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Este exercício tem por objetivo a reflexão prática e aplicação das ferramentas conceituais aprendidas
nos textos teóricos da primeira unidade da disciplina.
1- Quem foi o personagem “Major”? Qual a origem do hino “Bichos da Inglaterra” e qual o
seu efeito sobre os bichos? Como o hino, enquanto produção imaginária pode influenciar a
saída da série para o estado de grupo?
Os três porcos (Napoleão, Bola de Neve e Garganta) que sucederam ao Major, haviam
organizado os ensinamentos de Major num sistema de pensamento a que deram o nome de
animalismo. E o animalismo possuía princípios, os quais eram passados todas as noites aos
animais. Assim surgiu animalismo.
a) Descreva os momentos em que vocês localizam cada um dos pontos dessa dialética, a
série, o grupo, a organização e a instituição.
Serie: No momento em que todos os animais realizavam o que lhes era imposto pelo
Napoleão, mesmo que não concordassem, é um exemplo de estado de serie. Nessas
cenas evidenciam-se a relação com o pratico inerte, pelo seguinte aspecto: a
automatização, o não questionamento e, principalmente, a ausência dentro dela da
formação de grupos para combater o que lhes foi imposto pelo Pratico- Inerte, que nesse
caso, poderia ser representado pelo Napoleão.
Grupo: No inicio da revolução dos bichos quando os animas haviam derrotado o Sr.
Jones, havia um consenso por parte de todos os animas da granja a respeito do que seria
aceito ou não a partir daquele momento, as regras, os encontros, as alimentações, todas
eram feitas na ideia de uma unidade. Quando os animais estavam engajados nos cuidados
e manutenção da granja dos bichos também, pois, todos realizando uma só tarefa, o que
um fazia ou deixava de fazer afetava o outro, tinha uma maior reciprocidade, cada um
sabia quem era outro e mesmo que dividissem as tarefas, que ao final das contas era para
um mesmo fim, cada animal tinha sua historia de vida preservada.
Organização: Na passagem da construção do moinho dos ventos pelos bichos ilustra
essa dialética, pois, havia divisões de tarefas com um menor grau de reciprocidade entre
os animais, sendo que cada um era insubstituíveis na execução de sua tarefa. O cavalo
Sansão, por exemplo, ficou com um serviço que exigia força, e se não fosse
desempenhado por ele outro não desempenharia tal função.
Instituição: A ditadura do porco Napoleão clarifica bem essa dialética, pois, ele é o 3º
excluído, e dele emana leis, regulamentos, que todos os demais animais tiveram que se
inserir, sendo um grau mais rígido e estável.
Depois da Revolução realizada pelos bichos e Sr. Jones ter sido expulso da Granja Solar,
sendo esta mudada de nome agora para Granja dos bichos, Napoleão e Bola de Neve,
explicou aos animais que segundo estudos feito por eles nos últimos três meses, era possível
resumir os princípios do animalismo em 7 mandamentos. Esses sete mandamentos, que seria
agora escritos na parede, constituíram a lei inalterável pela qual a granja dos bichos deveria
reger a sua vida a partir daquele instante, para sempre. A finalidade da instituição dos 7
mandamentos, é de fazer com que os animais se insiram em um sistema de regras em que
cada sujeito, é qualificado como membros pertencentes a um grupo, nesse caso, o grupo da
“granja dos bichos”, e as leis criadas, vigoram para regular as atividades sociais dos
membros, o que é essenciais a vida dos animais numa sociedade.
A partir do estabelecimento e cumprimento dessas leis e condutas, os indivíduos realizam
um contrato explicito com esse grupo, pois, uma relação de impessoalidade com a lei
favorece a igualdade entre os membros de uma instituição. A vista disso, uma relação
impessoal atribui um caráter de autonomia na relação com o sujeito, de forma que, aumenta
o grau de impessoalidade, racionalidade, o que o faz retornar ao estado de seriação, pois diz
respeito a um agrupamento humano e este por sua vez é de caráter dinâmico.
4- Faça uma análise dos diversos personagens da Narrativa e sua função alegórica:
a) Sansão e Quitéria: Na obra os cavalos tinham como função representar a mão de obra
explorada. Mesmo que em alguns trechos Quitéria se contrapõe mais que seu parceiro às
imposições rígidas da administração de Napoleão a maior parte da história eles são animais
que ilustram a passividade, a falta de senso crítico, a postura inerte, estão sempre satisfeitos
em qualquer sistema cumprindo a função que lhes é atribuída e acreditando que o trabalho é
o que mais importa e tem como única função atribuir um valor de construção de um distante
ideal de sistema.
b) As ovelhas: Elas ilustram a grande massa alienada, que não questionam as informações
que lhes chegam, pensam de maneira uniforme e transmitem conhecimento através de
repetição. São de extrema importância para o estabelecimento de um sistema desde que os
estímulos que as mantém inertes continuem sendo empregados com êxito.
c) as Galinhas: As galinhas em vários momentos da obra se revoltam com as condições que
lhes são colocadas, desde o estabelecimento dos mandamentos “O que andar sobre duas
pernas é inimigo. O que andar sobre quatro pernas” que obriga Bola-de-neve a especificar de
forma mais clara o mandamento, fazendo então menção à asa das aves. A intenção do autor
com as galinhas foi ilustrar a resistência dos movimentos sociais existentes nos sistemas
totalitários que são reprimidos e silenciados por uma força instituinte, como a reação delas
ao serem ordenadas, agora sob a liderança de Napoleão, a aumentarem sua produção de
ovos. A reação dos grupos opositores em um sistema inflexível, regido por punição e
repressão raramente são pacíficos e condizentes aos valores sociais impostos, nessa lógica
podemos citar o surgimento de greves, manifestações agressivas e boicotes de grande
magnitude.
e) os cães: Cumprem o papel alegórico das forças armadas, representam o que a polícia tem
como função em nosso meio social. Coagir quem não segue as leis (mandamentos),
amedrontar os que porventura possam querer transgredir o sistema e servir até como
ferramenta em caso de um golpe de estado (muito bem ilustrado no livro).
f) o burro: O burro em toda a história por mais que tudo estivesse indo de mal a pior ele
estava presente e não expressava uma sequer palavra que contribuísse para algo. Ele
representa o indivíduo que apesar de consciente sempre se coloca como indiferente à tudo,
prefere não opinar pra não se comprometer, sabe o que está acontecendo, tem
conhecimento das consequência das atitudes corretas e erradas mas prefere se abster pois é
um ser individualista e regido sob a essência de sobrevivência.
g) o corvo, Moisés: Através das falas de Moisés ele parece representar algo que se assemelha
a um líder espiritual/religioso, discursa sua crença para os animais trabalhadores, que assim
com no modelo judaico-cristão, idealiza um lugar paradisíaco que trás paz e alívio após
cumprirem a sua vida trabalhando (ou seguindo os preceitos estabelecidos pela doutrina, no
caso das religiões). Assim como em nossa sociedade, entre os animais alguns se mantém
céticos em relação às histórias contadas pelo corvo mas boa parte deles acreditam, de modo
que em certa fase da história o corvo é aceito pelos porcos recebendo bebida pra continuar
na fazenda. Acreditamos que ao aceitar o corvo na fazenda dando-lhe algum benefício sem
trabalhar pra isso Napoleão entendeu o papel do discurso místico de Moisés, podendo fazer
com que muitos animais atribuíssem sentido para a sua própria existência, contribuindo para
que estes tivessem uma vida marcada por conformismo em relação aos sofrimentos
vivenciados pois existiria uma consequência confortante no final de tudo.
j) pombos: Os pombos, diferente dos outros bichos, simbolizam muito mais um processo do
que uma representação social. Acreditamos que com os pombos o autor teve por intenção
ilustrar o processo de troca de valores entre territórios e a forma que a informação é
transmitida através do tempo. Tal como a globalização no capitalismo, os valores sociais são
ditados pelas nações mais potentes às menos estabelecidas financeiramente, no caso do
animalismo, os pombos tinham como função transmitir a informação para as fazendas
menos esclarecidas em relação ao movimento.
a) O que representou a construção do moinho para toda comunidade da Fazenda dos Bichos?
Os grupos minoritários são portadores de um "projeto comum", isto implica que o grupo
tenha para si uma autorrepresentação e um conjunto de valores introjetados, assim a ação
grupal ganha o sentido preciso de passagem do projeto à sua realização.
A construção do moinho foi a representação coletiva de um imaginário social em comum.
Ou seja, o moinho representa aquilo que os animais eram, aquilo que eles queriam vir a ser.
Tais representações não foram só intelectualmente pensadas, mais também afetivamente
sentidas. Por exemplo:
Segundo Enriquez “não se trata unicamente de querer coletivamente; trata-se de sentir
coletivamente, de experimentar a mesma necessidade de transformar um sonho ou uma
fantasia em realidade cotidiana e de se munir dos meios adequados para conseguir isso.
(pag.62).
b) O grupo de animais da fazenda possui características de um grupo minoritário tal como
descrito por Enriquez? Justifique.
O grupo de animais da fazenda possui características de um grupo minoritário tal como
descrito por Enriquez porque eles têm uma causa a defender e a promover, e isso significa
que esse grupo pensa, se representa e se define como uma minoria atuante. De acordo com
Enriquez (pag.64) “A maioria não tem jamais uma causa a defender; a causa que representa
já triunfou anteriormente, faz parte do bem comum ou se tornou mesmo um lugar comum.”
Ou seja, somente um grupo minoritário tem a capacidade de comunicar uma nova mensagem,
proclamar uma nova visão do mundo, a manifestar uma conduta desviante em relação as
normas da instituição ou da sociedade, e pode ser capaz de se arriscar para fazer triunfar o
que presidiu sua fundação.
c) A história de Bola de Neve: havia rumores que Bola-de-Neve estava frequentando a granja
à noite, e secretamente ele perpetuava um monte de maldades. Destinava-se toda a culpa e
tudo de errado ao Bola-de-Neve. Os animais andavam aterrorizados, pois Bola-de-Neve se
tornou uma espécie de entidade invisível, impregnando-os o ar a sua volta e ameaçando-os o
tempo todo.
d) A autoria do moinho: Napoleão mentiu que a criação do moinho era dele, quando na
verdade a ideia da criação do moinho sempre foi do Bola-de-Neve. Napoleão fingia ser
contra o moinho de vento, apenas como manobra para livrar-se de Bola-de-Neve que era um
péssimo caráter e que segundo ele, era uma influencia perniciosa.
Após a discussão do grupo, tomamos como um principal aspecto do livro o fator social de
interdependência entre a força criadora (Bola-de-neve) e a força conservadora (Napoleão), a
fim de que, haja o estabelecimento e a manutenção do grupo como movimento
revolucionário, que tem por objetivo, o reconhecimento e o processo dinâmico que a vida
possui.
Ficou evidente a dependência de ambos: o instituinte só tem sentido materializado no
instituído, por outro lado, o instituído só funciona quando aberto as possibilidades da
potencia instituinte. Outro momento que frisamos é que em toda trajetória da narrativa, a
maioria dos animais se não todos, percebiam a manipulação dos porcos mas não conseguia
sair do pratico inerte instalado na granja por eles, e o estado de serialidade se constitui e
permanece atuante em toda a trama.
Concluindo, percebemos que o conteúdo do livro reflete muito sobre o que vivemos
enquanto sociedade, principalmente no que tange o estado de série. Animais como: Sansão,
Quitéria, Ovelhas, Napoleão, Bola de Neve e o Burro, são personagens principais que
ilustram no cotidiano a dinâmica da vida e das instituições.