Você está na página 1de 2

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa O sujeito poético revela confusão e perturbação ao tomar

consciência de que, ao sentir “a Natureza de chapa/ Na


E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
cara”, quer perceber o que realmente se passa consigo. O
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
que devia ser apenas sentido passa a ser motivo de
Na cara dos meus sentidos,
perturbação, porque o levou, ainda que brevemente, aos
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
atos de questionar e pensar.
Não sei bem como nem o quê...

Interrogações retóricas  transmitem o espanto que o sujeito


  sente de si próprio, ao constatar que se deixou levar pela
Mas quem me mandou a mim querer perceber? “tentação” de “querer perceber”. Por outro lado, apesar de serem
Quem me disse que havia que perceber? interrogações, os versos transmitem assertividade, uma vez que
está implícita a decisão tomada pelo sujeito de não querer
  perceber.

Quando o Verão me passa pela cara Personificação  o verão é reduzido a uma sensação física.
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente, Apologia/ aceitação da natureza tal como é
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
Aliteração

1. Caracteriza a perceção que o “eu” tem da “Natureza”.


Segundo os primeiros quatro versos do poema, a perceção que o “eu” tem da
Natureza caracteriza-se “às vezes” por uma intensidade inesperada: a realidade
atinge o “eu” de forma física e direta (“bate-me a Natureza de chapa/ Na cara dos
meus sentidos”). A imagem que abre o poema torna particularmente impressivo o
caráter físico e avassalador de tal perceção, associada às sensações de calor e de
forte luz solar recebidas “num dia de verão” ao “abrir a porta de casa”.
2. Atenta nos versos 5 – 6 e descreve o estado de espírito do “eu”.
O “eu” sente-se “confuso” e “perturbado” perante a intensidade da sua perceção
da natureza, que tenta em vão compreender racionalmente. De facto, procura
defender-se do choque que a força da sensação lhe causou, transformando-a
numa questão racionalizável. Como não o consegue, permanece num estado de
confusão e dúvida, que as reticências e as interrogações no final da estrofe
sinalizam.
3. Explica a personificação presente nos versos 9 – 10.
A personificação tem os seguintes valores: intensificar a sensação física sentida
pelo “eu”, reduzindo o verão a esta. Por outro lado, expressa uma relação física e
direta entre o “eu” e a Natureza.
4. Comenta o sentido do último verso, enquanto conclusão do poema.
Através das perguntas na 2ª estrofe, o “eu” põe em causa a sua vontade de
“querer perceber”, isto é, como modo de reagir ao seu estado de desorientação, o
sujeito poético tenta libertar-se da própria necessidade de racionalizar, expressa
na estrofe anterior. Assim, o “eu” sugere que esse mesmo impulso de
racionalização (v.5) é a causa da sua perturbação momentânea perante a
natureza.
“Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia”

1. Compara a forma como o sujeito poético pretende ser biografado com as biografias
comuns.
1. Interpreta o sentido do verso 4.
2. Com base na sua autocaracterização, traça o perfil psicológico do sujeito poético.
3. Identifica os versos que melhor refletem os seguintes tópicos:

a. Fingimento poético – Alberto Caeiro, o poeta bucólico.


b. Reflexão existencial – Alberto Caeiro: o primado das sensações.

Você também pode gostar