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O Principado dos Bichos: relações

entre O Príncipe, de Nicolau Maquiavel,


e A Revolução dos Bichos,
de George Orwell
Otávio Augusto Ganzert Weinhardt1
Teoria do Direito e Filosofia do Direito

Sumário

1. Introdução; 2. O Florentino; 3. O Inglês e os Bichos; 3.1. A Tomada


do Poder; 3.2. O novo governo; 4. Relações Entre Maquiavel e Orwell;
5. O Príncipe Napoleão; 5.1. O homem; 5.2. Garganta; 5.3. O Moinho;
5.4. O chicote; 6. Conclusão; 7. Referências.

Resumo

A presente proposta pauta-se em uma análise da obra O Príncipe,


de Nicolau Maquiavel, aplicada ao clássico literário A Revolução dos
Bichos, de George Orwell. A primeira, escrita pelo grande filósofo flo­
rentino no início do século XVI, trata-se de um “guia prático” dirigido
ao soberano. Explica quais as formas de governo existentes segundo a
concepção do autor e dá conselhos ao soberano sobre como se manter
no poder nas mais diversas circunstâncias, recorrendo, em grande me­
dida, a exemplos encontrados na História. Orwell, por sua vez, produz
uma obra literária, de temática aparentemente lúdica, mas cujo conteú­
do é, em verdade, bastante profundo e atual. Publicada em 1945, conta
a história de como os animais da Granja do Solar se revoltaram contra
seu proprietário e tomaram o poder através de um motim, instituindo
uma nova forma de govei no. O que aqui se pretende é investigar como

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238 | OTÁVIO AUGUSTO GANZERT WEINHARDT

as recomendações maquiavélicas podem ter influenciado na estrutura


político-jurídica da República dos Bichos. Faz-se, portanto, a releitura
de uma obra tão clássica quanto polêmica, de suma importância para o
pensamento ocidental, sob o viés da Filosofia do Direito e tendo como
base um caso concreto, ainda que fictício.

Palavras -chave :
Nicolau Maquiavel; George Orwell; Filosofia do Direito; Literatu
ra; Poder; Totalitarismo.

i. Introdução

“A Revolução dos Bichos foi o primeiro livro no qual eu tentei,


com plena consciência do que estava fazendo, fundir o propósito políti
co e artístico em uma coisa só”2, diria Orwell. Compreender melhor a
sociedade em que estamos inseridos é tarefa árdua. A organização cole
tiva dos indivíduos é um fenômeno extremamente complexo e que não
se explica por regras rígidas e duradouras, como as da física.
Além disso, a análise do fenômeno social parte de uma busca mnl
tidisciplinar e multifacetada, podendo-se combinar o estudo da Histó
ria, Filosofia, Política e, obviamente, do Direito. A fim de manejar essas
discussões, há uma série de ferramentas disponíveis, dentre as quais .1
literatura. Nas palavras da professora Katya Kozicki:

A literatura permite a colocação de questões que muitas vezes


são reprimidas no âmbito das escolas de direito (com o também
na filosofia) e nos aproxima da questão do sujeito por caminho',
outros que não apenas o formal do sujeito de direito. I)em oi i a> 1.1
e literatura são marcadas por uma extrema abertura, abcilm.i
esta que acreditamos deva se fazer presente na reflexão sobie "
direito3.

2 “Animal Farm was thc lii st book m whii li I 11 umI. wltli lull eonsi lOUsncss ol wh.it
I was doing, to fuso polltluil pmpoM- mui iiithlU purposr luto one wlioli (livic
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ii niiNiiiiwii uns bichos 1239

Adiante, serão elaboradas algumas intersecções entre a obra ()


Príncipe, do filósofo político Nicolau Maquiavel e A Revolução dos
Bichos, do escritor inglês George Orwell. Através de uma nova leitura
sobre essas obras, busca-se levantar temas academicamente relevantes,
adotar uma abordagem hermenêutica menos usual e, finalmente, esti­
mular olhares distintos sobre outros clássicos literários e políticos, bem
como sobre a própria sociedade em que vivemos, o que, evidentemente,
ficará a cargo do leitor.
Como recomendação, a leitura prévia dessas duas obras é de
suma importância, mas principalmente A Revolução dos Bichos, já que
vários elementos importantes da história serão tratados, o que poderia
“estragar” uma leitura posterior. Adotando-se um estrangeirismo cada
vez mais frequente: contém spoilers4.

2. O Florentino

Nascido em 1469, em Florença, Maquiavel viveu em um con­


texto de agitação e instabilidade política5. Ao longo da história, foi
duramente criticado, visto como o fornecedor de uma base ideológica
para toda sorte de arbitrariedades. Seu nome transformou-se em ad­
jetivo e, ainda hoje, trata-se como maquiavélico um sujeito maldoso,
egoísta e mesquinho. Maquiavel tornou-se, para muitos, a maldade
prosopopeia.
É preciso, porém, contextualizá-lo no tempo e no espaço. Além
de ter vivido em um período conturbado, trata-se de um momento pro­
fundamente distinto. Seria um erro analisá-lo sob a ótica de alguém que
encontra-se em um regime - em tese - democrático no século XXI.
Além disso, longe de comportar-se como um tirano, o autor levava uma
vida bucólica e modesta quando escreveu sua obra-prima.

4 Termo utilizado principalmente no cinema e na literatura para alertar que serão


revelados elementos importantes da história, tirando a surpresa de quem não a
con hece.
!i SAPliK, Maria Tric .a Nhuliiu Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual
de vii 111 111: WI l H >IM 1 1aia im 11 ( ( < )rg.). <)s <ilãssicos daPolítica ( I" volume),
'.•oi Paulo Ali. a, ,'(111(1, |' II I ■

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Levanto me de m anha com o sol <■ vou a mu meu busqui <|ii<
m andei cortar, onde fico duas horas a exam inai o liuhallm do
dia anterior e a passar o lem po com aqueles cortadores qm
estão sem pre às voltas com algum aborrecim ento entre si ou
com os vizinhos. [...] C hegada a noite, retorno para casa e enlo.
no m eu escritório; na porta, dispo a roupa quotidiana, i In-ia
de barro e lodo, visto roupas dignas de rei e da corte e, vestido
assim condignam ente, p enetro nas antigas cortes dos hom ens dn
passado onde, p o r eles recebido am avelm ente, n u tro -m e daquel.
alim ento que é unicam ente m eu, para o qual eu nasci6.

Feitas tais ressalvas, é importante compreender como O Príncipt


foi produzido e de que maneira está estruturado. Maquiavel ocupava um
cargo público em Florença durante o governo de Soderini. Porem, quan
do os Médicis (uma das famílias mais importantes do período) voltam
ao poder, o autor é demitido e, posteriormente, passa um período preso.
Ao deixar a prisão, escreve O Príncipe e o dedica a Lorenzo di Médin.
numa tentativa de conquistar o apreço da família e voltas às suas funções
públicas7.
Em sua obra, não trabalha com idealidades. O florentino prefere
deixar de lado os modelos utópicos e enfrentar a realidade tal qual ela
era. Sua proposta, portanto, é de trazer estabilidade a uma sociedade
instável e belicosa, onde o príncipe deve fazer o que for necessário para
a consecução de seus fins.
Primeiramente, trata de explicar quais são as formas de governo
existentes. Segundo o autor, “todos os Estados, todos os governos que
tiveram e têm autoridade sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou
principados”8. Em seu livro, trata apenas dos principados9, os quais

6 MAQUIAVEL, Nicolau. Carta de Machiavelli a Francesco Vettori, em Roma. In:


MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Versão digital (obra em domínio público)
disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/principe.pdf>. Acesso
em: 16 abr. 2014, p. 160-161.
7 SADEK, Maria Teresa. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de
vittú. In: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os Clássicos da Política (Io volume).
São Paulo: Ática, 2000, p. 15- 17.
8 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 11.
9 O tema da República é melhor abordado pelo autor em MAQUIAVEL, Nicolau. Dis­
cursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

210 i REVISTA JURÍDICA THEMIS


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delinc cm pniu 11>.1<I•> In n .111,u nr,, mistos c novos, podendo ser, ainda,
civis ou eclcsi.islit o>, <• .1*U|iiiriclos de diferentes formas.
Além disso, apresenta conselhos sobre o comportamento do Prín­
cipe, trabalhando com os conceitos de virtú10 e fortuna (como sinôni­
mo de sorte). Disserta, sobre diversos aspectos, o que é necessário para
que o soberano se mantenha no poder, alguns dos quais serão tratados
adiante em paralelo com a obra de Orwell.
Sobre esse primeiro momento, convém classificar os principados
novos, pois é o modo de governo adotado pela Revolução dos Bichos.
Principados novos são aqueles, como o nome sugere, cujo príncipe e
organização política são totalmente novos11. Esse modelo é mais di­
fícil de ser conservado do que os hereditários, ou seja, que advém de
uma dinastia já existente e que governa um Estado já estabelecido, bem
como dos mistos, que conservam elementos de permanência e ruptura
em face da ordem vigente. Para manter-se, portanto, o Príncipe deverá
ser extremamente virtuoso.
A lém disso, os Estados que crescem de repente [...] não podem ter
as raízes correspondentes, de m o d o que a prim eira adversidade
destrói-as. A m enos que, com o já foi dito, de repente, os que se
to rn aram príncipes sejam hábeis [...] e construam depois as bases
que os outros constru íram antes de se torn arem príncipes12.

3. O Inglês E O s Bichos

3.1. A Tom ad a D o P oder

Uma das maiores obras de George Orwell, A Revolução dos Bi­


chos conta a história dos animais que viviam na Granja do Solar, se re­

to Segundo Quentin Skinner, esse termo não pode simplesmente ser traduzido como
“virtude”. Na visão do historiador, deve ser lido como os “modos como os príncipes
são capazes de atingir os seus fins” (PALLARES-BURKE, Maria Lúcia. As muitas
faces da história: nove entrevistas. São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 325).
11 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 31.
12 Ibid., p. 36

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voltaram contra o Sr. Jones, um fazendeiro ébrio o negligente, e I......


ram o poder. Expulso o homem, é formada uma República comandada
pelos porcos, estando à frente Napoleão e Bola de Neve (os quae. li
nham sempre opiniões discrepantes). Com um novo sistema de govri
no, é formada uma estrutura política e jurídica a fim de lhe dar supoi i,
A “Constituição” da República é formada por sete mandamentos,
de simples compreensão e memorização (já que a maioria dos bichos na< ,
eram tão inteligentes). Esses mandamentos incluíam pontos importante,
que representavam justamente a ruptura com o ordenamento anteriot
Havia uma carga de quebra de paradigma, rechaçando todos os hábitos
humanos, como uma forma de reafirmar a soberania dos bichos. Era visto
como inimigo quem andava sobre duas pernas, além de ser proibido usai
roupas, dormir em cama e ingerir bebidas alcoólicas. Por fim, o sétimo
mandamento declarava a igualdade entre todos os animais.
Todos os domingos, os bichos se reuniam para o hastear a ban
deira, cantar o hino e tomar decisões importantes. Mais tarde, quando
os animais deliberavam sobre a construção ou não de um moinho de
vento, Napoleão deu um golpe, instrumentalizado por um pelotão de
cachorros, e tomou o poder, exilando seu adversário Bola-de-Neve e
acabando com as assembléias de domingo.
Napoleão se torna um governante cada vez mais arbitrário, prote­
gido por sua guarda de cães furiosos. Institui para si diversos privilégios
e, gradativamente, viola as leis que haviam criado, alterando-as conforme
seu interesse. A república originalmente instituída converte-se em um
regime ditatorial, e a própria legislação é suspensa, sendo outorgada, ao
final, uma única lei (e talvez a frase mais célebre de todo o livro): “todos
os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que os outros”13.

3-2. O NOVO GOVERNO

A consolidação da república (ou principado) passa por diversos


momentos de instabilidade. O moinho que Napoleão finalmente deci-

13 ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 106.

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li rniittnr

diti tonslruii, após quase um ano de trabalho árduo dos bichos, foi des-
I ruído por um vcndaval.
Houve crise na produção de alimentos e a ração diária dos ani­
mais foi reduzida. A fim de explicar o declínio da granja, “sempre que
algo errado aparecia, o culpado era Bola-de-Neve”14.
Além disso, a própria história da granja foi reconstruída, a fim de
demonizar Bola-de-Neve e respaldar as condutas de Napoleão. O elo­
quente porco Garganta não apenas adulterava os fatos, mas criava falsas
memórias nos bichos para atender aos interesses dos porcos.
O regime torna-se sobremaneira severo, culminando, inclusive,
em execuções públicas de supostos traidores. Houve um novo ataque
promovido pelos homens, os quais explodiram o moinho e consegui­
ram matar alguns animais.
A vida na Granja foi se tornando cada vez mais pesada. Os ani­
mais trabalhavam cada vez mais e comiam cada vez menos. Todavia, os
discursos de Garganta e suas estatísticas demonstravam que a fazenda
nunca esteve tão bem.
Com o passar do tempo, os porcos retomam relações com os ho­
mens das propriedades vizinhas e incorporam cada vez mais os hábitos
humanos. Passam a vestir roupas, andar em pé e, ao final, extinguem
os símbolos que restavam da Revolução. Na visão dos animais que es­
piavam porcos e humanos reunidos na casa que era de Jones, “já era
impossível distinguir quem era homem, quem era porco”15.

4. Relações Entre
M aquiavel E O rwell

Em primeiro lugar, ambos vivem em momentos agitados. Se­


gundo o florentino, a Itália de seu tempo estava “mais escravizada do
que os hebreus, mais oprimida do que os persas, mais dispersa que
os atenienses, sem líder, sem leis, batida, espoliada, lacerada, invadi-

14 ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 65.
15 Ibid., p.l 12.

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244 | OTÁVID AUGUSTO GANZERT WEINHAROT

da”16. Conforme descreve Paul Larivaille, tratava-se de um mosaico


territorial, político, econômico e cultural17. A Península Itálica divi­
dia-se então em cinco grandes regiões e os conflitos tanto no plano
interno quanto externo eram frequentes18.
Orwell, por sua vez, escreve toda sua obra no período entre a dé­
cada de 1930 e o final da década de 1940, tendo vivido a ascensão do
Stalinismo, do Nazismo, do Fascismo e do Capitalismo inconsequente
estadunidense. Assistiu, portanto, o horror da Segunda Guerra Mun­
dial, onde essas ideologias transformaram-se em pólvora e sangue. Lon­
ge de um simples romancista, foi muito ativo nos debates políticos e
escreveu diversos ensaios e artigos sobre o temas como totalitarismo19,
fascismo20e nacionalismo21.
Tanto Maquiavel quanto Orwell compreendem o autoritarismo e
totalitarismo como uma faceta presente no comportamento humano22,
embora certamente assumam discursos distintos a partir daí. Orwell,
em dado momento, adotou uma noção anarquista, crendo que “todo
e qualquer governo é maligno, que o castigo sempre prejudica mais do
que o próprio crime e que se pode confiar nas pessoas e em seu compor
tamento decente, desde que sejam deixadas em paz”23. Posteriormente,

16 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 129-130


17 LARIVAILLE, Paul. A Itália no tempo de Maquiavel. São Paulo: Companhia da:.
Letras, 1999, p. 09.
18 MANDARANO, Luís Gustavo. “Segredos do Príncipe” ou “Jerônimo Osório <■
como reagiu o mundo católico da ibéria às idéias de Nicolau Maquiavel” (dis
sertação de mestrado). Juiz de Fora: Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Juiz de Fora, 2008, p. 18.
19 ORWELL, George. Literature and Totalitarianism. Londres: Listener, 1941
Disponível em: <http://orwell.rU/library/articles/totalitarianism/english/e lal
Acesso em: 12 abr. 2016.
20 ORWELL, George. What is Fascism? Londres: Tribune, 1944. Disponível em: lilip //
orwell.ru/library/articles/As_I_Please/english/efasc>. Acesso em: 10 abr. 2016.
21 ORWELL, George. Notes on Nationalism Londrrv Polcmic, 1943. Disponível
em:*<http://orwell.ru/library/essays/nalionalÍMii/english/e uai Acesso em Kl
abr. 2016.
22 AL-JUBOURI, Firas A. I Mllc.stoiw s on llir Koail Io Dyslopia Inlripiellui1,
( ieorge Orwclls Sell Dívisiou m an I i a ol l m. e and lu and', Ncwutslli ( .uniu Idgi
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D PRINCIPADO DOS BICHOS | 245

porém, reconhece que “sempre é necessário proteger as pessoas pacífi­


cas da violência”24.
Em um ensaio chamado “Why I write”, o autor resume claramente
suas posições da seguinte forma: “cada linha de trabalho sério que eu
escrevi desde
1936, foi escrita, direta ou indiretamente, contra o totalitarismo e
a favor do Socialismo Democrático, como eu o compreendo”25.
As concepções de Maquiavel, por sua vez, foram revisitadas deze­
nas de vezes, variando de “professor do mal”26 a outras mais modera­
das, como a de Benedetto Groce, em cuja obra o florentino é visto como
um pensador simplesmente pragmático e realista27.
Ainda que suas orientações não sejam voltadas para o mal, como
muitos pensam, o filósofo reconhece que o príncipe nem sempre deve
ser bom, necessitando usar da força na justa medida para manter o po­
der. Segundo ele, “um príncipe, sobretudo um príncipe novo, não pode
observar todas as coisas pelas quais um homem é considerado bom”28.
Na concepção de um italiano no século XVI, isso significava, sobretudo,
“agir contra a lealdade, a caridade, a humanidade, a religião”29.
Orwell nunca escreveu nada especialmente sobre Maquiavel,
mas faz alguns apontamentos através de um terceiro personagem: Ja­
mes Burnham, contemporâneo de Orwell e uma espécie de discípulo do
florentino. Sobre ele, há um ensaio denominado “Second Thoughts on
James Burnham”30, em que Orwell comenta duas obras do autor: “The
Managerial Revolution” e “Tire Machiavellians”.

24 ORWELL, George. O caminho para Wigan Píer. São Paulo: Companhia das Le­
tras, 2010, p. 184.
25 “Every line of serious work that I have written since 1936 has been written, directly
or indirectly, against totalitarianism and for democratic socialism, as I understand it”
(livre tradução do autor). ORWELL, George. Why I write. Londres: Gangrel, 1946.
26 STRAUSS, 1,eo. 'I houghts on Machiavelli.Chicago: University of Chicago Press, 1958.
27 CROCK, llenrdctln. Ilementi di política. Bari: Laterza & Figli, 1925, p. 64.
28 MAQUIAVLI Nimluu O Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 89.
29 Id.
10 OltWI I I , ( i«’<o |*. '...«m.l Iliouglits on lumes liiirnliam. Londres: Polemic,
l ‘M(, I >i •,| »><mivrl .tu ' 1111 ■ ■ ii c . II i ii/líln iiry/ivview s/bm iilim u/english/c' hui
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II II 211H 2111»! IV,N llllll 211III j 241.


240 | OTÁVIO AUGUSTO GANZERT WEINHARDT

Para Orwell, as idéias de Burnham vão no sentido de que “uma


sociedade democrática nunca existiu e, pelo que podemos ver, nunca
existirá”. Assim, “em cada grande luta revolucionária as massas são le­
vadas por sonhos vagos de irmandade, e então, quando a nova classe
dominante está bem estabelecida no poder, elas são lançadas de volta à
servidão” 31, ideia que se adequa perfeitamente à premissa da Revolu­
ção dos Bichos.
Na visão de Burnham, a política é uma mera luta por poder, de
modo que uma sociedade de pessoas livres e iguais nunca existiu, nem
nunca existirá. George Orwell é mais otimista, concordando que tal
sociedade nunca existiu, mas alegando que nem por isso pode-se di­
zer que nunca existirá. Embora a obra em análise possa perfeitamente
ser descrita pela política de James Burnham, e, consequentemente, de
Maquiavel, o escritor parece crer que “o mundo maquiavélico da força,
fraude e Lirania pode, de alguma maneira, ler fim”32.

5. O Príncipe Napoleão

Como forma de capacitação para a administração da Granja dos


Bichos, os porcos aprenderam a ler. É possível fantasiar, portanto, para
os fins aqui propostos, que Napoleão encontrou o clássico maquiavélico
na estante de Jones e fascinou-se com sua leitura.
São diversos os momentos em que as instruções de Maquiavel ao
Príncipe podem ser comparadas às ações de Napoleão após o momen­
to que expulsa Bola-de-Neve e torna-se, tacitamente, soberano. Assim,
faz-se necessário selecionar apenas alguns momentos comuns entre as
duas obras - aqueles que parecem mais relevantes.

31 “In each great revolutionary struggle the masses are led onby vague dreams ofhu-
manbrotherhood, andthen, when the new ruliii)’. 1 w< ll cslablishcd in power,
they are thrust back into servitudr" (livre liadm.an <l<>.iiilnr), OKWI l,l„ ( !corgc.
Second Thoughts on James liimih.im. lundu ■ Pnl. mu . l‘Mn Disponível cm:
<http://orwell.ni/librai y/irvu'w ./lmi nluiii 1nrlr.li . Iiin ilh lilml Acesso cm:
10 abr. 2016.
12 lhe M.n hlavellimi vvol 1*1 nl hn >* 11and and 11i aimy ma)' snmehnw t ume In .m
Clld (livre Il ,ld lli, .In dn illllnl I |d

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I
0 PRINCIPADO DOS BICHOS | 247

5.1 . O H O M EM

Deve-se saber, portanto, que há dois modos de combater: Um


com as leis e outro com a força. O primeiro é próprio do homem,
o segundo dos animais. Como, muitas vezes, o primeiro não
basta, convém recorrer ao segundo. Portanto, é necessário que
um príncipe saiba usar bem o animal e o homem33.

Com a única diferença de que os termos “homem” e “animal” são


trocados (“quatro pernas bom, duas pernas ruim”34), esse dualismo está
perfeitamente descrito em Napoleão. Ou seja, o homem de Orwell é 0
animal de Maquiavel e vice-versa.
Na ficção, 0 animal representa a solidariedade, a igualdade e o
respeito às leis, enquanto que 0 humano simboliza o egoísmo, a desi­
gualdade e a injustiça. Quando a Revolução triunfa, uma das maiores
preocupações é justamente extinguir os traços da dominação humana.
Nos mandamentos propostos, o que se faz é negar todos os va­
lores de Jones (usar roupas; dormir em cama; ingerir álcool), além de
reforçar a irmandade entre os animais (quem anda sobre quatro pernas,
ou tem asas, é amigo; todos os animais são iguais35).
No entanto, gradativamente Napoleão se torna cada vez mais se­
melhante aos humanos. Incorpora seus hábitos e, ao fim, é como um
deles. Não se trata aqui de um mero capricho; de apreciar os confortos
da vida humana. Trata-se, mais que isso, de um critério de diferencia­
ção. Uma forma de pretender-se superior aos outros bichos e, assim,
subjugá-los. Se uns animais são mais iguais que os outros, o que Napo­
leão quis foi tornar-se igual ao dominador anterior. Convertendo-se em
homem, converteu-se em um tirano.
Deste modo, ouviu Maquiavel apenas parcialmente nesse as­
pecto. O modelo inspirado pelo filósofo era de um comportamento
binário, permeado por momentos de bondade e outros de tirania. Na-

y\ MAQUIAVII Nlml.iii <) Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 87.
M ( )KW I I I . <in 11|m A Uivoluipto <los Itielios. São Paulo: Companhia tias I.ctras,
2007, p. 12
is Iblil,, p 7.S
11' n .... . . ih n .i . ... . . m
248 | OTÁVIO AUGUSTO GANZERT WEINHARDT

poleão, porém, torna-se cada vez mais cruel e não sabe voltar. Cada
vez mais animal, segundo Maquiavel; cada vez mais humano, segundo
si próprio.

5 .2 . G arganta

A um príncipe, p o rtan to , não é necessário ter, de fato, todas as


qualidades acim a descritas [lealdade, caridade, hum anidade,
religião etc.], m as é bem necessário parecer tê-las, sendo
suficiente que aparente possuí-las. O u m elhor, ousarei dizer que,
tendo-as e observando-as sem pre, são nocivas; parecendo tê-las,
são úteis36.

Numa analogia, se Napoleão fosse Hitler, Garganta seria Goe-


bbels. E quem conhece a história sabe da função que esse ministro de­
sempenhou na Alemanha nazista. Na ficção, o papel do porco Garganta
era justamente o de firmar a imagem de Napoleão, “seu amado Líder”37,
como o verdadeiro herói e salvador dos bichos.
Os registros ao longo da história são diversos. Ele, que “era capaz
de convencer que 0 preto era branco”38, aos poucos convenceu os bi
chos de que
Bola-de-Neve era um cruel inimigo, responsável por todo o mal
que ocorria na
Granja. Ao mesmo tempo, fortalecia a liderança de Napoleão,
“sacudindo 0 rabicho e dando pulinhos”39, apresentando estatísticas'1",
alterando fatos e justificando as decisões do soberano.
Também era ele quem estava por trás das mudanças legislativas na
Granja. Quando, por exemplo, os porcos começam a dormir nas camas

36 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Pa/ <• Pen a, I996, p. 89.
37 ORWELL, George. A Revolução do» Itiilios Suo Paulo ( ãunpauhia das l.eli.is,
2007, p. 99.
38 Ibid., p, 19.
Idrui. llild
■III llild , p /li

1111 I illU IS U IIIIIIIIII A III! Mil.


0 PRINCIPADO DOS BICHOS | 249

e o 4o mandamento - nenhum animal dormirá em cama - é emenda­


do para “nenhum animal dormirá em cama com lençóis”41, é Garganta
quem explica à égua Quitéria e à cabra Maricota o conteúdo e as razões
de tal mandamento. Nesse sentido, o suíno era o responsável por pregar
a obediência às normas de exceção dos porcos e fazer com que Napo­
leão parecesse ter as virtudes que, de fato, não tinha, seguindo à risca o
conselho de Maquiavel.

5 .3 . O M o in h o

U m príncipe p ru d en te não pode, nem deve, m an ter a palavra


dada, quando lhe for prejudicial e as razões que o fizeram dar a
palavra não m ais existirem 42.

Uma das questões mais polêmicas da história sem dúvida é a


construção do moinho. A princípio, a ideia tinha sido de Bola-de-neve,
em face da qual Napoleão era veementemente contra. Depois decide
construí-lo e cabe à destreza de Garganta esclarecer que ele sempre foi
favorável à criação do moinho e era o autor original da ideia43.
A proposta original era de que com a energia gerada pelo moinho
“as baias teriam luz elétrica e aquecimento no inverno, haveria força
para uma serra circular, para moagem de cereais, para o corte de beter­
raba e um sistema de ordenha elétrica”44. Com isso, a vida dos animais
seria muito mais confortável e só precisariam trabalhar três vezes por
semana.
Após todas as dificuldades de percurso, quando finalmente ficou
pronto, “o moinho de vento, entretanto, não era usado para gerar ener­
gia elétrica. Usavam-no para moer cereais, coisa que dava bom dinhei-

41 ORWKI.l , <ieorge. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 58.
42 MAQUIAVI 1 Nliohm <> Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 88.
4 1 ( 1RWIU.L,1 "'oigt 1)/i ,il„ |> 50 M
44 O lí W II I ( Ir 011u t II • \ nlii^ao dos Bichos Sao Pnulo ( loiuptiiihia ilus I ,ct ras,
2007, p I' II

n "/ / /lllli / lllll| IV iN H llll /IIlll | /4U


260 | OTÁVIO AUGUSTO GANZERT WEINHflRDT

ro”. A promessa que resultou em tanto sacrifício por parte dos bichos
jamais fora cumprida.
Outra palavra que nunca se cumpriu dizia respeito à aposentado­
ria dos animais por idade, os quais fariam jus à um espaço para repousa­
rem. Após aprender sobre fermentação e destilação, foram dadas ordens
para que aquela terra fosse arada, pois “Napoleão pretendia semeá-la
com cevada”4546.Os interesses dos porcos prevaleceram e o ensinamento
maquiavélico também.

5 .4 . O C H IC O T E

Nasce daí um a questão: é m elhor ser am ado do que tem ido, ou o


contrário. R esponde-se que se quer ser tanto um quanto o outro.
M as com o é difícil reuni-los, é m uito m ais seguro ser tem ido do
que ser am ado46.

Napoleão certamente inspirou 0 amor e admiração dos animais.


Entre os principais admiradores do porco estava Sansão, 0 cavalo, se­
gundo o qual “Napoleão tem sempre razão”47, lema que adotou por
toda a vida. Desde o início, o suíno é descrito como “de aparência amea­
çadora, [...] mas com a reputação de possuir grande força de vontade”48.
Em verdade, o soberano nunca foi muito festejado pelos animais,
à exceção de alguns. Desde o início, porém, Napoleão entendeu que era
preferível ser temido a ser amado. Foi assim que tomou o poder e garan­
tiu-se nele, sempre resguardado pelo “rosnado fundo e ameaçador”49 de
sua guarda canina.
Cada vez menos lhe importava obedecer as regras que preten­
diam fazer da Granja um “Estado de Direito”. Mais e mais, suas condutas

45 ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. Suo Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 88.
46 mQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe Sao |«„„|„ p .,,, l , 1 ‘Wo.p. HT.
47 ORWELL, George. Op. dl., p, TO
48 ORWHI.L, (íoorge A Revolução ilm lllt lios '.ao I'a11In: < nmp.mhla das I,elias,
2007, p. 18.
49 Ihlil, p TH

0,11 | IIIVINIAmillllll.AIIIIMIN
o p r in c ip a d o m is m u n is | z b i

destinavam-se à consecução dos próprios fms e sua postura autoritária,


reforçada pelo rosnado dos cães, impedia qualquer discussão.
O auge do temor é atingido quando o líder dá ordens para que se
executem quatro porcos, três galinhas, um ganso, três ovelhas e assim
sucessivamente, ocorrendo uma “sessão de confissões e execuções, até
haver um montão de cadáveres aos pés de Napoleão”50.
O soberano tornou-se cada vez mais temido na medida em que
se antropomorfizava. Enfim, quando começa a andar em pé, carrega
consigo o símbolo maior da repressão dos tempos de Jones, a própria
materialização do medo: trazia nas mãos um chicote51.

6. C onclusão

Quando se lê ambas as obras, é bastante perceptível que há um


diálogo entre elas. A Granja do Solar torna-se justamente o tipo de so­
ciedade que Orwell rechaçava, um Estado de exceção, ao passo que os
conselhos de Maquiavel foram seguidos com propósitos reprováveis.
A partir da expulsão de Bola-de-Neve e da consequente consoli­
dação de um discurso único, Napoleão assume um viés cada vez mais
ditatorial e distante daquilo que os bichos imaginavam a princípio. Por
isso é importante frisar o papel do debate, do enfrentamento de idéias
saudável a qualquer democracia quando dentro dos princípios que a
coordenam. A tentativa de suprimir e calar as vozes distintas, como
aconteceu com Bola-de-Neve, via de regra terá por trás um discurso
autoritário.
Além de outros pontos relevantes a essa análise, o papel da pro­
paganda, personificada em Garganta, é fundamental. Através do porco,
Orwell alerta para os riscos de adotar como verdadeiro um discurso
midiático monopolizado e comprometido com uma agenda ideológica.
É necessário também frisar mais uma vez o papel do direito. Em­
bora pareça distante ou até mesmo ausente, o direito permeia toda a

so ORWIil.l,, ( ; <• <>! A Urvnlu<,a<> dos Bichos. Siio Paulo: Companhia da.s l.etra.s,
2007, p. 70.
ril Ibicl . p 10'.

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252 | OTÁVIO AUGUSTO GANZEFT WEINHARDT

trajetória da Granja dos Bichos até que volta a ser Granja do Solar. Pa­
radoxalmente, a negação dos princípios jurídicos eleitos pelos animais
é, também uma forma - ainda que antidemocrática - de fazer direito.
Sobre o pensamento de Maquiavel, convém destacar que não pode
ser encerrado em sua obra principal. Uma breve síntese, porém é possível:
o autor não era necessariamente favorável a regimes despóticos, mas os
defendia quando os fins do soberano eram “válidos”, ou seja, quando visa­
vam a união e desenvolvimento do Estado. Os perigos de tal pensamento
são evidentes, já que, por trás desses discursos a favor do povo, da sobera­
nia, do crescimento etc. podem esconder-se as piores razões.
Por último, destaca-se a importância do pensamento e da obra
de Orwell, que seguem atuais e impactantes. Suas idéias lembram que o
discurso do jurista deve ser contra qualquer tipo de totalitarismo, qual­
quer tentativa de calar as vozes contrárias, qualquer tentativa de conter
o Estado de Direito e que, se esses forem os meios existentes, não há fins
que os justifiquem.

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