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Integrantes: Segunda Feira, 31 de outubro, 2022

• Alejandra Lianza Nº1


• Davi Goyanna Nº5
• Martin Pereirinha Nº16
• Rúdi Gonçalves Nº20
Sermão de Santo António aos Peixes.
Análise do excerto dedicado aos Pegadores. Capítulo V

Contextualização do sermão:
O Sermão de Santo António aos Peixes foi emitido na cidade
de São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma
disputa com os colonos portugueses no Brasil. Constitui um
documento da habilidade oratória e poder satírico do Padre
António Vieira. Com uma construção literária e
argumentativa notável, têm como objetivo louvar e
repreender alguns dos peixes, para assim desenvolver uma
crítica social. Este sermão foi pregado três dias antes de Padre
António Vieira embarcar ocultamente para Portugal, onde
pretendia obter uma legislação mais justa para os índios, prejudicando assim os interesses dos colonos
europeus.
No capítulo V do Sermão de Santo António aos Peixes, o orador faz repreensões a alguns dos peixes
(Roncadores, Pegadores, Voadores e o Polvo) pelos seus defeitos particulares. No excerto dirigido aos
Pegadores (da linha 37 até a linha 93) o Padre António Vieira diz que estes peixes são muito oportunistas,
dependentes, ignorantes e miseráveis, porque vivem á custa dos peixes mais grandes, compara-os com
animais terrestres que apresentam um tipo de comportamento semelhante, e com os homens, que estão
habituados a tirar proveito das pessoas com maior poder na terra.

Caracterização do peixe, objeto de arguição:


O Pegador é um pequeno peixe de entre 51cm e 100cm
parasita, com um disco na cabeça, que permite a sua
adesão a superfícies lisas como a parte de baixo de um
tubarão, aproveitam-se dos restos que os tubarões deixam
quando comem. «Pegadores se chamam estes, de que
agora falo, e com grande propriedade, porque sendo
pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal
sorte se lhes pegam aos costados que jamais os
desaferram.» (linhas 39-41) «... o peixe grande não pode
dobrar a cabeça, nem voltar a boca sobre o que traz ás
costas, e assim lhes sustenta o peso, e mais a fome.» (linhas 44-45)

Aspetos valorizados/satirizados:
Os Pegadores são peixes que biologicamente vivem em comensalismo com peixes maiores, em que os
Pegadores saem com benefício e os peixes de maior porte sem nenhum benefício. Os Pegadores são uma
metáfora para as pessoas que se “prendem” às pessoas mais ricas ou famosas para se beneficiarem. São
descritos durante o sermão como animais ignorantes, miseráveis e oportunistas devido seu estilo de vida
parasitário.
Elementos de comparação:
Vice-reis (governadores para as conquistas): na primeira parte do excerto dirigido aos Pegadores,
Padre António Vieira refere que os peixes do alto aprenderam este modo de vida de “pegar-se" aos
maiores depois dos portugueses navegarem durante os descobrimentos, uma vez que na altura, os Vice-
Reis foram sempre rodeados de oportunistas, que dependiam deles devido à riqueza e ao estatuto social
que possuíam.
Herodes: ao comparar estes peixes, o orador dirige-se a uma característica particular dos Pegadores;
quando o tubarão morre, morrem com ele os Pegadores, por causa da fome. O padre António compara
isto com a descrição feita por São Mateus na Terra: quando Herodes morre, «foram mortos todos aqueles
que queriam tirar a vida do menino» o que quer dizer que o Herodes é o tubarão, e aqueles que o
seguiram e penderam da sua fortuna, são os Pegadores.
Santo António: o Padre Vieira faz menção do Santo António, que ao contrário dos homens e dos
Pegadores, pegou-se a Deus, e não aos grandes ou aqueles com mais poder na Terra, podendo assim, ficar
protegido de não morrer. Ressalta que deste modo, só os homens se podem pegar a Deus, enquanto os
Pegadores, não.
Adão e Eva: no fim do excerto, o orador refere a história do Adão e Eva, por causa da gulodice deles, os
homens tiveram de pagar com a morte, destaca que o homem pode lavar-se da desgraça a que está
condenado com um pouco de água (referência ao Batismo), enquanto os peixes Pegadores não podem
lavar a sua ignorância com quanta água têm o mar.

Comparação peixe/homens:
Pegadores:
➢ Pegam-se a peixes de maior tamanho para obter deles segurança e sustento.
➢ Não conseguem pegar-se a Deus.
➢ Tendo a sua disposição toda a água do mar, não conseguem lavar a sua ignorância através dela.
Homens:
➢ Tiram proveito das pessoas com mais poder, riqueza e estatuto social pegando-se a elas.
➢ Podem resistir á condenação pegando-se a Deus.
➢ Podem lavar a desgraça a que estão condenados com um pouco de água.

Sentido Alegórico e simbólico:


Os Pegadores que vêm a seguir representam a alegoria da adulação e parasitismo, porque «sendo
pequenos, não só se pegam aos outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais
os desferram (…) o peixe grande não pode dobrar a cabeça, nem volta a boca sobre o que traz às costas,
e assim lhes sustenta o peso e mais a fome». O orador faz queixa destes «... e me admirou que se
houvesse estendido esta ronha e pagado também aos peixes». E o mesmo se passa com os colonos:
«Não parte vice-rei ou Governador para as Conquistas, que não vai rodeado de Pegadores, os quais se
arrimam a eles, para que cá lhes matem a fome, de que lá não tinham remédio. Os menos ignorantes,
desenganados da experiência, despegam-se e buscam a vida por outra via; mas os que se deixam estar
pegados à mercê e fortuna dos maiores, vem-lhes suceder no fim o que aos Pegadores do mar.»

Intencionalidade moralizadora e interpolaridade desta passagem:


Neste excerto o Padre António Vieira reprende um comportamento habitual do homem através da
caracterização do Pegador, porque trata-se de um peixe que se aproveita dos tubarões, tal como o homem
tira proveito dos mais poderosos na Terra. Compara diferentes personagens bíblicos e históricos com o
peixe, evidenciando que sempre que o mais poderoso acaba por “morrer”, aqueles que usufruírem dele
“morrem” com ele, como acontece aos Pegadores quando o tubarão de quem comiam morre. Por fim,
contrapõe ao Santo António, porque ele pega-se a Deus, e assim fica protegido de não morrer. Refere que
os homens podem lavar a desgraça que estão condenados através do batismo, enquanto os Pegadores,
tendo em sua pose a água do mar, não podem lavar sua ignorância nela.

Leitura inferencial do excerto textual VS exemplos da atualidade:


No filme sul coreano de 2019 Parasita, toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo em um
porão sujo e apertado. O protagonista do filme começa a dar aulas de inglês para uma menina de família
rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe e filhos criam um plano para se
infiltrar também na abastada família, um a um, para assim usufruir de seus bens, riqueza e estatuto
social e melhorar de vida. Estabelecem assim uma relação de parasitismo como os Pegadores fazem
com os peixes maiores, agindo de forma ignorante, miserável e oportunista.

Aspetos estético formais:


O sermão de Santo António aos Peixes é um exemplo da literatura barroca, sendo composto por factos e
elementos de linguagem estilística, como por exemplo metáforas, comparações, enumerações, antíteses,
interrogações retóricas, a apóstrofe, o imperativo, entre outros...
Exemplos dos recursos estilísticos no capítulo V para a caracterização dos pegadores:
➢ Ironia: «este modo de vida, mais astuto que generoso...» (linha 45)
➢ Comparação: «tão seguros ao perto, como aqueles ao longe...» (linha 43) «Rodeia a Nau o
Tubarão nas calmarias da linha com os seus Pegadores ás costas, tão cerzidos com a pele que
mais parecem remendos ou manchas naturais que os hóspedes, ou companheiros.» (linhas 52-53)
➢ Pleonasmo: «(…) e todos os seus, toda a sua família, todos os seus aderentes, todos os que
seguiam, e pendiam da sua fortuna» (linhas 61-62)
➢ Imperativo: «Considerai, Pegadores vivos...» (linha 85)
➢ Antítese: «o tubarão morreu porque comeu, e eles morreram pelo que não comeram» (linha 86)
➢ Interrogação retórica: «Pode haver maior ignorância, que morrer pela fome, e boca alheia?»
(linhas 86-87)

Outras conclusões pertinentes:


• De acordo com o Padre António Vieira, se existir dependência dos menores pelos maiores, esta
deverá ser feita de um modo a que não sejam totalmente dependentes, para que caso os maiores
morram, os menores possam continuar a viver, seguindo assim o exemplo dos “outros animais do
ar e a terra”.
• Se os pegadores continuarem a depender totalmente dos maiores, quando o maior morrer, os
pegadores também morrem.
• O orador faz também uma crítica ao batismo, uma vez que os homens conseguem ser perdoados
com um pouco de água, enquanto os peixes não o conseguem fazer, mesmo com toda a água no
oceano.

Bibliografia:
• Sermão de Santo António aos Peixes - Peixes pegadores (slideshare.net)
• Pegadores - Sermão de Santo António aos Peixes by Joana Sofia (prezi.com)
• Capítulo V Sermão Aos Peixes - Sermão de Santo António aos Peixes Resumo Capítulo V Neste
capítulo, - StuDocu
• Sermão de Santo António aos Peixes - NotaPositiva
• Letras em dia, Português 11.º Ano. Porto Editora.

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