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Questão de aula Contos

Nome: _________________________________________________________ N.º: ___ Turma: _______

Avaliação: _________________________________ O professor: _____________________________

1. Lê atentamente o excerto do conto “Sempre é uma companhia” de Manuel da Fonseca.

Mal o carro parte, deixando uma nuvem de poeira à retaguarda, atira a pasta para o assento
de trás, e grita alegremente:
– Hem, Calcinhas! Levou-me uma tarde inteira, mas foi. Foi de esticão!
De facto, era sol posto, pelos atalhos, os ceifeiros recolhiam à aldeia.
Mas, nessa tarde, vieram todos à venda, onde entraram com um olhar admirado. Uma voz
forte, rápida, dava notícias da guerra.
Só de lá saíram depois de a voz se calar. Cearam à pressa, e voltaram. Era já alta noite
quando recolheram a casa, discutindo ainda, pelas portas, numa grande animação.
5 Um sopro de vida paira agora sobre a aldeia. Todos sabem o que acontece fora dali. E sen-
tem que não estão já tão distantes as suas pobres casas. Até as mulheres vêm para a venda
depois da ceia. Há assuntos de sobra para conversar. E grandes silêncios quando aquela voz
poderosa fala de cidades conquistadas, divisões vencidas, bombardeamentos, ofensivas. Tam-
bém silêncio para ouvir as melodias que vêm de longe até à aldeia, e que são tão bonitas!…
Acontece até que, certa noite, se arma uma festa na venda do Batola. Até as velhas dança-
ram ao som da telefonia. Nos intervalos, os homens bebiam um copo, junto ao balcão, os
pares namoravam-se, pelos cantos. Por fim, mudou-se de posto para ouvir as notícias do
mundo. Todos se quedaram, atentos.
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– Ah! – grita de repente o Batola. – Se o Rata ouvisse estas coisas não se matava!
Mas ninguém o compreende, de absorvidos que estão.
E os dias passam agora rápidos para António Barrasquinho, o Batola. Até começou a le-
vantar-se cedo e a aviar os fregueses de todas as manhãzinhas. Assim, pode continuar as con-
versas da véspera. Que o Batola é, de todos, o que mais vaticínios faz sobre as coisas da guerra.
Muito antes do meio-dia já ele começa a consultar o velho relógio, preso por um fio de ouro
ao colete.
FONSECA, Manuel da, 2014. “Sempre é uma companhia”. In O Fogo e as Cinzas.
20.ª ed. Lisboa: Caminho (pp. 155-157) (1.ª ed.: 1951)
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1.1. Identifica o recurso expressivo concretizado em “um sopro de vida” (l. 9) e destaca o seu valor.
1.2. “E sentem que não estão já tão distantes as suas pobres casas.” (ll. 9-10)
1.2.1. Explicita a conceção de espaço presente na frase e refere dois dos motivos que a
determinam.
1.3. Justifica, recorrendo a elementos textuais, as mudanças provocadas pela chegada da
“telefonia” (l. 15) na vida de António Barrasquinho, o Batola.

Sugestões de resolução das Questões de aula

Contos

1.1. A expressão concretiza uma metáfora que salienta os efeitos da chegada da “telefonia” (l. 15) à
“aldeia” (l. 4), alterando os hábitos dos habitantes (ll. 5-8), o seu estado de espírito ( “grande
animação”, l. 8, e “festa”, l. 14) e a sua ligação com “o que acontece fora dali” (l. 9).

1.2.1. A passagem apresenta uma conceção psicológica do espaço, sugerindo que, através da
telefonia, se encurtara a distância entre a aldeia e o resto do mundo. Tal ocorre porque o aparelho
permite aos habitantes da aldeia estarem informados sobre “o que acontece fora dali” (l. 9) e
fornece-lhes, com a divulgação de notícias sobre a guerra (ll. 11-13), sobre o “mundo” (ll. 16-17) e a
música, “assuntos de sobra para conversar” (l. 11), quebrando o isolamento em que viveram até
então.

1.3. Com a chegada da telefonia, o Batola “começou a levantar-se cedo e a aviar os fregueses de
todas as manhãzinhas” (ll. 20-21), porque, desse modo, podia “continuar as conversas da véspera”
(ll. 21-22) e discutir “as coisas da guerra” (l. 22).

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