Obedecem-me agora muito menos,

 Ao longo do poema opõe-se dois tempos: o passado e o presente

as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram-se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo-de-artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
(“agora”). Com o passar dos anos a relação do sujeito poético com as
palavras mudou e, no presente, é caracterizada da seguinte forma:
Passou a sentir mais dificuldade em dominar as palavras (vv. 3-4),
que o ignoram.
As palavras começaram a resmungar (vv. 2- 3).
As palavras não lhe obedecem ou obedecem-lhe menos (vv. 1-2).
As palavras desrespeitam-no, desrespeitam a sua idade (v. 5).
As palavras são “ariscas” e escapam-se-lhe “por entre as mãos”
(vv. 16-17).
As palavras mostram-lhe os dentes, como forma de protesto
(v.17).
Ao longo do poema há uma personificação das palavras, que parecem ter
vida própria, principalmente no momento presente.; mostram-se
independentes, sentem, reagem e lutam com o sujeito poético.

paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
Também existem metáforas, ao haver uma associação das palavras com
animais: são desobedientes, arreganham os dentes (cães), eram
controladas por rédeas (cavalos).
Mostra-nos o processo de criação artística do sujeito: rigoroso e
meticuloso, controla as palavras com “rédea”, e “mão rigorosa” e recusa
de “artifícios”.
No passado, a relação deles era harmoniosa, as palavras eram obedientes
e havia alegria.

as mãos, arreganham os dentes

se tento retê-las. Ou será que Apesar de ao longo do poema, ele atribuir esta mudança na
relação às palavras, a interrogação final mostra que afinal não está
já só procuro as mais encabritadas?' certo disso e que a “culpa” também poderá ser sua.

A alteração de comportamento das palavras deve-se:

 Ao envelhecimento do sujeito poético (v.5).

 O ele não escolher as palavras mais apropriadas (vv. 18-19).
 As palavras cansaram-se do controlo excessivo por parte do sujeito poético (v.6).