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A Mulher na Lírica Camoniana

Na lírica camoniana existe um óbvio contraste entre dois tipos de


mulher: uma imagem realista e uma segunda imagem, a mulher
petrarquista. A representação da amada nos poemas de Camões
aparece tanto nas redondilhas como nos sonetos que representam
retratos físicos e psicológicos da mulher.
Estes tipos de mulher são as antíteses características das obras
de Camões: a mitologia e o cristianismo; a alegria e a angústia; a paixão
carnal e o idealismo amoroso.
A mulher petrarquista é a mulher idealizada, associada ao
idealismo amoroso. Neste ideal, Camões segue as ideias de Francesco
Petrarca (1304 - 1374), poeta italiano. Esta mulher é profundamente
associada ao espiritualismo e impõe um modelo feminino absolutamente
inacessível, intocável, impalpável, que irradia serenidade e harmonia e
que é retratada como um símbolo de perfeição.
Um dos exemplos de mulher petrarquista na lírica camoniana é no
poema “Um mover d’olhos, brando e piadoso” pois no verso 10 o autor a
descreve com “um ar sereno”, sendo a serenidade uma das
características desta mulher. Também o facto de este a descrever como
a “minha Circe” no verso 13, enquadra-se nos ideais de mulher
petrarquista, pois Circe era uma figura da mitologia Grega conhecida
como sendo a mulher mais bela do mundo com o poder de atrair
qualquer homem que a desejasse. Esta representação da mulher na
lírica camoniana está também relacionada com a vassalagem e a
submissão, pois vai de encontro a sua característica de inacessibilidade.
Ela é intocável tornando assim os homens que a desejam, seus
vassalos, seus submissos.
A mulher petrarquista é também caracterizada com a capacidade
de influenciar positivamente a natureza. Por isso é que um dos
exemplos desta mulher nos poemas de Camões se encontra no poema
“A verdura amena”. Helena é retratada como a razão dos gados
pastarem, dos ventos serenarem e de a partir de espinhos se formarem
flores, sendo este um indubitável impacto positivo na natureza. Helena é
também a razão de vassalagem de homens e do próprio cupido,
encaixando assim em mais um aspeto da mulher petrarquista “Os
corações prende/ com graça inhumana/ de cada pestana/ uma alma lhe
prende./ Amor se lhe rende,/ e, posto em giolhos,/ pasma nos seus
olhos” v.v. 18-24
Dito isto, a segunda representação é a imagem realista. É uma
mulher terrena, modelada perante o qual o homem se sente
irresistivelmente atraído, deste modo estando associada à paixão
carnal. São mulheres apaixonadas, alegres, determinadas a lutar pelos
seus interesses e os seus sentimentos. Esta representação de mulher é
a prova que nem sempre na poesia de Luís de Camões, a mulher
aparece idealizada.

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