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Exercício sobre o livro “Revolução dos bichos”

Disciplina: “Psicologia Institucional”


Docente: Henrique de Oliveira Lee
Discentes: Geovana Mylena, Raphael Costa e Vanessa Lopes.

Este exercício tem por objetivo a reflexão prática e aplicação das ferramentas conceituais aprendidas
nos textos teóricos da primeira unidade da disciplina.

1- Quem foi o personagem “Major”? Qual a origem do hino “Bichos da Inglaterra” e qual o
seu efeito sobre os bichos? Como o hino, enquanto produção imaginária pode influenciar a
saída da série para o estado de grupo?

O personagem Major, da narrativa “Revolução dos Bichos”, refere-se a um velho porco,


muito respeitado pela sua idade e experiência de vida. Este personagem na história iniciou
um discurso revolucionário com o propósito de fomentar a formação, por parte dos bichos,
de uma organização, de uma revolução na granja do Sr. Jones contra os humanos. Segundo o
Major, os verdadeiros inimigos dos animais são os homens, pois eles exploram os animais e
estes em contrapartida, não recebem o beneficio da vida e da liberdade, mas trabalham como
escravos. Segundo o porco Major, entre os animais tem de haver “uma perfeita unidade, uma
perfeita camaradagem na luta. Todos os homens são inimigos, todos os animais são
camaradas.”
A origem do hino bichos da Inglaterra, segundo relata à narrativa, vem da infância de Major,
em que quando leitãozinho sua mãe e outras porcas cantavam, porém, na noite onde teve o
sonho de como seria o mundo sem homens ele recordara. O efeito sobre os bichos
conforme episodio da novela bem retrata, foi este: “O canto levou os animais a mais extrema
excitação. Antes de o Major chegar ao fim, já haviam começado a cantar por conta própria.
[...] Então, depois de alguns ensaios preliminares, toda a granja atacou Bichos da Inglaterra,
em formidável uníssono”.
O hino enquanto produção imaginária pode influenciar a saída da série para o estado grupo
no seguinte aspecto: ele trouxe um grau de reciprocidade aos animais, mesmo que mínimo,
onde cada teve um reconhecimento do outro como igual em alguma instancia, o que
constituiu semelhança fundamental para que pudesse estabelecer as bases para um contato.
E quando se fala de interação esse contato tem de ser possível.
O que reflete o papel do Major em suma é o desejo de reconhecimento e o reconhecimento
do desejo. É reconhecer o outro e desejar ser reconhecido por este outro, sendo uma
dialética, pois, Major entendeu quem era o homem, porem, entendia também que estes
homens não reconheciam os animais como semelhantes, e assim, surge esse desejo de
reconhecimento de importância e direitos. Contudo, para que isso acontecesse Major
constitui os humanos como inimigo comum de todos os animais e, o hino bichos da
Inglaterra surge para corroborar com esta ideia de um objetivo comum; para que desta
forma, os animais venham se organizar em grupo com o propósito de agregarem um projeto
comum entre todos, para derrotar os homens com todo o seu meio circundante. Pois
transformar a natureza é acarretar uma transformação pessoal.
O hino vem para fortalecer essa crença, reforçando toda a ideia trazida pelo Major, do
despertar dos “camaradas” e da união destes como um grupo. No hino esta também
revelada o antagonismo do grupo em relação aos homens, justificando a integridade do
grupo de alguma forma.

2- Como surgiu o “animalismo”?

Os três porcos (Napoleão, Bola de Neve e Garganta) que sucederam ao Major, haviam
organizado os ensinamentos de Major num sistema de pensamento a que deram o nome de
animalismo. E o animalismo possuía princípios, os quais eram passados todas as noites aos
animais. Assim surgiu animalismo.

2.1- Analise as transformações do animalismo segundo a perspectiva dialética desenvolvida


no texto trabalhado em sala de aula “A formação dos grupos sociais em Sartre”.

a) Descreva os momentos em que vocês localizam cada um dos pontos dessa dialética, a
série, o grupo, a organização e a instituição.

Serie: No momento em que todos os animais realizavam o que lhes era imposto pelo
Napoleão, mesmo que não concordassem, é um exemplo de estado de serie. Nessas
cenas evidenciam-se a relação com o pratico inerte, pelo seguinte aspecto: a
automatização, o não questionamento e, principalmente, a ausência dentro dela da
formação de grupos para combater o que lhes foi imposto pelo Pratico- Inerte, que nesse
caso, poderia ser representado pelo Napoleão.
Grupo: No inicio da revolução dos bichos quando os animas haviam derrotado o Sr.
Jones, havia um consenso por parte de todos os animas da granja a respeito do que seria
aceito ou não a partir daquele momento, as regras, os encontros, as alimentações, todas
eram feitas na ideia de uma unidade. Quando os animais estavam engajados nos cuidados
e manutenção da granja dos bichos também, pois, todos realizando uma só tarefa, o que
um fazia ou deixava de fazer afetava o outro, tinha uma maior reciprocidade, cada um
sabia quem era outro e mesmo que dividissem as tarefas, que ao final das contas era para
um mesmo fim, cada animal tinha sua historia de vida preservada.
Organização: Na passagem da construção do moinho dos ventos pelos bichos ilustra
essa dialética, pois, havia divisões de tarefas com um menor grau de reciprocidade entre
os animais, sendo que cada um era insubstituíveis na execução de sua tarefa. O cavalo
Sansão, por exemplo, ficou com um serviço que exigia força, e se não fosse
desempenhado por ele outro não desempenharia tal função.
Instituição: A ditadura do porco Napoleão clarifica bem essa dialética, pois, ele é o 3º
excluído, e dele emana leis, regulamentos, que todos os demais animais tiveram que se
inserir, sendo um grau mais rígido e estável.

b) Explique, com base no caso do animalismo, como os extremos da série e da instituição


se aproximam. Qual o episódio do romance poderia evidenciar o ápice da serialização
dentro do movimento animalista?

Os extremos da serie e da instituição se aproximam na medida em que o grau de


impessoalidade e de racionalidade aumenta, tanto em uma situação quanto em outra, o
nível de reciprocidade, de reconhecimento mutuo é mínimo. Os momentos em que os
porcos se colocam em posição superior aos demais animais, o estado de serie se instala e,
com a tirania de Napoleão soma-se ao estado de instituição, pois este, instaura leis,
normativas, que sobrepujam a vontade coletiva e compartilhada, e as mesmas são
cumpridas pelos demais animais sem nenhuma alteração feita pela por parte destes.
c) O que significa dizer que a instituição atua por meio de uma lógica pharmakonica?

Principio Pharmakon traz em si o seu contrário, quanto mais organizado é, mais


desorganizado pode ser. Um exemplo da logica pharmakonica, é a burocracia, ela serve
para administrar grandes contingentes e é uma medida de segurança. Acontece que essa
administração pode ser um “remédio” e um “veneno” ao mesmo tempo, isso por que ao
exigir um grande numero de evidencias de documentos para se realizar um serviço
exigido e de forma legal, a burocracia facilita saber com por uma gama de evidencias
possível, de que se trata do contratante ou da pessoa em questão aqueles registros, o que
pode afirmar ser uma medida de segurança, porem, simultaneamente a isso, há um
esforço laboral exigido pela pessoa que requer o cumprimento ou oficialização do
determinado processo ou serviço legal proposto. Assim por meio desse exemplo, fica
claro a logica pharmonica.

3- Segundo a fundamentação oferecida no texto “Sociedade e instituições” de Gregório


Baremblitt:

a) Discorra sobre as noções de“instituinte” e do “instituído”. Utilize na sua argumentação


episódios da novela “Revolução dos bichos” que possam tornar identificáveis o
funcionamento destas duas instâncias na formação do animalismo.

Segundo Baremblitt (2002) “O instituinte aparece como um processo, enquanto o


instituído aparece como um resultado. O instituinte transmite uma característica
dinâmica; o instituído transmite uma característica estática. [...] é evidente que o instituído
cumpre um papel histórico, vigoram para regular as atividades sociais, essenciais à vida
da sociedade (p. 5)”. A vida é um processo essencialmente dinâmico desta forma, para
que os instituídos sejam funcionais na vida social, eles têm de estar acompanhando a
transformação da vida social mesma, para produzir cada vez mais novos instituídos que
sejam apropriados aos novos estados sociais, pois, o instituinte aparece como atividade
revolucionária, transformadora e criativa.
No enredo da narrativa fica-se evidente que o papel de Napoleão evidencia o instituído e
o papel de Bola-de- Neve do instituínte, pois, é fato que enquanto o ultimo aparece com
atividades novas e visionarias, procurando a apropriação aos novos estados sociais, o
Napoleão não age assim. Acaba por recusar-se a acompanhar o curso novo das coisas,
mas é na realidade, estático, aparecendo como um resultado e resistente a mudança e as
novas empreitadas de Bola de Neve. Acontece que o instituinte da novela o Bola de
Neve pereceria de sentindo se não estivesse alicerçado, vinculado ao instituído nesse
caso Napoleão. Por outro lado, Napoleão enquanto instituído não seria funcional, se não
fosse permanentemente aberto à potência do instituinte, no caso do Bola de Neve.
Então, cada sociedade, em seus aspectos instituinte, sempre tem uma utopia, uma
orientação histórica de seus objetivos. Isso é bem ilustrado por Bola de Neve que não
perdeu os ideais passados pelo Major, mas buscou expandi-los as granjas vizinhas e
sempre trazendo atividades revolucionárias à granja dos bichos, bem como aplicava aos
estudos a fim de atualizar a granja, trazendo novidades tecnológicas, como o moinho dos
ventos, que seria construído pelos próprios animais da granja com futuros benefícios,
mas claro, tudo isso sendo sustentado pela orientação histórica e pela utopia trazida pelo
Major de os bichos dominarem o curso das coisas do mundo ao invés dos humanos.
Em contrapartida essa meta é desvirtuada ou comprometida por uma deformação da
exploração de uns por parte de outros; dominação, ou seja, imposição da vontade de uns
sobre os outros e desrespeito à vontade coletiva; é da substituição da verdade histórica
por diversas formas de mentira, engano e sonegação de informação. O que pode ser mais
que evidenciado nas passagens que retratam o monopólio coercivo de Napoleão sobre
os bichos da granja. Após a expulsão por forças violentas de Bola de Neve, Napoleão
exercia um governo dos bichos autoritário e durante esse tempo, mudou os sete
mandamentos, anteriormente instituído deturpando os acontecimentos. Chegou ao
ponto de criar uma crença paranoica de que Bola de Neve estava espionando a granja,
com o fim de se vingar, como de até mesmo mudar a historia a respeito de Bola de
Neve, dizendo que este sempre esteve acomunado com Sr. Jones o tempo todo e os
demais animais assim como ele próprio é quem não sabia disso.

b) “A tarefa de instruir e organizar os outros recaiu naturalmente sobre os porcos...”.


Reflita sobre o adjetivo “naturalmente” nesta frase. Qual os problemas acarretados pela
naturalização? Explique os diversos usos que o argumento da naturalização pode receber
politicamente, através da perspectiva institucionalista.

O adjetivo naturalmente remete a ideia de algo já dado, pronto, cristalizado,


impermeável, que na sua constituição existe de determinada forma e que não há
possibilidade de mudança. A ideia do tipo: tem de ser assim, e na verdade, a naturalidade
pode ser entendida como algo simbólico, em que cada cultura designa o que é natural, já
que nada a naturalização é ao contrário de dinamismo e mudança. Logo a ordem natural
das coisas é algo socialmente compartilhado, definido por um consenso em sociedade,
sendo algo socialmente construído e perpetuado como o imaginário social. Na instituição
há a ideia de naturalidade afim de que haja um conservadorismo das leis, condutas, que
regem as pessoas nela envolvidas.

Sobre os 7 mandamentos do animalismo aponte:

a) Como e com que finalidade foram instituídos?

Depois da Revolução realizada pelos bichos e Sr. Jones ter sido expulso da Granja Solar,
sendo esta mudada de nome agora para Granja dos bichos, Napoleão e Bola de Neve,
explicou aos animais que segundo estudos feito por eles nos últimos três meses, era possível
resumir os princípios do animalismo em 7 mandamentos. Esses sete mandamentos, que seria
agora escritos na parede, constituíram a lei inalterável pela qual a granja dos bichos deveria
reger a sua vida a partir daquele instante, para sempre. A finalidade da instituição dos 7
mandamentos, é de fazer com que os animais se insiram em um sistema de regras em que
cada sujeito, é qualificado como membros pertencentes a um grupo, nesse caso, o grupo da
“granja dos bichos”, e as leis criadas, vigoram para regular as atividades sociais dos
membros, o que é essenciais a vida dos animais numa sociedade.
A partir do estabelecimento e cumprimento dessas leis e condutas, os indivíduos realizam
um contrato explicito com esse grupo, pois, uma relação de impessoalidade com a lei
favorece a igualdade entre os membros de uma instituição. A vista disso, uma relação
impessoal atribui um caráter de autonomia na relação com o sujeito, de forma que, aumenta
o grau de impessoalidade, racionalidade, o que o faz retornar ao estado de seriação, pois diz
respeito a um agrupamento humano e este por sua vez é de caráter dinâmico.

b) Qual o caráter e a função das transformações que os mandamentos sofreram ?

Após instituídos os sete mandamentos eles foram sofrendo alterações no decorrer da


história, podemos observar que todas as mudanças dos códigos de conduta dos animais tem
uma única função de se adaptar a um novo sistema administrativo da granja, esse processo
de mudança dos mandamentos foi se dando da mesma forma com que a liderança totalitaria
de Napoleão se manteve, baseado em falsas afirmações e inverdades. A mudança nos
mandamentos foi de extrema relevância para que fosse mantido Napoleão na posição de
líder da granja, e as atitudes do personagem nessa liderança condiziam com a o processo de
transformação que sua gestão estava provocando naquele momento. As falsas afirmações
cumpriam a função da manutenção e consolidação dessas alterações nos mandamentos, os
animais em estado de fragilidade social (por ter passado por anos de escravidão nas mãos de
Jones e no momento não ter nenhuma figura de líder do movimento) foi significativo para
que esses aceitassem essas falsas afirmações sem um posterior questionamento.

4- Faça uma análise dos diversos personagens da Narrativa e sua função alegórica:

a) Sansão e Quitéria: Na obra os cavalos tinham como função representar a mão de obra
explorada. Mesmo que em alguns trechos Quitéria se contrapõe mais que seu parceiro às
imposições rígidas da administração de Napoleão a maior parte da história eles são animais
que ilustram a passividade, a falta de senso crítico, a postura inerte, estão sempre satisfeitos
em qualquer sistema cumprindo a função que lhes é atribuída e acreditando que o trabalho é
o que mais importa e tem como única função atribuir um valor de construção de um distante
ideal de sistema.

b) As ovelhas: Elas ilustram a grande massa alienada, que não questionam as informações
que lhes chegam, pensam de maneira uniforme e transmitem conhecimento através de
repetição. São de extrema importância para o estabelecimento de um sistema desde que os
estímulos que as mantém inertes continuem sendo empregados com êxito.
c) as Galinhas: As galinhas em vários momentos da obra se revoltam com as condições que
lhes são colocadas, desde o estabelecimento dos mandamentos “O que andar sobre duas
pernas é inimigo. O que andar sobre quatro pernas” que obriga Bola-de-neve a especificar de
forma mais clara o mandamento, fazendo então menção à asa das aves. A intenção do autor
com as galinhas foi ilustrar a resistência dos movimentos sociais existentes nos sistemas
totalitários que são reprimidos e silenciados por uma força instituinte, como a reação delas
ao serem ordenadas, agora sob a liderança de Napoleão, a aumentarem sua produção de
ovos. A reação dos grupos opositores em um sistema inflexível, regido por punição e
repressão raramente são pacíficos e condizentes aos valores sociais impostos, nessa lógica
podemos citar o surgimento de greves, manifestações agressivas e boicotes de grande
magnitude.

d) os porcos: Os porcos representam uma suposta elite intelectual de um grupo oprimido


historicamente. Onde existe o grande líder e idealista de um movimento (Major) e seus
posterior seguidores (Napoleão e Bola-de-neve), com eles a obra tenta mostrar que uma
ideologia uniforme entre os membros pode se desmanchar quando existe uma posição de
poder pra fazer com que o ideal se estabeleça.

e) os cães: Cumprem o papel alegórico das forças armadas, representam o que a polícia tem
como função em nosso meio social. Coagir quem não segue as leis (mandamentos),
amedrontar os que porventura possam querer transgredir o sistema e servir até como
ferramenta em caso de um golpe de estado (muito bem ilustrado no livro).

f) o burro: O burro em toda a história por mais que tudo estivesse indo de mal a pior ele
estava presente e não expressava uma sequer palavra que contribuísse para algo. Ele
representa o indivíduo que apesar de consciente sempre se coloca como indiferente à tudo,
prefere não opinar pra não se comprometer, sabe o que está acontecendo, tem
conhecimento das consequência das atitudes corretas e erradas mas prefere se abster pois é
um ser individualista e regido sob a essência de sobrevivência.
g) o corvo, Moisés: Através das falas de Moisés ele parece representar algo que se assemelha
a um líder espiritual/religioso, discursa sua crença para os animais trabalhadores, que assim
com no modelo judaico-cristão, idealiza um lugar paradisíaco que trás paz e alívio após
cumprirem a sua vida trabalhando (ou seguindo os preceitos estabelecidos pela doutrina, no
caso das religiões). Assim como em nossa sociedade, entre os animais alguns se mantém
céticos em relação às histórias contadas pelo corvo mas boa parte deles acreditam, de modo
que em certa fase da história o corvo é aceito pelos porcos recebendo bebida pra continuar
na fazenda. Acreditamos que ao aceitar o corvo na fazenda dando-lhe algum benefício sem
trabalhar pra isso Napoleão entendeu o papel do discurso místico de Moisés, podendo fazer
com que muitos animais atribuíssem sentido para a sua própria existência, contribuindo para
que estes tivessem uma vida marcada por conformismo em relação aos sofrimentos
vivenciados pois existiria uma consequência confortante no final de tudo.

h) ratos: Os ratos tal como os coelhos, representam as populações sem representatividade


por não fazerem parte do sistema simbólico e linguistico dominante. São taxados de
irracionais e selvagens porque os outros animais não fazem questão de aborda-los de
maneira que entenda a forma deles se projetarem no mundo e sim tentando o tempo inteiro
adequá-los a uma forma de pensar e agir que não fazem parte. Na nossa sociedade podem
ser simbolizados como a população indígena, que por possuírem sistemas simbólicos
próprios são fadados a terem seus direitos decididos por uma maioria antropocêntrica,
imperialista e detentora do poder.

i) gatos: O gato, personagem de pouco destaque na trama passa a impressão de que a


intenção do autor foi ilustrar indivíduos oportunistas que se posicionam politicamente
apenas para obter algum benefício próprio. Não possui uma consciência coletiva, por isso só
age de acordo com o que o sistema lhe trará de consequência positiva.

j) pombos: Os pombos, diferente dos outros bichos, simbolizam muito mais um processo do
que uma representação social. Acreditamos que com os pombos o autor teve por intenção
ilustrar o processo de troca de valores entre territórios e a forma que a informação é
transmitida através do tempo. Tal como a globalização no capitalismo, os valores sociais são
ditados pelas nações mais potentes às menos estabelecidas financeiramente, no caso do
animalismo, os pombos tinham como função transmitir a informação para as fazendas
menos esclarecidas em relação ao movimento.

5- Segundo o texto “O vínculo grupal” de Eugene Enriquez responda:

a) O que representou a construção do moinho para toda comunidade da Fazenda dos Bichos?
Os grupos minoritários são portadores de um "projeto comum", isto implica que o grupo
tenha para si uma autorrepresentação e um conjunto de valores introjetados, assim a ação
grupal ganha o sentido preciso de passagem do projeto à sua realização.
A construção do moinho foi a representação coletiva de um imaginário social em comum.
Ou seja, o moinho representa aquilo que os animais eram, aquilo que eles queriam vir a ser.
Tais representações não foram só intelectualmente pensadas, mais também afetivamente
sentidas. Por exemplo:
Segundo Enriquez “não se trata unicamente de querer coletivamente; trata-se de sentir
coletivamente, de experimentar a mesma necessidade de transformar um sonho ou uma
fantasia em realidade cotidiana e de se munir dos meios adequados para conseguir isso.
(pag.62).
b) O grupo de animais da fazenda possui características de um grupo minoritário tal como
descrito por Enriquez? Justifique.
O grupo de animais da fazenda possui características de um grupo minoritário tal como
descrito por Enriquez porque eles têm uma causa a defender e a promover, e isso significa
que esse grupo pensa, se representa e se define como uma minoria atuante. De acordo com
Enriquez (pag.64) “A maioria não tem jamais uma causa a defender; a causa que representa
já triunfou anteriormente, faz parte do bem comum ou se tornou mesmo um lugar comum.”
Ou seja, somente um grupo minoritário tem a capacidade de comunicar uma nova mensagem,
proclamar uma nova visão do mundo, a manifestar uma conduta desviante em relação as
normas da instituição ou da sociedade, e pode ser capaz de se arriscar para fazer triunfar o
que presidiu sua fundação.

c) De que modo se manifesta a “tentação paranoica” no grupo formado pelos animais da


fazenda? Como essa paranoia fornece ao grupo uma certa consistência interna ou atua na
manutenção dos dispositivos instituídos?
Segundo Enriquez (pag.65) “Toda instituição, enquanto elemento da regulação social,
visando à repetição, ao idêntico e à reprodução das relações sociais é, sob certos aspectos,
sintoma do trabalho da pulsão de morte (compulsão à repetição, vista como pulsão
agressiva).” Assim o grupo de animais da fazenda se tornou uma massa com fantasia de
angustias e destruição, ocorreu desta forma comportamentos regressivos, de tipo defensivo:
suspeita mútua, delação e sentimento de um meio hostil na tentativa de destruição do outro
ou de autodestruição do grupo. Por exemplo, Deu–se crédito a rumores de que Bola-de-
Neve estaria frequentando a granja à noite e fazendo com que as coisas dessem erradas por
lá: “Os animais andavam aterrorizados. Parecia-lhes que o Bola-de-Neve era uma espécie de entidade
invisível, impregnando o ar a sua volta e ameaçando-os com toda a espécie de perigos.”
Os indivíduos mais emocionais, e os mais perturbados, se deixaram se influenciar pelo
sentimento de medo e foram dominados por fenômenos afetivos nas tomadas de suas
decisões. Como por exemplo quando os animais confessam ser cumplices do Bola-de-Neve,
e assumem ter feito algo de errado na fazenda, ou traídos seus companheiros. Neste
momento eles assinam sua sentença de morte. De acordo com Enriquez (pag.69) “Se, por
acaso, alguns membros do grupo suportam mal essa situação de massa, chegando ao
abandono de toda identidade pessoal, serão excluídos do grupo, como frouxos ou traidores.”
Desta forma a tentação paranoica se manifestou no grupo de animais da fazenda através do
complô contra os valores instituídos, o da conjuração tramada no segredo e assegurada pela
fé jurada; juramento esse que faz de todos os membros do grupo ao mesmo tempo
cumplices e irmãos.

d) O que você entende pela seguinte afirmação de Enriquez: “A paranoia é constitutiva de


todo grupo, mas ela não atua na mesma intensidade em todos eles”. Exemplifique.

A paranoia representa uma tentação constante e não é um resultado inevitável. Ou seja, “a


tomada de consciência é tida como um elemento central da regulação e da capacidade de
mudança no grupo. Devido a ilusão, muitos atos e condutas só ganharão sentido muito
tempo depois, quando não mais for possível fazer o que quer que seja para evitar suas
consequências. Outras vezes, não será possível tomar consciência do todo (o sentido
permanecerá para sempre velado), pois a tomada de consciência levaria a tamanhos perigos
que tudo concorre para impedi-la. Se, em certos casos, a tomada de consciência se produz,
ela pode agir como função de desconhecimento e obscurecer os problemas, em vez de
favorecer o seu esclarecimento.” (pag.73). Isso é exemplificado o tempo todo no livro A
Revolução dos Bichos pelas personagens Sansão, Quitéria e o Burro. Sansão o tempo todo
se deixa levar pelas ilusões e crenças do grupo, enquanto que Quitéria tem seus momentos
de lucidez, porém, no final de suas conclusões também se deixa levar pelas ilusões e ideais
do grupo. O burro é o único que não se contagia com a euforia do grupo, é o único que se
mantem lucido o tempo todo e não se deixa levar pela ilusão criada pelo grupo.

e) Sobre os processos de Idealização e Fantasia apontados no texto de Enriquez como


elementos fundamentais na constituição dos grupos, comente algumas o processo de
“personalização” sofrido na transformação do hino dos bichos para o hino “Camarada
Napoleão” e suas consequências.

Todo o grupo funciona à base da Idealização, da Ilusão e da fantasia. O grupo de animais da


Granja agem de maneira democrática, reconhecendo em Napoleão um poder que vem de
sua experiência, - (experiência que eles acreditam que Napoleão possui) - uma influência que
vem do domínio das suas ideias, investindo-o então como chefe capaz de encarnar a vontade
e os desejos do grupo. O grupo enxerga em Napoleão um novo Líder, um novo pai e seus
ideais se torna o elemento essencial que permite a identificação mútua e a coesão do grupo.

6- Discorra sobre a manipulação da memória nos diversos momentos da narrativa:

a) A alteração dos mandamentos: houve dois momentos de manipulação da memória: na


alteração dos mandamentos para que os animais gravassem os sete mandamentos que no
final se resumiram em um só: “Todos animais são iguais, mais uns são mais iguais que os
outros”. E o outro momento é durante toda a história, onde os porcos iam mudando os
mandamentos, acrescentando frases para manipular a memória do grupo, pois os mesmos
sabiam que a maioria animais da Granja não sabiam ler e eram desprovidos de uma boa
memória. O objetivo de tal distorção era para que as verdades agora impostas por Napoleão
fossem internalizadas pelos demais animas como a “máxima” verdade que deveria ser
seguida por todos.
b) O uso destinado à casa, primeiramente como museu: Garganta convence o grupo que é
necessário que os porcos, sendo os cérebros da granja, tivessem um lugar calmo onde
trabalhar. Além disso, viver numa casa era mais adequado à dignidade do líder do que viver
numa simples pocilga.

c) A história de Bola de Neve: havia rumores que Bola-de-Neve estava frequentando a granja
à noite, e secretamente ele perpetuava um monte de maldades. Destinava-se toda a culpa e
tudo de errado ao Bola-de-Neve. Os animais andavam aterrorizados, pois Bola-de-Neve se
tornou uma espécie de entidade invisível, impregnando-os o ar a sua volta e ameaçando-os o
tempo todo.

d) A autoria do moinho: Napoleão mentiu que a criação do moinho era dele, quando na
verdade a ideia da criação do moinho sempre foi do Bola-de-Neve. Napoleão fingia ser
contra o moinho de vento, apenas como manobra para livrar-se de Bola-de-Neve que era um
péssimo caráter e que segundo ele, era uma influencia perniciosa.

8- Teça um comentário sobre alguma passagem, acontecimento ou aspecto do livro que


tenha sido mais marcante para você.

Após a discussão do grupo, tomamos como um principal aspecto do livro o fator social de
interdependência entre a força criadora (Bola-de-neve) e a força conservadora (Napoleão), a
fim de que, haja o estabelecimento e a manutenção do grupo como movimento
revolucionário, que tem por objetivo, o reconhecimento e o processo dinâmico que a vida
possui.
Ficou evidente a dependência de ambos: o instituinte só tem sentido materializado no
instituído, por outro lado, o instituído só funciona quando aberto as possibilidades da
potencia instituinte. Outro momento que frisamos é que em toda trajetória da narrativa, a
maioria dos animais se não todos, percebiam a manipulação dos porcos mas não conseguia
sair do pratico inerte instalado na granja por eles, e o estado de serialidade se constitui e
permanece atuante em toda a trama.
Concluindo, percebemos que o conteúdo do livro reflete muito sobre o que vivemos
enquanto sociedade, principalmente no que tange o estado de série. Animais como: Sansão,
Quitéria, Ovelhas, Napoleão, Bola de Neve e o Burro, são personagens principais que
ilustram no cotidiano a dinâmica da vida e das instituições.

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