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Núcleo de Pós-Graduação Pitágoras

Escola Satélite
Curso de Especialização
em Engenharia de Segurança do
Trabalho
DISCIPLINA
PESQUISA CIENTÍFICA

Drª Mônica Mata Machado de Castro


Pesquisa Científica
Aula 65
CIÊNCIA, CULTURA E CONHECIMENTO
Cultura
Ciência

Conhecimento
Ciência, cultura e conhecimento
• Cultura inclui, além do conhecimento, valores,
normas, ideologias, visões de mundo, assim como
obras de arte, artefatos e tecnologias criados pelo ser
humano em sua história.
• O conhecimento é somente parte da cultura.
• A ciência é uma, entre outras formas de conhecimento
Os tipos de conhecimento
Para definir ciência importa distinguir:
1. conhecimento de senso comum ou popular;
2. conhecimento religioso;
3. conhecimento filosófico;
4. conhecimento científico.
A distinção entre os tipos de conhecimento não
se refere:
• à veracidade ou falsidade das afirmações ou
• à natureza do objeto de cada um.
O que os distingue é a forma, o método e os
instrumentos do conhecer.
1 - Conhecimento do senso comum
• Surge da necessidade de resolver problemas imediatos;
• é adquirido por meio da experiência, prática, vivência;
• é transmitido por meio da educação informal;
• é superficial e acaba se transformando em crença;
• é conhecimento subjetivo, não crítico, dogmático;
• tem, em geral, uma linguagem vaga
2 - Conhecimento religioso
• Surge da inspiração e da revelação;
• sustenta-se por meio da fé;
• é conhecimento valorativo e dogmático;
• não é verificável.
3 - Conhecimento filosófico
• Resulta, basicamente, do uso da razão e da
reflexão;
• é sistemático e racional;
• não é verificável, porque trata de valores;
• não se refere a questões de fato.
4 - Conhecimento científico
• Parte da dúvida; é sistemático e racional;
• procura criticar suas afirmações, confrontando
-as com a realidade, por meio da pesquisa;
• resulta do uso da razão, de um lado, e da observação
e experimentação, de outro;
• é transmitido por meio da educação formal;
• procura a racionalidade e a objetividade.
• O conhecimento do senso comum é somente empírico,
o conhecimento religioso surge da inspiração e
revelação, o conhecimento filosófico é fruto do uso da
razão e o conhecimento científico resulta da razão e da
observação.
• A distinção entre os tipos de conhecimento refere-se ao
método utilizado para construir conhecimento.
Objetivo da ciência
• A ciência tem como objetivo descrever e
explicar o mundo que nos cerca;
• Para isso propõe teorias e procura sustentar,
por meio da pesquisa, suas afirmações.
Definição de ciência
De acordo com Ander-Egg, “a ciência é um
conjunto de conhecimentos racionais, certos
ou prováveis, obtidos metodicamente,
sistematizados e verificáveis, que fazem
referência a objetos de uma mesma natureza.”
• Racional, porque obtido, também com o uso da razão;
• Certo ou provável porque procura a verdade, mas
nunca tem certeza de ter chegado a ela;
• Obtido por meio de regras lógicas e procedimentos
técnicos, metodicamente;
• Sistemático porque ordenado logicamente;
• Verificável, porque a ciência não aceita afirmações
que não podem ser provadas empiricamente;
• Por fim, há diversas áreas na ciência, cada uma com
um objeto próprio, com alguma homogeneidade.
Definição de método
• Método é termo de origem grega que significa
‘caminho para’;
• Método da ciência refere-se à lógica envolvida
no esforço de validar, logicamente, e justificar,
empiricamente, as afirmações que faz para
descrever e explicar os fatos da realidade.
Segundo LAKATOS e MARCONI:
- método da ciência “é o conjunto de atividades
sistemáticas e racionais que, com maior
segurança e economia, permite alcançar o
objetivo – conhecimento válido e verdadeiro –
traçando o caminho a ser seguido, detectando
erros e auxiliando as decisões do cientista.”
• Definido dessa maneira, o método da ciência é
somente um, independentemente das áreas em
que se procura produzir conhecimento.
• Não há diferença metodológica entre as ciências
sociais e as ciências naturais, como alguns
autores defendem.
Os autores que defendem a especificidade metodológica
das ciências sociais confundem três pares de conceitos
que é preciso distinguir:
1 Método e técnica de pesquisa;
2 Contexto da descoberta e contexto da validação;
3 Ciência como processo e ciência como produto.
1 - Método e técnica de pesquisa
• Método diz respeito aos passos lógicos seguidos pela
ciência para produzir conhecimento.
• Técnica diz respeito às estratégias de pesquisa usadas
na ciência para criticar suas afirmações.
As técnicas de pesquisa variam muito entre e
dentro das áreas da ciência, dependendo do
problema de pesquisa e das hipóteses
propostas; a variação das técnicas não implica
variação de método.
2 - Contexto da descoberta e contexto da validação
• O contexto da descoberta é aquele em que são
escolhidos os problemas de pesquisa e propostas as
hipóteses;
• O contexto da validação ou justificação é aquele em
que se coloca a teste as hipóteses antes propostas,
no intuito de verificar se elas se sustentam ou não.
• No contexto da descoberta é que se coloca o
problema do condicionamento social do
conhecimento.
• Por isso mesmo é que se tem de passar para o
contexto da justificação, da validação das
afirmações da ciência, por meio da pesquisa.
3 - Ciência como produto e ciência como processo
• Ciência como produto refere-se à dimensão substantiva: é “um
conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o
comportamento de certos fenômenos”. Então, é igual em todas as
áreas.
• Ciência como processo refere-se à dimensão metodológica, ao
“conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao
sistemático conhecimento, com objeto limitado, capaz de ser
submetido à verificação”. O processo de construção de
conhecimento varia nas e entre as áreas da ciência.
Argumentos que se referem às técnicas de
pesquisa, ao contexto da descoberta e à ciência
como processo, não são suficientes para afirmar
a especificidade metodológica de alguma área de
conhecimento da ciência.
Tipos de pesquisa segundo seus objetivos
Tipo 1 Tipo 2
Unidade Definição Proposição
Unidades inter- Taxonomia Teoria
relacionadas
Aplicação da unidade Diagnóstico Explicação
a novos temas
Investigação Estudo descritivo Estudo verificativo
inspirada pela
unidade
Definição x proposição
• Definições esclarecem o significado dos
termos utilizados na ciência; distinguem
conceitos.
• Proposições são afirmações que relacionam
dois ou mais conceitos.
Estudos descritivos x estudos verificativos
• Estudos descritivos têm como objetivo fazer um
diagnóstico de fatos, eventos, traços da
realidade;
• Estudos verificativos têm como objetivo testar
uma teoria para explicar fatos, eventos, traços
da realidade empírica.
Teoria x taxonomia
• Taxonomias são conjuntos de termos com suas
definições, propostos para delimitar um campo de
interesse, um objeto específico de uma disciplina.
• Teoria é um conjunto de proposições relacionadas
umas com as outras, propostas para explicar um
aspecto da realidade que interessa ao pesquisador.
Questões importantes
• Os tipos de perguntas que orientam estudos descritivos e
estudos verificativos.
• A importância de distinguir teoria de taxonomia, de um lado, e
de doutrina, de outro.
• Definições não podem ser avaliadas como falsas ou ‘verdadeiras’,
mas como mais ou menos fecundas e ricas.
• Teorias devem ser avaliadas, por meio da pesquisa como falsas
ou não.
Os passos lógicos do método científico
Segundo G. Kneller, a ciência segue os seguintes passos:
1. explicitação do problema de pesquisa;
2. formulação da hipótese;
3. inferência dedutiva;
4. teste;
5. feedback ;
6. novas hipóteses.
• Esses são os passos lógicos da ciência, não
necessariamente os passos empíricos.
• Pode-se reconstruir, logicamente, o trabalho
de investigação científica e de construção do
conhecimento, mostrando que ele segue os
passos anteriores.
Pesquisa Científica
Discussão do estudo à distância 1

Profa. Mônica Mata Machado de Castro


Os passos lógicos do método da ciência
Segundo G. Kneller a ciência segue os seguintes passos:
1. Definição do problema de pesquisa.
2. Formulação da hipótese.
3. Inferência.
4. Teste.
5. “Feedback”.
6. Novas hipóteses.
Um exemplo histórico
A investigação feita pelo médico I. Semmelweis
no Hospital de Viena, entre 1944 e 1948
Qual era o problema de pesquisa de
Semmelweis?
Problema de pesquisa
• Qual é a causa da febre puerperal?
• Colocado em termos específicos: porque há
mais mulheres morrendo de febre puerperal
no serviço 1 do que no serviço 2 do hospital?
Hipóteses propostas
• Hipótese 1: a doença seria resultado de
influências ‘cósmico-telúrico atmosféricas’, ou
de influências epidêmicas.
• Origem dessa hipótese: a teoria em vigor na
época sobre a forma de transmissão das
doenças.
• Qual a inferência observável dessa hipótese?
• Como Semmelweis coloca essa hipótese a
teste?
• Qual a conclusão a que chega, sobre essa
hipótese?
Novas hipóteses
Suposto lógico: alguma diferença entre os dois
serviços devia explicar a diferença na proporção
de mortes por febre puerperal.
Hipótese 2
• O excesso de mulheres internadas no serviço 1
implica a transmissão da doença.
• Inferência, teste, ‘feedback’ e conclusão sobre
essa hipótese.
Hipótese 3
• Diferenças na dieta e nos cuidados gerais com
as pacientes provocam a doença.
• Inferência, teste, ‘feedback’ e conclusão sobre
essa hipóteses.
Hipótese 4
• O exame grosseiro, feito pelos estudantes de
medicina, que só atendiam no Serviço 1, é a
causa da doença.
• Origem dessa hipótese.
• Inferência, teste, ‘feedback’ e conclusão sobre
essa hipótese.
Hipótese 5
• O medo de morrer, desencadeado pela
passagem do padre, enfraquecia as mulheres
e as tornavam mais suscetíveis à doença.
• Inferência, teste, ‘feedback e conclusão sobre
essa hipótese.
Importante
• O papel da teoria.
• As diferentes técnicas de pesquisa.
• A estrutura do experimento.
• Hipóteses mais ou menos complexas, algumas
com fatores intervenientes.
• Origem diferente das hipóteses.
Hipótese 6
• A doença é causada pelo parto feito de costas,
que prejudicaria mais as mulheres do que o
parto de lado.
• Inferência, teste, ‘feedback e conclusão sobre
essa hipótese.
Hipótese 7
• A febre é causada pelo envenenamento do
sangue, por meio do contato direto com
material cadavérico infectado.
• A origem dessa hipótese: um acidente.
• Essa hipótese explicava outras observações já
feitas.
• Qual a inferência observável dessa hipótese?
• Como foi testada?
• Qual o resultado do teste?
• Qual a conclusão de Semmelweis?
• A existência de hipótese auxiliar.
Hipótese alargada
• A doença também pode ser transmitida de
organismo vivo para organismo vivo.
• Como foi feito o teste dessa hipótese.
• Conclusão de Semmelweis.
• Importante: a sustentação empírica de uma
hipótese que, depois, se revelou incompleta.
Escolha e formule o problema de pesquisa
• É o primeiro passo do método científico.
• Definição de problema de pesquisa: é uma
dúvida, uma pergunta - especulativa ou
prática, que o investigador se coloca e que
envolve pesquisa para ser respondida.
Para esclarecer o que são problemas de
pesquisa é interessante contrapô-los aos:
1. problemas de ‘engenharia’ e
2. problemas de valor.
1. Problemas de ‘engenharia’ referem-se a como fazer
algo de forma eficiente; não indagam como são as
coisas, suas causas e consequências, mas sobre como
fazer as coisas.
2. Problemas de valor são os que indagam “se uma coisa
é boa, má desejável, indesejável, certa ou errada, se é
melhor ou pior que outra”.
• A ciência não tem como responder diretamente a
problemas de ‘engenharia’ e de valor.
Tipos de problemas de pesquisa
Há vários tipos lógicos de problemas de pesquisa:
• perguntas específicas;
• perguntas de definição;
• perguntas de relação causal;
• perguntas que envolvem resposta afirmativa ou negativa;
• perguntas que envolvem resposta quantitativa;
• perguntas que se referem à comparação de casos.
Características dos problemas de pesquisa
Os problemas de pesquisa devem ser sempre:
• formulados como pergunta;
• claros e precisos;
• empíricos;
• suscetíveis de solução;
• delimitados a uma dimensão viável.
Origens dos problemas de pesquisa
Vários fatores podem afetar a escolha do problema de
pesquisa. Esses fatores podem ser classificados em:
• fatores de ordem pessoal;
• fatores de ordem coletiva.
A escolha do problema de pesquisa faz parte do
contexto da descoberta.
Formulação da hipótese
• É o segundo passo do método científico.
• Definição de hipótese: é uma conjectura,
proposta como solução de um problema de
pesquisa, formulada como uma proposição,
suscetível de ser declarada falsa ou não, por
meio da investigação; é uma resposta provisória
para o problema de pesquisa.
Origens das hipóteses
A origem das hipóteses pode ser diversa.
Fatores que podem influir na escolha:
• a cultura e o conhecimento da época;
• o senso comum;
• observação de alguns fatos;
• dedução, a partir de uma teoria;
• analogia com teorias de outras ciências (cont.)
• experiências pessoais do investigador;
• o acaso;
• observação de casos discrepantes da teoria aceita;
• a intuição.
Mas é fundamental conhecer a produção teórica
e os resultados de pesquisa na área.
Características das hipóteses científicas
As hipóteses devem ser:
• claras e precisas;
• específicas;
• referenciadas empiricamente;
• consistentes, lógicas;
• relacionadas com as técnicas disponíveis;
• dedutíveis de uma teoria.
A inferência dedutiva
• É o terceiro passo do método científico.
• É um passo estritamente lógico, em que se
deduzem as implicações ou consequências
observáveis das hipóteses .
• É o momento em que se pergunta: se a hipótese
se sustenta, o que se deve observar na realidade?
O teste da hipótese
• O quarto passo do método científico é o teste da
hipótese.
• É o momento da pesquisa propriamente dita,
voltada para a necessidade de confrontar a
hipótese com a realidade, para verificar se ela se
sustenta ou não.
• As técnicas de pesquisa variam.
O feedback
• É o passo em que se compara o resultado da
pesquisa com a hipótese antes proposta e
• analisam-se os dados recolhidos em confronto
com a hipótese, para decidir se ela se sustenta e
pode ou não ser mantida na ciência.
• Esse é um passo estritamente indutivo.
TEORIA
4 inferência causal 1 formação de conceitos

HIPÓTESE
GENERALIZAÇÃO MÉTODO E TÉCNICAS
EMPÍRICA

2 Desenho da
pesquisa
3 Registro e análise
dos dados OBSERVAÇÃO
Características ideais da ciência

1. A ciência é lógica, racional;


2. A ciência é explicativa;
3. A ciência é geral;
4. A ciência é parcimoniosa (cont)
5. A ciência é clara e precisa;
6. A ciência é verificável;
7. A ciência é intersubjetiva;
8. A ciência é aberta à modificação.

O ideal da ciência é o real.

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