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GRAMÁTICA
MATÉRIA A SER ESTUDADA
1. Apelo
Dalton Trevisan
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti
falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda
no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de
jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário
ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam.
Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade,
Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço
a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros:
bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
Observando este período, responda: Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham.
a) Que tipo de relação se estabelece entre as duas orações por meio da conjunção E?
b) Como pode ser justificado o emprego do segundo verbo do período no presente, enquanto o primeiro se
apresenta no pretérito?
2.
PESQUISA
Mário Quintana
Na gostosa penumbra da Biblioteca Municipal
leio velhos jornais
e
dos anúncios prescritos
das novidades caducas
dos poetas mortos há tanto tempo que parecem de novo estreantes
das ferocíssimas batalhas políticas do ano de 1910
- brotam como balões meus sábados azuis.
As horas bebidas aos goles
(num copo azul)
e as ruas de poeira e sol onde bailam sozinhos
os meus sapatos de colegial.
a) A leitura atenta do poema de Mário Quintana permite que se identifiquem, de maneira clara, referências a dois
momentos diferentes: o presente e o passado. Transcreva palavras e expressões do poema que remetem a
esses dois momentos.
b) Como se explica que, no poema, formas verbais no presente possam fazer referência tanto ao tempo presente
quanto ao tempo passado?
3.
Aves de rapina
Há muitos anos que os caminhos se arrastavam subindo para as montanhas.
Percorriam as florestas perseguindo a distância, longos e lentos deslizavam nas planícies.
Passaram chuvas, passaram ventos,
Passaram sombras aladas…
Um dia os aviões surgiram e libertaram a distância,
Os aviões desceram e levaram os caminhos.
a) Na primeira estrofe, fala-se do passado como o tempo dos acontecimentos que deslizavam “lentos e longos.”
O emprego do pretérito imperfeito e o uso do gerúndio reforçam essa ideia. Explique por quê.
b) Por meio do título o poema apresenta ao leitor uma avaliação sobre o progresso. Essa avaliação é positiva ou
negativa? Justifique sua resposta, a partir de uma passagem do poema.
5.
(...)
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
(...)
a) É correto afirmar que o verbo DORMIA tem uma conotação positiva ou negativa, tendo em vista o contexto em
que ocorre? Justifique sua resposta.
b) O verbo dormia apresenta-se em qual tempo e modo? Justifique seu uso no contexto do poema.
7.
(...)
Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
(...)
Na linguagem coloquial do Brasil, ocorre com frequência a mistura de tratamento. Transcreva a forma do texto
incorretamente empregada e reescreva-a de forma correta. Justifique sua resposta.
8. A China detonou uma bomba e pouca gente percebeu o estrago que ela causou. Assim que abriu as
portas para as multinacionais oferecendo mão-de-obra e custos muito baratos, o país enfraqueceu as relações
de trabalho no mundo. Em uma recente análise, a revista inglesa The Economist mostra que a entrada da China,
da Índia e da ex-União Soviética na economia mundial dobrou a força de trabalho.Com isso, o poder de
barganha de sindicatos do mundo inteiro teria se esfacelado. Provavelmente por isso, diz a revista, salários e
benefícios tenham crescido apenas 11% desde 2001 nas empresas privadas dos Estados Unidos, ante 17% nos
cinco anos anteriores.
(Você s/a, setembro de 2005)
Nesses excertos, observa-se que a maioria dos substantivos são modificados por adjetivos ou expressões
equivalentes.
Comparando os dois textos:
a) aponte em cada um deles o efeito produzido por tal recurso linguístico
b) justifique sua resposta.
14. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas da frase inicial: Vossa Excelência ............ que
eu ............ traga ............ jornal?
a) quer - lhe – vosso
b) quer - vos - seu
c) quereis - vos - vosso
d) quer - lhe - seu
e) quereis - lhe – vosso
15. Una as orações usando o pronome relativo adequado. Traga a segunda oração para a primeira.
a) Cobra –
b) Carrasco -
c) Artista -
d) Cônjuge –
e) Formiga –
17. Complete as orações empregando respectivamente o pretérito perfeito e o futuro do presente dos verbos
entre parênteses:
a) (correr) - Ontem eles __________, amanhã vocês ___________ .
b) (ler) - Ontem eles __________ o texto, amanhã vocês __________ .
c) (ir) - Ontem eles __________ ao cinema, amanhã vocês __________ .
d) (vir) - Ontem eles __________ à cidade, amanhã vocês __________ .
e) (ver) - Ontem eles __________ a exposição, amanhã vocês __________ .
18. Passe os verbos e pronomes da primeira pessoa do singular para a primeira pessoa do plural.
a) Se eu assistisse ao filme, participaria do debate.
b) Se eu acordasse cedo, não perderia a aula.
Leia a tirinha.
LITERATURA
Matéria a ser estudada (conteúdo):
Livro 6 20 Parnasianismo
Livro 6 21 Simbolismo
LISTA DE EXERCÍCIOS PARA ENTREGAR
A partir do trecho apresentado, extraído do clássico poema do indianismo brasileiro I-Juca Pirama,
julgue verdadeiros ou falsos os itens a seguir. Reescreva os itens falsos, corrigindo-os.
c) O índio, nesse poema de Gonçalves Dias e nas demais obras do indianismo romântico brasileiro, é
representado segundo técnica literária realista, por meio da qual se pretende revelar o índio como
legítimo dono das terras e da identidade cultural do país.
d) O movimento romântico brasileiro, do qual o poema I-Juca Pirama é produção exemplar, procurou
estabelecer as bases literárias da identidade cultural brasileira, objetivando a superação do
cosmopolitismo expresso pela estética neoclássica, característica do Arcadismo.
(AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.)
Quais características da Segunda Geração Romântica podem ser percebidas no poema de Álvares de
Azevedo? Explique cada uma dessas características e depois exemplifique com versos do texto.
Texto I
Texto II
3. a) O texto I foi produzido por um autor contemporâneo, Edgar Vasques, enquanto o texto II é de
autoria de Castro Alves. A partir de informações trabalhadas em aula, indique a qual geração romântica
o autor do texto II pertence e apresente duas características dessa geração que estejam presentes no
poema.
b) Os dois textos apresentam um caráter de denúncia social. A partir dos elementos presentes nos
textos e também de seus conhecimentos prévios, explique se as duas produções abordam a mesma
problemática.
Texto I:
“Ao sair do Tejo [rio de Portugal], estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo
fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente
pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do
gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era
isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado;
ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez
um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que
pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos [enjoo]: foram os dois morar
juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses
depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho,
cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem
largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa,
porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho houve suas
dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da
comadre, que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve
nesse dia função [espetáculo]: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam
ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o
fado. O compadre trouxe a rabeca, que é, como se sabe, o instrumento favorito da gente do ofício. A
princípio, o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e propôs que se dançasse o minuete
[antiga dança francesa com movimentos delicados e equilibrados] da corte. Foi aceita a ideia, ainda
que houvesse dificuldade em se encontrarem pares. Afinal levantaram-se uma gorda e baixa matrona,
mulher de um convidado; uma companheira desta, cuja figura era a mais completa antítese da sua;
um colega do Leonardo, miudinho, pequenino, e com fumaças de gaiato, e o sacristão da Sé, sujeito
alto, magro e com pretensões de elegante. O compadre foi quem tocou o minuete na rabeca; e o
afilhadinho, deitado no colo da Maria, acompanhava cada arcada com um guincho e um esperneio.
Isto fez com que o compadre perdesse muitas vezes o compasso, e fosse obrigado a recomeçar outra
tantas.
Depois do minuete, foi desaparecendo a cerimônia, e a brincadeira aferventou, como se dizia
naquele tempo. Chegaram uns rapazes de viola e machete: o Leonardo, instado pelas senhoras,
decidiu-se a romper a parte lírica do divertimento. Sentou-se num tamborete, em um lugar isolado da
sala, e tomou uma viola. Fazia um belo efeito cômico vê-lo, em trajes do ofício, de casaca, calção e
espadim, acompanhando com um monótono zunzum nas cordas do instrumento o garganteado de uma
modinha pátria. Foi nas saudades da terra natal que ele achou inspiração para o seu canto, e isto era
natural a um bom português, que o era ele. [...]
O canto do Leonardo foi o derradeiro toque de rebate para esquentar-se a brincadeira, foi o
adeus às cerimônias. Tudo daí em diante foi burburinho, que depressa passou à gritaria, e ainda mais
depressa à algazarra, e não foi ainda mais adiante porque de vez em quando viam-se passar através
das rótulas da porta e janelas umas certas figuras que denunciavam que o Vidigal andava perto.”
Texto II:
4. Os dois textos apresentam em comum o ambiente urbano do Rio de Janeiro do século XIX e
o relacionamento entre homem e mulher.
a) Que classe social cada um dos textos retrata?
b) Que importância ou significado tem o casamento para as personagens do texto II?
c) Nas duas obras, as personagens femininas transgridem as regras sociais, porém de forma
diferente. Qual a transgressão de cada uma delas?
"Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo,
porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu
amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os
ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu,
escorregam e caem ..."
(Memórias Póstumas de Brás Cubas)
"A leitora que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a
valsa de hoje quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu
mudo de rumo."
(Dom Casmurro)
Identifique duas características típicas da prosa machadiana presentes nos dois fragmentos acima e
explique-as.
O emplasto
Um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu
tinha no cérebro.
Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cambalhotas. Eu
deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar
a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-
hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade.
Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado,
verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam
resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá
do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver
impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e, enfim, nas caixinhas do remédio, estas três
palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete
de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de
reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o
público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro, sede de nomeada. Digamos: — amor
da glória.
Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a
perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos
antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no
homem e, consequentemente, a sua mais genuína feição.
Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Obra completa, v. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 514-5 (com adaptações).
Com relação ao texto acima, à obra Memórias Póstumas de Brás Cubas e a aspectos por eles
suscitados, julgue verdadeiros ou falsos os itens a seguir. Reescreva os itens falsos, corrigindo-os.
a) O compromisso do narrador com a verdade dos fatos, honestidade decorrente da vida além-túmulo, e
o seu interesse pela ciência e pela filosofia aproximam a narrativa de Memórias Póstumas de Brás
Cubas da forma de narrar do Naturalismo, ou seja, da descrição objetiva da realidade.
b) As “arrojadas cambalhotas” (segundo parágrafo) da ideia inventiva de Brás Cubas relacionam-se à
forma como Machado de Assis compôs esse romance, no qual o narrador intercala a narrativa de
suas memórias com divagações acerca de temas diversos, o que produz constante vaivém na
condução do enredo.
c) A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o conjunto da obra machadiana divide-se em duas
fases: a primeira é constituída por obras em que o foco narrativo é em terceira pessoa e o tema
revela interesse pela sorte dos pobres, como em Helena, por exemplo; a segunda é formada de obras
construídas a partir da perspectiva do narrador-personagem associado à classe dominante local, a
exemplo de Dom Casmurro.
d) O romancista Machado de Assis é considerado o responsável pela introdução de um novo modelo
narrativo no romance nacional ao lançar um olhar crítico para a sociedade de sua época.
e) A história de Memórias Póstumas é narrada de acordo com a memória do personagem, quebrando a
linearidade do enredo, que não apresenta a ordem: começo, meio e fim.
II. "Em "Thérese Raquin", eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Aí está o livro todo. Escolhi
personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio,
arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne [...]." Émile Zola
(Cf. BOSI, Alfredo. "História concisa da literatura brasileira." São Paulo: Cultrix, 1994. p.169)
O livro de Adolfo Caminha pertence ao Naturalismo, movimento que tematiza alguns dos problemas da
realidade urbana brasileira vividos pelas classes mais desfavorecidas no final do século XIX. Para isso,
utiliza-se de uma visão científica fortemente influenciada pela teoria do “determinismo”.
Os dois fragmentos abaixo pertencem à obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Leia-os com
atenção para responder aos exercícios 11 e 12:
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade
de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. Como que
se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente,
dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre
de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos
azuladas pelo anil, mostrava uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos,
fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a
tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela
as primeiras palavras, os bons dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora
traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No
confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber
onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíram mulheres
que vinham dependurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos,
cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.”
“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de
machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que
escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as
saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que
elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam
em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as
ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.”
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Cirando Cultural, 2010)
11. a) Retire do texto um trecho que demonstre a personificação do cortiço. Explique como
essa personificação influencia a construção da obra.
b) Explique, com trecho do texto, como os cinco sentidos humanos são explorados na obra.
c) Identifique uma das correntes filosófico-cientificistas do final do século XIX utilizadas no texto
lido.
12. O que é zoomorfismo? Exemplifique sua resposta com uma passagem dos trechos acima.
13. O trecho abaixo descreve o velho Botelho, agregado à casa de Miranda, vizinho do cortiço
de João Romão:
Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro,
como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe
aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de
acordo com seu nariz adunco e com a sua boca em lábios: viam-se lhe ainda todos os dentes, mas, tão
gastos, que pareciam limados até ao meio. Andava sempre de preto, com um guarda-chuva debaixo do
braço e um chapéu de Braga enterrado nas orelhas. Fora em seu tempo empregado de comércio,
depois corretor de escravos; contava mesmo que estivera mais de uma vez na África negociando
negros por sua conta. Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai, ainda ganhara
forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando
tudo por entre as suas garras de ave de rapina. E agora, coitado, já velho, comido de desilusões, cheio
de hemorróidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda, com quem por
muitos anos trabalhou em rapaz, sob as ordens do mesmo patrão, e de quem se conservara amigo, a
princípio por acaso e mais tarde por necessidade.
A Um Poeta
17. Leia os textos abaixo. O primeiro é um poema de Olavo Bilac e o segundo, uma música de Caetano
Veloso.
Texto 1:
Amo-te assim desconhecida e obscura, Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo! Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Texto 2:
A leitura do poema de Bilac revela que sua atitude ante a Língua Portuguesa é solene e respeitosa.
Pelo acúmulo de adjetivos e pelo recurso a imagens rebuscadas, típicas do Parnasianismo, o poeta
tenta demonstrar sua admiração ante as riquezas e potencialidades expressivas do idioma falado em
nosso País. Confrontando o poema de Bilac e a letra da música de Caetano, percebemos neste uma
atitude em parte semelhante à de Bilac mas com alguns ingredientes próprios. Faça um comentário
sucinto a esse respeito.
Alma fatigada
18. O poema simbolista de Cruz e Sousa mostra a relação entre a vida e a morte ou entre a vida e a
eternidade. Releia atentamente o soneto e, partindo do pressuposto de que o Simbolismo brasileiro
desenvolveu e ampliou algumas características do Romantismo, identifique no desenvolvimento do
conteúdo do soneto, sobretudo no desejo manifestado nos últimos três versos, uma característica típica
do Romantismo.
A questão a seguir toma por base um texto do poeta simbolista brasileiro Alphonsus de Guimaraens
(1870-1921).
("Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte", 1923. In: GUIMARAENS, Alphonsus de. POESIAS - I. Rio de Janeiro: Org.
Simões, 1955, p. 284.)