Através da voz masculina do trovador, assiste-se ao elogio cortês e à “coita
de amor”.
O elogio cortês consiste no elogio superlativado da “senhor”, cujo retrato
é idealizado: bela, formosa, sensata, virtuosa eloquente e leal. São cumpridas as regras do amor cortês, pela “mesura” (cerimónia, cortesia), caracterizada pelo sigilo da identidade da dama, pela discrição e contenção. Evidencia-se também a relação de vassalagem: o sujeito poético serve a dama com diligência e fidelidade.
A coita de amor presente nestas cantigas consiste na não correspondência
amorosa, na indiferença da dama, através de amargas lamentações e de súplicas. O sofrimento torna-se insustentável e conduz ao desespero. Esta é a afirmação de que o amor conduzirá à loucura ou mesmo à morte do sujeito poético.
Estas cantigas permitem reconstituir aspectos da vida da mulher medieval.
A representação da mulher pura e imaculada das cantigas de amor parece estar ligada ao culto de Nossa Senhora, sobretudo se se considerar que um dos traços da religiosidade na Idade Média está exatamente no desenvolvimento do marianismo, fortemente presente naquela época.