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Exames - Mensagem

Exame 2022 1ª fase


D. Sebastião

‘Sperai! Caí no areal e na hora adversa


Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.

Que importa o areal e a morte e a desventura


Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.

1. No poema, está presente um «eu», D. Sebastião, que se dirige a um «vós», os Portugueses.


Explicite o apelo feito na primeira estrofe e, com base nesse apelo, infira os sentimentos desse
«eu» e desse «vós».

Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.


− Explicitação do apelo que D. Sebastião dirige aos portugueses: incita-os a aguardar o seu regresso
messiânico (no pressuposto de que a morte física é um momento transitório em que os sonhos «são
Deus» – v. 4).
− Identificação dos sentimentos do «eu» e do «vós»: D. Sebastião revela confiança na concretização
dos seus sonhos (apesar da sua morte); o apelo de D. Sebastião permite inferir que os portugueses
manifestam desânimo/descrença, o que leva o rei a incutir-lhes um sentimento de esperança no seu
regresso/naquilo de que ele é o símbolo.

2. Evidencie a presença do herói histórico e a presença do herói mítico na segunda estrofe do


poema, fundamentando a resposta com a referência a um elemento textual para cada um dos
tipos de herói.

Relativamente a cada uma das dimensões do herói, deve ser abordado um dos tópicos seguintes, ou
outros igualmente relevantes:
Herói histórico
− referência ao «areal» para identificar o local da batalha em Alcácer Quibir/no Norte de África;
− referência à «morte» física de D. Sebastião no decurso da batalha;
− referência à «desventura» que conduziu à morte do rei (e à desgraça do país).
Herói mítico
− referência ao carácter transcendente de D. Sebastião, enquanto figura guardada por Deus/enquanto
figura identificada através do uso de maiúsculas em «O» e «Esse»;
− referência à permanência do sonho do rei, que é aquilo que «eterno dura» (v. 7);
− referência à certeza do regresso do rei enquanto sonho criador.

Exame 2018 1ª fase


Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo


De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,


Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando,


Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?

1. Caracterize o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos.
Para caracterizar o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos, devem ser
abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒ a dor/mágoa/tristeza/amargura manifestada pelo sujeito poético;
‒ a desilusão/frustração sentida relativamente à pátria do presente;
‒ a esperança na vinda do «Senhor», a qual preenche o seu vazio interior.

2. Justifique o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do


poema.
Para justificar o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa, devem ser abordados dois dos
tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒ expressão da ansiedade de quem deseja saber quando virá o «Senhor»;
‒  expressão da incerteza quanto ao momento em que o regresso do «Senhor» acontecerá (mas
também da certeza da sua vinda);
‒  apelo insistente para que o «Encoberto» volte (para pôr fim ao «mal» e criar «A Nova Terra e os
Novos Céus» – vv. 11 e 12).

3. Explique, com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser
considerado um profeta.
Para explicar a razão pela qual o sujeito poético pode ser considerado um profeta, devem ser
abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒ anuncia a vinda do «Encoberto» (D. Sebastião)/a construção do Quinto Império;
‒ deseja a realização do «Sonho das eras português» (v. 14);
‒ espera cumprir o «grande anseio que Deus fez» (v. 16);
‒ é o porta-voz de um desejo/sonho coletivo.

4. Identifique duas características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema e


transcreva um exemplo significativo para cada uma delas.
Na resposta, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒  recurso à primeira pessoa do singular em formas verbais, como «Screvo» (v. 1) ou «Tenho» (v.
3)/em determinantes possessivos, como «meu» (vv. 1 e 2)/em pronomes pessoais, como «me» (v. 4);
‒ expressão da subjetividade/do mundo interior/dos sentimentos do sujeito poético, patente, por
exemplo, no verso «Meu coração não tem que ter.» (v. 2);
‒ visão subjetiva do destino nacional, evidenciada, por exemplo, nos versos «Quando virás, ó
Encoberto, / Sonho das eras português, / Tornar-me mais que o sopro incerto / De um grande anseio
que Deus fez?» (vv. 13-16);
‒ recurso à interjeição para expressar ansiedade ou desejo em «Ah, quando quererás, voltando, / Fazer
minha esperança amor?» (vv. 17-18)

Exame 2015 2ª fase


AS ILHAS AFORTUNADAS

Que voz vem no som das ondas


Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,


Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,


São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.

1. Refira a condição necessária à manifestação da voz e transcreva elementos do texto que


justifiquem a sua resposta.
Para que a voz se manifeste, é necessário que quem ouve se encontre semiacordado, ou num estado
de semiconsciência, sem procurar escutar essa voz – «Mas que, se escutamos, cala, / Por ter havido
escutar» (vv. 4-5); «E só se, meio dormindo, / Sem saber de ouvir ouvimos,» (vv. 6-7); «Mas, se vamos
despertando, / Cala a voz, e há só o mar.» (vv. 14-15).

2. Explique o sentido dos dois últimos versos do poema.


De acordo com o sentido dos dois últimos versos do poema, quando se desperta do estado de
semiconsciência:
–  a voz do mar / a voz trazida pelo «som das ondas» (v. 1), associada a uma ideia de esperança,
desaparece;
– o mar passa a ser apenas uma realidade objetiva.

3. Explique de que modo o conteúdo da última estrofe convoca o mito sebastianista.


Na última estrofe, a esperança no regresso do Rei D. Sebastião e, consequentemente, na possibilidade
de resgatar a glória de Portugal está associada a aspetos como:
–  a existência de um espaço mítico onde o Rei se encontra
– «São ilhas afortunadas, / São terras sem ter lugar,» (vv. 11-12);
– o facto de o Rei aguardar o momento de agir
– «Onde o Rei mora esperando.» (v. 13).
Exame 2011 2ª fase

1. Explicite três dos aspectos que, nos versos de 1 a 12, se referem ao mito
sebastianista, fundamentando a sua resposta com elementos do texto.
Nos versos de 1 a 12, os aspectos que se referem ao mito sebastianista são os seguintes:
–  o desaparecimento misterioso da «última nau» e de D. Sebastião – «Levando a bordo El-
Rei D. Sebastião» (v. 1); «Foi-se a última nau» (v. 4); «Mistério.» (v. 6); «Não voltou mais.»
(v. 7);
–  a associação do desaparecimento da «última nau» e de D. Sebastião ao fim do Império
português – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, / E erguendo, como um nome, alto o
pendão / Do Império, / Foi-se a última nau» (vv. 1 a 4); «Não voltou mais.» (v. 7);
–  o pressentimento de desgraça associado à partida da nau – «Foi-se a última nau, ao sol
aziago / Erma, e entre choros de ânsia e de pressago / Mistério.» (vv. 4 a 6);
– as incertezas quanto ao destino de D. Sebastião – «A que ilha indescoberta / Aportou?»
(vv. 7 e 8);
–  as expectativas quanto ao regresso de D. Sebastião – «Voltará da sorte incerta / Que
teve? / Deus guarda o corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro / E
breve.» (vv. 8 a 12).

2. Caracterize, com base na terceira estrofe do poema, o modo como o sujeito poético e
o povo português reagem ao desaparecimento da «última nau».
De acordo com o conteúdo da terceira estrofe do poema:
–  o povo português, perante o desaparecimento da «última nau», na qual seguia D.
Sebastião, reage com desânimo (v. 13);
–  o sujeito poético manifesta uma viva crença no regresso de D. Sebastião e no Império
que ele simboliza (vv. 14 a 18).

3. Relacione o conteúdo da última estrofe com a pergunta «Voltará da sorte incerta / Que
teve?», formulada nos versos 8 e 9.
A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros considerados
relevantes.
Na última estrofe, o sujeito poético responde afirmativamente à pergunta enunciada nos
versos 8 e 9, apresentando:
–  o regresso de D. Sebastião e do Império que ele simboliza como uma certeza obtida por
intuição – «sei que há a hora» (v. 19); «Surges ao sol em mim» (v. 22); «trazes o pendão
ainda / Do Império.» (vv. 23 e 24);
–  o momento exacto em que esse acontecimento terá lugar como uma incerteza – «Não sei
a hora» (v. 19); «Demore-a Deus» (v. 20); «Mistério.» (v. 21).

4. Identifique, no poema, uma característica do discurso épico e uma característica do


discurso lírico de Mensagem, citando um exemplo significativo para cada um dos
casos.
A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros considerados
relevantes. Características do discurso épico:
–  uso narrativo da 3.ª pessoa – «Foi-se a última nau» (v. 4); «Não voltou mais.» (v. 7);
– importância conferida à História – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião» (v. 1);
– mitificação de um herói – «Deus guarda o corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz
projecta-o, sonho escuro / E breve.» (vv. 10 a 12).
Características do discurso lírico:
– expressão da subjectividade, evidente no uso da primeira pessoa
– «minha alma» (v. 14); «em mim» (vv. 16 e 22); «Vejo» (v. 17); «Não sei» (v. 19); «sei» (v.
19) – e no uso da interjeição – «Ah» (v. 13);
– proximação entre o sujeito e o destino nacional, patente na convicção intuitiva de que o
mito será concretizado (vv. 16 a 18; vv. 22 a 24).
1997 1ª fase 1ª chamada
Exame 2013 1ª fase

1. Caracterize o momento presente tal como é representado na primeira estrofe.


A perceção que o “eu”  tem do momento atual é  transmitida pela utilização metafórica do vocábulo “noite” 
simbolizando o fim e o vazio associados a uma “alma vil”. No presente, nada resta das glórias e conquistas 
do  passado  nem  do  (re)conhecimento  “universal”  do  mar,  o  que  provoca  uma  enorme  saudade
geradora  de  desânimo. Conclui‐se, assim, que o presente é dominado pela prostração e abatimento. 
2. Explicite os efeitos de sentido produzidos pela exclamação «Tanta foi a tormenta e a vontade!»
(verso 2).
Ao  igualar  a  força  da  “vontade”  à  da  “tormenta”,  o  “eu”  enaltece  a  coragem  e  a  dimensão 
heroica dos 
portugueses, que nunca se furtaram à dor e às aflições. Tendo vencido os tormentos e obstáculos, marcara
m  indelevelmente  a  História  gloriosa  de  Portugal,  ao  contrário  do  que  acontece  no  presente,  que 
se  afigura  triste, nubloso e marcado pela ausência de ambição.

3. Relacione a referência à «chama, que a vida em nós criou» (verso 5) com o sentimento sugerido no
verso 8.
A  “chama”  referida  no  verso  5  é  uma  alusão à  força  dos  portugueses  que  os  incentivou  e 
empurrou,  no  passado, para vastos e fecundos projetos, criadores de glória. No verso 7, afirma-
se que essa luz e esse fogo 
não morreram completamente, apenas se encontram encobertos pelas cinzas. Assim, e relacionando os vár
ios  versos  da  estrofe,  afirma‐se  que,  uma  vez  que  ainda  há  vida  (verso  6),  ainda  há  esperança 
e,  portanto,  a  “chama”  pode  ser  reavivada  até  pela  força  “do  vento”  (verso  8).  Implicitamente,  o 
“eu”  transmite  uma  mensagem de ânimo e confiança. 

4. Interprete o sentido da última estrofe, tendo em conta o título e a apóstrofe presente no primeiro
verso do poema.
Tal  como  é  referido  no  título,  o  poema  é  uma  “prece”.  No  verso  1,  está  expresso  o  vocativo, 
“Senhor”;  seguidamente, faz‐
se uma caracterização dos tempos vividos – o passado glorioso e o presente sem brilho – e 
só na última estrofe é  retomada a  súplica, como  se verifica pelo imperativo “dá”. O “eu” pede o impulso, a 
força (“o sopro, a aragem”) necessários para reavivar a chama (“o esforço se remoça”) de modo a que Port
ugal 
recupere o fulgor e volte às conquistas, sejam do mar, sejam outras; o que se pretende é que os portugues
es  obtenham de novo glórias (“outra vez conquistemos a Distância”). 

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