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Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

A
Lê o poema de Mensagem.

D. Fernando, Infante de Portugal1


Deu-me Deus o seu gládio2, por que eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
5 Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
10 Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
15
Maior do que a minha alma.
PESSOA, Fernando, 2008. “Mensagem”. In Poesia do Eu.
2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 358-359)

1. Oitavo e último filho de D. João I, pertenceu, com os irmãos, à chamada


“Ínclita Geração”. Foi feito prisioneiro pelos mouros na expedição a Tânger
de 1437, onde morreu em 1443, à espera de resgate, tendo, por isso, ficado conhecido
pelo cognome “Infante Santo”; 2. antiga espada curta, de lâmina larga com dois gumes.
A espada está simbolicamente associada ao poder (divino, na Guerra Santa) e à conquista.

1. Descreve o retrato que o sujeito poético faz de si mesmo, relacionando-o com a conceção
deherói apresentada no poema.

2. Explicita o valor expressivo da utilização da primeira pessoa ao longo do texto.

3. Identifica, no poema, uma marca do discurso épico e outra do discurso lírico, citando
umexemplo significativo para cada um dos casos.

1
B

Lê o excerto da Crónica de D. João I de Fernão Lopes.

Nom leixavom os da çidade por seerem assi çercados de fazer a barvacãa1


darredor do muro da parte do arreall, des a porta de Samta Catherina, ataa
torre dAlvoro Paaez, que nom era aimda feita […]. E quamdo os emmiigos os
torvar2queriam, eram postos em aquell cuidado, em que forõ os filhos de
5 Isrraell, quamdo Rei Serges, filho de Rei Dario, deu leçemça ao profeta
Neemias, que rrefezesse os muros de Jerusallem; que guerreados pellos vezi-
nhosdarredor, que os nom alçassem3, com huũa maão poinham a pedra, e na
outra tiinham a espada pera sse deffemder; e os Portugueeses fazemdo tall
obra, tiinham as armas jumto comsigo, com que sse deffemdiam dos emmii-
10 gos,quamdo sse trabalhavom4de os embargar5que6a nom fezessem.
As outras cousas que perteemçiam ao rregimento da çidade, todas eram
postas em boa e igual hordenamça; hi nom avia nehuũ, que com outro levam-
tassearroido nem lhe empeeçesse7per tallemtosos8exçessos, mas todos husa-
vomdamigavel comcordia, acompanhada de proveito comuũ.
15 Oo que fremosa cousa era de veer! Huũ tam alto e poderoso senhor como
he elRei de Castella, com tamta multidom de gemtes assi per mar come per
terra, postas em tam gramde e boa hordenamça, teer çercada tam nobre
çidade, ella assi guarneçida comtra elle de gemtes e darmas com taaes avisa-
mentos9por sua guarda e deffenssom; e tamto que diziam os que o virom, que
20 tam fremoso çerco de çidade nom era em memoria dhomeẽs que fosse visto
de mui lomgos anos ataa aquell tempo.
LOPES, Fernão, 1994. Crónica de D. João I. Volume I. Capítulo CXV/115.
Porto: Civilização (pp. 225-226) (1.ª ed.: 1644)

1. muro anteposto às muralhas e mais baixo do que estas, para defender o fosso;
2. incomodar;
3. erguessem;
4. esforçavam;
5. impedir;
6. para que;
7. criasse problemas;
8. propositados;
9. cuidados, cautelas.

4. Refere, fundamentando-te no texto, as ações dos “da çidade” (l. 1) que evidenciam a afirmaçãoda
consciência coletiva.

5. Relaciona a exclamação com que se inicia o último parágrafo com o assunto desse momentodo texto.

2
Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Lê atentamente o discurso de Manuel Alegre na cerimónia de atribuição da Medalha Municipal de


Honra da cidade de Lisboa.

Sinto-me muito honrado com a distinção conferida pela Câmara Municipal de Lisboa.
Agradeço ao Senhor Presidente Fernando Medina, a quem se deve a iniciativa, a todos os Se-
nhoresVereadores que a aprovaram por unanimidade e saúdo todos os partidos políticos e
movimentos de cidadãos por eles representados.
5 Eu nasci em Águeda, nasci uma segunda vez em Coimbra e agora, ao receber a Medalha
de Honra da Cidade de Lisboa, tenho a sensação, apesar da minha idade, de estar a nascer
uma terceira vez.
Completam-se hoje 42 anos sobre o dia em que regressei a Lisboa, depois de 10 anos de
exílio […]. Pisar o chão de Lisboa no dia 2 de maio de 1974 foi um dos momentos mais emo-
10 cionantesda minha vida. […]
Vivo em Lisboa há 42 anos. Mas na verdade eu estou em Lisboa desde as crónicas de Fer-
nãoLopes, andei por aqui na Revolução de 1383, assisti nas páginas de Camões à partida das
naus que foram à Índia, pela mão de Jorge de Sena, Urbano Tavares Rodrigues e António
Borges Coelho, estive com António Prior do Crato na Batalha de Alcântara, que sendo uma
15 batalha perdida é uma das mais extraordinárias porque foi travada pelo povo de Lisboa mal
armado e por uns restos de cavalaria, contra o mais poderoso exército da Europa, comandado
pelo Duque de Alba. […]
Passei a ser poeticamente de Lisboa desde “O sentimento dum ocidental” de Cesário Verde,
até Fernando Pessoa de “Tabacaria”, “Ode Marítima” e “Lisboa cidade alegre e triste”. Sou de Lis-
20 boahá séculos, desde o início da extraordinária aventura das navegações, em que, pelo mar fora,
fomos Europa antes de a Europa o ser e em que pela primeira vez os portugueses conseguiram,
como disse Fernando Pessoa, que “A Terra fosse toda uma” e “O Mar unisse já não separasse”.
Estou aqui, perdoem-me esta divagação um pouco estranha, mas que os poetas meus
amigos por certo compreendem, estou aqui há séculos, nesta capital de Império que, mesmo
25 sem Império, continua a ser uma das grandes capitais do mundo.
Lisboa da Resistência, das grandes manifestações operárias e estudantis, da luta clandes-
tinae da campanha de Humberto Delgado, até à chegada de Salgueiro Maia ao Largo do
Carmo. Lisboa da Assembleia Constituinte, onde os deputados de todas as forças políticas,
apesar das desavenças ideológicas, conseguiram concretizar o imperativo patriótico de elabo-
30 rare aprovar a Constituição da República, que continua a ser a garantia da Liberdade e dos
Direitos Políticos e Sociais conquistados com o 25 de Abril. […]
Lisboa do poeta Ary dos Santos, “Lisboa Menina e Moça” na voz de Carlos do Carmo.
Lisboa de todas e todos os fadistas e compositores, que ajudaram a fazer do Fado Património
Imaterial da Humanidade.
35 Lisboa onde Sophia escreveu:

3
“Digo: / Lisboa / Quando atravesso – vinda do sul – o rio / E a cidade a que chego abre-se
como se do seu nome nascesse.”
Eu também vinha do Sul a 2 de maio de 1974. Vinha da Argélia, que acolheu os exilados
portugueses com uma solidariedade que não podemos esquecer.
40 42 anos depois, apetece-me dizer como Sophia:
“A cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse”.
ALEGRE, Manuel, 2016. Manuel Alegre.
http://www.manuelalegre.com/301000/1/003313,000018/index.htm [Consult. 2017-01-16]

1. Na primeira frase do texto, o constituinte “muito honrado com a distinção conferida pela
CâmaraMunicipal de Lisboa” desempenha a função sintática de
(A) complemento direto, integrando dois complementos do adjetivo.
(B) complemento direto, integrando um predicativo do complemento direto e um complementodo
adjetivo.
(C) predicativo do sujeito, integrando um complemento do nome e um complemento agenteda
passiva.
(D) predicativo do sujeito, integrando dois complementos do adjetivo.

2. No segundo parágrafo, o orador explora


(A) o campo lexical do verbo “nascer”.
(B) o campo semântico do verbo “nascer”.
(C) a relação de hiperonímia/hiponímia existente entre “Cidade” (l. 6) e “Águeda” (l. 5), “Coimbra”
(l. 5)e “Lisboa” (l. 6).

(D) a relação de holonímia/meronímia existente entre “Cidade” (l. 6) e “Águeda” (l. 5), “Coimbra”(l.
5) e “Lisboa” (l. 6).

3. O terceiro parágrafo integra referências deíticas


(A) temporais e espaciais.
(B) espaciais e pessoais.
(C) pessoais e temporais.
(D) pessoais, temporais e espaciais.

4. Com o recurso a “andei por aqui” (l. 12), “assisti” (l. 12) e “estive com” (l. 14), Manuel Alegre destaca
(A) a sua longevidade.
(B) o poder sugestivo dos autores referidos.
(C) vitórias e conquistas da História nacional.
(D) a propensão histórica e épica dos escritores portugueses.

5. A referência à “Batalha de Alcântara” (l. 14) exemplifica


(A) o carácter persuasivo e crítico do discurso.
(B) a eloquência e a dimensão expositiva do discurso.
(C) a natureza retrospetiva e intimista do discurso.
(D) a dimensão ética e social do discurso.

4
6. Através da afirmação “fomos Europa antes de a Europa o ser” (l. 21), o autor coloca em evidência
(A) a propensão unificadora do povo português.
(B) a dimensão mítica do destino nacional.
(C) o carácter precursor dos portugueses.
(D) a vocação marítima da nação lusitana.
7. No sexto parágrafo, para salientar a importância atual da cidade de Lisboa, Manuel Alegrerecorre
(A) à antítese e ao complexo verbal com valor aspetual imperfetivo.
(B) à hipérbole e ao complexo verbal com valor aspetual iterativo.
(C) à antítese e ao complexo verbal com valor aspetual genérico.
(D) à gradação e ao complexo verbal com valor aspetual imperfetivo.
8. Classifica a oração subordinada introduzida por “a quem”, na linha 2.
9. Transcreve o segmento que desempenha a função de sujeito na última oração do terceiro
parágrafo.
10. Identifica o mecanismo de coesão concretizado com a repetição de “Lisboa”, ao longo do
discurso.

Grupo III

Redige uma apreciação crítica do discurso de Manuel Alegre apresentado no grupo II.
Escreve um texto bem estruturado, de duzentas a trezentas palavras, respeitando as marcas do
género.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma únicapalavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2017/).
2. Desvios dos limites de extensão indicados implicam uma desvalorização.

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