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Poetas Contemporâneos

Miguel Torga
• Pseudónimo literário adotado por Adolfo Correia da Rocha
• Nasceu em S. Martinho de Anta, Vila Real, em 1907
• Faleceu em Coimbra, em 1995
• Tirou o curso de Medicina em Coimbra
• Começou a escrever nos tempos de faculdade,
• Em 1963, publicou “O Outro Livro de Job” e adotou o pseudónimo de Miguel Torga.
• Temas bucólicos, angústia da morte, a revolta, temas sociais.
• Aliança íntima entre o homem e a terra.
• Recebeu vários prémios e duas nomeações para o Nobel da Literatura (1960 e 1978)
• Escreveu poemas, novelas, romances, contos e peças de teatro

“Orfeu Rebelde”

A ideia de rebeldia anunciada no título concretiza-se pelo uso de palavras conotadas com ações intensas, fortes e
revoltadas: “possesso” (v. 2); “fúria” (v. 4); “desafio” (v. 8); “gritos” (v. 11); “violências” (v. 12).
O “eu” poético estabelece o contraponto entre a sua poesia e a dos outros poetas de canto suave,
descomprometidos da realidade – “felizes, sejam rouxinóis” (v. 7).
As comparações nas primeiras e terceiras estrofes reforçam a assunção da rebeldia do “eu” poético, que se
aproxima de “um possesso” (v. 2) e de “quem usa/Os versos em legítima defesa” (vv. 15-16).
O conceito de poesia aponta para a ação catártica dos versos: o sujeito poético canta para agir sobre o (seu)
tempo, assumindo uma posição interventiva.
Diferentes momentos de organização do poema: 1ª estrofe: autocaracterização do sujeito poético. 2ª estrofe:
Oposição eu/outros. 3ª estrofe: Assunção da função interventiva da poesia.
Formalmente, o poema é constituído por três sextilhas, com versos decassilábicos e dois hexassílabos (vv. 2 e 15).
Rima cruzada em todas as estrofes e emparelhada, na 3.ª estrofe. Rima rica e rima pobre. Esquema:
ABCDCDEFGHGHIJJLML.
Linha de ação - figurações do poeta: o poeta reflete sobre si mesmo, sentimento telúrico, consciência social e
ética, inquietação, agonia e rebeldia do “eu” poético face ao seu tempo, inconformismo quanto à condição humana,
espírito rebelde e inquieto, atento à tragédia da condição humana.
“outros, felizes, sejam rouxinóis” v.7 – metáfora, exprime a ironia sobre aqueles que aceitam a vida de uma maneira
fácil.
“do moinho cruel que me tritura” v.10 – personificação, evoca a revolta contra a passagem do tempo
“Há gritos como há nortadas” v.11 – comparação, exprime a violência dos elementos da natureza contra o tempo
“violências famintas de ternura” v.12 – personificação metafórica, exprime a força e a necessidade do amor pela
parte do sujeito poético.
“Cantiga de Maldizer”

A atenção do sujeito poético centra-se numa “menina” (v. 1) que afirma conhecer.
Pela comparação com a “rosa dos ventos” (v. 2) e com um “fruto maduro” (v. 9), esta menina é apresentada como
indecisa e inconstante. [A rosa dos ventos indica a direção dos ventos que, pela sua própria natureza, são
inconstantes. […] Assim acontece com a menina que pede ajuda quando alguém procura namorá-la e não aceita a
pretensão do pai que a quer guardar num convento. Acontece algo semelhante com a comparação com um “fruto
maduro”, na indefinição do seu medo quer de ser comido quer de permanecer na árvore até cair.]
O título do poema sintetiza a sátira feita à “menina”, remetendo para a crítica presente nas cantigas de maldizer
medievais.
Os versos apresentam sete sílabas métricas (redondilha maior). Que corresponde à medida tradicional, ligada às
construções poéticas de origem popular portuguesa, muitas vezes recuperada pelos poetas. Rima pobre, esquema
rimático: ABACBCDCEEDC.
Tradição literária – intertextualidade com a poesia trovadoresca.

Eugénio de Andrade
• Pseudónimo literário de José Fontinhas
• Nasceu a 19 de janeiro de 1923, no Fundão
• Foi morar para o Porto
• Demonstrou desde cedo o gosto pela poesia e colaborou em revistas como “Cadernos de Poesia”, “Seara
Nova”, “Revista de Artes e Letras”
• A sua poesia reflete o gosto do autor em valorizar as diferentes vertentes das palavras:
o Valor imagético;
o Valor rítmico;
o Valor musical.
• Temas comuns: o Homem, individual ou integrado num coletivo, o tempo, a infância, o envelhecimento, a
natureza ou o corpo.
• Galardoado com inúmeros prémios.
• Morreu a 13 de junho de 2005, no Porto.
“Agora as palavras”

O sujeito poético refere um presente de relação difícil com as palavras, que lhe obedecem muito menos
(“Obedecem-me agora muito menos, / as palavras”, vv. 1-2), que resmungam e que não demonstram respeito. No
passado, as palavras terão gostado dele, a relação entre ambos terá sido harmoniosa (“e elas durante muitos
anos/também gostaram de mim: dançavam/à minha roda quando as encontrava.”, vv. 11-13).
Através da personificação, as palavras são-nos apresentadas com características humanas (“resmungam, não
fazem / caso do que lhes digo”, vv. 3-4), o que lhes atribui, no processo de criação artística, uma dimensão
independente e dinâmica, longe de constituírem uma realidade inerte. As palavras sentem, reagem e debatem-se
com o sujeito poético.
Os versos 6 a 9 afirmam um processo de criação meticuloso e rigoroso do sujeito poético, que procura as palavras
certas, numa perspetiva intransigente do seu uso.
Os dois pontos marcam uma pausa que introduz uma explicação, uma especificação. Nela, o sujeito poético explicita
o tipo de relação existente entre ele e as palavras.
A interrogação parece apontar uma justificação alternativa para a desobediência das palavras, assente na
possibilidade de ter sido o poeta quem mudou, uma vez que passou a procurar as palavras mais difíceis.
O título do poema remete exatamente para o presente da relação do sujeito poético com as palavras, que descreve,
depois, ao longo do texto.
Arte poética – o poeta é concebido como se o seu trabalho fosse semelhante ao de um artesão com um apurado
processo de seleção e de combinação das palavras, numa busca incessante da construção da musicalidade, assim
como da depuração da linguagem do poema, de forma a revelar o mesmo na sua plenitude.
Estrutura externa – versos livres, rima branca, versos soltos
“Rapariga descalça”

O dia que é chuva é caracterizado como “um jogo inocente de luzes, / de crianças ou beijos, de fragatas” (vv.7-8).
A rapariga tem pés “formosos” (v.2) e “leves” (v. 3), que lhe conferem uma dimensão de leveza quase angelical. Dos
pés nasce um corpo que não se desprende deles, como se eles fossem a origem e o fim da sua imagem.
Sensações visuais (vv.1, 7-8, 9), tácteis (“leves”, v.3), gustativas/tácteis /sabor do sol” v.5) e auditivas (canta na
folhagem”, v.6).
No verso 9, o “eu” poético refere “Uma gaivota” que parece despertá-lo (“passa nos meus olhos”) da deambulação
poética anterior e o faz retomar a imagem da rapariga descalça, transfigurando-a.
“A chuva em abril tem o sabor do sol” (v.5) – sinestesia, destaca a sensação agradável produzida pela chuva.
“canta, corre, voa, é brisa” (v.11) – gradação – cria uma evolução crescente de poetização, na qual a rapariga perde
progressivamente a sua fisicalidade e passa a fundir-se com o ambiente sensorial.
As três quadras correspondem ao desenvolvimento tripartido do tema. Na 1ª, o “eu” poético, num dia de chuva,
repara numa rapariga descalça. Reflete depois sobre a chuva e a luminosidade do dia, na 2ª estrofe. Na última
estrofe, após uma pequena distração, retoma a imagem da rapariga em ambiente de deslumbramento poético.
Representações do contemporâneo – a captação da vida e do real atuais na poesia.

Ana Luísa Amaral


• Nasceu em Lisboa em 1956;
• Vive desde os 9 anos em Leça da Palmeira;
• Professora associada da Faculdade de Letras do Porto, Doutoramento sobre a poesia de Emily Dickinson;
• Áreas de interesse:
o Literatura inglesa e norte americana;
o Literatura comparada;
o Estudos feministas;
• Primeiro livro de poemas – “Minha Senhora de Quê”, 1990
• Escrever um poema é um ato que envolve uma grande paixão.
• Recusa o rótulo de “poesia feminista” prefere falar de poesia dos sentimentos, das emoções, próxima da
vida e da simplicidade do quotidiano.
“Técnica vs Artesanato”

O verso 1 enuncia uma intenção de centrar a atenção do leitor em algo importante. O sujeito poético fá-lo no início
do texto para focar a técnica (computador) e repete-o no final para afirmar o seu gosto particular pela ação
artesanal (escrita no papel).
A utilização dos parênteses na primeira estrofe destaca a expressão “quase todas”, uma quantificação indefinida
de “letras”, num tom irónico de antecipação das limitações existentes também pelo uso do computador – afinal,
parece também existir com o computador o problema de as letras não caberem no verso.
Depois do elogio inicial da técnica permitida pelo uso do computador nas duas primeiras estrofes (texto sempre
legível, não precisa de papel, rapidez), o sujeito poético afirma-se, a partir da terceira, dependente do lápis e da
folha de papel para a sua produção artística. A conjunção coordenativa adversativa “Mas” marca a oposição
relativamente ao conteúdo proposicional anterior.
O título corresponde à oposição entre a escrita poética realizada através do computador (técnica) e a escrita
poética concretizada com recurso a lápis e papel, através de um processo de maior ligação entre o artista e a sua
arte (artesanato).
Arte poética – a reflexão sobre a composição poética.
“Câmara Escura”

Na primeira estrofe é utilizada uma sinestesia (vv. 2-4), numa associação de sensações olfativas a sensações
visuais e auditivas, que enriquece a descrição metafórica das memórias do sujeito poético.
O uso dos dois pontos no verso um estabelecem uma paragem para uma explicação ou uma especificação. Depois
do primeiro verso, o sujeito poético define “as memórias”, centrando o seu discurso nas memórias olfativas e na
sua persistência temporal (segunda estrofe). Os dois pontos do verso 12 preparam uma enumeração genérica de
sensações olfativas retidas na memória do sujeito poético (vv. 13-14).
Uma câmara escura é um local escuro onde a luz entra, através de um orifício, projetando uma imagem que fica
registada numa superfície. Ora, o sujeito poético vê a câmara escura da memória dos cheiros como mais eficaz na
retenção do “teor do universo” (vv.16-17) do que a fotografia. Esta memória é um “Cofre guardado muito mais que
em cor” (v.15), que é o que a fotografia retém.
Representações do contemporâneo.

Representações do contemporâneo
• Urbano
• Oposições sociais
• Degradação
• Denúncia social ou política
• Desumanização do homem

Tradição literária
Ø Retoma de temas tradicionais
Ø O amor
Ø A natureza
Ø O sonho e a imaginação
Ø A evocação do passado
Ø Retoma de formas tradicionais
Ø O verso de redondilha
Ø A quadra e a quintilha
Ø O soneto

Figurações do poeta
Ø Caracterização do poeta
Ø A simbologia do corpo
Ø A presença de animais
Ø A ironia, o cómico e a provocação
Ø Reflexão sobre o papel do poeta
Ø no mundo
Ø no poema
Ø na vida

Arte poética
Ø Metapoesia
Ø Reflexão sobre o fazer poético
Ø Reflexão sobre a criação poética
Ø Reflexão sobre o poema e o poeta
Ø Reflexão sobre o lugar da poesia

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