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Ponto I:
Questão 1:
António Barrasquinho era um homem que vivia uma vida absorvida pela monotonia e
pela solidão. Acordava todos os dias vagarosamente e, dominado pela sonolência, ia para a sua
venda, onde passava o tempo a beber vinho, com as mãos pousadas no queixo. Aí ficava
Batola, com um olhar apático. Não existia nada vida deste homem que o motivasse. Não tinha
ninguém para conversar e não havia nenhuma atividade que o estimulasse a agir para além do
consumo de álcool, que servia como uma maneira de desvincular-se da rotina desmotivadora a
que estava preso (evasão espacial).
Outro fator que dava um pouco de emoção a esta vida inundada pela inércia era a
raiva que sentia pela mulher. Era ela quem tomava conta da casa e da venda. Quando não
podia atender os clientes, Batola era obrigado a fazê-lo. Assim que acabava a tarefa, sentava-
se e bebia, ruminando a fúria que sentia por ela, algo que durava há anos. Este sentimento
provinha da atitude autoritária e inflexível adotada pela mulher, sendo que o personagem vivia
submisso aos desejos da mesma. Por vezes, estes episódios chegavam ao ponto em que o
álcool lhe fornecia a energia e a sensação de poder suficiente para se darem casos de violência
física contra a mulher.
Contudo, após o surgimento do vendedor na aldeia, que lhe propõe ficar com uma
telefonia durante um mês, a vida de Batola ganhou um novo rumo. Começou a ter muita gente
com quem conversar. Os dias para ele passavam, agora, rapidamente. Levantava-se cedo e
atendia os clientes, falava com eles sobre o que tinham ouvido na noite anterior, e até fazia
conjeturas sobre aquilo que ouvia da guerra. Batola sentia-se animado, energético e motivado.
Finalmente foi-lhe proporcionada a convivência que tanto desejava, bem como a oportunidade
única de aprender mais sobre o mundo fora da aldeia numa escala muito superior àqueles
relatos dados pelo Rata.
Porém, num ápice, o final do mês chega. Os dias que passavam, em tempos,
vagarosamente, corriam rapidamente graças à telefonia. Batola não se deu conta de o tempo
passar e, portanto, não convenceu, não chegou a tentar fazer a sua mulher mudar de ideias.
Apesar de este objeto ter dado uma nova vida a António Barrasquinho, este era um homem
honesto e estava pronto a devolver a telefonia. Nesse dia, Batola caiu numa grande tristeza,
por ter que voltar à vida que o desmotivava e o deixava infeliz.
Questão 2:
Questão 3:
Acima de tudo, o Batola sente-se sozinho até mesmo no seu casamento. Até ao
momento da venda da telefonia, a mulher mostra-se inflexível perante as vontades do marido.
Contudo, pela primeira vez, este impõe-se perante ela, mesmo não sendo bem-sucedido.
Ponto II:
Num primeiro contacto com o vendedor, Batola assume uma posição de desconfiança
em relação ao homem, pois nunca ninguém visitava a aldeia. Contudo, devido a ser um
homem do campo simples e ingénuo, rapidamente ganha apreço pelo vendedor da telefonia,
que se mostra bastante sociável e simpático (“(…) gesticula e sorri, sorri sempre (…)”). Este
homem citadino começa uma conversa que o Batola não consegue acompanhar, deixando-o
confuso e vulnerável ao jogo de sedução e manipulação do personagem.
A corrente neorrealista tem por base a denúncia das diferenças sociais existentes
entre as diferentes classes. Neste conto, podemos verificar essa característica através do
contraste entre duas realidades: a vida citadina, moderna e com fortes relações com a
tecnologia, representada pelo vendedor e pelo Calcinhas; e a vida campestre, relatada através
da narração do dia-a-dia do Batola. É ainda evidenciado o desprezo que as personagens vindas
da cidade sentem pela realidade rural (“Que sítio!…”).