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MAQUIAVEL

SPINOZA
BERKELEY
MERLEAU PONTY
DJAMILA RIBEIRO

FILOSOFIA UFPR 2022


RESUMO DAS OBRAS

PLUS: RESUMÃO
DE SOCIOLOGIA
UFPR 2022

Sílvia Maria de Araújo


Júlia O'Donnel
Afrânio Silva
Nelson Dácio Tomazi

@VESTILUTANDO | @MAMAE.TA.ESTUDANDO
MAQUIAVEL
DISCURSO SOBRE A PRIMEIRA DÉCADA
DE TITO LÍVIO
O AUTOR
= Intelectual.

= Funcionário do governo de Florença.

= Viajante.

= Portugal, Espanha, França e Inglaterra =


centralização do poder.

= Destaca como qualidade do Estado a estabilidade e caracteriza, quanto à criação, quatro possibilidades: a violência,
o consentimento, a virtu e a fortuna.

= A virtù é a qualidade do Príncipe e pode ser traduzida por: coragem, ação, força, astúcia e prudência. Pode ser
desenvolvida pelo exemplo e pela guerra.

= A fortuna é o acaso. A associação entre a virtù e a fortuna é a ocasião. A fortuna pode ser aproveitada pela atenção,
pela ação e pela prudência.

= Maquiavel foi um pensador realista. Para ele, governar é observar as circunstâncias.

A OBRA
= É uma obra escrita por Nicolau Maquiavel em 1517, publicada postumamente em 1531. Tito
Lívio foi um filósofo e escritor que cresceu em meio às guerras civis que assolavam a Itália na
época de Júlio César. Dedicou seus últimos quarenta anos de vida à obra “Desde a fundação da
cidade”, que consiste em uma narrativa da história de Roma, dividida em 142 livros, dos quais
35 são conhecidos.

= Maquiavel brinda o leitor com a história de Roma, discorrendo sobre a sua política, suas
divergências e seus conflitos.

= Os Discorsi são divididos em três partes ou livros:

1º = Maquiavel trata do funcionamento interno das repúblicas.

2º = Aborda basicamente questões militares.

3º = Discute a ascensão e queda das repúblicas, isto é, a dinâmica dos Estados.

= TEMA CENTRAL = Poder, Governo, Estabilidade, conceito de liberdade e virtude cívica.

LIBERDADE PARA MAQUIAVEL = Cidadão participa ativamente da política do seu Estado.

“É de fundamental importância que seja garantida ao povo a LIBERDADE.”

VIRTUDE CÍVICA = Cidadão que não abre mão da sua liberdade. Sua ação visa o bem comum.

• O próprio povo deve ser o guardião dessa liberdade, desde que seja um povo de virtude cívica.

= Diferença entre esta obra e O Príncipe = No primeiro livro as questões políticas são tratadas da ótica do príncipe (ou
governante).
= Esta obra é a análise detalhada da república, em que o autor claramente se coloca em favor desta, a aponta suas
principais características observadas no decorrer da história e modos de melhorá-la, ou de ao menos mantê-la.
Maquiavel não se preocupa em fundamentar afirmativas ou documentar referências. Em vez disso, identifica no
passado acontecimentos ou sequências de eventos que ilustrem e confirmem suas convicções acerca do presente, em
especial a política a ser seguida pelas cidades italianas. Na verdade, discorrer sobre os livros de Tito Lívio é mostrar
Roma em todos seus aspectos. "Os que estudarem o que foi o início de Roma, seus legisladores e a ordem pública que
instituíram não se espantarão de saber que tantas virtudes tenham sido ali cultivadas durante séculos, e que aquela
cidade se tenha tornado centro de imenso império".

= Semelhança entre esta obra e O Príncipe = No conselho de que se deve olhar o passado para aprender com ele.
Neste caso, a história de Roma. E o que havia para aprender com Roma? Sua fundação, suas leis e a relação entre os
cidadãos. Assim, ele busca demonstrar suas ideias a respeito da história cíclica, de como utilizar exemplos da
Antiguidade. Seu objetivo final, assim como no Príncipe, é buscar soluções para a crise enfrentada pela Itália e chegar
a sua unificação.

= Nos “Discursos”, estão presentes os conceitos chaves apresentados no “Príncipe”: a fortuna e a virtù constituindo a
ação humana. Há a mesma distinção entre virtù e virtudes, que o leva a estabelecer a política em bases próprias.

= O que leva um princípio a ser aperfeiçoado, constata Maquiavel, é a necessidade. A adversidade pode ser condição
tanto do aperfeiçoamento quanto da destruição do Estado.

= Princípio de Legitimidade: ao lado da força – a forma original se constitui não pela força, mas pela diferenciação da
força – a legitimidade passa a ser um critério (moral) de definição das formas de governo. Quando se perde os valores
que fundavam certas formas de governo, ou seu conteúdo, perde-se a legitimidade e as formas de governo irão
necessariamente degenerar com o passar do tempo.

= Maquiavel nos aponta todos os acontecimentos que levaram à criação dos tributos romanos, do Senado, da
República, enfim, do Estado Romano. Assim, pode-se considerar Maquiavel como sendo, indubitavelmente, um
pensador indutivo -utiliza-se de inúmeros exemplos históricos com o fim de sustentar suas afirmações. No entanto,
seu propósito não é sempre impecavelmente atingido, mesmo porque a realidade não segue regras e é, portanto,
muito mais complexa do que se pode teorizar.

= A obra começa com a citação da origem das cidades, que podem estabelecer-se devido a um grupo de cidadãos
juntar-se a visar maior segurança; a estrangeiros que querem assegurar o território conquistado, a estabelecer, ali,
colônias; ou mesmo a fim de exaltar-se a glória do Príncipe. As repúblicas nascem com o surgimento das cidades e,
assim, constituem três espécies: monarquia, aristocracia e despotismo, que podem evoluir para o despotismo,
oligarquia e anarquia, respectivamente. Neste ponto, a sociedade é vista por Maquiavel de forma pessimista:
ascendência e decadência, a formar um ciclo vicioso. Para Maquiavel todos os princípios corrompem-se e degeneram-
se, corrigidos somente via acidente externo (fortuna) ou por sabedoria intrínseca (virtù). Conclui-se que a sua melhor
forma seria o equilíbrio, a “justa medida”, segundo Aristóteles, mantido através das próprias discordâncias entre o
povo e o Senado, já que estes, em conjunto, representam e lutam pelos interesses gerais do Estado.

= Maquiavel acredita que a política é o resultado do conflito entre autores políticos distintos, ou seja, o povo e os
poderosos. Rompe, desse modo, com a tradição anterior, ao ver nos conflitos uma garantia de manutenção da
liberdade.

= Governos mistos: A melhor solução para garantir a durabilidade das formas de governo seria, portanto, a
constituição mista, sustenta o florentino. Esta teria sido, aliás, a causa da firmeza e estabilidade do Estado romano. O
êxito de uma república, segundo o autor, pode ser estrategicamente obtido através da sucessão dos governantes. Se
se intercalar os virtuosos com os fracos, o Estado poderá manter-se. Mas, se, diferentemente, dois ruins sucederem-
se, ou apenas um, mas que seja duradouro, a ruína do Estado será inevitável, já que, desse modo, o segundo governo
não poderá utilizar-se dos bons frutos do governo anterior.

= O papel dos conflitos: a noção de que a liberdade e a força da república romana teriam nascido da desunião entre
a plebe e o senado. Aqui, o pensador florentino introduz, uma vez mais contra a tradição, a ideia do conflito como
condição de estabilidade e/ou firmeza da república (e, portanto, das instituições). “Todas as leis para proteger a
liberdade nascem da desunião [entre o povo e os poderosos, entre a plebe e o Senado”.
= Maquiavel cita a importância das repúblicas, já que nela os próprios cidadãos escolhem seus governantes, de modo
a aumentar a chance de se ter, consecutivamente, bons governos. Com relação à política de defesa onde há pessoas
e não um exército, é notada um clara incompetência por parte do soberano, pois é de sua exclusiva competência
formar um exército próprio para a defesa da nação. É, também, de extrema importância saber-se a hora própria para
instituir-se a ditadura, que, em ocasiões excepcionais, é necessária a fim de tomarem-se decisões rápidas, a dispensar,
assim, consultar as tradicionais instituições do Estado. Contudo, ela deve-se instituir por período limitado, de modo a
não se corromper e deve existir até quando o motivo o qual a fez precisar-se for eliminado.

= Como evitar que o conflito desande em anarquia? O conflito deve ser acomodado pela arte da legislação. Por isso,
uma crise de governo, uma crise política não acarreta necessariamente a crise institucional (ou do Estado).

= A importância da existência de canais institucionais de acusação: A institucionalização de um tal poder gera dois
efeitos de relevo para a república. 1º = os cidadãos, temendo ser acusados, não ousam investir contra a segurança do
Estado. 2º = ele constitui uma espécie de “válvula de escape” à paixão que sempre fermenta contra algum cidadão. É
útil e necessário que as leis da república forneçam ao povo um meio legítimo de manifestar o ódio que um cidadão
possa lhe inspirar. Quando esses instrumentos não existem, a plebe recorre a meios extraordinários, que causam ainda
mais danos.

= O conflito de interesses, porém, mantém a liberdade, mas não a institui. Assim como no Príncipe, nos Discursos
Maquiavel vê a fundação do Estado sempre a partir de uma vontade única.

= O Estado é definido como o poder central soberano; é o monopólio do uso legítimo da força, como diria Weber. As
leis são estabelecidas nas práticas virtuosas da sociedade e com o cuidado de não repetir o que não teve de êxito. Por
isso, não há nada pior do que a desrespeitar. Se isso ocorrer, tornar-se clara a falha do exercício do poder de quem a
corrompe. Tratando-se do Estado, tudo é válido, desde a violação de leis e costumes e tudo mais que for necessário
para atingirem-se as consequências visadas: os fins justificam os meios. Nessa visão de poder do Estado, é clara a
importância da religião como instrumento político do Estado, de modo a justificar interesses e, também, como
conforto à população em busca de ideais e disposta a dar sua vida por estes. Para Maquiavel, a religião serve para
estreitar os laços sociais. E por quê? Porque as determinações da religião tem mais força impositiva do que as leis
positivas. A religião produz regras de comportamento que têm um poder de fidelidade e obediência maior do que a
lei, sendo, por isso, o nível fundamental sobre o qual se erigem as regras e instituições do Estado.

= Instituições e corrupção: Instituições mais livres estão ligadas a dois fatores: evitar a desigualdade e se manter
distante da corrupção, sustenta Maquiavel. Numa República corrompida, a aptidão para a vida em liberdade degenera.

= Liberdade: pode ser sob duas óticas: um grupo quer a liberdade para poder comandar; o maior grupo, porém, deseja
a liberdade para poder viver em segurança, satisfazendo-se com um príncipe que não viole as leis que criou.

= Após uma análise teórica e comparativa -em termos históricos- é colocada ainda a importância da fortuna, a qual
tem contingência própria e o poder de mudar os fatos. Assim, o autor define o papel do homem na história: desafiá-
la. Com base na teoria do equilíbrio, conclui-se, então, que o ideal é que se estabeleça um meio termo entre as formas
de governo a serem adotadas, observando-se que a combinação das já existentes pode mostrar-se muito mais
eficiente. A administração de um Estado deve adaptar-se às necessidades da população, e não as pessoas às leis.

Em outras palavras...

Em Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Nicolau estimula o debate sobre o conceito de liberdade
e virtude cívica. Segundo Maquiavel, há uma necessidade de confiar ao povo a preservação da liberdade para garantir
a participação deste na vida pública. Para que o povo funcione como guardião de seu território, o julgamento de uma
cidade, em última instância, deve ser do próprio povo. É necessário ter sempre muitos juízes, pois poucos juízes
tendem a julgar a favor da minoria. Não há cidade forte sem povo, mas também não há cidade livre sem participação
da maioria na vida política da cidade. Maquiavel, contudo, ressalva que a participação popular traz consequências.
Levar o público a intenções e desejos que não são consensuais (como acontece na maior parte das vezes) pode resultar
em conflitos políticos. Uma das maiores contribuições de Maquiavel às formulações de teóricos posteriores foi a
intensa participação do povo nos negócios da cidade. Nicolau se destacou por refletir a respeito dos possíveis choques
que essa participação poderia causar, diferentemente dos humanistas cívicos que haviam elaborado suas teses até
então. São ideias novas como essa que fazem Maquiavel se destacar tanto como político revolucionário.
SPINOZA
Livro I – Ética (1677) – Apêndice
O AUTOR / CONTEXTO
= Nascido em Amsterdã

= Judeu de origem portuguesa = não era ateu

= Viveu de polir lentes

= Morreu de tuberculose aos 44 anos

= Principais obras = Ética e Tratado Teológico - Político

= Racionalista = conhecimento vem da razão

= Determinista = tudo tem causa, não há livre arbítrio / existe razão para tudo que
acontece

= Nesse livro fala sobre Deus

= Spinoza dirige o texto a Igreja = é uma crítica aos símbolos da Igreja (padres / rabinos / ...)

= Para Spinoza não somos livres – no sentido de que o livre da causa a alguma coisa / não criamos nosso caminho
nem destino

➭ Existe apenas a ação de ser afetado por isso ou aquilo / boas ou más escolhas

➭ É impossível evitar o choque com outros corpos

= Desenvolve uma teoria sobre Deus = foi excomungado e ninguém podia falar com ele, nem sua família

= Fala sobre conduta:

➭ Conduta adequada = provém da razão

➭ Conduta inadequada = não provém da razão, provém da imaginação e isso gera inadequações

“Por substância entendo aquilo que existe em si, e é concebido por si: ou seja, aquilo cujo conceito não tem
necessidade do conceito de outra coisa, da qual deve ser formado”

CONCEITOS FUNDAMENTAIS
= Substância = existe por si mesma = implica a existência

= Monismo = a realidade – tudo que existe – se reduz somente em um único princípio, estando os seres condicionados
a ele

= Panteísmo = tudo é Deus

= Universo = manifestação de Deus

= Atributos = pensamento e extensão

= Modos = coisas particulares

= Leis da natureza = causa e efeito

= Livre arbítrio = ilusão


= Liberdade = compreensão da necessidade

“No conhecimento adequado, não há contingência. Tudo se mostra necessário”

= Conhecimento sensível:

➭ Opinião e imaginação

➭ Ideias confusas

= Razão:

➭ Relações de causalidade

➭ Ideias claras

= Intuição:

➭ Conhecer em Deus

➭ Conhecimento eterno

= Paixões:

➭ Mente: vontade + Corpo: apetite = CONATUS

= Alegria = prazer / amor = ELEVADA POTÊNCIA

= Tristeza = dor / ódio = BAIXA POTÊNCIA

= Ética:

➭ BOM = útil

➭ MAU = impede de possuir o bem

= Virtude = buscar o que é útil

= Religião:

➭ 1º nível = imaginação

➭ Finalidade = obediência

= Política:

➭ Direitos naturais

➭ Pacto social = utilitarismo

➭ Estado = liberdade

= Deus como natureza naturante – natureza que dá causa

➭ Nós somos natureza causada

➭ Imanência = contrário de transcendência

↳ Imanência = não há separação entre Deus e a natureza = visão horizontal

↳ Transcendência = algo que está além de mim = visão vertical


↬ SE NÃO HÁ UM DEUS CRIADOR, QUEM OLHA POR NÓS?

➭ Ninguém, pois não existe um Deus que cuida de nós e nem pune nossos pecados / nada disso existe

= Deus é único, infinito – não há mais nada, todos os espaços são Deus –, livre – único que pode dar causa as coisas –
, eterno – nunca houve começo e nunca haverá fim – e imutável

✰ Relação com o meio ambiente = a terra não existe apenas para nos servir, mas enxergamos tudo sob nossa
perspectiva e a destruímos

= Deus é substância = é aquilo que da causa a si mesmo

= Nós somos expressão dessa substância, nós somos modos dessa substância. Os modos são expressão da substância
e todo o universo são modos = não podemos dar causa a nós mesmo

= Nossa vida é uma forma de Deus se expressar, é um efeito

➭ Deus é o cristal e nós somos as cores decompostas

↬ CONSEGUIMOS CAPTAR ALGO DE DEUS?

➭ Os atributos = qualidades de Deus = são infinitas, mas conseguimos captar apenas duas:

↳ Matéria = sensações

↳ Pensamento = imaginação e razão

= Tristeza = algo que nos afeta e causa retração

= Alegria = algo que nos afeta e causa expansão

= Conduta ética = buscar entender aquilo que me afeta e causa alegria, pois assim a vida será melhor

➭ Viver é fazer boas escolhas

↬ O QUE ATRAPALHA A GENTE DAS BOAS ESCOLHAS?

➭ A religião, pois nos leva a preconceitos e superstições

ESTRUTURA DO TEXTO
= Acusa o comportamento da imaginação finalista inata

➭ Para Spinoza é um comportamento preconceituoso

↳ Não existem coisas que fazem bem, nem coisas que fazem mal, existem apenas coisas

= Esse preconceito gera outros preconceitos:

➭ Bonito / feio

➭ Mérito / pecado

➭ Bem / mal

➭ Ordem / confusão

✰ Deus é imanente, é a natureza, portanto faz parte dela e não a cria

✰ Tudo que se manifesta no universo é um modo de Deus, sua forma de se expressar


CONATUS
↪ Esforço ou Potência
= Energia necessária para que o ser persevere = energia necessária para nos manter

= O ser é uma potência, e essa potência mantém o ser

➭ Os seres existem e buscam se manter

= Nós somos corpos e os corpos interagem entre si, afetam uns aos outros

= Existem dois tipos de afeto:

➭ O que restringe o meu ser = DIMINUI A CONATUS = TRISTEZA

➭ O que expande o meu ser = AUMENTA A CONATUS = ALEGRIA

↬ O QUE É VIVER?

➭ Procurar evitar os afetos que causam tristeza e buscar os que causam alegria

↬ O QUE É ÉTICA?

➭ Estudo da conduta humana

↬ O QUE É ÉTICA PARA SPINOZA?

➭ É tudo aquilo que mantém a conatus

↬ COMO SABER O QUE CAUSA TRISTEZA E O QUE CAUSA ALEGRIA?

➭ Tentando buscar as causas do que nos afeta

↬ COMO SABER A CAUSA DAS COISAS?

➭ Pela RAZÃO = pensamento CARTESIANO

= O que me faz conhecer a melhor forma de viver – ter bons encontros e ampliar a conatus – é entender a causa do
que me afeta

↬ O QUE É A CAUSA DE TUDO?

➭ É Deus. Spinoza não separa a ciência de Deus, apenas nega a visão da religião tradicional

✰ Para Freud conatus é pulsão. É energia psíquica, é algo que a natureza possui

NATUREZA DE DEUS E SUAS PROPRIEDADES


= Deus é único – substância = tudo é Deus, Deus é tudo

= Não há nenhuma razão externa a ele = Deus é infinito, não há nada fora dele

= Ele é a causa livre de todas as coisas = as coisas são expressão de Deus

✰ O conhecimento de Deus é o máximo que a razão consegue alcançar


PRINCIPAIS TEMAS

PRINCIPAL PRECONCEITO A SE COMBATER


= De que todas as coisas agem em função de um fim / propósito = como se Deus tivesse feito tudo em razão do homem
= como se Deus tivesse feito o homem apenas para lhe prestar culto

➭ Esse preconceito se transforma em SUPERSTIÇÃO – o que chama de TEOLOGIA

DIFERENÇA ENTRE PRECONCEITO E SUPERSTIÇÃO PARA SPINOZA


➭ PRECONCEITO todo mundo tem, é característica da nossa imaginação que associa tudo a um fim

➭ SUPERSTIÇÃO é quando colocamos Deus no meio. É a Igreja, a teologia e a religião

= Critica a ideia de que Deus criou o homem para que ele faça sacrifícios em seu nome, para que o saúde e o ame
acima de todas as coisas

➭ Para Spinoza esse seria um Deus fraco e diz que essa visão não faz sentido, pois Deus é a natureza

CONSEQUÊNCIAS DESSE PRECONCEITO


= Posições que Spinoza critica:

➭ Afirmam que as coisas desagradáveis – catástrofes e doenças, por exemplo – ocorrem em face de os
homens terem feito algo de errado

➭ Afirmam que coisas boas ocorrem para pessoas boas e coisas ruins para pessoas ruins

= Spinoza acredita que essa é uma forma fácil de visualizar a organização do mundo, por isso é tão aceita

SOBRE COMO DEUS APARECE NESSA EQUAÇÃO SUPERSTICIOSA


= Para não precisar explicar como as coisas ruins ocorrem aos bons e aos maus, afirmam que se trata dos
desconhecidos designíos de Deus

= Igreja tradicional = se apresenta em forma de preconceito / superstição ou refúgio da ignorância, que é a principal
crítica de Spinoza

COMO NÃO CAIR NESSAS SUPERSTIÇÕES


= Pela ciência, pois não cuida dos fins, mas das causas das coisas

➭ Para conhecer o mundo devemos procurar as causas das coisas

➭ Procurando as causas das coisas chegamos a Deus, não é preciso deixar de ser religioso

↳ É uma crítica a Igreja, não a Deus

COROLÁRIO I
↪ Conclusão / Afirmação
= Todas as causas finais são ficções humanas, logo não são reais

= A natureza não tem fins pré-determinados, como acredita a religião

= Essa é uma visão de mundo que aparentemente tem lógica e faz sentido, por isso é fácil de acreditar. Mas, de acordo
com Spinoza, não é a visão real das coisas
➭ A saída dessa visão é difícil, pois é necessário buscar a razão

= Imaginação não é o oposto de intelecto, é uma etapa para atingi-lo, pois todos possuem imaginação. A busca do
conhecimento é ultrapassar essa etapa

= O argumento de que tudo o que acontece é a vontade de Deus, é o fim desejado por ele, é o refúgio da ignorância

➭ Terceirizamos a ignorância

PRINCIPAL ACUSAÇÃO
= Os que defendem isso sabem que, suprimida a ignorância – ou seja, dada a explicação de suas causas – desaparece
o medo, que é o único meio que eles possuem para argumentar e manter sua autoridade

= Ignorância é uma ferramenta para a manipulação

➭ Ignorância gera o medo e o medo gera autoridade

= O fato de não sabermos o que vai acontecer e não buscarmos as causas das coisas gera medo e ficamos inseguros

➭ De acordo com Spinoza a Igreja se aproveita dessa insegurança

= Essa autoridade só existe na medida em que não sabemos as coisas

COMO OS HOMENS FORAM PERSUADIDOS DE EU TUDO O QUE OCORRE É EM FUNÇÃO


DELES
↪ Porque é mais fácil e útil

= Os crentes imaginam que tudo o que lhes é mais útil é superior as outras coisas

➭ Confundem imaginação com intelecto

= A ignorância da natureza das coisas faz crer que há uma ordenação nas coisas, ou seja, que tudo tem sentido e modo

POR QUE CREMOS TANTO NA ORDENAÇÃO DIVINA DAS COISAS?

= Porque é mais agradável aos nossos sentidos e porque podem ser imaginadas facilmente = daí a “ordem” que Deus
criou todas ser a ordem mais agradável aos homens

✰ NÓS É QUE DOTAMOS O MUNDO DE SENTIDO, e isso é difícil de conceber, de acreditar

↬ E AS COISAS QUE SUPERAM NOSSA IMAGINAÇÃO?

= Daí dizemos que são os “desígnios de Deus” que nos escapam = esse é o argumento da ignorância

COROLÁRIO II
↪ Conclusão / Afirmação
= Todas as noções que o vulgo costuma utilizar para explicar a natureza não passam de modos do imaginar e não
indicam a natureza das coisas, mas apenas a constituição de sua própria imaginação

PRINCIPAL CRÍTICA
= A imaginação finalista e a existência de um Deus ordenador e pré-determinado

➭ Saída = ciência
DJAMILA RIBEIRO
A AUTORA
= Djamila Taís Ribeiro dos Santos.

= Filósofa.

= Feminista.

= Negra.

= Escritora.

= Acadêmica brasileira.

= Pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de


São Paulo (Unifesp).

= Djamila Ribeiro tornou-se um nome conhecido quando se fala em ativismo negro no Brasil, tudo isso sob um espectro
popular: presença ativa nas redes sociais, possuindo mais de 800 mil seguidores, somente no Instagram. Conhecida
como filósofa pop, já que alguns de seus feitos englobam uma presença em diversos meios de comunicações
populares, que estão desde participação no programa Saia Justa, do GNT, até um programa de entrevistas conduzido
por ela no canal Futura. Em 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São
Paulo.

= Iniciou o contato com a militância ainda na infância. Uma das grandes influências foi o pai, estivador, militante e
comunista, um homem que mesmo com pouco estudo formal, era culto. O nome Djamila, de origem africana, foi uma
escolha dele. Aos 18 anos se envolveu com a Casa da Cultura da Mulher Negra, uma organização não governamental
santista, e passou a estudar temas relacionados a gênero e raça.

= Graduou-se em Filosofia pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), em 2012, e tornou-se mestra em Filosofia Política na mesma instituição, em 2015, com ênfase em teoria
feminista. Em 2005, interrompeu uma graduação em Jornalismo. Suas principais atuações são nos seguintes temas:
relações raciais e de gênero e feminismo. É colunista online da Carta Capital, Blogueiras Negras e Revista AzMina e
possui forte presença no ambiente digital, pois acredita que é importante apropriar a internet como uma ferramenta
na militância das mulheres negras, já que, segundo Djamila, a "mídia hegemônica" costuma invisibilizá-las.

= Em 2018, a ensaísta prolífica Djamila Ribeiro foi um dos 51 autores, oriundos de 25 países, convidados a contribuir
para Os papéis da liberdade ("The Freedom Papers"). Ao longo de sua trajetória, recebeu algumas premiações como
Prêmio Cidadão SP em Direitos Humanos, em 2016. Trip Transformadores, em 2017. Melhor colunista no Troféu
Mulher Imprensa em 2018, Prêmio Dandara dos Palmares e está entre as 100 pessoas mais influentes do mundo
abaixo de 40 anos, segundo a ONU. Também é conselheira do Instituto Vladimir Herzog e visitou a Noruega a convite
do governo Norueguês para conhecer as políticas de equidade de gênero do país, em 2017. Foi escolhida como
“Personalidade do Amanhã” pelo governo francês em 2019.

A OBRA
= Coleção “Feminismos Plurais” = Pluralidade de vozes;

= Crítica a princípios da branquidade, masculinidade e heterossexualidade.

= Intelectuais negras fundamentam suas teses = Linda Alcoff, Gayatri Spivak, Patricia Hill
Collins e Grada Kilomba.

= Objetivo da Obra: Dar voz a quem nunca foi ouvido: vozes negras femininas, pobres,
escravas, homossexuais. NÃO há objetivos de militância, apenas didáticos, pedagógicos e
filosóficos na OBRA!!!
= Livro tem 3 partes:

1ª parte - Histórico do tema.

2ª parte - Sobre a mulher negra: o outro do outro.

3ª parte – O que é lugar de fala? (UFPR) – parte curta vale a pena ler!!

4ª parte – Todo mundo tem lugar de fala (Alguns desconsideram essa 4ª parte como uma parte)

O que é o Lugar de Fala?

• Popularizado nos debates sociais brasileiro há poucos anos, o conceito de lugar de fala é usado atualmente por
diversos ativistas de movimentos sociais.

• “O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos
socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”.

• Essa frase de Djamila Ribeiro, filósofa, feminista negra e escritora, faz parte do seu livro O que é lugar de fala? lançado
em 2017. Nele, Djamila apresenta um panorama histórico sobre as vozes que foram historicamente interrompidas. A
partir disso, é possível questionar: quem tem mais chances de falar (e ser ouvido) na sociedade?

• Ao analisar a população brasileira, vemos que as minorias (grupos marginalizados na sociedade) ainda ocupam
poucos espaços políticos sendo menos representadas e, por consequência, menos ouvidas. É nesse momento que
entra o lugar de fala.

• Djamila explica que essa hierarquia estruturada na sociedade faz com que as produções intelectuais, saberes e vozes
desses grupos sejam tratadas de modo inferior, fazendo com que as condições estruturais os mantenham em um lugar
silenciado.

• Sendo assim, a ideia do lugar de fala tem como objetivo oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos foram
desconsiderados durante muito tempo. Dessa forma, ao tratarmos de assuntos específicos a um grupo, como racismo
e machismo, pessoas negras e mulheres possuem, respectivamente, lugar de fala. Isto é, podem oferecer uma visão
que pessoas brancas e homens podem não ter. Desse modo, o microfone é passado para as pessoas que realmente
vivenciam aquela realidade.

• Isso não significa que quem não faz parte daquele grupo não pode expressar sua opinião, entretanto, o ideal é
abrir espaço para aprender, entender e respeitar o que aquele grupo está tentando dizer.

• O lugar de fala é um pretexto para evitar o debate?

• Não! O lugar de fala não se trata de calar ninguém, mas de abrir espaço para que diversas vozes sejam ouvidas e
levadas a sério.

• O lugar de fala traz, na sua essência, a consciência do papel do indivíduo nas lutas, criando uma lucidez de quando
você é o protagonista ou coadjuvante no cenário de discussão. Não há silenciamento de vozes, na verdade é
justamente nesse ponto que queremos avançar. Traz uma liberdade para cada grupo se reconhecer e entender em
qual espaço se encontra conforme o processo de organização e falar com propriedade a partir dele.

• Ou seja, o objetivo não é restringir a troca de ideias, encerrar uma discussão ou impor uma visão. Mas sim, abrir uma
nova janela, com a perspectiva de alguém que antes não podia se expressar livremente em sociedade.

• Lugar de fala e representatividade são a mesma coisa?

• Representatividade significa representar com efetividade e qualidade um segmento ou grupo o qual se quer
representar.

• Um trecho do livro de Djamila ilustra bem a situação:

• Uma travesti negra pode não se sentir representada por um homem branco cis (ou seja, aquele que se identifica
com o gênero de nascença), mas esse homem branco cis pode teorizar sobre a realidade das pessoas trans e travestis
a partir do lugar que ele ocupa. Acreditamos que não pode haver essa desresponsabilização do sujeito do poder. A
travesti negra fala a partir de sua localização social, assim como o homem branco cis. Se existem poucas travestis
negras em espaços de privilégio, é legítimo que exista uma luta para que elas, de fato, possam ter escolhas numa
sociedade que as confina num determinado lugar, logo é justa a luta por representação, apesar dos seus limites

• Portanto, lugar de fala e representatividade não são a mesma coisa.

• Entretanto, são conceitos que andam juntos. Afinal, a partir do momento que as camadas marginalizadas da
sociedade se sintam representadas em espaços sociais, coletivos e políticos, é uma possibilidade a mais de serem
ouvidas. Ou seja, de exercerem o seu lugar de falar.

• O lugar de fala não se trata de calar ninguém, mas de abrir espaço para que diversas vozes sejam ouvidas e levadas
a sério.

• Recentemente tem aparecido, com cada vez mais frequência, nas redes sociais o tema do "lugar de fala". • No
entanto, não raro este conceito é mal entendido:

• Para entender o lugar de fala, é preciso antes refletir: quem é que tem mais chances de falar (e ser ouvido) na nossa
sociedade? Ou seja, quais vozes são amplificadas e carregam autoridade e quais vozes são silenciadas, ignoradas e
desmerecidas?

• Partindo daí, é impossível não reconhecer que os discursos valorizados quase sempre vêm de pessoas brancas,
principalmente homens.

• Temos o time, por exemplo, de colunistas do jornal “O Globo”, composto por 70 pessoas. Quantas são mulheres?
Quantos são negros?

• Tente fazer a mesma análise em outros espaços que você conhece: como eram os médicos que já te atenderam?
Ou os chefes que você já teve? Ou os protagonistas das novelas que você já assistiu?

• Não é que essas pessoas não sejam competentes, mas elas têm mais chances de serem ouvidas, lidas e vistas
independentemente da qualidade de seus discursos.

• Ao tentar entender por que isso acontece, vemos que toda essa desigualdade também é resultado de uma estrutura
social que ajuda a perpetuá-la, inclusive por meio da legislação, como ocorreu por centenas de anos no Brasil contra
a população negra.

• Assim, o lugar de fala destaca as condições sociais em que foi produzido um ponto de vista e como ele está inserido
em uma hierarquia de privilégios.

• O lugar de fala desconstrói a ideia do ponto de vista universal (alguém que pode falar por todos e representar a
todos) para mostrar que pessoas diferentes têm experiências de mundo diferentes. E uma não pode falar pela
experiência da outra.

• Por exemplo, se queremos responder à pergunta: Como é viver em São Paulo? Temos que levar em conta que a
experiência urbana de, digamos, um engenheiro branco que ganha R$ 6 mil reais por mês é muito diferente da de uma
empregada doméstica negra que ganha o salário mínimo, ainda que ambos vivam na cidade.

• Além disso, a noção de lugar de fala expõe que decisões que afetam toda a população são muitas vezes tomadas
privilegiando-se o ponto de vista de um pequeno grupo.

• É justo, por exemplo, que o debate sobre a descriminalização do aborto ocorra em um ambiente dominado por
homens e ignore as perspectivas de mulheres que já sofreram as complicações de um aborto clandestino?

• Por isso, o lugar de fala, mais do que denunciar como alguns pontos de vista são historicamente mais valorizados do
que outros, mostra como é essencial que exista diversidade nas esferas de poder para que decisões que impactam
toda a sociedade sejam mais justas.

• Ainda assim, existe confusão em torno deste conceito. O lugar de fala muitas vezes é confundido com o monopólio
da compreensão e da legitimidade discursiva. Ou seja, como se só uma mulher pudesse entender e falar de feminismo
ou só uma pessoa negra pudesse entender e falar de racismo.
• Em outras palavras, o erro de tomar como sinônimos a vivência pessoal e o conhecimento absoluto sobre
determinado tema.

• O lugar de fala não se trata de calar, por exemplo, o homem branco, mas de abrir espaço para que vozes além do
homem branco sejam ouvidas e levadas a sério e, mais do que isso, também estejam presentes nas esferas de poder.

• A filósofa Djamila Ribeiro explica isso em seu livro "O Que é Lugar de Fala?" e já deu diversas entrevistas sobre o
tema. Na 6ª edição fo Festival Literário de Iguapé, ela explicou:

• Eu não sei o que é [estar no lugar do outro], mas posso refletir criticamente sobre aquilo, eu posso ler, escutar o que
essas pessoas estão falando para entender essa realidade e, aí sim, me responsabilizar pela mudança dessa realidade.

• A gente pode pensar sobre tudo, desde que a gente entenda que a gente é marcado por um lugar social, por uma
raça, por um gênero, que ninguém é neutro, ninguém é universal. Como podemos pensar do nosso lugar maneiras de
construir um projeto de solidariedade maior que dê conta de diminuir essas distâncias entre nós?

• Ou seja, mais do que expressar nossas opiniões por mero exercício retórico, como podemos usar a força do nosso
discurso – principalmente se estamos em uma posição privilegiada – contra a perpetuação da desigualdade?

Citações Importantes no Livro da Djamila!

“O foco do feminismo negro é salientar a diversidade de experiências tanto de mulheres quanto de homens
e os diferentes pontos de vista possíveis de análise de um fenômeno, bem como marcar o lugar de fala de quem a
propõe. Patricia Hill Collins é uma das principais autoras do que é denominado de feminist standpoint. Em sua
análise, Collins (1990) lança mão do conceito de matriz de dominação para pensar a intersecção das desigualdades,
na qual a mesma pessoa pode se encontrar em diferentes posições, a depender de suas características. Assim, o
elemento representativo das experiências das diferentes formas de ser mulher estaria assentado no
entrecruzamento entre gênero, raça, classe, geração, sem predominância de algum elemento sobre
outro. (SOTERO, 2013, p. 36.)”

“[…] é a localização social comum nas relações hierárquicas de poder que cria grupos e não o resultado de
decisões coletivas tomadas por indivíduos desses grupos. (COLLINS, 1997.)”

“Inicialmente examinando apenas a dimensão das relações de poder, de classe social, Marx postulava que,
por mais desarticulados e incipientes, os grupos oprimidos possuíam um ponto de vista particular sobre as
desigualdades. Em versões mais contemporâneas, a desigualdade foi revisada para refletir um maior grau de
complexidade, especialmente de raça e gênero. O que temos agora é uma crescente sofisticação sobre como
discutir localização de grupo, não no quadro singular de classe social proposto por Marx, nem nos mais recentes
enquadramentos feministas que defendem a primazia de gênero, mas dentro de construções múltiplas residentes
nas próprias estruturas sociais e não em mulheres individuais. (COLLINS, 1997, p. 9.)”

“É impossível para os intelectuais franceses contemporâneos imaginar o tipo de Poder e Desejo que
habitaria o sujeito inominado do Outro da Europa. Não é apenas o fato de que tudo o que leem – crítico ou não –
esteja aprisionado no debate sobre a produção desse Outro, apoiando ou criticando a constituição do Sujeito como
sendo a Europa. (SPIVAK, 2010, p. 45-46)”

“[…] tornam-se transparentes nessa “corrida de revezamento”, pois eles simplesmente fazem uma
declaração sobre o sujeito não representado e analisam o funcionamento do poder e desejo. (SPIVAK, 2010, p. 44.)”

“O subalterno não pode falar. Não há valor algum atribuído à “mulher-negra, pobre” como um item
respeitoso na lista de prioridade globais. A representação não definhou. A mulher como uma intelectual tem uma
tarefa circunscrita que ela não deve rejeitar com um floreio. (SPIVAK, 2010, p. 126.)”

“A máscara, portanto, suscita muitas questões: por que a boca do sujeito negro deve ser presa? Por que ela
ou ele deve ser silenciado? O que poderia dizer o sujeito negro se sua boca não fosse selada? E o que o sujeito branco
deveria ouvir? Há um medo apreensivo de que, se o sujeito colonial falar, o colonizador terá que escutar. Ele/ela
seria forçado a um confronto desconfortável com as verdades dos “Outros”. Verdades que foram negadas,
reprimidas e mantidas em silêncio, como segredos. Eu gosto dessa frase “quieto na medida em que é
forçado a”. Essa é uma expressão das pessoas da Diáspora africana que anuncia como alguém está prestes a revelar
o que se supõe ser um segredo. Segredos como a escravidão. Segredos como o colonialismo. Segredos como o
racismo. (KILOMBA, 2012, p. 20.)”

“Outra crítica, no nosso entendimento, equivocada, que comumente ouvimos é de que o conceito de lugar
de fala visa restringir a troca de ideias, encerrar uma discussão ou impor uma visão. Grada Kilomba explica bem essa
questão ao falar de repressão, mas Jota Mombaça, no artigo Notas estratégicas quanto aos usos políticos do conceito
de lugar de fala, também elucida bem essa questão: Muito se fala sobre como esse conceito tem sido apropriado de
modo a conceder ou não autoridade para falar com base nas posições e marcas políticas que um determinado corpo
ocupa num mundo organizado por formas desiguais de distribuição das violências e dos acessos. O que as críticas
que vão por essa via aparentemente não reconhecem é o fato de que há uma política (e uma polícia) da autorização
discursiva que antecede a quebra promovida pelos ativismos do lugar de fala. Quero dizer: não são os ativismos do
lugar de fala que instituem o regime de autorização, pelo contrário. Os regimes de autorização discursiva estão
instituídos contra esses ativismos, de modo que o gesto político de convidar um homem cis eurobranco a calar-se
para pensar melhor antes de falar introduz, na realidade, uma ruptura no regime de autorizações vigente. Se o
conceito de lugar de fala se converte numa ferramenta de interrupção de vozes hegemônicas, é porque ele está
sendo operado em favor da possibilidade de emergências de vozes historicamente interrompidas. Assim, quando os
ativismos do lugar de fala desautorizam, eles estão, em última instância, desautorizando a matriz de autoridade
que construiu o mundo como evento epistemicida; e estão também desautorizando a ficção segundo a qual partimos
todas de uma posição comum de acesso à fala e à escuta.”
GEORGE BERKELEY

O AUTOR
= 1685 – 1753.

= Filho de inglês, nascido na Irlanda e Anglicano.

= Foi padre e bispo Anglicano.

= Homem religioso = religião = referencial fundamental.

= Movimento do início do século XVIII = Ciência = Afastavam o homem de Deus, do Cristianismo.

Geravam 2 consequências = Descrença e ateísmo.

Base Fundamental para sua filosofia.

= OBJETIVO = Trazer o homem de volta à igreja.

= Irá combater o materialismo.

Usa o mesmo critério do racionalismo, ou seja, partem da dúvida e transformam o


homem em alguém cético.

“O materialismo afasta o homem de Deus”

Causa de todos os males da modernidade.

Ateísmo, ceticismo, deísmo...

= Foi um filósofo idealista irlandês cuja principal contribuição foi o avanço de uma teoria que ele chamou de
"imaterialismo" (mais tarde conhecido como idealismo subjetivo).

= Essa teoria nega a existência de substância material e, em vez disso, sustenta que objetos familiares como mesas e
cadeiras são apenas ideias na mente daqueles que os percebem e, como resultado, os objetos não podem existir sem
serem percebidos.

= Berkeley também é conhecido por sua crítica à abstração, uma importante premissa em seu argumento para o
imaterialismo.
Está na percepção!!!!

A existência é imaterial!!!!

= Nega a doutrina materialista e pregará o IMATERIALISMO.

Sistema metafísico = se opõe ao materialismo (LOCKE) e aos

mecanicismos (DESCARTES).

= Em 1709, Berkeley publicou sua primeira grande obra, Um Ensaio para uma Nova Teoria da Visão, na qual ele discutiu
as limitações da visão humana e postulou a teoria de que os objetos apropriados da visão não são objetos materiais,
mas formados por luzes e cores.

= Essa premissa fundamentou sua Magnum Opus, Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano, de 1710.

= Após a má recepção, ele reescreveu a obra em forma de diálogo e a publicou sob o título Três Diálogos entre Hylas
e Philonous.

A OBRA
• Neste livro, os pontos de vista de Berkeley foram representados por Philonous
(grego: "amante da mente"), enquanto Hylas ("matéria" em grego) incorporou os
oponentes de Berkeley, em particular John Locke.

• Berkeley argumentou contra a doutrina de espaço, tempo e movimento de Isaac


Newton em De Motu publicada em 1721.

• Seus argumentos foram precursores de ideias desenvolvidas por Albert Einstein,


entre outros.

• Em 1732, ele publicou Alciphron, uma apologética cristã contra os livres-


pensadores, e em 1734, lançou The Analyst, uma influente crítica dos fundamentos
do cálculo.

• Os Diálogos se dão em três manhãs consecutivas, provavelmente no pátio de uma universidade, entre dois
personagens que agora definiremos:

• Hylas que representa um leigo suficientemente educado e mais ou menos atualizado nas teorias científicas e
filosóficas e que acredita na existência do mundo material.

• Philonous que representará o ponto de vista de Berkeley

• Os Três Diálogos entre Hylas e Philonous, seriam, algo ingenuamente, os Três Diálogos entre a Matéria e o Espírito
ou, sofisticadamente, Os Debates entre a Matéria e a Inteligência Universal.

• O local dos diálogos assim como a condição e a idade dos personagens não são indicados com clareza, as referências
às tulipas, às cerejas e à fonte, entretanto, supõem um jardim fechado; seu momento é a manhã e a época, se fiarmo-
nos nas indicações esparsas, é a primavera.

• O Diálogo I concentra-se em mostrar que não há objetos dos sentidos nem nada parecido, fora da mente. As coisas
"corpóreas" são ideias e a crença na substância material implica na negação da realidade das coisas sensíveis.

• O objeto fundamental do Diálogo II é a "causa" das ideias e ele é construído para mostrar que somente Deus explica
o mundo sensível: as substâncias materiais nada explicam e sua existência é uma impossibilidade.

• Berkeley começa ajustando suas contas com Descartes e Locke primeiro e depois com os materialistas, dizendo que
não há explicação fisiológica possível para as "ideias".

• Esta pretensa explicação admite necessariamente a hipótese inconcebível da matéria atuar sobre o espírito.
• O cérebro, de qualquer forma, é um complexo de ideias e não pode de por si ser causa de outras ideias; a única
explicação admissível para a existência das ideias é uma mente infinita.

• O Diálogo III trata de uma miscelânea de objeções que podem ser levantadas à doutrina exposta.

• Nos dois primeiro diálogos, de modo geral, Philonous interroga e Hylas responde; aqui a situação inverte-se.

• A primeira parte deste diálogo resume tais objeções ao imaterialismo; a seguir estas são discutidas mais
detidamente.

VAMOS RECORDAR...
DESCARTES:
= Racionalista;
= 1 pensa, depois existe = “Penso, logo existo.”;
= Todas as ideias são inatas, foram colocadas por Deus.
Causa da perfeição.
= Deus é a causa de tudo.
LOCKE:
= Oposto de Descartes;
= Empirista = materialista;
= 1º as coisas existem, depois são pensadas;
= Tudo é resultado da experiência;
= Experiência permite conhecer o mundo;
= Deus = substância.
Crítica à Descartes segundo Berkeley:
Descartes = Propõe 2 coisas = Res cogitans = coisa que pensa = HOMEM/DEUS.
= Res Extensa = coisa pensada = IDEIAS.
Berkeley = Res Cogitans = PERCEPÇÃO!
= Res Extensa = NÃO EXISTE!!!

Crítica à Locke segundo Berkeley:


Locke: Há no mundo a substância (soma 1ª + 2ª)
Qualidades sensoriais: 2 tipos = Primárias = Pertencem ao objeto.
= Secundárias = Pertencem ao que percebe
o objeto.
Berkeley = NEGA A SUBSTÂNCIA!!!
CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA E O AUTOR:
= Berkeley nega a existência da matéria.
Tudo o que nós percebemos no mundo não passa de ideias da nossa mente.
Percepções.
= A percepção é individual, sempre.
= O conhecimento é o resultado das percepções.
= Nega a existência da ideia abstrata = Todas as ideias advém de percepções.
“Ser é ser PERCEBIDO.”
= Só existem 2 coisas:
• Ideias em “minha” mente = percebidas na empiria.
• Mente que é aquele que percebe.
Espírito/Alma/Entendimento.
= A ideia é passiva, o percebedor é ativo.
O homem
= Na ausência de um humano percebedor há um Deus vendo e percebendo.
OBS.: DEUS é uma INTUIÇÃO!!!!!
É uma mente que percebe tudo e garante a existência daquilo que eu ainda não pensei, pois não percebi.
Merleau – Ponty
O AUTOR
= Rochefort-sur-mer, França.
= Oficial na 2ª Guerra.
= Resistência contra o Nazismo.
= Professor: Sorbonne e Colégio de França.
= Revista: Tempos Modernos.

= Filósofo fenomenólogo (valorização da experiência).

= Fenomenologia (do grego phainesthai — aquilo que se apresenta ou que mostra — e logos explicação, estudo) é
uma metodologia ou um modo de pensamento filosófico que retoma a importância dos fenômenos, os quais devem
ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo e de nós próprios resume-se a esses fenômenos,
a esses objetos fenomenais que o ser experimenta em sua finitude.

= Acreditava que a mente e o copo são imbricados (razão + sensação).

= A medida que o objeto é criado, o objeto também está recriando o autor.

= O conhecimento se constrói na própria experiência, na própria liberdade de fazer.

= Crítica ao dualismo cartesiano:


CORPO X CONSCIÊNCIA
• Fenomenologia: Ser-no-mundo.
• Dualismo: níveis de comportamento.
• Ser-no-mundo: anterior à oposição ALMA-CORPO.
• Rejeita o materialismo e o espiritualismo.

“O espírito não utiliza o corpo, mas se faz por meio dele”

• Existência: consciência encarnada.


Percepção: corpo inserido no mundo.
• Antecede o pensamento científico.
• Constitutiva da realidade.
• Abertura para o mundo

✓ Palavra não traduz o pensamento, é o pensamento em ação.

Corpo = Abertura para o mundo.

“Meu corpo (...) é meu ponto de vista sobre o mundo”.

Liberdade: condicionada.
• Não há causalidade entre sujeito e mundo.
✓ Crítica ao marxismo.
• Homem existe no mundo.
✓ Ser especial e temporal.

“Jamais existe determinismo e jamais existe escolha absoluta; eu jamais sou coisa e jamais sou consciência nua”.

Obra – A DÚVIDA DE CÉZANNE

• Trata da percepção nas obras do pintor Paul Cézanne (1839-1906). Em "A dúvida de Cézanne", Ponty debruça-
se sobre a pintura de Paul Cézanne e, a partir dela, apresenta reflexões sobre a questão da visão e do visível,
ou seja, da aparência e do ser. E, por meio de seus esquemas conceituais, apresenta um discurso contributivo
para o aprofundamento reflexivo sobre a arte, e, sobretudo, para uma melhor compreensão da
Fenomenologia da percepção.
SOBRE AS OBRAS DE CÉZANNE

• Transição do séc XIX para o XX. Época da popularização da fotografia, e consequentemente da “crise da
pintura”.
• Cézanne desenvolveu um gênero novo de representação de objetos no espaço. Ele foi um reinventor da
natureza-morta, dando uma profundidade espacial através de meios composicionais. Ao renunciar a
perspectiva linear na representação dos objetos, ele pode revelá-los nas dimensões impostas pela
composição.
• Foi considerado o “pai do modernismo”, pela geometrização que colocava em suas pinturas.
• Utilizava de formas, especialmente esferas, cilindros e cones.
• Aplicava elementos formais e sensoriais em suas obras.

VEJA COMO EXEMPLO SUA OBRA “O CESTO DE MAÇÃS” ,1895:

• O cesto não apresenta perspectiva real, mas está geométrico,


formando quase uma esfera.
• Os doces no prato branco estão sobrepostos de maneira
organizada, e apresentam as formas de cilindro.
• Os traços do pincel dão essa ideia de riscos, menos suaves ou
arredondados.
• Ele pintava através da observação do objeto real.

Voltando a Obra de Merleau-Ponty

• A Dúvida de Cézanne busca e apresenta vias de comunicação


entre a vida e a obra, fazendo vibra-las, buscando novas formas
de expressão, comunicação, registro e escritura.
• Inicialmente, Merleau-Ponty comenta sobre a insatisfação crescente de Cézanne com suas pinturas, suas
inúmeras tentativas de representação do real através de sua arte.
• Na visão merleau-pontyana, a liberdade solitária de Cézanne seria resultado de sua fuga do mundo humano,
onde a sua dedicação a um mundo visível representaria essa fuga. Entretanto, o filósofo não defende a idéia
de que o sentido da obra de Cézanne deve ser determinado pela sua própria vida
• Ao “desobedecer” a realidade através de suas representações pictóricas e dos meios composicionais
utilizados, Cézanne procurava um efeito em suas obras. Seu anseio é transpor nas suas telas a percepção no
momento em que ela se realiza. Por isso a necessidade de pintar a matéria no instante em que ela toma
forma, se configura em sua espontaneidade.
• Cézanne irá buscar nas cores, sensações, natureza, nas deformações da visão humana e em sua contingência
corpórea, o motivo para sua arte. Estas correspondem ao paradoxo do mundo e da nossa visão sobre as coisas
e sobre a própria existência. Para um pintor como esse, afirma Merleau-Ponty, uma única emoção era possível:
o sentimento de estranheza, e, um único lirismo: o da existência sempre recomeçada.
• Sendo assim, a pintura de Cézanne seria um paradoxo: procurar a realidade sem abandonar as sensações, sem
ter outro guia senão a natureza na impressão imediata, sem delimitar os contornos, sem enquadrar a cor pelo
desenho, sem compor a perspectiva ou o quadro. A partir disso, Merleau-Ponty nos mostra que a obra do
pintor é muito mais que isso. Cézanne era no fundo alguém avesso a alternativas prontas, não eram só sentidos,
nem só inteligência; a linha divisória estava entre a ordem espontânea das coisas percebidas e a ordem humana
das ideias e das ciências.

“Cézanne não acreditou ter que escolher entre a sensação e o pensamento, como entre o caos e a ordem. Ele
não quer separar as coisas fixas que aparecem ao nosso olhar e sua maneira fugaz de aparecer, quer pintar a matéria
em via de se formar, a ordem nascendo por uma organização espontânea”.

Em síntese....

• Em A dúvida de Cézanne, está expressa a busca incansável desse artista em pintar as características do visível,
sua busca incessante em expressar o que ao mesmo instante que é percebido, escapa aos nossos sentidos: o
fugidio. A relação efêmera entre a visão e o visível, num processo interminável, que provoca a investigação à
sua própria obra.

Trechos da Obra que merecem uma atenção especial!

“A atenção extrema à natureza, à cor, o caráter inumano de sua pintura (dizia que se deve pintar um rosto
como um objeto), a devoção pelo mundo visível seriam apenas uma fuga do mundo humano, a alienação de sua
humanidade.”

“Os primeiros quadros até 1870 são sonhos pintados, um Rapto, um Assassínio. Origina-se de sentimentos
e querem provocar primeiro os sentimentos.”

“O impressionismo queria restituir na pintura a própria maneira pela qual os objetos atingem a visão e
atacam os sentidos. Representava-os na atmosfera em que a percepção instantânea no-los dá, sem contornos
absolutos, ligados entre si pela luz e pelo ar.”

“...era preciso dar conta dos fenômenos de contraste que na natureza modificam as cores locais.”

“...procurar a realidade sem abandonar as sensações, sem ter outro guia senão a natureza na impressão
imediata, sem delimitar os contornos, sem enquadrar a cor pelo desenho, sem compor a perspectiva ou o quadro.”

“Não quer separar as coisas fixas que nos aparecem ao olhar de sua maneira fugaz de aparecer, quer pintar
a matéria ao tomar forma, a ordem nascendo por uma organização espontânea. Para ele a linha divisória não está
entre “os sentidos” e a “inteligência”, mas entre a ordem espontânea das coisas percebidas e a ordem humana das
ideias e das ciências.”

“...dão a impressão da natureza à sua origem, enquanto as fotografias das mesmas paisagens sugerem os
trabalhos dos homens, suas comodidades, sua presença iminente.”

“A pintura de Cézanne suspende estes hábitos e revela o fundo de natureza inumana sobre o qual se instala
o homem.”

“As dificuldades de Cézanne são as da primeira fala. Achou-se impotente porque não era onipotente, porque
não era Deus e queria, contudo, pintar o mundo, convertê-lo integralmente em espetáculo, fazer ver como nos toca.”

“Um pintor como Cézanne, um artista, um filósofo devem não somente criar e exprimir uma ideia, mas ainda
despertar as experiências que a vão enraizar em outras consciências. Se a obra é bem sucedida, tem o estranho
poder de transmitir-se por si.”

“Duas coisas são certas a respeito da liberdade: que nunca somos determinados e que não mudamos nunca,
que, retrospectivamente, poderemos sempre encontrar em nosso passado o prenúncio do que nos tornamos. Cabe-
nos entender as duas coisas ao mesmo tempo e como a liberdade irrompe em nós sem romper nossos elos com o
mundo.”

“Sua sede de viver, faltava-lhe apenas empregá-la na investigação e na cognição do mundo, e, desde que
dela o haviam separado, precisava tornar-se este poder intelectual, este homem de espírito, este estrangeiro entre
os
homens, este indiferente, incapaz de indignação, de amor ou ódio imediatos, que deixava inacabados seus quadros
para dedicar seu tempo a experiências esquisitas, em que seus contemporâneos pressentiram um mistério.”

“Abandonava suas obras inacabadas, assim como seu pai o abandonara. Ignorava a autoridade e, em
matéria de conhecimento, confiava apenas na natureza e em seu juízo, como amiúde procedem os que não foram
criados na intimidação e no poder protetor do pai.”

“É ainda no mundo, numa tela, com cores, que lhe será preciso realizar sua liberdade. Dos outros, de seu
assentimento deve esperar a prova de seu valor. Por isso indaga o quadro que nasce de sua mão, perscruta olhares
alheios pousados na tela. Eis por que nunca acabaria de trabalhar. Não saímos nunca de nossa vida. Jamais vemos
a ideia ou a li herdade face a face.”
SOCIOLOGIA
INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA

Definição:
• Estudo da sociedade e dos fenômenos que nela ocorrem;
• Somos seres sociais. Ou seja, formamos e mantemos a sociedade;

Temas de estudo:
• Estudo do pensamento humano, que constitui a sociedade;
• Além de compreendermos os principais métodos, também precisamos estudar o mundo do Trabalho, a Cultura,
Educação, Religiões, Relações de Poder, Desigualdades Sociais, Raciais
e de Gênero.

Surgimento:
• Século XIX;
• Influência das transformações ocorridas pelas revoluções, principalmente a Revolução Francesa de 1789;
• Por ser uma ciência nova, o principal modelo utilizado foi o método das Ciências Naturais;
• Auguste Comte, o pai da Sociologia;
• Contribuição para o surgimento de outras ciências das humanidades, como a História e a Geografia.

Pra que serve:


• Conhecer a Sociedade e sua estrutura, e analisá-la de forma crítica, nos ajuda a tomarmos decisões de forma mais
consciente.

AS DIFERENTES FORMAS DE CONHECIMENTO


A espécie humana não se limita a sobreviver no mundo. Ela também procura entende-lo e modificá-lo de
acordo com as diferentes formas como percebe a realidade. Essa busca, que articula a realidade objetiva e a subjetiva,
é a matriz sobre a qual se constrói o que convencionamos chamar de conhecimento.

Podemos definir o conhecimento como toda compreensão e prática adquiridas, cuja memória e transmissão
permitem lidar com as tarefas do dia a dia. Quando uma pessoa age de acordo com sua experiência de vida, expressa
uma forma de conhecimento do mundo. Correr a favor do vento e segurar um martelo pelo cabo são habilidades
adquiridas com a experiência, um tipo de conhecimento construído na vida comum. Do mesmo modo, quando um
cientista anuncia uma descoberta, também apresenta um tipo de conhecimento sobre a realidade. Portanto, podemos
afirmar que somos todos capazes de produzir conhecimento, mas existem diferenças de acordo com a forma como
esse conhecimento é produzido.

Positivismo – Augusto Comte (1798 – 1857)


• Estudo do comportamento humano inserido na sociedade;
• Utilização de métodos, tornando o estudo da sociedade uma Ciência;
• Método Positivista: Estudo da sociedade através de fatos, sem recorrer a conceitos
metafísicos ou teológicos:
• Ordem natural dos acontecimentos;
• “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.

Evolução dos Três Estados:


• Teológico: período em que tudo é explicado pelo sobrenatural, com a adoração aos
deuses, dividido em:
= Fetichismo: Outros seres possuem entidades espirituais em si;

= Politeísmo: Os deuses possuíam controle sobre tudo;

= Monoteísmo: Apenas um deus controla tudo;


• Metafísico: O poder dos deuses dá lugar aos fenômenos advindos da força natureza;
• Positivo: Os fenômenos não dependem mais de vontades divinas, nem de pessoas, mas pertencem ao abstrato.

Religião da Humanidade:
• Criada por Auguste Comte;
• Uma religião que fugisse dos conceitos de Teologia e Metafísica, que buscasse a verdade, fundamentada na
Ciência;
• A Humanidade Personificada é a deusa positivista, ou o Grande Ser;
• No Brasil existe a Igreja Positivista do Brasil;
• “Viver pra outrem, viver as claras, viver para o Grande Dia”;
• Altruísmo: Ações voluntárias beneficiam outros.
O Positivismo no Brasil:
• Benjamim Constant, considerado o pai da República brasileira;
• Professor da Escola Militar da Praia Vermelha – RJ;
• Ideal positivista no exército, na defesa da ordem, contra a escravidão;

Émile Durkheim (1858 – 1917)


• Influência Positivista;
• Identificação dos Fatos Sociais como “Coisas”, nos afastando para
estudarmos;
• Observar os fatos sociais que moldam a sociedade.
• A sociedade é um organismo vivo que funciona de forma
independente e coletiva:
• Solidariedade Mecânica: Consciência coletiva das sociedades
primitivas, com divisão de tarefas “naturais” entre homens e
mulheres;
• Solidariedade Orgânica: Complexidade das sociedades modernas,
através da divisão social do trabalho, utilizando a sua vontade
própria e contribuindo com o todo.

Suicídio:
• Para Durkheim, o suicídio se repete em todas as sociedades, sendo
um fato social;
• Suicídio Egoísta: Quando indivíduo não se sente parte da
sociedade, o seu ego individual, se afasta da sociedade, por entender
ser maior que o ego social;
• Suicídio Altruísta: Quando o indivíduo entende que o ego social é maior que o ego individual, tirando a sua própria
vida pela sociedade;
• Suicídio Anômico: Quando o indivíduo perde esperanças na sociedade, tirando a sua própria vida, ocorrendo
geralmente em momentos de crise financeira e social.
Max Weber (1864 – 1920)
• Crítica ao Método de Durkheim;
• Não podemos nos afastar dos fatos sociais;
• Nós guiamos a sociedade através de Ações Sociais Racionais ou Irracionais;
Racionais:
• Relação a Fins: Quando definimos objetivos (estudar, trabalhar);
• Relação a Valores: Por valores éticos ou morais (Religião);
Irracionais:
• Afetivas: Movidas por sentimentos (ódio, paixão);
• Tradicionais: Movida por hábitos e costumes (Desejar bom dia)
• Tipo Ideal: Método utilizado por Weber, que foca nos pares de tipo, ao invés da
pluralidade de tipos, para compreender a sociedade.
• Exemplos: Pobres e ricos, burgueses e operários, vestimentas rurais e vestimentas urbanas.
• A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo: Max Weber estudou a sociedade capitalista, e percebeu que o seu
maior desenvolvimento se deu em regiões onde havia a maior força do protestantismo;
• O Espírito do Capitalismo, para Weber, se caracteriza em uma sociedade complexa, que molda a moral, através da
busca pelo trabalho produtivo;
• Por fim, Weber relaciona os trabalhos de Martinho Lutero e João Calvino, no século XVI, através da disciplina e
predestinação, que contribuíram para o desenvolvimento da burguesia.

Karl Marx (1818 – 1883)


• Críticas a sociedade capitalista;
• Materialismo Histórico e Dialético:
• A sociedade é baseada nas relações materiais, determinadas pela economia;
• “Nada é eterno, tudo está sujeito a constantes transformações”;
• “A História nada mais é do que a História da Luta de Classes”;
• Contradição entre as classes sociais (Proletariado e Burguesia).
• Estrutura: Relações Econômicas;
• Superestrutura: O que está em torno da estrutura (Cultura);
• Para Marx, a Estrutura influencia mais a Superestrutura, do que o contrário.
• Mais Valia: Os trabalhadores vendem a sua força de trabalho para as indústrias, mas não ficam com a maior parte
do lucro;
• Alienação: Quando o trabalhador é alheio ao seu papel na sociedade, não se organizando pra mudá-la;
• Valor de Uso: O que satisfaz as necessidades;
• Valor de Troca: O que é medido pelo tempo de trabalho para produzir a mercadora;
• Fetichismo da Mercadoria: Quando temos a mercadoria final, sem nos preocuparmos com as relações de produção
envolvidas nela, a exploração dos trabalhadores.

Marx e o Socialismo:
• Marx se preocupou mais em criticar a sociedade em que vivia, o capitalismo, do que elaborar uma teoria socialista
com maior profundidade;
• Para ele a natureza produz toda a riqueza do mundo, e não o trabalho;
• O trabalho braçal não é a única forma, pois o trabalho intelectual deve ser levado em consideração;
• O socialismo é um modo de transição (Ditadura do Proletário), com os meios de produção nas mãos da classe
trabalhadora, sendo intermediado pelo Estado, até se chegar ao comunismo, quando o Estado se dissolve;
• No socialismo, trabalhamos de acordo com a nossa capacidade, recebendo e produzindo de acordo com a
necessidade, incluindo a produção para os inaptos ao trabalho braçal, como crianças, idosos, deficientes, entre
outros.

A vida em sociedade exige que os indivíduos se conformem aos comportamentos e valores socialmente
instituídos em cada cultura e momento histórico. Integrar determinado grupo, morar em uma metrópole ou zona rural
são alguns dos fatores que influenciam a formação dos diferentes valores e comportamentos individuais. Graças a sua
força e abrangência, essa influência pode ser interpretada como restritiva da individualidade humana.

Uma evidência da força com que os padrões sociais se impõem aos indivíduos se manifesta quando alguém
decide ir contra tais padrões. Quando uma regra ou lei é transgredida, a sociedade imediatamente aciona diferentes
meios de coerção social, que podem ir de uma simples repreensão até a privação da liberdade. Se uma instituição de
ensino obriga os alunos a usarem uniforme, quem não cumprir a regra poderá ser impedido de entrar na escola. Se,
em uma manifestação pública, pessoas decidirem tirar a roupa como meio de protesto, poderão ser detidas por
contrariarem convenções sociais.

Um padrão social que conforma as diferentes maneiras de vestir, por exemplo, só existe quando os indivíduos
escolhem as roupas que usam e compartilham opiniões e crenças a respeito do vestuário (uniforme na escola, terno
num casamento, bermuda em um domingo na praça). O padrão é construído tendo por base as escolhas feitas por
indivíduos que levam em conta as opiniões e crenças dos outros, isto é, são ações sociais porque se considera a reação
dos demais indivíduos. Tendo em mente essa perspectiva, o sociólogo só pode analisar as ações individuais e a
compreensão que os indivíduos têm de suas ações. Os padrões sociais mudam de acordo com as opiniões e crenças
compartilhadas pelos indivíduos ao longo da história, como pode ser observado nas diferentes maneiras de vestir
adotadas pelas sucessivas gerações.

A RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE: PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS CLÁSSICAS

Como é possível que os indivíduos, com suas peculiaridades e diferenças, convivam em sociedade de maneira
organizada? Ao problematizar a relação entre indivíduo e a sociedade a Sociologia produziu três matrizes de respostas:

• A sociedade determina os indivíduos;


• Os indivíduos determinam a sociedade;
• A sociedade e os indivíduos determinam-se reciprocamente, de acordo com os limites estabelecidos pelas
condições materiais de existência em um dado período histórico
O CONCEITO DE FATO SOCIAL E A EXPLICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE

A procura pelo agente principal dos fenômenos sociais (a sociedade ou o indivíduo) é, na verdade, o movimento
da ciência sociológica em busca de seu objeto de estudo. Toda ciência se ocupa de realidades e, portanto, necessita
de um objeto próprio e independente para descrever e interpretar (nas Ciências da Natureza, por exemplo, a Física
tem por objeto a matéria e os fenômenos relativos a ela no tempo e no espaço, enquanto a Biologia estuda a vida e
os organismos vivos).

Esse princípio de objetividade na Sociologia foi estabelecido e sistematizado em um primeiro momento pelo
sociólogo francês Émile Durkheim. Ele reconheceu na sociedade um conjunto de fenômenos que poderiam ser
compreendidos separadamente das consciências dos indivíduos nos quais se manifestavam e por meio das quais era
representados. Durkheim chamou esses fenômenos de fatos sociais.

Os fatos sociais são formas de agir cuja manifestação coletiva constitui aquilo que entendemos como sociedade,
a qual surge, assim, como um dado autônomo que pode ser descrito, interpretado e explicado pela ciência com base
em uma metodologia própria: o método sociológico. Por fatos sociais entende-se o conjunto de normas e regras
coletivas que orientam e condicionam a ação individual. Os fatos sociais são identificados por três características
principais: são exteriores aos indivíduos (existem independentemente de sua vontade ou reflexão), coercitivos
(impõem penalidades àqueles que não cumprem suas normas) e gerais (estão presentes no conjunto de dada
sociedade).

Essa força exterior, que se impõe a todos os indivíduos e permite descrevê-los mediante generalizações
observadas em suas características externas (os jovens, as mulheres, os moradores da cidade, os trabalhadores do
campo, os professores, os técnicos, os militares, etc.), é, segundo Durkheim, o próprio objeto da Sociologia. Nesse
sentido, ele entende que a sociedade é anterior aos indivíduos, pois os comportamentos gerais e as dinâmicas sociais
existem antes deles e os conformam para além de suas características singulares.
As relações sociais como objeto de estudo da Sociologia podem ser compreendidas com base na ideia de que o
todo (a sociedade) é mais complexo que a soma de suas partes (os indivíduos). É possível entender essa proposição
tomando como exemplo qualquer máquina complexa.

Ordem, função, coesão e anomia: o diagnóstico de Durkheim para os conflitos sociais:

Quando a sociedade é comparada com uma máquina ou a um organismo vivo, quando os indivíduos são tomados
como “peças” ou “órgãos” que contribuem para o funcionamento de algo maior, surge outro tema importante nessa
perspectiva sociológica: a questão da ordem e função. A sociedade seria dotada de uma ordem que direciona as partes
de acordo com funções específicas que concorrem para sua manutenção, sua reprodução e seu aperfeiçoamento, ou
seja, existiria uma ordem na disposição das peças para que a máquina realizasse sua função.

Esse funcionamento é obtido somente quando os elementos que constituem a sociedade estão unidos, coesos. É
por isso que a questão da ordem é compreendida com base no conceito de coesão social; quando cada elemento atua
de modo que os demais também trabalhem adequadamente e todos juntos constituam um organismo maior, dizemos
que são solidários uns aos outros e ao todo. Assim, o tema da ordem social deve ser compreendido tendo por base a
ideia de coesão social, que resulta da ação solidária das partes, a solidariedade social.

O conceito da ação social e a explicação da relação entre indivíduo e sociedade

As escolhas que orientam as ações individuais são motivadas por alguns fatores que podem ser classificados pela
Sociologia. Quando um cidadão obedece à ordem de um policial, quando um pai se sacrifica em defesa de um filho ou
quando um fiel jejua por orientação religiosa, é possível encontrar princípios racionais, afetivos e tradicionais na
origem dessas ações. Quem propôs e desenvolveu essa perspectiva de análise foi o sociólogo Max Weber. Segundo
ele, a ação dos indivíduos em sua interação coma sociedade é a unidade mínima da análise sociológica.

O conceito de classe social e a relação entre indivíduo e sociedade

O objeto de estudo da Sociologia, no entanto, nem sempre é definido sobre um dos polos da relação entre
indivíduo e sociedade. Se a estrutura social se manifesta individualmente, e se a ação social consciente dos indivíduos
conforma determinada organização social, também é possível compreender a sociedade como uma totalidade,
constituída pelas ações individuais limitadas por condições históricas específicas. Segundo essas perspectiva, os seres
humanos só podem ser pensados com relação ao que produzem materialmente, e a sociedade, compreendida como
resultado da ação recíproca entre os indivíduos. Por exemplo, na Antiguidade, quem vivesse em uma comunidade
nômade caçadora e coletora seria incapaz de fazer escolhas que não fossem determinadas por sua condição material
de existência. Isso quer dizer que esse indivíduo não poderia, por exemplo, reivindicar uma casa para si ou a
propriedade do que caçasse ou coletasse, já que em sua comunidade essas possibilidades não se apresentariam.

Marx desenvolveu uma teoria orientada pela ideia do conflito, estabelecendo a classe social como unidade de
análise sociológica que permite pensar a relação entre indivíduo e sociedade de maneira recíproca. Ou seja, não é
possível pensar o indivíduo sem considerar sua constituição em uma classe social e as diferenças de poder de
dominação definidas a partir de sua posição nas relações de produção. Do mesmo modo, não é possível pensar a
sociedade sem compreendê-la como resultado de um processo histórico marcado por contradições.

ANTROPOLOGIA
Métodos e Fundamentos da Antropologia

Conceito:
• O significado da palavra Antropologia vem do grego, sendo Anthropos "Homem ou seres humanos" e Logos "Razão".
Trata-se da ciência que estuda os seres humanos em suas diversas organizações sociais e culturas no espaço e no
tempo. O estudo de diversas culturas sempre algo importante na humanidade desde os grandes viajantes da
antiguidade, até os estudiosos que vieram para a América durante o período colonial. Porém, é a partir do final do
século XVIII que a Antropologia passa a ser uma ciência, dependendo de métodos específicos e disciplina.

Campos de Estudo:
• A Antropologia tem um vasto campo de estudo, porém se divide algumas grandes áreas, a Antropologia Física ou
Biológica, que busca compreender os seres humanos através de aspectos biológicos, estudos de fósseis, estando
intimamente ligado a teoria evolucionista.

Antropologia Cultural:
• A Antropologia Cultural tem como objetivo estudar seres humanos em seus aspectos culturais (costumes) desde as
primeiras formas de organização, por isso, está ligada aos estudos da psicologia para compreender melhor a mente
• A antropologia Cultural pode se subdividir ainda em Etnografia, Etnologia, Arqueologia e Linguística.

Antropologia Aplicada:
• Como forma de solucionar problemas específicos de uma sociedade, temos a Antropologia Aplicada, que fornece
dados de seus estudos para a aplicação de políticas públicas, levando em consideração a diversidade cultural, como
etnias indígenas e grupos quilombola.

Darwinismo e Difusionismo:
• A partir do entendimento da Antropologia enquanto ciência, passaram a surgir correntes específicas. No século
XIX, o estudo das culturas recebia grande influência do Darwnismo Social, levando em consideração os estudos de
aborígenes autóctones como mais primitivos, e portanto, menos desenvolvidos culturalmente. Essa teoria foi
utilizada como justificativa para o neocolonialismo europeu nos outros continentes, principalmente na África e na
Ásia. Ainda no século XIX surgiu a corrente Difusonista, que tentava dialogar com a Antropologia Evolucionista
encontrando os aspectos de difusão que levaram as transformações culturais da sociedade.

Correntes pelo Mundo:


• No século XX surgem outras correntes que elaboram novos métodos de estudo, como a Escola Americana,
defendida por Franz Boas, que definia o seu estudo através das observações dos seres humanos nas culturas em que
estavam inseridos, identificando a diversidade como ponto fundamental.
• A Escola Britânica também é muito conhecida, através de Bronislaw Malinowski, onde acredita-se que os estudos
das sociedades não devem levar em consideração o passado, sendo estudada entre si.
• A Escola Francesa de Émile Durkheim e Marcel Mauss visam um aspecto mais teórico e etnológico com os estudos
analíticos de dados levantados.
• Uma outra escola importante é a escola Estruturalista, fundada por Claude Lévi-Strauss, que busca encontrar
aspectos duradouros e regras estruturais em comum nas sociedades.

Marcel Mauss:
• Marcel Mauss (1872-1950) é um sociólogo e antropólogo francês, sobrinho de Émile Durkheim e considerado um
dos pais da Antropologia Francesa, da qual Claude Lévi-Strauss muito se influenciou para contextualizar o
estruturalismo.
• Mauss era um defensor do trabalho coletivo para o estudo das culturas e sociedades, utilizando de elementos para
comparações, ao qual segundo ele, um pesquisador apenas não seria capaz de realizar. Por isso, uma característica
marcante em seu trabalho é a exaustiva pesquisa, ao passo que se recolha o maior número possível de elementos
materiais e imateriais, para enfim podermos elaborar dados analíticos.
• Através de sua obra "Ensaio sobre a Dádiva: Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas", de 1924, Mauss
percebeu que o valor das coisas não poderia ser maior do que os valores simbólicos, e essas relações de trocas
estavam presentes em culturas mais arcaicas, mas também em sociedades modernas, onde o mercado inserido no
capitalismo se fazia presente. Assim, essas trocas não poderiam se basear apenas em questões econômicas, sendo
trocas de bens materiais e imateriais, como atitudes humanas, como um sorriso, por exemplo.
• Devido a influência de Émile Durkheim, ao qual Mauss não era apenas sobrinho, mas foi assistente, definia a
sociedade como um Fato Social Total, onde todos tem a tríplice obrigação do "dar, receber e retribuir". Porém, essa
obrigação não é absoluta, pois o ser humano tem certa liberdade que o permite agir individualmente, o que justifica
a passagem de um estado de paz para um estado de guerra. Por isso, Mauss inicia o movimento antiutilitarista nas
Ciências Sociais, que se opõe a tradição liberal utilitarista, que definia que as ações deveriam promover um bem-
estar coletivo.
Claude Lévi-Strauss:
• Claude Lévi-Strauss é dos mais notáveis e influentes antropólogos estruturalistas do século XX. A Antropologia
Estrutural compreende o estudo de estruturas universais nos seres humanos, sendo irredutíveis e análogas no
espaço e no tempo.
• Claude Lévi-Strauss utilizou o método estruturalista baseando-se em estudos de relações de parentesco. Para ele,
as estruturas das famílias entre pais e filhos, maridos e esposas, irmãos e irmãs e tios e sobrinhos são estruturadas
em todas as culturas que se baseiam nas formações familiares.
• Assim, o antropólogo observou que a proibição do incesto é algo que se repete em diferentes culturas, mas não
por questões biológicas ou pelo horror, e sim por estabelecer um espaço a mulher para a manutenção da estrutura
da sociedade, já que ela é vista como importante nesse contexto.
• "A relação global de troca que constitui o casamento não se estabelece entre um homem e uma mulher como se
cada um devesse e cada um recebesse alguma coisa. Estabelece-se entre dois grupos de homens, e a mulher figura
aí como um dos objetos da troca, e não como um dos membros do grupo entre os quais a troca se realiza“.
• O estruturalismo de Lévi-Strauss também definiu o conceito de "Mitema", sendo uma origem para a construção
mitológica parecida em diversas culturas.
• Em seu trabalho, procurou compreender as civilizações se afastando das comparações com a sua cultura particular.
Por isso, fazia crítica ao eurocentrismo, principalmente para estudar as culturas indígenas da América.
• Em sua obra "Raça e História"Lévi-Strauss entendia que existiam dois conceitos opostos, a cultura e a natureza. A
cultura é a complexidade da organização da sociedade, enquanto a natureza é o estágio é um ainda não organizado.
Assim, as sociedades vão de certa forma, cada uma de acordo com o seu espaço e tempo, substituindo a natureza
pela cultura. Porém, não há uma regra natural que define os mais civilizados e os menos civilizados, mas o que
diferencia as diversas cultura são as suas formas de organização, sem definir como inferiores ou superiores.

CULTURA E PATRIMÔNIO
Cultura:
• O conceito de cultura tem várias acepções, sendo a mais utilizada como um conjunto de crenças, conhecimentos,
manifestações artísticas, morais, hábitos, entre outros, que são adquiridos no espaço e no tempo. Por isso, não
existe ser humano que não tenha cultura, pois ela é inerente a sua vida.
• A cultura popular é qualquer manifestação artística (dança, música, ritos, folclore, literatura, arte) que o povo
produz e que o povo participe ativamente, sendo o interlocutor, vindo de baixo para cima, não sendo imposta por
uma elite ou pelo Estado.
• Os elementos que compõem a cultura popular são importantes fontes da história de um povoado, um Estado e
enfim uma nação, e por isso devem ser preservados.

• A Cultura de Massas utiliza manifestações culturais com distribuição massificada, como a televisão, o cinema, entre
outros, que tem por muitas vezes objetos comerciais e econômicos, sendo na maioria das vezes estabelecida de
cima para baixo.

Patrimônio:
• Patrimônio histórico é um título conferido a um bem móvel ou natural, que reconhecidamente possua valor
inestimável para um país, uma sociedade, um povoado ou uma região.
• O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do
Turismo (Anteriormente era vinculada ao Ministério da Cultura, porém, após a extinção do mesmo, foi remanejado),
que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro.
• Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do país, assegurando sua permanência e usufruto para as
gerações presentes e futuras.
• Em âmbito internacional, o Patrimônio, seja material ou imaterial é regulamentado pela UNESCO (Órgão Regulador
do patrimônio Mundial), que defino os tombos como Patrimônio Mundial ou Patrimônio da Humanidade.
• São exemplos de Patrimônios Mundiais a Ilha de Páscoa, Machu Picchu, o Taj Mahal, a cidade de Ouro Preto, entre
outros.
Patrimônio Material:
• O Patrimônio Material protegido pelo Iphan é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo
sua natureza, conforme os Quatro Livros do Tombo: Arqueológico, Paisagístico, Etnográfico, Histórico, Belas Artes e
Artes Aplicadas.
• Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico - Onde são inscritos os bens culturais em função do valor
arqueológico, relacionado a vestígios da ocupação humana pré-histórica ou histórica; de valor etnográfico ou de
referência para determinados grupos sociais; e de valor paisagístico, englobando tanto áreas naturais, quanto
lugares criados pelo homem aos quais é atribuído valor à sua configuração paisagística, a exemplo de jardins, mas
também cidades ou conjuntos arquitetônicos que se destaquem por sua relação com o território onde
estão implantados.
• Livro do Tombo Histórico - Neste livro são inscritos os bens culturais em função do valor histórico. É formado pelo
conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no Brasil e cuja conservação seja de interesse público por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil. Esse Livro, para melhor condução das ações do Iphan, reúne,
especificamente, os bens culturais em função do seu valor histórico que se dividem em bens imóveis (edificações,
fazendas, marcos, chafarizes, pontes, centros históricos, por exemplo) e móveis (imagens, mobiliário, quadros e
xilogravuras, entre outras peças).
• Livro do Tombo das Belas Artes - Reúne as inscrições dos bens culturais em função do valor artístico. O termo
belas-artes é aplicado às artes de caráter não utilitário, opostas às artes aplicadas e às artes decorativas. Para a
História da Arte, imitam a beleza natural e são consideradas diferentes daquelas que combinam beleza e utilidade. O
surgimento das academias de arte, na Europa, a partir do século XVI, foi decisivo na alteração do status do
artista, personificado por Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564). Nesse período, o termo belasartes entrou na
ordem do dia como sinônimo de arte acadêmica, separando arte e artesanato, artistas e mestres de ofícios.
• Livro do Tombo das Artes Aplicadas - Onde são inscritos os bens culturais em função do valor artístico, associado à
função utilitária. Essa denominação (em oposição às belas artes) se refere à produção artística que se orienta para a
criação de objetos, peças e construções utilitárias: alguns setores da arquitetura, das artes decorativas, design, artes
gráficas e mobiliário, por exemplo. Desde o século XVI, as artes aplicadas estão presentes em bens de diferentes
estilos arquitetônicos. No Brasil, as artes aplicadas se manifestam fortemente no Movimento Modernista de 1922,
com pinturas, tapeçarias e objetos de vários artistas.

Patrimônio Imaterial:
• O Patrimônio Imaterial corresponde as práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e
modos de fazer, celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas, e nos lugares como
mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas.
• O Patrimônio Imaterial é registrado no Quatro Livros dos Saberes.
• Livro de Registro dos Saberes - Criado para receber os registros de bens imateriais que reúnem conhecimentos e
modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades. Os Saberes são conhecimentos tradicionais associados a
atividades desenvolvidas por atores sociais reconhecidos como grandes conhecedores de técnicas, ofícios e
matérias-primas que identifiquem um grupo social ou uma localidade. Geralmente estão associados à produção de
objetos e/ou prestação de serviços que podem ter sentidos práticos ou rituais. Trata-se da apreensão dos saberes e
dos modos de fazer relacionados à cultura, memória e identidade de grupos sociais.

• Livro de Registro das Celebrações - Reúne os rituais e festas que marcam vivência coletiva, religiosidade,
entretenimento e outras práticas da vida social. Celebrações são ritos e festividades que marcam a vivência coletiva
de um grupo social, sendo considerados importantes para a sua cultura, memória e identidade, e acontecem em
lugares ou territórios específicos e podem estar relacionadas à religião, à civilidade, aos ciclos do calendário, etc.
São ocasiões diferenciadas de sociabilidade, que envolvem práticas complexas e regras próprias para a distribuição
de papéis, preparação e consumo de comidas e bebidas, produção de vestuário e indumentárias, entre outras.
• Livro de Registro das Formas de Expressão - Criado para registrar as manifestações artísticas em geral. Formas de
Expressão são formas de comunicação associadas a determinado grupo social ou região, desenvolvidas por atores
sociais reconhecidos pela comunidade e em relação às quais o costume define normas, expectativas e padrões de
qualidade. Trata-se da apreensão das performances culturais de grupos sociais, como manifestações literárias,
musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, que são por eles consideradas importantes para a sua cultura, memória e
identidade.

• Livro de Registro dos Lugares - Nele são inscritos os mercados, feiras, santuários e praças onde se concentram e/ou
se reproduzem práticas culturais coletivas. Os Lugares são aqueles que possuem sentido cultural diferenciado para a
população local, onde são realizadas práticas e atividades de naturezas variadas, tanto cotidianas quanto
excepcionais, tanto vernáculas quanto oficiais. Podem ser conceituados como lugares focais da vida social de uma
localidade, cujos atributos são reconhecidos e tematizados em representações simbólicas e narrativas, participando
da construção dos sentidos de pertencimento, memória e identidade dos grupos sociais.

CULTURA E IDEOLOGIA
A análise dos fenômenos sociais do nosso cotidiano nos permite perceber a mútua influência entre cultura e
ideologia, seja no modo pelo qual os grupos e as classes sociais expressam, em práticas e saberes, sua compreensão
e sua trajetória de mundo, seja na forma pela qual essa trajetória é interpretada e valorizada socialmente.

Cultura erudita e cultura popular:

Chamamos cultura erudita as práticas, os costumes e os saberes produzidos pelas elites ou para elas.
Normalmente, tais práticas e saberes estão relacionados à produção cultural das classes dominantes, que procura se
distinguir do que é produzido pelas outras classes.

Indústria cultural e meios de comunicação de massa:

Na análise das relações entre cultura e ideologia, uma temática relevante para as Ciências Sociais é a
discussão das relações entre cultura de massa, indústria cultural e meios de comunicação de massa. A proximidade
dos conceitos parece indicar uma coisa só, mas eles constituem elementos distintos na estratégia de consolidação da
ideologia capitalista.

AS RELAÇÕES DE PODER E MOVIMENTOS SOCIAIS

• História do Brasil
- 1822 = Independência - 1889 = República (governo de todos; representativos)

= Estado

= Monarquia (governo de um; hierarquia)

• Poder ≠ Política ≠ Estado


relação de dominação ferramenta para conjunto de instituições

mandar ↔ obedecer solucionar problemas/ governamentais

legítimo ← leis debate/ busca de

- carismática consenso

- tradicional

- racional
• Formas = Monarquia - Monarquia Parlamentarista
- Monarquia Absolutista

= República – República Presidencialista

- República Parlamentarista

• Sistemas = Presidencialista – Executivo Legislativo


= Parlamentarista – Legislativo = O partido que vence indica o chefe do Executivo (1º Ministro)

• Democracia Cidadania Direitos Humanos no Brasil:


- semidireta - direitos: - direitos aos:
civis refugiados
- representativa políticos apenados
sociais
- participativa: plebiscitos,
referendos e
conselhos

Movimentos Sociais
Conceito:
• São a expressão da sociedade civil, de forma coletiva, combatendo a exclusão social e lutando pelos direitos das
minorias.
• As minorias são grupos que se diferenciam da maioria social em relação a etnia, religião, gênero, deficiência, classe
social, orientação sexual, entre outros. Não necessariamente compõem a minoria demográfica de uma sociedade,
mas aquela parcela da população que se encontra abaixo das classes dominantes, tendo muitas vezes os seus
direitos reduzidos.
• Os movimentos sociais podem defender causas que se opõem ao Estado, mas também podem estar alinhados ao
Estado, caso haja uma bandeira de luta em comum.

Tipos de movimentos:
• Os movimentos podem ser estruturais, organizados por causas a longo prazo, com organizações consolidadas e
bandeiras de luta que se estendem ao longo da História, como o Movimento Negro, indígena, Feminista e as lutas
contra a homofobia.
• Exemplos de Movimentos Estruturais: MST (Movimento Sem Terra), que luta pela Reforma Agrária desde a sua
fundação, em 1987, mas que é um acúmulo de movimentos de reforma agrária do século XX, como as Ligas
Camponesas nas décadas de 1950 e 1960.
• Existe também o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), que busca organizar a luta das pessoas atingidas
pela construção de barragens.

• Também podem existir os movimentos conjunturais, que são feitos de forma espontânea e rápida, como os Caras
Pintadas de 1992 e o Diretas Já de 1983.
• É possível que existam movimentos conjunturais que também se enquadrem no conceito de movimentos sociais,
porém sem representar necessariamente minorias no conceito de classes, como foi o movimento para o
Impeachment de Dilma Roussef em 2016.
SOCIOLOGIA DO TRABALHO E DESIGUALDADE SOCIAL

Etmologia:
• O Trabalho é considerado das atividades mais importantes para a produção e manutenção de uma sociedade,
sendo realizado de diversas formas, com concepções diferentes ao longo da História. Etimologicamente, termo
deriva da palavra em Latim “Tripalium”, que nas concepções antigas se referia a um instrumento utilizado na
agricultura pelos gregos, com três partes de madeiras afiadas, para rasgar as espigas de milho, e enfim, na Roma
Antiga, se tratava de um instrumento de tortura com três paus, onde o indivíduo era amarrado.

História:
• Na Grécia Antiga, principalmente no período clássico de Atenas, Aristóteles definia a importância do trabalho
braçal, seja para homens livres ou escravos. Porém, aqueles incapazes de realizá-lo, deveriam ter outras aptidões,
como a Política e a Filosofia.
• Com o passar do tempo e o avanço do capitalismo, principalmente em sua era industrial, o Trabalho teve de se
adequar as concepções práticas exigentes na realidade das fábricas. Assim, o trabalho exaustivo era realizado,
girando em torno de 14 horas diárias, sem legislações, valorizando mais o produto do que a condição de vida do
trabalhador.

O Trabalho segundo os autores clássicos da Sociologia:

• Adam Smith = Considerado o pai do liberalismo econômico, no século XIX, relacionou o Trabalho com o Valor,
dizendo que a medida de riqueza provém do trabalho realizado. Assim, uma mercadoria se torna mais barata ou
mais cara, de acordo com o tempo empregado para o trabalho em sua produção. Quanto maior for esse tempo, mais
caro se torna o produto final.

● Durkheim = Solidariedade Orgânica = interdependência entre vários profissionais.

● Weber = Ética protestante: exalta os valores do trabalho.

● Karl Marx = Ainda no século XIX, Karl Marx vai definir o Trabalho como um intermediador entre o homem e o
objeto. Ou seja, o meio ao qual o homem vende a sua força de trabalho para produzir e se sustentar. Assim, o
trabalho é inalienável, pois pertence ao ser humano, e aliená-lo, fazendo com que venda essa força para o maior
lucro de outras pessoas (Patrões), é uma forma de retirar a sua liberdade.
• Para Marx, antes da sociedade capitalista industrial, os seres humanos tinham controle do seu próprio trabalho e
produção, e com o advento do capitalismo industrial, com o trabalho sendo dividido, os seres humanos não tem
mais controle do que é produzido, o produto não o mais pertencem, recebendo apenas um salário para a
manutenção de sua vida.
• Ainda no século XIX, Karl Marx vai definir o Trabalho como um intermediador entre o homem e o objeto. Ou seja, o
meio ao qual o homem vende a sua força de trabalho para produzir e se sustentar. Assim, o trabalho é inalienável,
pois pertence ao ser humano, e aliená-lo, fazendo com que venda essa força para o maior lucro de outras pessoas
(Patrões), é uma forma de retirar a sua liberdade.
• Para Marx, antes da sociedade capitalista industrial, os seres humanos tinham controle do seu próprio trabalho e
produção, e com o advento do capitalismo industrial, com o trabalho sendo dividido, os seres humanos não tem
mais controle do que é produzido, o produto não o mais pertencem, recebendo apenas um salário para a
manutenção de sua vida.

Trabalho Infantil:
• O Trabalho infantil é o emprego de crianças em qualquer trabalho que a prive da infância, como o direito ao lazer e
a escola regular. Antes dos séculos XIX e XX, praticamente não existiam legislações a respeito, e por isso, não havia
enquadramento de crimes por parte de órgãos de governo.

• O trabalho infantil foi muito utilizado durante a Primeira Revolução Industrial (1760-1840), com crianças sendo
utilizadas na exploração de minas de carvão e para a manutenção do maquinário industrial. Com o êxodo rural e o
aumento da taxa de natalidade nas cidades, muitas crianças ficavam órfãs e eram levadas aos orfanatos, de onde
acabavam recebendo ofertas de donos de indústrias para o trabalho exaustivo de 14 horas por dia, recebendo
geralmente 20% do que seria um salário de um homem adulto.
• O filósofo iluminista John Locke (Século XVII), no contexto pré-revolução industrial na Inglaterra, defendia que em
tempos de crise, famílias mais humildes utilizassem de suas crianças para ajudar na renda, matriculando-as em
Working-Schools, aos quais se trata de escolas que além de ensinarem e empregarem um ofício, também estão
ligadas a moral religiosa puritana, permitindo com que as próprias crianças arquem com o custeio.
• Há também o trabalho infantil escravo, que foi utilizado por diversas sociedades ao longo da História, com
destaque para o Brasil colonial e imperial, com a utilização de crianças de origem africana nas lavouras de cana-de-
açúcar, café e outras culturas.
• Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), apontavam que cerca de 1,8 milhões de crianças e
adolescentes exercem trabalho irregular no Brasil.

Trabalho Análogo a Escravidão:


• O Trabalho Análogo a Escravidão é uma forma de escravidão contemporânea, após os movimentos abolicionistas
no século XVIII e XIX no mundo, a escravidão passou a ser proibida, porém, ainda hoje persistem em diversos locais
no mundo. O que diferencia o trabalho análogo a escravidão a escravidão em si, se refere principalmente a posse. O
trabalhador escravizado na forma contemporânea não representa uma propriedade particular, mas a sua liberdade é
retirada de diversas formas, como questões psicológicas em relação a sua condição social, a violência, em caso de
desistência ou fuga do trabalhador, o enclausuramento físico e direto ou a precária estrutura para a sobrevivência,
como má alimentação ou cômodos inadequados.
• A organização que define os conceitos do trabalho forçado nos séculos XX e XXI, bem como propõe políticas para o
seu combate e sistematiza a sua fiscalização é a OIT (Organização Internacional do Trabalho), fundada em 1919 e
ligada a ONU (Organização das Nações Unidas), contendo 189 Estados membros.

• No Brasil, o artigo 149 do código penal de 1940, define os crimes cometidos pelo trabalho forçado, e é reconhecido
pela OIT e pela ONU.
• Há também a emenda constitucional 81 aprovada em 2014 ao artigo 243 da Constituição, que pune com
expropriação de suas terras aquele acusado de manter trabalho forçado.
• Em 2019, o governo do presidente Jair Messias Bolsonaro reduziu o Ministério do Trabalho a pasta do Ministério
da Economia, fazendo com que o número de funcionários enxugasse a máquina pública. Logo, as fiscalizações ao
trabalho análogo a escravidão também reduziram. Segundo o SINAIT (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais),
seriam necessários cerca de 8 mil auditores para cobrir todo o território nacional, sendo que o país conta atualmente
com cerca de 2 mil.

Desigualdade Social

Conceito:
• A desigualdade social está presente em todos os países do mundo de alguma forma, não sendo uma criação do
capitalismo, pois existiu em outros modos de produção, em outros tempos históricos.

Causas:
• A desigualdade social é causada pela diferença econômica existente em indivíduos de uma mesma sociedade. o
filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau afirmava ser a propriedade privada uma das causas dessa desigualdade.
• Podemos destacar como causas da desigualdade social a má distribuição de renda, a falta de investimento em
áreas sociais, saúde, educação e cultura, corrupção, entre outros.

Brasil:
• No Brasil a desigualdade social é evidente, basta lembrarmos que o país ocupa a 79ª posição do IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano), e o que contribui para isso é a falta de acesso da maior parte da população a serviços
básicos, com baixos salários, entre outros.
• Vale lembrar que a população de pardos e pretos no Brasil chega a 96 milhões de habitantes. A ssim,
especificamente em nosso país, com o passado de escravidão africana, a desigualdade social também está ligada a
questões étnicas.

Karl Marx:
• Para que se mantenha a estratificação social, que representa a estrutura social de uma sociedade, Karl Marx
aponta as questões econômicas, através da manutenção dos meios de produção da burguesia, que explora o
proletariado para acumular riquezas.

Max Weber:
• Para o sociólogo alemão Max Weber, a estratificação social não está apenas em fatores econômicos, mas também
em status, como honra, prestígio e filiação. Por isso, não se resume apenas ao capitalismo, pois status existem desde
que as sociedades passaram a se organizar.

Objetivos da ONU:
• 1.1 Até 2030, erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares, atualmente medida como
pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia.
• 1.2 Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que
vivem na pobreza, em todas as suas dimensões, de acordo com as definições nacionais.
• 1.3 Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de proteção social adequados, para todos, incluindo pisos,
e até 2030 atingir a cobertura substancial dos pobres e vulneráveis.
• 1.4 Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos
iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a serviços básicos, propriedade e controle sobre a terra e outras
formas de propriedade, herança, recursos naturais, novas tecnologias apropriadas e serviços financeiros, incluindo
microfinanças.
• 1.5 Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e
vulnerabilidade destes a eventos extremos relacionados com o clima e outros choques e desastres econômicos,
sociais e ambientais.
• 1.A Garantir uma mobilização significativa de recursos a partir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do
reforço da cooperação para o desenvolvimento, para proporcionar meios adequados e previsíveis para que os países
em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, implementem programas e políticas para acabar
com a pobreza em todas as suas dimensões.
• 1.B Criar marcos políticos sólidos em níveis nacional, regional e internacional, com base em estratégias de
desenvolvimento a favor dos pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investimentos acelerados nas ações de
erradicação da pobreza.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Conceito:
• Até os anos de 1960, existia uma concepção pela comunidade acadêmica, que chegava ao senso comum, de que a
escola pública, de forma direta, seria o agente transformador que erradicaria as desigualdades sociais, pois
funcionaria de forma neutra, permitindo o acesso de todos, independentemente do meio de ingresso. Logo, bastaria
construir mais escolas e oferecer mais vagas para solucionar as mazelas sociais.

Pierre Bordieu:
• Analisando principalmente a situação da conjuntura francesa da década de 1960, Pierre Bourdieu notou, através
de levantamento de estudos e dados, que o desempenho dentro da escola, variava de estudante para estudante, de
acordo com a situação social. Ou seja, a origem social e familiar era um ponto importante que resultava não na
erradicação das desigualdades na Escola, mas aprofundava tais mazelas.
• Para Bourdieu há um descompasso entre o currículo escolar, ou a linguagem culta que é aprendida nas escolas e a
cultura das famílias mais humildes, que tem acúmulos e necessidades diferentes. Nem melhor, nem pior, diferentes.
• Assim, a educação nas escolas, para crianças socialmente favorecidas, acaba sendo uma continuidade da educação
familiar, pois na escola se cobra uma linguagem culta, tanto na fala, quanto na escrita, além de esperar dessas
crianças uma etiqueta comportamental padronizada pelos "bons costumes". Mas para as crianças de origens mais
humildes, há praticamente um rompimento dessa relação, pois quando o estudante está na escola, acaba
tendo de lidar com questões que muitas vezes não fazem parte de seu cotidiano familiar e social.
• Assim, ao procurar democratizar a escola apenas pelo acesso, não levando em consideração o Capital Cultural
(Particularidades do indivíduo, sua bagagem cultural, os locais que frequenta, as roupas que veste, os produtos que
consome, seus hábitos...), o sistema educacional estaria praticando a violência simbólica. Ou seja, uma violência sem
coação física, que causa constrangimentos, danos morais e psicológicos ao indivíduo.
• A escola, da forma como é vista e praticada, tendo um currículo que não valoriza todos e ignora o Capital Cultural,
promovendo a violência simbólica, acaba sendo um instrumento de poder, de uma classe social para a outra.

Paulo Freire:
• Paulo Freire (1921 – 1997) foi um dos maiores nomes da Educação mundial, recebendo o título em 2012 de
Patrono da Educação Brasileira, sendo indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1995 e recebendo o prêmio Educação
para a Paz da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (UNESCO) em 1986.
• Em sua obra Pedagogia do Oprimido, Freire faz críticas ao método ensino-aprendizagem que coloca o Professor
como o único detentor do conhecimento, enquanto os estudantes são meros reprodutores. Esse método é
denominado pelo autor de “Educação Bancária”.
• O método defendido por Freire define a Educação como um ato político, que deve libertar o ser através da
consciência crítica, para além de ensinamentos básicos como o Português ou a Matemática. Ou seja, para além das
escolas tradicionais.
• Por isso, é preciso levar em consideração as diferentes realidades aos quais os estudantes fazem parte,
compreender a sociedade, para se libertar.

VIOLÊNCIA
Conceito:
• A violência é definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como “o uso intencional de força física ou poder,
ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resultem ou
tenham grande probabilidade de resultar em ferimento, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou
privação”.

Tipos de Violência:
• Violência Autoinfligida ou Autoprovocada: Trata-se da ideação suicida (pensamentos suicidas), autoagressões,
tentativas de suicídio e suicídio.
• Violência Interpessoal: Trata-se de uma categoria dividida em dois grupos, a Violência Familiar, que corresponde a
violência doméstica, com os menores de idade ou idosos e com parceiros íntimos, e a Violência Comunitária, que
corresponde a atos violentos físicos contra estranhos, estupros, em locais de trabalho, entre outros.
• Violência Coletiva: Trata-se de atos cometidos por grupos maiores de indivíduos ou pelo Estado, sendo dividida
em Violência Estrutural, que corresponde a atos praticados não por um ator identificável, apresentando-se pela
estrutura do sistema socioeconômico, devido as condições de um determinado grupo populacional, em condição de
extrema pobreza e ausência de acesso a serviços básicos e necessários. Há também nesse grupo a Violência
Econômica, que é definida geralmente por um grupo em detrimento de ganhos econômicos, por isso, guerras, atos
terroristas e a violência do Estado a caracterizam.

Necropolítica
• Definida pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, a Necropolítica é definida como a Política da Morte. Diferente
de Michel Foucault, em sua definição de Biopolítica, que se trata do controle e definição da vida pelo poder, a
Necropolítica diz sobre a gestão e o controle da morte da população.
• As atenções se voltam para o Estado que exerce o controle sobre a população, como a segregação, como o
Apartheid na África do Sul e o exemplo da população palestina ocupando a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, estando
sujeitos ao Estado de Israel.
• Os indivíduos sujeitos a essas condições são mortos-vivos, pois vivem com muito pouco, que a diferença entre a
vida e a morte é quase imperceptível.
Violência Simbólica:
• Conceito criado por Pierre Bordieu, que define a imposição cultural de uma classe sobre a outra, e a classe
dominada acaba aceitando essa dominação, e mais do que isso, defendendo-a, levando a um processo de
legitimação.
• Na violência simbólica, não há danos físicos, mas há danos psíquicos e morais.

RACISMO
Conceito:
• O racismo é o preconceito e a discriminação baseada EM diferenças biológicas, que é propagado por grupos ou
indivíduos através do discurso de superioridade e inferioridade, através de características físicas, qualidades e
genética.
• O conceito de raça, criado nos séculos XVIII e XIX, foi uma forma de categorizar grupos humanos divididos de
acordo com características biológicas, não sendo mais adequado.

Manifestação do racismo:
• Direto: Relacionado a discriminação racial direta, a manifestação do ódio, a segregação, como foi o apartheid na
África do Sul.
• Institucional: Forma não direta ou explícita, como por exemplo a contratação de pessoas brancas em uma
empresa, reduzindo a representatividade de pessoas negras.
• Estrutural: Construção cultural que leva ao racismo, o preconceito do dia a dia, em propagandas e piadas, por
exemplo.

No Brasil:
• O passado de escravização no Brasil construiu uma sociedade racista, e mesmo com a abolição em 1889, o
preconceito permaneceu, se manifestando de diversas formas. Lembramos das Revoltas da Chibata e da Vacina, na
Primeira República, onde a maior parte das pessoas em condições precárias de vida e de trabalho eram pretas.
• Ainda como exemplo, o futebol, no início do século XX, era proibido de ser praticado pelas pessoas negras.
• 54% da população brasileira é formada por pessoas negras. Dos 657,8 mil presos no Brasil, 438,7 são negros
(66,7%).
• A partir da Constituição de 1988, o racismo foi definido como crime inafiançável, tendo a Lei nº7716 de 5 de
Novembro de 1989 como a lente antirracismo.

Lei 7716:
• Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional.
• Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta
ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. Pena: reclusão de dois a cinco anos.
• Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. Pena: reclusão de dois a cinco anos
• Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou
comprador. Pena: reclusão de um a três anos.

Nos EUA:
• O Movimento dos Direitos Civis dos Negros nos EUA foi uma campanha por igualdade racial no país, visto que
principalmente os estados do sul, devido ao passado colonial, utilizando o sistema de plantation (latifúndio,
monocultura e escravidão), fez com que os afro-americanos fossem perseguidos e criminalizados, mesmo com a
abolição da escravidão em 1863, com o advento da Guerra Civil Americana (Guerra de Secessão).
• Com o advento da abolição, surgiu a Ku Klux Kan (KKK), um movimento que uniu ideais reacionários, como a
supremacia branca, o nacionalismo branco, o antiabolicionismo e a antiimigração, mas que depois também se opôs a
católicos, judeus e homossexuais. A sua atuação se baseia em propagação de discurso de ódio e atos terroristas para
perseguir principalmente os grupos a que se opõem.
• Leis Jim Crow (1876-1965): Com a força das constituições estaduais, a segregação racial acabou se sobressaindo
em relação as diretrizes nacionais, e a ideia de igualdade perante as leis, praticamente não foi suficiente para
eliminar as mazelas e a desigualdade racial. Assim, as Leis Jim Crow, eram leis estaduais de segregação, que
restringiam afro-americanos e outras etnias, como asiáticas de votarem, além de da restrição do casamento inter-
racial, além de definir instalações separadas para negros e brancos, como assentos específicos em bondes e
filas.
• Lei Separados, Mas Iguais: Em 1896, foi aprovada pela Suprema Corte Federal a lei que legitimava as Leis Jim Crow,
estabelecendo que a segregação não consumava um processo de inferioridade se os serviços prestados para os afro-
americanos tivessem a mesma qualidade que os serviços prestados para os brancos.
• Os Movimentos Negros nos EUA ganharam força quando em 1955 a trabalhadora Rosa Parks estava sentada na fila
de cadeiras para negros em um ônibus, quando um homem branco entrou, e o motorista pediu para que os negros
passassem para o fundo do veículo. Rosa Parks se recusou, sendo presa e condenada a pagar uma multa de dez
dólares. A atitude de Rosa Parks mobilizou movimentos em prol dos direitos civis dos negros, que passaram a colocar
em prática o "Boicote aos Ônibus de Montgomery", no estado do Alabama. Uma ação que durou de 1955 a 1956,
quando a população negra da cidade parou de utilizar o meio de transporte, gerando déficit no orçamento do
município.
• Malcon X foi um líder do nacionalismo negro e inspirado pela Revolução Haitiana (1791-1804), defendia a
autodeterminação da população afro-descendente em oposição ao multiculturalismo.
• Nas décadas de 1950 e 1960, o pastor protestante Martin Luther King, Jr. passou a ganhar notoriedade ao
defender a desobediência civil de forma pacífica, inspirado pelo Movimento de Independência da Índia, de 1947,
quando Mahatma Gandhi propôs ao povo indiano que não reagisse as ordens dos soldados britânicos, como forma
de resistência. Luther King acreditava em um país multirracial, com leis iguais para todas as etnias. Em 1964 recebeu
o prêmio Nobel da Paz, e em 1968, foi assassinado.
• Em 1966 foi criado o Partido dos Panteras Negras para Auto-Defesa. Uma organização de caráter marxista, que
defendia a patrulha de cidadãos negros armados para monitorar nos bairros a presença de policiais brancos. A
atuação dos Panteras Negras chegou ao Reino Unido e na Argélia.
• Com a atuação dos movimentos de resistência, as leis de segregação deixaram de existir, porém, as desigualdades
permanecem devido a criminalização do povo negro. Um exemplo disso foi o conflito ocorrido em Charlottesville, no
estado da Virgínia, quando foi anunciada a retirada da estátua do general Robert E. Lee, que atuou na Guerra Civil
Americana pelos estados confederados, que se opunham a abolição da escravidão. A remoção da estátua foi
considerada uma afronta para os grupos da direita que defendem a supremacia branca, entrando em conflito com
manifestantes negros que reivindicavam os seus direitos.

Na África do Sul:
• Na África do Sul, de 1948 a 1994 ocorreu o apartheid, um regime de segregação racial jurídica. O nome “apartheid”
vem do Africaner (língua falada no país, introduzida pelos colonos calvinistas dos Países Baixos) e significa
“separação”.
• Após a Segunda Guerra dos Boeres 1899 a 1902, quando os britânicos assumiram o controle imperialista da África
do Sul, assim, os partidos de origem africaners, que passaram a disputar o poder no parlamento, proibindo a
participação dos “não brancos” na política. Em 1910, os africaners chegaram ao poder através do Primeiro Ministro
Louis Botha, que introduziu a lei onde os “não brancos” não poderiam quebrar contratos de trabalho com brancos.
• Em 1918, “não brancos” foram obrigados a viverem em bairros específicos denominados Bantustões.
• Em 1948, através de Daniel Fronçois Malan, formou-se uma coalizão entre os partidos de supremacia branca,
surgindo o Partido Nacional, que acelerou as leis de segregação. A primeira lei do “Grande Apartheid” introduziu um
cartão de identificação para que os negros e demais pudessem transitar nas áreas dos brancos para prestar serviços
básicos. Em 1950 foram criados conselhos para definir as etnias dos “não identificados”, e posteriormente foram
separados em bairros específicos para cada etnia. Havia também a lei de Proibição do Casamento, onde etnias
diferentes não poderiam se unir matrimonialmente, e a lei da imoralidade, que proibia o sexo entre os grupos
étnicos diversos. Em 1953, através da Lei Bantu, o sistema educacional foi separado entre brancos e negros.
• A resistência ao Apartheid era feita desde 1912, pelo Congresso Nacional Africano, partido que defendia os direitos
dos negros. Em 1960 foi organizado pelo CPA (Congresso Pan-Africano), uma organização formada na Europa para
discutir as questões referentes a situação dos negros na África, uma manifestação pacífica no bairro de Sharpeville
em Jonesburgo, mas que foi violentamente reprimida pelo governo, causando um total de 69 mortos e 180 feridos.
• Nelson Mandela, liderança importante do CNA, passou a reivindicar posturas mais radicais do partido, formando
uma ala de luta armada (Umkhonto We Sizwe / Lanceiro da nação), para praticar sabotagens com instalação de
bombas em prédios do Estado.
• Em 1962, através da Resolução de 1761, a ONU condenou as práticas racistas do Estado SulAfricano, promovendo
um embargo econômico e militar, isolando a África do Sul em suas relações internacionais. Tal atitude fez com que o
governo sul-africano decretasse independência em relação a comunidade britânica, e aumentando a repressão do
povo africano. Em 1963, Nelson Mandela foi considerado um traidor da pátria e foi preso em um presídio de
segurança máxima. Em 1964, o africâner foi obrigado a ser introduzido nas escolas de negros, causando uma grande
greve de estudantes no bairro de Soweto, em Johanesburgo.
• Em 1989, Frederik William de Klerk, se tornou presidente, alegando o fracasso do Apartheid, e em 1990, o
parlamento foi aberto aos partidos formados por “não brancos”. EM 1994, Nelson Mandela foi eleito o primeiro
presidente negro da África do Sul, colocando fim ao Apartheid, e promovendo eleições multirraciais, onde o CNA
ganhou a maioria das cadeiras do parlamento.

FEMINISMO
Conceito:
• O Feminismo é o acúmulo de movimentos políticos e sociais, que lutam pelos direitos iguais entre os gêneros, o
empoderamento feminino e a luta contra a padronização social.

Feminismo Liberal:
• O Feminismo Liberal compreende que a luta das mulheres é a disputa por espaços na sociedade, seja no mundo do
trabalho ou no mundo familiar. Acredita-se que é preciso avançar na luta contra a padronização de costumes e na
inferiorização física e intelectual, feitas pela sociedade patriarcal.
• O Feminismo Liberal está presente com a luta pelo direito ao voto, participação política, acesso a serviços públicos,
como saúde, educação, assistência jurídica, entre outros.
• O Feminismo Materialista ou de Classes identifica o capitalismo e o patriarcado como agentes importantes para a
opressão das mulheres, e através da luta feminista de classes é preciso transformar essa realidade. Ou seja, não se
trata apenas de buscar condições iguais em salários ou em oportunidades de cargos de empregos, pois enquanto o
modo de produção capitalista existir, o patriarcado também continuará existindo.

História:
• Desde o mundo antigo, principalmente em Atenas, as mulheres eram colocadas em condições de opressão, como
reprodutoras, não sendo cidadãs.
• Em Aristóteles: “Além disso, o macho tem sobre a mulher uma superioridade natural, e um é destinado por
natureza ao comando, e o outro a ser comandado. Esse princípio [observado em todas as espécies] necessariamente
se estende também à espécie humana.”
• Durante a Revolução Francesa, a participação das mulheres foi fundamental, realizando no dia 5 de Outubro de
1789 a chamada Marcha para Versalhes, quando protestavam contra o aumento dos preços, sitiando o palácio de
Versalhes, e obrigando a família real a retornar a Paris.
• Em 1791 foi redigido por Marie Gouze a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, exigindo direitos iguais em
relação aos homens no processo da Revolução Francesa.

Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã:


Preâmbulo: Mães, filhas, irmãs, mulheres representantes da nação reivindicam constituir-se em uma assembléia
nacional. Considerando que a ignorância, o menosprezo e a ofensa aos direitos da mulher são as únicas causas das
desgraças públicas e da corrupção no governo, resolvem expor em uma declaração solene, os direitos naturais,
inalienáveis e sagrados da mulher. Assim, que esta declaração possa lembrar sempre, a todos os membros do corpo
social seus direitos e seus deveres; que, para gozar de confiança, ao ser comparado com o fim de toda e qualquer
instituição política, os atos de poder de homens e de mulheres devem ser inteiramente respeitados; e, que, para
serem fundamentadas, doravante, em princípios simples e incontestáveis, as reivindicações das cidadãs devem
sempre respeitar a constituição, os bons costumes e o bem-estar geral.
Artigo 4°: A liberdade e a justiça consistem em restituir tudo aquilo que pertence a outros, assim, o único limite ao
exercício dos direitos naturais da mulher, isto é, a perpétua tirania do homem, deve ser reformado pelas leis da
natureza e da razão.
Artigo 5°: As leis da natureza e da razão proíbem todas as ações nocivas à sociedade. Tudo aquilo que não é proibido
pelas leis sábias e divinas não pode ser impedido e ninguém pode ser constrangido a fazer aquilo que elas não
ordenam.

Fases:
• Primeira Onda: Termo cunhado por Marsha Lear ao escrever para o New York Times em 1968, referindo a
atividade durante o século XIX e início do século XX na França, Reino Unido, Canadá, EUA e Países Baixos, dentro do
contexto de países industrializados, na busca por maior organização das mulheres, a ascensão do movimento
sufragista e a luta pelo direito a propriedade em seus nomes.
• Segunda Onda: Tem o seu início na década de 1960, e se caracterizou por questões como a sexualidade, os direitos
sobre o próprio corpo, a igualdade de condições no mundo do trabalho, entre outros, tentando identificar as origens
da opressão e não necessariamente se igualando em condições aos homens.
• Terceira Onda: Tendo seu início na década de 1990, a Terceira Onda aprofunda-se em recortes, compreendendo
que existe uma gama de demandas e necessidades, como o movimento feminista negro, que tem em foco uma
outra realidade das mulheres brancas, assim como a luta das mulheres LGBT.

Feminicídio:
• Em 2015 foi aprovada a Lei 13.104, conhecida como Lei do Feminicídio, que modifica o código penal brasileiro e
criminaliza crimes cometidos contra mulheres em razão do gênero.
§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
• Em 2006 foi criada a Lei 11.340, também conhecida como Lei Maria da Penha, que tem por objetivo definir a
violência doméstica contra a mulher, como forma de erradicar crimes, apontando as responsabilidades de cada
órgão público.
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência
contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de
outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às
mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional,
idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual e social.
Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde,
à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
MACHISMO E PATRIARCALISMO
Conceito:
• O machismo é a sensação da condição autossuficiente do homem, associada ao seu orgulho, resultando no
preconceito de gênero, na formação da sociedade patriarcal e na opressão contra as mulheres.

Patriarcalismo:
• O patriarcalismo é definido como a supremacia do homem nas relações sociais, seja no meio familiar ou até
mesmo nas relações políticas, militares e econômicas. Não pode ser encarado como uma regra histórica, a condição
social humana é construída compreendendo seres humanos como sujeitos históricos, havendo ao longo do tempo as
sociedades matriarcais. Porém, em diversas sociedades, ocorreu o patriarcalismo, o tornando influente até a
contemporaneidade.
• Os traços essenciais de uma família patriarcal se baseiam na crença da existência de laços sanguíneos através de
um antepassado comum, mítico ou real, a transmissão hereditária da posição de "chefe" ou de "senhor", de
preferência ao primogênito da esposa legal ou de uma das esposas legais, ou ao exercício do poder através de
normas tradicionais, independentemente de sua origem ou fundamento religioso.

Na História:
• As primeiras relações patriarcais definidas são conhecidas na antiguidade, através das tribos dos hebreus, onde os
pastores tinham função central, exercendo inclusive funções religiosas. O patriarcalismo se acentuou em Atenas, na
Grécia clássica e em Roma, quando os homens (Eupátridas e Patrícios) exerciam funções políticas, enquanto as
mulheres eram vistas apenas como reprodutoras.
• “O escravo é totalmente desprovido do elemento deliberativo; a mulher o tem, mas não tem autoridade; o filho o
tem, mas é incompleto”. Aristóteles.
• Durante a Idade Média (V-XV), as relações patriarcais se mantiveram, se adequando as novas formas de
organização social. O tratado de vassalagem, onde o suserano aceitava receber a família de camponeses em suas
terras era primordialmente feita por homens considerados os chefes da família.
• A Revolução Francesa de 1789 foi um dos momentos importantes da história que se questionou o patriarcalismo,
visto que pelos seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade tentavam colocar antigas relações entre homens
e mulheres em contradição. Devido à crise econômica da França no século XVIII, cerca de 700 mulheres se
direcionaram a Versalhes para trazer o Rei Luís XVI de volta à Paris.
• Em 1791, foi redigido por Marie Gouze a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, como forma de repensar a
Declaração do Homem e do Cidadão, no contexto da Revolução Francesa: “Mulher nasce livre e permanece igual ao
homem em direitos” era a base da declaração. A convenção, formada por homens rejeitou o projeto.

No Brasil:
• No Brasil o patriarcalismo teve grande influência da colonização portuguesa. Durante o período colonial e Imperial,
onde as relações sociais e econômicas se davam no meio Rural, os homens eram considerados agentes mais
importantes da alta sociedade, tendo a posse de terras, da produção agrícola, dos escravos e do destino de sua
família. As mulheres deveriam seguir as condições impostas pelos seus maridos, sem direitos a posses e a decisões,
devendo cuidar do lar.
SOCIÓLOGOS BRASILEIROS
DARCY RIBEIRO
• Darcy Ribeiro (1922-1997), mineiro de Montes Claros, foi dos maiores antropólogos do
Brasil, ligado ao PDT
(Partido Democrático Trabalhista), foi ministro chefe da Casa Civil e ministro da Educação
no governo de João
Goulart, além de vice-governador do estado do Rio de Janeiro nos anos 1980, senador
também pelo estado do
Rio de Janeiro, Além de fundador e primeiro reitor da UnB.

As matrizes do povo brasileiro


• Para Darcy Ribeiro, a definição de um povo brasileiro se dá por características próprias, como a sua cultura e etnia.
Assim, o povo brasileiro é formado por três matrizes, os europeus, os povos indígenas e os africanos.
• Há uma complexidade na formação do povo brasileiro, quando essas três matrizes étnicas e culturais entraram em
contato, resultante na colonização do que é hoje o Brasil.

Mamelucos:
• Os brasileiríndios e mamelucos são resultados da miscigenação dos povos indígenas, que se concretizou através do
cunhadismo, quando uma mulher indígena era dada a outra etnia, como forma de estreitar as relações. Essa
situação ocorreu principalmente em São Paulo, onde se utilizou mais a escravidão dos nativos.
• Os mamelucos geralmente se afastavam e negavam as suas origens indígenas, mas
também não eram aceitos entre os europeus.

Afro-brasileiros:
• Os afro-brasileiros são descendentes dos povos africanos, que foram retirados de suas terras para serem
escravizados na América. Vale lembrar que há uma diversidade ética e cultural grande dos povos que vieram, mas ao
chegarem aqui. foram marginalizados.
• Tanto mamelucos, quanto afro-brasileiros, sem ter uma terra onde estivesse identificação, tiveram de construir
uma cultura própria, com as experiências que aqui viviam, formando o povo brasileiro.

Críticas a Democracia Racial:


• Para Darcy Ribeiro, não existe na prática o que Gilberto Freyre defendeu como democracia racial, pois, basta
olharmos para o passado de violência e exploração a que o Brasil viveu e vive, para percebemos que as
desigualdades sociais estão relacionadas as desigualdades raciais.

As guerras:
• Darcy Ribeiro define que vivemos um latente estado de guerra, que se iniciou pelas etnias matrizes, os índios,
negros e brancos. Existem fatores sociais, de classes, encontrados nessas guerras, mas também encontramos bases
ligadas as diferenças étnicas e culturais. Ou seja, o preconceito.
• A Guerra dos Cabanos (1835-1840), foi um conflito interétnico, que opôs as populações neobrasileira cabocla
(miscigenação de índios com brancos), lutando por sobrevivência, com a população dominante luso-brasileira.
• A guerra dos quilombolas, como Palmares, no século XVII, é um conflito predominantemente racial, com a
participação das três matrizes da sociedade. Desde a chegada do primeiro navio negreiro, há uma luta para fugir da
inferioridade que foi imposta aos negros, e que é mantida através da opressão, dificultando a sua integração na
condição de trabalhadores comuns, iguais aos outros, ou cidadãos com os mesmos direitos.
• A Guerra de Canudos (1893-1897) foi um conflito fundamentalmente classista, onde se opõem latifundiários,
privilegiados, detentores dos meios de produção, predominantemente brancos (coronéis), e a grande massa de
trabalhadores pobres e excluídos, majoritariamente negras e mestiças.
A empresa do Brasil:
• Para Darcy Ribeiro, não existe na prática o que Gilberto Freyre defendeu como democracia racial, pois, basta
olharmos para o passado de violência e exploração a que o Brasil viveu e vive, para percebemos que as
desigualdades sociais estão relacionadas as desigualdades raciais.
• No plano econômico, o Brasil é produto da implantação e da interação de quatro ordens empresariais durante a
colônia, com diferentes funções, variadas formas de mão de obra e graus de rentabilidade.
• A principal forma de ganho econômico instalado durante a colônia foi a escravidão de africanos, que viabilizou
para os portugueses uma alta lucratividade na lavoura açucareira e na mineração do ouro.
• Uma outra forma foi a presença dos jesuítas através das Missões, que eram fundamentadas através da mão de
obra servil dos índios.
• A terceira forma de empresa, com rentabilidade menor, mas de alcance substancialmente maior, foi a
multiplicidade de microempresas de gêneros de subsistência, como a pecuária, por exemplo. Essas empresas
viabilizaram a sobrevivência de seus envolvidos e incorporaram os luso-brasileiros com os índios e negros,
construindo o que chamamos hoje de Povo Brasileiro.
• A quarta empresa, que paira sobre as outras três era o núcleo portuário de banqueiros e comerciantes de
importação e exportação, que se caracterizavam como o núcleo predominante da economia colonial, e o mais
lucrativo dela, ocupando-se da tarefa de intermediar as relações entre Brasil, Europa e África no tráfico marítimo de
escravos.

FLORESTAN FERNANDES
• Florestan Fernandes (1920-1995) foi um menino pobre, nascido na
periferia de São Paulo, trabalhou desde os 6
anos de idade e ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP para cursar Ciências
Sociais em 1941.
• A sua própria vivência foi importante para iniciar os seus estudos como
sociólogo, pois desde a infância já observava a vivência dos lumpen-
proletários.
• Lumpen-proletariados, na concepção marxista são aqueles trabalhadores na escala social que estão abaixo do
proletariado, que não contribui diretamente com a economia, são marginalizados, como profissionais do sexo,
amoladores de tesouras, moradores de rua, entre outros.
• Florestan foi aposentado compulsoriamente pela ditadura militar de 1964, e assim, se tornou professor visitante
de universidades fora do Brasil.
• Com o fim da ditadura, se tornou deputado constituinte em 1986 pelo PT, e faleceu em 1995, depois de um
transplante de fígado, considerado um erro médico.
• Sua Dissertação de Mestrado foi com o tema "A organização Social dos Tupinambá" e sua Tese de Doutorado foi "A
função social da guerra na sociedade tupinambá".

Crítica a Democracia Racial:


• Florestan Fernandes se consolidou como um dos mais importantes sociólogos marxistas, produzindo obras críticas,
principalmente sobre as relações de classes e étnicas no Brasil. A sua obra "A Integração do Negro na Sociedade de
Classes" foi a Tese defendida para a Cátedra de Sociologia-I da USP.
• Para Florestan, a Democracia Racial defendida por Gilberto Freyre é um mito, visto que negros e brancos no Brasil
não tinham as mesmas condições de vida. Para isso, estudou e observou os aspectos de mobilidade social presente
na sociedade.
• A pesquisa foi desenvolvida nos anos 1940 em São Paulo, onde o capitalismo teve maior desenvolvimento, sendo
mais significativo observar as desigualdades em um espaço onde o crescimento acontece de forma mais rápida,
tornando mais nítidas as desigualdades.
• No final do século XIX, com o a abolição da escravidão em 1888, os negros passaram a ser isolados pelo sistema,
visto que os imigrantes recém-chegados e fazendeiros dispunham de mais condições na sociedade, tendo maior
possibilidade de mobilidade social.
• Com o advento da industrialização, há um processo de marginalização da população negra, que se mantinha
intacto os padrões culturais oriundos da sociedade escravista, sendo julgados como inferiores em relação aos
brancos.
• Havia também um fator de competição profissional com imigrantes, que muitas vezes aceitavam empregos braçais
com baixos salários. Parte dos negros não aceitavam se sujeitar a essa situação, e isso se dá a um processo de
consciência, ao se identificarem enquanto seres humanos que não estavam dispostos a mais uma exploração por
parte da população branca, como havia acontecido em séculos de escravidão.
• Durante o Estado Novo (1937-1945), com a busca de Vargas por uma identidade nacional, acompanhada de maior
industrialização, houve uma "proletarização da população negra", mesmo assim, as questões de preconceito e a
conservação cultural dos séculos anteriores estavam longe de serem resolvidas.
• Para Florestan, era necessário que a população negra estivesse presente cada vez mais na formação de
movimentos sociais, exigindo e lutando pelos seus direitos, bem como políticas governamentais mais sólidas para
que enfim possamos viver em uma sociedade mais justa.

GILBERTO FREYRE
Breve Biografia:
• Gilberto Freyre (1900-1987), nascido em Recife-PE, foi
dos maiores sociólogos e antropólogos brasileiros,
sendo dos intelectuais mais premiados da História do
país, tendo os seus estudos iniciais na área, na
Universidade Baylor, no Texas e na Universidade de
Columbia, onde defendeu a sua dissertação de
Mestrado com o título "Vida social no Brasil nos meados
do século XIX".
• Em 1933, em meio ao governo de Getúlio Vargas,
Gilberto Freyre publicou a sua obra mais famosa
CasaGrande & Senzala, e na vida pública ocupou a
presidência da UDN em Pernambuco. Durante a República Democrática (1946-1964), Freyre defendeu o golpe militar
de 1964 e foi membro do Conselho Federal de Cultura durante o governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1975).

Casa-Grande & Senzala:


• A obra Casa-Grande & Senzala foi escrita em meio a uma forte tentativa de construção da Identidade Nacional
Brasileira, valorizando as várias etnias e culturas que contribuíram para a formação do país, e assim, é uma dos
primeiros estudos que definem o conceito de Democracia Racial, pois para Freyre, as relações sociais na História de
nosso país, tendiam a ser harmônicas, porém, foram abaladas pela indústria do açúcar e pela escassez de mulheres
brancas.
• Gilberto Freyre via a miscigenação como algo positivo no sentido de encurtar distâncias sociais. Essa valorização, se
contextualizarmos com o momento em que a sua obra foi escrita, parte ao encontro do projeto de nação proposto
no século XX, com a tentativa de resolver conflitos de classe, gênero e raça.
• "A escassez de mulheres brancas criou zonas de confraternização entre vencedores e vencidos, entre senhores e
escravos. Sem deixarem de ser relações - as dos brancos com as mulheres de cor - de "superiores" com "inferiores",
e no maior número de casos, de senhores desabusados e sádicos com escravas passivas, adoçaram-se, entretanto,
com a necessidade experimentada por muitos colonos de constituírem família dentro dessas circunstâncias e sobre
essa base. A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria
conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala."

Povos Indígenas:
• Ao estudar o contato com entre as culturas europeia e ameríndia, Gilberto Freyre afirma que diferente de
espanhóis e ingleses, os portugueses tiveram contato com uma cultura rasteira e inferior aos que as outras nações
encontraram, sem grandes templos, adoração a deuses e hierarquia, afirmando muitas vezes a "inferioridade
cultural" dos povos indígenas no Brasil. Essa visão do autor, ainda define que a postura do indígena foi mais
vegetal do que mineral, alegando que até mesmo na agressão ao invasor, sua postura foi mais branda.
• "hibrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente
quanto às relações de raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de
aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da
cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do conquistado".
• "As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses
que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho”.
• "À mulher gentia temos que considerá-la não só a base física da família brasileira, aquela em que se apoiou,
robustecendo-se e multiplicando-se, a energia de reduzido número de povoadores europeus, mas valioso elemento
de cultura, pelo menos material, na formação brasileira. Por seu intermédio enriqueceu-se a vida no Brasil, como
adiante veremos, de uma série de alimentos ainda hoje em uso, de drogas e remédios caseiros, de tradições ligadas
ao desenvolvimento da criança, de um conjunto de utensílios de cozinha e de processos de higiene tropical -
inclusive o banho frequente ou pelo menos diário, que tanto deve ter escandalizado o europeu porcalhão do século
XVI."

Os portugueses:
• Para Gilberto Freyre, os portugueses, mais do que qualquer outro povo colonizador, como espanhois ou britânicos,
era voluptuoso com mulheres exóticas, as indígenas, segundo as suas concepções. Ou seja, davam uma importância
maior aos prazeres sexuais.
• Em relação a questão colonizadora, segundo Freyre, os portugueses, por uma questão cultural formaram
latifúndios na colônia e se tornaram donos da maior civilização moderna.
• Mas, onde o processo de colonização europeia afirmou-se essencialmente aristocrático foi no norte do Brasil.
Aristocrático, patriarcal, escravocrata. O português fez-se aqui senhor de terras mais vastas, dono de homens mais
numerosos que qualquer outro colonizador da América. Essencialmente plebeu, ele teria falhado na esfera
aristocrática em que teve de desenvolver-se seu domínio colonial no Brasil. Não falhou, antes fundou a maior
civilização moderna nos trópicos.
• Para justificar a ação colonizadora dos portugueses sobre outras culturas, Gilberto Freyre combate o entendimento
de que houve a problemática racial por parte dos portugueses, e defende a justificativa da intolerância religiosa, e
por isso, novamente remete a ação das missões jesuíticas no Brasil.
• "Quase o mesmo ódio que se manifestou mais tarde no Brasil nas guerras aos bugres e aos hereges.
Principalmente aos hereges - o inimigo contra quem se uniram energia dispersas e até antagônicas. Jesuítas e
senhores de engenho. Paulistas e baianos. Sem esse grande espantalho comum talvez nunca se tivesse desenvolvido
"consciência de espécie" entre grupos tão distantes uns dos outros, tão sem nexo político entre si, com os primeiros
focos de colonização lusitana no Brasil. A unificação moral e política realizou-se em grande parte pela solidariedade
dos diferentes grupos contra a heresia, ora encarnada pelo francês, ora pelo inglês ou holandês; às vezes,
simplesmente pelo bugre.
•“Repetiu-se na América, entre portugueses disseminados por um território vasto, o mesmo processo de unificação
que na Península: cristãos contra infiéis. Nossas guerras contra os índios nunca foram guerras de branco contra
peles-vermelhas, mas de cristãos contra bugres. Nossa hostilidade aos ingleses, franceses, holandeses teve sempre o
mesmo caráter de profilaxia religiosa: católicos contra hereges. Os padres de Santos que em 1580 tratam os ingleses
da Minion, não se manifestam contra eles nenhum duro rancor: tratam-nos até com alguma doçura. Seu ódio é
profilático. Contra o pecado e não pecador, diria um teólogo. É o pecado, a heresia, a infidelidade que não se deixa
entrar na colônia, e não o estrangeiro. É o infiel que se trata como inimigo do indígena, e não o indivíduo de raça
diversa ou de cor diferente.”
• O Direito português iniciou-se, não sufocando e abafando as minorias étnicas dentro do reino - os mouros e os
judeus - suas tradições e costumes, mas reconhecendo-lhes a faculdade de se regerem por seu direito próprio e até
permitindo-lhes magistrados à parte, como mais tarde no Brasil colonial, com relação aos ingleses e protestantes.

Os Africanos:
• O "O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro" é o conteúdo de Casa-Grande & Senzala que Gilberto
Freyre deu mais ênfase, devido aos séculos de comércio de pessoas escravizadas da África ao Brasil e pela grande
contribuição cultural que as várias culturas advindas do continente tiveram na formação do país.
• Gilberto Freyre, na defesa da miscigenação, aponta a predileção dos negros e brancos portugueses que viviam no
Brasil para a vida sexual, acontecendo no dia a dia da sociedade açucareira, devido a ama de leite.
• “Já houve quem insinuasse a possibilidade de se desenvolver das relações íntimas da criança branca com a ama de
leite negra muito do pendor sexual que se nota pelas mulheres de cor no filho-família dos países escravocratas. A
importância psíquica do ato de mamar, dos seus efeitos sobre a criança, é na verdade considerada enorme pelos
psicólogos modernos (...) É verdade que as condições sociais do desenvolvimento do menino nos antigos engenhos
de açúcar do Brasil, como nas plantações ante-bellum da Virgínia e das Carolinas - do menino sempre rodeado de
negra ou mulata fácil – talvez expliquem por si sós, aquela predileção.”
• Gilberto Freyre rebate a tese de que a cultura dos africanos era inferior a das sociedades indígenas, e vai além,
defende que na verdade eram superiores até mesmo do que os portugueses. Por isso, tece as suas críticas aos
conceitos adotados pelo Darwinismo Social e pela Eugenia, muito utilizadas em fins do século XIX e início do século
XX.
• O autor também demonstra a sua disposição em esclarecer que não existe apenas uma cultura advinda da África, e
sim diversas, as definindo e até mesmo classificando-as em relação aos interesses da colonização.
• “Parece que para as colônias inglesas o critério de importação de escravos da África foi quase exclusivamente o
agrícola. O de energia bruta, animal, preferindo-se; portanto, o negro resistente, forte e barato. Para o Brasil a
importação de africanos fez-se atendendo-se outras necessidades e interesses. À falta de mulheres brancas; às
necessidades de técnicos em trabalhos de metal, ao surgirem as minas. Duas poderosas forças de seleção.”
• “Se há hábito que faça o monge é o do escravo; e o africano foi muitas vezes obrigado a despir sua camisola de
malê para vir de tanga, nos negreiros imundos, da África para o Brasil. Para de tanga ou calça de estopa tornar-se
carregador de tigre. A escravidão desenraizou o negro do seu meio social e de família, soltando-o entre gente
estranha e muitas vezes hostil. Dentro de tal ambientem no contato de forças tão dissolventes, seria absurdo
esperar do escravo outro comportamento senão o imoral, de que tanto o acusam.
• Passa por ser defeito da raça africana comunicando ao brasileiro, o erotismo, a luxúria, a depravação sexual. Mas o
que se tem apurado entre os povos negros da África como entre os primitivos em geral já o salientamos em capítulo
anterior, é maior moderação do apetite sexual que entre os europeus. É uma sexualidade, a dos negros africanos,
que para excitar-se necessita de estímulos picantes. Danças afrodisíacas. Culto fálico. Orgias. Enquanto no civilizado
o apetite sexual de ordinário se excita sem grandes provocações.”

SERGIO BUARQUE DE HOLANDA


Breve Biografia:
• Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), foi dos maiores
sociólogos e historiadores do Brasil, sendo professor de
diversas universidades no Brasil, como a antiga Universidade
do Distrito Federal e também universidades internacionais,
como a universidade de Roma.
• A obra de Sérgio Buarque de Holanda é fundamental para
compreendermos as origens do Brasil e o processo histórico
de sua formação.

Tipo ideal:
• Em 1929, na Alemanha, Sérgio Buarque de Holanda conheceu a obra do sociólogo Max Weber, e através do
método denominado "Tipo Ideal" ou "Tipo Puro", desenvolveu o seu principal trabalho; "Raízes do Brasil, de 1936".
• O "Tipo Ideal", está relacionado ao conhecimento aos valores e ideias do cientista social sobre o seu objeto de
estudo, a sociedade, sendo algo que não expressa a realidade da pesquisa, mas sim parâmetros que contribuirão
com o seu andamento.
• O "Tipo Ideal" aplicado na obra de Sérgio Buarque de Holanda, está evidente quando há exemplos de pares
opostos, como "trabalhadores e aventureiros" ou "rural e urbano".

Raízes do Brasil:
• Fronteiras da Europa: Em sua obra "Raízes do Brasil", Sérgio Buarque de Holanda afirma que Portugal e Espanha
são países que fazem a fronteira da Europa com a América, e por isso, não possuíam a hierarquia feudal, como era
de costume em outros povos europeus. Assim, a burguesia mercantil se desenvolveu com mais rapidez, se lançando
ao mar.
• O homem português é livre e depende de si próprio, e por isso, a sociedade portuguesa tem mazelas
organizacionais.
• Uma questão importante que foi destacada por Sérgio Buarque de Holanda, foi o relaxamento que o português
tem em relação ao trabalho manual. Diferente de outros Estados do continente, o português herdava uma moral
clássica (greco-romana) do trabalho, compreendendo-o como algo ruim.
• Os aspectos que constituem a sociedade portuguesa, são os grandes formadores da nossa atual sociedade, como
diz Sérgio Buarque de Holanda: "Podemos dizer que de lá veio a forma atual de nossa cultura; o resto foi matéria
que se sujeitou mal ou bem a nossa forma".
• Para entendermos as relações de trabalho, Sérgio Buarque define que existem duas formas de vida coletiva, o
aventureiro e o trabalhador.
• O aventureiro é aquele que não se preocupa com a atividade de sustento, mas sim com o lucro que ela pode dar, é
flexível a diversas situações. Já o trabalhador é aquele que enxerga primeiro a dificuldade, para colher o fruto de
seus esforços.
• Os portugueses são aventureiros, visavam o lucro e pensavam de forma prática, mesmo que para isso tivessem
que usufruir de atividades que não lhes interessavam e utilizar de mão de obra de indígenas e de africanos.

O homem cordial:
• A base da brasilidade está na família, inicialmente patriarcal, quando o progenitor educa os filhos de forma a inibir
qualquer manifestação individual da infância. A escolha da roupa, a hora de dormir, entre outros.
• O Homem cordial tem sentido dúbio, se mostra em aparência aberto e afetivo aos outros, cuida de seus filhos, se
apega as relações afetuosas baseadas no amor, mas também é violento quando precisa ser, defendendo a sua
família de sangue ou de coração.
• O Homem Cordial se diferencia dos japoneses, que tem a sua polidez natural em seus hábitos cotidianos, sendo até
mesmo confundidos com hábitos religiosos do xintoísmo. No Brasil esse homem precisa viver coletivamente, e por
isso, se apega aos outros e os trata como família, ainda que de forma superficial. Assim, criamos hábitos próprios,
como por exemplo, expressões linguísticas no diminutivo, os sufixos "inhos", exclusividade do português falado no
país, que quando utilizado, muitas vezes demonstra proximidade pessoal; amorzinho, criancinha, menininho etc.
• No catolicismo praticado no Brasil, nos tornamos íntimos dos santos, ao tratarmos com proximidade, como o caso
de Santa Teresa de Lisieux, conhecida aqui como Santa Terezinha. Assim, Deus se torna um amigo.
• Sérgio Buarque utiliza os relatos do naturalista Auguste de Sant-Hilaire, que viajou a São Paulo em 1822,
registrando que os fiéis em serviços religiosos não se compenetravam com solenidade, participando apenas por
hábito, e não por devoção espiritual.
ANOTAÇÕES
FILOSOFIA
UFPR
2022

MAQUIAVEL BERKELEY SPINOZA

DJAMILA RIBEIRO MERLEAU PONTY


ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
UFPR
2022

SILVIA MARIA DE ARAÚJO JÚLIA O'DONNEL AFRÂNIO SILVA

NELSON DÁCIO TOMAZI LEMBRAR!!!

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