
aqueles que não querem ser ajudados.

Antigamente, acreditava que deveria ter um compromisso com


o sucesso; deveria me debruçar sobre os melhores cargos, os
melhores salários; ser alguém de destaque, alguém com uma
imagem intocável nos negócios. Hoje sei que buscar a todo
custo o sucesso é fazer um contrato com a infelicidade. Nin-
guém pode ser feliz buscando o sucesso e a fama a todo custo.
Quando chegamos ao topo o único caminho possível é o da
descida. Quem não valoriza aquilo que possui vive desejando
aquilo que não possui, e não há maior pobreza do que viver a
vida ansiando ter aquilo que não tem. Quanto maior o desejo e
a expectativa, maior a frustração; quanto mais criamos um
ideal de como tudo deve ser, mais vivemos numa ilusão criada
por nós mesmos. Quando desejamos o destaque e o status
quo acabamos por não dar valor às coisas simples da vida, que
são as mais importantes.

No final das contas, é o cheiro da grama, a brisa que sentimos


num final de tarde, a chuva caindo sobre nós, o abraço do ser

623
amado, a visão de um pôr do sol, o canto dos pássaros, o con-
tato com a simplicidade e naturalidade da vida, do cosmos, do
infinito… é isso que nos faz felizes de verdade. Não se deixe
tragar pelas miragens do mundo, pelas imagens que seduzem,
pelas formas exteriores, por aquilo que é consumido pelas cor-
rentezas do tempo… Busque o real além da ilusão, e terá paz
e felicidade jamais sonhadas.

624
PERDER PARA O MEDO

Sempre que vejo uma pessoa dizendo que não pode fazer al-
guma coisa porque tem medo… eu lembro do filme Karatê Kid,
mais especificamente o final do filme.

Daniel, o personagem principal, está lutando contra o seu ad-


versário na final do campeonato. Ele começa a perder… e o
senhor Myagi vem falar com ele no intervalo. Daniel diz que
não consegue lutar porque está com medo… confessa que tem
muito medo e não está conseguindo. Fica repetindo isso sem
parar. Então Senhor Myagi grita:

“Daniel san!!!! Preste bastante atenção… Não tem problema


perder para o lutador… o que se não pode é perder para o
medo!”

Essas palavras inspiraram Daniel. Ele voltou e venceu a luta.


Sim, essa é uma lição muito importante em nossas vidas. O
medo é um sentimento muito presente na idade humana, a fase
do desenvolvimento do espírito que nós vivemos agora. Muitas
pessoas deixam de fazer certas coisas por causa do medo…
Perdem muitas oportunidades na vida por causa do medo. Mui-
tas vezes deixam de viver, de experimentar as coisas que gos-
tariam pelo medo de algo dar errado, de alguma coisa não sair
coo deveria.

Essas pessoas precisam saber que não tem problema perder


alguma coisa… não tem problema perder uma competição…
não tem problema não passar num concurso… não tem pro-
blema errar… não tem problema cair… não tem problema fa-
lhar… tudo isso faz parte da vida. Errar é normal.. Perder é
normal… acontece… é parte da existência humana e todos es-
tão sujeitos a isso. Ninguém deve se envergonhar por perder,
errar, cair, não conseguir, pois é assim que aprendemos.

O que não podemos, de jeito nenhum, é perder para o medo…


é desistir antes de tentar… é deixar o medo nos paralisar… é
não fazer por medo de não dar certo…. é se deixar enfraquecer
pelo medo e não seguir em frente.

Não tem problema perder, errar ou não conseguir… mas não


podemos jamais perder para o medo. O medo não nos faz ape-

625
nas perder alguma coisa… ele nos faz perder a vida. Sem ne-
nhuma dúvida, é muito pior passar pela vida sem viver, do que
apenas perder alguma coisa.

626
EXPERIÊNCIAS REVELAM SEU SOFRIMENTO

Todas as experiências da vida humana na matéria têm como


principal objetivo o aprendizado para a elevação do espírito.
Muitos espiritualistas reconhecem esse fato. No entanto, há um
outro aspecto desse processo que, sem ele, o aprendizado e a
elevação espiritual não seriam possíveis. Muitos ainda não per-
ceberam esse princípio, mas as experiências da vida humana
servem para estimular a evocação ou manifestação daquilo
que existe escondido em nosso interior, para que só depois
possa ser conhecido e transformado.

Vamos explicar isso com exemplos, para que possamos visua-


lizar melhor esse processo tão importante.

Vamos imaginar que uma mulher seja muito acomodada e du-


rante boa parte da vida ela não precisou esforçar-se para bus-
car suas coisas, mas estas lhe foram dadas com certa facili-
dade. No entanto, a partir dos 35 anos, ela teve várias perdas
financeiras, precisou trabalhar e ir atrás do seu ganha pão. Mas
aqui nesse ponto aconteceu algo muito importante: no mo-
mento em que ela teve essa perda financeira e sua estabilidade
e comodidade lhe foi retirada, veio à tona de dentro dela
mesma um forte sentimento de raiva por ter perdido o que jul-
gava ter. Seu senso de superioridade em relação aos outros
também foi abalado e sua principal característica, que era seu
jeito acomodado de ser, chegou ao fim… o que lhe causou
medo e muitas preocupações. Agora vamos compreender es-
ses três sentimentos que estavam ocultos dentro dessa moça:
a raiva, a sensação de superioridade e o desejo pela estabili-
dade e comodidade. No momento em que a experiência da
perda financeira chegou, tirando sua base, esses sentimentos
vieram à tona… e puderam ser conhecidos por ela. Observem
que não foi a experiência de perder tudo que provocou os sen-
timentos, mas estes já estavam presentes dentro dela mesma.
A provação da perda financeira apenas trouxe à tona algo que
já existia em seu interior, mas que nunca foi mexido porque ela
não vivera ainda uma crise grave como esta em sua vida.

Esse exemplo deixa claro três coisas: 1) a experiência da perda


financeira evocou um conteúdo que já existia nela, mas ainda
não era conhecido. 2) após a manifestação desses sentimen-
tos até então camuflados, ela pôde vivencia-los fortemente, e

627
assim, passou a conhece-los de forma clara e intensa, o que
contribuiu para seu autoconhecimento, além de lhe transmitir a
sensação de urgência de realizar uma transformação íntima. 3)
Caso a experiência da perda financeira não tivesse ocorrido,
tudo continuando lhe sendo fácil e favorável, ela permaneceria
com esses sentimentos negativos dento dela por toda a vida e
jamais iria conhece-los e ter a oportunidade de se transformar
e se melhorar.

Vejamos outros exemplos desse mesmo processo: Uma mu-


lher vivencia uma separação conjugal. Essa experiência pode
ser o estopim para a exteriorização de um forte sentimento de
apego que ela tem a esse homem. Essa mulher fazia do seu
marido a sua base, a sua sustentação emocional… e quando
o marido foi embora, um forte sentimento de desamparo e ca-
rência veio à tona. Nesse ponto encontramos o significado de
tudo: essa experiência ajudou a revelar que a carência e o sen-
timento de desamparo foram justamente a causa do forte
apego que ela nutria pelo marido e pelo casamento. O desejo
de estabilidade no casamento era alimentado pelo sentimento
de carência e desamparo que ela já sentia antes de se casar,
mas tudo isso estava acobertado, oculto e não-manifesto. Gra-
ças a essa experiência da separação, todo esse turbilhão de
sentimentos de carência e desamparo pôde vir à tona e ser re-
conhecido.

Esses exemplos mostram que todas as experiências que o es-


pírito vive na matéria tem como objetivo o autoconhecimento e
a elevação do nosso ser a partir de uma transformação íntima.
Esse autoconhecimento se faz mediante o enfrentamento das
provações da existência… e essas provações trazem à tona
determinados conteúdos inconscientes, semiconscientes ou
mesmo conscientes que representam entraves no caminho es-
piritual e são também a causa de todo nosso sofrimento. As
experiências que consideramos “negativas” vêm nos revelar
algo que até então estava escondido dentro de nós. Isso signi-
fica que as experiências do mundo exterior ajudam a expressar
as mazelas do nosso interior, para que assim elas possam ser
conhecidas, assimiladas e transmutadas.

Muitos outros exemplos poderiam ser dados, pois incontável é


o número possível de experiências capazes de revelar nossos
sentimentos desarmônicos mais ocultos. Outro exemplo é o do

628
homem que vive pelo dinheiro e pelo seu patrimônio. Certo dia
ele fica doente e não pode mais trabalhar, não podendo mais
ganhar todo o dinheiro que lhe conferia a satisfação de possuir.
Assim que ele fica de cama, surge de dentro dele um forte sen-
timento de medo da pobreza, medo de não ter o suficiente para
viver, medo de ter que se desfazer dos seus bens, etc. Até en-
tão ele não tinha consciência plena desse medo intenso de não
poder possuir as coisas. Graças a doença ele pôde conhecer
esse medo… e a partir desse momento ele teve condições de
enfrenta-lo para poder supera-lo.

Esses casos mostram, de forma inequívoca, que as experiên-


cias taxadas como negativas nada mais são do que provoca-
dores, estimuladores ou ativadores de nossos mais impuros
sentimentos, dos nossos vícios, dos nossos defeitos, dos nos-
sos apegos, de tudo aquilo que existe de imperfeito em nós.
Tudo isso precisa então vir à luz para ser purificado. Os senti-
mentos negativos que residem em nosso interior são como
magnetos que atraem as experiências negativas do mundo ex-
terior… e estas vêm desnudar nosso interior e nos mostrar
aquilo que precisamos conhecer, tratar e melhorar em nós
mesmos. Somente assim teremos a oportunidade de realizar a
ascensão do nosso ser.

A partir de agora, quando uma adversidade, dificuldade ou


perda se apresentar, observe quais sentimentos ela evoca e
que comportamentos ela ativa em você. É justamente isso que
consiste na causa do seu sofrimento e, obviamente, é algo que
você precisa urgentemente conhecer para se libertar.

629
AUTOPERDÃO PELOS ERROS

Uma pessoa perguntou:

Como faço para perdoar os erros que eu cometi? Não con-


sigo me perdoar…

Todos devem compreender que não há o que se perdoar…


pois o que passou, passou. Os erros que você possa ter come-
tido não são erros, mas fontes de aprendizado e transforma-
ção.

Se você encarar seus erros como fonte de aprendizado e trans-


formação, vai compreender que não há o que se perdoar, pois
os erros te ajudaram muito, tanto quanto você aproveita as li-
ções valiosas que eles lhe trouxeram.

Mas enquanto você vir o erro em seu comportamento, sua


mente não permitirá que você se perdoe. Como a mente e o
ego são eternamente julgadores, condenadores, definidores,
eles não permitem o autoperdão e a culpa pode nos acompa-
nhar por toda a vida.

Mas quando você compreender que não existiram erros de


fato, mas que todas as experiências foram experiências de
aprendizado, verá que não há o que se perdoar, pois o suposto
erro foi transmutado em aprendizado e isso te faz crescer, se
desenvolver, evoluir, se melhorar, se purificar….

Se você conquistar uma elevação do seu ser por meio dos su-
postos erros, você tem que buscar o autoperdão, ou tem que
agradece-los por possibilitarem sua elevação? Obviamente
você deve agradecer a oportunidade de transformação íntima
e de ascensão do seu ser.

630
PERDER NOSSO CHÃO

A maioria das pessoas quer ir para o céu… mas não querem


sair da terra, diz a máxima de sabedoria.

Esse é um princípio muito importante da vida espiritual. Para


que possamos ascender aos paraísos celestes da felicidade e
da paz de nossa alma, é necessário sair da terra, é preciso
elevar-se acima das coisas do mundo terrestre. Isso implica em
deixar de lado a nossa humanidade, nosso ego, nossos ape-
gos, nossas mesquinharias, as regras, normas e códigos da
vida mundana que ainda tomamos como algo certo e que for-
mam a base de sustentação de nossa vida mental e emocional.

Assim, para chegar ao céu, é preciso perder o chão. O que


significa perder o chão? Perder o chão é abandonar toda a ilu-
sória estabilidade de nossa vida; é perder toda a supostamente
sólida base mental e emocional de nossa realidade. Muitas ve-
zes a sabedoria da vida vem nos tirar o chão, tirar nossa base,
tirar nosso conforto, tirar nossa fonte de renda, tirar a presença
de pessoas que amamos, tirar a solidez de nossas ideias e de
nossa “lógica” material.

Por exemplo, uma pessoa morou numa casa com sua família
por 30 anos. Durante todo esse tempo ela viveu uma prazerosa
estabilidade e segurança em vários aspectos de sua vida.
Certo dia, ela perde o emprego, seus filhos vão embora, seu
casamento termina e ela corre o risco de perder a casa. Ob-
serve que toda estabilidade que ela possuía em sua vida foi
perdida em pouco tempo. O que isso significa? Esse processo
nada mais é do que a vida “tirando o chão” dessa pessoa, faze-
la sair da zona de conforto, para que ela possa elevar-se acima
da terra, e assim, poder alcançar o céu. Caso contrário, como
seria possível que ela se elevasse, ascendesse aos planos ce-
lestiais sem que soltasse essa base terrestre na qual ela estava
acomodada?

Quase todas as perdas em nossa vida representam esse pro-


cesso de “perda do nosso chão”, ou de nossa base, ou de tira-
rem nossos pés da terra, para que somente assim possamos
aprender a nos elevar e assim alcançar os níveis celestiais.
Aqui compreendemos o céu de forma simbólica, como o reino
de paz, felicidade e harmonia prometido pelos mestres espiri-

631
tuais de todas as religiões. O céu é um estado de consciência
de suprema realização, onde somos plenos de paz e felicidade
com Deus.

Esse chão, base ou conjunto de suportes em nossa vida é qual-


quer coisa na qual os seres humanos se apoiam. A base ou a
“terra” de uma pessoa pode ser, por exemplo, sua base moral
ou intelectual. Ela acredita, por exemplo, em determinadas
ideias, como a ressurreição dos mortos, os sacramentos, céu
e inferno, etc. Certo dia, vem um ateu e questiona suas cren-
ças, colocando para ela argumentos que ela não consegue
questionar. Suas crenças são abaladas nesse momento e ela
começa a se sentir insegura em sua fé.

O que ocorreu nesse caso? O chão ou a “terra” dessa pessoa


era primordialmente suas crenças religiosas… e o momento
em que alguém passa a questionar suas crenças, que eram
sua base mental e emocional, ela sente-se insegura, sente que
perdeu seu “chão”, que nada mais faz sentido, e pode até
mesmo entrar em depressão. Na verdade, essas ideias eram
seu suporte emocional, seu apoio, seu chão, sua estabilidade,
e vê-las ruindo foi um grande abalo na base moral e intelectual
de sua vida. No entanto, aqui também vale a máxima de que,
para a pessoa chegar ao céu, ela precisa primeiro sair do chão.
E quando alguém não quer abandonar o chão, vem a vida e
retira seu “chão”, quebra sua sustentação na terra, para que
ela possa começar sua elevação rumo ao Reino de Deus, como
disse Jesus.

Essa base, chão ou assento na terra pode consistir também em


certo apoio pessoal em outras pessoas. Muito comum é o apoio
da maternidade, onde existe todo um ideário humano de prote-
ção da mãe para com seus filhos. Durante anos é possível que
uma mãe faça do seu filho sua base, seu chão, sua estabilidade
emocional. No entanto, o filho um dia sempre vai embora, ou
então nos decepciona, nos abandona, morre, some, para de
nos dar carinho, etc. Nesse momento, muitas mães perdem
completamente sua base, a firmeza do seu apoio, do seu su-
porte emocional, a “terra” na qual estavam fixadas é perdida…
e caso não ascendam, podem cair num abismo de depressão
bastante duradouro. Costumamos dizer que quando nossa
chão é perdido, há dois caminhos… ou caímos num abismo
que pode ser maior ou menor, dependendo do grau de apego,

632
ou podemos aproveitar que estamos fora da terra para elevar-
nos ao céu, ao plano espiritual ou ao reino de Deus. Infeliz-
mente, a maioria tem seguido a primeira via… mas nesse mo-
mento é importante que cada pessoa opte pela segunda via:
ao invés de nos deixar cair num precipício emocional, possa se
elevar aos planos mais próximos do divino.

Portanto, quando a vida vem e tira nosso chão, lembre-se que,


na verdade, você não está sendo prejudicado. A vida está ape-
nas te ajudando a sair do chão, a tirar os pés da terra, para
poder alçar voos grandiosos em ascensão ao reino celeste de
nossa consciência.

633
O PODER REAL

O maior poder não é aquele que você tem diante dos outros
O maior poder é aquele que você tem por você mesmo.
De que adiantam milhares de conquistas nesse mundo se não
conseguimos ainda conquistar a nós mesmos?
O poder pessoal não consiste em forçar o mundo externo a
ser da forma como desejamos ou acreditamos, mas sim em
resistir a maior tempestade, sofrer todos os choques da vida e
mesmo assim se manter tranquilo e firme.
O poder verdadeiro está com aquele que ajuda a unir… e não
a separar.
O poder verdadeiro está com aquele que ajuda a construir e
não destruir.
A sabedoria é um poder mais vasto e profundo do que a força
de imposição.
Poderoso não é aquele que bate e liquida o outro… mas
aquele que resiste ao pior golpe e ainda se mantém de pé,
sem esmorecer, sem se afetar, sem se deixar abater pelas
provações da vida.
O poder do corpo é efêmero, é débil, é passageiro, é vazio.
Mas o poder da alma é perene, é inquebrantável, é sábio e é
pleno de infinitas possibilidades.
Não são os inimigos externos que devem ser derrotados, mas
os inimigos internos, aqueles que vivem dentro de nossa
mente.
Não tem poder aquele que prende o outro… tem o verdadeiro
poder aquele que liberta o outro e a si mesmo.
Podemos aprisionar alguém… mas nos tornamos igualmente
aprisionados ao desejo de controlar o outro.
Por outro lado, ninguém pode prender aquele que venceu
seus demônios e se sente livre interiormente
Deixe o poder humano, transitório e limitado de lado…
Volte-se para o poder real e eterno, aquele que reside na
esfera mais profunda do seu ser.

634
A BUSCA DO DIAMANTE SAGRADO

Há muitos séculos atrás, havia um homem que possuía um di-


amante extremamente precioso, que para ele era muito sa-
grado. Era um diamante belíssimo, de inestimável valor, que
estava há várias gerações em sua família.

Certo dia, ele acordou e foi procurar o diamante, mas não o


encontrou. Procurou em todos os cantos da casa, mas nada do
diamante aparecer. Sua filha disse que alguém poderia ter en-
trado na casa à noite e roubado a pedra preciosa. O homem
então decidiu sair e procurar o diamante em todos os lugares.
Começou procurando em seu vilarejo, mas não encontrou.
Saiu do vilarejo e foi buscar em outras regiões. Procurou muito,
conversou com centenas de pessoas, ofereceu recompensas
para quem o ajudasse, entrou na casa de alguns suspeitos, ob-
servou tudo e todos… mas não consegui encontrar.

Resolveu então que deveria viajar pelo mundo em busca do


diamante. Viajou por vários dias, semanas, meses… Não en-
controu. Percorreu regiões muito remotas da Terra, foi em paí-
ses muito distantes, com diferentes línguas, outros costumes,
conheceu milhões de pessoas diferentes, saboreou a comida
dos recantos mais escondidos do mundo, mas não encontrou
o seu diamante.

Deu a volta ao mundo e, sem sucesso, regressou a sua casa,


desistindo de procurar o precioso diamante. Lá chegando, quis
muito descansar. Tirou sua roupa… e para sua total surpresa,
estarrecido percebeu que o diamante estava preso a um colar
dentro de uma caixinha, que havia colocado em seu pescoço,
mas esqueceu que ele mesmo o havia colocado lá.

O ser humano costuma perder sua vida buscando milhares de


coisas, percorrendo o mundo para saciar seus desejos e so-
nhos, sem desconfiar que o diamante sagrado que ele tanto
procura está nele mesmo. As pessoas buscam casar, ter filhos,
ganhar dinheiro, ter saúde, ter os melhores cargos, boa repu-
tação, elogios, prazer, conforto, estabilidade, tudo isso para en-
contrarem seu precioso diamante da paz e da felicidade. No
entanto, a felicidade, a paz, o amor, a harmonia e todas as ale-
grias e bem-aventuranças que sonhamos e buscamos já estão
aqui conosco, lá no fundo, escondidas em nosso interior… não

635
estão fora de nós, mas estão dentro de nós… em todos os lu-
gares e em lugar nenhum. Quanto tempo mais você vai perder
percorrendo os quatro cantos do mundo procurando pelo “dia-
mante” que já está com você?

O mesmo ocorre com a busca por Deus. Os homens buscam a


Deus em todos os lugares, percorrem o mundo inteiro em
busca do divino, mas não desconfiam que Deus está presente
neles a todo momento. Não se pode buscar alguma coisa que
já está conosco sempre, agora… e eternamente. Buscar algo
pressupõe que haja algo fora que precisa ser encontrado. Mas
se Deus está em todos os lugares e em nós mesmos a todo
momento, qual o sentido da busca? O ponto de saída do início
da busca é o mesmo ponto de chegada, o alfa e o ômega pos-
suem a mesma essência. Quando desistimos de toda busca,
não apenas por Deus, mas por qualquer coisa, só então encon-
tramos o infinito e o eterno em nossa vida. Toda a riqueza ines-
gotável do divino está ao seu alcance, aqui e agora, nesse mo-
mento, na mais profunda simplicidade e naturalidade, para todo
o sempre.

Basta abrir os olhos e se libertar desse sono da ilusão do


mundo.

636
O CAMINHO DO SOFRIMENTO

Aquele que busca a sua satisfação de vida nas coisas materi-


ais… esse está no caminho do sofrimento.

Aquele que busca uma vida de competição e quer sempre ven-


cer os outros, ser o melhor, ganhar a todo custo… esse está
no caminho do sofrimento.

Aquele que faz de uma pessoa a sua vida, vive em função do


outro e se anula pelo outro… esse está no caminho do sofri-
mento.

Aquele que pauta sua vida no conforto, na segurança material,


na estabilidade financeira, na garantia relacionado a dinheiro,
posses, propriedades, luxo, riqueza, ostentação… esse está no
caminho do sofrimento.

Aquele que vive se achando melhor do que os outros, despreza


outras pessoas, quer pertencer uma classe privilegiada, acha
que os outros são inferiores e fica sempre tentando rebaixar as
pessoas… esse está no caminho do sofrimento.

Aquele que vive de aparências, que quer sempre projetar uma


boa imagem, que se preocupa com o que os outros pensam de
si, que tem medo de ser malvisto, mal falado… esse está no
caminho do sofrimento.

Aquele que vive buscando elogios, reconhecimento, aplausos,


exaltações, honras, prestígio… esse está no caminho do sofri-
mento.

Aquele que passa a vida perseguindo o prazer em suas diver-


sas formas, seja na comida, no sexo, em viagens, em diversão,
em entretenimentos… esse está no caminho do sofrimento.

Aquele que deseja um corpo escultural, bem modelado, que


anseia pela beleza física, que fica buscando a estética ideal
com maquiagens e kits de beleza diversos… esse está no ca-
minho do sofrimento.

Não siga por nenhum destes caminhos. Todos eles vão te con-
duzir inevitavelmente ao sofrimento.

637
Busque a humildade… a simplicidade. Não coloque sua vida
nas mãos do dinheiro.

Não busque sua satisfação nas coisas materiais, pois você vai
se frustrar.

Não viva competindo e tentando vencer os outros, pois a maior


vitória é a vitória sobre nós mesmos.

Não viva em função do outro, pois um dia o outro vai embora e


ficamos desorientados e desvitalizados.

Não paute sua vida no conforto material e dinheiro. Isso vai ge-
rar uma angústia interior enorme e vai te causar depressão.

Não tente se achar melhor do que os outros. Não existem infe-


riores e superiores. Quanto mais galgamos ao topo, maior é a
queda.

Não viva de aparências, pois quando as ilusões se quebrarem,


isso vai doer muito lá dentro de você. A verdade sempre bate
nossa porta e se vivemos muito tempo de aparências, vamos
sofrer muito quando a verdade se desvelar.

Não fixe sua vida em elogios ou na estética. O medo das críti-


cas, o envelhecimento, as doenças e a perda de tudo isso vai
te gerar muito sofrimento.

A maioria das pessoas vive caminhando em direção ao sofri-


mento, busca as causas do sofrimento e depois reclama que
sua vida foi um mar de sofrimento. Viver regido por todos estes
pontos… eis o caminho do sofrimento. Libertar-se de tudo
isso… eis o caminho da paz e felicidade.

Vamos acordar… e eliminar todas as causas do sofrimento em


nossa vida. Não adianta tentar ser feliz e continuar plantando
as sementes do sofrimento.

638
COMO CHEGAR AO REINO DE DEUS?

Jesus deixou claro que o grande objetivo do cristão não pode


ser outro senão o chamado “Reino de Deus”.

Para tanto, Jesus deixou claro que o reino de Deus está dentro
de cada um de nós (Lucas 17, 21).

Reforçou essa ideia quando disse “vós sois deuses” (João 10,
34) e também “podeis fazer o que eu faço e coisas ainda mai-
ores” (João 14, 12).

Sobre a forma do reino de Deus, Jesus explicou que o reino de


Deus não virá com “aparência exterior” (Lucas 17:20), tam-
pouco está aqui ou ali. Por isso, obviamente, ele só poderá ser
encontrado no mais interior do nosso interior.
Mas como atingir o reino de Deus?

Jesus dá algumas indicações a esse respeito:

Para alcançar o Reino de Deus é necessário “nascer de novo”


(João 3, 3).

“Nascer de novo” tem um significado muito profundo… repre-


senta deixar de lado tudo o que somos de limitado e nascer
para o espírito que “sopra onde quer” (João 3, 8).

Jesus também disse que devemos nos fazer tal como as crian-
ças, para alcançarmos o Reino de Deus. A inocência e pureza
devem ser cultivadas, tal como a das crianças. Isso significa
viver sem malícia, sem espertezas, olhar para a vida tal como
ela é…

No Sermão da montanha, em Mateus 5 a 7, Jesus fala sobre


como se tornar um bem-aventurado. Bem aventurado é o ho-
mem feliz, que vive em paz e harmonia com Deus e nada desse
mundo pode abalá-lo.

Jesus disse que o bem aventurado é o pobre de espírito, ou


seja, o humilde, aquele que tem um coração de pobre, mas não
pobre no sentido material, mas pobre no sentido de não ficar
desejando conquistar o mundo.

639
Bem aventurados são também os que choram, pois serão con-
solados. Chorar é expressar as emoções e ser completamente
sincero consigo mesmo.

Bem aventurados são também os mansos, ou seja, aqueles


que não brigam, não lutam, não se estressam, não vivem uma
vida tensa, irritadiça, de nervosismo. Mas são calmos no falar,
agir e pensar.

Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça. Aqueles


que buscam ser um instrumento da justiça e da paz no mundo.

Bem aventurados os misericordiosos, ou seja, aqueles que


conseguem se colocar no lugar do outro, ser empático, respei-
tar o outro por pior que ele seja… e não julga-lo por isso.

Bem aventurados também são os puros de coração. Jesus


deixa claro que estes são os que verão a Deus. A pureza de
coração abre nosso ser para a visão direta e o contato direto
com os planos mais elevados do cosmos.

Bem aventurados são também os pacificadores, ou seja, aque-


les que buscam a paz em tudo o que fazem e que procuram
transmitir essa paz a todos e ao mundo.

Bem aventurados são, por fim, os injuriados e perseguidos por


causa de Jesus, ou seja, por causa da luz espiritual que Jesus
representa. Aqueles que sofrerem todo o mal em nome do bem,
da paz e da verdade, tornar-se-ão bem aventurados.

Ainda sobre o Reino de Deus, Jesus deixa claro que devemos


buscar o reino de Deus e sua justiça sempre em primeiro lugar,
antes de qualquer coisa, pois aqueles que o fazem, para estes
“tudo o mais será acrescentado”.

O meio de acesso ao reino de Deus se dá por meio de uma


“porta estreita”. A porta estreita é uma alusão a um caminho
estreito, pequeno, apertado, onde não poderemos levar qual-
quer bagagem, caso contrário, não cruzaremos a via até ele. É
preciso se despojar de tudo para atravessar a “porta estreita”.

O caminho que leva ao reino de Deus também não admite qual-


quer apego ao passado. Jesus deixa claro que “Ninguém, que

640
lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de
Deus” (Lucas 9:62). Isso concorda com todas as referências
anteriores a respeito. Aquele que deseja entrar no Reino de
Deus jamais deve olhar para trás, para o passado, ou para
aqueles que ficaram pelo caminho. É necessário seguir sem
medo, sem culpa e sem nenhum apego ao que fica ou a quem
fica.

Dessa forma, Jesus traçou o caminho para o Reino de Deus há


mais de 2000 anos. Como cristãos, nosso objetivo não pode
ser outro senão trilhar esse caminho… começando agora.

641
QUAL É A SUA SUSTENTAÇÃO?

Se você perdeu o chão quando alguém vai embora e te aban-


dona, isso significa que você estava fazendo dessa pessoa o
seu “chão”, o seu sustento emocional.

Se você se sente perdido e desorientado quando suas crenças


se revelam falsas, isso significa que você estava tomando suas
crenças como a orientação da sua vida.

Se você se sente desanimado, sem vontade de fazer nada,


porque você perdeu alguma coisa, isso significa que você es-
tava fazendo dessa coisa o seu ânimo, a sua vontade de viver.

Se você não consegue mais seguir sua vida depois dessa


perda, isso significa que o que fazia você seguir sua vida era
esse algo que foi perdido.

Devemos mesmo fazer das coisas e pessoas o nosso sustento


emocional, a nossa referência, o nosso ânimo, a nossa vontade
de viver? Devemos mesmo fazer de algo ou alguém a nossa
capacidade de seguir em frente?

Não tome coisas, pessoas e crenças como a base sua vida,


como seu alicerce, como seu pilar, como seu “chão”, como sua
orientação, como seu ânimo, como sua vontade de viver…

Quantas vezes você já perdeu algo que te dava alegria e, por


isso, perdeu a sua alegria, sem conseguir mais recupera-la?

Vale a pena colocar a nossa vida nas mãos do outro? Nas


mãos de alguma coisa? Nas mãos do dinheiro? Nas mãos de
alguma crença, ideia ou doutrina?

Não vale… você perde seu chão, sua base, sua referência, fica
perdido e sem vontade de seguir em frente.

Quando nada mais for o seu sustento… você será sustentado


pelo infinito, pela eternidade e, dessa forma, você será feliz
para sempre.

642
NÃO PERMITA QUE SUA RELIGIÃO TE FAÇA ESTAS
DOZE COISAS

1 – Faça você se sentir superior e melhor do que os adeptos


de outras religiões.

2 – Faça você ficar julgando os outros que pensam diferente


de você e que não seguem as regras da sua religião.

3 – Faça você fechar sua mente para outras correntes, ideias,


doutrinas ou conhecimentos e fique bitolado apenas no que
ela te ensina.

4 – Faça você colocar a culpa em demônios, na sociedade,


na família, em maldições, em feitiçaria. Você é que precisa se
ver como o responsável pela sua vida.

5 – Faça você ser intolerante, a ter ódio e discriminar outras


pessoas, como gays, ateus, negros, comunistas, etc.

6 – Faça você aderir a uma postura fundamentalista, fanática


e dogmática, acreditando que você é “o escolhido” de Deus.

7 – Faça você interpretar os livros sagrados ao pé da letra,


acreditando que somente eles têm a verdade única, imutável
e perfeita e nada existe de importante fora deles.

8 – Faça você se submeter a uma hierarquia sacerdotal a


qual você não pode jamais questionar.

9 – Faça você ver nos padres, pastores, bispos, gurus,


mestres, rabinos, etc, como santos, puros, imaculados e
acima de qualquer sujeita, acima do bem e do mal.

10 – Faça você acreditar que esses líderes religiosos são a


única ligação com Deus. Cada pessoa pode chegar a Deus
por si mesmo, sem precisar destes líderes.

11 – Faça de você uma pessoa culpada por não seguir as


regras de conduta que eles estabelecem.

12 – Faça você ficar com medo de punições divinas, do


inferno, do umbral ou de locais de danação eterna, caso não

643
siga os dogmas da religião. Todos têm direito de se
arrepender e reconstruir sua vida.

As religiões devem ajudar o ser humano a se elevar e não a


se rebaixar.

Devem ajuda-lo a se libertar e não a se prender ainda mais.

Devem ajuda-lo a ser humilde… e não a ser mais arrogante e


soberbo.

Devem ajuda-lo a ter amor… e não a ter ódio.

Devem ajuda-lo a ter paz interior… e não a viver se culpando


por tudo.

644
NÃO JULGAR POSITIVAMENTE

A todo momento devemos lembrar o ensinamento de “não jul-


gar”, como nos ensinou Jesus.

No entanto, precisamos ter bem claro em nossa mente que não


devemos julgar negativamente e tampouco devemos julgar po-
sitivamente.

Há pessoas que julgam o outro sempre de forma negativa. E


há também aqueles que julgam o outro de forma positiva.

Da mesma forma que não devemos julgar alguém como mau,


safado, canalha, monstro, etc… tampouco devemos julgar al-
guém como bom, humilde, sábio, elevado, etc.

Todas as formas de julgamento devem ser evitadas… tanto ne-


gativamente quanto positivamente. As aparências podem sem-
pre nos enganar.

Não conhecemos a verdade.. não enxergamos o interior das


pessoas. vemos apenas a superfície da superfície. Não pode-
mos emitir juízos de ninguém… nem negativos e tampouco po-
sitivos.

Quando menciono esse princípio, algumas pessoas pergun-


tam: mas não podemos elogiar ninguém? Obviamente elogiar
e julgar são duas coisas diferentes. Por exemplo, um homem
ajudou uma criança de rua dando-lhe comida. Alguém pode di-
zer: “Veja, a atitude dele foi boa, ele deu de comer a uma cri-
ança”. Nessa frase não reside qualquer julgamento, apenas
uma análise positiva sobre a atitude do homem. Julgamento
seria se alguém dissesse: “Veja, ele ajudou uma criança de rua.
Ele é um homem bom”.

Na segunda afirmação, estamos julgando algo relacionado ao


caráter do homem dizendo que ele é bom por ter ajudado a
criança. Será que ele é mesmo bom apenas porque ajudou a
criança? Ele pode não ser bom… Esse ato supostamente bon-
doso pode ser apenas uma fachada para demonstrar o quanto
é “bonzinho” diante de todos, pode estar visando sua promoção
pessoal, pode estar ajudando para depois receber algo em

645
troca, dentre outros interesses pessoais que ele pode ter ao
ajudar uma criança.

O melhor é pensar: “Fulano é mau? Não sei… pode ser ou


pode não ser…” E também: “Fulano é bom? Não sei… pode
ser ou pode não ser… Não julgo ninguém.”

Essa deve ser a postura do homem sensato e conectado com


a verdade.

646
NÃO CRIE MUITAS PREVISÕES

A maioria das coisas que nos programamos em nossa vida


não saem como o planejado.
Quando saem como o planejado, não são exatamente como
nós esperávamos.
Quando acontece o que nós esperamos que aconteça, não
desfrutamos da forma como imaginamos no início. Ou seja,
não é nem tão bom nem tão ruim quanto acreditamos.
Quando acontece da forma que imaginamos, de um jeito bom
e agradável, ficamos esperando que aquilo se repita no
futuro. E quando se repete, quase nunca é da mesma forma
que a primeira vez.
Quando algo sai como imaginamos e a experiência positiva
começa a se repetir por um tempo… um dia aquilo sempre
acaba.
Sempre acaba… e muitas vezes acaba antes do que
previmos.
Além disso, a felicidade que esperamos retirar de alguma
experiência quase nunca é como nossas expectativas
prometiam.
Diante de tudo isso… vamos refletir:
Vale a pena ficar tentando prever todas as coisas em nossa
vida? Vale a pena prever e esperar que ocorra o que
planejamos?
É natural desejarmos fazer, realizar, materializar nossas
ideias e sentimentos no mundo, mas não podemos acreditar
que as coisas vão necessariamente sair tal como o esperado.
O ser humano pode ser dono de suas ações, mas não é o
senhor do resultado final.
Muitas vezes as pessoas fazem uma coisa visando um fim…
e o efeito é outro. Pode ser até o oposto do planejado.
O resultado final pertence a Deus, pertence a forças que são
independentes e que vão além de nossas capacidades.
Quem vive se preocupando com o resultado das coisas, cria
muitos infortúnios em sua existência.
Por isso, ninguém deve fazer algo esperando determinado
resultado, pois se nossa expectativa não se concretizar,
ficaremos tristes e decepcionados.
Não adianta viver tentando prever o futuro, planejando
demais, tentando forçar o resultado final das coisas.
No final das contas, a vida sempre nos surpreende e as
coisas quase nunca saem como supomos que devem ser.

647
Portanto, esqueça essa mania de ficar tentando prever tudo.
Apenas viva e deixe viver… o resultado pertence a vida em si
mesma.

648
COMO PODEMOS SER LIVRES?

Todos os seres buscam a liberdade, pois uma vida sem liber-


dade parece não ter sentido. Mas o que é ser livre? Como uma
pessoa pode conquistar definitivamente sua liberdade? Nessa
oportunidade vamos falar um pouco sobre livre arbítrio, prisão,
programações mentais e emocionais e sobre a verdadeira li-
berdade a que o ser humano pode ter acesso. Vamos abordar
nossas explicações em tópicos, para facilidade a assimilação
do conteúdo.

Para iniciar, devemos compreender que livre arbítrio não é ne-


cessariamente sinônimo de liberdade. Muitas pessoas se es-
quecem disso, mas é certo que a livre escolha de alguém pode
conduzi-la a uma prisão e não para uma condição de liberdade
cada vez maior. Uma pessoa que pode escolher não é neces-
sariamente uma pessoa que está livre dentro de suas escolhas.
Por exemplo, uma mulher que está insatisfeita num casamento
pode escolher permanecer casada, mesmo sendo infeliz com
seu marido. Ela tem o poder de decisão, mas como não tem
coragem de enfrentar sozinha as implicações de um divórcio,
ela pode decidir permanecer num casamento que a aprisiona e
sufoca. Observe nesse exemplo que a mulher tem o livre arbí-
trio e o exerceu, mas esse livre arbítrio a conduziu para uma
prisão, que no caso dela é o cárcere de um matrimônio infeliz
que a podava. Sim, uma pessoa pode escolher permanecer
numa prisão, porque ela prefere essa prisão ao invés do en-
frentamento do mundo externo. Nesse sentido, fica claro que
uma pessoa pode usar seu livre arbítrio, mas mesmo assim
pode ceder ao medo e decidir permanecer numa prisão matri-
monial, psicológica, emocional, etc. Por isso dizemos que o li-
vre arbítrio não é sinônimo de liberdade no sentido mais puro
da palavra.

Fazer o que se gosta não é necessariamente ser livre. Isso é


um erro muito comum, uma ilusão que precisa ser desfeita em
nossa mente. Para entender isso, vamos imaginar a seguinte
situação. Uma pessoa gosta de chocolate. Ela vai ao mercado
e compra um chocolate para comer. Ela come a banana e fica
satisfeita. Quase todas as pessoas diriam que ela exerceu sua
liberdade: foi ao mercado, comprou o que gosta e consumiu,
satisfazendo seu apetite e seu desejo. Nesse exemplo aparen-
temente encontramos delineada uma sequência de eventos

649
que faz uma pessoa ser livre em suas escolhas. Sim, nossa
sociedade se ilude acreditando que liberdade é alguém fazer o
que gosta e o que quer. A maioria acredita que somos livres
quando realizamos nossos sonhos, nossos ideais e vivencia-
mos intensamente o usufruto dos nossos desejos. No entanto,
será que é mesmo assim? Vamos analisar isso… No exemplo
do chocolate, uma pessoa acredita que teve a livre escolha de
ir ao mercado, comprar e consumir o chocolate que ela tanto
gosta. No entanto, vem a pergunta: essa pessoa algum dia es-
colheu gostar de chocolate? A resposta é muito clara: não. Ela
simplesmente gosta de chocolate e por isso ela sempre decide
consumir um chocolate. Assim, podemos questionar: essa pes-
soa, que já gosta de chocolate, está exercendo sua verdadeira
liberdade ao comer o que já gosta? Não… pois ela nunca es-
colheu gostar de chocolate, assim como outra pessoa nunca
escolheu não gostar de chocolate, ela simplesmente gosta, já
nasceu gostando, ou adquiriu esse hábito e seu organismo
passou a sentir prazer com o consumo de chocolate. Onde
está, nesse caso, a livre escolha de alguém que há nasceu
adorando comer chocolate?

Vejamos outro exemplo: uma pessoa pode dizer que é livre


para escolher que faculdade quer cursar. Ela teve várias op-
ções, mas escolheu uma ao invés das outras. Vamos pensar
sobre isso fazendo o mesmo questionamento a respeito do
gosto pelo chocolate. Essa mesma pessoa que gosta de cho-
colate escolheu cursar medicina. Podemos perguntar a essa
pessoa porque ela escolheu cursar medicina. A pessoa res-
ponde: eu escolhi porque eu gosto de medicina e inclusive é
uma área boa para se ganhar muito dinheiro. Nessa resposta
observamos duas tendências que já existem a priori, ou seja,
que já existe dentro da pessoa sem que esta um dia exercera
seu poder de decisão, que é gostar de medicina e gostar de
dinheiro. Isso significa que ela decidiu cursar medicina porque
ela gosta de medicina, já existe nela a tendência ou a inclina-
ção a um prazer relacionado às ciências médicas e biológicas.
Ela gosta mais do estudo do corpo humano do que, por exem-
plo, do estudo do Direito, ou de Economia, ou de Psicologia,
etc. Assim, mais uma vez questionamos: se ela já gosta mais
do estudo do corpo humano e das ciências biológicas, ela real-
mente escolheu medicina, ou ela apenas está dando vazão a
uma tendência ou gosto que já existe dentro dela? Precisamos
refletir seriamente nesse questionamento, pois ele é a base de

650
nossa reflexão. Se ela gostasse mais do estudo da mente e do
comportamento, ela não faria medicina, faria psicologia. Ela po-
deria escolher medicina se gostasse mais de psicologia? Seria
muito difícil, mas sim, poderia. Em que situações ela poderia
escolher medicina? Sua escolha poderia estar pautada, por
exemplo, no desejo de ganhar dinheiro, pois medicina é uma
área que oferece melhores salários e rendimento que a Psico-
logia. Mas nesse caso, a pessoa está exercendo uma livre es-
colha, ou ela está escolhendo a medicina com base no desejo
que ela já tem de ganhar dinheiro? E essa pessoa escolheu
gostar de dinheiro, ou ela simplesmente já gosta? Esses exem-
plos nos mostram que o ser humano realiza suas escolhas com
base em tendências prévias, inclinações já pré-existentes den-
tro dele mesmo. Se remontarmos o passado desse indivíduo
não será difícil constatar que ele nunca escolheu gostar de cho-
colate, gostar de medicina, gostar de dinheiro… ele simples-
mente gosta e não pode escolher não gostar.

O mesmo ocorre com relacionamentos. Escolhemos não sentir


nenhuma afinidade com uma pessoa? Ou por outro lado, esco-
lhemos gostar ou amar uma pessoa ao invés de outra? Esco-
lhemos pensar e ficar lembrando e revivendo certas experiên-
cias com alguém, ou isso é algo que simplesmente acontece
sem que possamos escolher? Racionalmente, pensamos de
um jeito, mas nossas emoções e impulsos nos arrastam a outro
caminho. Por exemplo, um homem foi traído por uma mulher.
Racionalmente ele pensa: “tudo bem, ela escolheu outro, vou
também encontrar outra pessoa e seguir em frente”. Mas, sin-
ceramente, conseguimos fazer isso? Não… ficamos relem-
brando, remoendo, com saudades, tristeza, com raiva, nosso
pensamento volta a todo momento na pessoa e nas boas e más
experiências vividas. Escolhemos ficar assim? Não… Isso é
nosso, está em nós, arraigado, preso, nos envolvendo e não
podemos evitar. Por mais que tentemos fixar nosso pensa-
mento em outras coisas, ele sempre retorna e iniciamos um
ciclo vicioso de pensamentos e sentimentos que nos envolvem
e nos tiram a paz. É como um programa que fica rodando, se
repetindo, nos atormentando e que é dificílimo de soltar. Pode-
mos escolher não sentir ou não pensar? Na maioria das vezes
não… podemos apenas tentar retirar a dose de poder que da-
mos aos pensamentos e sentimentos. Podemos escolher se-
guir em frente… mas os pensamentos e sentimentos podem
ficar em nós por longos períodos. Escolhemos ficar assim?

651
Não… as pessoas escolhem ceder ou não ceder a esses esta-
dos emocionais, dar maior ou menor valor a eles. Mas eles já
vieram conosco… e fazem parte de certos programas mentais
e emocionais que estão muito arraigados dentro de nós e que
na maioria das vezes não temos quase nenhum controle.
Nesse sentido, entramos numa prisão emocional que o poder
consciente de nossa escolha não é suficiente para nos permitir
a liberdade interior.

Podemos estender esses exemplos ad infinitum. Uma mulher


gosta de tatuagens. Ela escolheu colocar as tatuagens, ou ela
coloca simplesmente por que gosta? O gostar não antecede a
escolha? Sim… o gosto, as tendências e as pré-disposições
interiores, as quais nunca escolhemos ter, antecedem e ditam
nossas escolhas. Ela faz as tatuagens porque gosta, mas
nunca escolheu gostar de fazer, simplesmente gosta e ponto
final. Ela poderia escolher não gostar de tatuagens? Não… ela
poderia apenas escolher não fazer… mas não pode escolher
gostar ou não gostar. Cada pessoa que esteja lendo estas li-
nhas pode, nesse momento, fazer uma revisão sua vida e bus-
car em sua própria história os momentos em que escolheu gos-
tar de uma ou outra coisa, despertar um ou outro desejo. Por
mais que busquemos, não seremos capazes de encontrar o
início, a causa, a fonte de nossos desejos, nossos impulsos,
nossos anseios, simplesmente porque eles existem dentro de
nós desde nosso nascimento.

Uma pessoa pode argumentar: mas eu não gostava de bebida,


tomava e achava horrível, mas fui bebendo e aos poucos co-
mecei a gostar. Primeiro de tudo… essa pessoa poderia tanto
passar a gostar de bebida quanto ela poderia mesmo tomando
centenas de vezes não gostar. Se ela realmente não gostasse,
poderia beber por anos e mesmo assim não sentiria prazer be-
bendo. Em segundo lugar, por que ela começou a beber? Para
melhorar seu convívio social com pessoas que bebem? Para
aproveitar o efeito desinibidor da bebida a fim de se tornar me-
nos tímida? No primeiro caso, ele escolheu forçar o prazer da
bebida para melhorar seu convívio social. Isso significa que ele
não tinha um bom convívio. Aqui vem a pergunta: ele decidiu
não ter um bom convívio, ou isso é um limite ou programa que
veio com ele? A timidez por acaso foi uma escolha? Não… ela
já é tímida, nunca escolheu ser tímida. Escolher beber para se
desinibir é uma escolha? Ou essa pessoa escolheu beber para

652
tentar minimizar o efeito de um programa de timidez? Tudo isso
pode parecer muito complexo e cheio de nuances, mas em es-
sência é simples: basta compreender que em quase 100% das
vezes agimos para corresponder a uma pré-disposição já exis-
tente e apenas ceder a essa pré-disposição não pode ser con-
siderado uma escolha, mas tão somente o cumprimento de um
ditame subjetivo que em nenhum momento teve nosso aval de-
cisório consciente. Diante desses fatos, cabe a pergunta: so-
mos mesmo livres e desimpedidos para escolher o que dese-
jamos, ou o desejo é que nos impõe a escolha para que ele
possa se satisfazer?

Esses exemplos nos mostram que os seres humanos podem


não ser tão livres em suas escolhas quanto acreditam. O mo-
tivo disso é simples: o ser humano está sempre seguindo uma
certa “programação” baseada em gostos, tendências e pré-dis-
posições, que ele já possui desde o seu nascimento, que po-
dem ser pré-disposições biológicas, genéticas, culturais, etc.
Uma pessoa que come um chocolate porque gosta está se-
guindo uma programação baseada no gosto, ou no desejo, que
já é dela, que já nasceu com ela e que ela simplesmente não
controla. Ninguém decidiu gostar mais de vinho ou de cerveja.
Ninguém escolheu gostar de doce ou de salgado, ninguém es-
colheu gostar mais de vinho ou de conhaque, ninguém esco-
lheu gostar mais de amarelo ou azul. Simplesmente gostamos
e ponto final. Claro… uma pessoa pode tentar resistir a esse
desejo e não comer doces, ela pode aos poucos ir se despro-
gramando do desejo de comer doces, ela pode simplesmente
tentar comer outras coisas para se acostumar com outros sa-
bores. Em alguns casos, isso pode acontecer.

No entanto, por que a pessoa escolhe resistir ao desejo de co-


mer doce? Ela pode, por exemplo, ser alguém muito preocu-
pada com seu peso. Mas por que ela é preocupada com seu
peso? Por que ela quer, por exemplo, ficar magra para atrair
mais homens e encontrar um marido. Mas por que ela quer en-
contrar um marido? Por que o sonho dela é casar. Agora repe-
timos a mesma indagação: em algum momento ela decidiu ter
o forte desejo de se casar, ter filhos e conviver com um bom
marido? Não… esse é um desejo que sempre a acompanhou.
Algumas pessoas podem argumentar: mas ela observou mui-
tos casamentos felizes e decidiu que, para ser feliz, precisava
se casar. Nesse caso, existe aqui uma programação que e cul-

653
tural, e de qualquer forma, não há como negar, é uma progra-
mação que se inseriu em sua mente. Ela associou que felici-
dade = casamento. Ser amada = ser casada. Ela pode estar
escolhendo não comer doce apenas para encontrar um marido.
Nesse caso, questionamos: ela é livre em sua escolha, ou está
apenas obedecendo a uma programação cultural, ou a um de-
sejo, ou a uma tendência? Sim… em qualquer dos casos, in-
dependente de qual seja a causa, ela está apenas expres-
sando um programa que já existe dentro dela, e que, em mo-
mento nenhum, ela escolheu ter.

O que nós escolhemos então? Quando somos livres de fato?


Ao ler estas linhas, algumas pessoas podem supor que esta-
mos pregando a inexistência completa da liberdade. Não…
existe sim uma forma de liberdade, ainda que seja bem tímida,
em todo esse contexto. Para compreender essa liberdade mais
real, voltemos ao exemplo do doce. Uma pessoa adora doces
e todos os dias sente um forte desejo de saborear um doce. No
caso dessa pessoa ir ao mercado e comer um doce, não se
pode falar em liberdade ou que essa pessoa é livre para deci-
dir, pois ela está simplesmente correspondendo ao seu desejo,
cumprindo o que seu desejo lhe dita, seguindo ou se deixando
levar pela forte vontade, pela gana de degustar uma guloseima.
Qual seria então a única forma possível de liberdade no caso
do doce? Ela passará a ser mais livre quando ela sentir o de-
sejo de saborear um doce e mesmo assim não corresponder
as imposições desse desejo. Neste caso, sim… ela está inici-
ando ou ensaiando um rompimento com o padrão do seu de-
sejo, uma quebra das imposições ou programações dos seus
anseios e vontades e está começando a abrir uma porta para
uma condição mais livre e menos aprisionada aos programas
do desejo. Observe que, nesse caso, ela não faz apenas o que
o seu desejo impõe, ela resiste ao impulso de comer o doce e,
assim, conquista um domínio maior de si mesmo que vai pro-
porcionar uma maior liberdade em sua vida. Isso significa que,
ao contrário do que a maioria pensa, ceder aos desejos e aos
impulsos da vontade que já existe em nós não pode jamais ser
considerada uma forma de liberdade. Liberdade é quando es-
colhemos entre ceder ou não ceder ao impulso. No entanto,
mesmo não cedendo ao impulso de comer doce, quase sempre
continuamos presos ao desejo de comer o doce. Mas o rompi-
mento com a concretização dos desejos já é o primeiro passo

654
para nossa libertação. Iniciamos uma jornada rumo à uma li-
berdade mais pura e verdadeira.

Nem todos os programas que existem dentro de cada pessoa


são conscientes. Muitos desses padrões de ação são incons-
cientes e nem fazemos ideia que estão presentes dentro de
nós. A ideia do inconsciente como produtor de crenças, com-
portamentos e desejos teve seu início na psicanálise. Antes de
Freud os ocidentais acreditavam piamente que eram livres na
escolha de teorias, de comportamentos e de como iriam vive-
rem suas vidas. Essa é mais uma evidência de que somos con-
trolados por forças desconhecidas e que só podem ser entre-
vistas por certos sinais que aparecem em maior em menor nú-
mero em nosso comportamento.

Nessa altura de nossa reflexão é importante mencionar algo


interessante. Muitas pessoas tentam impor sua liberdade as
outras. Muitos exemplos poderiam ser dados desse tipo de
conduta. Por exemplo, o homem que gosta de ouvir música al-
tíssima de madrugada e acorda toda a vizinhança. Nesse caso,
esse homem acredita que é livre no momento em que “escolhe”
ouvir música alta. No entanto, aquele que tenta sempre impor
a sua liberdade aos outros pode ser tudo, menos livre… A im-
posição de nossos desejos demonstra da forma mais cabal
possível que existe uma necessidade de imposição, uma ne-
cessidade que não pode deixar de ser expressa. Assim, o ho-
mem que precisa provar aos outros que é livre… é livre de fato?
Ou será que ele está preso a necessidade de demonstrar sua
ilusória liberdade? Ele impõe sua liberdade justamente porque
não se sente livre. É como o político que se torna um tirano
quando assume o poder. Ele sente necessidade de exercer sua
tirania porque está preso a necessidade de ter poder. Ele está
tão preso ao seu desejo pelo poder que não pode viver sem
escravizar os outros dentro de suas necessidades. É como o
marido que tenta dominar a mulher porque está dominado pelo
desejo de possui-la. Ele tenta controlar porque está aprisio-
nado a necessidade de ter essa pessoa apenas para ele.
Nesse caso, o maior prisioneiro é ele mesmo. Assim, aquele
que tenta provar ao outro que é livre, ou que tenta impor a sua
liberdade ao outro, não é livre de verdade, mas está aprisio-
nado na exigência de ser livre. Ninguém precisa provar para si
mesmo que é livre, se ela já sente essa liberdade.

655
É importante também mencionar que muitas vezes exercemos
nossa suposta liberdade trocando uma programação por outra.
Um alcoólatra pode passar a comer muito ao invés de beber.
Ele se torna livre em relação à bebida, mas acaba se pren-
dendo em uma segunda programação para conseguir fugir da
primeira. Muitas pessoas que abandonam vícios graves apre-
sentam um aumento considerável em seu peso, pois o impulso
de beber vai mudando sua forma de expressão e se tornando
o impulso de comer. Isso nada mais é do que trocar uma pro-
gramação mais grave e prejudicial por uma menos grave e me-
nos prejudicial ao organismo. Muitas vezes em nossa vida fa-
zemos o mesmo: acreditamos estar nos libertando de um pro-
grama e na verdade estamos apenas o trocando por outro, tal-
vez um pouco menos rígido e mais flexível. Uma pessoa pode
ir do fanatismo religioso para o fanatismo ateísta. Em ambos
os casos há o fanatismo, ele apenas mudou a sua forma de
expressão. Em ambos os casos, há programas mentais e
ideias fixas envolvidas. Um homem pode trocar sua obsessão
por uma mulher pela obsessão em outra mulher; pode trocar a
obsessão de comer muito pela obsessão à saúde e dietas;
pode trocar a desvitalização de uma depressão pela exacerba-
ção do humor em casos de mania, onde se desenvolve uma
depressão bipolar. São bem variados os casos em que troca-
mos um programa por outro, seja como compensação, seja
como fuga.

656
TUDO SE TRANSFORMA

Há uma lei universal que está presente a todo momento.


Esse princípio diz que:
“Tudo se transforma nesse mundo.”
Os papéis se invertem. O mundo dá voltas.
Tudo muda e nada volta a ser como era antes.
Tudo se alterna de lugar e nada fica parado na mesma
condição para sempre.
O médico de hoje pode ser o doente de amanhã.
O rico de hoje pode ser o pobre de amanhã.
O empregado de hoje pode ficar desempregado amanhã.
Hoje você está contente com sua vida, amanha pode estar
descontente.
Hoje você é flor… amanha pode ser espinho.
Hoje você é pedra… amanhã pode ser vidraça.
Hoje você maltrata… amanha pode ser maltratado.
Hoje você está bem… amanhã pode estar mal.
Hoje você manipula… amanhã será o manipulado.
Hoje você rouba… amanhã será roubado.
Hoje você ganha… amanhã pode perder.
Hoje você tem tudo… amanhã pode não ter mais nada.
Hoje você é o algoz… amanhã poderá ser a vítima.
Não acredite que tudo em sua vida é estável e permanente.
Tudo muda, tudo sobe e desce, tudo vai e vem, tudo começa
e termina.
Não se acostume com a vida como ela se apresenta a você.
Pois amanhã tudo vai mudar… e a mudança pode chegar
antes mesmo do que você pensa.
Aquele que se engessa numa lugar, se quebra muito mais
fácil quando a corrente das transformações aparece.
Aquele que constrói muralhas rígidas, sempre as vê
desmoronar no futuro.
Como disse Lao Tsé: “Meu dente caiu, porque é duro. Mas
minha língua permanece, porque é flexível”.
Não crie construções mentais e emocionais enrijecidas e
firmes.
Quanto mais duro você é, mais fácil vai se quebrar depois.
E quando o fixo e duro desmoronar, você vai se quebrar e
morrer junto.
Estamos sempre mudando de um lugar para outro.
Aquele que se apega a um lugar, sofre quando tem que
deixa-lo.

657
Quanto mais você deseja a permanência de algo, mais sofre
com a impermanência inerente a este mundo.
Quanto mais você deseja segurança, mais sofre com a
insegurança intrínseca das coisas.
Mas aquele que compreende a impermanência de tudo, que
nada pode ser retido, possuído ou estabilizado, esse
despertar para uma liberdade interior impossível de ser
descrita em palavras.
Quem não se fixa a nada é livre… e quem vive desejando
uma impossível permanência de coisas e condições, fica
aprisionado.
A existência universal é uma permanente impermanência… é
uma alternância perpétua de estados de ser.
Há apenas uma constância dentro da inconstância… que é
nossa essência.
Por isso, deixe seu barco seguir junto com a corrente sagrada
do grande rio da vida.
Não navegue contra a maré… Não viva fazendo oposição as
inexoráveis correntezas da existência.

658
O QUE É FAZER O BEM?

Quando ouvimos essa frase, “fazer o bem”, a primeira ideia que


nos vêm a mente é daquele homem que faz um trabalho social
num asilo, ou daquela mulher que visita hospitais dando cari-
nho aos doentes, ou daquele padre que distribui comida aos
pobres, ou daquele milionário que doa um milhão a uma ONG
de tratamento de câncer.

No entanto, do ponto de vista espiritual, esses exemplos for-


mam apenas um modo daquilo que costumamos chamar de
“fazer o bem”.

Mas o que é verdadeiramente fazer o bem? Como uma pessoa


pode iniciar esse trabalho de fazer o bem? Vejamos alguns tó-
picos que podem explicar com mais clareza o que a espirituali-
dade superior considera como fazer o bem.

Fazer o bem é, em primeiro lugar, viver sob uma perspectiva


de vida que é maior do que nós mesmos, acima de nosso inte-
resse pessoal, rejeitando o egoísmo e a prepotência. Fazer o
bem é extirpar de nossa vida todo o egocentrismo, compreen-
dendo que vivemos numa sociedade e que nossos interesses
não são maiores do que os interesses coletivos e planetários.
O fim do egoísmo, do orgulho e da vaidade é o maior bem que
fazemos realizar no mundo.

Fazer o bem é não julgar nossos semelhantes. De nada adianta


frequentar sua igreja, seu centro, dar sopa aos pobres, mas
julgar os pobres, ou quaisquer outras pessoas em nossa vida.
O ato de não julgar, não emitir julgamentos contra a pessoa a
quem quer que seja, é uma das formas mais sublimes de bem
que podemos realizar no mundo.

Fazer o bem é não reagir ao mal, mas devolver a ofensa em


forma de amor e compreensão. Aqueles que dão sopa aos po-
bres em sua igreja, mas brigam com o motorista que os fechou
no trânsito estão ainda engatinhando na missão do bem na
Terra. Fazer o bem é não guardar mágoa, não cultivar ranco-
res, não se deixar abater pelas ofensas, pelas calúnias. É com-
preender que cada qual tem a livre escolha de ser e fazer, e
mesmo que isso nos afete, é preciso amar e respeitar o outro.

659
Não devolver o mal com o mal, a ofensa com a ofensa, a agres-
são com a agressão. Ao contrário, devolver o mal com o bem,
a ofensa com a ternura, a agressão com amor, a impaciência
com a paciência, as trevas com a luz. Uma das maiores cari-
dades que podemos fazer ao semelhante não é dar comida ou
dinheiro, mas sim dar amor em troca de ódio. Quando uma pes-
soa nos dá uma tapa na cara, não revidar… e ainda proferir
palavras de compreensão, harmonia e paz. Não adianta tratar
bem quem gostamos e destratar quem não gostamos. Fazer o
bem é principalmente tratar bem quem não gostamos ou quem
nos fez mal. Isso vale muito mais do que dar comida e dinheiro
aos pobres.

Fazer o bem é ser compreensivo com os defeitos das pessoas.


É entender que cada pessoa se encontra num certo nível de
desenvolvimento, num plano de maturidade emocional e men-
tal. Fazemos o bem quando nos colocamos no lugar do outro,
dentro do seu ponto de vista, e lhes confortamos com o enten-
dimento de sua experiência.

Fazer o bem é perdoar, é amar a todos, sem distinção. Melhor


do que ir a um hospital e dar carinho aos doentes, é cultivar a
tolerância e o amor para com todos. Ninguém precisa visitar
instituições sociais para fazer o bem. Não brigar com nosso vi-
zinho, não enxotar o cão, não fugir do mendigo na rua e trata-
lo como igual são o caminho do bem. Não obrigar uma pessoa
a fazer o que ela não deseja, dar liberdade aos outros de serem
e fazerem o que desejam, não impor nossa vontade nem de-
terminar o que é certo e o que é errado na vida do outro, isso
é fazer o bem. Não discriminar aqueles que pensam diferente,
não tentar ser melhor do que o outro, não manipular, não tentar
forçar uma situação de acordo com nossa vontade. Isso é ver-
dadeiramente o bem.

Podemos começar a fazer o bem agora… Nesse momento. O


bem está em tudo e em todos os lugares. Basta colocar em
prática.

660
VOCÊ NÃO PODE SER DESTRUÍDO

Não podemos destruir nada que é de Deus…

Vamos prestar bastante atenção nessa explicação. Tudo o que


tentamos destruir se reorganiza de outra forma, não é nunca
eliminado, nunca acaba, nunca pode terminar. Tudo o que ten-
tamos eliminar apenas pode se desfazer numa forma e reapa-
recer em outra, mas nunca acabar… por quê? Por que isso que
tentamos destruir é Deus, faz parte de Deus… e nada que é de
Deus pode ser destruído.

Vamos dar um exemplo para que isso fique mais claro. Se eu


destruo, por exemplo, um vaso… eu destruí o vaso? Não… eu
destruí apenas a ideia de vaso, a construção mental daquilo
que eu chamo de vaso. Mas o vaso se transforma em cacos…
a matéria do vaso não deixa de existir, mas sim a ideia-vaso. E
se eu pegar todos os cacos e quebra-los até que se tornem
poeira… mais uma vez eu destruí a ideia de caco e não a coisa
em si. E se eu pegar essa poeira e queima-la, transformando-
a em cinzas? Mais uma vez nada foi destruído… eu apenas
passei da ideia poeira para a ideia cinzas, mudando a forma de
algo, e não destruindo esse algo.

Depois as cinzas retornam para a terra e a ela se integram…


eu tento então destruir a terra… mas como ela já se integrou a
terra, é possível destruir a terra? Não… pois já nem sei mais
onde está a cinza do vaso e onde está a terra. Portanto, nada
pode ser destruído nunca… nada pode ser neutralizado ou ex-
tinto em toda a criação, posto que tudo é Deus e Deus não
pode nunca ser destruído, pode apenas fazer algo mudar sua
forma e se apresentar de modo diferente a nossa percepção.

Assim, o que mudou foi apenas nossa percepção sobre aquilo


que tentamos destruir, mas nada foi destruído de verdade, pois
não há nada que deixe de existir. O mesmo ocorre com as pes-
soas. Podemos tentar destruir uma pessoa, assassinando-a,
cortando todos os seus pedaços, ou queimando-a. Mas pode-
mos, realmente, destruir aquela pessoa? Não… podemos ape-
nas causar um impacto que desconstrói sua forma original, fa-
zendo a matéria do corpo passar a uma outra forma… mas
nada ali é destruído. E a pessoa perde o corpo físico, mas sua

661
alma ascende ao plano espiritual e, da mesma forma, nada é
perdido nem destruído nesse processo.

O mesmo ocorre com os problemas da vida. Quando temos um


problema qualquer que não conseguimos resolver, ficamos
muito preocupados…. Vamos imaginar que esse problema não
seja resolvido e cheguemos ao fundo do poço, onde não há
mais como piorar… Nesse momento, o problema termina, e
isso ocorre por um simples motivo: já não há mais o que perder.
O problema acaba quando sentimos que nada mais pode ser
perdido… e o que foi perdido nunca é uma perda… é sempre
uma libertação. Quem não tem nada a perder, não tem nenhum
problema. Só existe um problema quando uma pessoa sente
que há algo a ser perdido.

Dessa forma, nada nesse mundo pode ser destruído, nem nós
mesmos. O que chamamos de destruição nada mais é do que
uma mudança de forma, uma desorganização de algo para
uma posterior reorganização numa outra forma. Mas efetiva-
mente não destruímos aquilo. O mesmo ocorre com tudo em
nossa vida… Nada é destruído, pois tudo é Deus e Deus,
sendo perfeito, não pode jamais ser destruído. O ser humano
também não pode nunca ser destruído… pois ele é parte de
Deus. Por mais que algo seja nos tirado, que percamos nossa
visão, nossas posses, nossa família e nosso corpo físico, nada
perdemos, pois destruir o corpo é passar ao plano do espírito,
ao plano mais próximo de Deus, onde nada pode ser perdido
ou destruído.

662
NÃO VALE A PENA

Vale a pena lutar diariamente pelo sucesso, ao invés de ser


feliz agora?
Vale a pena correr tanto, viver com pressa e passar a vida
tenso e nervoso, ao invés de viver em paz?
Vale a pena guardar mágoa de alguém, sentir-se mal com
isso e ficar doente por causa desse sentimento?
Vale a pena tratar o outro mal, brigar, ofender e lançar ódio ao
outro?
Vale a pena exigir, querer fazer tudo do nosso jeito, impor
algo a alguém e definir o certo e o errado sempre?
Vale a pena ficar ofendendo políticos e homens públicos e
ficar com raiva de quem pensa e faz diferente de nós?
Vale a pena forçar nossos filhos a fazer o que julgamos o
melhor para ele… não seria melhor deixar que sigam seu
próprio caminho?
Vale a pena se entregar a esse mundo consumista de forma
inconsciente a fim de abafar nossa carência e infelicidade?
Vale a pena tentar dar uma rasteira no outro para que
possamos ocupar seu lugar?
Vale a pena tentar levar vantagem em tudo?
Vale a pena desrespeitar o outro… ou vale mais a pena
respeitar para também sermos respeitados?
Vale a pena dar tanta importância as coisas passageiras da
vida?
Vale a pena tanta preocupação com nosso trabalho, com o
ganho financeiro, com a hora que o filho volta pra casa… vale
a pena viver se preocupando… ou é melhor se ocupar com o
viver?
Vale a pena mesmo tudo isso?
Muitas coisas na vida que acreditamos valer a pena, serem
importantes, podem não ter nenhuma importância no quadro
geral de nossa existência.
Vamos parar um pouco e refletir o que de fato importa…
O ser humano gasta toda a sua vida e acaba se destruindo
dando destaque e relevância as pequenezas, au supérfluo, ao
passageiro… a tudo o que um dia vai acabar.
Não desperdice sua vida com o fútil… com o superficial.
Passe a compreender sua real natureza, sua origem
cósmica…
Somos uma luz ainda apagada que veio a Terra para

663
despertar sua pureza e luminosidade.
Vamos viver nossa essência… Isso é tudo.

664
QUERER SER FORTE O TEMPO TODO

Quanto mais uma pessoa faz de tudo para ser forte ou parecer
forte diante dos outros… mais esse empenho faz ela ficar fraca.

Aqueles que desejam ser felizes precisam entender essa ver-


dade. Ninguém deve ficar tentando ser forte o tempo todo. Mui-
tas vezes nossa força está justamente na admissão de nossa
fraqueza, na consciência de nossa fragilidade, no reconheci-
mento dos nossos limites.

A sociedade atual nos exige cada vez mais que sejamos fortes,
primorosos, aplicados, infalíveis e obstinados na luta da vida.
“Você precisa ser forte pelo seu filho”; “Você precisa ser forte
para manter seu casamento”; “Você precisa ser forte para con-
tinuar ganhando dinheiro”; “Você precisa ser forte para poder
vencer na vida”, etc, etc. Quantas vezes já não ouvimos isso?
Mas a pergunta é: precisamos mesmo ser fortes o tempo todo?
Será que todas essas exigências impostas e autoimpostas não
minam nosso psicológico e drenam justamente nosso vigor,
nosso ânimo e nossa eficácia na vida? Será que nossa força
não vem justamente da consciência de nossa fraqueza?

De que adianta ficar tentando ser forte quando na verdade es-


tamos completamente enfraquecidos? Será que essa luta pela
potência total não nos enfraquece ainda mais? Será que o es-
forço imenso que fazemos em ser sempre estáveis e sólidos
não nos tira justamente a energia que precisamos para poder
seguir em frente? Claro que ninguém deve desistir e viver pros-
trado pela ideia do enfraquecimento mental. No entanto, fazer
força o tempo todo para não demonstrar fraqueza é uma atitude
que nos desgasta, nos esgota, nos torna ainda mais vulnerá-
veis aos problemas que enfrentamos.

Qual o grande mal de demonstrar nossa fraqueza para os ou-


tros? Será que os outros precisam acreditar que somos fortes
para que nós também possamos acreditar nisso? Para que fi-
car demonstrando uma imagem de firmeza plena quando den-
tro de nós estamos completamente destruídos e desgastados?
Já vi muitos casos de pessoas que não gostam de chorar.
Quando se pergunta para essas pessoas o motivo delas não
gostarem de chorar, na maioria das vezes elas admitem que,
em sua crença, o choro é inevitavelmente um sinal de fraqueza.

665
Elas evitam o choro para que assim não deem nenhuma de-
monstração de debilidade e desânimo diante de si mesmas e
dos outros.

Mas será que o choro nos enfraquece mesmo? Ou será que é


justamente essa prisão das emoções dentro de nós, esse re-
presamento sentimental que cria uma bomba interna prestes a
explodir? Muito pelo contrário… o pranto ajuda a descarregar
as emoções. Quantas vezes após um longo pranto nos senti-
mos aliviados e suavizados em nossas emoções, como se um
peso tivesse saído de dentro de nós? O choro é uma des-
carga… e essa descarga nos ajuda a tirar um enorme peso
emocional que podemos estar carregando. Esse fardo, sendo
aliviado, nos ajuda a seguir em frente com mais tranquilidade.
É como um descanso na sombra com água fresca após uma
estafante maratona. A pessoa que quer se fazer de forte o
tempo todo e não dá alívio para suas emoções é como aquele
homem que fica carregando um peso imenso nas costas…
sendo que esse peso não é necessário dentro da estrada que
ele precisa percorrer. Mas se ele soltar esse peso ele poderá
transmitir a impressão de que é fraco… e não aguenta carregar
tudo.

A verdade é que a força que fazemos para ser ou parecer fortes


nos enfraquece mais e mais; a imagem que projetamos para
não mostrar nossa vulnerabilidade nos deixa ainda mais vulne-
ráveis; a luta que ingressamos para não deixar visíveis as nos-
sas feridas interiores pode nos ferir ainda mais. É mesmo tão
importante assim mostrar essa fortaleza toda para os outros e
para nós mesmos? Sim… ser “forte” o tempo todo acaba nos
deixando muito cansados, desgastados, fragilizados, de-
sanimados e infelizes. A ânsia por demonstrar força para resol-
ver um problema nos torna ainda menos aptos a soluciona-lo.
Pode acontecer também de alguém tentar demonstrar força
justamente porque sente uma considerável fraqueza dentro de
si mesma. A demonstração de força seria uma forma de ocultar
o definhamento de sua vitalidade. Assim, ela pensa que precisa
demonstrar algo justamente porque sente que não possui esse
algo.

Tão importante quando seguir em frente numa longa estrada é


também parar um pouco para descansar e recobrar nossas
energias. É certo que o repouso é fundamental, tanto quanto o

666
movimento que fazemos para continuar nossa jornada. O des-
canso emocional é, para muitas pessoas, a libertação definitiva
dessa crença de excelência, de eficiência total, de poder total,
de habilidade total e da necessidade de luta constante por algo.
Aquele que vive tenso e preocupado em ser forte não des-
cansa, não relaxa e está permanentemente se cobrando ser
mais e mais forte.

A verdade é que a própria cobrança em ser forte cria uma luta


perene… E nessa eterna luta interna o perdedor não é outro
senão nós mesmos.

Vamos refletir sobre isso…

667
NÓS SOMOS O CÉU

O céu é considerado pelas religiões e tradições um símbolo


universal de uma realidade divina e criadora, morada dos deu-
ses. É também considerado a zona cósmica para onde vão as
almas dos justos. O paraíso celeste seria um local de felicidade
eterna e bem aventurança, é o reino da perfeição para várias
culturas e doutrinas espirituais. Aquele que pensa sobre a na-
tureza do céu entende que sua principal característica é o es-
paço vazio.

É claro que o céu, o espaço, contém muitas coisas, nuvens,


pássaros, umidade, moléculas, radiações, etc. Mas compa-
rando-se com a terra, o céu é o lugar do vazio. Se uma pessoa
percorrer o céu, ela não encontrará qualquer obstáculo, mas
terá total liberdade. Na terra ocorre o contrário: aquele que re-
solve percorre-la encontrará muitos obstáculos pelo caminho e
poder em muitas ocasiões ser impedido de seguir em frente.

Isso mostra o quanto o céu é um lugar vazio em relação à terra


e esse é um dos motivos pelos quais ele é considerado o reino
celeste, a morada das almas puras. Vazio e liberdade são duas
noções muito próximas uma da outra, pois para haver liber-
dade, é necessário que haja o vazio para permitir a livre ex-
pressão de algo. O vazio do céu é a expressão máxima da li-
berdade espiritual, do ser sem barreiras, sem impedimentos,
sem obstáculos, sem divisões. Por esse motivo o céu, que é
vazio de coisas e livre de tudo, é o símbolo da plenitude e da
libertação.

Assim, o vazio é o meio através do qual o ser pode se libertar


de qualquer prisão material. É curioso observar como isso é
percebido de forma invertida na vida humana. A maioria das
pessoas deseja muito sua liberdade, mas ao mesmo tempo
querem continuar cheias de coisas, cheias de preocupações,
cheias de bens, cheias de expectativas, etc. Mal sabem que
para se ter cada vez mais liberdade é preciso despojar-se de
mais e mais coisas, de mais e mais expectativas, de mais e
mais desejos, de mais e mais apegos.

Vamos nos imaginar, por um momento, como se nossa natu-


reza fosse semelhante à natureza do céu. O que acontece no
céu? As nuvens vêm, fecham a passagem do sol e depois vão

668
embora. Há uma máxima na espiritualidade que diz: “por mais
que as nuvens sejam escuras, carregadas e demoradas, elas
não podem encobrir o sol para sempre”. Em algum momento
essas nuvens escuras que bloqueiam o sol vão ceder, vão se
dissipar e o sol voltará a brilhar.

No céu existem nuvens que vêm e vão, existe uma imensa


quantidade de pássaros que aparecem, cruzam o céu e vão
embora. No céu existe a chuva que vem por outra cai do céu;
existe também o vento que sopra para um lado e para o outro;
há também o trovão que ilumina o céu por um ou dois segundos
em dias de escuridão. No céu existe igualmente a luz, as es-
trelas, aviões, enfim. Tudo aquilo que passa pelo céu, fica sem-
pre um tempo e depois vai embora. Todas essas coisas apro-
veitam o vazio do céu para percorre-lo e para movimentar-se
sobre ele, mas depois sempre passam.

Agora podemos afirmar que a nossa natureza espiritual é tal


como a natureza do céu. Observe que tudo passa pelo céu,
mas o céu não se modifica por coisa alguma que passa por ele.
As coisas vêm e vão, mas o céu não vem e vai. O céu perma-
nece eternamente onde está; ele não se modifica, ele não se
transforma, ele não muda de lugar, ele não cruza de um lugar
para o outro, ele simplesmente permanece sempre onde está;
nada pode muda-lo, influencia-lo ou destruí-lo de nenhuma
forma.

Isso ocorre porque o vazio não precisa de nada para ser vazio.
Nada o sustenta, nada o alimenta, nada o vitaliza. Ele simples-
mente é. Ele é eternamente o que é. Da mesma forma é a
nossa essência, o nosso espírito, o ser eterno que somos
desde o princípio dos tempos e assim será para sempre. Nada
pode abalar um milímetro da nossa essência. Todas as contin-
gências da vida humana vêm e vão; aparecem, cruzam o es-
paço de nossa consciência e depois vão embora.

É como um pássaro que cruza a abóbada celeste. Todos os


nossos estados emocionais, mentais, positivos ou negativos,
aparecem, ficam um tempo e depois vão embora. Todas as de-
cepções, todas as tristezas, todas as angústias, todas as ca-
rências, tudo isso é como o pássaro que cruza o céu. Ele atra-
vessa a esfera celeste de nossa consciência, permanece um
tempo, que pode ser maior ou menor. No entanto, não importa

669
o que aconteça, ele sempre, sempre vai embora depois… e o
que sobra é sempre o nosso céu interior, a nossa consciência
essencial, o ser cósmico e infinito que somos.

670
SOLTE… E SEJA LIVRE

Tudo aquilo que nós não conseguimos soltar… prende-nos.


Mais do que prender… escraviza-nos.
Se existe algo na vida que você não consegue soltar, liberar,
deixar ir…
Isso pode estar te escravizando e você nem desconfiar.
As pessoas só descobrem o grau de escravidão e prisão que
se encontram depois que perdem esse algo.
Pense… O que você não consegue liberar?
O que você não consegue soltar?
Alguns não conseguem soltar certos hábitos.
Outros não se desvinculam de algumas crenças, dogmas e
supostas verdades.
Outros não largam de jeito nenhum o prazer, o conforto, sua
ostentação e seus bens materiais
Outros ainda não conseguem deixar certas pessoas irem
embora.
É preciso dizer que, caso você não consiga soltar nada disso,
Você se torna um prisioneiro.
Mais do que um prisioneiro, você se torna um escravo.
Mais do que um escravo, você pode se anular ou se
neutralizar completamente.
Aquilo que não queremos ou não podemos soltar… é algo
que já nos prendeu.
Dependendo do nível de envolvimento, sim, nos tornamos
escravos daquilo.
Ao contrário, quem solta, libera, deixa ir, larga, desvincula,
desliga ou se desamarra de algo…
Esse está livre… completamente livre.
Imagine um homem que segura uma corda e não consegue
solta-la.
O simples ato de segurar essa corda, impedindo que ela se
vá, pode machucar sua mão.
Quanto mais força usamos para segurar, mais dor será
provocada em nossa mão.
Por outro lado, aquele que se segura em alguém, deve tomar
cuidado.
Pois se ele te soltar, a queda será inevitável.
Jamais procure se apoiar em ninguém, pois se o outro te
larga, você cai.
De igual maneira, não se agarre a coisa alguma.
Tudo aquilo que você se agarra pode acabar…

671
E quando acaba, o tombo é a consequência inexorável.
A lei da vida funciona assim:
Quando você se agarra a algo ou alguém, você se prende.
Mas quando você solta, você se torna livre.
Deixar ir o que já não pode mais ficar… é liberdade, é
desprendimento, é voltar a viver.
Quem pode viver plenamente preso a algo, agarrado,
submetido, enlaçado ou demasiadamente envolvido?
Assim, você prefere ser livre diante do que você solta…
Ou um escravo daquilo que não deixa ir?
Quem não consegue soltar de jeito nenhum, cai, se vicia, se
perturba, se perde e se decepciona sempre…
Esse passa a ser um vassalo, um prisioneiro, um serviçal ou
alguém submisso àquilo que não conseguimos deslaçar.
Uma lição de vida que ninguém deve ignorar:
Quem não sabe liberar… é um escravo.
Quem aprende a soltar e deixar ir… esse passa a ser livre.

672
O AMOR É A SOLUÇÃO

Muitas pessoas não fazem ideia do poder que as energias po-


sitivas, amorosas e pacíficas tem em suas vidas. Posso dizer
que já vi muitos casos de pessoas, situações e até doenças
físicas se transformarem completamente graças a energia do
bem sendo enviada para o problema, pessoa ou situação que
nos aflige. Vamos contar rapidamente alguns desses casos
para ilustrar como funciona a energia do amor em nossas vidas
e como ela pode mudar tudo totalmente.

Sempre que posso, procuro incentivar as pessoas a reagirem


amorosamente ao mal que lhes chega. Digo isso por dois mo-
tivos: o primeiro motivo é que, quase sempre, o mal que julga-
mos existir externamente a nós também se encontra dentro de
nós mesmos, em ebulição no nosso interior. Por isso, quando
irradiamos o bem ao outro, essas energias benéficas fazem
bem, em primeiro lugar, a nós mesmos. Além disso, o mal que
nos chega externamente sempre vem com o propósito de nos
fazer enxergar e curar o mal que existe dentro de nós. O ser
humano tem a costume de identificar o mal sempre fora, e nem
desconfia o quanto de impurezas carrega em seu interior. O
segundo motivo, como já dissemos. é que as energias do bem,
da paz, do amor, da compreensão, quando emanadas a algo
ou alguém, tem grande poder transformador, tanto de nós mes-
mos quanto do ambiente a nossa volta e das pessoas.

Um dos casos que tomei conhecimento foi de uma moça que


trabalhava numa repartição pública e era severamente perse-
guida por sua chefe. Não importava estar certa ou errada em
suas tarefas, não importava o contexto: a chefe sempre dava
um jeito de culpá-la pelo problema e de expor suas falhas ener-
gicamente. A moça estava saturada com tudo aquilo e muito
raivosa com sua chefe. Ela me contou essa história e eu lhe
aconselhei a tratar o problema de um modo diferente. Ao invés
de pensar na chefe com raiva, desejando pular em seu pescoço
sempre que a via, sugeri que ela começasse a tratar sua chefe
muito bem, de forma gentil, amorosa, irradiando luz, paz e tran-
quilidade a ela. Disse também que ela deveria, antes de dormir,
mentalizar sua chefe e enviar energias de amor, além de fazer
orações pedindo tudo de positivo para essa pessoa. Ela decidiu
aceitar esse desafio e começou a praticar tudo isso. O tempo
passou… e, para sua grata surpresa, aos poucos a chefe co-

673
meçou a mudar sua atitude; começou a trata-la melhor, a não
mais persegui-la e até, em algumas poucas ocasiões, passou
a elogia-la em público. O resultado foi surpreendente. Isso
mostrou a essa moça que o amor, quando canalizado de forma
pura e desprendida, como pregam os mestres das religiões, os
santos e os avatares da humanidade, tem de fato um grande
poder transformador. Projetar o amor, o bem e a paz ao outro;
orar por ele, desejar sua felicidade, pode realmente mudar
nossa vida e a vida de outras pessoas.

Tratar uma pessoa amorosamente; responder o mal com o


bem; não devolver irritação com irritação, calúnia com calúnia,
ofensa com ofensa, agressão com agressão, mas devolver,
isso sim, a irritação com a calma, a calúnia com a verdade, a
ofensa com o gentileza, a agressão com amor, é o melhor meio
de se neutralizar a negatividade e de dissolver todo o mal.
Aquele que recebe uma agressão e agride de volta, ou fica com
raiva do agressor, alimenta aquela energia, amplifica o pro-
blema e planta as sementes da discórdia, da confusão e nos
degrada em espírito. No caso da perseguição da chefe, o amor
irradiado pela moça foi aos poucos mudando a vibração de am-
bas, suprimindo o mal humor da chefe, inutilizando sua cisma
e transmutando qualquer resquício de cólera.

Casos como esse se repetem todos os dias e a solução é mais


simples do que a maioria pensa. Trata-se apenas de responder
o mal com o bem, a obscuridade com a luz, a raiva com a tran-
quilidade, o ódio com amor. Há muitas outras situações de pais
que fizeram o mesmo com os filhos e tudo melhorou; filhos que
passaram a responder amorosamente ao padrasto e a situação
se amenizou; parentes que se odiavam e passaram a conviver
em harmonia após um deles começar a responder amorosa-
mente e irradiar o amor ao outro. Tudo isso é simples de ser
feito e está ao alcance de todos.

Uma pesquisa realizada com monges tibetanos torturados pe-


los militares chineses demonstrou o efeito benéfico do amor e
do perdão sobre o combate dos traumas, da raiva, da mágoa,
da depressão e de outros efeitos da tortura. Os monges tibeta-
nos cultivam a crença de que a resposta amorosa e compas-
siva é a melhor saída para lidar com nossos detratores. O que
aconteceu no Tibet com alguns monges foi o seguinte: no mo-
mento em que esses monges eram torturados pelos soldados

674
chineses, ao invés de sentirem ódio por eles, de pensar nega-
tivamente sobre eles, ou de desejar seu mal, eles oravam e
pediam que os soldados compreendessem o mal que estavam
realizando; mentalizavam que seu espírito acordasse daquele
sono de ilusão; pediam a inteligência da vida que os abenço-
asse e os fizesse bem, para que, assim, eles encontrassem o
caminho do bem. Anos após a tortura, alguns psicólogos que
analisaram o caso desses monges chegaram à conclusão de
que eles não apresentavam os sinais clássicos do chamado
TEPT (Transtorno de Estresse Pós-traumático), que é uma psi-
copatologia sofrida por pessoas que passaram por traumas in-
tensos, torturas, acidentes e outras circunstâncias emocionais
limítrofes. Os psicólogos concluíram que toda a mentalização
positiva, amorosa e compreensiva que esses monges tiveram
com seus algozes os salvou de danos psicológicos gravíssimos
após a tortura. Isso mais uma vez nos demonstra que o amor,
o perdão, a mentalização da paz, da compreensão, tudo isso
pode não apenas transformar uma relação entre pessoas, mas
também nos proteger efetivamente contra os efeitos deletérios
do mal.

Ao longo de muitos anos trabalhando com terapia e atendendo


voluntariamente centenas ou milhares de pessoas que já me
procuraram presencialmente ou nas redes sociais para resol-
ver os mais diversos problemas, chego a conclusão de que o
amor é uma surpreendente solução para praticamente tudo em
nossa vida. Muitas pessoas acreditam que se dando bem na
vida poderão viver com amor e paz, mas a verdade é exata-
mente o contrário: responder amorosamente, pacificamente,
de forma compreensiva e compassiva aos problemas é justa-
mente o modo de se dar bem na vida e encontrar ainda mais
amor, mais paz e mais felicidade.

Aplicação Prática

A prática do amor é muito simples, mas difícil de ser executada


por algumas pessoas. A aplicação dessa mensagem consiste
no seguinte: quando uma pessoa estiver tomada pela ira, lan-
çar-te brados ofensivos, desferir agressões gratuitas, perse-
guir-te, enganar-te ou lhe fizer qualquer tipo de mal, a primeira
coisa a fazer é não reagir da mesma forma. Trate a pessoa com
bondade, amabilidade, doçura e compreensão. Se a pessoa te
ofender, responda de forma amorosa dentro do contexto do di-

675
álogo; se a pessoa te ferir e for embora, não pense nela com
raiva, indignação ou revolta, mas deseje seu bem, irradie ener-
gias de paz e compaixão, ore por ela e peça a Deus que uma
chuva de energia divina caia sobre ela; pense o bem sobre ela,
pense amorosamente, deseje sua melhora; peça ao cosmos
para abrir seus olhos; irradie pensamentos positivos e elevados
para essa pessoa.

Depois que fizer isso, atente para uma coisa muito importante:
não espere por resultados, muito menos que eles venham ra-
pidamente. Não pense que você pode mudar a pessoa, pois
não temos esse poder, mas você poderá transformar a relação
entre você e ela. Faça apenas a sua parte sem esperar nada…
Em algum momento a tendência é tudo ir melhorando, não ape-
nas na situação, mas você ficando mais tranquilo e mais des-
prendido. Não desista… insista e confie na perfeição divina.

Nada do que dissemos nesse texto é novidade para nossa tra-


dição ocidental cristã. Há mais de 2000 anos Jesus já havia
ensinado o que estamos transmitindo aqui. Jesus disse: “Amai
os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam; bendi-
zei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam” (Lucas
6:27,28). A partir de agora, é só colocar esse princípio máximo
do cristianismo em prática.

Deixe o bem, o amor e a paz inundarem sua vida. O resultado


será paz, felicidade e liberdade.

676
ESPERAR PARA VIVER

Há pessoas que vivem esperando o tempo passar…

Existem aqueles que vivem esperando o fim de semana para


poderem fazer o que gostam. Elas vivem pulando de um fim de
semana ao outro, e depois ao outro, e ao outro… e ficam assim
indefinidamente.

Existem aqueles que vivem esperando um sonho se realizar


para poderem viver mais plenamente.

Há aqueles que esperam ser médicos; que esperam ser atores


ou atrizes; que esperam ser cantores; que esperam comprar
uma casa; que esperam passar num concurso; que esperam
aposentadoria; que esperam alguma realização, algum sonho,
ou qualquer coisa que os traga a felicidade que eles não têm
agora. É preciso entender que: Quem vive esperando o sonho,
acaba não vivendo a realidade.

Existem também aquelas pessoas que vivem esperando sua


alma gêmea para poderem aproveitar o amor e a vida a dois,
que passam a vida esperando o outro para se sentirem com-
pletos consigo mesmo.

Há também aqueles que vivem esperando o relógio marcar


seis horas da tarde para poderem sair do emprego e chegarem
a casa. Muitas dessas pessoas podem ter dificuldade de dor-
mir, pois não querem que o dia bom acabe; ou terem dificul-
dade de acordar, pois não querem que o dia ruim comece.

Existem aqueles que vivem torcendo para o fim de semana não


passar rápido, para que não chegue segunda feira e eles te-
nham de deixar de viver.

Existem aqueles que vivem esperando estar com o outro, estar


com a mãe, com o pai, ou aqueles que vivem esperando o filho
chegar em casa, para só nesse momento começarem a viver.

Existem sempre pessoas que estão esperando algo terminar


ou pessoas que estão esperando algo começar para que pos-
sam, finalmente, começar a viver.

677
Existem muitas pessoas que esperam chegar ao barzinho para
beber com os amigos, que esperam chegar aquela viagem dos
sonhos, que esperam chegar aquele almoço no restaurante
com os amigos, que esperam chegar ao shopping e comprar o
que quiserem, ou aqueles que esperam ter dinheiro, ou mesmo
ter muito dinheiro, para só então poderem viver plenamente.

Essas pessoas acreditam que viver intensamente é esperar


que algo bom aconteça.

Mas esperar algo bom não é viver… vivemos quando nos sen-
timos bem mesmo sem nada de bom acontecendo.
Nada bom, agradável ou satisfatório precisa acontecer para
você estar bem… e se você está bem, não precisa que acon-
teça algo bom para fazer você se sentir bem.

Aquele que vive brigando com o relógio, que vive tentando pro-
longar o tempo ou encurtar o tempo… Esse está perdendo sua
vida e jogando fora a oportunidade de ser feliz agora.

Se você vive querendo que o tempo passe rápido ou querendo


que um período de tempo não acabe, você não vive enquanto
espera e não vive enquanto deseja que algo não termine.

Há uma frase de sabedoria que diz: Quem não começa a viver


agora, não começará a viver no futuro ou em alguma realização
no futuro.

“Quem espera sempre alcança”… Diz o ditado popular.

Mas o mais correto seria dizer… Quem fica esperando nunca


vive.

Ou como se diz: “Quem espera… se desespera”. Quanto


mais esperamos, mais desesperados ficamos.

Quem fica esperando a felicidade, nunca a alcançará.


Pois a felicidade não se espera… A felicidade se vive, a felici-
dade se escolhe viver agora.

Enquanto você não for feliz mesmo não tendo nada… Não se
engane: você jamais será feliz mesmo que tenha tudo.

678
É no momento presente que a vida acontece… É preciso igno-
rar a temporalidade; é preciso viver além do tempo; é preciso
estar na eternidade para viver plenamente. O momento pre-
sente é a eternidade…

E nunca é demais repetir:

Você não precisa de nada para ser feliz.

679
O QUE É BOM E MAU EM NOSSA VIDA?

Existe mesmo o bom e o mau, ou será que tudo isso não passa
de uma percepção equivocada e ilusória? Vejamos...

Algo considerado mau num momento de nossa vida pode


depois se transformado em algo bom e vice versa. Quantas
situações que numa época de nossa vida nos pareciam
devastadoras e na época seguinte pensamos: “Foi ótimo tal
situação ter ocorrido, pois consegui reconstruir minha vida de
outra forma”. Ou quando pensamos “Foi bom o término desse
relacionamento, pois aquela pessoa não me fazia bem” Ou
quando admitimos que “aquele antigo emprego me tomava
muito tempo e agora que fui demitido e estou trabalhando em
outro lugar, posso me dedicar mais a minha família”.

Todas essas situações deixam claro que tudo aquilo que


parece ruim, mal, desastroso num certo período de nossa vida,
passa a ser encarado como algo bom, positivo e renovador em
outro momento. As ilusões de uma época podem ser
quebradas pelo que consideramos mal e posteriormente serem
tomadas por algo que, no final das contas, foi positivo.

São muitas as situações que podem ser más num momento e


depois se transformarem em algo bom.

Por exemplo:

(1) a perda num momento pode se transformar num ganho


posterior;

(2) o afastamento de certos falsos amigos pode ser


considerado ruim, mas nos faz descobrir os poucos amigos
verdadeiros;

(3) a disciplina paterna pode nos desagradar na infância, mas


nos transformará numa pessoa correta na idade adulta;

(4) os estudos da escola podem ser desgastantes, penosos e


chatos, mas serão a chave para a entrada na universidade;

(5) o fim de um relacionamento pode nos ajudar a encontrar


outra pessoa com maior afinidade conosco;

680
(6) uma doença pode nos tirar do ritmo estressante do trabalho
e nos permitir reavaliar nossa vida e pensar um pouco mais em
nós mesmos;

(7) uma doença também pode nos obrigar a mudar certos


hábitos e nos tornarmos uma pessoa mais saudável;

(8) uma pessoa que nos fere com palavras duras, mas
verdadeiras, pode nos abrir os olhos sobre alguma faceta
autodestrutiva de nossa personalidade;

(9) uma mentira descoberta pode nos causar muito mal estar,
mas a queda da mentira nos coloca diante da verdade

(10) a iminência da morte pode nos tornar mais humanos, pode


nos aproximar de nossa família, pode nos ajudar a resolver
certas questões em nossa vida, pode nos inspirar à
solidariedade, ao amor e à paz.

São muitas as situações que nos causam dor, mal-estar,


cólera, mágoa, tristeza, sofrimento, etc, mas que depois nos
elevam, nos abrem os olhos, nos colocam frente a frente com
a verdade, nos renovam, ou nos fazem renascer.

681
NÃO REAJA AO MAL

Aquele que responde uma agressão com outra agressão se


coloca no mesmo nível do seu agressor.
Aquele que sente raiva daquele que cultiva raiva por nós se
deprecia tal como o raivoso.
Aquele que devolve a ofensa ao seu ofensor torna-se tão
degradado quanto a baixeza da ofensa que repudiamos no
outro.
Aquele que reage com irritação a situações estressantes está
semeando cada vez mais irritação em sua vida.
Aquele que luta contra quem luta conosco acaba se pondo na
linha de combate e pode sempre sofrer ataques.
Aquele que se deixa envolver pela energia negativa de que
nos maldiz e nos maltrata, está alimentando mutuamente o
mal que quer evitar.
Quando levantamos a voz para aquele que grita conosco,
quedamos na corrente da cólera que nos prejudica e
desvitaliza.
Aquele que reage ao mal com o mal coloca-se no mesmo
nível do mal que condena para si.
Seja superior às investidas da escuridão; coloque-se acima
das energias pesadas; eleve-se sem reagir.
Quando você reage ao mal, ele te atinge; mas quando você
se coloca acima dele, ele jamais pode te alcançar.
Não responda ao agressor com agressão; ao ofensor com
ofensa; ao mal com o mal.
É como entrar numa poça de lama para jogar a mesma lama
que jogaram em nós, quem se suja é você.
Uma pessoa só pode te atingir se você responder na mesma
moeda.
Curve-se do mal, esquive-se da lama das emoções negativas
que querem te passar.
Porém, não evite o mal por medo, covardia ou submissão,
Mas para não decair no mesmo abismo que o outro se
encontra.
Quando alguém te convida para a escuridão, você só entra na
porta das sombras se quiser.
Deixe a agressão, a ofensa, a raiva, a provocação, a
hostilidade, o menosprezo com aquele que os possui em si.
Não se deixe contaminar ou envolver pelas energias
negativas.

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Coloque-se acima, invulnerável ao mal que jogam em você.
A correnteza do mal só te puxa se você mergulhar no rio.

683
VIDA SIMPLES

Viver com simplicidade é o caminho para ser feliz


Ser simples é sorrir diante as ondas do mar, é beber da água
do rio, é cantar com a chuva, é sujar-se na lama, é perder a
hora, é aceitar o mistério da vida.
Uma vida simples é uma vida espontânea, natural, onde
deixamos tudo fluir.
Na simplicidade nada nos preocupa, nada nos faz perder,
nada nos irrita, tudo segue em harmonia, tudo acontece
desembaraçadamente.
Ser simples é olhar o mundo e a natureza com os olhos das
crianças, com doçura, inocência e vitalidade.
O homem que vive de extravagâncias e intemperanças torna-
se um escravo do próprio peso que carrega para sustentar
seus excessos e seu orgulho.
Simplicidade é o instante que não cabe em mil palavras.
Quem pode explicar a beleza do pôr do sol?
Os homens se debruçam sobre seus problemas em mil
preocupações; enquanto isso, as folhas caem, a relva cresce,
o vento sopra, o rio flui, o pássaro canta…
Quem consegue sentir a alegria de um simples momento? Da
visão da lua? Do estrondo do trovão? Da beleza do raio que
corta o céu? Ou numa nuvem cinza num dia chuvoso?
Ser simples é viver despojado de tudo o que nos prende, de
todos os fardos que carregamos. É desatar todos os nós.
Ser simples é contentar-se com a menor obra da criação e
dela retirar a alegria do momento.
Simplicidade é viver no presente sem desejar estar aqui ou
ali, no passado ou no futuro, com isso ou aquilo.
O homem superficial olha e não vê, faz e não sente; o homem
simples não vê, mas enxerga, não faz, mas sente.
O homem simples é feliz mesmo sem nada possuir; o homem
superficial mesmo tudo possuindo, não consegue ser feliz.
É na ausência de tudo que enxergamos melhor a nós
mesmos e a vida; é com pouca ou nenhuma bagagem que
caminhamos mais rápido…
Ver a beleza no feio; ver a profundidade no vazio; ver a fé na
dúvida; ver a alegria na tristeza; entender sem que ninguém
precise explicar: assim é virtude da simplicidade.
O homem simples percebe o diferente, o novo, o belo mesmo
na mais repetitiva rotina; o homem superficial vê tudo igual,
chato e monótono, mesmo nas mais surpreendentes

684
novidades.
Quem gosta de discursos rebuscados, de difícil compreensão
só expõe sua soberba.
Mas aqueles que conseguem esclarecer com simplicidade,
esses foram mais fundo no coração da vida.
A simplicidade aceita tudo como é, ao invés de sofrer pelo
que não é.
Simplicidade é liberdade, é desapego; é mergulhar de
cabeça; é dizer não ao medo; é soltar o que está preso e
acolher a vida como ela é.
Seja simples… seja feliz… viva em paz… apenas viva…

685
O LOBO FEROZ

Certo dia um homem teve um sonho estranho. Sonhou que es-


tava num ambiente seco, com céu vermelho, parecido com um
deserto.

Ele viu um homem e um lobo ao longe seguindo viagem. Esse


homem parecia adorar o lobo, e por isso ia colhendo alimentos,
caçando animais e dando todo tipo de comida ao lobo.

Conforme eles iam seguindo a viagem, o lobo ia comendo. En-


tão começou a ocorrer algo curioso. O lobo ia ficando mais e
mais exigente por comida. A impressão que dava é que o ani-
mal estava cada vez mais faminto e quanto mais comida o ho-
mem dava ao lobo, mais o lobo sentia fome e mais exigia que
ele lhe desse cada vez mais. Isso continuou acontecendo até
chegar num determinado ponto em que o animal estava tão fa-
minto, que começou a morder o homem que o alimentava. O
lobo começou a investir contra o homem, e este ficou com
medo e tentou fugir. No entanto, era tarde demais: o lobo o
alcançou e o devorou ali mesmo.

Assim que o lobo foi embora, o homem se aproximou da car-


caça do homem devorado e percebeu que apenas a cabeça e
o rosto foram preservados. Olhou com atenção o semblante do
morto, e começou a passar mal com a revelação: o homem de-
vorado pelo lobo era ele mesmo.

O homem acordou assustado com o sonho e foi procurar um


sábio que era famoso por interpretar sonhos. O homem encon-
trou-se com o sábio e indagou sobre o significado daquele so-
nho. O sábio explicou:

– Você teve um sonho de um sentido profundo. O lobo repre-


senta os instintos e desejos humanos. Essa trama do so-
nho nos ensina duas coisas:

Em primeiro lugar, quanto mais alimentamos nossos instintos


e desejos, maior se torna seu apetite. Não adianta tentar satis-
fazer nossos desejos, pois eles apenas aumentarão e pedirão
sempre mais e mais.

686
Em segundo lugar, precisamos entender que, ou controlamos
nossos instintos sem alimenta-los tanto e sem fazer todas as
suas vontades, ou eles assumem o controle sobre nós e vão
aos poucos nos devorando e nos fazendo perecer.

O homem agora compreendia que o sonho era uma mensagem


para ele mesmo, que há muito exagerava na busca pelos de-
sejos e prazeres do mundo. O sábio completou:

Não se esqueça desse importante princípio da vida: aqueles


que consomem tudo que seus instintos e desejos demandam,
acabam sendo consumidos por eles.

687
DEUS EM NOSSA VIDA

Se algo deu errado ou não saiu como você queria diga “Essa
foi a vontade de Deus”.
Nos momentos de dúvida e incerteza diga “Eu confio
plenamente em Deus”.
Nas horas de duro sofrimento, quando você descobrir que
não tem controle sobre nada, diga “Eu entrego tudo nas mãos
de Deus”.
Quando quiser um guia para sua vida diga “Eu permito que
Deus dirija minha vida”.
Quando estiver desorientado, sem saber para onde ir, diga
“Deus é quem vai me mostrar o caminho”.
Quando sentir que tudo está contra você diga simplesmente
“Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.
Em momentos de total ausência de sentido, quando parece
que estamos mergulhados no vazio diga “Deus está
presente”.
Quando você contemplar todas as obras da criação pense
que “Tudo é Deus e Deus está em tudo”.
Nos tempos em que tudo que é sólido e concreto em sua vida
pareça se dissolver, diga “Deus é o meu suporte e o meu
sustento”.
Quando quiser fazer o bem diga “Deus me usa como um
instrumento de Sua obra na Terra”.
Não se deixe enganar… Nada em nossa vida seria possível
sem Deus.
Deus está em nós e nós não somos nada sem Ele.
Sirva a Deus e não a Mamom;
Sirva ao mundo espiritual e não ao mundo material;
Sirva ao essencial e não a ilusão.
Esteja sempre com Deus, pois dessa forma…
Deus estará sempre contigo.

688
JESUS SERIA NOVAMENTE CRUCIFICADO HOJE

Se Jesus viesse novamente a Terra reiniciar seu ministério, ele


seria novamente crucificado por todos nós.

Você tem alguma dúvida disso? Ou será que Jesus seria bem
recebido e apoiado pelo ser humano atual?

Vejamos… Quando Jesus falasse para não juntarmos tesouros


na terra, mas sim juntarmos tesouros no céu… os banqueiros
iriam pedir a sua cabeça, os grandes empresários que visam o
lucro iriam querer mata-lo e a mídia atual iria fazer de tudo para
destruir a sua imagem.

Quando Jesus expulsasse os vendilhões do templo que dese-


jam lucrar com a fé, os pastores da teologia da prosperidade
diriam que ele é um falso profeta, ele seria atacado pelos líde-
res das igrejas midiáticas e, em seus programas de TV, ele se-
ria apresentado como um farsante, um aproveitador e um mis-
tificador.

Quando Jesus falasse em perdoar 7 vezes 70 vezes todos


aqueles que defendem a pena de morte, penas mais duras
para bandidos e a violência em resposta à violência iriam re-
clamar e o expulsariam de suas casas.

Quando Jesus ensinasse que “não se pode servir a Deus e a


mamom (dinheiro)”, o sistema financeiro iria querer bani-lo a
fim de evitar uma queda na bolsa de valores.

Quando Jesus falasse que “bem-aventurados são os mansos


e os pacíficos”, iriam chamá-lo de otário, de banana e diriam
que ele precisa se defender dos ataques dos marginais.

Quando Jesus explicasse que os pobres de espírito chegarão


ao Reino de Deus, os homens de “sucesso”, do marketing, do
business e da “lei da atração” iriam querer agredi-lo.

Quando Jesus dissesse para todos darem seu dinheiro aos po-
bres, muitos diriam que ele é “assistencialista” e que ajuda “va-
gabundo”.

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Quando Jesus pregasse que “os últimos serão os primeiros”,
os palestrantes motivacionais e os coaches diriam que preci-
samos sempre estar em primeiro lugar, vencer as competições,
ter ambições, para sermos “alguém na vida” e recebermos elo-
gios e fama pelas nossas conquistas.

Quando Jesus ensinasse que “o grande entre vós é aquele que


serve”, os ricos e privilegiados ficariam com raiva dizendo que
o bom da vida não é servir… mas ser servido.

Quando Jesus dissesse que “Deus revela aos simples de co-


ração aquilo que esconde dos doutos”, os pretensos “douto-
res”, os intelectuais que se arrogam de seu saber e os acadê-
micos muito vaidosos de seu “vasto conhecimento” diriam que
ele não tem formação adequada para opinar e que é um igno-
rante.

Quando Jesus mostrasse a importância do “ama teu próximo


como a ti mesmo”, muitos diriam que podem até amar, com
exceção dos políticos, dos membros de outras religiões e de
todos os que pensam e agem diferente de nós. Posso até
amar… desde que o outro faça a minha vontade e siga o meu
certo.

E finalmente… quando Jesus fosse condenado à pena de


morte entre bandidos e perdoasse um deles, dizendo que hoje
mesmo estaria com ele no Reino de Deus, muitos diriam: está
vendo como ele defende bandido? Ele merece mesmo ser cru-
cificado.

690
SERÁ QUE SÓ JESUS SALVA MESMO?

Muitos cristãos, católicos, evangélicos e outras denominações,


cultivam uma ideia muito equivocada sobre a dita “salvação”
espiritual. Creem eles que o único caminho para a salvação se
encontra exclusivamente em Jesus e que todos os outros ca-
minhos são falsos, são ilusórios, são uma total perda de tempo,
ou ainda, são “coisa do diabo”. Mas será isto realmente ver-
dade? Será que ninguém pode obter a tão esperada salvação
caso não siga Jesus?

Nesse caso, como ficariam as pessoas que viveram antes do


nascimento de Jesus e não puderam conhece-lo para seguirem
o caminho da salvação? Como ficariam pessoas de outras cul-
turas onde Jesus praticamente não é conhecido até os dias de
hoje? Como ficariam ainda pessoas que durante milênios, de
países árabes, asiáticos, índios das américas e tantos outros
milhares de povos, com bilhões e bilhões de pessoas ao longo
da história que nunca nem sequer puderam ouvir falar de Je-
sus?

Será que Deus seria injusto a ponto de privilegiar uns poucos


brindando-os com um nascimento num lar cristão convencio-
nal, onde teriam toda a vida para se entregar a Jesus, enquanto
outros haveria que nunca ouviram falar dele? Se assim fosse,
ninguém poderia falar em justiça divina, essa seria uma mera
ficção filosófica, pois Deus, sendo infinitamente justo, bom, per-
feito e misericordioso, certamente deve dar aos seus filhos as
mesmas condições ou oportunidades de salvação. Se uns tem
acesso e outros não, onde estaria a justiça?

Na verdade, o que alguns cristãos não querem enxergar é algo


muito simples de ser compreendido: não é a figura de Jesus
que salva; não é a mera crença em Jesus que definirá nossa
ida ao Reino de Deus; não é a conformidade com os dogmas
ou a ritualística de uma igreja que fará a pessoa ir ao céu. Je-
sus é a representação do amor em ação. Ele deixou um legado
de ensinamentos e um exemplo ou modelo de vida. Seguir Je-
sus e obter a salvação é praticar esse exemplo de vida dentro
dos ensinamentos deixados por ele. Jamais a salvação poderia
ser alcançada pela crença, pela fé cega, pela mecânica parti-
cipação dos cultos, pela leitura superficial dos evangelhos, pela
oração a Jesus, etc. A essência do que conhecemos por “sal-

691
vação” consiste na aplicação dos ensinamentos de Jesus na
prática diária de nossa vida. A salvação não está na crença na
figura ou na imagem de Jesus, pois afinal, é certo que cada
pessoa tem uma imagem daquilo que seja Jesus, mas será que
essa imagem ou ideia corresponde ao que Jesus é de ver-
dade? Não… obviamente cada pessoa enxerga Jesus de uma
forma muito pessoal e subjetiva. Por isso, quando cremos ape-
nas na “ideia-Jesus”, estamos na verdade acreditando em algo
que nossa mente criou e que não é necessariamente a reali-
dade da natureza da alma que denominamos de “Jesus”.

Dessa forma, crer em Jesus obviamente não é suficiente para


a salvação. É necessário, como dissemos, colocar em prática
seu exemplo de vida e aplicar seus ensinamentos em nosso
cotidiano. Se a pessoa não coloca em prática seu exemplo; se
ela não vive como Jesus viveu; se ela não se torna uma força
amorosa da natureza, ela não poderá obter a salvação. A sal-
vação vem da vivência do amor, da paz, do perdão e da felici-
dade em Deus que Jesus viveu… e não da crença vazia em
Jesus. A salvação é da ordem da vivência e não da ordem da
crença.

Vejamos, será que há mesmo salvação fora do “amar ao pró-


ximo como a ti mesmo”? Obviamente que não. Se você não
ama o próximo, como Jesus ensinou, não será salvo. Caso
contrário para que Jesus teria vindo a Terra para ensinar o
amor? Apenas para falar de coisas bonitas, mas que não tem
qualquer viés prático na salvação das almas? Se assim fosse,
ele apenas diria “Creiam em mim e serão todos salvos”. Basta-
riam essas palavras… e nada mais seria preciso mencionar.
Para que dizer as pessoas que amem seu próximo se não
fosse o amor fundamental na salvação?

Vejamos… Será que existe salvação se a pessoa não se tornar


“pobre de espírito” (mateus 5, 3)? Será que existe salvação se
a pessoa não se tornar mansa, para herdar a terra? (mateus 5,
5) Será que existe salvação se a pessoa não se tiver fome e
sede de Justiça (mateus 5, 6)? Será que existe salvação se a
pessoa não se tornar misericordiosa (mateus 5, 7)? Será que
existe salvação se a pessoa não se tornar pura de coração
(mateus 5, 8)? Ou será ainda que existe salvação se a pessoa
não perdoar 7 vezes 70 vezes, como pediu Jesus que todos
fizessem?

692
Será que existe salvação se a pessoa acumular tesouros na
terra e não acumular tesouros no céu, como diz Jesus em (ma-
teus 6, 19, 20)? Será que existe salvação se a pessoa não
“amar seu inimigo”, como nos pede Jesus em (mateus 5, 44)?
Será ainda que existe salvação se a pessoa continuar se pre-
ocupando com o que vai comer e com o que vai vestir? Jesus
deixa claro que ninguém deve se preocupar com essas ques-
tões financeiras em (mateus 6, 25), pois que, segundo Jesus,
a vida é muito mais que o mantimento e “nem só de pão vive o
homem, mas de toda palavra de Deus” (Lucas 4, 4)

Eu pergunto sinceramente a todos: é possível conquistar a sal-


vação se não formos inocentes como as crianças? É possível
conquistar a salvação sem que a pessoa veja o Reino de Deus
dentro dela mesma (lucas 17, 21)?. Jesus ainda reforçou essa
ideia quando disse “vós sois deuses” em (João 10, 34) e tam-
bém quando disse “podeis fazer o que eu faço e coisas ainda
maiores” (João 14, 12). É possível atingir a salvação sem se
libertar de toda a avareza? “Acautelai-vos e guardai-vos da
avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundân-
cia do que possui.” (lucas 12, 15)

Todos esses ensinamentos de Jesus mostram que, para se ob-


ter a salvação, é necessário seguir esses preceitos e aplica-los
em nossa vida diária. Como disse Chico Xavier: “Jesus não é
uma personalidade a ser adorada, mas uma realidade a ser
vivida”. A salvação vem da experiência ou da vivência do que
Jesus representou e não da adoração pura e simples à uma
imagem, a um ídolo. A própria Bíblia condena a adoração de
ídolos e fala apenas da entrega à vontade de Deus. A salvação
vem da prática, do caminhar como Jesus caminhou; do viver
como Jesus viveu; do ver a vida como Jesus via. A salvação
vem da transformação íntima que os ensinamentos de Jesus
podem provocar em nossa vida, trazendo paz, felicidade, amor,
harmonia, plenitude, liberdade, etc. Quando se atinge esse es-
tado de graça, de felicidade suprema em Deus, a salvação será
uma realidade em nossas vidas.

693
JESUS E O DINHEIRO

O que Jesus dizia a respeito do dinheiro e das riquezas mate-


riais? Considerava Jesus que o dinheiro fosse algo importante
para as pessoas? Será que os cristãos seguem as orientações
de Jesus sobre as riquezas materiais? Há alguma base nos
evangelhos que valide a chamada “teologia da prosperidade”?
Vejamos com mais detalhes o que o próprio Jesus nos diz a
esse respeito:

A primeira consideração e talvez a mais importante feita por


Jesus sobre as riquezas materiais é encontrada em Mateus ca-
pítulo 6:

“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a fer-


rugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam,
mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem
a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem rou-
bam.” (Mateus 6: 19,20)

Nessa passagem Jesus é bem claro quando afirma que nin-


guém deve ficar acumulando tesouros na terra, pois é da natu-
reza desse mundo tudo passar, tudo perecer, tudo ser destru-
ído e consumido, tudo terminar. De que adianta buscarmos ri-
quezas nesse mundo se em breve elas se perderão? Jesus en-
fatiza que devemos juntar tesouros no “céu”, pois as correntes
das transformações não os destroem.

Jesus ainda deixa claro que esse “tesouro” a que se refere é


uma riqueza interior e não exterior. Jesus afirma que “onde
está seu tesouro, lá também estará o seu coração” (Mateus 6,
21). Nessa passagem, Jesus mostra que é no coração, ou seja,
no interior de nós mesmos onde encontraremos o verdadeiro
tesouro. Jesus ainda reforça que o Reino de Deus é algo in-
terno quando diz que: “O Reino de Deus está dentro de
vós” (Lucas 17, 21). Dessa forma, se o Reino de Deus é algo
que devemos buscar em nosso interior, as riquezas materiais
certamente não fazem parte dele.

Ainda no sermão da montanha, Jesus faz a seguinte afirmação:

694
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar
um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.
Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mateus 6, 24).

É preciso esclarecer que mamom é uma palavra aramaica que


significa “dinheiro” ou “riquezas materiais”. Aqui Jesus vai além
e diz que ninguém pode buscar a Deus ao mesmo tempo em
que busca o dinheiro ou as riquezas materiais. Jesus deixa
claro que não há meio termo. Ou vivemos nossa vida buscando
a Deus ou vivemos nossa vida preocupados com o dinheiro.
Obviamente ninguém precisa dar tudo quanto tem para poder
seguir a Deus, mas não se pode viver preocupado com o di-
nheiro, ou buscando o dinheiro, ou desejando o dinheiro ao
mesmo tempo em que se busca Deus. Esses dois modos de
vida são incompatíveis.

É verdade que em Lucas Jesus diz: “Assim, pois, qualquer de


vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu
discípulo.” (Lucas 14:33). Nessa passagem Jesus fala sobre o
valor da renúncia. Ninguém pode ser seu discípulo, ou pode
seguir Jesus, se antes não estiver disposto a abdicar de tudo
quanto possui. A renúncia mais importante é, obviamente, a
renúncia interior. É necessário estarmos despojados de tudo;
estarmos desapegados de todas as posses, para que possa-
mos seguir Jesus e entrar na felicidade infinita do Reino de
Deus. Essa renúncia não é externa, embora possamos tam-
bém renunciar externamente. No entanto, de nada adianta re-
nunciar a tudo externamente se ainda sentimos falta das coisas
que abdicamos. Por isso que a verdadeira renúncia é a renún-
cia interior. Dessa forma, se a pessoa ainda está apegada ao
dinheiro, ou acha imprescindível o dinheiro em sua vida, ou vive
pelo dinheiro e está sempre preocupada em acumular coisas
para um dia não faltar, ela não poderá, nas palavras do próprio
Jesus, ser seu discípulo. Será que os cristãos seguem esse
ensinamento?

Jesus continua abordando essa questão no sermão da monta-


nha:

“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida,
pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem
quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida

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mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuá-
rio?” (Mateus 6, 25).

Aqui Jesus fala que ninguém deve viver cuidadoso quanto ao


alimento na mesa e quanto ao que se veste, pois a vida é mais
do que o alimento e mais do que o vestuário. Comer e vestir
são coisas que não devem ser causa de preocupações, de ten-
são, de cuidados, não devem exigir muito nossa atenção, pois
somos infinitamente mais do que tudo isso.
Jesus continua explicando:

“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam,


nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta.
Não tendes vós muito mais valor do que elas?
E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescen-
tar um côvado à sua estatura?
E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para
os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem
fiam;
E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua gló-
ria, se vestiu como qualquer deles.
Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe,
e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a
vós, homens de pouca fé?
Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que
beberemos, ou com que nos vestiremos?
Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto
vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas
coisas;”

Se Deus alimenta e veste todos os seres, por que esqueceria


do ser humano? E se algum de nós não obtêm o alimento e o
vestuário, isso tem algum propósito maior, que Deus conhece.
Por isso, quando vivemos na escassez, devemos entregar
nossa vida a Deus e confiar em seus planos.

A frase seguinte parece ser o resumo de todo esse ensina-


mento:

“Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas


coisas vos serão acrescentadas” (mateus 6, 33).

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Todos os cristãos precisam buscar, em primeiro lugar, o Reino
de Deus. É o reino de Deus o objetivo sagrado de todo cristão
e não a busca pelas coisas materiais. Mas todos aqueles que
tiverem o desprendimento e colocarem o reino de Deus em pri-
meiro lugar, a esses tudo o mais será acrescentado. Isso sig-
nifica que o reino de Deus deve ser a meta máxima de todo
cristão, sem desvios, sem apegos e sem ficar desejando rique-
zas materiais.

Nas tentações do deserto, Jesus menciona mais uma vez a


questão dos alimentos. O diabo cria a tentação do alimento e
Jesus recusa dizendo que: “Está escrito que nem só de pão
viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus” (Lucas 4, 4);
(mateus 4, 4).

Jesus afirma que o homem não vive apenas do alimento mate-


rial, de comer para sobreviver, mas que vive principalmente
pela palavra de Deus, ou seja, pelos ensinamentos sagrados
que Deus transmite a todos. Jesus buscava essa sintonia com
uma realidade mais elevada quando renunciou a comida, água
e todos os prazeres materiais ao permanecer no deserto por
40 dias, para sofrer toda sorte de tentações e vencer cada uma
delas. Jesus tomou essa decisão para se libertar de todas as
tendências de sua natureza material e encontrar o Reino de
Deus nele mesmo.

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Um novo amanhecer em sua vida...

Hugo Lapa

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