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SARA MARQUES

ESCOLA
[Escola não identi cada]

MEMORIAL DO CONVENTO

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Resumo do trabalho
Resumo/Apontamentos sobre a obra "Memorial do Convento" de José Saramago, realizado no âmbito da
disciplina de Português (12º ano).

Memorial do Convento - José Saramago


Ação, tempo, espaço, personagens, narrador
Temáticas
Classi cações tipológicas
Simbologias

José Saramago
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, em 1922. Os
seus pais emigraram para Lisboa quando ele não havia ainda completado dois anos. A maior parte da sua vida
decorreu, portanto, na capital, embora até aos primeiros anos da idade adulta fossem numerosas, e por vezes
prolongadas, as suas estadas na aldeia natal.

Fez estudos secundários que, por di culdades económicas, não pôde prosseguir. O
seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois
diversas pro ssões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social,
tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance,    Terra do
Pecado, em 1947, tendo estado depois largo tempo sem publicar (até 1966).
Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direção
literária e de produção. Colaborou como crítico literário na revista  Seara Nova. Em
1972 e 1973 fez parte da redação do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador
político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento
cultural daquele vespertino.

Pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da
Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do
jornal  Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro

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como tradutor, depois como autor. Em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência
habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha).

Ação
Construção do convento de Mafra (Personagem principal: povo)
Construção da Passarola (Personagens principais: Baltasar, Blimunda e padre Bartolomeu Lourenço)
História de Baltasar e Blimunda (Personagens principais: Blimunda e Baltasar)

Tempo
(1624) 1711 17 Nov. 1717 1730 1739

21 Out –
Quiseram a Data da desaparecimento Blimunda
construção do Início da inauguração do Baltasar encontra
convento ação convento de Baltasar a ser
Mafra 22 Out – Inauguração queimado
  do convento

Duração da ação – 28 anos

Baltasar - 54
Baltasar - 26 anos
anos
Blimunda - 19      
Blimunda - 47
anos
anos

Espaço
Mafra/Lisboa (Rossio e S. Sebastião da Pedreira)

Memorial do Convento é uma história cíclica porque Baltasar e Blimunda conhecem-se num auto-de-fé e
encontram-se pela última vez noutro auto-de-fé.

Temáticas
Amor (D. João V e D. Maria Ana/Baltasar e Blimunda)
O sonho
O religioso (Inquisição, Autos-de-Fé, Procissões) vs. o profano (Entrudo, touradas)
Crítica social, política e religiosos
Os verdadeiros construtores do convento

Classi cação tipológica da obra

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Memorial do Convento não pode ser considerado um romance histórico no verdadeiro sentido da palavra na
medida em que nela se entrelaçam a verdade e a verosimilhança, o objetivo e o subjetivo, o real histórico e o
real “ ccionado”. Deste modo, é-nos apresentada uma reconstituição histórica através da recriação de
ambientes próprios da época, em jeito de crónica de costumes, com recurso, tanto quanto possível, à linguagem
da época, à reconstituição pormenorizada de vestuários, usos e costume. Convém também lembrar a interação
entre personagens históricas e personagens ccionadas. Assim, Memorial do Convento é um romance que se
aproxima da classi cação de Romance Histórico, embora, tendo em conta o atrás exposto, também se possa
falar de Romance de Espaço Social, uma vez que somos confrontados com a sátira sobre o Portugal da primeira
metade do séc. XVIII (1711/1739). Veri ca-se uma preocupação co a realidade social exercida sobre os
operários e a apresentação dos modos de viver, ser e estar de uma época através dos quadros como as
procissões, os autos-de-fé, as touradas, a vida nos conventos, entre outros.

Cap. X – Comparação entre os dois amores


D. João V e D. Maria Ana (Cap. I)
Casamento aristocrático, material para servir interesses políticos

Objetivo – conceber herdeiros para assegurar a descendência real

Sem amor
Mulher vista apenas como função de procriar
D. João V, in el, adúltero
Relação super cial
D. Maria Ana desfrutava da relação, era submissa e sonhava com o cunhado D. Francisco, irmão do Rei.

Baltasar e Blimunda (Cap. V)


Conheceram-se num auto-de-fé
Um amor ao acaso
Não havia in delidades
Apenas conviviam
Casamento espiritual, não religioso apesar de ter sido abençoado pelo padre
Amor verdadeiro e sincero

Personagens
D. João V
À partida poderia parecer que era ele o herói do Memorial mas tal não acontece porque à medida que o
narrador vai falando do Rei, vai tecendo juízos de valor e comentários críticos que não enaltam a sua gura
como Rei. Este surge com uma faceta múltipla e contraditória. Assim se por um lado é o beato fanático que
assiste aos autos-de-fé e outros acontecimentos religiosos e desvia os dinheiros públicos para alimentar as
suas fantasias e desejos de grandeza bem como por outro lado é p Rei curioso pelas descobertas cientí cas,
protetor das artes, tentando por o país a par das transformações que ocorriam na Europa contrariamente é um
Rei absolutista e autoritário que não olha a meios para atingir os seus ns, abusando do seu poder. É infantil e
inconsequente, casa por obrigação e compromisso real. Mantem relações fora do casamento, sobretudo com
freiras, desrespeitando assim as leis da sagrada igreja.

D. Mariana Ana
Encara o papel da esposa submissa, fútil e super cial, que tenta a todo o custo dar herdeiros à coroa,
cumprindo assim o objetivo político do seu casamento. Apesar de não lhe ser dada grande importância dentro

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da obra, Saramago tenta humaniza-la e torna-la mais agradável ao olhar do leitor quando revela que, como
qualquer mulher normal que não é feliz no casamento, tenta sê-lo através dos sonhos.

Baltasar
É a gura central do romance e aparece, no início deste, com 26 anos, vindo da guerra de Espanha, escorraçado
por já não ter a mão esquerda, não servindo para nada. Simbolicamente representa a metáfora da mudança e da
evolução do ser humano em direção da sua plena realização. O sete é simbólico no seu nome, bem assim como o
Sol, é o sete da plenitude, é o sete da formação do mundo, são os sete dias da semana, sete representa cada
período lunar, sendo 28 a completude da lua (7x4=28) e 28 é o numero de anos que dura a ação do romance,
desde a sua chegada a Lisboa, em 1711, até à sua morte, em 1739, altura em que Blimunda o encontra a ser
queimado num auto-de-fé, ao m de 9 anos de procura é a sua sétima passagem por Lisboa.

Com Blimunda viveu um amor pleno, puro, verdadeiro e cúmplice, à margem das regras e convenções sociais e
religiosas, mas ausente de qualquer mancha de pecado.

Com o Padre Bartolomeu atinge a sua plena realização enquanto ser humano, atingindo também a dimensão
espiritual e divino ao voar na passarola.

Com o padre e com Blimunda forma a trindade terrestre, uma trindade perfeita, à qual mais tarde se junta um
quarto elemento. Domenico Scarlatti, conseguindo-se a plenitude absoluta.

Blimunda
Quando inicia o romance tem 19 anos É um elemento mágico, de grande espiritualidade que consegue ver por
dentro das coisas e das pessoas, permitindo-lhe compreender a essência e as verdades mais profundas do
mundo. As suas capacidades como vidente conferem-lhe uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e
amor verdadeiro que partilha com Baltasar.

Está presente no auto-de-fé, participa no projeto da passarola, partilhando o sonho de Bartolomeu com
Baltasar, recolhe as vontades e procura incessantemente o seu homem.

A sua relação com Baltasar é predestinada, ultrapassando as regaras e os códigos estabelecidos; a atribuição do
nome de sete-luas associa a simbologia do número sete à da lua, complementar do sol, com quem forma a
plenitude.

Ela apresenta-se sob múltiplas facetas: ela é a mágica, a vidente, a sábia, a mulher do povo, a inseparável
companheiro do seu homem, a única sobrevivente da trindade,…

O projeto da passarola, através a recolhas das vontades, só possível pelas suas características de vidente,
permite-lhes dar um sentido positivo ao seu dom, visto negativamente e condenado pela igreja.

Comentário ao excerto do capítulo XI – Páginas 130/131

Neste excerto o padre Bartolomeu Lourenço regressa da Holanda, com a resposta ao que é o éter. Nos seus
estudos a a saber que não é o que realmente pensava e que não é algo que se possa ensinar. O éter é na
verdade algo que vive dentro dos homens, não a alma como pensou Baltasar, mas sim as vontades dos vivos,
que pode ser separada do homem estando ele vivo, ou a separa dele a morte.

É da vontade do homem que o padre necessita para que a passarola possa voar, para tal pede a Blimunda que as
recolha, ao que esta a rma não saber como é. O padre diz-lhe que veja Baltasar por dentro, mas Blimunda
recusa-se, vê então o padre a pedido do mesmo, ao que a rma “Graças a Deus, agora voarei”.

Retratamos aqui a temática do sonho, o sonho da criação da passarola, sonho esse que apenas será possível
concretizar com as vontades do homem, vontades essas que na obra são recolhidas por Blimunda no auto-de-
fé. Vemos neste excerto que podemos ter tudo para realizarmos o nosso sonho, mas o mais importante é a
vontade e fé para lutar por ele. “Onde couber uma, cabem milhões, o um é igual ao in nito”.

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Um sonho é sempre um objetivo pessoal que temos na vida, um objetivo para o futuro, pelo qual não devemos
desistir.

TÓPICOS EM FALTA NO COMENTÁRIO AO EXCERTO

Todos os seres humanos têm sonhos, mas nem todos os sonhos são realizados, pois nem todos têm
vontade.
O valor da amizade / O valor da família (Diferença)
Diferença entre alma e vontade. A alma nasce e morre connosco, enquanto que a vontade pode
desprender-se de nos caso não tenhamos força para prosseguir com os nosso sonhos. A vontade não
nasce connosco, nos é que a temos de procurar. A vontade nunca é demais.

A temática do sonho – a construção da passarola


(Personagens: Padre Bartolomeu, Baltasar, Blimunda, Domenico Scarlatti)

Encontro do Padre Bartolomeu com Baltasar, no auto-de-fé, em Lisboa (Rossio) em 26 Julho de 1711
(Cap. V)
João Elvas informa Baltasar do apelido do padre – O Voador. Baltasar inquira o Padre sobre a razão do
seu apelido de voador. (Cap. VI)
O Padre con dencia a Baltasar o segredo da máquina e vão a S. Sebastião da Pedreira.
Proposta/convite de trabalho de Bartolomeu e Baltasar (Construção da passarola). (Cap. VI)
Baltasar e Blimunda mudam-se para S. Sebastião da Pedreira para estarem perto da máquina (Cap. IX) –
o padre viaja para Holanda para trazer o éter.
Em virtude de ainda não haver a certeza do voo da máquina, param-se os trabalhos e Baltasar e
Blimunda vão para Mafra. (Cap. IX)
O padre regressa da Holanda com o “éter – a nal, o que faz voar a passarola são as “vontades”. (Cap. XI)
O padre vai para Coimbra mas antes distribui tarefas – quando ele mandar “irão os dois para Lisboa, tu
(Baltasar) construirás a máquina, tu (Blimunda) recolheras as vontades”. (Cap. XI)
Baltasar e Blimunda partem para Lisboa a pedido do padre. (Cap. XII)
Continuação da construção da passarola. (Cap. XII)
Recolha de vontades na procissão do corpo de Deus. (Cap. XIII)
O padre revela a Scarlatti o segredo da máquina. - Ida a S. Sebastião da Pedreira onde o padre apresenta
a máquina e a tríade. (Cap. XIV)
Blimunda naliza a recolha das vontades durante a epidemia – doença de Blimunda e cura com a música
de Scarlatti. (Cap. XV)
O padre é perseguido pelo santo o cia o que leva à fuga da tríade na passarola. Aterragem forçada na
serra do Barregudo, no Monte Junto. (Cap. XVI)

Importância da vontade do ser humano na concretização dos sonhos e a questão do valor da amizade (os
esboços do padre + o trabalho físico de Baltasar + dimensão espiritual de Blimunda na recolha das vontades) –
esforços conjugados na concretização do sonho de todos.

Implicações simbólicas – engrandecimento do ser humano que atinge outra dimensão para além da terrestre.

Personagens
Padre Bartolomeu de Gusmão
Para além de padre, foi também um cientista e um visionário, atormentado sempre por grandes dúvidas de
carácter religioso, foi perseguido pela inquisição por suspeita de bruxaria. Foram estes aspetos que levaram à
criação de uma personagem lendária que representava o sonho de liberdade do ser humano, o sonho de se

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transcender e de ultrapassar os limites do homem. Para tal, junta o seu saber ao trabalho manual de Baltasar e à
magia e espiritualidade de Blimunda, apoiados pela música de Scarlatti – a vontade de todos levou ao voo da
passarola. Simbolicamente este padre representa um ser dividido entre a religião e a curiosidade/paixão pela
ciência levando-o a descrer dos dogmas da igreja, a ser perseguido e morto. Mitologicamente podemos
compara-lo com Prometeu*. Podemos concluir que o voo da passarola surge aqui como uma espécie de
trampolim que, aliado às virtudes, projeta o ser humano para uma outra dimensão fora da terrestre. A vontade
divina foi substituída pela vontade humana, ascendendo o homem à categoria de um Deus.

Prometeu* - É a gura mitológica que roubou o fogo aos Deuses para o dar aos homens. O homem simboliza o
conhecimento e a vida que deveria ser apenas obra de deus. Por tal atrevimento, Deus/Júpiter castigou-o e
acorrentou-o a um rochedo sendo o seu fígado diariamente devorado por uma águia. Este ato de Prometeu
simboliza a revolta e a constante insatisfação do homem que procura sempre igualar-se ao divino apoiado
numa vontade interior muito grande. Moral da história: Todo aquele que tenta ultrapassar os seus limites e
conquistar outros elementos (ar, água, fogo) que não o seu (terra) sofrerá sempre um castigo.

Domenico Scarlatti
A música é a mais aérea de todas as artes conhecidas e vem, através de Scarlatti integrar a realização plena da
passarola acrescentando-lhe a componente estética que lhe faltava. A convite do padre Bartolomeu é aceite
pela tríade, passando a acompanhar com regularidade o processo de construção acompanhando com música. A
música é muito importante também porque ajuda na recuperação de Blimunda e é um dos elementos que ajuda
a elevar a passarola nos ares juntamente com as vontades. Na obra, Scarlatti simboliza a transcendência que
vem da música que, aliada ao dom de Blimunda, constitui a maravilha da obra. É a música que permite entender
o sonho. Partilha o segredo com a tríade e morre metaforicamente depois de ajudar a máquina a voar quando
destrói o cravo atirando-o para dentro de um poço.

Temática do sonho – a construção do convento


Desejo dos franciscanos desde 1624 de ter um convento em Mafra. (Cap. II)
Promessa do Rei (Cap. I)
Con rmação da promessa do Rei apesar de decepção. (Cap. VII e IX)
Decisão do dia da inauguração. (Cap. VIII)
Escolha do local para a edi cação do convento – Auto da vela em Mafra. (Cap. XIII)
Expropriação de terrenos e início da preparação dos terrenos. (Cap. X e XI)
Lançamento da primeira pedra. (Cap. XII)
Discurso das obras de construção/azáfama e lentidão dos trabalhadores.
Transporte da pedra-mãe - o povo (personagem principal). (Cap. XIX)
Recrutamento de homens por todo o reino para trabalhar em Mafra. (Cap. XXI)
Inauguração do convento (22-10-1730) – dia do 41º aniversário do Rei (Cap. XXIV)

A construção do convento surge associado à gura do Rei como o principal responsável da obra, no entanto a
sua gura é ridicularizada porque a única obra que ele consegue de facto construir é uma miniatura da basílica
de S. Pedro de Roma com pedacinhos de madeira.

O trabalho de construção da passarola é diferente do trabalho de construção do convento porque o objetivo


principal da obra é contar a história das relações do homem com o seu objeto de trabalho, com o sei produto e
com o sonho. Assim,

Construção da passarola

Ação – Aliada ao sonho – o resultado da obra não é indiferente aos trabalhadores da mesma que crescem à
medida que vão realizando a obra.

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Construção do convento

Ação – Alienado do sonho – o resultado da obra é indiferente aos trabalhadores, não é o sonho deles (os
trabalhadores aniquilam-se e sofrem).

POVO – Herói pícaro coletivo (Cap. XVIII, XIX, XXI)


9  Aquele que tem que andar de um lado para o outro para sobreviver

Oposto à classe dominante, surge este povo anónimo coletivo, trabalhador que construiu o Convento de Mafra
à custa de muito esforço, sofrimento, sacrifício e mortes. O narrador de ne-o pelo seu trabalho, pela sua
miséria física e moral, pela sua devoção e humildade, e é este povo o verdadeiro construtor do convento que
alimentou a megalomania do Rei e concretizou o sonho deste. Não há diferença entre tijolos e homens, estes
são apenas a massa bruta que trabalha. Vemos os homens a escavar os alicerces, a arrotear terras, a
transportar pedras, a erguer paredes, a abrir caboucos, apinhados, sujos, miseráveis, agrilhoados. Alguns, por
desejo do autor, ganham rostos e nomes, tais são os casos de Francisco Marques, José Pequeno, Manuel Milho,
Joaquim da Rocha, João Anes, Baltasar Mateus … Todos estes ganham individualidade e é-lhes concedida, aqui
na obra, a importância que a História lhes retirou. No entanto este facto que confere ao povo algum valor, não
impede o narrador de criticar esta personagem coletiva e de mostrar todos os podres físicos e morais e a sua
ignorância. Nesta parte é o povo estúpido e fanático que assiste deliciado aos autos-de-fé gozando e atirando
imundices aos que vão ser queimados. “Aquela gente que esta cuspindo para mim e atirando cascas de melancia
e imundices” (Cap. V)

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Quando o narrador deixa de ser omnisciente, passa a contar a história como se fosse uma das personagens,
portanto só pode ser interno.

Na obra, temos um narrador plurivocal que descreve paisagens, situações, acontecimentos, factos, ambientes,
estados de alma, que apresenta a sua opinião exprimindo juízos de valor, re etindo, comentando e ironizando,
que usa e reinventa provérbios e ditados populares, que faz referencias a obras e a autores, que domina a
história em todos os seus aspectos, que recorre no discurso escrito a marcas constantes da oralidade, que fala
de factos comprováveis e dedignos ou que por e simplesmente os inventa. É um narrador conhecedor da
época, intimo da corte, personagem, testemunha, observador, critico do presente, contemporâneo do leitor, a
voz do próprio Saramago,…

Temáticas:
O amor – casamento, a construção do convento
O sonho de voar
A religiosidade da época (procissões, autos-de-fé, casamentos, funerais – Infante D. Pedro e sobrinho de
Baltasar

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Atos profanos, ou não religiosos (ex.: festas do entrudo e touradas)
A riqueza da coroa e do clero vs. miséria do povo
Acontecimentos esporádicos (casuais – a peste, epidemia)

Vertentes: Religiosa, histórica, económica, sócia

Tempo da história ou tempo histórico – época de D. João V entes 1711 e 1739;

Tempo do discurso – tempo do narrador onde podemos encontrar elipses (omissão do tempo que se passou) –
9 anos que nada se sabe;

Resumos, analepses (momentos passados no tempo) e prolepses (avanços no tempo) Ex.: Terramoto de 1730,
revolução de Abril 1724, e os cinemas e aviões que ainda não surgiram.

Estilo e Linguagem – Excerto Cap. XXV


“Milhares de léguas andou Blimunda … num farol de nevoeiros” (última página)

Ex.: Comparação – “tornou-se espessa, ferida como uma cortiça.”

“Portugal inteiro esteve debaixo destes passos” – Metáfora/Sinédoque

“Algumas vezes atravessou a raia de Espanha porque não via no chão qualquer risco a separar a terra de lá da
terra de cá.” – Ironia/Antítese/Repetição

“Não se lembra de mim, chamavam-me Voador” – Inexistência de pontos de interrogação

“Ai pobrezinha” – diminutivo/registo de língua popular

“Sobre a sua mão outra mão se pousava” – Aliteração

“Cardumes de cristal e prata” – metáfora

“Sob as águas escuras do rio” – Adjetivação

“Como um farol de nevoeiros” – comparação

“Foi das praias e das arribas do oceano à fronteira, depois recomeçou a procurar por outros lugares, por outros
caminhos” – progressão

“Em dois anos foi das praias e das arribas... Onde nasceu” – Gradação

“Praias, arribas, oceanos”; “Archotes, fumo negro, fogueiras” – Enumeração

“Dorsos escamosos e lisos” – Dupla adjetivação

Simbologia
Três
De acordo com a numerologia simbólica, podemos constatar, que ambos os nomes (Baltasar Sete-Sóis e
Blimunda Sete-Luas) representam perfeição, totalidade e até magia, sugeridas pela extensão trissílaba  (e aqui
reside a simbologia do número três, revelador de uma ordem intelectual e espiritual traduzida na união do céu
e da terra).

Quatro
O número quatro está associado à transgressão religiosa já que a junção de um quarto elemento, Domenico
Scarlatti, faz com que se deixe o número divino (três) para se passar ao símbolo da totalidade e à imagem da
Terra.

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Quatro são as fases da Lua, cujo ciclo in uencia a vida de Blimunda Sete-Luas, que quando é Lua Nova pode
estar em jejum sem que veja o interior das coisas.

Numero Sete
Data e hora da sagração do convento; sete anos vividos em Portugal pelo músico Scarlatti; sete vezes que
Blimunda passa por Lisboa à procura de Baltasar; sete igrejas visitadas na Páscoa; sete bispos que batizaram
Maria Francisca; sete sóis de ouro e de prata colocados no altar-mor.

A sua presença, no nome de Blimunda e Baltasar, tem um signi cado dual, uma vez que se liga à mudança de um
ciclo e renovação positiva.

Nove
Representa a gestação, a renovação e o nascimento.

O número nove surge a simbolizar insistência e determinação quando Blimunda procura Baltasar durante 9
anos. Este número encerra também simbolicamente a ideia de procura pois, o que realmente acontece a
Blimunda após os 9 anos de busca é que reencontra nalmente Baltasar, não como um encontro físico, mas
místico e completo.

Sol
Associado a Baltasar e ao povo, sugere a ideia de  vida, de renovação de energias  (o povo trabalha até à
exaustão no convento, Baltasar constrói uma máquina, mesmo depois de amputado).

Como o Sol, que todos os dias tem de vencer os guardiães da noite (mitologia antiga), também Baltasar vence as
forças obscuras da ignorância e da intolerância ao voar.

Lua
Símbolo do ritmo biológico da Terra, traduz a  força vital  que é representada pelas vontades recolhidas por
Blimunda para fazer voar a passarola.

Tradicionalmente a Lua simboliza, por não ter luz própria, o princípio passivo do sol. No entanto, a obra
revoluciona o conceito da Lua ao dar a Blimunda capacidades sobrenaturais que dependem das fases da lua,
tornando-a tão relevante como o sol. Sol e Lua: simboliza a união como um todo, porque são o verso e o reverso
da mesma realidade, o dia.

Passarola
Traduz a harmonia entre o sonho e a sua realização. Graças ao sonho, foi possível juntar a ciência, o trabalho
artesanal, a magia e a arte, para fazer a passarola voar.

Simboliza o elo de ligação entre o céu e a terra. É tanto o símbolo da concretização do sonho, representando
assim também a libertação do espírito e a passagem a outro estado de consciência, uma vez que que esta é
igualmente um símbolo da ligação do céu e da terra, pois ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio
de Deus. Por outro lado é um símbolo dual, pois é por sua causa que nasce a Trindade terrestre, mas também é
o motivo de separação desta.

 398 Visualizações  07/12/2019

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