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3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos

2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos

UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO PROVENIENTE DO DESDOBRAMENTO DE


ROCHAS ORNAMENTAIS NA CONFECÇÃO DE TIJOLOS ECOLOGICOS DE
SOLO-CIMENTO

Joseane Damasceno Mota (1)


Graduanda em Química Industrial na UEPB
Djane de Fátima Oliveira
Dra. em Engenharia de Processos
Antonio Augusto Pereira de Sousa
Dr. em Engenharia de Processos
Edilane Laranjeira
Dra em Engenharia de Processos
Marina Rebeca Silva Monteiro
Graduanda em Química Industrial na UEPB

Endereço(1): Rua Tavares Cavalcante, SN - Centro – Campina Grande - PB - CEP: 58100-160 - Brasil - Tel:
83 (xx) 8848-6212 - e-mail: joseanemota2006@hotmail.com

RESUMO
O setor de rochas ornamentais tem se deparado nos últimos anos com a questão ambiental, principalmente
relacionada com o gerenciamento de resíduos. O mármore e o granito são matérias-primas conhecidas e bem
difundidas, seja para utilização em revestimentos ou para peças ornamentais. Com o crescimento do setor
mineral no Brasil, surgiram muitas empresas de beneficiamento dessas rochas, gerando quantidades
significativas de resíduos que, em sua maior parte, são destinados de forma inadequada, oferecendo riscos de
contaminação ao solo e aos recursos hídricos. Este trabalho teve como objetivo estudar a utilização do resíduo
proveniente da serragem de rochas ornamentais para confecção de tijolos ecológicos de solo-cimento, como
formas de reciclagem deste resíduo industrial, visando principalmente, a minimização do impacto ambiental.
Na confecção dos tijolos, utilizaram-se diversas proporções de resíduo granítico, sendo escolhido o traço com
30% de resíduo por ter uma maior quantidade de resíduo empregado e uma boa absorção de água atendendo
as especificações exigidas.

PALAVRAS-CHAVE: Reciclagem, Rochas ornamentais, Tijolos ecológicos, Solo-cimento

INTRODUÇÃO

O grande crescimento populacional e o elevado déficit habitacional em todo o mundo fazem com que um dos
maiores desafios para o século XXI seja a necessidade de se obter materiais de construção com baixo
consumo de energia e capazes de satisfazer aos anseios de infra-estrutura da população, sobretudo nos países
em desenvolvimento (ANJOS et al., 2003a).
De acordo com Lima Júnior et al. (2003), um dos grandes problemas com que se deparam as populações dos
países em desenvolvimento é a falta de habitações dignas em virtude, principalmente, dos elevados preços dos
materiais de construção; surge então a necessidade de se utilizar materiais alternativos que sejam ecológicos,
de baixo custo e com disponibilidade local, de modo a baratear os custos das habitações (ANJOS et al.,
2003b),.
As atividades industriais ganharam grande destaque no desenvolvimento econômico e social. Neste cenário o
objetivo principal é a geração de riqueza utilizando os recursos naturais abundantes do planeta, sem qualquer
preocupação com o destino final dos resíduos gerados nos processos produtivos.
Segundo Lora (2002), com as especulações acerca do aquecimento global e futura escassez dos recursos
naturais, tem ocorrido um crescente interesse na prevenção ambiental e desenvolvimento sustentável. Assim
sendo, atenção especial tem sido dada para o destino dos resíduos sólidos provenientes de atividades
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industriais e urbanas. Isto decorre do fato de que a reciclagem consiste na utilização de resíduos como
matérias-primas alternativas nos diversos setores industriais, além de preservar o meio ambiente.
O setor de rochas ornamentais tem apresentado elevado crescimento nos últimos anos, e o Brasil é um dos
grandes produtores e exportadores mundiais. O Espírito Santo ocupa a primeira posição e responde com cerca
de 62% das exportações brasileiras de rochas ornamentais. Para isso, conta com empresas de fornecimento de
maquinários, abrasivos e outros insumos, sem contar o seu potencial logístico (porto e ferrovias) (PEDRAS
DO BRASIL, 2006).
No processo de beneficiamento do granito, cerca de 30% do material transforma-se em rejeitos, que
geralmente são dispostos diretamente do solo e sem nenhuma cobertura. Aliado aos problemas ambientais
causados pela inadequada deposição deste resíduo, suas características especificas vislumbram potencialidades
a sua utilização como material aditivo à fabricação de cerâmicas, como o tijolo modular de solo cimento.
Os tijolos de solo-cimento constituem uma das alternativas para a construção em alvenaria. Esses tijolos
ecológicos, após pequeno período de cura, garantem resistência à compressão simples similar à dos tijolos
maciços e blocos cerâmicos (LEVY, 1997).
Este trabalho visa estudar a potencialidade de uso do resíduo granítico para fabricação de tijolos ecológicos de
solo-cimento, incorporando-o na maior proporção possível, de acordo com todos os padrões técnicos exigidos,
tendo com principal objetivo, promover a reciclagem do resíduo de granito, minimizando os impactos
provocados por estes, assim também como otimizar a aplicação dos tijolos de solo-cimento na construção de
habitações populares, uma vez que reduz ainda mais seu custo de fabricação.

METODOLOGIA

Na fabricação dos tijolos modulares ecológicos de solo-cimento (Figura 1a), foi empregado um solo com
baixo teor de argila, água potável, cimento CP II F-32 o qual atende a norma ABNT NBR 11578 e o resíduo
granítico proveniente do processo de serragem dos blocos durante o beneficiamento (Figura 1b).

Figura 1: (a) tijolos ecológicos com resíduo granítico (b) Lama abrasiva descartada ao meio ambiente

Para fabricação dos tijolos ecológicos de solo-cimento incorporados com resíduos graníticos, foi estabelecido
o traço 1:9, subdividindo-o em 4 traços: 1:7:2, 1:6:3, 1:5:4 e 1:4,5:4,5 (Cimento, solo e resíduo granítico
respectivamente). Para cada composição foram moldados 18 tijolos, com dimensões de 0,25m de
comprimento 6,5m de altura e 12,5m de largura, utilizando prensa manual SAHARA, conforme a ABNT NBR
10832 - Fabricação de tijolo maciço de solo-cimento com a utilização de prensa manual.
Após moldagem, os tijolos foram submetidos ao processo de cura até as idades de controle de 7, 28 e 60 dias.
Nos primeiros sete dias realizaram-se os ensaios do teor de absorção de água de acordo com a norma exigida o

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qual também contribuiu para a escolha do melhor fator água/cimento, sendo estudados os fatores
água/cimento: 0,72; 0,86 e 1,00.
A caracterização do resíduo granítico foi feita através da análise química por fluorescência de raios X
(Shimadzu EDX-90), difração de raios X (Shimadzu, XRD 6000).
Após os ensaios de caracterização foram realizados os ensaios tecnológicos. Com base nos estudos de Araújo
(2008). A determinação do teor de absorção de água foi feita em conformidade com a metodologia
recomendada na ABNT NBR 10836/1994 – Determinação da resistência à compressão simples e da absorção
de água.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 2 apresenta o difratograma do resíduo granítico, onde se identificam alguns dos compostos presentes
na amostra. Do ponto de vista mineralógico o resíduo é constituído basicamente por calcita (CaCO3), quartzo
(SiO2), anortita (CaAl2Si2O8), ilita: (K, H3O)Al2Si3AlO10(OH)2 e magnesiorniblenda. Estes resultados
confirmam a presença da calcita a qual está relacionada principalmente à adição de granalha e óxido de cálcio
como abrasivo e lubrificante no processo de corte/serragem de rochas ornamentais.

FIGURA 2: Difratograma de raio-X do resíduo granítico

A Tabela 1 apresenta a análise química do resíduo proveniente do desdobramento de rochas ornamentais.

TABELA 1: análises químicas do resíduo granítico


Óxido
CaO SiO2 Fe2O3 Al2O3 K2O MgO TiO2 Outros óxidos PF
s
% 40,67 14,60 8,74 5,85 1,89 1,59 1,43 1,19 24,04

De acordo com a Tabela 1 observa-se que a porcentagem da cal encontra-se em maior quantidade
dentre os óxidos analisados, com 40,67 %, indicando que assim como o MgO os mesmos, provavelmente são

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provenientes do mármore ou da cal utilizada na poupa abrasiva. O alcalino presente, Na O (0,87%), pode
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contribuir para o aumento da resistência do tijolo e reduzir a porosidade aberta devido à reação de hidratação
do cimento com este material. Já o quartzo ou sílica, com 14,60%, observa-se uma menor percentagem,
supondo assim, que na serragem houve uma diminuição de desgaste do bloco, diminuindo alguns resíduos (pó
de pedra) minerais na amostra atual. A Figura 3 apresenta as resultados de absorção de água para cada fator
água/cimento estudado.

(a) (b)

(c) (d)
FIGURA 3.Teores de absorção de água (a) traço 1:7:2 (b) Traço 1:6:3 (c) Traço 1:5:4
(d) Traço 1 : 4,5 : 4,5

Analisando a Figura 3 observa-se que para qualquer um dos fatores água/cimento estudados o traço
1:4,5:4,5 apresentou valores de absorção de água superiores ao limite máximo sugerido pela ABNT NBR
10836, que é de 20%. Ao passo que o traço 1:7:2 obteve os melhores resultados. De maneira que com o
aumento da quantidade de resíduo de granito, aumentou também a absorção de água, conseqüentemente,
aumenta a quantidade de vazios na peça e diminui a resistência a compressão simples. Sob aspecto econômico
o traço 1:6:3 apresentou resultados satisfatórios para o fator água/cimento 0,72, haja vista que os valores de
absorção de água se mantiveram inferiores ao limite de 20% e a porcentagem de resíduo utilizada foi de 30%,
além da menor quantidade de água.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados encontrados indicam que o aproveitamento dos resíduos provenientes do beneficiamento de


rochas ornamentais na fabricação de tijolos de solo-cimento, com traço 1:6:3 e fator água/cimento de 0,72,
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proporciona aos tijolos ecológico de solo-cimento propriedades técnicas satisfatórias, além de configurar-se
numa prática ecologicamente correta, uma vez que contribui no sentido de reduzir o volume de material
descartado na natureza e a exploração dos recursos naturais e assim preservar o meio-ambiente.
O efeito do uso do resíduo de provenientes do beneficiamento de rochas ornamentais na fabricação de tijolos
de solo-cimento irá minimizar os impactos no meio ambiente ocasionado consequentemente pela reciclagem
deste resíduo, quer seja pela diminuição no consumo de cimento ou de areia, materiais que demandam
extração de recursos naturais. Portanto o uso deste resíduo constitui uma forma de desenvolvimento
sustentável para as indústrias de beneficiamento de rochas ornamentais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Anjos, M. A. S.; Ghavami, K.; Barbosa, N. P. Compósitos à base de cimento reforçado com polpa
celulósica de bambu. Parte II: Uso de resíduos cerâmicos na matriz. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental, v.7, n.2, p.346-349, 2003a.
2. Anjos, M. A. S.; Ghavami, K.; Barbosa, N.P. Compósitos à base de cimento reforçados com polpa
celulósica de bambu. Parte I: Determinação do teor de reforço ótimo. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental, v.7, n.2,
3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT - NBR 10834:Bloco vazado de
solo-cimento sem função estrutural. Especificação. Rio de Janeiro, RJ, 1994. 3p.
4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10835: Bloco vazado de
solo-cimento sem função estrutural – Forma e dimensões. Padronização. Rio de Janeiro, RJ, 1994. 2p.
5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10836: Bloco vazado de
solo-cimento sem função estrutural – Determinação da resistência à compressão e da absorção de água.
Método de ensaio. Rio de Janeiro, RJ, 1994. 2p.
6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT -. NBR 11578. Cimento Portland
composto. Rio de Janeiro , 1991.
7. GRANDE, F. M. Fabricação de tijolos modulares de solo-cimento por prensagem manual com e sem
adição de sílica ativa. 2003. 165 f. Dissertação (Mestrado) Universidade de São Paulo, São Carlos,
2003.
8. LEVY, S. M. e MARTINELLI, F. A. e HELENE, P. R. L. A influência de argamassas endurecidas e
resíduos cerâmicos, finamente moídos, nas propriedades de novas argamassas. Anais do II Simpósio
Brasileiro de Tecnologia das Argamassas, Salvador/BA, 1997.
9. LIMA JÚNIOR, H. C.; WILLRICH, F. L.; BARBOSA, N. P. Structural behavior of load bearing brick
walls of soil-cement with the addition of ground ceramic waste. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental, v.7, n.3, p.552-558, 2003. p.339-345, 2003b.
10. LORA, E.E.S. Prevenção e Controle da Poluição nos Setores Energético, Industrial e de Transporte. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2002.
11. PEDRAS DO BRASIL, Vitória, a. V, n. 45, p.62-63,fev.2006.

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