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argamassas autoadensáveis
Incorporation of marble processing residue in self-compacting mortars.
Julia Cordeiro Zanotelli (1); João Luiz Guerini Arpini Filho (1); Ronaldo Pilar (2); Rudiele Aparecida
Schankoski (2).
Resumo
Um dos principais objetivos da sociedade atual é promover um desenvolvimento que seja mais sustentável,
assim, a aplicação da economia circular é de grande importância, uma vez que ela tem como objetivo a
neutralização dos impactos ambientais de produtos e/ou materiais ao fim do seu ciclo de vida. Atualmente o
Brasil se destaca como exportador de rochas ornamentais, um segmento que a cada ano ganha proporções
maiores, e consequentemente, aumenta a geração de resíduos que, na maioria dos casos, não possui uma
destinação adequada. Diante desse cenário e somando a noção de que a indústria da construção civil
apresenta possibilidades de incorporação de coprodutos em seus ciclos, o presente trabalho buscou
investigar a utilização de resíduo de beneficiamento de rochas ornamentais como forma de adição mineral e
argamassas autoadensáveis, em teores de 10%, 15% e 20%. Para isso foram realizados ensaios de
caracterização do resíduo e ensaios tecnológicos nas misturas, tanto no estado fresco quanto endurecido.
Os resultados obtidos permitiram concluir que a incorporação de RBRO (Resíduo do Beneficiamento de
Rochas Ornamentais) não prejudica o desempenho das misturas apresentando maior resistência à
compressão em idades iniciais e maior tempo de início pega.
Palavra-Chave: Argamassa autoadensável. Resíduo do Beneficiamento de Rochas Ornamentais. Materiais Cimentícios
Suplementares.
Abstract
The main objective of today’s society is promote sustainable development, therefore, the practice of a
circular economy presents a great way to achieve this idea since it aims to neutralize the environmental
impacts of products and/or materials at the end of their life cycle. Nowadays, Brazil stands out as an
important exporter of ornamental stone, a segment that gains bigger proportions each year, which increases
the generation of waste that in most cases does not have an adequate destination. Adding in this scenario
the knowledge of circular economy and the notion that construction industry presents a great possibility to
incorporate co-products in their materials, the present work sought to investigate the application of waste
from natural stone processing as mineral addiction in self-compacting concrete mortars with percentages of
10%, 15% and 20%. In this study, residue characterization tests and technological tests were performed to
determine concrete characteristics in the fresh and hardened state. The results obtained allowed us to
conclude that the incorporation of OSW (Ornamental Stone Processing Waste) does not affect the
performance of the mixtures, presenting greater resistance and setting time at their initial ages.
Keywords: Self-compacting Concrete, Marble Processing Residue.
2 Metodologia
A metodologia adotada se baseou primeiramente na caracterização das propriedades
físicas dos materiais utilizados. Posteriormente, foram realizados ensaios na argamassa
fresca e, por fim, a determinação das propriedades no estado endurecido. Vale ressaltar
que foram feitos três grupos de argamassas: uma referência, que possui apenas cimento
Portland como finos; uma segunda de referência que além do cimento, apresenta também
um fíler calcário em sua mistura; e, finalmente, argamassas contendo porcentagens de
RBRO (Resíduo do Beneficiamento de Rochas Ornamentais) na mistura. Após a
conclusão de todos os ensaios, foram realizados estudos estatísticos para a validação
dos dados obtidos.
Os materiais utilizados para essa pesquisa foram o cimento Portland de Alta Resistência
Inicial (CP V ARI) como aglomerante, pelo fato de ser o cimento com menor teor de
adições em sua constituição, um aditivo superplastificante de terceira geração à base de
policarboxilato e areia natural proveniente da região de Linhares - ES como agregado.
Além desses materiais, foi utilizado um fíler calcário como balizador para verificação do
desempenho do RBRO e o resíduo de rocha ornamental proveniente do corte de
mármore.
O resultado do teste foi obtido como valor do azul de metileno em miligramas de solução
por grama do material passante na peneira 0,075 mm que foi calculado conforme a
Equação 1.
(Equação 1)
Em que M é o valor de azul de metileno (mg) de solução por grama de material passante
na peneira 0,075 mm, C é o valor em mg de azul de metileno por ml de solução, nesse
caso 5g/L, V a quantidade em ml de solução de azul de metileno necessária para a
titulação e W, em gramas de material seco.
3 Resultados
3.1. Quanto à caracterização dos materiais
O CPV-ARI, apresentou em seu laudo uma massa específica aparente igual a 3,03 g/cm³.
A areia natural de cava aplicada no estudo apresentou massa específica aparente de 2,67
g/cm³, módulo de finura igual à 1,66 e uma dimensão máxima característica de 2,38 mm.
Por fim, o ensaio de adsorção superficial de azul de metileno foi de 0,075 mg/g. Já o fíler
calcário, apresentou uma massa específica com valor de 2,82 g/cm3, o que se encontra
de acordo com o valor de 2,80 g/cm3 apresentado por Schankoski (2012). Já a área
superficial apresentou um resultado igual a 2112,64 cm2/g, que corrobora com o valor de
Schankoski (2012) de 2746 cm2/g. Por fim, o ensaio de adsorção superficial de azul de
metileno apresentou o valor de 1 mg/g, um valor ligeiramente menor que o apresentado
por Schankoski (2017) de 1,88 mg/g. Percebe-se que a maior finura do fíler calcário em
relação ao RBRO, refletiu na sua maior adsorção de azul de metileno.
Os valores encontrados de massa específica não se diferem muito estando situados entre
2,18 e 2,26 kg/dm³. Já o teor de ar incorporado apresenta uma variação maior, de 0,94 a
4,52%. A massa específica do material usado tem influência direta na futura aplicação do
material, ou seja, onde essa argamassa poderá ser utilizada (MELLO, 2019). Já o ar
incorporado, corresponde à vazios formados pela entrada de ar no interior da argamassa,
ele favorece à trabalhabilidade da mistura, mas pode atuar de forma desfavorável em
relação às resistências mecânicas (MANSUR, et al. 2007).
Por fim, para os ensaios de calorimetria, a Figura 4 apresenta os resultados para o ensaio
de misturas no intervalo de 24 horas. É possível observar que as curvas descrevem um
ANAIS DO JUBILEU DE OURO IBRACON - 2022 8
comportamento semelhante apresentando temperaturas máximas de liberação entre 0,12
e 0,14 ℃/grama de cimento aplicado em um tempo entre 7 a 9 horas.
Os resultados encontrados estão de acordo com os apresentados por Matos et al. (2020)
que apresentam um tempo de pico entre 7 a 9 horas. Analisando o gráfico é possível
perceber que a mistura com o fíler é a que apresenta a menor liberação de calor,
entretanto em um período de tempo muito próximo do referencial que aplica apenas
cimento CP V em sua constituição. Analisando as três misturas com o resíduo RBRO,
pode-se observar que as três liberam uma mesma quantidade de calor/grama de cimento,
entretanto, o que apresenta uma constituição de 10% de RBRO demora um tempo maior
para o ganho de temperatura. Esse aumento do tempo sugere que essa mistura possui
um maior tempo de pega que as demais.
Aplicando a análise de variância (ANOVA) e o teste de Tukey nos resultados obtidos, com
o auxílio do software Statistica, a fim de verificar se existe diferença significativa entre os
valores de resistência à compressão, percebe-se que os resultados das misturas
referência de CP V e da mistura com 10% de RBRO não apresentaram diferenças
significativas, com 95% de confiabilidade. Entretanto, as misturas contendo 15% e 20%
de RBRO apresentaram diferenças significativas e um resultado superior aos demais. Em
relação aos CPs de 28 dias não houve diferenças significativas entre os resultados das
misturas com RBRO incorporado e a mistura referência de CP V, com 95% de
confiabilidade. A mistura contendo fíler calcário apresentou resultados menores de
resistência à compressão que as demais, com 95% de confiabilidade.
Em relação ao estado fresco da mistura foi possível concluir que a adição do resíduo
aumenta a massa específica da mesma e diminui o teor de ar incorporado, o que permite
um melhor empacotamento da mistura e uma possível diminuição na porosidade do
material endurecido. A respeito do espalhamento/fluidez e do tempo de escoamento, que
foram obtidos pelos ensaios de flow table e funil V, respectivamente, percebe-se que o
aumento do teor de resíduo incorporado pode facilitar o bombeamento desse material
sem a existência de segregação.
Em relação aos resultados obtidos pelo calorímetro, foi observado que o incremento do
resíduo com valores inferiores à 20% apresentam um tempo maior para chegar ao pico de
calor liberado pela mistura, o que sugere um aumento no tempo de pega. Já no ensaio
endurecido, os resultados mostram que a inserção do RBRO não apresentou menores
resistências à compressão, em comparação com a mistura referência (contendo somente
cimento), apresentando até mesmo um maior ganho de resistência à compressão axial
em duas idades iniciais, o que pode ser interessante para obras que necessitam esse
ganho de resistência inicial.
Assim, é possível perceber que a utilização do RBRO como fino suplementar para a
produção de argamassas autoadensáveis pode significar uma importante solução para a
futura diminuição dos rejeitos gerados pela indústria de beneficiamento de rochas
ornamentais. Sendo possível promover a sustentabilidade, principalmente quando se leva
em consideração o crescimento exponencial dessa indústria no país.
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