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Fernando Pessoa

Mensagem

1. CONTEXTO SOCIOCULTURAL DA Modo épico Modo lírico


PRODUÇÃO DA MENSAGEM Objetividade na Expressão
apreensão do real subjetiva das
Pessoa assiste a um período confuso da Presença de emoções
História portuguesa: características Ausência de
narrativas (ação, dinamismo
• Queda da monarquia (1908)
referentes narrativo
• Implantação da República (1910) espaciotemporais, Subjetividade na
• Formação de um Governo provisório personagens) apreensão do real
• Instabilidade política Exaltação da Valores míticos e
• Manifestações populares matéria factual simbólicos
• Ditadura do Estado Novo (1933) Presença de um
herói

Mensagem 1934 ESTRUTURA SIMBÓLICA DA OBRA


1.ª Parte – Brasão
2. VISÃO GLOBAL DA OBRA
Formação de Portugal e do seu
• Mensagem celebra as qualidades dos crescimento.
portugueses que, no passado, ajudaram
2.ª Parte - Mar Português
a construir um país e que, no futuro, o
Expansão plena de Portugal, da
deverão ajudar a reerguer-se. Procurou
sua missão e ação no mundo,
mobilizar o povo para a importância da
cujo apogeu* foram os Descobrimentos,
ação.
para terminar na estagnação e na morte.
• O poeta contrapõe um conjunto de 44
composições breves que se ligam pelo 3.ª Parte - O Encoberto
espírito épico-lírico, pelo simbolismo e Ocultamento resultante da
pela exaltação patriótica que lhe estagnação da pátria e
conferem unidade e equilíbrio. também da sua profética ressurreição: o
poeta antevê, de forma visionária, o
NATUREZA ÉPICO-LÍRICA
ressurgimento da grandeza cultural da
A obra concilia dois modos literários nação.
antitéticos: a matéria épica de exaltação
de um passado heroico e a expressão lírica
da atitude intencionalmente introspetiva.

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DIMENSÃO SIMBÓLICA DO HERÓI EXALTAÇÃO PATRIÓTICA – A


CONSTRUÇÃO DO QUINTO IMPÉRIO
O herói pessoano é alguém escolhido por
Deus para cumprir uma missão. É A exaltação patriótica em Mensagem
indubitavelmente um ser predestinado a centra-se no relato glorioso dos feitos do
grandes feitos. Uma figura que, com passado e na apresentação de uma nova
trabalho e esforço, percorre um caminho ideia de pátria, baseada numa visão
sofrido. Pessoa, na sua obra, imortaliza-os messiânica da história. Portugal é
e mitifica-los. apresentado como uma nação líder
salvadora que conduzirá a humanidade a
Ex.: D. Dinis, Infante de Portugal…
uma nova idade de Ouro.
Valem menos pelo que foram do que pelo
futuro que deixam adivinhar.
Quinto Império
É em função do Futuro que potenciam que Um novo império de raízes
o valor dos heróis se mede. culturais, civilizacionais e
linguísticas, impulsionado pelo
São Vigília e exemplo e, por isso, energia
poder do sonho e conduzido
criativa e potencialidade do Portugal-a-
pela mão da poesia. Pessoa
haver.
acredita que o líder será um
SEBASTIANISMO poeta cuja vinda profetiza para
breve
É um movimento nacional,
com a força de uma
possível religião, contruído
3. PRIMEIRA PARTE - BRASÃO
em volta da figura mítica
de D. Sebastião. O VISÃO GERAL
sebastianismo pessoano baseia-se na ideia
• 19 poemas
de um Salvador, de um Messias que,
• 5 subdivisões
inspirado pelo rei D. Sebastião, virá acordar
Portugal da letargia em que se encontra. Pessoa, ao estabelecer a relação entre os
Constitui-se como a mola impulsionadora elementos do brasão português e as 17
vital da construção do Quinto Império. A personalidades primaciais na formação
figura histórica de D. Sebastião assume a mítica e história de Portugal, indicia as
dimensão simbólica do Encoberto. qualidades do carácter português: o que
deram de si para que Portugal se
cumprisse.
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AS 17 PERSONALIDADES de potência civilizadora e fazer regressar o


continente à gloria do passado.
A mãe - Destaca as qualidades de mãe que
Pessoa faz equivaler às da Virgem: D. O das quinas: O título do poema é uma
Teresa e D. Filipa de Lencastre alusão às 5 quinas representadas na
bandeira de Portugal que fazem
Herói natural - Assume a missão da pátria
correspondência às 5 chagas de Cristo e aos
pela vontade divina, porque há
5 mouros derrotados na batalha de
coincidência de destinos, o dele e o de
Ourique por D. Afonso Henriques. O poema
Portugal: Viriato, O Conde D. Henrique, D.
centra-se, portanto, na ideia de que só o
Afonso Henriques, D. Dinis D. João I,
sacrifício leva à gloria.
Nun`Álvares Pereira, O Infante D. Henrique,
D. João II, Afonso de Albuquerque
II. OS CASTELOS
Herói pelo sacrifício de si - Aquele que se Ulisses: “o mito é o nada que é tudo”.
sacrifica pela pátria: D. Duarte, Rei de
Ulisses, que não é nada, porque é mito,
Portugal, D. Pedro, Regente de Portugal, D.
explica o destino marítimo dos
João Infante de Portugal
portugueses, que é tudo. A sua existência
Louco - aquele cuja grandeza de alma mítica/lendária não invalida a sua força
suplanta a grandeza do destino da nação: criadora da identidade nacional.
D. Sebastião
Viriato: Pessoa sublinha a importância
Herói mítico – A lenda, a primeira primacial desta figura histórica, que travou
personagem descrita porque tudo começa uma luta heroica para que Portugal
com uma lenda ou um mito, os motores da nascesse, tal como a madrugada morre
história: Ulisses para que o dia surja.

SINTESE DOS POEMAS O Conde D. Henrique: “Todo o começo


é involuntário”. Pessoa retrata esta
I. OS CAMPOS personagem como um herói natural visto
O dos castelos: O primeiro poema de que foi escolhido por Deus para iniciar o
processo de formação de Portugal, a sua
Mensagem apresenta Portugal como o
disponibilidade é total e a consciência da
“rosto” da Europa que fita o Ocidente,
sua missão não é plena “Que farei eu com
futuro do passado (descobrimentos).
esta espada?”.
Numa Europa decadente - “A Europa jaz” –
Portugal deverá recuperar o seu estatuto D. Tareja: Surge associada ao papel de
mãe, é interpelada como protetora “Vela
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por nós!” e é evocada como Magna Mater D. Filipa de Lencastre: O sujeito


de Portugal. O sujeito poético sublinha a poético, interpelando D. Filipa de
relação Homem/Deus ao apresentar D. Lencastre, identifica-a como mãe e, depois,
Teresa como medianeira entre Deus e o inequivocamente, como protetora de
Homem” A quem fadou o instinto teu!”. Portugal. Pessoa apela a D. Filipa a sua
D. Afonso Henriques: É invocado como proteção para Portugal “Volve a nós teu
rosto sério”, proteção que se perpetuará
pai porque, enquanto fundador da nação, é
mesmo após a sua morte “Madrinha de
pai dos Portugueses e cavaleiro pois
Portugal”.
desempenhou o papel de se dedicar, de
corpo e alma, a uma demanda de caráter
III. AS QUINAS
político e religioso. O sujeito poético
pretende que a força do rei inspire uma D. Duarte, rei de Portugal: Com este
ação que vença todos aqueles que se poema, inicia-se um ciclo de composições
opõem à missão espiritual e providencial que celebram 5 “mártires” (5 quinas) da
de Portugal. história de Portugal, uma vez que lutaram
em defesa do Cristianismo. É revelada a
D. Dinis: Surge no poema como um poeta ideia de que o homem se transformou em
“Na noite escreveu um seu Cantar de rei pela ação do dever, assim como Deus
Amigo”, um predestinado, alguém que foi fez o mundo. O verso “A regra de ser Rei
escolhido por Deus para cumprir uma almou meu ser” explicita que o que deu
missão (plantar os pinheiros que levariam alma ao seu ser foi o cumprimento do
às descobertas) e um profeta que sabe dever. D. Duarte é apresentado como um
ouvir, pressentir e perceber o que os outros ser triste e melancólico, um mártir que
não conseguem. cumpriu o dever e um ser que reconhece o
“prémio” do dever cumprido.
D. João O primeiro: Este poema é um
exemplo de que o Homem é um simples D. Fernando, Infante de Portugal: O
instrumento nas mãos de Deus. D. João Infante aparece como um escolhido “Deu-
aparece como origem inconsciente do me Deus o seu gládio”, como aquele a
Império “sem o saber”, símbolo da quem é destinada uma missão e que a
espiritualidade da nação “Mestre, sem o deverá cumprir sem hesitações, numa
saber, do Templo” e símbolo da entrega total. Um mártir. A alma do Infante
imortalidade de Portugal, porque ele é a é imensa e, por isso, tudo o que possa
“eterna chama“, porque afasta “A sombra acontecer “nunca será maior do que a
eterna”. minha alma”.

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D. Pedro, regente de Portugal: O sujeito que me a tomem Com o que nela ia”. O
poético caracteriza o percurso de vida do jogo dos tempos verbais - “ser que houve,
regente como um homem culto, honesto e não o que há” – exprime a dicotomia entre
decidido, integro porque não abdicou dos o ser mortal, o D. Sebastião histórico (que
seus ideais “Dúplice dono, sem me dividir”, ficou no areal de Alcácer Quibir) e o ser
vítima da incompreensão dos outros “Não imortal, o D. Sebastião mítico (protagonista
me podia a Sorte dar guarida Por eu não ser do sonho, do desejo de grandeza). D.
dos seus”, um mártir fiel à vontade de Sebastião é mais um agente do objetivo da
Deus. Mensagem pessoana. Figura messiânica,
aquele que vem salvar o país da
D. João, Infante de Portugal: O sujeito decadência, restituindo-lhe a grandeza e a
poético assume a voz do infante D. João, glória perdida.
afirmando “Não fui alguém” por seus
irmãos serem demasiado grandes. A sua IV. A COROA
verdadeira vocação, a cavalaria, foi Nun`Álvares Pereira: O sujeito poético
inutilmente desperdiçada “Inutilmente
apela ao Condestável para que seja o
eleita, Virgemmente parada”. Assumindo a
iniciador de um Portugal místico, cabeça de
sua incapacidade de atingir “O todo”,
um império espiritual que se avizinha, o
ficando no “seu nada”, D. João caracteriza,
Quinto Império.
no entanto, o povo português como “pai de
amplos mares”, responsável pelo
V. O TIMBRE
desvendar do “inteiro mar” e responsável
pela descoberta de novas terras. “A cabeça do grifo – o Infante D.
Henrique”: É um poema dedicado ao
Infante D. Henrique. A figura do infante é
Profecia, uma vez que a conquista
desenhada a partir da atitude estática e
dos amplos mares só acontecerá
imperial do infante, como aquele que
cerca de 60 anos após a morte do
concebe e impulsiona os Descobrimentos –
Infante D. João.
o vidente de sagres. A simbologia da
D. Sebastião, Rei de Portugal: Num cabeça de grifo – figura mitológica cuja
cabeça é a de uma águia, ave que tem uma
discurso de primeira pessoa, D. Sebastião
visão acutilante, tal como o Infante que vê
assume-se, orgulhosamente, como louco.
à distância (vidente).
A loucura do rei, de sinal positivo, projeta-
se no desejo de ultrapassar os limites do Uma asa do grifo – D. João O
Homem, na ousadia de transmitir o seu Segundo: D. João é apresentado como
sonho aos outros “Minha loucura, outros
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um contemplativo visionário “fita além do 5. TERCEIRA PARTE – O ENCOBERTO


mar”, um sonhador “O limite da terra a
dominar O mar que possa haver além da VISÃO GERAL
terra”, um solitário e um violador dos • 13 poemas
segredos do mar e da variedade do mundo • 3 subdivisões
“E parece temer o mundo vário Que ele
abra os braços e lhe rasgue o véu”. Símbolo A 3ª e última parte trata do ocultamento
de vontade e de determinação, que gradual de Portugal - desastre de Alcácer
levaram mais longo o sonho do Infante. Quibir (1578), implementação de um
sistema monárquico descontextualizado
A outra asa do grifo – Afonso de da realidade portuguesa (1820) e a
Albuquerque: Com este poema Implementação da República (1910) – pelo
completa-se “a trindade mística do que se chama O Encoberto. Está presente
Portugal havido e do Portugal a haver”. O um sofrimento e mágoa pois “falta
Infante D. Henrique pensa; D. João II cumprir-se Portugal”. O Encoberto mostra
manda; Afonso de Albuquerque faz. Esta a imagem do Império moribundo, a crença
figura é apresentada como um guerreiro de que a morte contém em si o gérmen da
cansado “…sobre os países conquistados ressurreição, capaz de provocar o
Desce os olhos cansados”, homem austero nascimento do império espiritual, moral e
“Não pensa em vida ou morte”, fiel ao seu civilizacional na diáspora lusíada: a
rei e indiferente ao poder “Três impérios esperança do Quinto Império.
do chão lhe a Sorte apanha. Criou-os como
quem desdenha”.

4. SEGUNDA PARTE – MAR


PORTUGUÊS

VISÃO GERAL

• 12 poemas

Os poemas recriam a saga dos


Descobrimentos, incluindo, uma vez mais,
mito e realidade factual. Mar Português
contém os heróis que, inspirados e
motivados pelos príncipes e reis, lutaram
contra o desconhecido. Protagonistas da
expansão ultramarina portuguesa.
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