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D.

Fernando, Infante de Portugal

Deu-me Deus o seu gládio, por que eu faça


A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me


A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá


Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

Quem foi o infante D.Fernando?

—Filho de D.João I e de D. Filipa de Lencastre, foi Mestre da Ordem de Avis.


— O infante D. Fernando e seu irmão, o infante D. Henrique, convenceram o rei D.
Duarte, irmão de ambos, a fazer a expedição a Tânger, em 1437, que resultou num fracasso
para a parte portuguesa. Os Mouros, cercaram as tropas portuguesas e destroçaram-nas,
fazendo muitos prisioneiros. Como condição para libertar os portugueses, entre eles o
infante D. Henrique, os Mouros impõem as suas condições: restituição de Ceuta; paz entre
Portugal e Marrocos e o infante D. Fernando ficava como refém, como garantia do
cumprimento das condições.
Reunidas as Cortes, decidiram não ceder às condições impostas pelos Mouros, não
entregando Ceuta, sendo o infante D. Henrique um dos que se opuseram a essa cedência, o
que condenava o infante D. Fernando ao cativeiro. Foram feitas várias tentativas para a sua
libertação, que não funcionaram. Assim, o infante D. Fernando continuou prisioneiro dos
mouros, sofrendo maus tratos e as maiores privações, vindo a falecer no cativeiro.Dado todo
o sofrimento por que passou, ficou conhecido pelo cognome de "Infante Santo".
Análise do texto:

O poema está dividido em 3 partes:


1º parte (versos 1-7): D.Fernando é sagrado com a espada, sendo o gládio um símbolo do
poder que Deus investe para que ele possa cumprir o destino de Portugal na expansão.
Sendo este retratado como um instrumento da vontade de Deus. Esta primeira parte
também é marcada pelo pretérito perfeito, o passado.

2º parte (vv. 8-12): O infante é guiado por Deus para seguir o caminho certo, salientando a
sua vontade de conquista e mudar, sendo este um herói que age por vontade divina. Esta
segunda parte também é marcada pelo presente do indicativo, o presente do herói.

3º parte (vv. 13- 15): demonstra a sua determinação, coragem… mas que não tem receio e
está calmo pois tem Deus do seu lado e ter fé permite enfrentar o futuro sem medo.
Realçando assim, a sua devoção pela fé e pelo reino, D. Fernando tem uma alma digna. Esta
terceira parte também é marcada pelo futuro.

Estrutura externa:

O poema é constituído por 3 estrofes, todas quintilhas. O esquema rimático é ABBAB,


sendo então uma rima cruzada nos 3 primeiros versos e no último verso. Interpolada no
segundo verso e emparelhada no terceiro e quarto verso.

Figuras de estilo:
- Paradoxo (santa guerra)
- Antítese (honra e em desgraça)
- Anáfora (E esta/ E este)
- Hipálage (minha face calma)

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