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FICHA DE TRABALHO – FP_M9

Português
12.º ano
Fernando Pessoa – Mensagem

A
Lê o poema de Mensagem.

D. Fernando, Infante de Portugal1


Deu-me Deus o seu gládio2, por que eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
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Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
10 E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
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Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.
PESSOA, Fernando, 2008. “Mensagem”. In Poesia do Eu.
2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 358-359)

1. Oitavo e último filho de D. João I, pertenceu, com os irmãos, à chamada


“Ínclita Geração”. Foi feito prisioneiro pelos mouros na expedição a Tânger
de 1437, onde morreu em 1443, à espera de resgate, tendo, por isso, ficado conhecido
pelo cognome “Infante Santo”; 2. antiga espada curta, de lâmina larga com dois gumes.
A espada está simbolicamente associada ao poder (divino, na Guerra Santa) e à conquista.

1. Descreve o retrato que o sujeito poético faz de si mesmo, relacionando-o com a


conceção de herói apresentada no poema.

2. Explicita o valor expressivo da utilização da primeira pessoa ao longo do texto.

3. Identifica, no poema, uma marca do discurso épico e outra do discurso lírico,


citando um exemplo significativo para cada um dos casos.

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FICHA DE TRABALHO – FP_M9

1. O sujeito poético apresenta-se como alguém investido por Deus para levar a
cabo a sua “santa guerra” (v. 2). Assume-se como um “escolhido” (vv. 6-9)
que, ao receber o “gládio” divino (v. 1), com ele se “Sagrou” (v. 3). Por isso,
declara a sua coragem, já que “Cheio de Deus” (v. 13), inspirado, nada será
maior que a sua “alma” (v. 15), ou seja, que a sua determinação. A conceção
messiânica da História torna-se evidente no retrato que o sujeito poético faz
de si mesmo, pois o sacrifício a que se submeteu só foi possível por ter sido
eleito por Deus para cumprir uma alta e exemplar missão, ascendendo,
assim, a herói.

2. A utilização da primeira pessoa denota a identificação do sujeito lírico com a


personagem histórica a quem é dedicado o poema. Desse modo, colocando
o próprio “homenageado” a falar sobre si mesmo e a sua imolação, confere-
se maior credibilidade ao discurso e valoriza-se a ação do herói, justificada
por intenções superiores.

3. Constituem marcas do discurso épico a apresentação de um acontecimento


histórico realizado por um protagonista de alta estirpe (social e moral), que
concretiza uma ação heroica e admirável, com a ajuda de Deus (vv. 1-2, 6-7, 13-15).
O discurso lírico evidencia-se na forma fragmentária, na utilização da primeira
pessoa, que confere ao discurso um tom subjetivo, e na interiorização da matéria
histórica e épica pelo sujeito lírico, que faz interferir a sua afetividade na
apresentação da realidade.

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