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Sumário
Resumo
I Ai iiilcm lai do ano 'In ■ininiilc Direito il.i l inlvci siilitclc liilc ra l do hiranii.
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238 | OTÁVIO AUGUSTO GANZERT WEINHARDT
Palavras -chave :
Nicolau Maquiavel; George Orwell; Filosofia do Direito; Literatu
ra; Poder; Totalitarismo.
i. Introdução
2 “Animal Farm was thc lii st book m whii li I 11 umI. wltli lull eonsi lOUsncss ol wh.it
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ii niiNiiiiwii uns bichos 1239
2. O Florentino
delinc cm pniu 11>.1<I•> In n .111,u nr,, mistos c novos, podendo ser, ainda,
civis ou eclcsi.islit o>, <• .1*U|iiiriclos de diferentes formas.
Além disso, apresenta conselhos sobre o comportamento do Prín
cipe, trabalhando com os conceitos de virtú10 e fortuna (como sinôni
mo de sorte). Disserta, sobre diversos aspectos, o que é necessário para
que o soberano se mantenha no poder, alguns dos quais serão tratados
adiante em paralelo com a obra de Orwell.
Sobre esse primeiro momento, convém classificar os principados
novos, pois é o modo de governo adotado pela Revolução dos Bichos.
Principados novos são aqueles, como o nome sugere, cujo príncipe e
organização política são totalmente novos11. Esse modelo é mais di
fícil de ser conservado do que os hereditários, ou seja, que advém de
uma dinastia já existente e que governa um Estado já estabelecido, bem
como dos mistos, que conservam elementos de permanência e ruptura
em face da ordem vigente. Para manter-se, portanto, o Príncipe deverá
ser extremamente virtuoso.
A lém disso, os Estados que crescem de repente [...] não podem ter
as raízes correspondentes, de m o d o que a prim eira adversidade
destrói-as. A m enos que, com o já foi dito, de repente, os que se
to rn aram príncipes sejam hábeis [...] e construam depois as bases
que os outros constru íram antes de se torn arem príncipes12.
3. O Inglês E O s Bichos
to Segundo Quentin Skinner, esse termo não pode simplesmente ser traduzido como
“virtude”. Na visão do historiador, deve ser lido como os “modos como os príncipes
são capazes de atingir os seus fins” (PALLARES-BURKE, Maria Lúcia. As muitas
faces da história: nove entrevistas. São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 325).
11 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 31.
12 Ibid., p. 36
13 ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 106.
diti tonslruii, após quase um ano de trabalho árduo dos bichos, foi des-
I ruído por um vcndaval.
Houve crise na produção de alimentos e a ração diária dos ani
mais foi reduzida. A fim de explicar o declínio da granja, “sempre que
algo errado aparecia, o culpado era Bola-de-Neve”14.
Além disso, a própria história da granja foi reconstruída, a fim de
demonizar Bola-de-Neve e respaldar as condutas de Napoleão. O elo
quente porco Garganta não apenas adulterava os fatos, mas criava falsas
memórias nos bichos para atender aos interesses dos porcos.
O regime torna-se sobremaneira severo, culminando, inclusive,
em execuções públicas de supostos traidores. Houve um novo ataque
promovido pelos homens, os quais explodiram o moinho e consegui
ram matar alguns animais.
A vida na Granja foi se tornando cada vez mais pesada. Os ani
mais trabalhavam cada vez mais e comiam cada vez menos. Todavia, os
discursos de Garganta e suas estatísticas demonstravam que a fazenda
nunca esteve tão bem.
Com o passar do tempo, os porcos retomam relações com os ho
mens das propriedades vizinhas e incorporam cada vez mais os hábitos
humanos. Passam a vestir roupas, andar em pé e, ao final, extinguem
os símbolos que restavam da Revolução. Na visão dos animais que es
piavam porcos e humanos reunidos na casa que era de Jones, “já era
impossível distinguir quem era homem, quem era porco”15.
4. Relações Entre
M aquiavel E O rwell
14 ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 65.
15 Ibid., p.l 12.
24 ORWELL, George. O caminho para Wigan Píer. São Paulo: Companhia das Le
tras, 2010, p. 184.
25 “Every line of serious work that I have written since 1936 has been written, directly
or indirectly, against totalitarianism and for democratic socialism, as I understand it”
(livre tradução do autor). ORWELL, George. Why I write. Londres: Gangrel, 1946.
26 STRAUSS, 1,eo. 'I houghts on Machiavelli.Chicago: University of Chicago Press, 1958.
27 CROCK, llenrdctln. Ilementi di política. Bari: Laterza & Figli, 1925, p. 64.
28 MAQUIAVLI Nimluu O Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 89.
29 Id.
10 OltWI I I , ( i«’<o |*. '...«m.l Iliouglits on lumes liiirnliam. Londres: Polemic,
l ‘M(, I >i •,| »><mivrl .tu ' 1111 ■ ■ ii c . II i ii/líln iiry/ivview s/bm iilim u/english/c' hui
n 11 1111111 A i. v.i <ru i I u iihi '1111.
5. O Príncipe Napoleão
31 “In each great revolutionary struggle the masses are led onby vague dreams ofhu-
manbrotherhood, andthen, when the new ruliii)’. 1 w< ll cslablishcd in power,
they are thrust back into servitudr" (livre liadm.an <l<>.iiilnr), OKWI l,l„ ( !corgc.
Second Thoughts on James liimih.im. lundu ■ Pnl. mu . l‘Mn Disponível cm:
<http://orwell.ni/librai y/irvu'w ./lmi nluiii 1nrlr.li . Iiin ilh lilml Acesso cm:
10 abr. 2016.
12 lhe M.n hlavellimi vvol 1*1 nl hn >* 11and and 11i aimy ma)' snmehnw t ume In .m
Clld (livre Il ,ld lli, .In dn illllnl I |d
5.1 . O H O M EM
y\ MAQUIAVII Nlml.iii <) Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 87.
M ( )KW I I I . <in 11|m A Uivoluipto <los Itielios. São Paulo: Companhia tias I.ctras,
2007, p. 12
is Iblil,, p 7.S
11' n .... . . ih n .i . ... . . m
248 | OTÁVIO AUGUSTO GANZERT WEINHARDT
poleão, porém, torna-se cada vez mais cruel e não sabe voltar. Cada
vez mais animal, segundo Maquiavel; cada vez mais humano, segundo
si próprio.
5 .2 . G arganta
36 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Pa/ <• Pen a, I996, p. 89.
37 ORWELL, George. A Revolução do» Itiilios Suo Paulo ( ãunpauhia das l.eli.is,
2007, p. 99.
38 Ibid., p, 19.
Idrui. llild
■III llild , p /li
5 .3 . O M o in h o
41 ORWKI.l , <ieorge. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 58.
42 MAQUIAVI 1 Nliohm <> Príncipe. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 88.
4 1 ( 1RWIU.L,1 "'oigt 1)/i ,il„ |> 50 M
44 O lí W II I ( Ir 011u t II • \ nlii^ao dos Bichos Sao Pnulo ( loiuptiiihia ilus I ,ct ras,
2007, p I' II
ro”. A promessa que resultou em tanto sacrifício por parte dos bichos
jamais fora cumprida.
Outra palavra que nunca se cumpriu dizia respeito à aposentado
ria dos animais por idade, os quais fariam jus à um espaço para repousa
rem. Após aprender sobre fermentação e destilação, foram dadas ordens
para que aquela terra fosse arada, pois “Napoleão pretendia semeá-la
com cevada”4546.Os interesses dos porcos prevaleceram e o ensinamento
maquiavélico também.
5 .4 . O C H IC O T E
45 ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. Suo Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 88.
46 mQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe Sao |«„„|„ p .,,, l , 1 ‘Wo.p. HT.
47 ORWELL, George. Op. dl., p, TO
48 ORWHI.L, (íoorge A Revolução ilm lllt lios '.ao I'a11In: < nmp.mhla das I,elias,
2007, p. 18.
49 Ihlil, p TH
0,11 | IIIVINIAmillllll.AIIIIMIN
o p r in c ip a d o m is m u n is | z b i
6. C onclusão
so ORWIil.l,, ( ; <• <>! A Urvnlu<,a<> dos Bichos. Siio Paulo: Companhia da.s l.etra.s,
2007, p. 70.
ril Ibicl . p 10'.
trajetória da Granja dos Bichos até que volta a ser Granja do Solar. Pa
radoxalmente, a negação dos princípios jurídicos eleitos pelos animais
é, também uma forma - ainda que antidemocrática - de fazer direito.
Sobre o pensamento de Maquiavel, convém destacar que não pode
ser encerrado em sua obra principal. Uma breve síntese, porém é possível:
o autor não era necessariamente favorável a regimes despóticos, mas os
defendia quando os fins do soberano eram “válidos”, ou seja, quando visa
vam a união e desenvolvimento do Estado. Os perigos de tal pensamento
são evidentes, já que, por trás desses discursos a favor do povo, da sobera
nia, do crescimento etc. podem esconder-se as piores razões.
Por último, destaca-se a importância do pensamento e da obra
de Orwell, que seguem atuais e impactantes. Suas idéias lembram que o
discurso do jurista deve ser contra qualquer tipo de totalitarismo, qual
quer tentativa de calar as vozes contrárias, qualquer tentativa de conter
o Estado de Direito e que, se esses forem os meios existentes, não há fins
que os justifiquem.
7. Referências
________. D iscursos sobre a prim eii .1 dé< ada de ’I'■Io I,ivio São Paulo: Mai
tins Fontes, 2007.
Al | IIIVIHIA.HIIIIlIttAIjttMIÜ
ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Le
tras, 2007.
______ . O caminho para Wigan Píer. São Paulo: Companhia das Letras,
2010 .