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O objeto de estudo desta área da Filosofia da ciência é a investigação de problemas que surgem da reflexão sobre a ciência e a
prática cientifica.
Senso comum Conhecimento científico
> trata-se de um saber que envolve investigações com alguma
> baseia-se na experiencia da vida e nas tradições;
complexidade e que não pode ser adquirido apenas com base na
> é um saber essencialmente prático;
experiência e na vida;
> pode variar de pessoa para pessoa e é utilizado
> envolve uma sistemática preocupação com o rigor e com a justificação
sem uma preocupação sistemática de rigor e de
das afirmações;
justificações;
> caracteriza-se pela procura das causas dos fenómenos e pela tentativa
> inclui também algumas superstições;
de construir um conjunto organizado e coerente de conhecimentos.
A tecnologia permite a construção de diversos mecanismos com base em conhecimentos científicos, ou seja, a tecnologia é uma
aplicação da ciência. Por outro lado, nas suas investigações, os cientistas utilizam instrumentos científicos que são realizações
tecnológicas: telescópio, microscópio, termómetro, etc.
O problema da demarcação
O problema da demarcação consiste em perguntar se é possível encontrar um critério de cientificidade. Quais são características
que as teorias devem ter para serem consideradas científicas? Ou seja, o critério para distinguir o que é a ciência, o que não é
ciência e o que é pseudociência (teoria que possui características superficiais de uma disciplina ou teoria cientifica, mas não
satisfaz os critérios aceites para ser ciência).
Há várias razões que justificam a necessidade de encontrar um critério de cientificidade:
teóricas – a importância de delimitar e compreender o objeto de estudo de cada uma das áreas referidas;
práticas – saber identificar quando ocorrem discursos pseudocientíficos e como agir nas situações em que isso acontece;
educacionais – saber o que ensinar nas escolas.
Problema da demarcação – O que distingue as teorias científicas das não científicas:
> Positivismo lógico (Verificação e Confirmação)
> Falsificacionismo (Falsificabilidade)
Verificação
Os filósofos defensores do positivismo lógico começaram por considerar que uma teoria só científica se for constituída por
afirmações empiricamente verificáveis, ou seja, quando se pode conceber experiências, que estabeleçam conclusivamente a sua
verdade ou falsidade.
São alguns exemplos de como de aplica o critério da verificabilidade:
1. Júpiter tem satélites.
2. Existe uma aura à volta da cabeça de certas pessoas.
3. Há planetas em exoplanetas.
1 é verificável, pois a sua verdade ou falsidade pode ser estabelecida através da experiencia.
2 não é verificável, pois não há observações que possam evidenciar a sua verdade ou falsidade.
3 é verificável, pois, embora atualmente não seja possível realizar a experiencia, é possível concebe-la e saber quais são as
condições que nos levariam a aceitar a verdade ou falsidade desta proposição.
Uma das críticas apresentadas a este critério é que sendo as hipóteses e as leis científicas expressas por enunciados universais,
estas não podem ser alvo de verificação, pois isso implicaria algo que ninguém consegue fazer: observar todos os casos possíveis.
Por maior que seja o número de casos observados, não é possível garantir a verdade desta lei através da experiencia, já que é
impossível observar o número indefinido de casos que a proposição universal se refere. Isso colocaria em causa a cientificidade
das hipóteses e das leis da ciência, o que faria pouco sentido.
Confirmação
Apresentaram um critério de cientificidade alternativo à Verificação: a Confirmação.
Se uma teoria é científica, então é empiricamente confirmável. Pode acumular-se um número significativo de evidências empíricas
a favor de uma hipótese. Se assim for, esta pode ser considerada verdadeira e tomada como uma lei científica. Contudo, o número
de casos observados será sempre finito. Portanto, os indícios empíricos disponíveis apoiam as hipóteses – e conferem-lhe um grau
de probabilidade maior ou menor – embora não possam garantir, de forma conclusiva, a sua verdade. Em suma, sendo impossível
a verificação das hipóteses é possível a sua confirmação (mais forte ou mais fraca, dependendo dos dados existentes para a
sustentar).
Todavia, a confirmação das hipóteses coloca dificuldades: como definir, em cada contexto, quais são os índicos empíricos
relevantes e em que número, para confirmar a hipótese em causa? Por isso os falsificacionistas, como Popper, rejeitam que a
verificação e a confirmação permitam distinguir a ciência da não ciência.
Graus de falsificabilidade
As teorias mais interessantes para a ciência são aquelas que possuem um elevado grau de falsificabilidade. Os cientistas devem
procurar teorias ousadas e com elevado conteúdo empírico, que digam mais sobre o mundo, com maior poder explicativo e, por
isso, correndo mais risco de falhar. Tais teorias têm um grau de falsificabilidade mais elevado e é positivo que assim seja. Os
cientistas devem interessar-se por teorias que resistam a tentativas exigentes de falsificação.
Quanto maior for a generalidade de um enunciado cientifico universal, maior será o seu grau de falsificabilidade: quanto mais
fenómenos referir, maior será a possibilidade de surgirem contraexemplos.
Condições suficientes
A falsificabilidade é uma condição necessária para uma teoria ser científica. Mas não é uma condição suficiente. Para ser científica
uma teoria deverá reunir, em simultâneo:
ser falsificável;
ter capacidade explicativa, fornecendo respostas a problemas com alguma complexidade.
Há enunciados que são falsificáveis mas não são científicos pois são respostas a problemas banais:
todos os seres humanos saudáveis têm pernas;
nenhum futebolista gosta do Algarve.
Pseudociência
Popper procura distinguir a ciência de áreas que, não sendo científicas, tentam fazer-se passar como tal. Um dos exemplos que ele
analisa é a astrologia (e a psicanálise e o marxismo). Esta é uma pseudociência, ou seja, uma falsa ciência.
Utiliza uma linguagem vaga. Interpreta qualquer dado observado como uma comprovação da teoria (e dificilmente se consegue
imaginar uma situação que a falsifique) e não se submete a testes empíricos. Se uma teoria não pode ser sujeita ao processo de
falsificação, as suas explicações são irrefutáveis. E, por isso, a astrologia não é uma ciência.
O problema do método - Qual é o método mais adequado à investigação científica? Qual a necessidade de um método? Em que
tipos de raciocínio se baseia a prática científica?
Método significa a ideia de que não se trata de proceder ao acaso, mas é preciso seguir um conjunto de passos e regras. O
conhecimento é metódico, e que por isso, a sua aquisição envolve procedimentos específicos e diversas etapas, ao contrário do
conhecimento vulgar (senso comum), que não implica um especial esforço de raciocínio, nem de organização.
Perspetiva indutivista do método
Francis Bacon foi o pioneiro a defender a ideia de que as explicações se deveriam basear, não na autoridade (de filósofos e cientista
do passado, ou da religião), mas a razão e principalmente na experiência, ou seja, em ideias claras que pudessem ser sustentadas
por indícios empíricos.
A tese do indutivismo é a de que o método científico se baseia na observação dos factos e na indução. Uma das versões é chamada
de perspetiva simples do método científico (ou método experimental).
Indutivismo - Perspetiva filosófica que define o método das ciências empíricas como o método indutivista, isto é, o cientista parte
da observação de casos particulares, infere indutivamente um enunciado geral (teoria) e depois testa essa mesma através da
experimentação, acumulando casos positivos para comprovar a sua veracidade.
Indução: raciocínio baseado na generalização de casos particulares. Casos positivos: casos observados que apoiam a teoria.
1. Observação e registo dos dados empíricos (observam-se determinados factos e são recolhidos, de forma imparcial e rigorosa,
dados) ex.: Todos os cisnes que observei eram brancos;
2. Elaboração de uma teoria através da indução (formula-se – através da generalização – uma hipótese, ou seja, uma tentativa
provisória de explicar o que foi observado) ex.: Logo, é provável que todos os cisnes sejam brancos;
3. Experimentação (testar a teoria) (testa-se se as previsões, feitas com base na hipótese, correspondem ao que acontece na
realidade) ex.: Procuro observar mais cisnes para comprovar a minha teoria;
4. Formulação de leis científicas (se a hipótese for confirmada por dados empíricos transforma-se – através da generalização –
numa lei científica que é aplicável a todos os fenómenos semelhantes) ex.: Todos os cisnes que foram observados eram brancos,
logo todos os cisnes são brancos.
De acordo com o indutivismo, as inferências indutivas (generalização e previsão) permitem explicar como o cientista descobre as
hipóteses, procede à confirmação das previsões baseadas nas hipóteses e formula as leis científicas.
Criticas ao indutivismo
Alguns filósofos (como Popper), a visão indutivista do método científico não corresponde a uma descrição correta da atividade dos
cientistas:
1. Não há observação pura, independente de pressupostos teóricos
Os cientistas fazem observações em função de um determinado enquadramento mental – que engloba interesses, expectativas e
conhecimentos já adquiridos – e com o objetivo de resolver um problema específico.
A observação é sempre orientada por pressupostos teóricos prévios e visa responder a uma questão que, colocada
antecipadamente, orienta a observação e justifica a sua realização. Por isso, o ponto de partida das investigações científicas não é
realmente a observação.
2. O ponto de partida não é sempre a observação
Há fenómenos estudados pelos cientistas que não são diretamente observáveis – ex.: o facto de uma parte do universo ser
constituída por matéria negra. Esta não é visível, mas sim inferida através dos efeitos gravitacionais sobre a matéria visível (estrelas,
galáxias…). Casos como estes permitem colocar em causa a perspetiva indutivista do método, segundo o qual, nas suas
investigações, os cientistas têm de partir sempre da observação.
As opiniões dividem-se quanto à importância da indução no método científico. Há filósofos que defendem que os cientistas não
precisam raciocinar indutivamente em nenhuma das etapas do método científico.
O problema da indução
Popper analisa o exemplo dos cisnes para ilustrar como é simples a falsificação das proposições universais. Durante muito tempo, os
biólogos estiveram convencidos de que uma das características dos cisnes era terem penas brancas até que descobriram cisnes
negros na Austrália. Este contraexemplo tornou falsa a afirmação geral e fez com que fosse refutada.
Popper concorda com a análise lógica que Hume fez do problema da indução: as conclusões das inferências indutivas ultrapassam
os dados da experiencia e não se encontram racionalmente justificadas. Poderia pensar-se que as conclusões céticas de Hume
seriam extensíveis às teorias científicas – colocariam em causa a possibilidade de estas serem crenças racionais, objectivas e
constituírem conhecimento – mas Popper rejeita isso. Para ele, na investigação científica, não é necessário recorrer às inferências
indutivas defendidas por Hume, ainda que algumas delas sejam corretas. É deste modo que Popper pretende ultrapassar o
problema da indução – evitando-o.
A aplicação do método
Popper defende que os cientistas devem submeter as teorias a testes e à discussão crítica junto dos seus pares para procurar
perceber se estas contêm falhas. Se for o caso, as teorias serão revistas ou rejeitadas. Popper destaca que nem sempre os
cientistas ficam satisfeitos com a refutação das suas teorias e que alguns ficam até pessoalmente desapontados. Mas não há
alternativa, já que só assim poderão existir avanços, ou seja, ideias e teorias que correspondam a uma compreensão cada vez mais
adequada à realidade.
Para fazer ciência é preciso refletir, pensar por si mesmo, e ter uma preocupação permanente com a fundamentação das teorias.
Os cientistas devem ter essa atitude crítica relativamente às suas próprias ideias e às dos outros.
As teorias científicas encontram-se submetidas a uma investigação rigorosa. É isso que torna possível corrigir erros. No entanto,
como se tem constatado ao longo da história da ciência, as teorias científicas não são imunes ao erro e até à fraude. Mas a
possibilidade de estes ocorrerem diminui.
Críticas ao falsificacionismo
1. A distinção entre ciência e pseudociência depende da comunidade e do contexto
A distinção entre ciência e pseudociência deve ser feita a partir de determinadas características típicas e não de características
necessárias e suficientes. Deste modo, fariam parte da pseudociência propriedades como a desatenção aos factos empíricos, o
desinteresse por teorias alternativas e a ausência de progresso entre outras.
2. O falsificacionismo não descreve corretamente a prática científica
Em vários momentos da história da ciência verificou-se que os cientistas – e a comunidade científica – não procederam de acordo
com o método das conjeturas e refutações, não adotaram um ponto de vista crítico em relação às suas teorias e não tentaram
falsificá-las. Pelo contrário, resistiram às tentativas de refutação, procurando antes confirmar e consolidar as suas teorias. Mesmo
que tivessem constatando algumas previsões empíricas tinham falhado, colocavam antes em causa as condições em que os testes
haviam sido realizados e não a teoria.
De acordo com o falsificacionismo, a teoria de Newton teria sido refutada pelos indícios empíricos, pelo que os cientistas a
deveriam ter abandonado. No entanto, a história da ciência mostra-nos que, por vezes, reunir condições para falsificar as teorias
através de testes rigorosos pode demorar anos ou mesmo séculos. Acresce a isto que as terias são constituídas por conjunto
articulado de enunciados e, por isso, se um teste respeitante a um aspeto não central evidenciar falhas, isso pode não permitir
refutar conclusivamente a teoria a partir dos dados observacionais.
Conclui-se, analisando a história da ciência, que o processo das conjeturas e refutações não descreve de forma adequada como é
que a atividade cientifica se desenvolve na realidade. Por isso, alguns filósofos dizem que Popper não explicou o modo como a
ciência funciona, mas sim como ele gostaria que esta funcionasse.