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Nº 3 – 12º ANO
GRUPO I
PARTE A
Leia o poema.
D. SEBASTIÃO
1. Justifique o recurso à primeira pessoa do singular.
O discurso na primeira pessoa permite perceber que o sujeito poético assume a perspetiva do
rei D. Sebastião; é como se encarnasse esta figura histórica e percecionasse a sua ação sob o
olhar do monarca. Por isso, é o próprio que afirma “Caí no areal e na hora adversa” (v. 1), onde
evidencia a perceção que tem da sua desgraça, ou “É O que eu me sonhei que eterno dura” (v.
7), revelando a convicção ou certeza da sua predestinação e consequente mitificação.
O tom messiânico resulta desde logo da predestinação do herói. Com efeito, D. Sebastião é
eleito por Deus para levar a cabo a missão de converter os mouros, espalhando a fé cristã no
norte de África, pelo menos na versão lendária que se construiu após o desaparecimento do
monarca. No texto, esse messianismo está também presente na referência à proteção que lhe
é dada por Deus, afirmando “Se com Deus me guardei?” (v. 6), passando a gozar da capacidade
de ressuscitar tal como o seu protetor, quando convictamente assegura “É Esse que
regressarei.” (v. 8).
O discurso do sujeito poético inicia com a utilização da forma verbal “Esperai”, no imperativo,
com valor exortativo, dado encerrar um pedido que é justificado no fim, com a promessa de
que regressará. Deste modo, e também pelo valor semântico do verbo, percebe-se que o “eu”
está convicto do seu reaparecimento ainda que numa vertente mítica que só se concretizará se
houver fé e esperança de que a espera será recompensada com o regresso.
PARTE B
Leia o excerto.
Cena III
MADALENA, TELMO, MARIA
MARIA (entrando com umas flores na mão, encontra-se com Telmo, e o faz tornar para a
cena) – Bonito! Eu há mais de meia hora no eirado passeando – e sentada a olhar para o rio
e a ver as faluas e os bergantins 1 que andam para baixo e para cima – e já aborrecida de
esperar... e o senhor Telmo, aqui posto a conversar com a minha mãe, sem se importar de
5 mim. – Que é do romance que me prometeste? Não é o da batalha, não é o que diz:
Postos estão, frente a frente,
Os dois valorosos campos;
é o outro, é o da ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há de
vir um dia de névoa muito cerrada2... Que ele não morreu; não é assim, minha mãe?
10 MADALENA Minha querida filha, tu dizes coisas! Pois não tens ouvido, a teu tio Frei Jorge e
a teu tio Lopo de Sousa, contar tantas vezes como aquilo foi? O povo, coitado, imagina essas
quimeras para se consolar na desgraça.
MARIA Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe: eles que andam tão crentes nisto,
alguma coisa há de ser. Mas ora o que me dá que pensar é ver que, tirado aqui o meu bom
15 Telmo (chega-se toda para ele, acarinhando-o), ninguém nesta casa gosta de ouvir falar em
que escapasse o nosso bravo rei, o nosso santo rei D. Sebastião. Meu pai, que é tão bom
português, que não pode sofrer estes castelhanos, e que até, às vezes, dizem que é de mais
o que ele faz e o que ele fala… em ouvindo duvidar da morte do meu querido rei D.
Sebastião... ninguém tal há de dizer, mas põe-se logo outro, muda de semblante, fica
20 pensativo e carrancudo; parece que o vinha afrontar, se voltasse, o pobre do rei. – Ó minha
mãe, pois ele não é por D. Filipe; não é, não?
MADALENA Minha querida Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas que
são tão pouco para a tua idade! Isso é o que nos aflige, a teu pai e a mim; queria-te ver mais
alegre, folgar3 mais, e com coisas menos...
25 MARIA Então, minha mãe, então! – Veem, veem?... também minha mãe não gosta. Oh!
essa ainda é pior, que se aflige, chora... ela aí está a chorar... (vai-se abraçar com a mãe, que
chora). Minha querida mãe, ora pois então! – Vai-te embora, Telmo, vai-te; não quero mais
falar, nem ouvir falar de tal batalha, nem de tais histórias, nem de coisa nenhuma dessas. –
Minha querida mãe!
30 TELMO E é assim; não se fala mais nisso, e eu vou-me embora. (À parte, indo-se depois de
lhe tomar as mãos) Que febre que ela tem hoje, meu Deus! queimam-lhe as mãos... e
aquelas rosetas4 nas faces... Se o perceberá a pobre da mãe!
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa (dir. Annabela Rita), Porto, Edições Caixotim, 2004.
1
Embarcações pequenas e ligeiras, de dois mastros. 2 A crença popular era a de que D. Sebastião não teria morrido
e regressaria numa manhã de muito nevoeiro. 3 Divertir, distrair. 4 Manchas avermelhadas, características da
tuberculose.
PARTE C
GRUPO II
Leia o texto.
Talvez a falta de Amor seja mesmo a “peste” do século XXI! Será que estamos também
Porque é que muitas pessoas continuam a pensar que sentir falta de Amor é normal e
aceitam ser pouco amadas ou mesmo muito mal-amadas, com receio e medo de perder o
5 que muitas vezes só existe mesmo na sua imaginação?
Porque existem crenças e mitos completamente obsoletos, entre os quais o de que sentir
amor próprio é vaidade e de que não existe uma bela história de Amor sem muito
sofrimento! Tudo mentiras!
O que está a acontecer com o Amor que geneticamente viemos programados para sentir
10 por nós mesmos e pelos outros, e que muitos dizem sentir por nós, mas que na “prática” é
zero?
Será que esta sociedade de consumo está a “consumir” e a “perverter” o conceito de
Amor, ou nos está a querer tentar impingir um “Amor falsificado” por nós mesmos e pelos
outros?
15 Pela minha experiência acompanhando casais, o modelo “Vale quase tudo!” tende a
predominar. Agressões verbais, físicas e constante desrespeito apresentam tendência
acentuada para serem relativizados e não interpretados como situações graves, inaceitáveis
e reveladoras de uma total falta de Amor.
A idealização do que é uma relação de Amor, as dificuldades em ter uma relação de
20 compromisso pensando que irá encontrar um “pacote melhor”, de se amar a si próprio
frente a todas as exigências que lhe são diferidas (ou que se auto impõe), o sentimento
crónico de não se sentir amado pelo companheiro e familiares e, ainda assim, não o dizer
com todas as consequências daí advenientes… a sensação que muitas pessoas transmitem
de que vivem numa espécie de “selva dos afetos” na qual tentam sobreviver… ainda não é
25 generalizável, mas creio que para lá caminha!
A falta de Amor paira…
Será que um destes dias vamos ao supermercado e encontramos a prateleira do Amor
enlatado, chegamos a casa e comemos as referidas latas olhando para a televisão, Facebook,
Instagram, SMS e WhatsApp, tudo ao mesmo tempo?
4. Na frase “Será que esta sociedade de consumo está a ‘consumir’ e a ‘perverter’ o conceito
de Amor, ou nos está a querer tentar impingir um ‘Amor falsificado’ por nós mesmos e
pelos outros?” (ll. 12-14) , a conjunção “ou” tem valor
(A) disjuntivo ou de alternância.
(B) explicativo.
(C) aditivo.
(D) conclusivo.
5. A oração “que lhe são diferidas” (l. 21) classifica-se como subordinada
(A) substantiva relativa.
(B) adjetiva relativa restritiva.
(C) adverbial consecutiva.
(D) substantiva completiva.
GRUPO III
Hoje em dia, a preocupação das pessoas centra-se nas novas tecnologias e esquecem-se
que o Amor é fundamental para se viver em harmonia, connosco e com os outros.
No seu texto:
FIM
COTAÇÕES
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I
16 16 16 8 16 16 16 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II
8 8 8 8 8 8 8 56
III Item único 40
TOTAL 200
Proposta de correção
GRUPO I
PARTE A
1. .
PARTE B
2. Pelo discurso de Maria, e logo na sua primeira intervenção, depreende-se que a personagem é uma
fervorosa defensora do mito sebastianista. Duvida da morte do monarca e, tal como o povo
português, acredita que D. Sebastião regressará num “dia de névoa muito cerrada”, impedindo, assim,
a perda da independência dos portugueses que se encontravam já sob o jugo dos espanhóis.
3. D. Madalena sabia que se D. Sebastião regressasse ou estivesse vivo, o mais provável é que D. João
também estivesse e isso seria catastrófico para a sua família. Ouvir falar dessa possibilidade era
destruir a felicidade que construíra ao lado de Manuel de Sousa; por isso, tenta que Maria não
acredite no mito do regresso do rei e muito menos que o alimente, pois isso traria ao seu presente um
passado que queria esquecer. Esta situação aumentava ainda mais a angústia em que vivia.
PARTE C
4. Entre a Mensagem e Os Lusíadas é possível estabelecerem-se algumas aproximações, apesar de ser
mais aquilo que separa as duas obras do que aquilo que as aproxima.
Ainda que ambas as obras tenham um fundo épico, a pessoana é mais subjetiva e tal é desde logo
visível na forma como D. Sebastião aí surge. Veja-se que em Os Lusíadas, o monarca começa por ser
caracterizado de forma abonatória e elogiosa, sendo-lhe dedicada a obra épica. Como se sabe, o rei
português era quem governava na época e, por isso, Camões, seu contemporâneo e seu súbdito,
enaltece-o e dedica-lhe a sua epopeia, estabelecendo com ele uma espécie de diálogo.
Fernando Pessoa escreve a Mensagem quatro séculos depois, quando D. Sebastião já se tinha
afirmado como figura lendária e mítica, adquirindo, por isso, aqui uma dimensão simbólica,
confirmada no facto de o próprio poeta se assumir como interlocutor do discurso nos poemas em que
D. Sebastião é convocado. Mas é um interlocutor sem rosto; é uma força espiritual ou divina, porque o
rei fora escolhido por Deus para reerguer a nação que, no século XX, perdera o esplendor da época
camoniana.
Assim, conclui-se que o D. Sebastião camoniano é uma entidade concreta, que tomava, na época, as
rédeas do reino; Pessoa, por seu lado, evoca apenas uma figura simbólica, cujo espírito de aventura e
de loucura era necessário e urgente impregnar no povo português do século XX para que estes
erguessem o Quinto Império.
(243 palavras)
GRUPO II
1. (B); 2. (D); 3. (A); 4. (A); 5. (B).
6. a) Sujeito.
b) Complemento direto.
7. Coesão lexical por reiteração.
GRUPO III
Todos sabemos que o mundo atual está mais voltado para a posse de bens materiais. Os próprios
estados promovem este tipo de comportamentos ao lutarem para se imporem entre si e mostrarem a
superioridade tecnológica.
(316 palavras)