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RESUMO
Este artigo de pesquisa tem como objetivo analisar a utilização de resíduos de bloco
estrutural cerâmico como agregado miúdo na produção de argamassas de assentamento,
por meio da substituição de 25%, 50%, 75% e 100% da areia natural por esse tipo de
resíduo. O método para execução da pesquisa consiste na caracterização dos materiais
empregados, na avaliação das propriedades nos estados fresco e endurecido das argamassas
e na realização do ensaio de compressão axial. Verificou-se que o traço com 25% de
agregado reciclado apresentou valor de resistência à compressão superior ao traço de
referência, proporcionando um resultado positivo para a substituição analisada. Sendo
possível concluir que a substituição de agregados naturais por reciclados pode ser uma
alternativa viável que contribui com a sustentabilidade no setor da construção civil.
1 INTRODUÇÃO
O crescimento e a evolução da construção civil, além de aumentar o consumo de
recursos naturais, também provoca uma grande geração de resíduos sólidos, contribuindo
com diversos impactos ambientais. Em muitos países não há planos para tratamento desses
resíduos, que são simplesmente depositados sobre o solo (ANDRADE et al, 2018;
MARTÍNEZ, P. et al, 2016; SILVA; BRITO; DHIR, 2016).
Conforme a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais - ABRELPE (2018), os municípios brasileiros coletaram cerca de 45 milhões de
toneladas de resíduos de construção e demolição em 2017, sendo equivalente a uma
geração de 600 gramas de resíduos por habitante por dia. Entretanto a geração pode ser
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Graduanda em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Toledo
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Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
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ainda maior, pois grande parte dos resíduos não é enviada à aterros controlados, sendo
assim descartados de forma inadequada no meio ambiente.
Devido à escassez de áreas para deposição de resíduos, se fez necessário que a
construção civil analisasse suas atividades, tendo como foco soluções sustentáveis que
contribuíssem para o reaproveitamento dos materiais descartados. Dessa forma, os
impactos ambientais causados pelo descarte de resíduos podem ser minimizados através da
reciclagem. Pois, com a possibilidade de utilizá-los para obtenção de novos materiais, se
torna possível que a construção civil absorva grande parte dos seus próprios resíduos,
contribuindo para a sustentabilidade do setor (ANDRADE et al, 2018; BOHNENBERGER
et al, 2018).
Segundo Corinaldesi e Moriconi (2009), aproximadamente 75% dos resíduos
dispostos em aterros controlados teriam um grande potencial de reciclagem. Dentre os
diversos materiais descartados pela construção civil estão os blocos cerâmicos para
alvenaria estrutural, que são desperdiçados quando se quebram durante o transporte,
armazenagem e também execução de uma obra. Os resíduos de blocos são definidos
conforme a Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA (2002)
como sendo resíduos da construção civil classe A e podem ser transformados em
agregados miúdos para produção de outros materiais como argamassas, por exemplo
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2002).
Durante a execução de uma obra, grande quantidade de argamassa é utilizada e
sendo a areia o componente de maior porção nos traços de argamassas, a substituição desse
componente por agregado reciclado é uma alternativa que pode ser considerada benéfica,
pois serão minimizados os impactos ambientais causados durante a obtenção dessa
matéria-prima através da exploração de jazidas (MARTÍNEZ, I. et al, 2013; MARTÍNEZ,
P. et al, 2016).
Uma argamassa deve possuir capacidade de retenção de água adequada para que a
hidratação do cimento seja garantida. Com a adição de partículas finas de resíduo de bloco
cerâmico esta capacidade é aumentada, evitando a evaporação da água e secagem da
argamassa que prejudicaria a hidratação do cimento. Consequentemente, esta característica
favorável, provoca um ganho de resistência mecânica para a argamassa (JIMÉNEZ et al,
2013; SILVA; BRITO; VEIGA, 2009).
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De acordo com Jiménez et al (2013), quando os agregados naturais são substituídos
em volume pelos agregados reciclados, a resistência à compressão da argamassa apresenta
bons resultados, pois o volume de vazios diminui. A resistência à flexão está relacionada à
resistência à compressão, então quando a resistência à compressão aumenta, a resistência à
flexão de uma argamassa também aumenta (GAYARRE et al, 2017; SILVA; BRITO;
DHIR, 2016; SILVA; BRITO; VEIGA, 2009).
A consistência é uma característica muito importante nas argamassas, pois indica a
quantidade de água necessária para se obter a plasticidade ideal (SILVA; BRITO; DHIR,
2016). Os índices de consistência das argamassas com agregados reciclados apresentados
por Jiménez et al (2013) e Martínez, P. et al (2016) indicam que conforme aumenta a
adição de agregados reciclados, a argamassa perde consistência, sendo necessário mais
água durante a mistura dos materiais.
A densidade das argamassas produzidas a partir de agregados reciclados é inferior
quando comparada às argamassas produzidas com agregado natural (GAYARRE et al,
2017). Estudos realizados por Martínez, P. et al (2016) concluíram que conforme era
aumentada a porcentagem de agregados reciclados, a densidade das argamassas diminuía
linearmente, tanto no estado fresco quanto no endurecido. Isso ocorre, pois, a densidade
seca dos agregados reciclados é inferior à da areia natural. Porém, esta não é uma
propriedade que limita a utilização dos agregados reciclados na fabricação de argamassas
(LEDESMA et al, 2015).
Então, além de contribuir para a sustentabilidade do setor da construção civil, a
substituição do agregado natural pelo agregado reciclado pode alcançar um desempenho
equivalente ou até melhor nas argamassas (SILVA; BRITO; DHIR, 2016).
2 OBJETIVOS
Este artigo tem como objetivo analisar a utilização de resíduos de bloco estrutural
cerâmico como agregado miúdo na produção de argamassa de assentamento, visando
avaliar as propriedades físicas e mecânicas das argamassas, por meio da substituição de
25%, 50%, 75% e 100% da areia natural por esses resíduos e comparar com uma
argamassa de referência, sem nenhuma substituição.
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3 METODOLOGIA
O método para execução dessa pesquisa consiste na caracterização dos materiais
empregados e na realização dos ensaios necessários para avaliar as propriedades das
argamassas nos estados fresco e endurecido.
3.1.2 Cal
Utilizou-se cal hidratada CH-III em saco de 20 kg, também obtida na cidade de
Araçatuba (SP).
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Para a caracterização da cal realizou-se o ensaio para determinação da massa
específica, descrito na NBR 16605 (ABNT, 2017).
Tabela 1: Traços
Substituição Componentes da argamassa
Traço de agregado Agregado Agregado
Cimento (g) Cal (g)
natural (%) natural (g) reciclado (g)
REF 0 663,21 132,32 1704,47 0,00
AR 25 25 672,36 134,14 1295,99 397,50
AR 50 50 681,77 136,02 876,08 806,13
AR 75 75 691,44 137,95 444,26 1226,35
AR 100 100 701,39 139,94 0,00 1658,67
Fonte: Autora (2018)
3.3.1 Consistência
O índice de consistência se refere à trabalhabilidade da argamassa e é determinado
pela quantidade de água na mistura. Na figura 4 está apresentado o aparelho (flowtable)
utilizado para determinação do índice de consistência.
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Figura 4: Aparelho para determinação da consistência das argamassas (AUTORA, 2018)
4 RESULTADOS
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Em relação aos agregados, as características físicas dos dois tipos estão
apresentadas na tabela 3.
100,00
90,00
Porcentagem passando (%)
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
4.2.1 Consistência
A tabela 4 apresenta a quantidade de água utilizada em cada traço para que o índice
de consistência de 260 ± 5mm fosse alcançado.
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2150
2100
Densidade de massa (kg/m³)
2050
2000
1950
1900
REF AR 25 AR 50 AR 75 AR 100
Traços
13
40
Resistência à compressão (MPa)
35
30
25
20
REF AR 25 AR 50 AR 75 AR 100
Traços
7 dias 28 dias
3,50
Resistência à tração (MPa)
3,00
2,50
2,00
REF AR 25 AR 50 AR 75 AR 100
Traços
6 CONCLUSÃO
Com a pesquisa, constatou-se que a utilização de agregados reciclados afeta as
propriedades das argamassas, causando uma redução na densidade de massa devido à
menor massa específica do agregado reciclado quando comparado ao agregado natural.
Verificou-se que o AR absorve mais água que o AN, pois há a necessidade de usar
uma maior quantidade de água no preparo das argamassas feitas com a utilização de AR,
para que estas atinjam a mesma trabalhabilidade da argamassa de referência, produzida
sem nenhuma substituição.
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Em relação à resistência à compressão das argamassas, destaca-se o traço AR 25
que apresentou valor superior ao traço REF, proporcionando um resultado positivo para a
substituição analisada.
Portanto a substituição de agregados naturais por reciclados pode ser uma
alternativa viável, que contribui com a redução de impactos ambientais gerados pelo setor
da construção civil, no que diz respeito a exploração de recursos naturais e deposição de
resíduos de blocos cerâmicos.
Por outro lado, há um aumento no consumo de água usada para produção das
argamassas, então deve-se buscar formas alternativas para alcançar a consistência ideal,
evitando esse acréscimo de água, causado pela substituição dos agregados.
Com o intuito de aplicar a argamassa produzida com agregados reciclados em obras
da construção civil, também é necessário que seja avaliada a durabilidade desse material,
através de novas pesquisas.
REFERÊNCIAS
ABRELPE, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama dos
resíduos sólidos no Brasil 2017. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/download-panorama-2017/>.
Acesso em: 06 de nov. 2018.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 20: Cimento Portland e suas matérias
primas - Análise química - Determinação de dióxido de carbono por gasometria. Rio de Janeiro, 2012.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16541: Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos: Preparo da mistura para a realização de ensaios. Rio de Janeiro, 2016.
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Construction and Building Materials, Edinburgh, v. 132, p. 457-461, fev. 2017.
JIMÉNEZ, J. R. et al. Use of fine recycled aggregates from ceramic waste in masonry mortar
manufacturing. Construction and Building Materials, Edinburgh, v. 40, p. 679-690, mar. 2013.
LEDESMA, E. F. et al. Maximum feasible use of recycled sand from construction and demolition waste
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and demolition waste (CDW), and their use in masonry mortar fabrication. Journal of Cleaner
Production, Edinburgh, v 118, p. 162-169, abr.2016.
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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA.
Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002. Brasília DF, n. 136, 17 de julho de 2002.
SILVA, J; BRITO, J. de; VEIGA, R. Incorporation of fine ceramics in mortars. Construction and Building
Materials, Edinburgh, v. 23, n. 1, p. 556-564, jan. 2009.
SILVA, R.V; BRITO, J. de; DHIR, R.K. Performance of cementitious renderings and masonry mortars
containing recycled aggregates from construction and demolition wastes. Construction and Building
Materials, Edinburgh, v. 105, p. 400-415, fev. 2016.
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