QUADRO SÍNTESE – POESIA TROVADORESCA

TÓPICOS CANTIGAS DE AMIGO CANTIGAS DE AMOR CANTIGAS DE ESCÁRNIO E DE MALDIZER

▪ conhecimento da sociedade rural – séc. XII-XIV.
VALOR DOCUMENTAL
▪ poesia autóctone, peninsular, de origem
popular e caráter tradicional, arcaizante.
ORIGEM/INFLUÊNCIA
▪ feminino: uma donzela
▪ conhecimento da sociedade cortesã – séc. XII-
XIV.
▪ poesia culta, erudita e importada que sofreu
influência da poesia provençal (originária do sul
de França).
▪ masculino: o trovador
▪ conhecimento de certos aspetos particulares
da sociedade cortesã da Idade Média,
especialmente da boémia jogralesa -
séc. XII-XIV.
▪ poesia autóctone, de tradição
popular/folclórica que sofreu influência
provençal do serventês (designação que
indica que a estrutura da cantiga seguiu
servilmente a melodia de uma canção).
▪ 1ª pessoa e 3ª pessoa (identificada ou não).

 manifestação do sentimentalismo feminino,  confissão dolorosa de uma angustiante  a grande maioria destas cantigas refere-se
da psicologia amorosa feminina: experiência passional face a uma mulher à vida interna dos jograis, classe
- alegre/feliz; inacessível; o “eu” confessa a sua coita
SUJEITO EMISSOR desclassificada, versando os vícios e os
- ansiosa/angustiada; (sofrimento) de amor, queixa-se da indiferença e
escândalos destes e das suas companheiras,
- ciumenta; da não correspondência amorosa feminina,
- vingativa. dirige-se a uma dama indiferente aos seus as “soldadeiras”, como a embriaguez
lamentos e insensível aos seus apelos, numa alcoólica, excessos venéreos, as rivalidades
atitude submissa e dependente, plangente e profissionais, etc.
suplicante.
▪ masculino: o amigo, o amado. ▪ feminino: a dona, a “senhor fremosa”. ▪ pessoa não identificada, sátira velada
OBJETO DO AMOR/ (cantigas de escárnio)/pessoa identificada,
OBJETO DE CRÍTICA sátira aberta (cantigas de maldizer).
▪ “infançon” (baixa nobreza).
▪ autocaracterização (tendência para o ▪ apresenta-se como: cativo, coitado, aflito, ▪ não caracterizado ou caracterizado como
autoelogio): “louçã”, “velida/louçana”(bela, desesperado, desorientado, servidor, submisso, excomungado, triste, superior na classe
CARACTERIZAÇÃO do
formosa), “leda”(alegre), “coitada” (infeliz) enlouquecido, sofredor, etc. social, ou caracterizado diretamente através
sujeito poético
“fremosa”, “bem talhada” (elegante), “bem do objeto como louco trovador, mentiroso,
parecer”, etc. maçador, etc.

Ano letivo 2018/2019

 ▪ mentiroso, infiel, traidor, cruel, “fremoso”, ▪ a dona é enaltecida/elogiada ”loada”
herói, objeto de saudade, cúmplice, amante, hiperbolicamente: mulher ideal, divina, perfeita a
bom companheiro. nível físico e psicológico, modelo da beleza e da
virtude.
Qualidades físicas: “fremosura”, beldade, corpo
delgado.
CARACTERIZAÇÃO do Qualidades morais: bondade, lealdade,
“comprida de bem”.
objeto (do amor/da
Qualidades sociais: “bon sen”(senso comum,
crítica) juízo), “mui comunal” (sociável, afável), “falar
mui bem”.
Qualidades genéricas: “prez”(provençalismo –
conjunto de boas qualidades, dignidade, mérito),
“loor” (honra, reputação, louvor), “grã valor”, a
melhor.
▪ distante, fria, inacessível.
▪ plano de igualdade: sentimento amoroso ▪ vassalagem amorosa do sujeito poético e
espontâneo. supremacia do objeto do amor (mulher).
Regras do amor cortês:
não totalmente declarado, devido ao seu
caráter adúltero (amor secreto, clandestino);
com poucas hipóteses de ser vivido a nível
físico;
RELACIONAMENTO  sofrer quando ela quiser;
entre o sujeito e o  comedimento na expressão do sentimento
objeto amoroso (guardar mesura);
 respeitar a sua “prez” (não mencionar o nome
da amada – “o trobar clus”- sigilo);
 ter autodomínio;
 fidelidade eterna do “eu”;
 prestar vassalagem.
Ano letivo 2018/2019
▪ a crítica é localizada, individualizada, não
atingindo problemas de ordem geral:
 «cavaleiro famélico», cujas refeições
demasiado frugais (moderadas/simples)
revelam a grave crise económica por que
passavam os infanções.
 infanção que ostenta falsos meios
materiais;
 a dama, “ a senhor” que é feia, velha e tola
(escárnio de amor);
 trovador que ensandece (enlouquece) ou
“morre de amor” (convencionalismo das
cantigas de amor);
 jograis de nível inferior caracterizados com
uma linguagem grosseira (p.ex., aumentativo
“jograrom”).
▪ relacionamento crítico, visando a denúncia
dos defeitos:
 crítica dos trovadores e jograis:
- da vida que levam;
- da falta de arte.
 censura de vícios e costumes da época: a
avareza, a vaidade, a crença em agoiros, o
casamento por rapto, a homossexualidade,
etc.
 sátira à soldadeira (mulher a soldo),
dançarina, cantadeira;
 traição dos cavaleiros de Afonso X, na
batalha de Granada;
 entrega dos castelos ao Conde de Bolonha
(D. Afonso III);
 a cruzada da Balteira (sátira a Maria Peres);
 polémica social;
 paródias e temas e formas da poesia lírica
amorosa.
 ▪ o emissor revela-se desejoso de poder ▪ permanente exaltação/superlativação das ▪ abdica da função social e corretiva, não
ver/encontrar o “amigo”, vendo nele a qualidades da mulher (a cantiga de amor é um pretendendo orientar/transmitir uma
possibilidade de ser feliz, de amar e ser amado. louvor + uma queixa + um apelo). corrente de opinião, mas apresentar uma
▪ vassalagem amorosa, submissão, sujeição, crítica individual e subjetiva, caindo, muitas
ATITUDE DO SUJEITO
dependência absoluta. vezes, na injúria.
POÉTICO perante o
▪ o trovador imaginava a “dona” como um
objeto (do amor/da
“suserano” a quem servia numa atitude submissa
crítica)
de vassalo.
▪ no jogo amoroso, ele serve a “senhor”, inclina-
se perante os seus caprichos, submete-se à
vontade dela, depende dela.
▪ papel da natureza: ▪ a natureza convencionalizada: ▪ a vida social da época.
- amiga e confidente;  a descrição das flores de maio, da brisa da
- hostil; primavera e do cantar do rouxinol;
- comparticipante;  o ambiente cortesão.
- cenário.
CENÁRIO
▪ elementos da natureza:
 o campo (a fonte, o rio, as flores dos pinheiros,
a montanha, a ermida, a alvorada);
 o mar;
 o baile,
 a casa.
▪ ora triste, preocupada, ansiosa, ora alegre. ▪ excessivamente triste, fatal, dramática e
desesperada.
▪ expressão da coita de amor devido a uma
paixão infeliz, a um amor não correspondido, à
saudade, à impossibilidade de ver a amada.
ATMOSFERA
▪ drama psicológico de um sofredor.
SENTIMENTAL
▪ tom dramático, de tensão contínua,
DOMINANTE
plangente/lastimoso (queixume permanente,
plangência excessiva), suplicante/apelativo, que
se torna comprazimento (prazer pessoal, agrado)
na dor (atitude masoquista) e que culmina na
aspiração a morrer de amor.
▪ o sentimento amoroso: ▪ o sentimento amoroso: ▪ a sátira:
 a alegria de amar e de ser amada;  a coita de amor;  pessoal;
TEMÁTICA  a tristeza da ausência do amigo;  o amor infeliz.  social: moral e religiosa;
 a saudade do passado, o ciúme;  política.
 a vingança, etc.

Ano letivo 2018/2019

 ▪ simples, espontânea, repetitiva.
▪ predomínio da parataxe (justaposição de frases
coordenadas sem uso de conjunção).
LINGUAGEM
▪ apresenta vestígios de uma poesia tradicional:
 refrão (concretiza o estado de alma do
emissor).
 impera o princípio designado de paralelismo
(apesar de aparência simples, revela grande
sabedoria e técnica requintada):
- perfeito (número de estrofes par)
consubstancia-se no leixa-prem, isto é, deixa-
toma ou larga-pega, que consiste num processo
de articulação estrófica, à maneira das
ESTRUTURA/ARTIFÍCIOS desgarradas populares, em começar cada estrofe
POÉTICOS repetindo o último verso de uma estrofe anterior
– o 2º verso da 1ª estrofe é retomado no 1º
verso da 3ªestrofe ao mesmo tempo que o o 2º
verso da 2ª estrofe é repetido no 1º da 4ª
estrofe;
- imperfeito (acontece quando o esquema do
leixa-prem não se repete rigorosamente);
- anafórico (com anáforas);
- semântico (com repetição de ideias);
- cantiga de mestria (rara) – sem refrão.
A técnica paralelística é a principal característica
formal, favorecendo a memorização necessária
ao canto.
Ano letivo 2018/2019
▪ complexa, rebuscada, artificial; ▪ expressando o modo de viver e de sentir de
▪ predomínio da hipotaxe; ambientes dissolutos, documentando os
▪ o drama psicológico do sujeito poético exprime- meios populares do tempo, os cantares de
se por processos retóricos que acentuam o seu escárnio apresentam uma linguagem bem
estado sentimental: antíteses, perífrases, trabalhada, repleta de ambiguidades, ironia e
hipérboles, metáforas, interrogações retóricas, de duplo sentido; por sua vez, nos de maldizer
anáforas, etc. predomina a zombaria, com a utilização de
expressões licenciosas (indecentes) ou de
baixo calão, de termos obscenos e uma
linguagem mais agressiva.
▪ cantiga de mestria (poema formado por várias ▪ cantiga de mestria
estrofes, em geral três ou mais, sem refrão). ▪ cantiga de refrão
▪ dobre (repetição de um ou mais vocábulos no
mesmo lugar de cada copla).
▪ mordobre (emprego de formas diferentes do
mesmo verbo no mesmo lugar em cada copla).
▪ encavalgamento (o conteúdo ideológico de um
verso termina no verso seguinte).
▪ finda (estrofe curta que serve de fecho aos
pensamentos anteriormente desdobrados).
▪ atafinda (ligação ideológica de estrofe para
estrofe).