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Teste

Sequência1
1. Fernando Pessoa Sequência 1. Fernando Pessoa Teste 3

Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

A
Lê o poema de Mensagem.

D. Fernando, Infante de Portugal1


Deu-me Deus o seu gládio2, por que eu faça Ideia de predestinação do herói
A sua santa guerra.
D. Fernando foi escolhido por Deus para,
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
na terra prolongar a Sua missão.
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me Caracterização da personagem:
A fronte com o olhar;  Predestinado (“Sagrou-me seu”)
E esta febre de Além, que me consome,  Corajoso (“não temo o que virá”)
E este querer grandeza são seu nome  Ambicioso (“E esta febre do
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Dentro em mim a vibrar. Além”; “este querer grandeza”)
 Calmo (“Em minha face calma”)
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
 Crente (“Cheio de Deus”)
Em minha face calma.  Possuidor de uma grande alma
Cheio de Deus, não temo o que virá, (“nuca será / Maior do que a
Pois, venha o que vier, nunca será minha alma”)
Maior do que a minha alma.

PESSOA, Fernando, 2008. “Mensagem”. In Poesia do Eu.


2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 358-359)

10 1. Oitavo e último filho de D. João I, pertenceu, com os irmãos, à chamada


“Ínclita Geração”. Foi feito prisioneiro pelos mouros na expedição a Tânger
de 1437, onde morreu em 1443, à espera de resgate, tendo, por isso, ficado conhecido
pelo cognome “Infante Santo”; 2. antiga espada curta, de lâmina larga com dois gumes.
A espada está simbolicamente associada ao poder (divino, na Guerra Santa) e à conquista.

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Sequência 1. Fernando Pessoa Teste 3

1. Descreve o retrato que o sujeito poético faz de si mesmo, relacionando-o com a


conceção de herói apresentada no poema.

O sujeito poético apresenta-se como alguém investido por Deus para levar a cabo a
sua “santa guerra” (v. 2). Assume-se como um “escolhido” (vv. 6-9) que, ao receber o
“gládio” divino (v. 1), com ele se “Sagrou” (v. 3). Por isso, declara a sua coragem, já
que “Cheio de Deus” (v. 13), inspirado, nada será maior que a sua “alma” (v. 15), ou
seja, que a sua determinação. A conceção messiânica da História torna-se evidente no
retrato que o sujeito poético faz de si mesmo, pois o sacrifício a que se submeteu só
foi possível por ter sido eleito por Deus para cumprir uma alta e exemplar missão,
ascendendo, assim, a herói.

2. Explicita o valor expressivo da utilização da primeira pessoa ao longo do texto.

A utilização da primeira pessoa revela a identificação do sujeito lírico com a


personagem histórica a quem é dedicado o poema (interiorização da matéria épica).
Desse modo, colocando o próprio “homenageado” a falar sobre si mesmo e a sua
imolação, confere-se maior credibilidade ao discurso e valoriza-se a ação do herói,
justificada por intenções superiores.

3. Identifica, no poema, uma marca do discurso épico e outra do discurso lírico, citando um
exemplo significativo para cada um dos casos.

Constituem marcas do discurso épico a apresentação de um acontecimento


histórico realizado por um protagonista de alta estirpe (social e moral), que
concretiza uma ação heroica e admirável, com a ajuda de Deus (vv. 1-2, 6-7, 13-15).
O discurso lírico evidencia-se na forma fragmentária, na utilização da primeira
pessoa, que confere ao discurso um tom subjetivo, e na interiorização da matéria
histórica e épica pelo sujeito lírico, que faz interferir a sua afetividade na
apresentação da realidade.

4. Explicita o papel desempenhado por «Deus» na missão divina de D. Fernando.

Deus atribuiu uma missão divina a D. Fernando, pois concedeu-lhe o «gládio», instrumento
da vontade divina, ou seja, a fé e a proteção necessárias para proceder à reflexão interior
como ato iniciático de uma missão transcendente. Para além disso, foi escolhido, sagrado
por «Deus» para ser o agente da sua vontade e fazer «a guerra santa».
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Sequência 1. Fernando Pessoa Teste 3

5. Mostra de que modo se constrói, no poema, a imagem simbólica do herói. Refere dois aspetos
dessa imagem e ilustra a resposta com elementos textuais.

D. Fernando atinge a dimensão simbólica de herói, um ser considerado superior ao homem


comum. Assim, é a fé que lhe confere a aura de mito («venha o que vier, nunca será / Maior
do que a minha alma»), permanecendo vive na memória de um povo pelos seus valores
essenciais à construção de uma missão futura («Cheio de Deus, não temo o que virá»). Além
disso, a sua atitude representa um sonho coletivo, como um ideal a seguir («este querer
grandeza são seu nome / Dentro de mim a vibrar.»).

6. Expõe duas razões para a utilização do futuro verbal na última estrofe.

Na última estrofe, realça-se o uso do futuro do indicativo (“o que virá”, “nunca ser´”) e do
conjuntivo. A primeira situação orienta para a factualidade de algo que se cumprirá num
tempo futuro, ou seja, realça a certeza do «eu» relativamente a algo que ocorrerá num
tempo ainda por se realizar. Todavia, no segundo caso, depreende-se a incerteza, a dúvida
relativamente a esse futuro, que, por o ser, é incerto, é desconhecido.

7. A figura do herói está presente em muitas obras estudadas ao longo do ensino secundário, embora a
sua construção possa depender de diversos fatores.

Escreva uma breve exposição na qual distinga o herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do
herói em Mensagem, de Fernando Pessoa. A sua exposição deve incluir:

•  uma introdução ao tema;


•  um desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica que permita
distinguir o herói em Os Lusíadas do herói em Mensagem, fundamentando as características
apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das obras;
•  uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema

Em Os Lusíadas:
‒  os heróis são apresentados na sua dimensão humana e histórica, o que é patente, por
exemplo, nos protagonistas da viagem marítima até à Índia, nomeadamente Vasco da Gama
e os marinheiros, cujos feitos permitiram o desvendamento dos mares desconhecidos;
‒  os heróis são os portugueses que, vencendo os seus medos e todos os perigos, foram
capazes de superar a própria condição humana e de ascender ao plano dos deuses, como se
comprova, por exemplo, quando são recompensados na Ilha dos Amores.
Em Mensagem:

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Sequência 1. Fernando Pessoa Teste 3

‒  os heróis não se inscrevem num tempo nem num espaço determinados, assumindo uma
dimensão mítica/simbólica. É o caso de D. Sebastião, enquanto símbolo da ambição que
poderá fazer renascer a glória da pátria;
‒  os heróis situam-se na esfera da espiritualidade, como é o caso de D. Fernando, que age
como instrumento da vontade divina/de uma vontade superior.

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