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Tessituras, Pelotas,
v. 3, n. 1, p. 7-33, jan/jun, 2015.
Original: DESCOLA, Philippe. Beyond Nature and Culture. Proceedings of the British
Academy, volume 139, pp. 137-155. British Academy, 2006.
Logo, o autor fala: “Por isso, senti a urgência de renegar os preconceitos sociocêntricos
estabelecidos e supor que as realidades sociais – i. e. sistemas relacionais estáveis –
estão analiticamente subordinados a realidade ontológicas”. Referências a Tim Ingold e
Peter Marshall.
p. 11: Husserl (fenomenologista) diz que humanos tentam experimentar qualquer
forma de autoabstração, abandonando a representação do mundo instituído e tudo o
que ele representa, o único recurso para autoavaliação que teriam disponíveis então
seriam seus corpos e sua intencionalidade, a fisicalidade e uma interioridade. (Erste
Philosophie, 1923-1924).
A fisicalidade como uma ação física e a interioridade como uma autorreflexão. Isso
acaba sendo cartesiano, porque delimita quem é capaz de ter uma autorreflexão e
limitado à nossa compreensão de consciência, por exemplo. Sempre vai ser a soberania
da espécie humana, e o que não é entendido por antropólogos vai ser considerado algo
“transcendente”, recorrendo ao que se considera “alma” (chamado de ânima), uma
consideração pejorativa de “outras vidas”.
Por outro lado, se concordarmos que todo ser humano está ciente de ser uma
combinação entre fisicalidade e interioridade, vazio de qualquer informação sobre o
mundo, poderíamos usar esse equipamento para mapear todo seu ambiente através
de um processo de identificação, tentando detectar similaridades e diferenças.
ANIMISMO
Como uma continuidade de almas e descontinuidade de corpos (porque têm uma
fisicalidade diferente);
P. 13: Viveiros de Castro aponta para o caso amazônico, onde roupas específicas
frequentemente induzem perspectivas de mundo contrastantes, quando as limitações
fisiológicas e perceptivas próprias de cada corpo impõem a cada classe de ser uma
posição e pontos de vista específicos na ecologia geral das relações. (Os pronomes
cosmológicos, Viveiros de Castro, p. 117).
A ideia de roupa é colocada quando se usa para vestir outro corpo, para lidar
com uma determinada situação. Como usar um corpo como veste, uma
possibilidade da sua metamorfose para lidar com outras habilidades que não
são as suas, de origem. É assim que Viveiros de Castro defende que o animal
se vê como humano. Já João Tucano fala que isso acontece
circunstancialmente.
p. 14: Mesmo que muitas espécies compartilhem uma interioridade idêntica ou similar,
cada uma possui sua própria fisicalidade, como um etograma (conjunto de descrições
de comportamentos em seus elementos topográficos e funcionais de uma espécie
qualquer) particular que irá determinar seu próprio Umwelt, no sentido de Jakob von
Uexkull.
Uexkull afirmava que não dá para falar do ser vivo descolado do ambiente
onde ele está. Porque sempre vai ter uma singularidade presente na relação
do ser vivo e seu ambiente. Por exemplo, Agamben fala em seu livro “O
Aberto” sobre Uexkull. A semiótica estuda também as cadeias sígnicas
presentes na relação do ser com o ambiente. Pensar a cadeia sígnica a partir
dessas trocas que vão acontecendo com o ambiente, onde vale a pena
lembrar, também, das trocas metafóricas, das escolhas nas terminologias,
para nomear as trocas com o ambiente, nas relações com o ambiente,
imaginativas, com os sonhos, etc.
p. 32: Radcliffe-brown salientou que “não observamos uma ‘cultura’, já que esta
palavra define não uma realidade concreta, mas uma abstração.