Você está na página 1de 14

Correção dos testes: Mensagem

O dos castelos
1. A. Itália; B. Inglaterra; C. Portugal.
2. Na primeira quadra é referida a Europa e faz-se uma particularização geográfica, mediante a distinção entre
Oriente e Ocidente, sendo esta a região em que o poema se vai focar; na segunda apontam-se dois países
europeus (Itália e Inglaterra); no final, o destaque afunila-se em Portugal.
3. No poema, a Europa surge descrita como uma mulher, considerando-se que Portugal, em termos geográficos,
é o rosto do continente europeu, olhando o Ocidente. Estes aspetos podem ser verificados na ilustração que
acompanha o poema.
4. O verbo jazer remete para uma europa moribunda, que é necessário despertar da letargia em que se
encontra, aspeto que surge no verbo fitar, também associado a Portugal e representa a vocação marítima dos
portugueses. Percebe-se, deste modo, a afirmação “futuro do passado”(v.11), pois o desvendamento foi
futuro do passado e promete repetir-se.
1. A missão profética pressente-se na caracterização do olhar, que é esfíngico e fatal, e que aponta para uma
atitude contemplativa e expectante, para o enigma e para o mistério que envolve os Descobrimentos. Além
disso, este olhar, que vem do rosto que é Portugal, fita o Ocidente que é futuro do passado, depreendendo-
se, assim, que este é o único país da Europa moribunda capaz de fazer renascer o Velho Continente – é essa a
sua tarefa messiânica.
Ulisses
2. O “mito é o nada que é tudo” porque, sendo mito, não tem existência concreta; porém, como corresponde a
uma crença/ fé, pode ser tudo, dado que as crenças alimentam/dão sentido à realidade.
3. Para comprovar a tese, o sujeito poético serve-se de dois conjuntos de argumentos: (1) o Sol, um elemento da
realidade física, e um elemento transcendente, Deus, que é “morto”, “vivo e desnudo”, apontando para a
ressurreição e para o seu poder regenerador, apesar de não ter existência física. (2) A crença de que Ulisses
aportou no local onde agora se situa Lisboa e aí terá fundado a cidade.
4. Depois de ter fundamentado a sua tese, o sujeito poético passa para a generalização, pondo a realidade na
dependência da lenda, como se a primeira não fizesse sentido sem a segunda, porque é a lenda que fecunda a
realidade. Sem o mito, a vida seria um vazio.
5. Uma das metáforas presentes surge na utilização do verbo “fecundar”, que, no contexto, sugere o poder
regenerador do mito, a sua capacidade de dar sentido à vida e de fazer surgir a realidade.
6. Em ambos os textos, a figura simbólica de Ulisses deu sentido à vida dos portugueses porque, ao fundar a
cidade de lisboa, colocou a primeira pedra do império português.
7. “Este” e “aqui” têm referência deítica de natureza espacial; “aportou” é temporal e pessoal.
8. O pronome “(l)a” tem como referente “a realidade” e exemplifica a coesão gramatical referencial.

1
Viriato:
1. A memória é uma capacidade que o ser humano tem ao su dispor e que lhe permite guardar factos dignos de
glória e que contribuiram para a afimação nacional. Nesse sentido, esses feitos ficam registados na História de
uma nação, tal como aconteceu ao chefe dos Lusitanos. De simples pastor a célebre guerreiro “Vivemos, raça,
porque houvesse /Memória em nós do instinto teu”.
2. O facto de esta figura ter sido um combatente com um forte espirito de luta fez com que a sua ção fosse
determinante para a construção da nação portuguesa, principalmente porque ajudou a expulsar do território
nacional outros povos. Ele foi uma espécie de fundador, foi a “haste”, origem da nossa nacionalidade, tal
como explicitam os versos como “Ou tu, ou o de que eras a haste - / Assim se Portugal se formou” ou ainda
“Teu ser é como aquela / Fria luz que precede a madrugada”, onde se evidencia que Viriato foi, ainda que sem
o saber, o pai de Portugal.
3. Quando se afirma que a “Fria luz” “precede a madrugada”, pretende dizer-se que o nada (o mito) está na
origem do novo dia. Na origem do mito, metaforicamente associada à fria luz e à madrugada, germina já a sua
essência e importância, ou seja, o “haver o dia”, ainda que apenas difuso (“confuso nada“). Sendo assim,
percebe-se que o mito alimenta a realidade, tal como a figura mítica de Viriato alimentou as gerações que lhe
sucederam.
4. Esta metáfora destaca Viriato como um herói pré-nacional, uma vez eu pela expressão “o ir haver o dia” se
indicia a preparação de algo que está para vir. Logo, “o dia” será metáfora da nação portuguesa que viria a ser
fundada e que ocuparia também a região que ele defendia corajosamente, no ano de 130 a. C. dos romanos.

Conde D. Henrique
1.1. Primeiro verso.
1.2. No poema diz-se que “Deus é o agente” e no 1º verso refere-se que ação de D. Henrique foi involuntári,
desconhecendo este o que fazer com a espada. Isto significa que foi conduzido por Deus, daí a predestinação
do herói.
1.3. A orientação divina deve-se ao facto de D. Henrique não saber o que fazer com a espada.
1.3.1. Verso 7.
Quinto / D. Afonso Henriques
1. O sujeito poético considera D. Afonso Henriques, o «Pai» de Portugal, o principal fundador da identidade da
Pátria.
2. Exímio na arte de guerrear, exemplo excelente de patriotismo e idealista com uma missão cumprida.
3. «Dá-nos o exemplo inteiro / E a tua inteira força!, «Dá (…) / (…) / A benção como espada, / A espada como
benção!» D. Afonso Henriques é descrito como herói extraordinário que usou a espada para constuir a Pátria
em glória. Assim, o sujeito poético dirige-se ao Rei, pedindo que este permita que a sua ação vitoriosa seja
exemplo, abençoando a tarefa de reerguer a nação em nova glória.
4. Quiasmo.

2
4.1. A espada apresenta uma simbologia ambivalente. A espada é símbolo de destruição e de reposição da justiça.
Neste caso, a espada ao serviço do ideal da difusão do cristinaismo, reconquista cristã aos mouros das terras
de Portugal.
D. Dinis

1. D. Dinis escreve um “Cantar de Amigo”, uma alusão ao facto de o rei ter sido também poeta (autor de
cantigas trovadorescas). Além disso, é também referido como “o plantador de naus a haver” (v.2., numa clara
menção à plantação do pinhal de Leiria por si ordenada.
2. O presente do indicativo contribui para a mitificação do herói, mostrando que, no seu tempo, foi a sua ação
que preparou involuntariamente o futuro dos Descobrimentos, tornando o seu contributo intemporal.
3. Sugere-se no poema que a plantação do pinhal de Leiria teria sido preponderante para a construção dos
barcos a utilizar nos Descobrimentos (“o plantador de naus a haver”, v.2). Daí que, involuntariamente, o rei
tivesse preparado o futuro.
4. O poema integra a primeira parte da obra, “Brasão”, sendo o sexto poema da secção “Os Castelos”. D. Dinis
foi o sexto rei de Portugal e antecede o ciclo dos descobrimentos. Preparou o futuro, criando, no presente,
condições para o alargamento o Império, que será cantada na segunda parte da obra.
5. A expressão “E a fala dos pinhais, marulho obscuro” (v.8) contém uma personificação e sugere o caráter
mítico de D. Dinis, uma espécie de intérprete de uma vontade superior, que anunciava aos ouvidos do rei um
novo ciclo de conquistas. A metáfora está patente em “um trigo / De Império” (vv.4-5) e sugere que a génese,
a origem do futuro teve início em terra. No fundo, tal como o trigo é a base do pão que alimenta os povos,
também os pinheiros serão a base da construção dos barcos que alimentarão os Descobrimentos. O trigo
“ondula” ao sabor do vento, os barcos ao sabor das ondas.
6. A. Trovador; B. Plantador.
A síntese do poema revela-se pertinente, uma vez que destaca a figura de D. Dinis e as ideias-chave do
poema. Associam-se a este rei duas atividades distintas, destacando-se aquela que está mais diretamente
relacionada com os Descobrimentos.

D. João o I:
1. A primeira quadra apresenta, através de afirmações de natureza axiomática, a atuação do homem (herói)
como decorrente do desejo divino. “Quando Deus faz” através do “homem”, a “história é feita”. É essa conjugação do
espírito celeste com o anseio dos predestinados que leva aos grandes feitos e garante a imortalidade (o mito), pois a
matéria é perecível: “O mais é carne, cujo pó/ A terra espreita” (vv.3-4).
1.1. Pessoa apresenta D. João I como um predestinado escolhido por Deus que, “sem o saber” (v.5), e de
forma inesperada (por ser bastardo), foi eleito (v.9) para orientar o “Templo / Que Portugal foi feito ser” (vv.5-6). Por
essa razão, ganhou a “Eterna chama” (v.11), ou seja, a imortalidade, e teve lugar na galeria dos heróis míticos de
Mensagem. Camões admite igualmente uma envolvência de predestinação em torno da subida ao poder de D. João I,

3
considerando que a mesma constituiu uma “ordenação dos Céus divina” (est. 3, v.1) que se revelou através da
premonição de uma “minina” (est.3, v.3).

D. Filipa de Lencastre:

1.1. A maternidade de “génios” (v2), pois D. Filipa terá sido visitada por um “arcanjo” (v.3), facto que daria
uma origem divina à sua prole.
1.2. A deslocação do adjetivo “maternos” do nome “sonhos” destaca, isolando, a qualidade feminina que deu
D. Filipa de Lencastre uma dimensão mítica: os seus “sonhos maternos” concretizados originaram uma geração
notável.
2.1. A presença da forma verbal na segunda pessoa do singular do modo imperativo (“Volve”, v.5) e o vocativo
que ocupa os três versos finais.
2.2. D. Filipa de Lencastre é incumbida de uma missão messiânica (“Princesa do Santo Graal”, v.6), que se
concretiza no facto de ser o “Humano ventre do Império”, ou seja, de ter dado à luz os heróis que viriam a construir o
império cristão e material. É ainda considerada “Madrinha de Portugal” por, segundo a lenda popular, continuar a
proteger Portugal mesmo depois de morta.
2.3. A interpelação à rainha justifica-se pela valorização que Pessoa faz da sua faceta de mãe. Tal como fora
progenitora de filhos exemplares e capazes de dar ao país uma nova dimensão, agora pede-se-lhe que olhe para
Portugal e com a sua bênção contribua para o novo renascimento pátrio.

D. Fernando Infante de Portugal


1.Referências textuais que comprovam o caráter de predestinado do Infante D. Fernando:
- “Deu-me Deus o seu gládio” (v.1); “Sagrou-me seu” (v.3); “Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me” (v.6); “são
seu nome” (v.9).
Confirma-se, então, que D. Fernando foi escolhido por Deus para, na terra, prolongar a Sua missão.
2.Seguem-se alguns dos traços caracterizadores da personagem destacada no texto:
- Predestinado (“Sagrou-me seu”);
- Ambicioso (“esta febre de Além”; “este querer grandeza”);
- Corajoso (“não temo o que virá”);
- Calmo (“Em minha face calma”);
- Crente (“Cheio de Deus”);
- Possuidor de uma grande alma (“nunca será / Maior do que a minha alma”);
- (…)
3. O verso destacadp remete para a ideia de que D. Fernando foi escolhido por Deus para o bem e para o mal.
4. Na última estrofe, realça-se o uso do futuro do indicativo (“o que virá – v.13; “nunca será” – v.14) e do conjuntivo
(“o que vier” – v.14). A primeira stuação orienta-nos para a factualidade de algo que se cumprirá num tempo futuro,
ou seja, neste caso, realça a certeza do “eu” relativamente a algo que ocorrerrá num tempo que ainda está por se

4
realizar. Todavia, no segundo caso, depreende.se a incerteza, a dúvida relativamente a esse futuro, que, por o ser, é
incerto, desconhecido.

D. Sebastião Rei de Portugal


1. A matriz épica evidencia-se no tom de exaltação heroica que se depreende da evocação do fim trágico do
herói, que tem uma forte dimensão histórica.
2. A primeira parte, que corresponde à primeira estrofe, apresenta a autocaracterização do sujeito poético
como louco. A segunda, relativa à segunda estrofe, faz a apologia da loucura, elogiando-a e incitando
outros a tomá-la, ou seja, a dar continuidade ao sonho que levou D. Sebastião ao norte de África – o de ir
mais além.
3. Como consequência da concretização do sonho, orgulhosamente assumido pelo sujeito poético, este
encontra a morte (“Ficou meu ser que houve”, v5), verificando-se a destruição física. Porém, desse fim
trágico, resultaram a sua mitificação e a sua imortalidade: o sonho continua assim a fecundar a realidade.
4. O elogio da loucura é visível no repto lançado aos destinatários para que se deixem imbuir pelo sonho,
que é o motor da ação. O apelo lançado assume, assim, uma dimensão nacional e universal. É pela
loucura, pelo sonho, que o ser humano se distingue dos animais, da “besta sadia, / (…) que procria” (v.9-
10).
5. A anáfora, presente em “Louco, sim, louco” (v.1), “Minha Loucura” (v.6) e em
“Sem a loucura” (v.8), permite ao sujeito poético enfatizar a ideia da loucura,
uma vez que esse é o seu traço caracterizador e o motor da ação humana. A
metáfora, por sua vez, também pode ser encontrada no vocábulo “loucura”, que assume aqui valores
conotativos e uma dimensão positiva. Só esta força será capaz de reerguer a nação.

Nunalvares pereira
1.1. A palavra “auréola” pode apontar para a ideia de santidade e para um objeto concreto – a coroa.
1.2. O objeto revelado é a espada.
1.3. A espada a voltear no ar forma uma auréola.
1.4. A espada é responsável por retirar a cor ao “ar alto”, que se pode facilmente identificar como o céu,
retirando-lhe o “azul negro e brando”. Pode-se, deste modo, concluir que a espada dá uma nova luz ao céu, e
essa luz é de Nuno Álvares, ele é como que um sol, fonte de vida e energia, que afasta o negro da noite, as
trevas da inação e do marasmo intelectual, “brando”, que Portugal vive na época contra o qual Pessoa luta ao
escrever os poemas da obra Mensagem.
2.1. O sujeito poético questiona que espada será aquela que Nuno Álvares tem.
2.2. A identificação da espada como sendo Excalibur, a famosa e abençoada espada do Rei Artur, confere ao objeto
uma importância e excecionalidade maiores, o que se aplica, por extensão, ao herói que agora a possui.
3.1. Os versos referem-se a Nuno Álvares.

5
3.1.1. Nuno Álvares é a esperança de Portugal, no passado já o foi e deu provas do seu valor (“consumada”); Nuno
Álvares é o próprio país que se quer realizar, construir, enfim, ser.
3.2.1. Normalmente uma espada é utilizada para lutar, mas neste contexto adquire uma outra utilidade, ela servirá
para iluminar a estrada (em termos literais, devido ao material reluzente de que o objeto é feito).
3.2.2. O sujeito poético, ao utilizar o vocábulo “estrada”, estará a referir-se ao caminho do país, ao futuro de Portugal.
3.2.2.1. Neste poema, o sujeito poético sugere que Nuno Álvares é o responsável por apontar o caminho que Portugal
deve seguir, o destino de Portugal. Como fez noutros poemas da obra, com outras personalidades, o sujeito poético
pretende que o país se inspire no exemplo de Nuno Álvares e lute, enfrente as dificuldades com coragem e
determinação: o seu exemplo e a sua força guiar-nos-ão.

Um asa do grifo : D Joao , o segundo


1. O rei poiciona-se face à imensidão do mar com os braços cruzados numa atitude avaliadora, reveladora do seu
poder e força.
1.2. O rei é um visionário.
2. Hipérbole. O rei D. João II deseja descobrir os limites do mar, antecipando o seu conhecimento através das
futuras navegações.
3. A superioridade de D. João II, o seu profundo poder de visionar o futuro, está presente no gesto simbólico
do abrir os braços e rasgar o céu, isto é, na elevada capacidade de o rei preparar as navegações que permitam
desocultar o mundo do desconhecido, desvendando o húmido elemeto. A glorificação do rei reside no seu
determinante contributo para o conhecimento do planeta.

O infante
1. A realização da “obra” está, em primeiro lugar, condicionada pela vontade divina, e depois pelo sonho do
homem. Cumpridas estas duas fases, a obra nascerá.
2. Deus quis que a terra fosse apenas uma e que o mar fosse um fator unificador. Para tal, seria necessário
primeiro desvendá-lo para permitir a união entre continentes e povos.
3. Deus escolheu o Infante para cumprir a missão de unificação da terra através do mar. Este é, assim, o símbolo
do herói, o agente da vontade divina, predestinado para o grande feito do domínio dos mares.
4. A forma verbal “Sagrou-se” é sugestiva, uma vez que semanticamente se associa à predestinação, à eleição
divina, assumindo, por isso, uma conotação religiosa. Foneticamente, remete para o nome do eleito,
conhecido como “Infante de Sagres” e também para a escola de navegação que este fundou e que simboliza o
início da expansão marítima.
5. O apelo final é dirigido a Deus e justifica-se pelo desalento causado pelo fim do império marítimo. Torna-se
assim, urgente um novo sonho, que potencie a construção de um império de outra ordem, mais completo
porque integrará uma dimensão material e outra espiritual.
6. A gradação, presente no primeiro verso, reflete as etapas que permitirão a concretização da obra: querer,
sonhar, nascer. A personificação, a sugerir a rapidez das descobertas, está presente em “E a orla branca foi de

6
ilha em continente, / Clareou, correndo, até ao fim do mundo” (vv.5-6). Emprega-se ainda a apóstrofe
(“Senhor”, v.12) para identificar o interlocutor e a necessidade da intervenção divina para o nascimento de
um novo império.
Horizonte
1. Denotativamente, o título significa a linha longínqua da costa onde parecem unir-se o céu e a terra.
Conotativamente, sugere o desconhecido, o medo, o que está além do alcance da vista.
2. Existem dois tempos distintos: o antes e o depois dos Descobrimentos. O primeiro corresponde ao “mar
anterior a nós” (v.1), precedente à grande empresa dos portugueses. O segundo, visível em “Desvendadas a
noite e a cerração,/ As tormentas passadas e o mistério” (vv.3-4), remete para um tempo posterior às
descobertas. O espaço está também relacionado com o antes e o depois de se desvendarem os mares: o
desconhecido responsável pelas tormentas dá lugar ao conhecido, depois que a nau faz a sua aproximação
progressiva da costa e desvenda o “horizonte” (v.16), tornando-se, assim, um espaço concreto, real e já não
do sonho.
3. O sonho é o motor da ação humana. Se o ser humano não sonhar, a obra não nascerá e nada lhe permitirá
distinguir-se dos outros animais. Por isso, o sonho dá sentido à vida e preenche o coração. Se não fosse o
sonho, o “horizonte” (v.16) não seria alcançado.
Padrão
1. Ao «padrão» (marco de pedra com emblemas simbólicos, que assinalava a posse de Portugal sobre as terras
descobertas) são atribuídas, neste poema, as seguintes funções:
- Assinalar a passagem de “Eu, Diogo Cão” pelo “areal moreno”, ou seja, o cumprimento da parte que lhe cabe na
realização da “obra ousada”;
- Testemunhar, pelas “Quinas” gravadas no monumento, o domínio português do oceano;
- Manifestar, através da “Cruz” que encima o “padrão”, a transcendência do objetivo último da navegação do
“eu”, isto é, a demanda de Deus.
2. O paralelismo de construção dos versos 1 e 5 – resultante da estrutura em forma de máximas, assentes em
antíteses – gera relações de sentido entre os seus elementos que evidenciam:
- As imitações do “homem” e as imperfeições da obra humana;
- O impulso humano de autossuperação e de procura da perfeição “divina”;
- A grandeza do “esforço” do homem” no confronto com os seus limites.
3. O campo lexical referente à navegação («navegador», «padrão», «areal», «naveguei», «vento», «céus»,
«oceano», «mar com fim», «mar sem fim», «navegar», «calma», «porto […] por achar») torna-se o mais
importante do texto, pela quantidade e diversidade dos seus elementos, produzindo um discurso poético centrado
no ato de navegar, que é canto da viagem marítima e de exaltação da descoberta, e também metáfora da
demanda do transcendente.
4. Contrapondo o «mar com fim», «grego ou romano», ao «mar sem fim», «Português», o poema enaltece as
viagens marítimas dos Portugueses, afirmando a sua superioridade relativamente às dos povos da Antiguidade

7
Clássica: estes dominaram apenas o conhecido, do «mar sem fim» que desvendaram acentuando-se, assim, a sua
dimensão épico-heróica.
5. São traços do auto-retrato do sujeito do poema:
- A ânsia e a exaltação de navegar, impelindo-o sem cessar «para diante», na busca do «porto sempre por achar»;
- O sentimento de insatisfação, de desejo de perfeição, a par da consciência dos limites humanos e do orgulho
pela obra realizada.
- A determinação, a capacidade de esforço, de auto-superação.
- A consciência de realizar uma obra que tem uma dimensão transcendente e coletiva.
- O sentimento de respeito e de fascínio pelo oceano.

Mostrengo
1. Este poema gira em torno da figura do Mostrengo – mito das histórias fantásticas que contavam e que
amedrontavam mesmo aqueles marinheiros mais corajosos. As expressões que melhor o caracterizam são:
“ergueu-se a voar” e “Voou três vezes a chiar”, também nas expressões: “rodou imundo e grosso”. Portanto,
pelas expressões verificadas pode-se dizer que este monstro era uma figura temida pela sua envergadura, que
assusta a ameaça aos navegadores. Pertence à segunda parte – Mar Português – onde surge a realização e a
vida e refere personalidades e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o
desconhecido e os elementos da natureza…
2. Este poema integra-se na segunda parte da Mensagem – Mar Português – onde o poema enaltece os
marinheiros excelentes que ousaram enfrentar o mar desconhecido, dominando o próprio medo, sublimando
a Pátria-mãe pela realização de uma epopeia de caráter universal.
3. Este poema, o Mostrengo, apresenta uma profunda semelhança com o episódio do Adamastor de Os
Lusíadas, Canto V, de Luís de Camões. Trata-se de retomar a alegoria presente nesse episódio, pois tal como
este, ele é o guardião do mar tenebroso, no cabo das Tormentas, mais tarde o Cabo da Boa Esperança.
Simboliza também as dificuldades, os medos, aa coragem, as barreiras que os Portugueses tiveram que
ultrapassar para dominar os mares.
4. Os recursos estilísticos presentes:
a. Hipérbole, “no fim do mar”, (v.1)
b. Metáfora, “noite de breu”, (v.2)
c. Adjetivação, “Tectos negros”, v.7 / “imundo e grosso” v.13.
d. Aliteração (repetição de sons consonânticos), v.10 e 11;
e. Anáfora De quem, v.10 e 11; 3 V.16 e 17; Três vezes, v.19 e 20.
f. Repetição no verso final de cada estrofe, como se tratasse de um refrão: “El Rei D. João Segundo;
g. Onomatopeia “chiar”, v.4.
5. O Homem do leme torna-se, neste poema, o símbolo de Portugal que não tem medo e representante de um
Rei – D. João II (que concebeu o «plano da Índia» já começado pelo seu tio-avô D. Henrique)- e de um Povo de
coragem que quer dominar os mares e levar essa missão até ao fim, custe o que custar.

8
Ocidente
1. O país encontra-se numa crise de identidade e de fragmentação (“tudo é disperso, nada é inteiro”), num
estado de desalento e de indefinição, onde a ausência de sentido e de força anímica imperam (“ninguém sabe
que coisa quer”). Destacam-se as ausências de brilho e de alma (“fulgor baço”, “brilho sem luz”) capazes de o
“rejuvenescer”.
2. O título remete para um estado de falta de clareza e indefinição. O conteúdo do poema, além de desenvolver
esta ideia, enuncia as razões pelas quais o estado de Portugal pode ser considerado “nebuloso”: falta de
vontade e de ânimo dos seus habitantes.
3. Atendendo ao caráter exortativo, tratar-se-á de um apelo e de um incentivo à ação. Perante a constatação do
estado de “tristeza” em que Portugal se encontra, o sujeito poético exorta à ação, pois é chegada a hora de os
portugueses despertarem e transformarem o “fulgor baço” em brilho claro.

Ascensão de vasco da gama


1. A figura de Vasco da Gama é engrandecida através de vários processos. Em 1º lugar a ascensão aos céus,
elevação, que o coloca num plano superior à simples e perecível condição humana pois, liberto do corpo, é
agora alma. Em 2º lugar, os efeitos provocados por essa subida do herói aos céus: o pasmo dos deuses e dos
gigantes, o assombro dos homens representados pelo Êxtase do pastor, o silêncio da terra. Finalmente, o
nome de Argonauta dado ao Gama, que o identifica com os heróis míticos da Grécia Antiga, aqueles que
como Vasco da Gama, demandavam o desconhecido. Atravessando os mares comandados por Jasão, os
Argonautas procuravam o velo de ouro da Cólquida, símbolo do poder e da riqueza da procura do inacessível
e impossível.
2. São muitas as aliterações que conferem um tom musicalmente grandioso e épico ao poema: “terra (…) de
repente (…) guerra”; “se ascende aos céus / Surge um silêncio”; “e vai, da névoa ondeando os véus”; “o rasto
ruge”; “abrir o abismo”.

Mar português
1. A apóstrofe inicial, presente em “Ó mar salgado”, permite interpretar e identificar o responsável pelo drama e
pelo sofrimento dos portugueses envolvidos nos Descobrimentos.
2. O valor metafórico dos versos deve-se ao facto de se sugerir que o sal do mar advém das lágrimas vertidas
pelos portugueses, as quais, por sua vez, simbolizando o sofrimento e a dor inerentes aos Descobrimentos.
3. As expressões que se associam ao sofrimento são utilizadas para comprovar a afirmação inicial, apresentada
nos dois primeiro versos do poema. São elas: “lágrimas”, “cruzarmos” (que remete para a palavra cruz,
símbolo do sofrimento de Cristo), “choraram”, “rezaram”, “noivas ficaram por casar” (devido à morte dos
amados), “Bojador” (simbolizando os perigos e obstáculo encontrados), “dor” “perigo” e “abismo”.
4. A interrogação retórica introduz e enfatiza a reflexão posterior sobre a necessidade e a utilidade dos
sacrifícios.

9
5. A dimensão épica resulta da valorização e do entusiasmo perante a concretização do sonho e de ideias
elevados, como foram os Descobrimentos portugueses, capazes de conduzir à imortalidade. A vertente lírica,
por sua vez, decorre da expressão dos sentimentos do “eu” poético perante os efeitos nefastos das
descobertas e também da descrição do sofrimento dos que foram afetados por este empreendimento.
A ultima nau
1. No momento da partida da “última nau”, o estado de espírito era de sofrimento e ansiedade. O sofrimento
percebe-se nas referências aos chorors e ao “pressagp / Mistério”, a ansiedade deduz-se quer na referência
às “ânsias” quer nos mesmos presságios e no “sonho escuro / E breve”.
2. Há uma premonoção de desgraça, no meio de mistérios e presságios; aportará a uma ilha “indescoberta”,
seguindo uma “sorte incerta”, surgirá um dia com o “pendão ainda / do império”.
3. O Poeta é o profeta que tem a missão da regeneração nacional quando o povo se sente desalentado, sem
crença. O “eu” poético sente inflamado o seu espírito.
4. O sol é luz, conhecimento. Dentro da sua alma (“em mim”) o conhecimento acontece e a ignorâcia acaba, “a
névoa finda”. Há uma certeza interior, uma convicção do regresso do Encoberto.

Prece
1. O tema do poema, tal como sugere o título, é a súplica a alguém (Senhor, Deus, D. Sebastião…) para que
devolva ao povo português a cama que as cinzas ocultaram.
2. A noite sobrepõe-se ao dia, ao tempo da grandeza, pelo que, neste contexto, a “noite” corresponde ao
abatimento, à destruição, à tristeza e ao desalento.
3. O uso da primeira pessoa do plural expressa o coletivo, o povo português aqui representado pelo sujeito
poético, que assume como seu o desalento dos outros. Por isso, a sua única súplica é também a dos restantes
portugueses.
4. A metáfora e a personificação evidenciam a ideia de que a esperança pode ser novamente avivada, porque,
enquanto há vida, há esperança. Assim, tal como o fogo quase extinto pode ser reavivado pelo vento,
também o sonho pode vir a comandar de novo a ação dos portugueses.
5. O desalento é assumido pelo sujeito poético em representação dos outros, porque, no presente e a pós a
conquista do mar, só restam o silêncio e a saudade. Porém, também sobressai a ideia de que nem tudo está
perdido com uma atitude diferente, a situação pode alterar-se, o que deixa antever a esperança, a fé na
mudança.
6. O poema localiza-se no final da segunda parte (“Mar Português”), depois de ter sido apresentado o percurso
glorioso da nação, que se deveu ao poder do sonho, que é preciso, agora alimentar.
7. C. indireto.

10
D. Sebastião

Grupo I

1. Num discurso protagonizado pelo próprio herói mítico, D. Sebastião, (Vide 1ª pessoa do singular nas formas
verbais e pronomes) o próprio confronta-se na sua dimensão histórica e mítica. Relativamente à primeira, é a
figura histórica conhecida pelo combate aos infiéis mouros em Alcácer- Quibir, onde perde a vida ou
desaparece: “Caí no areal e na hora adversa/Que Deus concede aos seus”.
Quanto à dimensão mítica, que valoriza em detrimento da histórica, apresenta-se como o protegido eleito por Deus:
“com Deus me guardei?”, aquele que existe enquanto sonho eterno: “sonhei que eterno dura”, como tal, garante o
seu regresso: “Esse que regressarei.”
2. Em primeiro lugar, importa referir que é o próprio herói que reconhece a importância enquanto mito: “ Que
importa o areal e a morte e a desventura/ Se com Deus me guardei”. Por outro lado, são também expressivos e
reveladores dessa importância os pronomes pessoais complemento direto e demonstrativo: “ O” e “ Esse”, grafados
com maiúsculas.
3. O discurso do herói inicia-se com um imperativo exortativo, com valor de pedido “Sperai” e termina com a
justificação dessa solicitação, expressa através de uma forma verbal no futuro do indicativo, garante de certeza: “
Regressarei”. Em suma, o sujeito poético revela-se convicto do seu ressurgimento numa dimensão mítica, que só se
concretizará se houver uma espera envolta em crença.
4. Todo o mito sebástico é configurado a partir do messiânico. As três associações de D. Sebastião a Deus são prova
clara dessa associação. Primeiramente, o herói surge como eleito por Deus para uma existência enquanto símbolo e
mito: “Que Deus concede aos seus”, “Em sonhos que são Deus”. Finalmente, assegura a sua existência como
protegido por Deus: “Se com Deus me guardei?”, gozando à sua semelhança da capacidade de ressuscitar, regressar.

O quinto império
1. O sujeito poético critica a felicidade alcançada sem esforço e particularmente aqueles que se contentam com
pouco, sem que o sonho os mova, considerando “triste” todo aquele que vive apenas por viver (1ª estrofe).
2. O verso configura uma máxima através da qual se faz a apologia da inquietação, do descontentamento e do
sonho como meios para ultrapassar os limites e a finitude humanas.
3. O sonho é determinante para que a vida avance e para que o ser humano se realize. Por isso, deve dominar
“as forças cegas” (v.14), ou seja, tudo aquilo que impeça o homem de sonhar e de realizar os sonhos.
4. Os quatro impérios são a Grécia, Roma, a Cristandade e a Europa. De acordo com o sujeito poético, estes
serão esquecidos pelo surgimento de um novo império sob o comando de D. Sebastião, o messias redentor
que, tal como sugerido pela interrogação final, não terá morrido.
5. A enumeração tem como função presentificar os quatro anteriores impérios que agora darão lufar ao quinto.
A interrogação final evidencia que o mito, a fé e o sonho foram responsáveis pela grandeza dos portugueses
de outrora. Uma vez que essas características ainda não desapareceram, a interrogação funciona como um
incentivo, que parte da lição que os portugueses de agora deverão tirar da morte de D. Sebastião em nome
de um ideal e de uma quimera.
11
6. O poema é o segundo da terceira parte, onde a par do desalento pelo fim do império surge a esperança na
reconstrução e na afirmação da nação portuguesa, aqui projetada no mito do Quinto Império.

As ilhas afortunadas:

1. Para que a voz se manifeste, é necessário que quem ouve se encontre semiacordado ou num estado de
semiconsciência, sem procurar escutar essa voz (“E só se, meio dormindo / Sem saber de ouvir ouvimos”)
porque, se se acordar, ela deixa de ser ouvida (“Mas, se vamos despertando, cala a voz, e há só o mar”)
2. De acordo com o sentido dos dois últimos versos do poema, quando se desperta do estado de semiconsciência, a
voz do mar / aa voz trazida pelo “som das ondas”, associada a uma ideia de esperança, desaparece e o mar passa
a ser apenas uma realidade objetiva.
3. Na última estrofe, está presente o mito sebastianista, já que nela está expressa a esperança no regresso do rei D.
Sebastião e, consequentemente, a passibilidade de resgatar a glória de Portugal. Assim, existe a referência a um
espaço mítico onde o Rei se encontra (“são ilhas afortunadas, / são terras sem ter lugar”), onde aguarda o
momento de agir, (“Onde o Rei mora esperando”).

António Vieira.

1. Na verdade, há todo um discurso de elogio de António Vieira neste poema, mais concretamente pelas duas
expressões: «Imperador da língua portuguesa / No imenso espaço seu de meditar». Quanto ao primeiro, refere-se ao
seu papel de educador e evangelizador no Brasil. Relativamente ao segundo, refere-se ao carácter visionário que do
profeta que prevê o quinto Império, e ao filósofo/pensador.
12
2.De facto, nas duas primeiras estrofes António Vieira surge associado metaforicamente ao céu, mais
especificamente a partir dos versos: «Foi-nos um céu também» / «Constelado de formas e de visão». Em primeiro
lugar, há uma diferença de intenções na associação de António Vieira ao céu na primeira e segundas estrofes. «Foi-
nos um céu também», mostra a amplitude universal da cultura e língua portuguesa que António Vieira conseguiu.
Posteriormente a segunda associação aponta para a importância do céu e de religião na profecia do «Quinto
Império».
3. A configuração do Quinto Império é toda ela feita com recurso a elementos relacionados com o tempo;
meteorologia, clima. Primeiramente na segunda estrofe associa-se a luar: «Surge, prenúncio claro de luar», mas na
terceira estrofe é clarificado que não se trata de uma luz ofusca mas sim de uma luz etérea e clara como o dia: “... é
luz do etéreo/ É um dia...”. Finalmente, apresenta-se uma dimensão utópica deste «Quinto Império». Existe
exclusivamente enquanto crença: «... amplo de desejo», é do domínio da ficção: «madrugada irreal», permitindo
contudo à revitalização espiritual de Portugal: «Doira as margens do Tejo».
4. António Vieira é um dos Avisos, precedido de “Bandarra” e sucedido de “ Escrevo meu livro à beira mágoa”.
Internamente à terceira parte onde os “Avisos” se integram, “ O Encoberto”, são precedidas de “Símbolos” e segue-os
os “Tempos”. Toda a terceira parte da obra trata simbolicamente a morte e a possibilidade de renovação da Nação.
Como tal D. Sebastião é metáfora do Estado da Nação. Essa possibilidade de regresso mítico do rei é expressa pelo
profeta António Vieira.

Screvo meu livro à beira mágoa


1. O sujeito poético encontra-se à beira do abismo, nos limites da mágoa, tendo necessidade de se refugiar no
mito de um redentor para preencher os seus “dias vácuos” (v.6). Mostra-se, assim, convicto da vinda de um
messias, embora não saiba quando.
2. Na primeira parte, correspondente aos seis primeiros versos, sujeito poético dá conta da sua tristeza e do
único alento que tem para viver; na segunda, que se inicia com a conjunção “Mas” (v.7), o “eu” lança uma
série de perguntas introduzidas por “Quando” e dirigidas a uma entidade mítica, designada por vários nomes
(Rei, Hora, Cristo, Encoberto, Sonho, Senhor), e apela à sua rápida vinda, porque só assim ele se libertará da
incerteza e se realizará o sonho de alcançar “A Nova Terra e os Novos Céus” (v.12).
3. O uso sistemático das interrogações traduz o desespero e a ansiedade do sujeito poético, que interroga o seu
presumível interlocutor, com o objetivo de conhecer as circunstâncias do seu regresso.
4. A “Nova Terra” e os “Novos Céus” simbolizam o novo império, uma nova realidade que será construída com a
ajuda do Sonho, do Senhor a que o “eu” se dirige.

Antemanhã
1. As oposições que estruturam o poema são: “trevas”/”madrugada do novo dia”, ”dorme / desvendou”,
“mostrengo servo / senhor”, “aquele que está dormindo / foi outrora Senhor do Mar.”
2. Em O Mostrengo, o monstro tem para com o “homem do leme”, símbolo dos navegadores e do povo
português, uma atitude de desafio. Ele é o obstáculo a vencer, os perigos a ultrapassar, os medos a domar, o

13
inimigo a abater. Neste poema, o mostrengo já é “servo”, já foi domado e não aceita que o seu senhor, que
foi outrora “Senhor do Mar”, tenha agora uma atitude de total inércia. O mostrengo tenta acordar esse herói
de outras eras, tenta reavivar essa força do passado para que desvende o “Terceiro Mundo”.
3. Os dois últimos versos do poema sintetizam a ideia central do poema. Na verdade, estes versos acabam por
constituir uma espécie de apelo desse “mostrengo servo” para que aquele que no passado dominou os mares
e agora “dorme” , acorde e parta para a conquista de um novo mundo, para em busca daquela 2Índia que não
há”.
4. Mensagem apresenta uma estrutura tripartida: “Brasão”, em que se exaltam as figuras históricas ligadas à
fundação do país e personalidade nacional, “Mar Português”, em que as descobertas e a conquista do mar
são o ponto fulcral, e o “Encoberto”, em que se anuncia o mito do “Quinto Império” (um império cultural)
dominado pela língua e cultura portuguesas). O conceito de “Quinto império” está relacionado com um novo
conceito de “Sebastianismo”. Pessoa retira a carga passadista e negativa do sebastianismo tradicional e
defende um sebastianismo regenerador, voltado para o futuro, promissor, dotado de uma dimensão cultural
e cuja figura central seria um Super-Camões. Assim, é possível perceber que o Terceiro Mundo que o
Mostrengo quer que o seu senhor desvende não seja mais do que uma alusão ao Quinto Império, esse
império da língua e da cultura portuguesas, construído pela força da poesia e dos sonhos, império imaterial e
eterno.

Nevoeiro

1. O título do poema aponta logo para uma situação de indefinição, que depois se desenvolve num tom de
melancolia, marcado por palavras e expressões de negatividade (nem – advérbio de negação e ninguém –
pronome indefinido), caracterizando a situação de crise a vários níveis: de identidade, política e moral. O
estado em que ficou o país é de incerteza e de indefinição: “Ó Portugal, hoje és nevoeiro…”
2. Aqui estão presentes sentimentos de tristeza: “Portugal a entristecer”; de confusão: “Ninguém sabe que coisa
quer”; de ansiedade: “Que ânsia distante perto chora?”.
3. Este poema pertence à 3ª parte de Mensagem, O Encoberto, mais assumidamente sebastianista. O Rei
Encoberto virá numa manhã de nevoeiro salvar Portugal do estado de crise e de incerteza em que o deixou. A
morte do Rei em Alcácer-Quibir preconizará um renascimento; Portugal voltará a ser o V Império que foi
outrora: “É a Hora!”.
4. - Anáfora: a repetição de palavras no início de frases (Nem…Ninguém…Tudo…), para enfatizar a situação de
crise;
- Personificação: no v.4 (Portugal a entristecer) para acentuar a sensação de sofrimento da Pátria;
- Antítese: “brilho sem luz”, no v.5, mal/bem, no v.9 distante/perto no v.10 e tudo/nada no v.12, distinguindo
opostos que caracterizam o presente mau e o passado bom;
- Apóstrofe: “Ó Portugal…”, como se Portugal pudesse escutar um apelo e agisse;
- Adjetivação: para melhor caracterizar e qualificar o substantivo: “fulgor baço”;
- Exclamação no verso final como se fosse um grito de mudança.
14

Você também pode gostar