com
1 Per que guisa1 estava a cidade corregida2 pera se defender, quando el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.
(…)
Havia mais em estas torres muitas lanças d’armas e bacinetes 9, e doutras armaduras, que reluziam tantas que
bem mostrava cada fua torre per si que abastante era pera se defender. Em muitas delas estavom troõs 10 bem
20 acompanhados de pedras, e bandeiras de sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e doutros alguus senhores e
capitães que as poinham nas torres que lhes eram encomendadas.
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos muros pelos fidalgos e cidadãos
honrados; aos quaes derom certas quadrilhas e beesteiros e homees d’ armaspera ajuda de cada uu guardar bem a
sua. Em cada quadrilha havia uu sino pera repicar quando tal cousa vissem, e como cada uu ouvia o sino da sua
25 quadrilha, logo todos rijamente corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tinham cárrego das torres viinham
espaçar pela cidade, e leixavom-nas encomendadas a homees de que muito fiavom; outras vezes nom ficavom em elas
senom as atalaias; mas como davom aa campãa, logo os muros eram cheos, e muita gente fora.
E nom somente os que eram assinados em cada logar pera defensom, mas ainda as outras gentes da cidade, em
ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avivavom-se os corações deles; e os mesteirais dando folgança aos seus
30 ofícios, logo todos com armas corriam rijamente pera u diziam que os Castelãos mostravom viinr. Ali viriees os muros
cheos de gentes, com muitas trombetas e braados e apupos esgrimindo espadas e lanças e semelhantes armas,
mostrando fouteza contra seus emigos.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I (textos escolhidos), Lisboa, Seara Nova/ Comunicação, 1992.
1
de que modo;
2
preparada;
3
sabei;
4
depois de Santarém ter tomado o partido do rei de Castela;
5
açambarcamento;
6
alguns;
7
não precisavam de ser reparadas;
8
dardos; flechas;
9
antigo capacete;
10
canhões;
5. Identifica uma expressão presente no mesmo parágrafo através da qual Fernão Lopes faz do seu leitor
testemunha dos sucessos narrados.
5.1.Justifica.
CENÁRIOS DE RESPOSTA
(Questões e respostas do manual “Entre Palavras”, 10º ano, ASA; autores: António Vilas-Boas e Manuel Vieira),
pp. 110 e 111.
2 / 2.1. Trata-se do quarto parágrafo, mais concretamente no seu final, quando o cronista informa que sempre
que havia perigo e os sinos tocavam a rebate, a cidade, como um todo, acorria para se defender: “(…) mas como
davom aa campãa, logo os muros era cheos, e muita gente fora.”.
3.1. Trata-se da enumeração de muitas armas e armaduras que ocorre no segundo parágrafo e nos mostra, pela
quantidade e variedade, como a cidade estava para enfrentar os inimigos: “escudos”, “lanças”, “dardos”,
“bestas”, “viratões”, “bacinetes”, “ troos”, “pedras”.
4.1. Esta frase, que ocorre no último parágrafo, significa que aos lisboetas cercados aumentava a coragem
quando eram avisados do perigo; neste parágrafo são apresentados momentos em que os sinos tocavam a
rebate pois havia perigo: logo todos sobressaltavam e corriam para os lugares onde eram necessários, com a
coragem avivada.
5./ 5.1. Nas linhas 29 e 30, encontramos a frase “ Ali viriees os muros cheos de gentes”: Fernão Lopes torna-nos
testemunha presencial do que narra através da convocação do sentido testemunhal por excelência- a vista.